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Contextos Clínicos

Print version ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.9 no.2 São Leopoldo July/Dec. 2016

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2016.92.04 

ARTIGOS

 

Atravessamentos das histórias maternas na relação com filhos(as) adolescentes e a sexualidade

 

The crossing of mother histories in the relationship with teenage offspring and sexuality

 

 

Sabrina Dal Ongaro SavegnagoI; Dorian Mônica ArpiniII

IUniversidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Pasteur, 250, Pavilhão Nilton Campos, Urca, 22290-902, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. sabrinadsavegnago@gmail.com
IIUniversidade Federal de Santa Maria. Av. Roraima, 1000, prédio 74B, Cidade Universitária, Camobi, 97015-900, Santa Maria, RS, Brasil. monica.arpini@gmail.com

 

 


RESUMO

Este artigo tem como objetivo refletir a respeito do diálogo sobre sexualidade, a partir do olhar de mães de adolescentes, apresentando tanto a forma como as participantes relataram ter vivenciado essa questão durante sua própria adolescência quanto o modo como elas afirmaram tratar essa temática com seus/suas filhos(as) adolescentes. O estudo foi de caráter qualitativo, e as técnicas utilizadas foram os grupos focais e as entrevistas semiestruturadas. Os resultados, após Análise de Conteúdo, indicam que a maioria das participantes teve um passado marcado por silenciamentos, tabus e traumas em relação à questão da sexualidade. Muitas delas destacaram suas tentativas para não reproduzir o modelo familiar, ou seja, rompendo com o silêncio em relação ao tema e procurando abordá-lo com seus filhos e filhas. Salienta-se, assim, que, apesar de por vezes não sentirem-se preparadas para abordar o tema da sexualidade com os(as) filhos(as), as mães parecem estar se esforçando para superar a forma como essa experiência foi vivenciada por elas.

Palavras-chave: adolescente, família, sexualidade.


ABSTRACT

This article aims to reflect about the dialogue of sexuality from the point of view of teenagers' mothers, featuring how the participants reported having had their own experience on this issue during their adolescence, as well as how they say they cope with this subject with their teenage sons and/ or daughters. Focal groups and semi-structured interviews were performed. The results, after the analysis of content, indicated that the majority of the participants reported a past marked by silence, taboos and trauma on the issue of sexuality. Many of them highlighted their attempts to not reproduce this family model, in other words, breaking the silence in relation to this subject, seeking to approach the theme with their offspring. It is emphasized, in this way, that although these mothers sometimes do not feel prepared to address the topic of sexuality with their children, most of them seemed to strive to lead it in a different way that the one conducted by their own parents.

Keywords: teenagers, family, sexuality.


 

 

Introdução

Ao longo da evolução histórica, a família vem sofrendo várias transformações, porém, continua assumindo o papel de matriz do processo civilizatório, como condição para a humanização e para a socialização (Petrini, 2003). Uma das mudanças significativas ocorridas na instituição familiar nos últimos séculos refere-se à forma como a sexualidade veio sendo tratada nesse espaço, em relação à infância e à adolescência. Desse modo, destacam-se dois momentos importantes nos quais essa questão é tratada de formas distintas no contexto ocidental: o primeiro, característico da sociedade medieval, e o segundo, correspondente à emergência da sociedade industrializada burguesa.

Em relação ao primeiro período, Ariès (1981 [1975]) aponta que, durante a Idade Média, a família era mais uma realidade moral e social do que sentimental, já que a vida naquela época era essencialmente uma experiência vivida em público, havendo poucos espaços de privacidade e intimidade familiar. Ela cumpria a tarefa de assegurar a transmissão da vida, dos nomes e, principalmente, dos bens (Ariès, 1981 [1975]; Roudinesco, 2003). Além da falta de um "sentimento de família", destaca-se a ausência do "sentimento de infância" até os últimos anos do século XVI e início do XVII. Nesse período, a infância era ignorada, considerada um período de passagem que seria rapidamente ultrapassado. Além disso, durante Idade Média, a adolescência não ocupava lugar definido, sendo confundida com a infância até o século XVIII (Ariès, 1981 [1975]).

Nesse contexto, as crianças conviviam desde cedo na mesma esfera social dos adultos, apesar de submissas e socialmente dependentes (Elias, 1994 [1934]). Não havia reservas diante delas com relação às questões sexuais, e o hábito de se realizar brincadeiras envolvendo crianças em torno desse tema era tido como algo natural. Acreditava-se que a criança fosse alheia e indiferente à sexualidade. Além disso, ainda não existia o sentimento de que as referências a assuntos sexuais pudessem atingir a inocência considerada própria da criança (Ariès, 1981 [1975]). Durante o período medieval parece ter havido maior liberdade para se falar sobre questões relacionadas com a sexualidade. Era mínimo o segredo sobre o assunto entre os próprios adultos e, em consequência, entre eles e as crianças. Essa abertura parecia estar naturalizada e se considerava que as crianças sabiam de tudo a esse respeito (Elias, 1994 [1934]; Foucault, 2012 [1988]).

O início do século XVIII começa a definir a família nuclear, a partir do surgimento da instituição escolar, da privatização da vida familiar, do desenvolvimento de uma atitude mais igualitária dos pais perante os filhos, da maior permanência das crianças com os genitores e do desenvolvimento de um sentimento moderno de família (Ariès, 1981 [1975]), que implica em uma lógica afetiva (Roudinesco, 2003) e na retração da sociabilidade, o que transformou a família em uma organização mais fechada e reservada (Ariès, 1981 [1975]).

Destaca-se que, a partir do desenvolvimento da sociedade industrializada-burguesa, a orientação rumo à privacidade não se deu apenas em relação à instituição familiar. Houve também uma "privatização" das questões que envolviam a sexualidade. Ou seja, houve um maior ocultamento da sexualidade e segregação da mesma da vida social, além de um maior controle dos impulsos. As questões sexuais começaram a ser cada vez mais ocultadas dos olhos infantis, cercadas por medo, vergonha e por uma "conspiração do silêncio". Nesse momento, tornou-se tão natural não falar sobre sexualidade como teria sido falar dela na Idade Média. Desse modo, aos poucos, a família nuclear se transformou no principal instrumento para o controle dos impulsos e do comportamento dos jovens (Elias, 1994 [1934]).

Assim, Elias (1994 [1934]) salienta que, diante da rigorosa "conspiração do silêncio", que teve seu auge durante o século XIX, e das restrições sociais à fala sobre questões sexuais, construiu-se um espesso muro de sigilo ao redor do adolescente, dificultando o esclarecimento sexual. O autor destaca, no entanto, que a derrubada desse muro seria necessária em algum momento. Nesse sentido, pode-se questionar em que condição se encontra esse muro em nossa sociedade contemporânea. De forma mais específica, como as questões relacionadas à sexualidade estão sendo abordadas junto aos adolescentes nos contextos familiares atuais? Haveria uma abertura maior para se falar sobre sexualidade, ou ainda se trata de uma questão envolta por tabus, medos e silenciamentos?

Numa tentativa de responder a essas questões, parece ser importante considerar que a sexualidade teria passado por transformações, destacando-se aqui a perspectiva Freudiana, do século XX, na qual a sexualidade ocuparia uma centralidade na constituição psíquica.

Dessa forma, o termo passa a ser entendido de forma mais ampla, permeando toda relação pais-filhos (Freud, 1996a [1940]; Laplanche e Pontalis, 1996), ganhando importância e destaque. No entanto, embora amplamente discutida pela psicanálise, a sexualidade parece se manter sempre enigmática e uma tarefa de difícil abordagem para os pais. Assim, parece haver maior abertura para se tratar do tema, no entanto, isso não significa que os tabus, medos e silenciamentos ainda não estejam rondando a abordagem da temática (Costa et al., 2014; Nery et al., 2015; Ressel et al., 2011; Savegnago e Arpini, 2016).

Como mencionado anteriormente, a adolescência ainda não ocupava um lugar definido durante a Idade Média. Trata-se de um conceito relativamente recente, que surgiu na sociedade moderna ocidental, quando essa etapa da vida começou a ser reconhecida como uma etapa distinta do desenvolvimento humano, considerando-se suas demandas e características fisiológicas e psicológicas específicas (Sprinthall e Collins, 2003). A puberdade, que se refere ao desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e da capacidade reprodutiva, engloba processos fisiológicos que se impõe inexoravelmente ao sujeito (Corso e Corso, 2011) e é reconhecida em todas as culturas (Kehl, 2004). Por outro lado, a adolescência, enquanto interpretação social e psicológica desse período de transformações e plenitude físicas (Corso e Corso, 2011) não pode ser considerada universal e natural, se constituindo em uma construção social e histórica (Mayorga, 2006), considerando-se inclusive que ainda hoje existem sociedades nas quais ela não é reconhecida (Sprinthall e Collins, 2003).

Assim, quando o conceito de adolescência é referido neste artigo, é importante considerar sua dimensão de não universalidade, além do fato de que os autores que embasam a discussão referem-se especificamente à adolescência da sociedade ocidental. Destaca-se ainda que, apesar de ser uma etapa que possui uma tendência à generalização, a mesma conserva suas peculiaridades diante das singularidades de quem a vivencia e do contexto no qual cada adolescente está inserido.

Para os adultos, a adolescência pode representar tanto um ideal quanto se constituir em uma fonte de angústias. Em relação à adolescência como ideal, alguns autores vêm observando que, nas últimas décadas, esta vem ocupando um espaço privilegiado, ganhando um prestígio, no sentido que há um desejo e uma ansiedade, que se estende para além das idades consideradas juvenis, de se permanecer adolescente/jovem o máximo de tempo possível e uma tendência de prolongamento dessa fase (Debert, 2010; Enne, 2010; Kehl, 2004, 2008). Assim, muitas vezes a adolescência é retratada como um momento em que se dá o auge da liberdade, beleza, capacidade, inteligência, força e prazer, o que a tornaria uma referência para as outras faixas etárias (Pereira e Gurski, 2014; Takeuti, 2012). Trata-se de uma visão romântica, cristalizada a partir dos anos de 1960, resultado, entre outras coisas, do desenvolvimento da indústria cultural e de um mercado de consumo dirigido aos adolescentes e jovens (Dayrell e Carrano, 2002).

Por outro lado, pode ocorrer que, diante da adolescência dos filhos, os pais angustiem-se principalmente em decorrência das evocações conscientes e inconscientes de suas fantasias e de comportamentos presentes em sua própria adolescência (Cardoso, 2008; Levisky, 1995; La Robertie, 1999). Nesse sentido, as dificuldades dos adultos em lidar com as questões do adolescente, principalmente àquelas ligadas à sexualidade, a decisões ou dúvidas existenciais, podem se relacionar ao fato de que estas remetem às questões de suas próprias vivências, as quais lhes angustiam (Nery et al., 2015; Sarti, 2004). Além disso, para Calligaris (2000), o adolescente é um bom intérprete do desejo do adulto: quando o adolescente atua, ele pode estar realizando um ideal que corresponde a algum desejo reprimido do adulto. No entanto, o adulto nem sempre reconhece sua relação com esse desejo, podendo reprimi-lo ainda mais no adolescente.

No sentido de justificar a importância de se abordar a relação entre adolescência e sexualidade, destaca-se o embasamento teórico da psicanálise freudiana, que entende a adolescência como um processo psíquico organizador da vida do sujeito, principalmente no que concerne à sexualidade. Ou seja, nesse momento, em que há uma retomada do desenvolvimento psicossexual que havia se iniciado na infância, se confere sentido à sexualidade infantil e significado do que está por vir na vida adulta (Freud, 1996b [1905]; Marty e Cardoso, 2008).

De modo geral, a temática da sexualidade tem sido amplamente abordada na sociedade atual, muitas vezes até banalizada, o que pode confundir os pais em relação ao saber dos filhos acerca do tema. No entanto, salienta-se que, mesmo reconhecendo que a sexualidade esteja intensamente presente em diversos contextos, essa presença não se converte em um saber que possa dar conta de suprir as dúvidas e angústias dos adolescentes em relação ao assunto. Desse modo, os pais não poderiam ser desresponsabilizados de sua importante tarefa na abordagem do tema (Savegnago e Arpini, 2013). De forma semelhante, Heilborn (2012) aponta para a necessidade de se avaliar o atual cenário social, que, ao mesmo tempo em que estimula o exercício da sexualidade como um caminho para a autonomia, muitas vezes interdita o diálogo aberto sobre a temática.

Housel (2004) e Solis-Ponton (2004) têm trabalhado a temática da parentalidade e sua relevância para a compreensão das relações familiares, destacando as importantes transformações vivenciadas pela família e seu impacto. Esses estudos salientam a importância do exercício parental materno e paterno e da contribuição e relevância de ambos nos cuidados com os filhos. No entanto, a despeito de todas essas mudanças, as mães ainda ocupam um lugar privilegiado nas relações de cuidado com os filhos, sendo presente a concepção de que os filhos e a casa seriam atribuições da parentalidade materna (Borsa e Nunes, 2011; Rocha-Coutinho, 2003). Cabendo então às mães a abordagem das questões que remetem à sexualidade (Ressel et al., 2011)

Nesse sentido, este artigo, que contou com a participação de mães, tem como objetivo refletir a respeito da vivência da sexualidade na relação entre mães/filhos(as) adolescentes, Pretende-se apresentar tanto a forma como as mães participantes relataram ter vivenciado essa questão durante sua própria adolescência quanto o modo como elas afirmaram tratar essa temática com seus filhos e filhas adolescentes. Tendo em vista esse passado que se faz presente nos relatos das participantes, busca-se pensar como se configuram encontros e desencontros entre elas e seus filhos e filhas adolescentes no que se refere às questões que envolvem a sexualidade.

 

Método

Participantes

A pesquisa em questão foi realizada com mães que tinham filhos e filhas adolescentes, de um Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. A escolha do local relaciona-se à identificação de que, dentre os usuários dessa instituição, encontravam-se mães de adolescentes oriundas de grupos populares. Participaram 17 mães de adolescentes, usuárias do referido CRAS. Destas, nove foram entrevistadas individualmente (E) e oito participaram de grupos focais. Foram realizados dois grupos focais (GF1 e GF2), com a presença de cinco mães no primeiro e três mães no segundo grupo. A média de idade das participantes foi de 40,94 anos, tendo em média 4,4 filhos. Em relação à escolaridade, a maioria das mães (10) possuía o ensino fundamental incompleto.

A Tabela 1 apresenta os dados sociodemográficos levantados das mães participantes das entrevistas, a Tabela 2 refere-se às participantes do primeiro grupo focal, e a Tabela 3 diz respeito aos dados das mães que integraram o segundo grupo. Buscando manter o anonimato das participantes, seus nomes foram substituídos por códigos (por exemplo, M1, M2, M3...) nas tabelas de dados sociodemográficos e ao longo do texto.

Instrumentos e procedimentos

Com o intuito de alcançar os objetivos propostos no projeto e de compreender de forma ampla e profunda a reflexão de mães no que se refere ao diálogo sobre sexualidade com os(as) filhos(as) adolescentes, realizou-se um estudo qualitativo. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e grupos focais, técnicas estas que se mostram adequadas para investigações qualitativas e atenderam aos objetivos deste estudo. Entende-se que, a partir do uso de técnicas diferentes, é possível captar os diversos aspectos envolvidos na constituição do objeto que está sendo pesquisado. Dessa forma, foi utilizada a estratégia metodológica de triangulação dos dados coletados, a partir das duas técnicas utilizadas. Ou seja, foram combinados dois instrumentos distintos (entrevistas e grupos focais), a fim de conferir maior abrangência e profundidade à análise do fenômeno pesquisado (Jovchelovitch, 2000).

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com questões abertas, as quais permitiram o acesso aos dados básicos para a compreensão detalhada das crenças, significações, atitudes, valores e comportamentos dos sujeitos no que se refere ao assunto proposto (Gaskell, 2005). Os grupos focais complementaram as entrevistas, visto que, nesses, devido à interação de seus membros, foi possível esclarecer temáticas surgidas nas entrevistas individuais.

Foram utilizadas como disparadores para a discussão grupal falas de meninas que participaram de uma pesquisa anterior da autora que teve como tema o diálogo sobre sexualidade na família (Savegnago e Arpini, 2013). Os eixos que nortearam as entrevistas foram os seguintes: (i) Abordagem do tema sexualidade na família; (ii) Diálogos sobre sexualidade com o(a) filho(a) adolescente; (iii) Assuntos relacionados à sexualidade que são abordados no contexto familiar; (iv) Diferenças entre conversar com meninos e conversar com meninas sobre esse tema. Se existem, quais são; (v) Barreiras e dificuldades para que haja esse tipo de conversa com os filhos. Facilitadores para que esses diálogos aconteçam. Se existem, quais são e como funcionam; (vi) Necessidade/importância de se tratar do tema da sexualidade com os filhos. As entrevistas e os grupos focais foram realizados nas dependências do CRAS, em uma sala apropriada, sendo gravados e posteriormente transcritos.

Após a autorização da instituição para a realização da pesquisa e da aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM (parecer nº 54850 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 05022712.8.0000.5346), iniciou-se o contato com as prováveis participantes. A maior parte dos contatos foi feito via telefone pela pesquisadora, a partir de indicações das profissionais do CRAS, e de prontuários e fichas referentes ao programa Bolsa-Família de usuários da instituição e também através da participação da pesquisadora em um dos grupos de mulheres que acontecia quinzenalmente na instituição, durante o qual foi exposta a proposta de pesquisa e realizado o convite às mães ali presentes. Os critérios para inclusão na pesquisa foram: ser mãe de pelo menos um adolescente (do sexo feminino ou masculino), ser usuária do CRAS e ter disponibilidade e interesse em participar da entrevista ou do grupo focal. As primeiras mães contatadas pela pesquisadora foram convidadas para participarem das entrevistas individuais. A partir do momento em que foram finalizadas as entrevistas, iniciou-se o contato com outras mães, que foram convidadas para integrarem os grupos focais.

Ao pesquisador cabe estabelecer o rapport, ou seja, assegurar, através de uma postura encorajadora e tranquilizadora, que as participantes sintam-se à vontade para exporem suas opiniões (Gaskell, 2005). Dessa forma, a moderadora/entrevistadora se apresentou e fez uma breve introdução, com o objetivo de tranquilizar e estabelecer o enquadre para a realização do grupo ou da entrevista. Foi utilizado o mesmo procedimento na utilização das duas técnicas, ou seja, foram explicitados claramente os objetivos do estudo e apresentada a ideia de uma discussão grupal ou de uma entrevista. Depois da leitura e assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), foi solicitado às participantes que se apresentassem, indicando sua idade, escolaridade, ocupação e a configuração familiar, ou seja, quem morava na casa, número de filhos e idades dos mesmos. Após a permissão das mães para a gravação em áudio, iniciou-se a entrevista ou grupo focal.

Análise dos dados

Os dados foram analisados através do método de Análise de Conteúdo Temática, como proposto por Bardin (1977). Para chegar às categorias, num primeiro momento, as entrevistas foram sendo analisadas de forma individual, à medida que foram sendo transcritas, e, posteriormente, procedeu-se a uma análise conjunta de todo material resultante das entrevistas. Após finalizada essa etapa, os grupos focais foram analisados, cada um em separado, e depois se procedeu à análise dos dois grupos e, por fim, da totalidade do material, incluindo as entrevistas individuais e os grupos focais, partindo-se para os elementos presentes considerando-se a força discursiva, os sentimentos manifestados, os silêncios ou conflitos em relação à temática. Na discussão, optou-se por apresentar os resultados contendo as falas das mães de forma integrada nas categorias, diferenciando apenas com a letra E, quando a fala provém de uma entrevista individual e GF, quando provém de um grupo focal. Esse procedimento foi adotado a partir da compreensão das autoras de que a utilização das duas técnicas possibilitou uma ampliação da compreensão do fenômeno, na medida em que o mesmo foi abordado a partir de dois recursos técnicos complementares.

Neste artigo, serão apresentadas e discutidas as seguintes categorias e subcategorias: (i) o passado que se faz presente; (a) a vivência da primeira menstruação; (b) a transmissão de mitos e histórias envolvendo a sexualidade; (c) a experiência da gravidez na adolescência; e (ii) da ausência de diálogo à tentativa de rompimento com o silêncio.

 

Resultados e discussão

(i) "Eu me lembro como se fosse hoje [...] nunca foi falado sobre isso": lembranças do passado

A partir das falas das mães participantes da pesquisa, destaca-se que a forma como estas tratam as questões relacionadas à sexualidade com seus filhos encontra-se atravessada pela sua própria história em relação ao tema, o que também foi observado nos estudos de Costa et al. (2014) e Nery et al. (2015). Ao serem indagadas acerca dos diálogos sobre sexualidade com seus filhos e filhas adolescentes, as mães trouxeram à tona elementos de sua própria adolescência e de sua história familiar. As vivências das mães durante a infância e a adolescência parecem ter sido cruciais e determinantes para a forma como elas lidam hoje com seus filhos e filhas adolescentes. A maioria delas narra um passado marcado por silenciamentos, tabus e traumas em relação à questão da sexualidade. Essas mães fizeram um contraponto bastante significativo entre o passado (suas vivências com seus próprios pais) e o presente (suas experiências junto a seus/suas filhos(as) adolescentes).

Hoje eles têm liberdade pra falá, eles têm liberdade pra agí. E a gente no nosso tempo não tinha liberdade de falá nada, nem podia perguntá. Agora eles podem perguntá (M12, 42 anos, GF1).

Aquele era o tempo do não. Não pode falá nada, não pode usá isso, não pode saí, não pode ir em amigo, não pode... ah não, é o tempo, é a época do não. Era tudo proibido. Era tudo feio. Era feio falá. A gente tinha que se calá. [...] Capaz, a minha mãe nunca falô nada. Nesses anos todos, eu nunca vi. Dos anos 60, 70... tudo atrasado... eu descobri por mim mesma (M10, 47 anos, GF1).

Fica evidente nas falas das mães a existência de dois momentos bem distintos. Um vivenciado por elas durante sua infância e adolescência, denominado por algumas delas de "tempo antigo", e outro vivido por seus filhos e filhas. Destaca-se que esse "tempo antigo" parece não ser cronológico, mas sim geracional, pois as mães participantes são adultas jovens, ou seja, passaram pela adolescência há poucos anos. Em concordância com esses aspectos apresentados pelas participantes, estudos apontam que o panorama vem se modificando no que se refere ao diálogo sobre sexualidade entre pais e filhos (Castro et al., 2004; Vilelas Janeiro, 2008). Apesar de ainda haver pouco diálogo em muitas famílias, observa-se um aumento da qualidade e da frequência dessas interações, comparando-se a algumas décadas atrás, o que, segundo Castro et al. (2004), pode relacionar-se principalmente com a preocupação dos pais em relação à gravidez na adolescência, às DSTs e à AIDS.

O silêncio e a desinformação referentes ao tema da sexualidade vivenciados pelas mães também ficam evidentes no relato de M1 abaixo. Ela aponta que essa situação não foi experienciada apenas por ela, mas era comum também às suas irmãs. Ou seja, ela não destoava do grupo em que estava inserida.

A gente não teve adolescência. Agora de uns tempos pra cá que eu vejo falá sobre isso. Mas nesses tempos não existia, não ouvia falá. [...] A mãe não explicava. Isso a pessoa explicava que o dia que começasse a namorá tinha que casá e deu. Daí sê dona de casa. Deu, terminô. [...] Foi isso que aconteceu com todas, nem foi só comigo. Todas as minhas irmã... A gente não teve adolescência nenhuma. Eu não sei o que é essa adolescência. Essa coisa eu não sei. Não sei. Não sei te explicá, porque eu não tive. [...] A gente não teve infância quase, porque botaram a gente na lavoura trabalhá cedo. E não teve estudo, não teve infância, não teve estudo, não teve juventude (M1, 38 anos, E).

Além do relato de que as possibilidades de diálogo sobre sexualidade em sua família eram escassas, chama atenção a afirmação dessa mãe de que "não teve adolescência". Ela associa isso ao fato de ter sido precocemente inserida em atividades laborais e não ter dedicado esse momento da vida aos estudos. Talvez para essa mãe a possibilidade de dedicação exclusiva aos estudos fosse um dos elementos que definiria a condição de adolescência.

Conforme mencionado anteriormente, o conceito de adolescência é recente, tendo surgindo no Ocidente em torno do final do século XVIII (Ariès, 1981 [1975]) e sendo reconhecido e consolidado a partir do século XX (Sprinthall e Collins, 2003). Sprinthall e Collins (2003) afirmam que ainda que determinados componentes psicológicos e corporais tenham sempre existido no jovem, independentemente do momento histórico, a sociedade nem sempre reconheceu as características específicas da adolescência. Assim, em um processo que se iniciou nas nações e culturas industrializadas, os adultos passaram a considerar as demandas e as características fisiológicas e psicológicas próprias da adolescência e começaram a reconhecê-la como uma etapa distinta do desenvolvimento humano. Desse modo, esse período passou a ser estudado mais profundamente e configurou-se em um campo de estudo com legitimidade própria. De acordo com Birman (2008), a infância e a adolescência foram delimitadas em suas especificidades enquanto idades da existência humana na modernidade. Esse processo veio acompanhado de um investimento social maciço na infância e na adolescência, que passaram a "condensar o Capital simbólico e econômico da futura riqueza das nações" (Birman, 2008, p. 95), e assim tornaram-se alvo de ações e intervenções educativas e médicas.

No entanto, ainda hoje existem sociedades nas quais a adolescência não é reconhecida. Esse aspecto fica evidente, por exemplo, em contextos onde crianças passam diretamente para o mundo adulto, a partir de casamentos realizados entre 13 e 14 anos de idade (Sprinthall e Collins, 2003). Desse modo, considerando a realidade apresentada pela fala de M1, poder-se-ia pensar que o conceito de adolescência não se propagou do mesmo modo e ao mesmo tempo em todos os grupos sociais.

"Onde é que eu me machuquei?": o trauma na vivência da primeira menstruação

A primeira menstruação, a qual deveria se constituir em um evento natural/esperado na vida de toda adolescente, ocorreu de forma traumática para a maioria das mães participantes deste estudo, segundo o relato das mesmas. Foram muitas as narrativas de histórias envolvendo a primeira menstruação, as quais foram acompanhadas de emoção e riqueza de detalhes, o que pode sinalizar para o quão marcantes foram tais experiências para essas mulheres.

Assim, quando veio a minha menstruação, eu não sabia o que que era. Eu tava tomando banho num açude e daí a gente tava brincando com um vidrinho de xampu, que uma jogava pra outra, e daí quando olhei assim eu disse "Nossa, eu acho que me machuquei". E a menina veio e me explicô, né, me explicô "Não, é tal coisa... é assim...". Eu acho que se ela [a mãe] tivesse me falado talvez eu tivesse... Porque os sinais vêm, talvez eu tivesse me protegido, talvez não tivesse passado por isso. Porque eu fiquei muito constrangida, né. Imagina, num grupo de amigas ali, né. Pra mim, que o assunto era desconhecido, nossa, um horror! Eu chorava, chorava, não conseguia pará de chorá de vergonha. Me escondi dela [da mãe], me escondi por meses. Ela ficô sabendo eu acho que bastante tempo depois. Tinha uma vergonha imensa de tocá sobre certos assuntos com ela... [...] E eu acho que até que é um assunto que... não tem uma dimensão... como é que eu vô te falá? A vergonha que eu passei, o constrangimento em falá sobre estas coisas, entende, poderia ter sido evitado (M9, 33 anos, E).

A partir desse relato, pode-se compreender a estranheza e o sofrimento vivenciados por essa mãe. Sentimentos como vergonha, constrangimento, medo e tristeza acompanharam a experiência da primeira menstruação da maioria das mães participantes deste estudo, o que também pode ser visualizado no seguinte depoimento:

Quando veio a minha menstruação eu fiquei apavorada. Chorei, chorei, chorei, apavorada... Onde é que eu me machuquei? Nós tava com a minha tia. "Tia, eu me machuquei". "Aonde?". "Eu me machuquei, a minha calcinha tá puro sangue. Eu me machuquei não sei aonde". Aí a tia me explicô, que a mulher quando chegava uma certa idade menstruava... Ela disse "Tu não sabia?". Eu disse "Eu não". "Mas agora a gente usa o modes assim até passar...". Ela foi lá e comprô, me explicô como é que usava. Aí passô... Mas antes, mas olha, eu chorei, nem saía de casa chorando... (M12, 42 anos, GF1)

A primeira menstruação, também chamada de menarca, é um acontecimento muito importante na vida de toda adolescente, pois representa a passagem da infância para o status de mulher e denota que a menina adquiriu a maturidade biológica que a torna fisicamente capaz de exercer a maternidade. Desse modo, a menina pode vivenciar sentimentos de angústia, por ter que lidar com um acontecimento novo que sinaliza para a presença de sua sexualidade. Ao mesmo tempo, sentimentos de alívio e orgulho também podem se fazer presentes, pelo fato de a menstruação ser um dos sinais que marca o ingresso da menina no "mundo feminino" e a aquisição de um novo status, não mais de criança, mas de mulher (Seron e Milani, 2011). No caso das mães participantes, a primeira menstruação parece ter sido vivenciada como um evento negativo e inesperado. O fato de a menarca significar que a menina encontra-se fisicamente capaz de reproduzir, além de apontar para a presença da sexualidade na adolescente, poderia ser considerado um dos fatores que teria influenciado no silenciamento dos pais para com esse assunto. Assim, ao não falar sobre a menstruação, em um primeiro momento, poderíamos pensar que se estaria negando o seu aparecimento e, consequentemente, a presença da sexualidade e a possibilidade do seu exercício.

Eles nunca me explicaram sobre a menstruação. Nem negócio de homem, namorado... que eu namorava, né, também não. Eu me lembro, eu tava cortando lenha, acocada, eu olho aquela sangueira... "Meu Deus, será que eu me cortei?". Eu corri pra dentro e falei com uma tia minha. E a minha tia me disse "Não, tu tá vendo que tu tá moça? Tá vindo as coisa pra ti, assim, assim, assado". Daí a minha tia me explicô, né. Porque a mãe nunca falô nada comigo (M11, 38 anos, GF1).

Salienta-se aqui o papel assumido por tias, amigas ou irmãs diante dessas situações, uma vez que, conforme as participantes referiram, suas mães não abordavam esse tema com elas. Desse modo, muitas vezes elas encontravam esclarecimento com pessoas próximas que já tivessem passado pela experiência.

"A minha mãe falava assim que o que trazia os bebês era a cegonha": a transmissão de mitos e histórias envolvendo a sexualidade

De acordo com as mães participantes do estudo, era muito comum, durante sua infância e adolescência, a narrativa de histórias relacionadas à sexualidade por parte dos pais. A principal delas era a transmissão da crença de que "beijar engravida".

Quando a gente era criança, eu lembro que a minha mãe dizia que se a gente sentasse quando tivesse um casal deitado na cama, a gente não podia sentá na cama. Ou então, beijá na boca engravidava. Eu fui criada assim. Eu não sou tão velha, tenho 33 anos. Mas a minha mãe, ela tinha cabeça de mais velha (M2, 32 anos, E). Nós perguntava pra ela [mãe] de onde que vinha o nenê. E ela falava "tem que dá beijo no teu pai pra mim tê nenê". E eu acreditava (M11, 38 anos, GF1). Eu tinha medo depois de beijá... (M12, 42 anos, GF1). Imagina... ficá grávida com um beijo... [risos]. Eu era muito infantil... Ai... no tempo da minha avó, da minha mãe... Imagina, que inocente, né (M10, 47 anos, GF1).

Chama a atenção no relato de M2 que ela afirma "não ser tão velha", pois tem apenas 33 anos. Ou seja, em um primeiro momento, poder-se-ia pensar que as situações relatadas por essas mães aconteceram há muito tempo, "num tempo antigo", como elas mesmas dizem. No entanto, destaca-se que a maioria das mães vivenciou essas situações há poucas décadas. Assim, pode-se inferir que o tabu que envolve a sexualidade no âmbito familiar ainda se faz presente de forma intensa na contemporaneidade.

De acordo com as mães, a utilização da história de que "a cegonha traz os bebês" também se fazia presente de forma significativa no discurso de seus pais, a fim de explicar o nascimento dos bebês, de modo que não fosse necessário mencionar as questões sexuais envolvidas nesse fenômeno. Desse modo, destaca-se o importante "lugar" que os mitos ocuparam, uma vez que, através deles, parece ter sido possível evitar falar sobre questões referentes à sexualidade, reforçando a crença na inocência da infância e da adolescência.

Assim, eu me lembro, essa história... essa terceira aqui [referindo-se à vinheta]. Essa é parecida com algo que eu vivi no meu passado. Naquele tempo que diziam pra gente que era a cegonha que trazia o bebê. Coisa bem antiga... E quando passava um helicóptero em cima da minha casa, a gente ficava feliz da vida. Daí diziam também que era avião que trazia. Então ficava pedindo pro avião trazê bebê... (M10, 47 anos, GF1).

Destaca-se a importância atribuída por essas mães quanto ao fato de que não se deveriam transmitir ensinamentos "equivocados", os quais por vezes causaram-lhes medo, confusão e angústia. Uma mãe, quando questionada se acreditava que hoje ainda se fala sobre cegonha, afirmou:

Não, não se fala, né, porque é vergonhoso, né, é vergonhoso a cegonha... [risos]. Eles nem sabem o que é cegonha, né. Eu acredito que hoje as crianças nem sabem o que é cegonha. Eu acho que lá na terceira, quarta série, quando tão estudando, daí vê aquele que fala dos animais, daí sim eu acho que eles vê. Tal animal, com bico grande, não é aquele que traz os bebês... [risos] (M9, 33 anos, E).

Na opinião das mães, esse tipo de atitude por parte dos pais, além de ser algo "vergonhoso", é antigo e ultrapassado. No entanto, salienta-se que esse é um discurso ainda presente no contexto atual. Estudo realizado por Savegnago e Arpini (2013) com adolescentes do sexo feminino evidenciou que a narrativa de histórias, como a da cegonha, por exemplo, eram comuns nas famílias das meninas, configurando-se em uma estratégia utilizada pelos pais e mães diante da curiosidade das adolescentes. A transmissão de informações errôneas, como a de que o beijo leva à gravidez, também foi apontada pelas adolescentes como sendo utilizada pelos pais. Segundo elas, isso poderia ser entendido como uma forma de amedrontá-las e, assim, deter e/ou postergar o exercício da sexualidade, ao menos temporariamente (Savegnago e Arpini, 2013).

Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Walter (2014), que teve como objetivo desvelar as memórias sobre sexualidade, referentes aos mitos e crenças apreendidos, de jovens de 18 e 21 anos, do município de Canoas, RS. Os jovens relataram vários mitos e crenças que marcaram as primeiras informações obtidas na infância sobre a temática da sexualidade, como, por exemplo: que a cegonha traz os bebês, que o beijo pode engravidar e que o pai coloca uma semente dentro da mãe. O autor afirma que a mitologia construída por informações não corretas permeia a sexualidade em todas as idades e ressalta que, muitas vezes, a utilização dos mitos ocorre pela falta de conhecimento ou, ainda, por um sentimento de insegurança, que pode estar presente tanto naquele que transmite quanto naquele que recebe a informação.

"Eu acho que aconteceu isso comigo por falta de conversa": a experiência da gravidez na adolescência

A gravidez durante a adolescência, ou logo após o término dela, se fez presente para várias das mães entrevistadas. Das 17 participantes, quatro tiveram seu primeiro filho na adolescência (entre 12 e 17 anos) e sete delas engravidaram entre 18 e 20 anos de idade. Isso evidencia que a questão sexualidade/sexo, apesar de silenciada no contexto familiar, se fazia presente na vida de cada uma delas. Assim, pode-se constatar que o silêncio em relação ao tema não barra o exercício da sexualidade. Ao contrário, muitas mães atribuíram justamente à falta de informação e diálogo familiar a ocorrência de sua gravidez.

Eu acho que isso é importante, né. Porque que nem assim ó, eu engravidei da M, eu não tinha noção do que era sexo. E eu hoje... Esses dias eu tava falando com ela, eu teria namorado da mesma forma, mas eu não teria tido ela com 15 anos (M15, 30 anos, GF2). Ah... era bem diferente. Tanto é que... que eu acho que aconteceu isso [gravidez] comigo por falta de conversa. Porque eu simplesmente fui fazendo as coisas, as coisas foram acontecendo e ninguém... Eu não tinha com quem conversá, ninguém me falava nada, né. Ninguém me dizia: "Olha, não é assim minha filha, não é assim. A vida não é assim... Botá um filho no mundo é..." (M5, 34 anos, E).

A participante M15 afirmou que se tivesse recebido orientações na família sobre o assunto, os acontecimentos teriam tomado um curso totalmente diferente, ou seja, talvez ela não tivesse engravidado tão cedo. M5 apontou a falta de uma orientação sobre sexualidade, a partir da qual poderia ter conduzido sua adolescência. Visto que não tinha espaço para diálogo sobre o tema junto a seus pais, essa mãe teve que se haver com a tarefa de descobrir e entender esse fenômeno de forma solitária.

O relato a seguir mostra uma experiência difícil, relatada por uma das mães participantes, a qual refere ter tido uma gravidez não planejada. A mãe coloca que, apesar de já ter passado pela adolescência, não tinha informações suficientes e importantes sobre gravidez e contracepção, afirmando não ter recebido orientações sobre esse assunto por parte de seus pais.

Eu engravidei com 18 anos pra 19. Não foi planejada, eu namorava e aconteceu. [...] Mas, assim, eu engravidei e não contei, fiquei pra... Engravidei e fui ficando dentro de casa... entendeu? Aí um dia eu tô escovando, que a casa era de tábuas e eu escovava aqueles taboão, sabe... eu lavando a casa, escovando... A mãe olhô: "Filha, tu tá barriguda?". E eu disse assim: "Eu não, mãe!". Ela disse: "Vem cá, levanta e vem aqui!". Aí eu cheguei perto dela e ela levô a mão aqui embaixo da minha barriga e disse: "Tá sim, e isso aí é de três meses. Tá bem dura a tua barriga embaixo". E eu disse: "Faz quatro meses que eu não menstruo". E ela disse: "Tá, tá com três mês passado, fechando os quatro". Chamô meu pai. Hummm... "Vagabunda, sem vergonha", isso e aquilo... Aí eu fui morá junto. [...] E daí foi... A mãe ficou até bem tranquila... Mas quem extrapolô mais, quem berrô foi o meu pai (M7, 47 anos, E).

Estudos têm mostrado que adolescentes que possuem um espaço para diálogo sobre sexualidade com seus pais têm menor probabilidade de engravidar durante adolescência (Aquino et al., 2006; Bozon e Heilborn, 2006; Pick e Palos, 1995; Sousa et al., 2006; Valdés, 2005). No entanto, considerando-se que a gravidez na adolescência se constitui em um fenômeno complexo, é importante deixar claro que suas causas não estão relacionadas exclusivamente à desinformação sobre questões sexuais.

Dadoorian (2003) ressalta que a gravidez durante esse período pode estar ligada ao desejo da adolescente de ter um filho, a fim de testar sua feminilidade, a partir da comprovação de seu potencial reprodutivo. Além disso, por vezes as adolescentes têm conhecimento dos riscos e das formas de evitar a gravidez, mas não põe em prática isso e geralmente não sabem explicar o que as leva a agir dessa maneira (Tavares, 1996). A história familiar de gravidez na adolescência também tem sido descrita na literatura como um dos fatores associados à ocorrência de gravidez em adolescentes. Outro argumento utilizado na compreensão desse fenômeno é a ideia de que, para muitas adolescentes de grupos populares, a maternidade pode tornar-se o papel social mais importante por elas desempenhado e se constituir em um projeto de vida e reconhecimento social (Uziel e Santana, 2008). Apesar de encontrar-se implícita em muitos casos, a questão da associação entre gravidez e projeto de vida não fica explícita no discurso das mães participantes desta pesquisa que engravidaram na adolescência, as quais atribuem as causas desse acontecimento principalmente à falta de diálogo e orientações sobre sexualidade no âmbito familiar.

(ii) "Tenho que conversá e dizê muita coisa pra eles, porque pra mim fez muita falta isso aí": da ausência de diálogo à tentativa de rompimento do silêncio

A partir das vivências familiares difíceis durante a infância e a adolescência no que se refere à sexualidade, conforme apontado na seção anterior, muitas das mães participantes deste estudo destacaram suas tentativas para não reproduzir o modelo familiar, ou seja, romper o silêncio em relação ao tema e procurar abordá-lo com seus filhos.

Eu acho que já que eu não tive isso aí, como a mãe não explicô, não disse nada, eu acho que pra eles eu tenho que explicá e tenho que conversá e dizê muita coisa pra eles, porque pra mim fez muita falta isso aí. Faz muita falta (M1, 38 anos, E). Porque como faltô pra mim, né... daí eu acho que é muito importante. [...] Na minha vida tudo aconteceu por falta de informação. Por isso que eu falo, explico as coisa (M5, 34 anos, E).

Algumas mães, como M5, acreditam que a falta de informação e diálogo sobre sexualidade trouxe-lhes prejuízos. Essa mãe, por exemplo, atribui a gravidez não planejada à falta de orientação sobre sexualidade, principalmente acerca do uso correto da pílula anticoncepcional. Destaca-se assim o interesse demonstrado através da fala de M5 e de outras mães participantes no sentido de orientar os(as) filhos(as) em relação a assuntos referentes à sexualidade que foram pouco abordados quando elas próprias vivenciaram a adolescência. A fala da participante M8 também demonstra tal aspecto.

A M [filha] acha muito importante, assim, que eu previní ela bem, assim ó "M, chega em tal idade, tu vai tê a tua idade, tu vai menstruá, tu vai tê teu o período de menstruá. Tu vai tê que te cuidá, porque daí tu tá mocinha. Tu vai tê que aprendê te cuidá, usá o absorvente direitinho...", eu dizia pra ela tudo assim, sabe (M8, 33 anos, E).

Fica evidente nessa fala a importância dada pela mãe para que a filha fosse bem esclarecida quanto às questões que envolvem a menstruação, a fim de que a menina pudesse lidar com esse acontecimento de forma mais tranquila. Isso se contrapõe à forma como a ocorrência da menstruação, em especial a menarca, foi experienciada pela maioria das mães participantes da pesquisa, como foi destacado anteriormente. Em concordância com esse aspecto, Brandão (2004) aponta ser comum os genitores afirmarem que, apesar das dificuldades enfrentadas, costumam dialogar sobre sexualidade com os(as) filhos(as) muito mais do que, quando adolescentes, conversaram com seus próprios pais.

Apesar de a maioria das mães reprovarem a forma como seus pais conduziram as questões relacionadas à sexualidade durante sua adolescência e esforçarem-se para mudar essa realidade, algumas delas trouxeram relatos que parecem sinalizar uma repetição desse modelo passado de educação/orientação. Esse aspecto pode ser percebido na fala abaixo.

Olha, eu trato pra eles como a minha mãe tratô nós, né. Nós somo em cinco irmão, né... Então a minha mãe nunca falô isso pra gente. Eu tenho mais irmãos, e nenhum dos meus irmãos falava isso com eles. A gente traz eles como a gente foi trazido, né. Não precisava tá... não precisa tá falando nada [riso]. [...] Pra mim foi bom, né, porque não precisô ninguém me falá nada e mesmo que... falasse ou não falasse, né, eu não ia seguí esse troço... (M3, 49 anos, E).

Nesse mesmo sentido, a entrevistada M7 afirma que acreditava que o diálogo sobre sexualidade com os(as) filhos(as) fosse desnecessário, uma vez que isso não se fez presente na sua adolescência. "Que eu por mim, eu achei que nem tinha que falá nada, que ia acontecê que nem aconteceu comigo, que a minha mãe nunca falô nada. E o F [companheiro] disse: 'Não, nós temos que sentá pra conversá com a tua filha. Conversá isso, isso e isso'" (M7, 47 anos, E).

Desse modo, por vezes, pode ocorrer que os pais tenham uma compreensão de que não deveriam reproduzir o modelo de educação sexual recebido em suas famílias. No entanto, podem acabar repetindo o que vivenciaram junto a seus pais, por ser esse o único modelo relacional e educacional conhecido e aprendido (Dias e Gomes, 1999).

Lançando-se um olhar para a totalidade das falas das mães participantes, nota-se que não houve um padrão único de atitudes em relação ao diálogo sobre sexualidade com os(as) filhos(as) adolescentes. Apesar de algumas mães terem relatado certo silenciamento em relação à sexualidade junto a seus filhos e filhas, a maioria das participantes demonstrou esforçar-se para que esse diálogo aconteça, o que pode ser considerado um importante processo de mudança. As falas a seguir ilustram tal constatação.

Eu falo com eles, eu converso com eles, explico pra eles, entende, eu e os meus guris, no caso, eu explico pra eles, tento conversá, digo que não precisa tê medo sobre falá comigo... todas as coisas tem que falá pra mim, passá pra mim antes, eu digo pra eles assim né (M1, 38 anos, E). Eu falo de sexo, de sexualidade com todos. Tanto com os meninos quanto com as meninas. Se não elas vêm... e geralmente é as mais velha... os mais velho, eles sempre vêm a mim. Qualquer probleminha que eles têm, eles vêm, me procuram e aí eu dô a minha opinião, falo, né. A gente tem abertura pra falá sobre tudo. E eu não tenho vergonha de falá com eles (M5, 34 anos, E).

A curiosidade manifestada por crianças e adolescentes em torno da sexualidade é uma questão bastante significativa para a subjetividade, uma vez que tem relação com o conhecimento das origens de cada um e com a vontade de saber. Desse modo, a satisfação dessas curiosidades pode colaborar para que o desejo de saber seja estimulado ao longo da vida. Em contrapartida, a falta de resposta às curiosidades pode causar ansiedade, tensão e, ocasionalmente, bloqueio da capacidade investigativa (Brasil, 1998). A participante M16 fala da importância de satisfazer as curiosidades dos(as) adolescentes, referindo que ela e as outras mães participantes do grupo também teriam vivenciado isso quando jovens.

Mas eu olho pelo lado de cobrá... até a curiosidade das adolescentes, porque a gente foi curiosa também, que essa menina tá expressando aqui que ela queria matá a curiosidade [referindo-se à vinheta]. Não aprofundá o assunto, mas tirá a dúvida, né [...]. Eu acho que a gente deve matá a curiosidade dos filhos. Como a gente vê na televisão, tu não aprofunda, se ela pergunta "Mãe, como é tal coisa?", tu explica aquilo. Se ela ficô satisfeita com a explicação, tu deixa quieto. Deixa ela vir com outra pergunta, né. E não aprofunda também "Ah isso, ah aquilo, ah aquele outro". Mata aquela curiosidade. Porque isso seguido aparece na televisão, né, quando as criança começam a perguntá. Mata a curiosidade. Se ela se sentiu satisfeita, espera vir outra curiosidade pra matá (M16, 41 anos, GF2).

Destaca-se também nessa fala a forma como a mãe relatou conduzir o diálogo sobre sexualidade com os(as) filhos(as). Para ela, é a curiosidade da criança ou adolescente que serve de marcador para que esse assunto seja abordado. Assim, à medida que as dúvidas vão surgindo, ela procura esclarecê-las de forma correspondente ao que foi solicitado, procurando não aprofundar-se tanto no assunto, evitando falar além do que foi perguntado, principalmente quando se trata de crianças. De forma semelhante, o relato da participante M9 também evidencia que as conversas sobre sexualidade com os(as) filhos(as) devem evoluir conforme a idade e o interesse manifestado pelos mesmos.

Com a M [filha], também, eu já... por ela tá ficando mocinha, sabe, tá com 12 anos, né, tá na puberdade, né, aí eu chamo ela, já converso, já falo "ó, tem que fazê assim", né. Aquela... eu acredito que aquela coisa que talvez a tua mãe tenha feito contigo, tipo não... sobre a menstruação que antigamente não falavam, né, não podia, era feio. Eu converso com os meus sobre isso, sobre tudo. Como as coisas são, como elas são feitas. Não é aquele negócio da cegonha que traz, né. Claro que tem que tê um jeito, um meio, né. Há um tempo atrás, quando a B tinha 7 anos, eu expliquei assim... porque o pai dela teve outra família, eu me separei dele e ele teve uma outra família com a outra, uma menina com dois filhos, ela tinha um bebê e a menina tava grávida, né. E daí eu chamei e expliquei como é que... tá, mas como? "Olha, funciona de tal forma... O homem planta a sementinha e começam a namorá", aquela coisa toda, né. Conversei dessa forma. Ela tinha sete anos na época, né. Só que hoje ela já tá com 12. Então o assunto já pode ser mais... (M9, 33 anos, E).

Em concordância com esses aspectos, mães participantes de uma pesquisa realizada por Gubert et al. (2009) afirmaram que a comunicação entre pais e filhos(as) sobre sexualidade deveria ocorrer desde a infância até a adolescência e que a educação sexual deve ser gradativa e constante, considerando-se as particularidades de cada adolescente.

É importante ter presente que, para as mães, existem diferenças na abordagem do tema, considerando-se o gênero do(a) filho(a) adolescente. A maioria das participantes referiu ter mais facilidade para conversar com as filhas do que com os filhos. Apesar de relatarem dificuldades e sentimentos de despreparo e vergonha para conversar sobre sexualidade com os meninos, as mães pareciam estar realizando tentativas para tanto. No entanto, segundo as participantes, os filhos pareciam fugir do assunto, como se já soubessem o suficiente e pareciam ter vergonha de falar com as mães sobre essa temática, tendo mais abertura com outros familiares do sexo masculino.

Dialogar com os(as) filhos(as) não é uma tarefa fácil. Trata-se de uma atitude que demanda sensibilidade, paciência e tolerância, além de saber ouvir e falar sem ter a certeza de que se está sendo escutado. A tentativa de estabelecimento de diálogo com o(a) adolescente pode ser uma questão delicada para os pais, uma vez que a transmissão de valores e posições afetivas pode ser confundida, pelo(a) adolescente, com cobranças ou pressões. Ou, ainda, é possível que a demonstração de interesse dos pais pelas atividades e ideias do(a) adolescente seja percebida por este como uma invasão de privacidade (Levisky, 1995).

 

Considerações finais

A partir dos resultados apresentados e da discussão proposta, evidencia-se que grande parte dos relatos das mães sobre os diálogos sobre sexualidade com seus filhos e filhas adolescentes vieram acompanhados de narrativas sobre suas próprias vivências durante a adolescência. Pôde-se notar que o silêncio em relação ao tema da sexualidade no espaço familiar se fez presente na infância e adolescência da maioria das participantes. Estas apontaram traumas, tabus e a ocorrência de gravidez na adolescência como efeitos da falta de diálogo a respeito do tema. Tais vivências parecem ter uma estreita relação com a forma como essas mães lidam com seus filhos e filhas adolescentes no que se refere às questões que envolvem a sexualidade, seja pela repetição do que foi experienciado no passado junto a seus pais, seja pela busca por fazer diferente com seus/ suas filhos(as).

Dialogar sobre sexualidade não se constitui em uma tarefa fácil. No entanto, se compararmos os relatos de algumas mães referentes à sua própria adolescência com a forma como elas afirmam abordar o tema atualmente com seus/suas filhos(as), pode-se dizer que houve muitos avanços nesse sentido. Os relatos de algumas participantes podem ser considerados bons exemplos de superação, uma vez que, apesar da dificuldade inegável e do sentimento de despreparo para se falar sobre esse tema com os(as) filhos(as) e da vivência de um passado marcado por tabus e silêncio em relação ao tema, a maioria das mães pareceu se esforçar para abrir-se para essa questão, buscando conduzir isso de forma diferente da realizada por seus próprios pais e, assim, fazer diferente com seus filhos e filhas. Nesse sentido, destaca-se a importância do desejo de mudança presente nos relatos dessas jovens mães. Trata-se de um movimento importante realizado por essas mulheres e que merece ser reconhecido.

Os aspectos apontados neste artigo são característicos de um determinado grupo social - popular - e de um universo específico de mães. O intuito deste estudo não é o de generalizar resultados, mas apresentar de forma ampla e profunda as concepções das mães de adolescentes participantes do estudo, pertencentes a um contexto específico, a respeito dos diálogos sobre sexualidade com seus filhos e filhas. Desse modo, destaca-se a importância dos achados deste estudo, no sentido de que os serviços e os profissionais que atuam nas diferentes instituições públicas possam estar instrumentalizados e reflexivos quanto à sua importância potencial para auxiliar as famílias na abordagem do tema, uma vez que chama atenção a manutenção dos mitos que envolvem determinados aspectos da sexualidade, sobretudo se levarmos em conta a idade das mães que aqui deram seus depoimentos. Por fim, salienta-se a importância de que se desenvolvam estudos com essa proposta em outros grupos/ contextos sociais, como os de classe média e alta, a fim de se complementar o panorama sobre a questão, que, sem dúvida, se trata de um tema inesgotável.

 

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Submetido: 23/11/2015
Aceito: 03/07/2016

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