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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.7 no.2 São Leopoldo dez. 2014

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2014.72.02 

PSICOLOGIA CLÍNICA E FAMÍLIA

 

Deprivação e a tendência antissocial no adolescente face ao divórcio parental

 

Deprivation and the antisocial tendency of adolescents facing parental divorce

 

 

Soraya Maria Pandolfi Koch HackI; Vera Regina Röhnelt RamiresII

IInstituto de Psicologia (IPSI). Rua 24 de maio, 803, 93315-120, Novo Hamburgo, RS, Brasil. sohack@uol.com.br
IIUniversidade do Vale do Rio dos Sinos. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei, 93022-000, São Leopoldo, RS, Brasil. vramires@unisinos.br

 

 


RESUMO

Este estudo buscou identificar indicadores de deprivação em adolescentes que vivenciaram o divórcio parental nos últimos dois anos de suas vidas e apresentavam sinais de tendência antissocial em seu comportamento. De acordo com a literatura revisada, desajustes no comportamento se manifestam quando houve algum tipo de ruptura na continuidade dos cuidados exercidos pelo ambiente, ocasionando o estado de deprivação. Numa abordagem qualitativa, utilizou-se o delineamento de Estudos de Casos Múltiplos, tendo sido avaliados três adolescentes, de 12, 13 e 15 anos de idade, assim como seus pais e mães, com base em entrevistas semiestruturadas e testes projetivos. Os resultados sugerem uma associação entre os sintomas desses adolescentes e as rupturas e descontinuidades dos cuidados parentais. Foram detectadas não só possíveis vivências de deprivação no contexto do divórcio, mas também na primeira infância desses adolescentes.

Palavras-chave: comportamento antissocial, adolescente, divórcio.


ABSTRACT

The aim of this study was to identify deprivation indicators in adolescents who experienced parental divorce in the last two years of their lives and showed signs of antisocial behavior. According to the literature, behavior problems are manifested when there is some kind of break in the continuity of parental care, leading to a deprivation state. A qualitative approach was adopted, based on Multiple Case Studies design. Three teenagers, aged 12, 13 and 15 years old were evaluated, as well as their parents, based on semi-structured interviews and projective tests. The results suggested an association between adolescents' symptoms and parental care breaks and discontinuities. Possible experiences of deprivation were detected, not only in the context of divorce, but also in early childhood.

Keywords: antisocial behavior, adolescent, divorce.


 

 

Introdução

O divórcio parental e suas repercussões tem têm sido foco frequente de pesquisas entre estudiosos da infância e da adolescência, que identificam nesta nessa transição familiar um campo vulnerável ao aparecimento nos filhos de ressentimentos, decepções e sintomas, especialmente os desajustes no comportamento (Hetherington e Stanley-Hagan, 1999; Storken et al., 2005; Wallerstein e Kelly, 1998). Embora o divórcio parental seja considerado uma transição que coloca os jovens em risco, pesquisas apontam também que muitos filhos se tranquilizam após a separação, ao se moverem de uma situação familiar conflituosa para uma situação mais harmônica (Amato e Afifi, 2006; Hetherington e Stanley-Hagan, 1999; Lansford et al., 2006; Raposo et al., 2011). Segundo Wallerstein e Kelly (1998), é preciso entender então se as dificuldades se instalam e se incrementam associadas à vivência do divórcio parental ou ao menor investimento dos pais nos cuidados parentais.

O divórcio representa uma ruptura de um ciclo na família, às vezes precipitando o afastamento de uma das figuras parentais ou fragilizando o relacionamento entre o filho e uma ou ambas as figuras parentais. Em algumas situações, os filhos, no meio de uma guerra conjugal, assistem a uma quebra do holding familiar. Onde há guerra, muitas vezes, há sobreviventes em busca do amparo.

Foi também num contexto de guerra (a Segunda Guerra Mundial) que o psicanalista Winnicott (2000, 2005) desenvolveu sua teoria a respeito da tendência antissocial, assistindo a muitos protestos e condutas destrutivas por parte de crianças e adolescentes que vivenciaram o efeito da separação e da perda dos pais. Segundo sua teoria, esses jovens sofriam de deprivação, instalada a partir da vivência de ruptura da continuidade dos cuidados parentais. Encontramos na teoria psicanalítica de Winnicott elementos que nos farão compreender os resultados de muitos estudos que apontam para vários desajustes no comportamento surgidos, ressurgidos ou potencializados nos filhos face ao divórcio dos pais diante da fragilização dos cuidados parentais.

 

Deprivação e tendência antissocial

Segundo Winnicott (2000), o estado de deprivação se instaura quando: (a) a criança no seu início de vida recebeu cuidados suficientemente bons que foram retirados de maneira abrupta; (b) essa perda levou à vivência de uma aflição intolerável; (c) a criança já estava amadurecida o suficiente para dar-se conta de que foi o ambiente que falhou. O estado de deprivação ocorre a partir da fase da dependência relativa, diferentemente do estado de privação que acontece no início da vida, na fase de dependência absoluta, quando o bebê não tem noção do ambiente.

Na deprivação "houve um início de vida bom e depois houve o desastre" (Newman, 2003, p. 413). Na esperança de buscar o cuidado perdido, manifesta-se a tendência antissocial em casa ou num contexto mais amplo. Tais manifestações incluem o roubo e a mentira, a agressividade, a incontinência e a desordem generalizada. Além disso, Winnicott inclui outro sintoma comum: a "sofreguidão, juntamente com o seu correlato, a inibição do apetite" (2000, p. 412).

Há dois tipos de tendência antissocial: na primeira, manifestada no ato de furtar, de urinar na cama ou através da falta de asseio, houve uma perda do cuidado materno; na segunda, há destrutividade provocando atitudes firmes, relacionada à interação com o pai, que falha no estabelecimento de limites necessários para o desenvolvimento do autocontrole (Winnicott, 1984). A tendência antissocial não constitui uma categoria diagnóstica em si. Ela pode aparecer em crianças ou adolescentes normais ou neuróticos, depressivos ou psicóticos. Distingue-se da delinquência, que apresenta defesas constituídas e um congelamento afetivo, com atos mais violentos (Winnicott, 1999, 2000). Safra (2002) também destaca a importância de discriminar os comportamentos antissociais da organização psicopática de personalidade.

Atualmente, o termo antissocial tem sido reportado às mais variadas situações. Segundo Bordin e Offord (2000) existem: (a) comportamentos antissociais transitórios no curso do desenvolvimento normal de crianças e adolescentes; (b) distúrbios de conduta, que são uma forma mais abrangente para nomear problemas de saúde mental que causam incômodo no ambiente; (c) transtornos de conduta, caracterizados por ausência de sofrimento psíquico ou constrangimento com suas próprias atitudes. Essas definições podem ser articuladas às ideias de Winnicott (2000), que descreveu também as graduações para o comportamento agressivo e destrutivo: (a) as manifestações naturais e normais; (b) a tendência antissocial e (c) a delinquência.

O termo antissocial não é utilizado apenas pelo viés psicanalítico. Numa perspectiva desenvolvimentista, Pacheco et al. (2005) referem que o termo tem sido empregado para designar o caráter agressivo e desafiador da conduta de indivíduos que mesmo não tendo o diagnóstico de um transtorno específico, apresentam problemas comportamentais que causam prejuízos.

Articulando os conceitos de Winnicott, alguns autores ressaltam a importância que o tema da tendência antissocial tem para a clínica psicanalítica contemporânea (Hack, 2009; Safra, 2002). Essa temática também está sendo estudada por autores contemporâneos, enfocando crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade social (Alexandre, 2006; Garcia, 2004; Vilhena e Maia, 2002). Como já foi referido, Winnicott (2005) desenvolveu a teoria da tendência antissocial observando as reações de crianças e adolescentes frente às rupturas familiares provocadas pelas consequências da Segunda Guerra Mundial. No século XXI, os campos minados são outros e precisamos discorrer e refletir a respeito deles.

 

A família na atualidade

A organização familiar, ao longo da história da humanidade, vem sofrendo alterações estruturais e ideológicas que merecem ser estudadas e analisadas. No século passado, esperava-se que a família permanecesse indissolúvel, independentemente de seus conflitos. Os movimentos sociais da década de 60 do século XX, como o feminismo e a inserção da mulher no campo de trabalho, e a liberação do divórcio culminaram na quebra desses conceitos, levando ao surgimento e à aceitação de diversas configurações familiares (Souza, 2000).

Na pós-modernidade, a vida familiar modificou-se também por outras razões. Vivemos hoje na era do 'descartável', com um avanço tecnológico muito rápido, num mundo mais violento, competitivo e estressante. Diante de uma realidade externa mais exigente e impiedosa, a família deveria promover um espaço de holding para o indivíduo se retroalimentar e conseguir encarar os desafios de cada novo dia. Porém, o que se vê hoje é uma sustentação mais frágil ou descontínua (Gomes e Paiva, 2003). O tempo compartilhado entre pais e filhos reduziu-se: os pais trabalham mais, os filhos estão mais atarefados. "A família reúnese cada vez menos para conversar sobre o cotidiano" (Alexandre, 2006, p. 64).

Segundo Vilhena e Maia (2002), muitos pais falham no estabelecimento de limites, e, consequentemente, a diferença entre a criança e o adulto não estaria sendo mais tão marcada. Com isso há a perpetuação da onipotência e do narcisismo infantil, e assim não se instaura o princípio da realidade. Percebemos também a infância mais abreviada, dando origem à geração dos kids adults e a adolescência cada vez mais longa. Nos adultos, observa-se o fenômeno chamado "adultescência", ou seja, pais tendo condutas adolescentes. Acabam faltando padrões adultos para os adolescentes se identificarem (Alexandre, 2006; Outeiral, 2008, Vilhena e Maia 2002). Assim, no cenário da pós-modernidade, observamos vários pontos de fragilidade, que configuram descontinuidades no exercício das funções parentais, nos mais diversificados contextos familiares.

 

E o divórcio parental?

Já considerava Winnicott (1997), no século passado, que a ameaça de desintegração da estrutura familiar não determina automaticamente o aparecimento de distúrbios clínicos nas crianças. Embora a preservação da família não represente uma garantia de que a criança irá se desenvolver satisfatoriamente até atingir a plena maturidade, as rupturas na continuidade dos cuidados parentais podem afetá-la profundamente. Tais concepções de Winnicott podem perfeitamente serem conectadas hoje às contribuições dos estudos do divórcio, como veremos a seguir.

O divórcio traz mudanças nas relações íntimas, como também na rede social e na infraestrutura de vida de todos os envolvidos (Souza e Ramires, 2006). Muitas vezes, as modificações começam a acontecer na vida dos filhos sem que estes tenham uma noção clara do que está acontecendo e do que vem pela frente (Souza, 2000). Os pais, diante da crise conjugal ou vivendo ajustes pós-separações, acertos, desacertos, mágoas, etc., podem desamparar seus filhos, envolvendo-os em disputas, em alguns casos até provocando a descontinuidade dos cuidados básicos para com eles (Brito, 2007; Lang, 2000). Além disso, diante da separação e do divórcio, os filhos têm que enfrentar o medo de também perder o contato com uma das figuras parentais e de serem de fato abandonados (Almeida et al., 2000).

Os desajustes no comportamento são apontados como uma das possíveis manifestações por parte dos filhos (Almeida et al., 2000; Harland et al., 2002; Hetherington e Kelly, 2002; Kelly e Emery, 2003), aparecendo com mais frequência nos meses seguintes ao divórcio. Os filhos sentem-se mais deprimidos e irritados, podendo apresentar queda no rendimento escolar, problemas de ajustamento e de relacionamento interpessoal (Wallerstein e Kelly, 1998; Wolchik et al., 2002). Efeitos mais drásticos incluem comportamentos antissociais, agressivos, oposicionistas, falta de autocontrole, baixa responsabilidade social e diminuição do desempenho cognitivo (Hetherington e Stanley-Hagan, 1999). Nos adolescentes, também é possível encontrar problemas de relacionamento, uso de substâncias, decréscimo no rendimento escolar, conduta sexual inadequada, depressão e comportamento delinquente (Cohen, 2002). Embora esses pesquisadores não façam referência aos postulados de Winnicott, constata-se que os resultados desses estudos se aproximam da teoria da tendência antissocial. Os desajustes encontrados no contexto do divórcio parental podem ser entendidos como manifestações antissociais, resultantes das descontinuidades e incertezas na vida familiar.

A ruptura familiar, as mudanças, as inseguranças ou a 'guerra' conjugal constituem um campo vulnerável ao surgimento da deprivação e da tendência antissocial. Os pais, envolvidos em seus próprios conflitos, acordos e desacordos nem sempre a percebem. Além disso, algumas dessas dificuldades se manifestam fora do ambiente familiar. Nesse sentido, os professores observam com mais objetividade que, muitas vezes, o aumento da ansiedade e da preocupação com a dissolução familiar traz problemas de concentração, desempenho escolar insuficiente e mudanças de comportamento (Wallerstein e Kelly, 1998).

A literatura também nos aponta que entre um e três anos há uma diminuição dos sintomas e uma readaptação à nova situação de vida (Cohen, 2002; Kelly e Emery, 2003; Lansford et al., 2006). A manutenção dos desajustes e/ou ressentimentos e das decepções com uma das figuras parentais é frequentemente associada nos estudos com a diminuição da qualidade da parentalidade exercida após o divórcio (Dunn, 2004; Reiter et al., 2013). A maioria dos estudos ressalta a importância da manutenção dos vínculos do progenitor não-residente com seus filhos (Kelly e Emery; 2003; Ruschena et al., 2005; Storken et al., 2005), sem, no entanto, utilizar o referencial winnicottiano.

De um lado, a mãe ou pai que detém a guarda deve proporcionar um ambiente de cuidado positivo (Souza, 2000). De outro, aquele que sair de casa, instalará um problema se enquadrar seus filhos na categoria de "ex-filhos" (Dantas et al., 2004). Esse risco acaba sendo mais frequente em relação à figura paterna, pois, na maioria das vezes, é o pai quem sai de casa e não detém a guarda dos filhos.

Segundo Dolto (2003), algumas mães tratam os filhos como se fossem delas. Nesse sentido, o afastamento do pai pode acontecer também por indução das mães, que manipulam os filhos. Esse fenômeno tem sido identificado como SAP (Síndrome de Alienação Parental) ou Padrectomia (Boch-Galhau, 2002; Martinez, 2006). Certamente, em alguns casos, é o pai que se aliena e rejeita a relação posterior com o filho (Johnston, 2003). Não só as crianças, mas também os adolescentes sofrem com o afastamento do pai. A falta deste, no contexto do divórcio, potencializa problemas de ajustamento e acadêmicos no adolescente do sexo masculino, ao passo que, no sexo feminino, há um risco maior de gravidez precoce (Kelly e Emery, 2003; Storken et al., 2005).

O estudo longitudinal de Dunlop et al. (2001) apontou que, independentemente da configuração familiar e do gênero, a autoestima do adolescente está associada à manutenção do cuidado parental, respeitando-se a sua necessidade de autonomia. No entanto, a perda desse cuidado foi encontrada mais em famílias reconstituídas do que nas originalmente constituídas. No contexto do divórcio, os adolescentes que continuaram a receber esses cuidados mostraram-se mais adaptados à nova família. Os estudos de Reiter et al. (2013) e Sigal et al. (2012) também apontam para a importância da manutenção dos cuidados parentais nos anos que se seguem após o divórcio, dessa forma diminuindo a probabilidade de sofrimento e sintomas nos filhos.

Portanto, a deprivação pode acontecer não só no início da ruptura do casal parental, mas também em longo prazo, sendo, nesse caso, provavelmente, mais avassaladora. Também é preciso considerar se houve outras deprivações anteriores ao divórcio parental. A história anterior dos vínculos entre os pais e os filhos é considerada como um fator de resiliência no enfrentamento das transições familiares (Ramires, 2004). Porém, como colocam Laumann-Billings e Emery (2000), resiliência não significa ausência de vulnerabilidade. Se a relação "suficientemente" positiva que o filho tem com seus pais é rompida, enfraquecida ou ameaçada, cria-se um campo vulnerável ao aparecimento de sintomas, que descortinam um sentimento de perda, abandono e desamparo (Hack e Ramires, 2010).

Embora o divórcio parental seja um foco de pesquisa de muitos estudiosos da infância e da adolescência, a possibilidade de uma associação entre o estado de deprivação postulado por Winnicott e o aparecimento dos desajustes no contexto do divórcio ainda não foi explorada. E é neste sentido que este estudo se insere: compreendendo os desajustes no comportamento como possíveis indicadores de tendência antissocial, tal como foi proposto por Winnicott, ou seja, como um pedido de socorro, um protesto em busca do holding perdido. Este estudo teve como objetivo identificar indicadores de deprivação em adolescentes com sinais de tendência antissocial em seu comportamento que vivenciaram o divórcio parental nos últimos dois anos.

 

Método

As pesquisas qualitativas produzem construções de novos significados, na medida em que, ao invés da amplitude, opta-se pela profundidade (Cezar-Ferreira, 2004). Partindo dessa premissa, realizou-se um estudo pautado por uma abordagem qualitativa-exploratória, baseado no delineamento de Estudos de Casos Múltiplos (Yin, 2005).

Participantes

Participaram três adolescentes de classe média urbana, de 12, 13 e 15 anos de idade e seus pais e mães. Uma adolescente era do sexo feminino e os outros dois do sexo masculino. O número de casos participantes não foi definido a priori.

Instrumentos

Os estudos de caso foram realizados utilizando-se os seguintes instrumentos: (a) entrevistas semiestruturadas com os pais (realizadas separadamente com a mãe e com o pai) e entrevistas semiestruturadas com os adolescentes, a fim de estabelecer um rapport inicial, e a escuta da história de vida dos pais e mães, dos adolescentes, e da representação dos seus relacionamentos na perspectiva de ambos; (b) Teste do Desenho da Família (Corman, 2003), utilizado com o objetivo de avaliar a representação de família desses adolescentes e os sentimentos nutridos pelos membros de seu ambiente familiar; (c) HTP (Buck, 2003), utilizado com o objetivo de avaliar a organização da personalidade do adolescente, o autoconceito e a percepção do ambiente; (d) Teste das Fábulas (Cunha e Nunes, 1993), utilizado por ser um instrumento útil para a compreensão psicodinâmica, permitindo identificar crises situacionais e de desenvolvimento, conflito neurótico, transtornos neuróticos e psicóticos.É rico também para identificar a natureza das relações entre a criança ou o adolescente e seus pais ou cuidadores.

O conjunto dos dados de cada estudo de caso foi analisado com base no referencial teórico psicanalítico, especialmente nas contribuições de Winnicott, e na revisão de pesquisas sobre o divórcio. A análise dos dados foi pautada também pelo método de proposições teóricas, de acordo com Yin (2005), e obedeceu às seguintes etapas:

1º Passo: foi realizada uma descrição abrangente de cada caso, organizada de forma cronológica (seguindo os eventos importantes da história da vida familiar dos adolescentes, de acordo com a percepção de seus pais, suas mães e a sua própria) e temática com base nas seguintes categorias de análise: "relacionamentos entre os adolescentes e seus pais e suas mães", conforme foram descritos por ambos, "eventos significativos de vida", na percepção de ambos, "eventos estressores", também na percepção de ambos, "organização da personalidade do adolescente, autoconceito e percepção do ambiente", baseada no HTP, "representações inconscientes das relações com os objetos primários", baseada nos resultados do Teste do Desenho da Família e do Teste das Fábulas.

2º Passo: foi utilizada a técnica de Construção da Explanação (Yin, 2005), com o objetivo de analisar exaustivamente os dados de cada estudo de caso e construir uma explanação psicodinâmica sobre ele. Todos os dados (entrevistas e testes) e resultados foram integrados na compreensão geral do estado afetivo e psicossocial do adolescente. Nessa etapa, também foi utilizada a técnica de Análise de Série Temporais na modalidade cronológica (Yin, 2005), com o objetivo de explorar os eventos ao longo da História de Vida do adolescente, identificando a ocorrência de experiências de deprivação emocional e sua relação com o divórcio parental, ou outros eventos que pudessem ter tido algum impacto sobre as relações objetais significativas dos adolescentes avaliados.

3º Passo: foi utilizada a técnica de Síntese de Casos Cruzados (Yin, 2005), com o objetivo de confrontar os resultados obtidos na análise de cada caso em particular, identificando convergências e divergências e buscando, desta forma, evidências que auxiliaram a identificar as associações entre experiências de deprivação, divórcio parental e comportamento antis-social nos adolescentes avaliados.

 

Procedimentos

Os participantes foram acessados a partir de uma triagem realizada em uma escola. A triagem foi baseada na aplicação do CBCL (Child Behaviour Checklist) (Achenbach, 2010), preenchido pela mãe desses adolescentes, a partir de consulta realizada pelo Setor Psicopedagógico. Nessa consulta, foram contatados os responsáveis pelos jovens que estavam apresentando indicadores de problemas de comportamento, e cujos pais haviam se separado nos últimos anos. Foram selecionados aqueles adolescentes que obtiveram escores clínicos nos problemas de externalização do CBCL. Esses adolescentes então foram convidados a participar da segunda etapa do estudo, juntamente com seus pais e suas mães.

O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade (Resolução CEP Nº 07/21), seguindo os preceitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os participantes, tanto da primeira etapa (triagem) quanto da segunda (estudos de caso) foram detalhadamente informados a respeito do estudo, seus objetivos e procedimentos, concordando em participar, assinando o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido).

 

Resultados

Apresenta-se a seguir uma síntese do estudo de caso de cada um dos participantes, incluindo os dados obtidos nas entrevistas e os aspectos mais destacados dos instrumentos projetivos.

Caso 1: ...Minha mãe parou de ouvir... Meu pai é um estranho

Depois de dois meses de separação dos pais, Patrícia1, de 12 anos, cursando a 6ª série do Ensino Fundamental, passou a manifestar na escola problemas que até então não tinha apresentado: desinteresse pelas tarefas escolares, queda no rendimento escolar, discussões com professores, além de 'ficar' com meninos na frente de colegas e professores. Em casa, a menina passou a isolar-se no quarto. Durante a avaliação, Patrícia foi encontrada fumando na escola. O cigarro ela havia retirado da carteira da mãe, sem o conhecimento desta. A partir desse fato, a mãe passou a pensar que a menina estava "se vingando" dos pais.

O casal separou-se por iniciativa da mãe de Patrícia, que descobriu um envolvimento extraconjugal do pai. A traição do pai aconteceu junto com a crise econômica da família. O pai disse que queria a separação, mas não verbalizou isso em casa. Foi se afastando cada vez mais da família, inclusive deixando as filhas aos cuidados da mãe, "de propósito". Queria as filhas "dependentes da mãe". A mãe relatou que foi tomada de surpresa ao descobrir a traição do marido, pois viviam um casamento de dez anos marcados por momentos muito felizes. O clima entre eles era de brigas, discussões e tentativas de reconciliação por parte do pai. Este se dizia confuso e culpado. A mãe, por sua vez, fragilizada com a traição do marido, relatava que era agressiva, que brigava e se descontrolava. Decidiu iniciar um novo relacionamento, mas tinha dúvidas quanto à sua continuidade. Ambos os pais de Patrícia trabalhavam muito em função dos problemas financeiros.

A mãe de Patrícia definia-se como uma pessoa de temperamento difícil e explosiva. Teve problemas de relacionamento com a própria mãe, "uma pessoa de difícil convívio", sempre doente. O pai de Patrícia, por sua vez, definia-se como alguém calado. Sempre teve dificuldade de relacionamento com os seus próprios pais, que não conversavam com ele. Achava que repetia o mesmo padrão com suas filhas.

Patrícia, segundo a mãe, foi "criada com muito mimo", sendo a primeira filha e bebê da família. Era muito ligada aos pais. Até o nascimento da irmã, adormecia segurando a mão da mãe, na cama do casal. Sofreu muito quando tinha 2 anos e a mãe engravidou. Chegou a cuspir no rosto da mãe quando esta falou que a 'mana' ficaria no quarto da mãe. Quando a irmã nasceu, escondeu-se num canto do quarto do casal. O relacionamento com o pai mudou depois que a irmã nasceu, pois, a partir dessa época ele passou a dedicar-se exaustivamente ao trabalho. Até os 7 anos, manifestava alguns medos de ficar sozinha. Fez psicoterapia nessa época com boa evolução.

Até a separação do casal, Patrícia, que teve sua menarca no mesmo ano, não demonstrava outras dificuldades. Sempre foi mais calada. Segundo a mãe, até hoje "prefere ficar angustiada do que dar o gosto de botar pra fora". Esse perfil era semelhante ao pai, segundo relato de ambos os pais, e diferia da irmã e da mãe.

Nas entrevistas individuais, no entanto, mostrou-se falante e receptiva, queixando-se muito do clima familiar e dos pais. Segundo relato de Patrícia, ela ficou sabendo da separação do casal pelos gritos deles, sendo que nunca sentaram com as filhas para conversar sobre o assunto. A mãe mudou muito. Nas palavras de Patrícia: "A minha mãe sempre foi de me ouvir, de conversar, ela parou de ouvir". Ressente-se pelo pai ter traído a mãe, dizendo que ele não pode reclamar que ela, a Patrícia, tenha 'ficado' com um menino no pátio da escola, pois ele também "aprontou". Sente hoje o pai como um estranho. Nos instrumentos projetivos, revelou uma tendência em inibir os afetos mais depressivos. Também apareceram indícios de sentimentos de desamparo, abandono e solidão, mascarados por suas tentativas de negação.

Caso 2: ... Sei que um dia eu tive um pai...

Fernando, 13 anos, 8ª série do Ensino Fundamental, discutiu com um de seus professores, discordando dele e o desafiando verbalmente, de forma arrogante e inapropriada. Tal atitude causou surpresa no ambiente escolar, segundo relato da mãe. O menino sempre teve condutas mais agressivas e desafiantes em casa (batia na irmã, batia portas). O que preocupava a mãe era o fato desse tipo de comportamento ter se manifestado na escola e a semelhança do comportamento agressivo do menino com o pai. Acreditava que o menino teria extravasado no professor sua revolta com a figura paterna. Este se afastou dos filhos (Fernando tinha uma irmã de 8 anos) depois da separação conjugal, ocorrida havia três meses antes da avaliação. Desde então, seus contatos eram irregulares (no máximo um telefonema no meio da semana), além de não estar contribuindo financeiramente com as despesas dos filhos.

O comportamento agressivo do pai foi um dos motivos da separação, aliado às brigas constantes que o casal tinha no último ano de casamento. A separação ocorreu, inclusive legalmente por iniciativa da mãe depois de alguns episódios de agressividade do pai, em que quebrou objetos e bateu nos filhos. Dois anos antes, a família passou por problemas econômicos (desemprego do pai e mudança de trabalho da mãe). O convívio, segundo a mãe, foi ficando cada vez mais difícil: o pai mostrava-se muito exigente, crítico e agressivo. O pai, por sua vez, atribuiu aos problemas financeiros o motivo da separação. Não faz menção ao seu comportamento agressivo.

Os pais, na época da avaliação, não se comunicavam. O pai mostrava-se fragilizado e ressentido com a ex-mulher e também confirmava que se afastou dos filhos. Acreditava que seria preciso primeiramente se reerguer profissionalmente para depois retomar o convívio com eles. A mãe revelava que preferia assumir sozinha a educação dos filhos. Acreditava que o ex-marido poderia ajudar financeiramente, mas ela abriu mão da pensão e não fazia muita questão que ele procurasse os filhos. Porém, vinha se questionando se não estaria prejudicando os filhos, "pois era direito deles".

A mãe descrevia-se como uma pessoa determinada. Em sua família "o forte são as mulheres". Seu pai (avô materno de Fernando) costumava sair para jogar, perdendo muito dinheiro com isso. O pai de Fernando, por sua vez, descrevia seu pai de forma semelhante. Não teve muito convívio com ele, nem diálogo. Sua mãe é quem trabalhava e sustentava a casa. O pai de Fernando definiu-se como uma pessoa "fechada", como seu próprio pai. Via em Fernando semelhança com ele nesse aspecto.

A mãe de Fernando, igualmente, fez referência ao fato de o filho ser "fechado" como o pai, diferente dela e da filha, que eram mais espontâneas. No que dizia respeito à separação, por exemplo, a filha reclamava a falta do pai, chorava, enquanto Fernando não o fazia, embora não gostasse quando as pessoas falavam mal do seu pai.

A gestação de Fernando não foi planejada, mas, segundo a mãe, foi bem-vinda. Amamentou até o segundo ano, só parando porque ele a "mordia". Aos 3 anos, o menino ficava durante o dia aos cuidados da avó materna. Isso porque a mãe trabalhava de 10 a 12 horas por dia. Ele então começou a ficar irritado e agressivo com ela. Com 4 anos, a tia materna teve um bebê. Fernando mostrou-se irritado com a chegada dele e, posteriormente com o nascimento da irmã. Nessa época, iniciou atendimento psicológico, por sua conduta agressiva.

Fernando descrevia-se como "estouradinho", referindo que piorou depois da separação dos pais. Na primeira entrevista apareceu com o braço quebrado, fruto de uma briga que teve na escola com um colega, alegando que "teve que se defender". Queixou-se do afastamento do pai, mas o descreveu como agressivo e por isso não gostaria que ele voltasse a morar com eles. No entanto, seu desejo era de que ele participasse e se interessasse mais por sua vida e pagasse a pensão. Antes da separação, o pai brincava com ele, jogando video game. O pai não era de conversar, e a mãe não era de brincar. Fernando disse: "Sei que um dia eu tive um pai. Hoje não". Nos instrumentos projetivos, apareceu uma forte dependência da figura materna e conflitos com o genitor do mesmo sexo. Também revelou tendência à inibição e negação dos afetos mais depressivos, impulsividade e agressividade.

Caso 3: ... Não sinto falta do meu pai... Sinto muita raiva

Artur, 15 anos, no segundo grau, apresentava, havia muitos anos, dificuldades escolares: desinteresse, desorganização do material escolar, não cumprimento das tarefas. Segundo a mãe, esses comportamentos se intensificaram no último ano. Artur começou a ficar mais irritado em casa, mais desorganizado e relapso com sua saúde, mais desafiador, agressivo e "explosivo". O auge de sua manifestação de agressividade ocorreu quando, após uma crise de violência em casa, quebrando objetos, Artur pediu para morar o com pai, o que chegou a se efetivar por um mês. Quando esta avaliação foi iniciada, Artur já estava morando novamente com a mãe.

O casal se separou há cerca de um ano, depois que a mãe de Artur descobriu um relacionamento extraconjugal do marido. Os filhos (Artur tinha duas irmãs mais velhas) ficaram indignados, rompendo o relacionamento com o pai por alguns meses. Artur chegou a interromper uma atividade de lazer que praticava junto com o pai, que nunca mais foi retomada. Houve um distanciamento entre pai e filho.

Segundo a mãe, o casal viveu um casamento "bem constituído" por muitos anos, até o momento em que o pai passou por uma crise, precipitada por problemas de saúde e financeiros (três anos antes da separação). O pai, por sua vez, referiu que a ex-mulher foi tomando seu espaço cada vez mais no casamento, afirmação que evidenciava uma conexão com o autoconceito dela própria.

A mãe descrevia-se como uma pessoa comunicativa e "muito espaçosa". Seu pai faleceu quando ela tinha quase dois anos. Embora tenha tido o avô materno como referência, caracterizava sua família como sendo de "mulheres dominadoras". O pai de Artur se definia como uma pessoa quieta e ponderada. Quando pequeno, foi deixado aos cuidados dos avós paternos e, segundo seu próprio relato, só de uns anos para cá entendeu os motivos que levaram seus pais a tomar tal atitude.

O período inicial da separação do casal foi marcado por algumas tentativas de reconciliação por parte do pai, que não chegaram a se efetivar. Alguns meses depois, a mãe iniciou um novo relacionamento com um homem que passou a frequentar sua casa. Na mesma época, o pai começou a se envolver com problemas de saúde da atual companheira. Os pais de Artur sempre se comunicaram, conseguindo conversar sobre as questões práticas relacionadas à família, mas, até a época da avaliação, não haviam chegado a um consenso quanto aos ajustes da separação legal e não havia concordância em relação à pensão destinada ao filho.

No primeiro ano da separação, Artur não demonstrava mudanças em seu comportamento (além das dificuldades anteriores). No entanto, iniciou um namoro com uma menina, frequentando a casa dela sistematicamente. Inclusive, chegava, por vezes, a passar os finais de semana lá. Segundo ambos os pais, esse namoro foi uma fuga. Artur andava muito "solto" e sozinho nos últimos tempos, o que contrastava com seu início de vida.

Embora a gravidez de Artur não tenha sido planejada, foi "uma criança muito amada". A mãe lembrou que foi uma festa em família quando souberam que era um menino e que ele teve "quatro mães": ela própria, a avó materna, e as duas irmãs mais velhas. A mãe dedicou-se exclusivamente a ele até os 6 meses, quando retomou o trabalho e o estudo. O pai relatou com carinho os momentos que cuidou do filho à noite até os 4 anos para que a mãe terminasse os seus estudos.

Artur começou a apresentar dificuldades no final da pré-escola, com desatenção e dificuldades de traçado. Nessa época, a mãe lembrava que ele teve uma 'crise de brabeza' dando pontapés na irmã. Com 7 anos, foi diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção. A mãe achava que, em alguns momentos da sua vida, pode ter falhado com ele: "talvez o faltar, em função do trabalho". Por outro lado, achava que, às vezes, assumia o papel do pai na colocação de limites. Este, por sua vez, relatou que teve relacionamento próximo com o filho no início da vida, como já foi citado, e nos três últimos anos, porque tinham duas atividades de lazer em comum que duraram até o momento da separação.

Nas entrevistas individuais, Artur mostrou-se espontâneo e extrovertido, mas com certa dificuldade de acessar seus afetos, negando-os inclusive. Verbalizava que a separação parental foi difícil para os pais, não para ele próprio. "Não sentia falta do pai", mas sim "muita raiva" pelo que ele fez para sua mãe. Primeiramente, relatou que o relacionamento com o pai não mudou depois da separação, pois sempre foi mais distante. No entanto, acabou reconhecendo que seu pai de fato participava de sua vida diária. Disse que a casa em que morava com o pai e sua atual companheira era "muito fria". Ficou claro que tinha um relacionamento mais próximo com a mãe, mas também se queixava que ela cobrava muito as tarefas escolares. Reconheceu o seu descontentamento com a presença do namorado da mãe em casa, pois se sentia invadido. Durante a aplicação dos instrumentos projetivos, costumava relatar fatos de sua vida passada, sempre fazendo referência a situações felizes que já passaram. Os resultados desses testes apontaram para sentimentos de abandono, desamparo e solidão, que eram mascarados e negados.

 

Análise dos dados e discussão

As descontinuidades nos relacionamentos entre os adolescentes e seus pais

Nos casos avaliados, foi possível identificar uma história de fragilidade nos relacionamentos entre pais e filhos desde a primeira infância, muito antes do processo de separação dos casais. Essa fragilidade se constituiu a partir de experiências de descontinuidades, de rupturas dos cuidados parentais, que possivelmente desencadearam nos filhos o complexo de deprivação, tal como foi descrito por Winnicott (2000).

É preciso considerar que os três adolescentes tiveram um início de vida suficientemente bom. Embora nenhuma das gestações tenha sido planejada, foram filhos muito bem recebidos e investidos de cuidados no seu primeiro ano de vida. As vivências de deprivação materna apareceram a partir do segundo, terceiro ano de vida, por envolvimento das mães com outras questões: seja o nascimentos de irmãos, seja o excesso de trabalho. A deprivação paterna também se evidenciou cedo. Identificouse nos pais certa dificuldade em cumprir seu papel de "ambiente indestrutível" (Vilhena e Maia, 2002), seja por afastamento, agressividade ou omissão. Os pais desses adolescentes aparentemente eram mais frágeis que as mães, identificadas como autoritárias e determinadas.

Em resposta às deprivações na primeira infância vieram os sintomas: medo, agressividade em casa, desadaptações na escola. Em todos os adolescentes participantes, novas manifestações de tendência antissocial surgiram ou se incrementaram a partir da vivência de separação dos pais. Patrícia e Fernando foram deprivados imediatamente após a separação, porém, em Patrícia, a deprivação foi materna (com sintoma de furto) e paterna (agressividade, afronta verbal aos professores, dificuldade no controle dos impulsos), enquanto que, em Fernando, a deprivação foi somente paterna (agressividade e afronta verbal aos professores). Artur já manifestava desajustes muito antes da separação dos pais, porém, as manifestações de tendência antissocial se incrementaram no segundo ano de separação, quando ambos os pais ficaram muito envolvidos em seus novos relacionamentos, deixando o filho mais sozinho. A deprivação materna manifestou-se pela desorganização e pelo desleixo (com sua saúde) e a paterna através de condutas agressivas e violentas.

Embora as histórias anteriores das relações entre pais e filhos, aliadas aos afastamentos das figuras parentais, tenham potencializado os desajustes, deve-se considerar que os três casos apresentaram sintomas no primeiro ano após o divórcio, como a literatura especializada aponta: depressão, irritação, queda no rendimento escolar, problemas de ajustamento e de relacionamento interpessoal (Hetherington e Stanley-Hagan, 1999; Wallerstein e Kelly, 1998; Wolchik et al., 2002) como também distração, ansiedade, raiva, comoção e descrença (Cohen, 2002; Kelly e Emery, 2003). Esse cenário de descontinuidades nos relacionamentos entre esses adolescentes e seus pais com o consequente aparecimento ou potencialização de sintomas tem conexão com as conclusões de muitos estudos sobre o divórcio parental, que associam desajustes e/ou ressentimentos e decepções em relação às figuras parentais com a diminuição da qualidade da parentalidade exercida após o divórcio (Dunn, 2004).

Os adolescentes avaliados apresentaram sintomas na área da conduta, denunciando o sentimento de desamparo e solidão. Demonstraram compreender e aceitar o motivo da separação dos pais, mas descreveram e identificaram com propriedade seus sentimentos de raiva dirigidos às figuras parentais que os deprivaram. Tais achados são compatíveis com alguns dos resultados dos estudos revisados envolvendo adolescentes, como veremos a seguir.

Harland et al. (2002) detectaram um índice maior de problemas comportamentais entre 12 e 16 anos nos filhos provenientes de famílias com pais divorciados. Cohen (2002) cita que sentimentos de raiva e confusão podem levar, na adolescência, a problemas de relacionamento, uso de substâncias, decréscimo do desempenho escolar, conduta sexual inadequada, depressão, agressividade e comportamento delinquente. Em outros estudos com adolescentes, foram identificados sentimentos de raiva e tristeza em relação ao genitor nãoresidente (Ramires, 2004). A maior fonte de dificuldade e sofrimento diz respeito à saída de casa de uma das figuras parentais e à falta de previsibilidade de eventos da vida quotidiana (Souza, 2000). Todas essas dificuldades foram encontradas nos três casos.

Torna-se relevante também refletir sobre as diferenças quanto ao gênero dos adolescentes. As pesquisas revisadas apontam que os meninos mostram-se mais violentos e com mais problemas acadêmicos que as meninas. Estas são mais ajustadas nas características sociais e acadêmicas, mas são propensas a engravidar mais cedo (Kelly e Emery, 2003; Storken et al., 2005). A maioria desses estudos associa esses achados à ausência paterna. As análises de cada caso revelaram algumas convergências e outras divergências em relação aos estudos citados. O negativismo e a rebeldia estão presentes nos três. Fernando e Artur apresentaram mais problemas de controle dos impulsos no que diz respeito à agressividade e à destrutividade, porém, Fernando não revelou problemas acadêmicos, como seria também esperado. Patrícia, por sua vez, não se apresentou mais ajustada do que os meninos, como aponta a literatura. É preciso lembrar, nesse ponto, que ela sofria de deprivação materna e paterna, sendo que os estudos revisados descrevem o afastamento do pai. Patrícia revelou uma dificuldade no controle dos impulsos no que diz respeito à sexualidade, aspecto esse que está implícito nas pesquisas que sugerem a possibilidade de gravidez precoce.

Em Fernando e Artur, o afastamento paterno foi, de alguma forma, estimulado pela figura materna, com seus ressentimentos em relação ao pai. As mães desses adolescentes lidaram com seus filhos de maneira possessiva, levando ao que a literatura vem descrevendo como Alienação Parental (Boch-Galhau, 2002) ou padrectomia (Martinez, 2006).

A literatura aponta que a personalidade é tida como uma variável importante na adaptação do filho ao período pós-divórcio (Hetherington e Stanley-Hagan, 1999; Ruschena et al., 2005). De acordo com os dados levantados, é possível encontrar pontos em comum entre os três participantes da pesquisa. Todos revelaram uma tendência à inibição dos afetos e à negação de sentimentos depressivos, aspectos denunciados de forma muito evidente nos instrumentos projetivos, com indícios de desamparo e solidão. Em todos, havia uma percepção do sentimento de raiva em relação aos progenitores que provocaram a deprivação, porém, no início da avaliação, nenhum deles associou diretamente os sintomas apresentados com tais sentimentos.

Observa-se que, nos participantes da pesquisa, apareceram introjetadas vivências de deprivação que marcaram a história de seus vínculos com seus pais. Essas marcas tornaram-nos mais vulneráveis, principalmente diante da perspectiva de repetição do complexo de deprivação. As manifestações de tendência antissocial foram de fato uma espécie de protesto pelos "direitos perdidos". Compreende-se que, nesses casos, o divórcio parental foi um campo minado, que desencadeou, nas figuras parentais, a descontinuidade dos cuidados maternos e paternos. Deve-se destacar que esses pais também revelaram marcas de deprivação na história de seus vínculos com seus próprios pais.

 

Considerações finais

Avaliando adolescentes com manifestações de tendência antissocial, este estudo constatou que os desajustes apresentados por esses adolescentes surgiram ou foram potencializados a partir da vivência do divórcio parental. No entanto, também detectou-se que os sintomas apresentados por esses jovens estavam mais associados aos afastamentos das figuras parentais e às descontinuidades dos cuidados materno e paterno do que propriamente ao divórcio dos pais.

A deprivação e a tendência antissocial apareceram ou foram potencializadas neste momento de crise familiar em função do divórcio, porém, esse não foi por si só o potencial gerador desses problemas. A forma como essa transição foi vivida por cada contexto familiar, o modo como os pais administraram a separação da conjugalidade e principalmente o exercício da parentalidade foram fatores significativos. Os problemas mais destacados referem-se às alterações e às instabilidades vividas no período pós-divórcio, quando os cuidados materno e paterno apresentaram-se de forma fragilizada e descontínua. Finalmente, este estudo também detectou e apontou especialmente a importância da história anterior dos relacionamentos entre os pais e seus filhos.

O principal fator relacionado aos desajustes apresentados pelos adolescentes estava mais relacionado com a história e o padrão de relacionamento estabelecido entre eles e seus pais. Os três jovens avaliados tinham vivências de deprivação na primeira infância, e os pais, por sua vez, também carregavam possivelmente marcas de deprivação em sua própria história. Dessa forma, o divórcio parental apareceu como um cenário propício ao ressurgimento da deprivação, porque provavelmente provocou nesses pais o afastamento de suas funções parentais.

Refletindo a respeito desses achados, pode-se reiterar e relembrar as proposições de Winnicott (1997). Esse autor destacou que não é a preservação da família que irá garantir aos filhos um desenvolvimento satisfatório até atingir a plena maturidade, mas sim a continuidade dos cuidados parentais.

 

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Submissão: 19/11/2013
Aceite: 07/07/2014

 

 

1 Para garantir sua confidencialidade, os nomes dos participantes do estudo foram modificados, assim como quaisquer dados que possibilitassem sua identificação.

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