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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.7 no.2 São Leopoldo dez. 2014

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2014.72.01 

PSICOLOGIA CLÍNICA E FAMÍLIA

 

Desenvolvimento de um website para prevenção à violência no namoro, abandono de relações íntimas abusivas e apoio aos pares1

 

Development of a website for dating violence prevention, abandonment of intimate abusive relationships and support to peers

 

 

Sheila Giardini Murta; Carlos Eduardo Paes Landim Ramos; Eudes Diógenes Alves Cangussú; Thauana Nayara Gomes Tavares; Marina Silva Ferreira da Costa

Universidade de Brasília. Departamento de Psicologia Clínica, Instituto de Psicologia. Campus Darcy Ribeiro, 70910-900, Brasília, DF, Brasil. giardini@unb.br, cadupaes.psi@gmail.com, eudesdac@gmail.com, thauananayara91@gmail.com, marinacostaunb@gmail.com

 

 


RESUMO

Namoros violentos podem gerar transtornos de estresse pós-traumático, depressão e abuso de substâncias. Por isso, medidas preventivas e de intervenção precoce são necessárias. Este artigo tem por objetivo descrever a avaliação de necessidades e a construção de materiais para o desenvolvimento de um website para prevenção à violência no namoro entre adolescentes e jovens brasileiros. Para avaliar necessidades, estudos qualitativos foram realizados com amostras de adolescentes e jovens para identificar intenções de enfrentamento à violência no namoro, as características de namoros abusivos, as habilidades de manejo de conflitos usadas em namoros saudáveis, estratégias facilitadoras do abandono de namoros violentos e o processo de receber e dar ajuda a amigos em situação de maus-tratos no namoro. Com base nos resultados da avaliação de necessidades e no Modelo Transteórico de Mudança, construiu-se um website com cinco módulos: reconhecimento da violência no namoro, fatores de risco para a vitimização pelo parceiro íntimo, habilidades sociais para manejo de conflitos no namoro, abandono de namoros violentos e apoio aos pares. São sugeridos estudos para avaliação dos efeitos da exposição ao website sobre mudanças atitudinais e comportamentais relativas à autoproteção em namoros violentos e ao apoio aos pares.

Palavras-chave: prevenção, educação em saúde, violência doméstica, saúde do adolescente.


ABSTRACT

Violent dating may generate post-traumatic stress disorder, depression and substance abuse. For this reason, early intervention and preventive measures are necessary. This article aims to describe the needs assessment and the construction of materials for the development of a website for dating violence prevention among Brazilian youth. In order to perform needs assessment, qualitative studies have been conducted with samples of adolescents and youth to identify intentions of coping with dating violence, the characteristics of abusive relationships, conflict management skills used in healthy relationships, facilitating strategies of abandonment of violent relationships and the process of receiving and giving support to friends in situations of abusive dating. Based on the results of the needs assessment and the Transtheoretical Model of Change, a website was built with fi ve modules: recognition of dating violence, risk factors for victimization by an intimate partner, social skills for conflict management in dating, abandonment of violent relationships and support to peers. Studies to evaluate the effects of exposure to the website on attitudinal and behavioural changes relating to self-protection in violent relationships and support to peers are suggested.

Keywords: prevention, health education, domestic violence, health adolescent.


 

 

A violência no namoro entre adolescentes brasileiros é alarmante em suas diferentes manifestações. Oliveira et al. (2011), em um estudo realizado com 3205 adolescentes de todas as regiões do Brasil, identificaram como mais comum a violência verbal/emocional (85%, violência sofrida; 85,3%, violência perpetrada), seguida de violência sexual (43,8%, violência sofrida; 38,9%, violência perpetrada), ameaça (24,2%, violência sofrida; 29,2%, violência perpetrada), violência física (19,6%, violência sofrida; 24,1%, violência perpetrada) e violência relacional (16%, violência sofrida; 8,9%, violência perpetrada). Tais índices, consideradas as variações resultantes do tipo de violência medida, são consistentes com estudos internacionais, que também têm apontado cenários preocupantes, por exemplo, entre jovens mexicanos (Pick et al., 2010), portugueses (Machado et al., 2010), espanhóis (Muñoz-Rivas et al., 2007), norte-americanos (Ting, 2009) e ingleses (Barter, 2009).

Embora os estudos sobre violência na adolescência (Benetti et al., 2007) e violência pelo parceiro íntimo em adultos (Cordeiro et al., 2009; D'Oliveira et al., 2009; Schraiber et al., 2008) tenham uma larga trajetória na produção científica no Brasil, os estudos referentes à violência no namoro são poucos e recentes, datando da última década (Aldrighi et al., 2004 Nascimento e Cordeiro, 2011; Oliveira et al., 2011). Seus resultados sugerem, em acordo com resultados de estudos internacionais (Martsof et al., 2012; Muñoz-Rivas et al., 2007), ser comum a bidirecionalidade da violência entre casais adolescentes, isto é, meninos e meninas atuam, não raro, como vítimas e também como perpetradores. No estudo de Oliveira et al. (2011), 76,6% dos adolescentes relataram ter experienciado vitimização e perpetração da violência. Todavia, dados disponíveis em estudos internacionais revelam diferenças quanto ao tipo da violência perpetrada, como a violência sexual sendo mais perpetrada por jovens do sexo masculino e a violência emocional, por jovens do sexo feminino (Williams et al., 2008).

Em se tratando especificamente dos efeitos da violência no namoro para vítimas masculinas (Randle e Graham, 2011), o estresse pós-traumático, o alcoolismo e a depressão parecem ser as consequências mais comuns. Outros estudos têm identificado como danos à saúde mental resultantes do envolvimento em namoros violentos o risco aumentado para gravidez indesejada e ideação suicida para adolescentes do sexo feminino (Ely et al., 2011) e abuso de álcool para parceiros íntimos de ambos os sexos (Stappenbeck e Fromme, 2010). Para além dos efeitos imediatos, a violência no namoro representa um importante precursor da violência conjugal e intrafamiliar, o que, por sua vez, favorece a transmissão intergeracional da violência, com efeitos tardios sobre o risco de envolvimento em relacionamentos amorosos violentos por parte dos filhos de casais que vivem uma relação íntima abusiva (Smith et al., 2011).

A vitimização pelo parceiro íntimo nas relações pré-matrimônio é um fenômeno multideterminado, como mostra a Figura 1. Inúmeros estudos (Antonio et al., 2011; Assis et al., 2011; Foshee et al., 2013; Gover et al., 2008; Kim et al., 2009; Leen et al., 2013; Luthra e Gidycz, 2006; Maas et al., 2010) apontam que esta resulta de fatores sociais, como o endosso da cultura a papéis de gênero tradicionais e a violência na comunidade; fatores relativos aos pares, como ter amigos que apoiam a prática da violência nas relações em geral e, em particular, no namoro; fatores familiares, como a exposição a práticas parentais violentas e testemunho à violência na relação conjugal dos pais; e, por fim, fatores pessoais, como apego inseguro e déficits em habilidades para lidar com conflitos, como assertividade.

Igualmente, a perpetração da violência é causada por múltiplos fatores, grande parte dos quais compartilhados com a vitimização. Em uma revisão de literatura recente, Vagi et al. (2013) identificaram 20 estudos que apresentavam 53 fatores de risco (19 estudos) e seis fatores de proteção (três estudos) para a perpetração da violência no namoro. Os fatores de risco foram relativos a problemas de saúde mental (por exemplo, depressão e ansiedade), atitudes (por exemplo, aceitação da violência nas relações amorosas e tolerância à agressão em geral), comportamento violento (por exemplo, brigas e comportamento antissocial generalizado), uso de substâncias (por exemplo, uso de álcool e maconha), comportamento sexual de risco (por exemplo, início precoce da vida sexual e alto número de parceiros sexuais), baixa qualidade de amizades e relacionamentos (por exemplo, envolvimento com pares antissociais e interações hostis com o parceiro), relacionamento familiar empobrecido (por exemplo, comunicação familiar aversiva e exposição a maus-tratos na infância e à violência interparental) e exposição à mídia agressiva. Por outro lado, os fatores protetivos identificados foram relacionamento positivo com a mãe, senso de conexão à escola, atitude crítica frente à violência no namoro, empatia, boas notas escolares e alta inteligência verbal.

A identificação desses fatores de risco associados à vitimização e à perpetração é crucial para o planejamento de programas de prevenção à violência no namoro, ainda mais considerando-se que o término de vínculos amorosos violentos não é um fenômeno simples. Edwards et al. (2012) realizaram um estudo com 123 jovens universitárias estadunidenses que viviam namoros violentos, com base no Modelo Transteórico de Mudança (Prochaska e DiClemente, 1983), utilizado para identificar o estágio de mudança das participantes frente ao término do relacionamento: pré-contemplação, caracterizada pela resistência frente à mudança ("não há nada que eu deva fazer acerca do meu relacionamento"; contemplação, marcada pela ambivalência e início de tomada de consciência acerca da necessidade de mudança ("às vezes eu penso que eu deveria terminar o meu relacionamento"; preparação, quando se dá a tomada de decisão e passos preparatórios para viabilizar a mudança ("eu falei com alguém sobre terminar o meu relacionamento"; ação, quando a mudança propriamente dita é implementada, mesmo vacilante e com recaídas ("eu falei para o meu parceiro que eu estou terminando o relacionamento" e manutenção, quando o comportamento adotado no estágio anterior se mantém por, pelo menos, seis meses ("eu não respondo se meu parceiro tenta me contatar". Dois meses depois, quando entrevistadas, a maioria das participantes (n = 106) permanecia na relação, sem ambivalência (em pré-contemplação), e seis participantes mantinham o relacionamento, mesmo com ambivalência frente à violência (em contemplação). Os autores identificaram outras seis participantes que haviam terminado o relacionamento devido ao abuso (em ação) e cinco que deixaram a relação por outras razões.

Alguns poucos estudos conduzidos na América do Norte têm buscado compreender os preditores dos estágios iniciais (pré-contemplação e contemplação) e finais (ação e manutenção) do abandono de parceiros íntimos violentos, com base no Modelo Transteórico de Mudança (Alexander et al., 2009; Shorey et al., 2013). Achados recentes indicam que quanto maior o compromisso com a relação e maior o endosso à relação violenta por parte de outros significativos, mais lento é o processo de abandono de relações íntimas abusivas por parte de mulheres violentadas (Shorey et al., 2013). Por conseguinte, intervenções que antecedem o matrimônio parecem ser adequadas por terem maior probabilidade de eficácia no abandono de relações violentas, uma vez que o compromisso e o investimento na relação são comparativamente menores no namoro do que no casamento.

Os resultados de Shorey et al. (2013) também sugerem que a influência social é relevante, isto é, ter uma rede social omissa, tolerante ou apoiadora da violência pode retardar a decisão de proteger-se de um parceiro abusivo. Como consequência, intervenções dirigidas à rede social do adolescente podem consistir em uma via apoiadora para o processo de abandono de relações violentas. Há evidências de que os pares são a primeira fonte de ajuda buscada por adolescentes em situação de violência no namoro, não somente brasileiros (Soares et al., 2013), mas também de outras nacionalidades (Gevers et al., 2012; Ocampo et al., 2007). Resultados de estudos acerca do papel dos pares na violência no namoro indicam que ter amigos envolvidos em namoros violentos constitui fator de risco para a vitimização pelo parceiro íntimo adolescente (Antonio et al., 2011; Foshee et al., 2013), ao passo que ter amigos com crenças pró-sociais atua como fator protetivo (Foshee et al., 2013).

Tendo em vista esse cenário, ações preventivas devem ter início precoce e incluir a rede social dos adolescentes, em particular os pares. Intervenções que auxiliem no reconhecimento da violência no namoro, na diminuição da tolerância frente à sua prática, por parte da vítima e de sua rede de apoio, e na decisão de abandonar relacionamentos abusivos aos primeiros sinais de maus-tratos pelo parceiro íntimo parecem pertinentes para se reduzir a vitimização. Evidentemente, não se trata, em absoluto, de culpabilizar a vítima e centrar esforços exclusivos nela (isto é, negligenciar ações de controle e responsabilização focadas na fonte perpetradora), mas de empoderá-la para que ela também possa tomar decisões quanto ao próprio relacionamento.

No Brasil, ações de enfrentamento à violência pelo parceiro íntimo adulto vem se expandindo, enquanto programas de prevenção à violência no namoro para adolescentes e jovens ainda são escassos (Murta et al., 2012; Murta et al., 2013a; Murta et al., 2013b). Segundo relatório recente de avaliação do Tribunal de Contas da União (http://portal2.tcu.gov.br), ações educativas para prevenção primária à violência contra a mulher foram consideradas uma lacuna na implementação da Lei Maria da Penha. Ademais, recomendou-se que tais ações se estendessem ao público masculino. Em face disso, é possível que o desenvolvimento de materiais educativos, tais como guias (Murta et al., 2011) e websites com conteúdo voltado para a prevenção à violência no namoro e destinados a adolescentes e jovens de ambos os sexos, se teórica e empiricamente embasados, favoreça a disseminação de conhecimento confiável acerca de padrões interacionais violentos e saudáveis entre homens e mulheres ao longo do ciclo de vida. Especificamente no que concerne ao potencial educativo da internet, destaca-se que seu uso é parte da cultura das gerações mais jovens e permite a busca de informação de modo anônimo, o que pode facilitar o alcance do público pretendido (Soares et al., 2013). Pressupõe-se que a difusão de informações dessa natureza possa favorecer o pensamento crítico e o enfraquecimento de uma cultura de endosso ao uso da violência como forma de resolver conflitos nas relações interpessoais.

Cuidados na elaboração desses materiais devem ser tomados, cujo processo de construção deve ser teórica e empiricamente fundamentado, a exemplo de cartilhas para mulheres adultas vítimas de violência já produzidas no Brasil (por exemplo, Lenz-de-Oliveira et al., 2010). Tal sistematização pode prever diferentes etapas, como a avaliação de necessidades, o estabelecimento dos objetivos de mudança pretendidos com a intervenção, a seleção de teorias das quais derivarão procedimentos e estratégias de intervenção, a produção de componentes e materiais de intervenção, o planejamento da adoção, da implementação e da sustentabilidade da intervenção e, por fim, de sua avaliação (Bartholomew et al., 2011). Com base nesses pressupostos, o presente artigo tem por objetivo descrever a avaliação de necessidades e a construção de materiais para o desenvolvimento de um website para adolescentes e jovens com vistas à prevenção à violência no namoro e à promoção de relacionamentos amorosos saudáveis.

 

Método

Será apresentado a seguir o método utilizado para se conduzir a avaliação de necessidades; a definição do público-alvo, dos objetivos e das bases teóricas do website; e a produção do seu material e conteúdo.

 

Avaliação de necessidades

Foram conduzidos cinco estudos descritivos e qualitativos com participantes residentes no Distrito Federal, para avaliação de necessidades e fundamentação empírica da intervenção. Buscou-se também, nesta etapa, verificar se os achados da literatura examinada previamente, em sua grande maioria internacionais, guardavam similaridade com a cultura brasileira. O primeiro estudo abordou estratégias de enfrentamento à violência no namoro que adolescentes intencionavam usar, se confrontados com contextos relacionais íntimos violentos. Participaram 61 adolescentes de uma escola de ensino médio, de ambos os sexos, que responderam a seis sentenças incompletas sobre o que fariam se estivessem em situações de vitimização (três sentenças, por exemplo: "Se meu/minha namorado/namorada ficar bravo/a comigo e espalhar mentiras sobre mim na internet, eu..." ou perpetração (três sentenças, por exemplo: "Se eu estiver com muita raiva do meu/minha namorado/a por um motivo justo, eu..." de violência contra o parceiro íntimo.

O segundo estudo foi conduzido com o objetivo de identificar indicadores de relacionamentos amorosos saudáveis e estratégias de manejo de conflitos entre jovens. Oito jovens universitários, seis mulheres e dois homens, parte de uma amostra de conveniência, responderam a entrevistas semiestruturadas sobre suas experiências de namoro por eles julgados como satisfatórias. As entrevistas exploraram características de namoros percebidos como satisfatórios e estratégias de manejo de conflitos utilizadas nessas relações.

O terceiro estudo almejou identificar as manifestações da violência, seus fatores de risco e sugestões para programas preventivos entre jovens e adultos. Foram feitas entrevistas com 13 participantes, nove mulheres e quatro homens, selecionados por conveniência, com experiência prévia em relacionamentos amorosos violentos. Todos foram vítimas de violência, sendo que dois relataram o fenômeno como bidirecional e os outros onze, como unidirecional. A média de idade dos participantes foi de 25 anos. Todas as relações analisadas eram heterossexuais.

O quarto estudo examinou como se dá o processo de abandono de namoros violentos. Participaram 10 jovens que haviam encerrado relacionamentos amorosos violentos, dos quais cinco eram homens e cinco eram mulheres. O objetivo do estudo foi identificar as estratégias para cessação da violência usadas por eles, tomando por base o Modelo Transteórico de Mudança. Buscou-se descrever estratégias adotadas para se chegar à transição entre os estágios de mudança, isto é, para se alcançar a tomada de consciência (estágio de contemplação), a decisão de sair do relacionamento (estágio de preparação), a implementação da decisão (estágio de ação) e sua manutenção e prevenção de recaídas (estágio de manutenção).

O quinto estudo descreveu comportamentos de ajuda dos pares que são percebidos como eficazes ou ineficazes para apoiar amigos que estejam envolvidos em namoros violentos. Participaram de entrevistas individuais 15 jovens do sexo feminino, das quais sete haviam experienciado e terminado namoros violentos e oito não haviam experienciado namoros violentos, mas passaram pela experiência de fornecer ajuda a um amigo ou familiar envolvido em um namoro violento.

Os resultados de todos os estudos foram analisados por meio de análise de conteúdo. Leituras repetidas do material transcrito permitiram a identificação de categorias e subcategorias, refinadas em sucessivas discussões pelos autores. A quantificação de relatos por categoria foi omitida nesta análise, por não ser relevante para o propósito deste estudo.

 

Definição do público-alvo e dos objetivos

Trata-se de um website dirigido a adolescentes e jovens que tenham acesso à internet, com ou sem experiência de namoro, com baixo ou alto risco para a violência no namoro, com ou sem envolvimento em namoros violentos. O website foi concebido para ser útil nos três níveis de prevenção: universal, para todos os jovens e adolescentes, independente de sua condição de risco ou envolvimento em violência amorosa; prevenção seletiva, para dar orientação específica aos que se encontram em risco elevado para a violência no namoro; e prevenção indicada, para os que já estiverem envolvidos em namoros violentos, em sua primeira experiência, de curta ou longa duração. Considerou-se como risco elevado para violência no namoro ter experienciado maus-tratos parentais na infância, ter testemunhado violência na relação conjugal dos pais e ter já vivido episódio único e breve de envolvimento em namoro violento.

A definição do público-alvo para prevenção seletiva e indicada deu-se a partir de dados acerca de padrões de interação íntima violenta descritos por Martsof et al. (2012). Os autores entrevistaram 88 jovens adultos estadunidenses, com idades entre 18 e 21 anos de idade, que haviam se envolvido em namoros violentos quando adolescentes. Foram identificados quatro padrões de interação íntima violenta: violência de curta duração (menos de um ano acadêmico) e restrita a um relacionamento (denominada "violência contida", violência prolongada (mais de um ano acadêmico) e restrita a um relacionamento (nomeada "violência prolongada"), violência reincidente associada a múltiplos relacionamentos com grau de severidade estável entre os vários relacionamentos (intitulada "violência repetitiva" e violência reincidente associada a múltiplos relacionamentos com grau de severidade crescente (chamada de "violência escalonada"). Conforme avança o número de relações violentas, sua duração e severidade, como é o caso das modalidades de violência reincidente e escalonada, estas se tornam mais complexam e requerem abordagens específicas para tratamento, que fogem ao escopo do website desenvolvido.

São objetivos do website: favorecer o autoconhecimento acerca dos fatores de risco e de proteção pessoais, familiares e sociais para a violência no namoro; facilitar autoconhecimento acerca da qualidade da relação, em suas dimensões positiva (de satisfação) e negativa (de violência); incrementar atitudes de não tolerância à violência no namoro; aumentar a autoeficácia para a prática de habilidades sociais para manejo de conflitos; fortalecer a autoeficácia para a adoção de medidas de autocuidado para a cessação da violência no namoro e promover a intenção de proteção aos pares que estão envolvidos em relacionamentos violentos.

 

Embasamento teórico

Adotou-se, para fundamentar o conteúdo do website, o Modelo Transteórico de Mudança (Prochaska e DiClemente, 1983), frequentemente usado para guiar intervenções motivacionais e breves. Seus conceitos básicos são estágios de mudança e processos de mudança. Os estágios de mudança descrevem mudanças cognitivas, motivacionais e comportamentais, que podem ser aplicados a qualquer alvo de mudança. São cinco os estágios: pré-contemplação (resistência e desinteresse pela mudança), contemplação (tomada de consciência e desejo de mudar, ainda ambivalente), preparação (tomada de decisão e compromisso em assumir a mudança), ação (engajamento em comportamentos desejados e planejados nos estágios anteriores) e manutenção (sustentação dos comportamentos adotados no estágio de ação e manejo de riscos para a recaída).

Os processos de mudança são os motores da mudança, responsáveis pela transição entre os estágios rumo a outros mais evoluídos. A tomada de consciência, a escolha e a catarse são os processos que promovem a transição da pré-contemplação para a contemplação e desta para a preparação. As pessoas podem evoluir para a contemplação e a preparação quando têm acesso a novas informações, feedback sobre o próprio comportamento, feedback sobre ganhos e custos associados a comportamentos problemas ou comportamentos desejados e contato com situações mobilizadoras de emoção. O controle de estímulos e o controle de contingências permitem a transição da preparação para a ação e desta para a manutenção. Identificar desencadeadores internos e externos que favorecem o comportamento problema e desenvolver respostas de esquiva e fuga adaptativas a essas situações podem ser estratégias úteis nesses estágios (Prochaska e DiClemente, 1983).

Coerentemente com tal modelo teórico, espera-se que o acesso ao conteúdo do website facilite a tomada de consciência, o fortalecimento de intenções e a construção de planos de ação para comportamentos de proteção a si mesmo e aos pares em situação de violência no namoro.

 

Produção do material

Com base nos dados advindos da avaliação de necessidades e no Modelo Transteórico de Mudança, foram desenvolvidos textos informativos e exercícios de auto-observação, autoavaliação e automonitoramento para composição do website. O material elaborado foi exposto a diversas apreciações de seu conteúdo com vistas ao seu aprimoramento. Pesquisadores que atuam com as temáticas violência de gênero, violência no namoro e prevenção em saúde mental, ex-vítimas de violência no namoro e jovens usuários em potencial, não vítimas de violência no namoro, foram solicitados a julgar a qualidade do conteúdo e os procedimentos, considerando os critérios atratividade, relevância, correspondência com a realidade, clareza e tempo de navegação. Isso foi feito para favorecer a percepção de atratividade e relevância do conteúdo, aumentar a retenção na participação e evitar desistências (Voncken-Brewster et al., 2013), procedimento já consagrado no desenvolvimento de intervenções oferecidas via computador. Foram utilizadas diferentes estratégias para a coleta dos dados: entrevistas presenciais, entrevistas por e-mail e observação direta da interação com a intervenção. Os informantes expressaram suas opiniões e sugestões acerca do conteúdo por meio de verbalizações livres durante entrevistas, precedidas ou não por um período de observação direta enquanto se navegava no website, registros enviados por e-mail e reuniões com a equipe desenvolvedora para discutir a avaliação feita. Os resultados dessas avaliações foram utilizados para refinamento do conteúdo e do formato do material.

 

Cuidados éticos

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Ciências Humanas da Universidade de Brasília (07-01/2012). Os participantes foram esclarecidos quanto aos objetivos do estudo, informados quanto aos seus direitos e declararam seu consentimento para participação.

 

Resultados e discussão

Avaliação de necessidades

Intenção de enfrentamento à violência no namoro

Foram identificadas duas grandes categorias de intenções de enfrentamento à violência no namoro: intenções de emprego de estratégias positivas e estratégias negativas de enfrentamento. As estratégias positivas foram assertividade (por exemplo, solicitar mudança de comportamento do parceiro e expressar necessidades pessoais), solução de problemas (por exemplo, buscar esclarecer os fatos e analisar o problema para possível término), empatia (por exemplo, reconhecer a perspectiva do parceiro e confortá-lo) e regulação das emoções (por exemplo, acalmar-se e acalmar o parceiro). As estratégias negativas foram resignação à violência (por exemplo, ignorar a situação e acatar a imposição do parceiro), violência (por exemplo, revidar a agressão e agredir fisicamente), reação não responsiva (por exemplo, usar de humor quando o parceiro está bravo e insistir no comportamento conflitante) e vigilância ao parceiro (vigiar o parceiro para averiguar os fatos).

O uso de estratégias mal adaptativas na solução de problemas na relação amorosa (como negligenciar a situação de conflito) foi identificado como uma das variáveis preditoras da violência no namoro vivenciada por mulheres em um estudo de Luthra e Gidycz (2006). Além desta, o uso da violência pelo parceiro, o uso de álcool, o uso da violência pelo pai foram também preditores da violência no namoro para mulheres. Logo, os dados do presente estudo se alinham aos de Luthra e Gidycz (2006), oferecendo subsídios para o planejamento de ações preventivas ao apontar estratégias potencialmente danosas ou benéficas no manejo de conflitos e na evitação de soluções violentas.

Características de relacionamentos de namoro saudáveis

Os resultados das entrevistas focadas em características de namoros saudáveis evidenciaram os seguintes indicadores de namoro autorreferidos como satisfatórios: companheirismo, atenção aos sinais de conflito, expressão de sentimentos positivos, respeito à individualidade, afinidades sociais, afinidades sexuais e bom trato à família do parceiro. As estratégias de manejo de conflitos relatadas na relação com o parceiro foram regulação das emoções (não tentar resolver o conflito no calor da discussão, acalmar-se, manter a calma; evitar agressão e xingamentos; não elevar o tom de voz; quando sentir o ímpeto de agredir, abandonar o local e afastar-se), solução de problemas (análise precedendo a conversa: calar, pensar, refletir e depois conversar; procurar ideias para resolver o conflito, mudar e melhorar o relacionamento), assertividade (resolver conversando: conversar, explicar, expressar o que sente e o que acha e pensa; expressar desagrado; ser sincero e verdadeiro), perdão (reconhecer o erro e pedir desculpas) e empatia (escutar o outro).

Esses dados estão em acordo com os de outros estudos que avaliam fatores protetivos para a violência no namoro. Ter vínculo com os pais, ter habilidades sociais e autocontrole no manejo das emoções (Gover et al., 2008; Maas et al., 2010) foram constatados como favorecedores da qualidade da relação de namoro. Esses resultados são igualmente consistentes com estudos clássicos de Gottman e Krokoff (1998) acerca de padrões de interação para resolução de conflito e satisfação no casamento, que identificaram como favorecedores da satisfação no casamento os padrões interativos que fazem uso de empatia, expressão de afeto, minimização do conflito e expressão de discordância e raiva, ao passo que foram constatados como negativos os padrões interativos que se caracterizam por criticismo e depreciação do parceiro, defensividade e afastamento da situação de conflito.

Portanto, tomados em conjunto, esses dados indicam que o investimento em habilidades sociais e de regulação das emoções para resolução de conflitos deve ser considerado em programas de prevenção à violência no namoro e, para além disso, promoção de relações amorosas satisfatórias entre adolescentes. Esse foco tem sido considerado em intervenções em educação para relacionamento de casal, largamente praticadas mundo afora, sobretudo com casais adultos (Halford et al., 2008; Blanchard et al., 2009). Estas tem sido focadas no desenvolvimento de conhecimento, atitudes e habilidades de comunicação e manejo de conflito para relacionamentos amorosos satisfatórios. Logo, estratégias derivadas desse campo de conhecimento podem ser adaptadas para o público adolescente.

Características de relacionamentos de namoro violentos

A análise dos relatos de participantes que vivenciaram relações amorosas violentas demonstraram ser a violência psicológica a categoria mais comum, associada à violência na família de origem, com vitimização por maus-tratos pelos cuidadores, testemunho a conflitos severos entre os pais e déficits em habilidades de autorregulação das emoções. Fatores de risco adicionais foram ter rede de apoio social restrita, estar vulnerável emocionalmente após término de namoro, ter pai machista e ter esquemas desadaptativos de autossacrifício (atendimento excessivo às necessidades do outro às custas da própria gratificação para obter a aprovação do outro e evitar retaliação), defectividade (crença de que se é defeituoso, inferior, indesejado e não merecedor do apreço e da valorização pelo outro), privação emocional (expectativa de que as próprias necessidades emocionais não serão satisfeitas pelo outro, sejam necessidades de cuidado, empatia ou proteção) e postura punitiva (intolerância e punição aos que não correspondem a suas expectativas e seus padrões). As sugestões para programas preventivos para a violência no namoro foram ensino de habilidades sociais (empatia e assertividade, principalmente em seu componente cognitivo de autoatribuição de direitos), identificação dos próprios padrões de vulnerabilidade para evitar recaídas com o mesmo parceiro ou novos parceiros e fortalecimento da rede de apoio.

Em parte, os fatores de risco familiares identificados nesse estudo confirmam achados de outros estudos (Assis et al., 2011; Kim et al., 2009; Leen et al., 2013), que também demonstraram que a violência na família de origem e modelos parentais que apresentem dificuldades para regular as emoções e que adotam papéis de gênero tradicionais aumentam o risco de violência no namoro. Por outro lado, dados novos não identificados na literatura em prevenção à violência no namoro foram encontrados: os relativos aos esquemas disfuncionais, já discutidos na Terapia do Esquema (Young et al., 2008), uma das abordagens contemporâneas de Terapia Cognitiva, derivada da prática clínica com adultos com transtornos de personalidade e fortemente influenciada pela Teoria do Apego. Conforme a Terapia do Esquema, os esquemas desadaptativos são formados nas primeiras experiências de vida e resultam de necessidades não atendidas na relação com os cuidadores, como as de vínculos seguros, autonomia, liberdade de expressão, espontaneidade, limites e autocontrole. Como consequência, a formação de vínculos na vida adulta se torna dificultada pela alta ansiedade diante da possibilidade de abandono, autoconceito depreciativo e níveis elevados de estresse associado à intimidade (Simard et al., 2011). Embora ainda não haja registros da aplicação dessa abordagem à violência no namoro em casais adolescentes, há evidências de que esta pode ser útil à compreensão de psicopatologias nesta etapa da vida (Vlierberghe et al., 2010).

As entrevistas realizadas permitiram a identificação de três esquemas desadaptativos associados à vitimização (autossacrifício, defectividade e privação emocional) e de um esquema associado à perpetração da violência (postura punitiva). Esses esquemas desadaptativos elucidam como se dá a dinâmica dos relacionamentos violentos, em que a vítima sacrifica-se na relação para ter a aprovação do/a parceiro/a ("eu me perdi de mim mesma", como afirmou uma participante); aceita o/a parceiro/a que tem, ainda que insuficiente para atender às suas necessidades afetivas, para não ficar sozinho/a; envolve-se com parceiro/a violento/a que confirma sua percepção de ser incompetente ou defeituoso/a e recusa-se a resolver a situação, para não ser abandonado/a. Ao funcionar sob o esquema de postura punitiva, o/a perpetrador/a age com intolerância e punição severa quando não atendido/a em suas expectativas e em seus padrões, frequentemente superexigentes. Há indícios derivados de um estudo qualitativo acerca de padrões de interação violenta entre casais adolescentes (Martsof et al., 2012) de que esquemas disfuncionais tendem a estar presentes à medida em que a violência se agrava. Nos casos descritos de violência prolongada, repetitiva e escalonada, os relatos qualitativos parecem revelar esquemas disfuncionais favorecendo a vitimização e a perpetração da violência. Contudo, não foi objetivo do estudo de Martsof et al. (2012) a análise destes esquemas.

No presente estudo, os achados apontaram para uma complexa teia de vulnerabilidades, intrapessoais e interpessoais, que esclarecem mais a dinâmica da vitimização do que a de perpetração. Por isso, estudos futuros devem ampliar a amostra, incluindo análises dos esquemas desadapativos associados à perpetração da violência. Em síntese, esses dados oferecem subsídios para o planejamento de intervenções que promovam a consciência acerca dos esquemas desadaptativos e de como estes atuam como armadilhas para a manutenção de vínculos violentos. A utilidade desses achados ultrapassa o âmbito da prevenção universal (para todos os jovens e adolescentes) e seletiva (para jovens e adolescentes em risco elevado de violência no namoro), trazendo também implicações relevantes para a prevenção indicada (para adolescentes e jovens em relações amorosas com sinais iniciais de violência) e o tratamento (para jovens e adolescentes envolvidos em violência no namoro severa e crônica), como o reconhecimento desses padrões para a prevenção de recaídas no mesmo ou em novos relacionamentos amorosos. Ademais, programas voltados para pais e mães gestantes com vistas à construção de apego seguro na relação pais-bebê poderiam também consistir em outra via, ainda mais precoce, de prevenção à violência pelo parceiro íntimo.

Estratégias para cessação da violência no namoro

As estratégias usadas para abandonar namoros violentos diferiram entre os estágios de mudança, previstos no Modelo Transteórico de Mudança. Vivenciar episódio de extrema violência, prestar atenção nos comportamentos violentos do parceiro, prestar atenção nas próprias reações e nas do parceiro à violência e observar o próprio bem-estar quando sem o parceiro foram estratégias relatadas como favorecedoras da transição da pré-contemplação para contemplação. Em outras palavras, darse conta da violência e de seus efeitos permitiu, na história desses participantes, experienciar incômodo frente à violência e começar a considerar a mudança. Fazer psicoterapia, escrever os comportamentos violentos do parceiro e ler esses registros, investir na própria autoestima e adotar cuidados para com a saúde foram estratégias favorecedoras da transição da contemplação para a preparação. Estas foram estratégias preparatórias que permitiram o fortalecimento da decisão de não mais submeter-se à violência pelo parceiro amoroso. Para entrar em ação e terminar o relacionamento violento, foram usadas estratégias de controle de estímulos, como estabelecer limites para o parceiro violento e não atender a telefonemas, conhecer os próprios esquemas disfuncionais para evitar reencontrar o parceiro, buscar apoio social e fortalecer o lócus de controle interno (como relatado por uma participante, "tomar as rédeas da própria vida". Para manter o término, o autoconhecimento dos riscos para a recaída, como a manifestação dos esquemas disfuncionais, e o manejo dos desencadeadores, como o desejo sexual pelo parceiro, foram estratégias relevantes. Adicionalmente, foram citadas a ponderação de ganhos e perdas da relação, lembranças da dor vivenciada na relação amorosa para autoconvencimento de que sua retomada não valia a pena e investimentos em novos interesses e objetivos pessoais.

O Modelo Transteórico de Mudança mostrou-se adequado para esclarecer como se dá a cessação da violência, como já demonstrado em estudos prévios (Alexander et al., 2009; Edwards et al., 2012; Shorey et al., 2013), ainda que estes tenham se concentrado na identificação de casos por estágio de mudança e na descrição de preditores dos estágios iniciais e finais da mudança e não nas estratégias e nos processos que permitem a transição entre estágios de mudança, tal como feito de modo inovador no presente estudo. Segundo os resultados das entrevistas, trata-se de uma mudança complexa, para a qual contribuem processos cognitivos, motivacionais e comportamentais. Essa diversidade de estratégias, em cada um dos estágios, oferece implicações diretas para o planejamento de intervenções customizadas ao estágio de mudança em que se encontra o adolescente ou jovem. Além disso, esses dados podem também apoiar o planejamento de ações dirigidas aos pares, que podem contribuir para, por exemplo, reconhecer a violência (favorecendo a entrada na contemplação), fortalecer a autoestima, encorajar autocuidados à saúde (facilitando a transição para a preparação) e estimular o engajamento em novas atividades e objetivos de vida (auxiliando na ação e na manutenção da mudança).

Apoio social para amigos em situação de violência no namoro

Os resultados mostraram que as participantes percebem como positiva a experiência de receber ajuda de amigos quando em situação de violência no namoro. Com relação às participantes que forneceram ajuda, todas consideraram ser necessária a intervenção no relacionamento do(a) amigo(a). No que se refere à eficácia das atitudes de ajuda, foram destacadas como positivas as ações: ouvir sem julgar, culpar ou impor uma solução; estar presente e se mostrar disponível para o amigo; prender-se aos fatos para ajudar o amigo a enxergar a realidade; indicar terapia; salientar as qualidades e forças do amigo; ajudar em momentos de entretenimento e prazer para demonstrar que se pode viver bem sem o agressor; e fazer crer que se é "dono da própria vida". Ademais, foram consideradas atitudes nocivas ou ineficazes no processo de ajuda: ser julgado, criticado, receber sermões, ter a própria situação de violência ignorada pelo amigo, ter os próprios segredos contados, o amigo se envolver tanto na situação a ponto de ignorar os seus limites, o amigo abordar o agressor e desconsiderar perdas do término da relação e olhar apenas os ganhos, levando a análises superficiais. Além disso, também foi considerado nocivo o uso de ameaças de rompimento da amizade para que a vítima terminasse o namoro, bem como a abordagem indiscriminada ao tema, sem consideração às necessidades e à adequação do contexto para abordagem ao tema. Por fim, foi relatado o sentimento de medo de dar ajuda por não ter competências profissionais e provocar danos como resultado de ajudas inadequadas.

Esses resultados indicam que as estratégias de ajuda percebidas como eficazes estão estritamente dirigidas ao apoio emocional que encoraje a tomada de consciência, tomada de decisão e implementação de ações ao longo do tempo. É evidente que, ao prestar ajuda, usar de pressão para influenciar na direção das decisões e ações é percebido como ineficaz. Logo, os dados sugerem que o apoio aos pares em situação de violência no namoro requer alta responsividade da parte de quem presta ajuda. Um estudo de Weisz et al. (2007) realizado com amostra estadunidense indica que os pares, quando solicitados a dar ajuda para um amigo em situação de violência no namoro, comumente reagem se esquivando de dar ajuda ou minimizando o problema. Em oposição a tal postura passiva, os dados deste estudo podem ser úteis para instrumentalizar os pares acerca do que fazer e do que não fazer, de modo responsivo. É possível que orientações dessa natureza possam aumentar sua autoeficácia e reduzir as chances de negligência frente a um amigo em sofrimento devido a um namoro violento, sem incorrer em danos à autonomia de quem recebe a ajuda e em excessos de responsabilidade e sobrecarga para quem oferece ajuda. No contexto brasileiro, isso é altamente relevante, dados os achados de estudos prévios (Soares et al., 2013) que indicam que os pares são referidos como a primeira fonte de ajuda buscada por adolescentes para o enfrentamento à violência no namoro. Ressalta-se, entretanto, que a amostra deste estudo foi exclusivamente feminina. Portanto, tais resultados apresentam limitações quanto à validade externa e podem não refletir adequadamente as experiências do público masculino.

Produção do material e componentes do website

Considerando-se os achados da avaliação de necessidades, optou-se inicialmente por construir um website com quatro módulos. O primeiro módulo abordava os fatores de risco para a violência no namoro: exposição a maus-tratos parentais, exposição à violência praticada por outros significativos, testemunho à violência, exposição a conflito interparental, papéis de gênero dos pais, endosso à violência no namoro por pares, atitudes sobre papéis de gênero, habilidades sociais, apego inseguro e esquemas disfuncionais. Foram elaboradas escalas para avaliação de cada construto, em formato Likert. As respostas a essas escalas seriam transformadas em gráficos para oferta de feedback acerca do nível de risco de cada participante, em dois níveis: alto e baixo risco. Os feedbacks seriam seguidos por orientações, dadas em pequenos textos, em linguagem clara e não técnica. Oferta de informação e autorreavaliação foram as técnicas usadas na elaboração desse módulo (Bartholomew et al., 2011).

O segundo módulo tratava da qualidade da relação amorosa atual ou passada, incluindo indicadores de relações saudáveis e estratégias positivas de manejo de conflito e indicadores de violência no namoro (psicológica, física, sexual e patrimonial) e estratégias negativas de manejo de conflito. Foram elaboradas duas escalas, uma para avaliação da qualidade da relação e outra para avaliação da violência recebida ou perpetrada contra o parceiro. Tal como no módulo anterior, previu-se que as respostas a essas escalas gerariam gráficos e feedbacks referentes a duas categorias para cada variável: alta e baixa qualidade da relação e alta e baixa violência. Textos breves foram elaborados para encorajar o uso das estratégias de assertividade, solução de problemas, empatia e regulação das emoções no manejo de conflitos, enquanto a resignação à violência, a prática de violência e a reação não responsiva ao parceiro foram desencorajadas, em vista de seus custos para a relação e incremento da violência. De modo similar ao módulo anterior, utilizou-se oferta de informação e autorreavaliação nesse módulo (Bartholomew et al., 2011).

O terceiro módulo englobava orientações para a cessação da violência no namoro por meio do término da relação. As orientações foram customizadas para o estágio de mudança, enfocando a transição da pré-contemplação para a contemplação, da contemplação para a preparação, da preparação para a ação e da ação para a manutenção. O primeiro conjunto de orientações buscava fomentar a transição da pré-contemplação para contemplação. Foram construídos textos e exercícios destinados a ampliar a consciência sobre os custos e ganhos da relação, de modo a incrementar a ambivalência e gerar incômodo frente à violência para então iniciar o processo de mudança. O segundo conjunto de orientações, voltadas para a transição para a preparação, tinha o objetivo de fortalecer a autoestima, o autocuidado, a rede social e a autoeficácia frente à mudança. O terceiro conjunto, referente à transição para a ação, continha orientações focadas em controle de estímulos, solução de problemas e manejo de contingências para viabilizar o término da relação. Por fim, no último conjunto, centrado na manutenção, as orientações foram voltadas para a prevenção de recaída frente ao mesmo parceiro ou outros igualmente abusivos e para o redirecionamento para novos objetivos de vida. Nesse módulo, uma diversidade de técnicas foi utilizada (Bartholomew et al., 2011), incluindo oferta de informação, autorreavaliação, aumento de consciência, balança decisória, estabelecimento de metas, planos de ação, planos de preparação, planos de enfrentamento, controle de estímulos e automonitoramento.

No quarto e último módulo, foram apresentados sinais comportamentais indicativos de uma possível situação de violência no namoro vivida pelos pares, para que os usuários pudessem reconhecer a situação como potencialmente perigosa e merecedora de intervenção. Foram disponibilizadas orientações, embasadas na avaliação de necessidades, acerca de formas de ajuda potencialmente mais e menos eficazes. Foram também abordadas barreiras e facilitadores para o comportamento de dar ajuda a um amigo envolvido em um namoro violento. Similarmente ao terceiro módulo, as orientações dadas para apoio aos pares foi ajustada à percepção do estágio de mudança no qual se encontrava o amigo envolvido em namoro violento: ele/a não percebe que esta relação não tem futuro (pré-contemplação), ele/a está começando a admitir o problema (contemplação), ele/a está decidido a se proteger (preparação), ele/a já está agindo e está tentando se proteger (ação), ele/a já está livre da violência, mas pode recair (manutenção). A customização da ajuda ao estágio de mudança foi adotada para se maximizar a responsividade ao prestar ajuda. Nesse módulo, oferta de informação, aumento de consciência e planos de ação foram as técnicas empregadas (Bartholomew et al., 2011).

A apreciação do material por especialistas, ex-vítimas de violência no namoro e jovens usuários em potencial, não vítimas de violência no namoro, apontou customização insuficiente (alto e baixo risco, alta e baixa violência, alta e baixa satisfação não refletem o leque de intensidades de risco, violência e satisfação na relação), tempo longo de resposta às escalas de avaliação de fatores de risco, violência e qualidade da relação, linguagem formal em partes do texto, repetição de orientações e expressões imprecisas ou pouco claras. Além desses problemas, essa avaliação preliminar indicou que o conteúdo foi percebido como relevante, pertinente e promotor de reflexões e autorreferência (os participantes se sentiam identificados com o conteúdo).

Em resposta aos problemas identificados, fez-se uma redução nos instrumentos de avaliação, uma reorganização na ordem dos temas, uma adequação da linguagem, a omissão de gráficos para feedbacks e tomou-se uma decisão de oferecer customização completa e feedbacks adequadamente customizados em estudo posterior, por meio de tecnologia e procedimentos usualmente utilizados em intervenções computadorizadas customizadas (Voncken-Brewster et al., 2013). Desse modo, a versão final do conteúdo do website foi reestruturada em cinco seções: (i) "identificando a violência no namoro", cujo foco é a definição e manifestações de violência no namoro; (ii) "por que a violência no namoro acontece", dedicada aos fatores de risco para a vitimização pelo parceiro íntimo no namoro; (iii) "como lidar com conflitos na relação de namoro", voltada para as habilidades sociais para manejo de conflitos no namoro; (iv) "como proteger-se de namoros violentos", dirigida ao processo de abandono de namoros violentos e (v) "como ajudar amigos que estão envolvidos em namoros violentos", centrada em orientações para identificação da violência e apoio aos pares. As três primeiras seções foram simplificadas em conteúdo e formato, enquanto as duas últimas permaneceram como estavam, tendo sofrido apenas ajustes na linguagem.

Finalizada a construção do material, prevêse um teste piloto seguido de estudos de avaliação de eficácia, quando serão examinados seus efeitos sobre o autoconhecimento acerca dos fatores de risco para a violência no namoro; autoconhecimento acerca da qualidade da relação de namoro, em suas dimensões positiva (satisfação) e negativa (violência); atitudes de não tolerância à violência no namoro; autoeficácia para a prática de habilidades sociais para manejo de conflitos; autoeficácia para a adoção de medidas de autocuidado para a cessação da violência no namoro e intenção de proteção aos pares que estão envolvidos em relacionamentos violentos.

 

Considerações finais

O presente estudo teve por objetivo descrever a avaliação de necessidades e a construção de materiais para o desenvolvimento de um website para adolescentes e jovens com o propósito de disseminar informação relevante para a prevenção à violência no namoro e a promoção de relacionamentos amorosos saudáveis. Os estudos qualitativos realizados para avaliação de necessidades evidenciaram indicadores de satisfação e de violência na relação íntima entre adolescentes; estratégias de manejo de conflitos potencialmente positivas, associadas à habilidades de regulação das emoções, solução de problemas, assertividade e empatia; fatores de risco para a violência no namoro, tais como os modelos parentais, já amplamente investigados, e esquemas disfuncionais, ainda não discutidos em estudos prévios na área; estratégias usadas em cada estágio de mudança para sair de relações de namoro violentas, tais como a tomada de consciência sobre a violência, o investimento em autoestima e a busca da rede de apoio; e estratégias eficazes e ineficazes de amigos para apoio à pessoa envolvida em namoro violento. Esses dados podem ser úteis no planejamento de intervenções para prevenção universal, seletiva e indicada, bem como psicoterapêuticas.

O processo de construção do website, ainda que embasado em evidências empíricas, pode ter seu alcance e adequação limitados ao se levar em consideração a diversidade cultural brasileira. Deve-se ver com cautela a generalização dos resultados dos estudos conduzidos na avaliação de necessidades, dado que as amostras foram pequenas e provenientes unicamente do Distrito Federal. As experiências dos participantes podem não refletir realidades vividas por adolescentes e jovens de outras regiões do Brasil. Logo, é possível que variáveis relevantes não tenham sido apreendidas e inseridas nos textos e exercícios. Assim, seria desejável a replicação dos estudos que embasaram a construção do website com amostras de outras regiões brasileiras. Múltiplas medidas, além das qualitativas, são também recomendadas.

Dada a escassez de iniciativas para a prevenção primária à violência contra a mulher no Brasil e a alta prevalência de violência no namoro entre adolescentes, supõe-se que o presente estudo possa representar uma contribuição. O material derivado da avaliação de necessidades e refinamentos sucessivos, após a avaliação de especialistas, ex-vítimas de violência no namoro e adolescentes usuários em potencial, pode consistir em informação relevante para uso em escolas, universidades, serviços de saúde mental e de assistência social para adolescentes e jovens. É possível que o website possa ser utilizado como material complementar em programas multicomponentes para essa população. Estudos futuros deverão averiguar em que extensão os objetivos pretendidos serão alcançados, bem como eventuais limitações dessa ferramenta na prevenção à violência no namoro.

 

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Submetido: 17/02/2014
Aceito: 08/06/2014

 

 

1 Os autores agradecem ao CNPq pelo fomento concedido para esta pesquisa (Processo 402579-2010-0). O presente estudo é parte de um projeto maior contemplado com Bolsa de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq para o triênio 2011-2013 (Processo 306975/2010-6), concedida à primeira autora.

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