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Contextos Clínicos

Print version ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.9 no.1 São Leopoldo June 2016

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2016.91.11 

ARTIGOS

 

Ao escrever, inscreve-se um sujeito

 

Writing as a therapeutic approach for psychoses

 

 

Salue Josielen FarinonI; Rudimar MendesII

IPsicóloga. Rua Júlio de Castilhos, 940/206, 95180-000, Farroupilha, RS, Brasil. sa_psi@hotmail.com
IIFaculdade da Serra Gaúcha. Rua Os Dezoito do Forte, 2366, 95020-472, Caxias do Sul, RS, Brasil. rudimar.mendes@fsg.br

 

 


RESUMO

Este artigo tem por objetivo buscar elementos que sustentem a investigação sobre a função da escrita, como recurso terapêutico no tratamento da psicose, considerando por questão central o que o sujeito da psicose tem a dizer através da escrita. Valendo-se do método psicanalítico, constata-se a possibilidade de se movimentar pelas vias de acesso ao inconsciente. Este trabalho é de caráter exploratório, no qual a coleta de dados foi feita a partir da participação da pesquisadora e também coordenadora de uma Oficina de Escrita em um CAPS I, fazendo uso da produção textual de uma usuária, do diário metapsicológico de campo e da escuta singularizada para a construção de um estudo de caso de psicose paranoica. Tem-se por referencial teórico os estudos freudo-lacanianos, bem como autores contemporâneos que nos propõem um entendimento diferencial da clínica da psicose e da escrita enquanto dispositivo de emergência subjetiva. O levantamento bibliográfico e a análise de falas estimularam a compreensão da função da escrita na vivência da usuária da saúde mental em relação a seu sinthoma. Dessa forma, pôde-se constatar que a escrita, no caso estudado, proporcionou a inscrição do sujeito da psicose, facilitando a construção de laços e favorecendo o reconhecimento enquanto portador de uma fala.

Palavras-chave: psicose paranoica, escrita, saúde mental, psicanálise.


ABSTRACT

This article intends to search elements that sustain the investigation about the function of writing, as therapeutic resource in the psychosis treatment, regarding as the central question what the subject of the psychosis has to say through the writing. Taking advantage of the psychoanalytic, the possibility of moving through the access to the unconscious was confirmed. This work has an exploratory nature, in which the data gathering was done based on the participation of the researcher and co ordinator of a Writing workshop from CAPS I, making use of a textual production from an user, a metapsychology field diary and the singularity listening for the construction of a case study of the paranoic psychosis. The theoretical background is the freudian-lacanian studies, as well as contemporaneous authors, who propose to us an understanding of the difference between clinical psychosis and the writing while a subjective emergency dispositive. The bibliographical survey and the speech analysis have stimulated the comprehension of the writing function on the experience of the user's mental health in relation of her sinthome. Based on this, it could be found that writing, in the case studied, has provided the registration of the psychosis, facilitating the construction of links and favoring the recognition as a speech holder.

Keywords: paranoid psychosis, writing, mental health, psychoanalysis.


 

 

Com o movimento da Reforma Psiquiátrica brasileira, serviços substitutivos foram implantados em inúmeros municípios do país e, com eles, uma reformulação da terapêutica destinada aos usuários dos serviços, portadores de sofrimento psíquico, na sua maioria com estrutura psicótica. As oficinas terapêuticas, dispositivos da atual Política Nacional de Saúde Mental, passaram a fazer parte do tratamento destinado a esses usuários, por oferecerem possibilidades de criação, transformação e expressão, valorizando a singularidade de cada sujeito.

Nesse contexto, foi realizada uma pesquisa capaz de investigar a função da escrita no tratamento de sujeitos psicóticos integrantes de uma Oficina de Escrita em um serviço de saúde mental substitutivo (Centro de Atenção Psicossocial de tipo I - CAPS I). Buscou-se respaldo teórico na psicanálise de Freud e de La-can, primando por uma fundamentação sobre a psicose paranoica e sua relação com o fazer na escrita, assim como servindo-se de autores contemporâneos que se propõem a estudar a interface escrita/psicose.

O processo de criação desta pesquisa partiu basicamente de três aspectos. Inicialmente, por estar relacionado à inserção da pesquisadora em um CAPS I, visualizando, dessa forma, o oferecimento aos usuários do serviço mais um recurso terapêutico para associar ao tratamento que vinha sendo desenvolvido. Pensou-se também que a pesquisa possibilitaria um maior entendimento do sujeito da psicose: seja quanto à estruturação psicótica, seja referente aos aspectos singulares existentes em cada sujeito. Finalmente, observou-se que a escrita, por sua vez, poderia ser um meio de acesso aos conteúdos inconscientes, vislumbrando a terapêutica.

Tentando maior entendimento acerca da psicose, faz-se um percorrido pelas conceituações formuladas por Freud a partir dos seus estudos dos escritos de Schreber, que, posteriormente, vieram auxiliar Lacan na construção de uma clínica diferenciada,1 propondo dar conta da escuta da psicose. Explana-se o método utilizado, o psicanalítico, que prevê a produção de conhecimento em um espaço relativamente novo, o CAPS, favorecendo o diálogo entre o serviço público de saúde mental e a clínica psicanalítica. A seguir, apresenta-se como a clínica da psicose é possível ser construída tendo a escrita como dispositivo de fala, favorecendo a emergência do sujeito e seu lugar subjetivo. Neste mesmo capítulo, propõe-se pensar no desejo do analista e no lugar que este ocupa, que é, como sabemos, um lugar de suportar o vazio.

Por fim, entrelaçados às teorizações mencionadas, serão elucidados recortes do caso que possibilitaram o entendimento singular da psicose paranoica, oferecendo meios para pensar o que o psicótico tem a dizer por meio da escrita. Por meio do conceito lacaniano sinthoma procurou-se trabalhar a questão que norteou este trabalho.

 

O sujeito da psicose

Tanto Freud quanto Lacan entraram no campo das psicoses pela paranoia. Freud, sem desconsiderar a esquizofrenia, valeu-se do registro autobiográfico de Schreber para iniciar formulações ao que vem denominar Dementia Paranoides (demência paranoica). Através desse escrito, Freud pôde realizar uma leitura diferenciada, para além da clínica psiquiátrica, que, até o momento, era a área do saber que se apropriava de tal estrutura. Baseado na biografia do jurista, Freud (2010a [1911]) formula hipóteses sobre a paranoia, verificando uma aproximação desta com a parafrenia, termo proposto por ele para denominar o que atualmente é nomeado de esquizofrenia: ambas são patologias narcísicas, visto que a libido está voltada para o próprio eu (Freud, 2010b [1914]), não havendo um investimento libidinal no exterior. Para ele, a base da paranoia está no desejo homossexual que se manifesta como defesa, havendo um retorno libidinal à fase narcísica (Freud, 2010a [1911]).

As primeiras considerações freudianas a respeito das estruturas psicóticas não partiram de sessões analíticas, visto que Freud não tratou analiticamente de psicóticos, por acreditar que estes apresentariam dificuldades de fazer laço com o outro, prejudicando a possibilidade de instauração da transferência. Mesmo assim, deixou uma importante contribuição teórica sobre o assunto. Segundo Freud, o paranoico não está impedido pela resistência a falar o que lhe surge, como acontece na neurose, por isso observa os escritos do jurista Schreber como relatos legítimos. A interpretação analítica que Freud faz desses escritos é simbólica, e tal interpretação parte do conhecimento construído do campo das neuroses (Lacan, 2008 [1955-1956]).

Freud partiu de seus estudos e de sua escuta da neurose para abordar a psicose, portanto, ele não pôde elucidar as particularidades de tal estrutura. Tendo a histeria como norteador para os estudos posteriores, a linha conceitual freudiana foi o mecanismo específico da neurose, o recalque, sendo, portanto, a partir desse conceito que ele partiu para pensar a psicose. Dessa forma, Freud não avançou em seus estudos a respeito de uma clínica possível da psicose, visto que não há recalque quando se trata de estrutura psicótica. Já Lacan (2008 [1955-1956]) considera que Freud apenas fez uma alusão ao tratamento das psicoses. Mesmo assim, segundo ele, é preciso se remeter aos seus ensinamentos para poder pensar no tratamento das psicoses na contemporaneidade, e é a partir disso que começa a se interessar pelo estudo psicanalítico.

Em sua tese de doutorado, Lacan trabalha a psicose paranoica com evidente influência da psiquiatria, tendo por referência Clérambault e Kraepelin, embora, ao longo de sua argumentação, opõe-se às teses organicistas já muito influentes na época para explicar o fato psicótico. Retomando o caso Aimée, o referido autor elucida o campo da fala e da linguagem, propondo que distúrbios na ordem da lingua-gem estão presentes ao se referir à estrutura psicótica, além do fato de a psicose paranoica estar relacionada à história afetiva do sujeito e ao contexto familiar ao qual o mesmo está inserido (Lacan, 2011 [1932]). Anos mais tar-de, Lacan aborda os significantes envolvidos na constituição psíquica do infans, fornecendo subsídios para pensar o que está envolvido na estruturação psicótica.

Ao se referir à constituição psíquica, Lacan sustenta que é de fundamental importância pensar que a subjetividade não é dada pela herança genética, mas constituída. Inicialmente, é constituída pelas marcas das experiências da primeira infância, evidenciando que essas experiências são produzidas a partir da história inconsciente daqueles que se encarregam dos cuidados do bebê (pais ou cuidadores). Parte-se do pressuposto que a constituição psíquica se dá a posteriori, sendo o outro quem escreve no corpo do infans essencialmente pela via da fala. Nesse sentido, identificamos que, mais do que aprender a falar, a criança aprende a responder. Uma escrita primordial no inconsciente e na constituição do sujeito o marca na sua singularidade.

A perspectiva lacaniana implica partir do grande Outro2, determinante à abordagem das psicoses, para se pensar na constituição psíquica em função de que é esse significante que nos possibilita ponderar falhas ou não na entrada de um terceiro na ocupação do infantil, podendo acarretar a psicose. Para compreendermos melhor essa formulação, Lacan (2008 [1955-1956]) propõe que a lógica de estrutura na psicose é binária, e não ternária, como na neurose, visto que não há a entrada de um outro que impede o gozo materno diante do infans. Lacan (1998 [1957-1958]) evidencia que é preciso dar importância à valorização que a mãe dá à palavra paterna, ou seja, a sua autoridade, ao lugar que ela reserva ao Nome-do-Pai na promoção da lei e a relação do próprio pai com a lei.

O Nome-do-Pai é produto de uma metáfora que atribui à função paterna o efeito simbólico do significante ser pai. A função do significante pai é introduzir o Édipo na criança, introduzir uma ordem, uma lei (Bergès e Balbo, 2003); é um saber que barra o desejo materno indeterminado, por isso, é uma função de corte, um terceiro que sabe colocar limite ao desejo do Outro materno por causa do desconhecimento materno, efetuando, portanto, a castração sim bólica. Na psicose, a castração simbólica não pôde ocorrer, mas sim a forclusão do Nome-do-Pai, Verwerfung, o mecanismo específico da psicose. Conforme Lacan, "pode acontecer que um sujeito recuse o acesso, ao seu mundo simbólico, de alguma coisa que, no entanto, ele experimentou e que não é outra coisa naquela circunstância senão a ameaça de castração" (Lacan, 2008 [1955-1956], p. 21).

Podemos pensar, a partir disso, que, na psicose, a relação do sujeito com o Outro não foi atravessada pela falta. Meyer acrescenta que "a forclusão significa que a lei não se inscreveu através de um significante privilegiado, o significante paterno, o que perturba a transmissão da falta, ou seja, a simbolização da castração" (Meyer, 2006, p. 27). É esse significante que sustenta o lugar de sujeito e, por estar forcluído, faz com que o psicótico circule pelo código da significação, e não do significante. Dessa forma, na conceituação lacaniana, o que é recusado na ordem simbólica acaba por reaparecer no real em forma de alucinações e delírios, "é um real que fala o sujeito, mais do que o sujeito fala" (Sciara, 2005, p. 50).

A relação do sujeito da psicose com a linguagem se dá de um modo em que ele não se insere ou não é inserido no discurso, ou seja, o sujeito está na linguagem, mas não está no discurso (Meyer, 2006). Estar no discurso quer dizer estar em uma relação de troca com o Outro. Não estando no discurso, o sujeito coloca-se à margem do laço social. Segundo Lacan, "o psicótico ignora a língua que ele fala" (Lacan, 2008 [1955-1956], p. 21). Então quem fala no psicótico? "Ele é violado, manipulado, transformado, falado de todas as maneiras, é tagarelado" (Lacan, 2008 [1955-1956], p. 97). A palavra do psicótico não tem mediação. O significante é tomado ao "pé da letra", ao passo que este lhe é imposto. É nesse sentido que é possível pensar que o paranoico é um "falasser com o inconsciente a céu aberto" (Sciara, 2005, p. 53), ou seja, é puro real.

Com base nisso, o presente artigo propõe investigar a função da escrita como recurso terapêutico no tratamento da psicose, podendo analisar se a oficina proposta oportunizaria a expressão escrita no sentido de fazer circular a palavra, construindo o lugar subjetivo do usuário do serviço de saúde mental. Pensou-se que, nesse espaço, seria viabilizado fazer conviver diferenças e singularidades, onde o laço social seria mais meta do que pré-condição de trabalho, considerando que o sujeito emerge no laço discursivo e é, consequentemente, atravessado pelas implicações do laço social, onde se produz a sua emergência.

 

Metodologia

Através da prática clínica em um CAPS, despertou-se o desejo de fazer uso da escrita em uma oficina como dispositivo para permitir o acesso ao conteúdo inconsciente do sujeito da psicose. O método psicanalítico foi utilizado considerando-se a singularidade de tal pesquisa. Ao problematizar um aspecto do campo psicanalítico, ou seja, do inconsciente - objeto de estudo da psicanálise -, é possível vislumbrar a possibilidade de uma contribuição que não se limita pela confirmação da teoria, mas a uma produção de conhecimento psicanalítico.

A implantação de uma Oficina de Escrita foi recebida de forma positiva por membros da equipe e pelas usuárias indicadas pela equipe a participar. Tal indicação ocorreu devido ao gosto manifesto dessas usuárias pela leitura e pela escrita, além de um vislumbramento de que, pelos escritos, pudessem se expressar por outra via que não a fala, visto que essas usuárias apresentavam dificuldade importante em poder expor seus desejos e pensamentos. Ou seja, oferecer uma escuta diferenciada ao delírio do psicótico. A escrita poderia fazer uma intermediação na relação dessas usuárias com o outro. Pensou-se, em um primeiro momento, que a oficina - que requer o trabalho em grupo - não significa uma generalização dos movimentos e das posições subjetivas nas atividades, pois em um grupamento de singularidades tão explícitas, como é o caso da psicose, só resta a escuta, uma a uma (Greco, 2008). Ao mesmo tempo em que uniu as usuárias em prol do objeto da escrita, também as separa, em função de que essa escrita é singular.

Inicialmente, cada usuária recebeu um caderno, lápis e borrachas; uma possibilidade para que cada uma pudesse "formular um registro próprio, de acordo com sua singularidade e com suas possibilidades" (Rickes e Gleich, 2009, p. 112). Pensou-se na produção em cadernos para a construção de um lugar subjetivo, pois seria nesse espaço que marcas, sentimentos, borrões, delírios, etc., estariam registrados, tecendo algum sentido para os sujeitos envolvidos. Cabe ressaltar que a produção de um lugar reconhece o psicótico na sua subjetividade.

A clínica psicanalítica é uma clínica estrutural, ao passo que o diagnóstico se estabelece na transferência, visto que o discurso do paciente se organiza a partir daí, além de que é do lugar no qual o paciente coloca o analista que é possível um diagnóstico, e, finalmente, uma clínica da psicose se faz possível (Calligaris, 2013), que será melhor explanada a seguir.

No decorrer das sessões da oficina, uma das usuárias, que aqui será denominada Eva3, destacava-se pela escrita poetizada, nostálgica, bucólica e detalhada. Podendo escutar as palavras desenhadas em seu caderno, debruçamo-nos em conhecer mais sua história, sua família, sua trajetória no serviço de saúde mental. Optou-se por uma escuta singularizada, fora do espaço da oficina, para que houvesse uma aproximação maior com o que Eva disponibilizava-se a escrever e não a falar, instaurando-se, assim, a transferência, que, no caso da psicose, ocorre na relação com a presença do analista e com a função que ele opera na sustentação de um lugar de escuta. Tal lugar na clínica da psicose é o vazio de um saber, de um sujeito suposto não saber (Meyer e Brauer, 2010). Através da escuta, pôde-se identificar que poderia se tratar de uma psicose paranoica, fazendo com que nos inclinássemos a pensar tal clínica. A leitura do prontuário de Eva também se fez importante nesse momento, para acompanhar seu histórico no serviço.

Retomando o fazer da clínica psicanalítica no serviço público, Monteiro e Queiroz (2006) afirmam que o grande desafio se deve ao fato de que ela sempre foi considerada uma prática a ser exercida em âmbito privado e que, de acordo com sua origem, não seria uma prática que abrange a psicose, já que Freud acreditava ser possível tratar de forma analítica apenas neuróticos, como já fora enfatizado anteriormente. Inserir a psicanálise no serviço público de saúde mental é propor que se mudem as formas tradicionais de compreender e de tratar o sofrimento psíquico, indo além do uso de medicamentos, visando uma nova forma de se promover saúde. A escuta psicanalítica propõe um novo olhar e uma escuta diferenciada diante do subjetivo, valorizando-o, mesmo quando se trata da psicose.

Na contemporaneidade, é possível ampliar essa prática e teoria propondo um diálogo entre serviço público e psicanálise, podendo conceber a subjetividade humana para além da neurose. Ampliar essa visão significa sair do método ortodoxo imposto pela psicanálise desde a época freudiana, pensando em uma clínica possível que propõe a escuta do sujeito delirante. Estabelecer uma clínica do sujeito implica a valorização da sua história, do seu delírio, fazendo advir o sujeito de direito, tornando-o responsável pela sua condição de existência (Monteiro e Queiroz, 2006).

Este trabalho tem caráter exploratório, pois pretende, na visão de Gil, "proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses" (Gil, 1991, in Silva e Menezes, 2001, p. 21). Esse tipo de pesquisa envolve um levantamento bibliográfico e a análise de falas que estimulem a compreensão, neste caso, a função da escrita na vivência do paciente em relação a seu sinthoma.

 

A clínica possível da psicose: uma oficina de escrita em um CAPS

O ato de escrever é uma atividade que se propõe a fazer arte com palavras. Na direção de um dizer (princípio ético e político da psicanálise), a arte passa a ser terapêutica enquanto instrumento de expressão dos conteúdos inconscientes (Greco, 2008). Escrever supõe o gesto de tomar a folha em branco e traçar letras-imagens (Borges, 2008), possibilitando a representação e a nomeação de sentimentos, sensações, impressões e vivências do sujeito da psicose. Nesse sentido, pensa-se na escrita enquanto fala. Ao retomarmos a frase de Lacan (2008 [1955-1956]), em que a palavra falada é fundadora do sujeito no momento em que um outro escreve no corpo da criança, podemos supor que a escrita pode ser um dispositivo potente para a emergência subjetiva quando o psicótico escreve sobre a folha em branco.

Considera-se pertinente, nesse momento, fazer uma analogia da escrita com o desenho elaborado pela criança pequena ao produzir suas marcas, sua letra, na folha que até então se encontrava em branco. Nesse instante, ela inscreve algo de valor singular, concretizando a existência enquanto sujeito, pois é esse desenho que faz marca e que possibilita o esboço de um diálogo, dando, pouco a pouco, espaço para a escrita (Chemama, 1991). Segundo Balbo (1991), a escrita é posterior ao desenho infantil, sendo que há uma passagem da letra para o significante. Nesse sentido é que se pensa no trabalho do analista na Oficina de Escrita enquanto alguém que se coloca atento ao diálogo que pode vir a ser inserido a partir das letras desenhadas pelas participantes, referindo o desenho/escrita como algo que faz ato, um ato de separação do Outro que invade maciçamente o psicótico.

Acolhendo a fala do psicótico e oferecendo um lugar de escuta a ele, esta é a via privilegiada pela psicanálise na clínica da psicose, na medida em que ela abre possibilidades de produção de sujeito, pois é na "escuta da articulação significante inconsciente que ele se produz" (Rinaldi, 2006, p. 144). Se, de um lado, a fala emerge o saber inconsciente, supõe-se que o psicótico também possa falar desse saber através da escrita, e o analista 'atento' leia seu texto, sem necessitar da interpretação, visto que "o excesso de sentido, a multiplicidade de leituras cabíveis, suspendem a possibilidade de qualquer interpretação, já que não existe fixação de sentido para essas palavras" (Fernandes, 2002, p. 121).

Em um grande número de sessões, foi preciso pensar junto com as usuárias da oficina uma sugestão de assunto para realizar a escrita. Um assunto precisou ser construído, haja vista a grande dificuldade de escrever o que surgia no momento. Um espaço de constante reinvenção também precisou ser sustentado para viabilizar diferentes modos de produção de si e de mundo. As atividades foram criadas e recriadas a cada sessão e segundo a disposição e a percepção da coordenadora da oficina. Tais atividades foram embasadas pelo desejo enquanto coordenadora e pautadas pelo enigma da letra sobre seu inconsciente, incitando as usuárias a pôr algo de si à parte que lhes cabia (Greco, 2008).

Por inúmeras vezes foi preciso problematizar o lugar enquanto coordenadora, para não ocupar o lugar de sujeito suposto saber que inviabiliza uma clínica possível da psicose - em vez disso, posicionar-se enquanto escuta de um não saber que permite ao sujeito a construção de um lugar que o sustente. O trabalho clínico possível com a psicose é o de acolher, ou até de produzir, um possível endereçamento, criando condições para que o sujeito encontre um espaço de existência, de reconhecimento (Meyer, 2006). Dessa forma, o analista sustenta um lugar de escuta, advindo de seu desejo, que é o vazio de um saber; esvazia-se o sujeito suposto saber base da clínica com neuróticos, para dar espaço a um lugar vazio que opera uma aposta no sujeito da psicose, proporcionando a emergência de um sujeito, além de um possível reconhecimento enquanto portador de uma fala, que viria a se manifestar pela escrita, pela letra.

Importante esclarecer que não se trata de impor o nosso modo de gozo ao Outro, considerando-o como um subdesenvolvido (Lacan, 1993), mas o de ocupar um lugar vazio, o de objeto a, supondo um sujeito da psicose para seguir com ele o caminho que ele mesmo traça para o seu tratamento. Tal posição pressupõe uma ética orientada pelo desejo e fundada na aposta de que um sujeito pode emergir como resultado de um trabalho clínico (Rinaldi, 2006).

 

O caso

"A folha escrita tem um sentido que a folha em branco não tem"

Eva, 40 anos, solteira, sem filhos, natural do interior de uma cidade do norte gaúcho. Mudou-se de cidade há pouco mais de dez anos. Aposentada por invalidez, concluiu a 6ª série do Ensino Fundamental. No momento da elaboração da pesquisa, Eva residia com a mãe, já idosa, e um casal de irmãos, solteiros e sem filhos. O pai de Eva falecera quando esta ainda era adolescente.

Seu ingresso no CAPS ocorreu há cinco anos, com as queixas relatadas pela mãe: o fato de falar sozinha palavras obscenas e coisas sem sentido e de rir sozinha, apresentar manifestações de agressividade física por se sentir perseguida, isolar-se e trocar o dia pela noite. Em sua produção delirante, Eva relatava que um médico, há alguns anos, realizou um mapeamento cerebral e, assim que ela voltasse ao normal, o médico jogaria a máquina fora para que ninguém ficasse sabendo. Há histórico de uma internação psiquiátrica que se estendeu por noventa dias. Observa-se que a demanda não parte da própria Eva, mas de outro (semelhante), neste caso, a família, representada pela pessoa da mãe.

Ao longo dos anos no CAPS, Eva deixa claro que não gosta de ficar em espaços com muitas pessoas, interagindo pouco com os colegas e técnicos da equipe; evidencia várias vezes a vontade de não mais frequentar os atendimentos. Solicitou, anos atrás, atendimento individual, por não querer expor sua situação no grupo. Afirmava pagar caro pelo tratamento (sendo este na saúde pública) e exigia atendimento individualizado.

Sempre se negou a participar de eventos fora do CAPS, alegando que algo poderia acontecer a ela ou que pessoas poderiam lhe fazer algum mal. Em alguns momentos, relatou raiva do pai morto e que este aparecia na sua casa, aparecimento este indesejado por ela. Queixa-se frequentemente da irmã, que não a deixa fazer o que quer. Acusa a mãe de mexer em seu dinheiro e em suas roupas. Delírios persecutórios com relação a um usuário do CAPS fez com que Eva saísse de uma oficina da qual participava.

Eva participa da Oficina de Escrita desde a implantação desta no CAPS. Em uma das primeiras sessões, refere que "posso me expressar através da escrita e a escrita é uma forma de me expressar". Acrescenta que "a folha escrita tem um sentido que a folha em branco não tem". Escutar as falas de Eva e os escritos que aos poucos preenchiam as folhas em branco dava cada vez mais a ideia de uma escrita poética, carregada de nostalgia diante de um lugar bucólico que marcou grande parte de sua vida, principalmente a infância: "velhos tempos, onde tudo, era alegria". Eva fala desse passado apenas através de seus escritos. Quando se remete a ele demonstra tristeza por causa da venda das terras da família. Diz que continuam sendo do pai, mesmo que vendidas, pois estão lá para quando ele (o pai) retornar. "Quero que saiba que estou com saudade dos tempos passado" (escrito de uma carta a uma suposta prima).

Com o passar dos meses, Eva sentiu-se confiante em confidenciar ao grupo que ouvia muitas músicas no rádio, em casa, cujas letras ela havia escrito: tratava-se de músicas sertanejas de cunho romântico e campestre, e que, segundo ela, os cantores haviam lido seus pensamentos para depois gravar as músicas. Nesse momento, Eva relata que escreve em um caderno poesias, poemas e músicas; sendo que não era do conhecimento de ninguém de sua família a produção musical escrita. Diz que apenas quando finalizar o caderno da oficina trará o caderno de casa com seus escritos para mostrar ao grupo.

Após combinar com Eva que teríamos algumas sessões de atendimento individualizado, constata-se que o lugar de escuta foi fundamental para que ela pudesse organizar todo o conteúdo que vem do Outro de forma massiva, ou seja, a fala delirante, endereçando-a a alguém que pudesse acolher tais delírios. Importante ressaltar que a própria fala já é uma leitura das marcas primordiais escritas pelo Outro.

Esse lugar de escuta foi investido de um desejo, o desejo enquanto profissional que possibilita a transferência com a abertura de um espaço para o sujeito, sustentando uma existência possível (Meyer, 2006) - é preciso antecipar e supor um sujeito no psicótico para que também a transferência seja viabilizada. Ao mesmo tempo, foi preciso cautela para que a terapeuta não ocupasse o lugar de objeto perseguidor de Eva. Aos poucos, a folha escrita/inscrita/marcada começou a tomar um sentido próprio, diferenciando-se da folha em branco sem registro algum.

"Onde tudo parece ter morrido, renasce outra vez"

O caso Eva nos fez pensar no importante seminário lacaniano O Sinthoma4 (Seminário 23), em que é elucidado o escritor inglês James Joyce e sua produção literária. A escrita, arte de Joyce, impediu o desencadeamento da crise psicótica no escritor, levantando a ideia que um sujeito com uma estrutura psicótica poderia nunca desencadear um surto psicótico se algo proporcionasse uma amarra nos registros imaginário, simbólico e real.

Retomando a situação da psicose paranoica, constata-se, a partir do que já fora trabalhado, que os três registros se apresentam soltos, vis-to que o significante Nome-do-Pai não pôde operar, sendo forcluído, favorecendo uma invasão do gozo do Outro de forma ilimitada. Para tanto, Lacan (2007 [1975-1976]) propõe um quarto elemento, o sinthoma, que vai adquirir o estatuto de uma escritura e irá favorecer aos três registros a possibilidade de se enodarem de uma só vez em um nó borromeano (Harari, 2002), trazendo uma marca singular para o sujeito. Ou seja, o que pensa Lacan ter ocorrido com Joyce, pois a escrita serviu como sinthoma, possibilitando que, "ao escrever, um sujeito se inscreva" (Sobral, 2008, p. 67), evitando o desencadeamento da crise psicótica.

O sinthoma, na estrutura psicótica, tem a função de manter amarrados os três registros, possibilitando ao sujeito separar-se do gozo do Outro e localizar seu gozo, podendo fazer laços à sua maneira (Sobral, 2008). Lacan, ao demonstrar intenso interesse pela escrita, diz que esta "pode ter sempre alguma coisa a ver com a maneira como escrevemos o nó" (Lacan, 2007 [1975-1976], p. 66).

Joyce e seus escritos favoreceram a Lacan pensar em uma formação psíquica diferenciada, inovando o fazer psicanalítico e possibilitando ao sujeito existir na diferença (Harari, 2002). Essa formulação só foi possível porque o psicanalista francês analisou a obra de Joyce, e não sua biografia. Revendo a obra literária joyceana e considerando a produção de Eva, concorda-se com Lacan ao afirmar que "[...] as produções discursivas que caracterizam o registro das paranoias desenvolvem-se, na maior parte do tempo, em produções literárias, no sentido em que literárias quer dizer simplesmente folhas de papel cobertas com escrita" (Lacan, 2008 [1955-1956], p. 95).

Observa-se que as escrituras de Eva possuem um discurso completo, fechado, pleno, acabado (Lacan, 2008 [1955-1956]), caracterizando um saber enquanto certeza, já que o delírio do paranoico não deixa lugar para a dúvida, tal como em Joyce. Um discurso completo que não dá espaço para a dúvida é exatamentecomo Eva se coloca a partir do uso das letras. É notável a inexistência da finitude em seus escritos, isto é, da morte, tema tão bem explorado por ela, tal como nessa passagem em que escreve que "onde tudo parece ter morrido, renasce outra vez" (grifo dos autores). O discurso delirante de Eva complementa a fala já explicitada, em que aguarda o retorno do pai morto para que volte a se apossar das terras que o pertence.

Nesse instante, considera-se importante retomar Lacan segundo sua percepção sobre o jurista Schreber. Segundo Lacan (2008 [1955-1956]), Schreber buscou reconhecimento através da escrita. Com Joyce, ocorreu o mesmo: havia uma necessidade de reconhecimento por meio de suas obras, por não se encontrar no seu lugar subjetivo (Harari, 2002).

E quanto à Eva? O que teria ela a dizer por meio de sua escrita delirante? Buscaria um leitor com olhos e ouvidos capaz de ser o receptor de sua fala/escrita que, por vezes, a atormenta? Buscaria ela, através disso, um reconhecimento enquanto sujeito? Segundo Fernandes (2002), a interpretação dos escritos é feita pela própria autora. Harari, por outro lado, vai além. Ressalta que é preciso "ler de outra forma aquilo que o analisante diz" e essa leitura diferenciada implica "inventar outra maneira de se fazer algo novo com o que se pratica" (Harari, 2002, p. 20).

É nesse ponto que podemos pensar a questão do sujeito da psicose e as possíveis amarrações que podem ser realizadas a partir da clínica. No trabalho proposto, apostamos na utilização da escrita para a construção do sinthoma que serviu como uma operação real, capaz de condensar o gozo avassalador do Outro, dando, assim, visibilidade a um sujeito inscrito em uma escrita. Sobral refere que "inscrever-se como sujeito significa conseguir fazer laço a partir da sua forma particular de ser e estar no mundo. É fazer um nó à sua maneira. É a arte de inventar uma saída única através do sinthoma" (Sobral, 2008, p. 69).

Importante elucidar que o sinthoma é singular, ou seja, é o que possibilita a emergência de um sujeito que existe na diferença. Nesse aspecto, Eva pôde se subjetivar a partir de uma construção, uma invenção - a escrita - que fez uma amarra nos três registros, separando-se do gozo do Outro.

 

Considerações finais

Após estar inserida na Oficina de Escrita há alguns meses, Eva começou a mudar sua posição, intensificou o uso da palavra falada, melhorou o cuidado próprio, a autonomia e a frequência no grupo. Um fato pode ser tomado como significativo - em retorno do período de férias da coordenadora da oficina, Eva relata saudade durante esse tempo, acrescentando que a convivência faz com que haja ligação entre as pessoas, laços, vínculo afetivo. Eva pôde construir laços à sua maneira. Além disso, deixou de ser apenas espectadora de sua vida para ocupar uma posição de um sujeito fazendo o percurso da sua própria história.

Pensa-se no próprio ato de implantar uma oficina que se destina a trabalhar, a articular a letra como um meio possível de reconhecimento do psicótico enquanto sujeito, visto que a existência desse sujeito depende do valor da palavra (Lacan, 2008 [1955-1956], p. 65). Fazer circular a palavra falada por meio da palavra escrita produziu um registro possível, um traço singular. A escrita, nesse contexto, pôde proporcionar a inscrição subjetiva de Eva.

A escrita pôde assumir uma possibilidade de afastamento do gozo invasivo e total do Outro, efetuando o corte que não pôde ser feito anteriormente. Ao escrever, o sujeito dá um contorno ao ilimitado do corpo, estabelecendo uma marca que singulariza o que antes era indissociado, uma forma de o sujeito exercitar a sua subjetividade por meio da alteridade. A escrita nos diz de algo que ultrapassa as marcas no papel em branco. A escrita indica a marca de um sujeito. Eva não tinha dúvida ao afirmar que a folha escrita tem um sentido que a folha em branco não tem. Ao escrever, inscreveu-se ali um sujeito.

 

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Submetido: 31/03/2015
Aceito: 09/10/2015

 

 

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1 Lacan interessou-se pela psicanálise por meio de seus estudos relacionados à psicose paranoica. Com isso, pôde reformular o que Freud havia proposto até então, ou seja, pensar a estrutura psicótica e suas particularidades diferindo-a da estrutura neurótica e os mecanismos a ela associados. Dessa forma, introduziu o conceito de forclusão - que será abordado ao longo do texto -, bem como o lugar do analista na transferência. Tais aspectos, entre outros que serão trabalhos a seguir, proporcionaram a Lacan um tratamento possível da psicose.
2 Lugar de onde pode ser formulada a questão de existência como sujeito, isto é, de sua sexualidade, de sua procriação e filiação, de sua morte. É o lugar da palavra.
3 Nome fictício para preservar a identidade da usuária.
4 A palavra sinthoma (do francês antigo sinthome) é uma forma antiga de escrever o que, tempos depois, foi escrito sintoma.

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