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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.10 no.2 São Leopoldo jul./dez. 2017

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2017.102.09 

ARTIGOS

 

Corpo e ficção: os desdobramentos da relação eu-outro

 

Body and fiction: the developments in the ego-other relationship

 

 

André Oliveira Costa

Universidade de São Paulo. Av. Prof. Lineu Prestes, 159, 05508-000, São Paulo, SP, Brasil. androlicos@gmail.com

 

 


RESUMO

Este trabalho deriva de uma pergunta sobre os modos de afetação na relação entre eu e outro na teoria freudiana. O objetivo é encontrar caminhos para suspender a dicotomia que coloca esses termos em oposição. A teoria psicanalítica de Sigmund Freud é tomada em seus primórdios, nos quais vemos que as diversas formas de ficção são propostas como modos de transposição dessa dicotomia. A ficção é a construção de um espaço comum entre eu e outro. Ela possibilita a circulação do eu em diferentes posições.

Palavras-chave: ficção, corpo, fantasiar.


ABSTRACT

This work derives from a question about the modes of affectation in the relationship between ego and other in the Freudien theory. The objective is to find ways to suspend the dichotomy that places these terms in opposition to one another. The primordial psychoanalytic theory of Sigmund Freud is taken, where we see that the various forms of fiction are proposed as ways of transposing this dichotomy. Fiction is the construction of a common space between ego and other. It enables the movement of the ego in different positions.

Keywords: fiction, body, fantasying.


 

 

No desenvolvimento inicial da teoria freudiana, a posição do eu no circuito pulsional é deslocada da passividade para a atividade. Em um primeiro momento, a criança sofria passivamente uma sedução real por parte de outras pessoas, fossem elas parentes, educadores ou cuidadores. A pulsão sexual, atuando como agente causador das experiências traumáticas, se originava no lado de fora do sujeito. A partir de 1905, com a formulação do conceito de pulsão, a posição primordial do eu passa a ser a da atividade, e a sexualidade, apoiada nas necessidades orgânicas, tem sua origem nos processos internos do corpo. A criança já não pode mais ser considerada apenas um objeto sexual, na medida em que age ativamente seduzindo o outro para a realização de sua satisfação.

Com a elaboração da hipótese da sexualidade infantil, do autoerotismo e da disposição perverso polimorfa nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud passa a pensar a produção da sexualidade como intrínseca ao eu, de acordo com sua afirmação: "Pareceu-nos, ao contrário, que a criança traz consigo ao mundo germes de atividade sexual e que, já ao se alimentar, goza de uma satisfação sexual que então busca reiteradamente proporcionar-se através da conhecida atividade do chuchar" (2003a [1905], p. 1230).

A elaboração do conceito de pulsão não transfere a posição primordial do sujeito da passividade para a atividade, mas marca sua constituição na possibilidade do jogo de posições. Nesse sentido, a posição do eu é atravessada por um modo de relação com o objeto implicado pelos efeitos da pulsão. Os modos de ser no mundo se apoiam nos modos de circulação dos objetos, e como os objetos da pulsão derivam dos objetos corporais, a posição do sujeito no mundo é efeito da relação de seu corpo pulsional com os outros.

Nesse artigo, pretendemos apresentar os desdobramentos que Freud produz a respeito da relação entre eu e outro entre os textos de 1908 e 1912. A delimitação desse período, em primeiro lugar, permite suspender a divisão que usualmente se estabelece na obra freudiana entre os textos clínicos e os textos sociais. Isso nos possibilita mostrar que a questão da relação entre eu e outro já era pertinente à Freud desde seu início, sem precisarmos recorrer a textos mais elaborados como Totem e tabu, de 1913, ou o conjunto de textos metapsicológicos do período de 1914 a 1917. O que vamos apresentar nesse artigo é a ideia de que, para Freud, a relação entre eu e outro, a partir do desenvolvimento do conceito de pulsão, se sustenta em uma perda e que há uma busca pela reconstrução dessa relação que se faz de diferentes formas ao longo da constituição da subjetividade, através do corpo, das fantasias e da relação com a cultura. Todas elas são construções marcadas por traços de ficção.

 

O desdobramento no corpo coletivo e no romance familiar

O corpo pulsional inscreve marcas psíquicas que formam certas qualidades de caráter. Elas especificam modos de agir e pensar que levam o sujeito a um modo de relacionar-se com o outro. O processo de socialização começa e termina no corpo. No texto Caráter e erotismo anal (2003c [1908]), Freud descreve que há uma relação orgânica entre certas qualidades de caráter e a singularidade de certos órgãos corporais.

Com esse texto, Freud mostra que é o corpo que possibilita o eu tornar-se coletivo. As funções e os produtos corporais não são "próprios" do eu, mas dão as condições para uma relação que implica o outro para suas formações.

Tomando como referência a relação entre a pulsão anal e a neurose obsessiva, Freud mostra que, no recorte dos orifícios do corpo, um objeto pulsional surge como elemento comum entre o eu e o outro. Na medida em que este objeto é perdido, faz-se assim presente uma ausência mediadora da relação. O eu vai tentar se representar no lugar desse objeto perdido através da formação de sintomas obsessivos.

O eu se constitui a partir de certos traços de caráter, como ser ordenado, econômico e obstinado, processos que estão intimamente associados ao erotismo anal. Quer dizer, a satisfação produzida pelo objeto pulsional modula a constituição do eu e sua relação com o outro. Mas Freud marca que as zonas erógenas, juntamente com seu objeto pulsional, devem perder significação erótica para poder criar as condições sociais do circuito pulsional. Para tanto, certas formações reativas, como a vergonha, a repugnância e a moralidade agem, às custas da energia pulsional, como diques. Ao mesmo tempo, elas redirecionam a pulsão para situações que estejam de acordo com a educação exigida pelos laços sociais.

Nesta imagem do dique, da construção de uma barreira, reitera-se o fato que o sexual esteja localizado no campo do eu, em um "mundo interior". Do interior ele exerce uma força sexual pulsante para fora, que deve ser controlado para que os laços com outras pessoas possam ser estabelecidos. O outro, nesse momento, é a fonte das exigências sociais exteriores e atua sobre o eu através de regras sociais e morais, impedindo o movimento incessante da pulsão. Assim, neste momento, as fronteiras entre eu e outro, na teoria freudiana, ainda parecem estar bem delimitadas. O eu continua primordialmente ativo e sua tarefa é a de vencer as proibições sociais.

Entretanto, percebemos um deslocamento do problema entre as fronteiras entre eu e outro a formulação de conceitos como fantasia, as teorias sexuais infantis e o romance familiar. Em os Três ensaios, de 1905, Freud já havia esboçado algumas ideias a respeito das investigações sexuais feitas pelas crianças. Mas, apenas em 1908, entre os textos Caráter e erotismo anal e Teorias sexuais infantis que vai ser possível verificar o ultrapassamento da dicotomia entre eu e outro.

No texto Teorias sexuais infantis (2003d [1908]), Freud insiste sobre na construção de um espaço comum que enlace a criança com a mãe. Através das teorias sexuais infantis, o corpo da mãe e o corpo da criança, que se diferenciam a partir de um determinado momento, podem estar novamente imbricados um no outro. O não saber sobre o sexual impõe a separação entre os corpos. Por exemplo, uma criança que observa o surgimento de um recém-nascido começa a se colocar a seguinte questão: "de onde vêm os bebês?". Esta criança percebe que a mãe sofreu modificações em função da gravidez. Quando a sexualidade do corpo materno é convocada para ser representada, a criança consegue apenas responder com as condições pulsionais de seu próprio corpo.

O não saber da diferença entre os sexos, tanto por parte do menino (acreditando que todos são dotados de pênis), quanto da menina (que partilha da valorização do pênis dada pelo menino), leva a criança à formulação de uma teoria sexual: "o bebê precisa ser expelido como excremento, numa evacuação" (Freud, 2003d [1908], p. 1267). A criança, então, fantasia para seu próprio corpo a possibilidade de dar à luz a um bebê. Trata-se de um corpo coletivo, formado a partir dos enigmas do corpo do outro, mas que é construído através dos objetos pulsionais e dos orifícios corporais da criança.

Assim, se cria um corpo de fantasia que não é nem da criança, nem da mãe, mas das duas. Esse fantasiar possibilita que o corpo individual constitua para a criança, pela primeira vez, um corpo que é do eu e do outro. As teorias sexuais infantis - como a existência de pênis nos dois sexos, o nascimento pelo ânus, as relações sexuais como jogo sádico ou a fecundação através do beijo ou da urina - criam um corpo que é da criança e da mãe. Isso somente pode acontecer porque, do outro lado, a mãe participa dessa construção desse corpo. Quer dizer, ela deve tomar o corpo do filho como sendo também parte de seu próprio corpo.

Esse corpo coletivo sustenta um espaço comum que representa a relação do corpo da mãe com o corpo da criança em um resto fantasioso derivado de um tempo no qual o eu era objeto de satisfação do outro. É a recuperação através da fantasia de um tempo primordial da pulsão, tempo de indiferenciação. Em termos de pulsão, era um tempo no qual ela encontrava no corpo próprio sua satisfação, momento no qual o seio da mãe era uma extensão de seu corpo. Nesse sentido, o coletivo marca uma ilusão de unidade ao fazer do corpo a sustentação de uma falta.

A passagem do texto Teorias sexuais infantis para o texto Romances familiares do neurótico, também de 1908, possibilita a compreensão do deslocamento do corpo coletivo para o laço social, na medida em que Freud ressignifica o tema das fantasias infantis através da posição da criança na formação dos primeiros laços sociais. Assim, Freud inicia esse texto com a seguinte explicação:

Ao crescer, o indivíduo liberta-se da autoridade dos pais, o que constitui um dos mais necessários, ainda que mais dolorosos, resultados do curso do seu desenvolvimento. Tal liberação é primordial e presume-se que todos os que atingiram a normalidade lograram-na pelo menos em parte (2003e [1908], p. 1361).

Destacamos nesta frase de Freud os termos necessários e em parte. Por um lado, o sucesso da liberdade é necessário para o "progresso da sociedade". Por outro lado, porém, os sujeitos falham nesta tarefa, alcançando-a apenas parcialmente. A separação do eu com o outro nunca se dá de maneira completa, e a perda dessa posição não se faz sem consequências.

Os pais representam para a criança a única autoridade, fonte de todos os conhecimentos (Freud, 2003e [1908]). Esse é um primeiro tempo das relações sociais, no qual a criança fica como objeto de satisfação do outro, uma posição de passividade. Entretanto, a criança vai pouco a pouco se afastando dessa posição de objeto do outro. As experiências da criança fazem-na perceber que seus pais não são a referência única de conhecimento. E essa desconformidade começa a instaurar um enigma no saber do outro. O saber agora já não está mais localizado em seus pais, mas é jogado para um lugar terceiro.

Esse filho-objeto, tal como define a psicanalista Colette Soler (2005, p. 87), deve reposicionar-se para o lugar de filho-intérprete, que elabora fantasias para decifrar os efeitos de enigma do outro. Freud (2003e [1908]) atribui essa separação do eu com o outro ao "impulso de rivalidade sexual", pois a criança sente estar sendo negligenciada ou porque não está recebendo todo o amor de seus pais ou porque deve compartilhar esse amor com seus irmãos. A duplicação dos pais, que faz circular o saber para um lugar terceiro, é o próprio romancefamiliar. É a criação de uma ficção, construída para sustentar uma ruptura dessa relação.

O que acompanhamos até aqui é que tema da duplicação está presente tanto nas teorias sexuais infantis quanto no romance familiar. No primeiro, a duplicação aparece no desdobramento dos corpos da mãe e da criança em um corpo de fantasia. No romance familiar, o lugar daquele que sabe é desdobrado para uma posição terceira: "a imaginação da criança entrega-se à tarefa de libertar-se dos pais que desceram em sua estima, e de substituí-los por outros, em geral de uma posição social mais elevada" (Freud, 2003c [1908], p. 1362). A hipótese que desenvolvemos nesse trabalho é que o corpo coletivo criado pelas teorias sexuais infantis é a condição do romance familiar. O romance familiar só pode ser construído porque, anteriormente, houve a sobreposição de dois corpos pulsionais em uma mesma fantasia. Em ambas as situações, temos a elaboração de um espaço comum, dos primórdios de um laço social que se torna possível somente na medida em que há um jogo de troca de lugares. Quer dizer, o eu transita entre a posição passiva de objeto e a posição ativa de intérprete.

Devemos levar em conta que o desdobramento dos pais no romance familiar carrega traços de seus originais. São obras de ficção, tal como Freud se refere às teorias infantis, que conservam disfarçadamente os primeiros afetos da criança por seus pais. No romance familiar, a criança atribui aos "novos e aristocráticos pais" (Freud, 2003e [1908], p. 1363) qualidades que se originam das recordações dos pais verdadeiros. Na realidade, a criança não está descartando os pais, mas está enaltecendo eles. Afirma Freud:

Na verdade, todo esse esforço para substituir o pai verdadeiro por um que lhe é superior nada mais é do que a expressão da saudade que a criança tem os dias felizes do passado, quando o pai lhe parecia o mais nobre e o mais forte dos homens, e a mãe a mais linda e mais amável das mulheres (2003e [1908], p. 1363).

A criança se afasta dos pais, tal como ela os representa no presente, para se voltar para os pais idealizados do passado. Sua fantasia, continua Freud, "é a expressão de um lamento pelos dias felizes que se foram" (2003d [1908], p. 1363). São fantasias que manifestam uma supervalorização da relação entre o eu e o outro, que caracterizam os primeiros anos da criança. Nas teorias sexuais infantis, a criança desloca seu corpo para fantasias que dão conta das lacunas, dos enigmas provindos do corpo do outro. Essas teorizações traduzem o esforço das crianças para aproximar o que estava até então disjunto, isto é, a pulsão sexual e os objetos de suas representações. Pouco a pouco, considerando-se o tempo do percurso da pulsão, a criança vai construindo suas teorias para encobrir simbolicamente os enigmas da sexualidade.

Este processo, conforme aponta Freud, "depende da inventividade e do material à disposição da criança" (2003e [1908], p. 1363). Para a demanda do outro, de ter seu enigma decifrado, a criança responde a partir das condições de sua pulsão. Quer dizer, a criança responde com os orifícios de seu próprio corpo, no tempo de sua própria pulsão, aos furos que encontra no corpo do outro. Até o momento em que o saber sobre a sexualidade passa a operar como o elemento chave das interpretações.

Freud identifica dois períodos dos romances familiares. Um primeiro momento, que ele denomina de "assexual", quando a criança responde às questões sexuais vindas do outro desconhecendo os diferentes papéis desempenhados pelo pai e pela mãe nas relações sexuais. E um segundo tempo, "sexual", no qual o advento da puberdade já produziu transformações nas escolhas objetais, fazendo com que se possa imaginar participante das relações sexuais. Dessa forma, a novela familiar desdobra-se em um drama edípico. O filho coloca a mãe no mais alto posto do desejo e o pai é alvo de sentimentos agressivos e hostis.

O que se apresenta, nesse período da teoria freudiana, no lastro dos desdobramentos entre o corpo coletivo e o romance familiar é a formulação do conceito de fantasia como aquilo que rompe as fronteiras entre "mundo interno" e "mundo externo". A lógica da fantasia está presente na construção das teorias sexuais infantis, nos devaneios, nas atividades dos poetas e artistas e, seguindo a cadeia de equivalências simbólicas, também na formação dos sintomas psíquicos. O processo do fantasiar rompe não apenas com as delimitações que se impõe à relação entre mãe e filho, entre eu e outro, mas redimensiona também a temporalidade que a percorre.

No texto Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental, de 1910, Freud afirma que "toda neurose tem como resultado e, portanto, provavelmente, como propósito arrancar o paciente da vida real, aliená-lo da realidade" (Freud, 2003h [1910], p. 1638). Os neuróticos, separados da realidade, desvelam uma verdade que se encontra dentro deles. Seguindo o funcionamento do princípio do prazer e a busca pela satisfação, os neuróticos "equiparam a realidade do pensamento com a realidade externa e os desejos com sua realização - com o fato" (Freud, 2003h [1910], p. 1642). Dessa forma, Freud apresenta o princípio do prazer e o princípio da realidade como os fundamentos que organizam essa divisão neurótica. O neurótico não encontra na realidade os elementos que podem apaziguar as forças de sua pulsão. Ao mesmo tempo, não abre mão de renunciar à busca dessa satisfação. Para tanto, ele tenta reconstruir a realidade de maneira fantasiosa, redimensionando as fronteiras que estabelece do eu com o outro.

A atividade de fantasiar recria uma nova versão da realidade, tal como fazem as teorias sexuais infantis com a construção de um corpo coletivo e o romance familiar com a duplicação dos pais. De maneira geral, são diferentes formas de reestabelecer essa ruptura do eu com o outro. Em Escritores criativos e devaneios, de 1908, Freud mostra que o fantasiar é a construção de uma nova versão para a realidade.

Na realidade, nunca renunciamos a nada; apenas trocamos uma coisa por outra. O que parece ser uma renuncia é, na verdade, a formação de um substituto ou sub-rogado. Da mesma forma, a criança em crescimento, quando para de brincar, só abdica do elo com os objetos reais; em vez de brincar, ela agora fantasia (2003f [1908], p. 1344).

A criação deste espaço comum, pensado aqui na dimensão do fantasiar, redimensiona a relação entre o eu e o outro, desestabilizando as fronteiras entre "dentro" e "fora", e inscrevendo uma continuidade em territórios diferentes. Mas, tal como no cinema, que costuma fazer refilmagens, a nova versão sempre é marcada pela original.

Assim, o fantasiar é atravessado por três diferentes tempos: um acontecimento que está se fazendo no presente, lança-se para o futuro impulsionado por uma experiência do passado. Segundo Freud, "dessa forma o passado, o presente e o futuro são entrelaçados pelo fio do desejo que os une" (2003f [1908], p. 1345). Na temporalidade do fantasiar, passado e futuro são aproximados pela mediação de um presente efêmero que se apaga no seu próprio fazer. Passamos, agora, a um dos primeiros trabalhos onde Freud coloca em discussão diretamente o modo a afetação da relação entre indivíduo e sociedade.

 

A ficção como efeito da relação entre o eu e a cultura

Se entre 1908 e 1910, Freud pensava a relação entre eu e outro na constituição do psiquismo, no texto A moral sexual "civilizada" e o nervosismo moderno (2003g [1908]), encontramos esse debate recolocado entre a relação dos indivíduos com cultura. Trata-se de um dos primeiros textos onde Freud defronta-se com as análises da sociedade de sua época e os efeitos que ela produz nas estruturas psíquicas.

Nesse texto, Freud apresenta as descobertas de alguns eminentes observadores, que pensavam as doenças nervosas diretamente relacionadas com a vida civilizada da modernidade. Discutindo a antítese entre a constituição psíquica e os efeitos produzidos pela cultura, imagina uma pessoa, descrevendo seus sintomas para seu médico, poderia argumentar que, em sua família, todos aqueles que pretenderam crescer mais do que suas origens permitiam, caíram enfermos psiquicamente. Também por essa justificativa se poderia afirmar que os campesinos adoecem quando procedem de famílias pobres e se deslocam para a cidade com o objetivo de conquistar uma vida diferente da sua.

Essas teorias apresentadas por Freud como sendo as pesquisas mais avançadas da época sustentam a hipótese de que as transformações da modernidade aumentaram as doenças mentais. A modernidade exige dos homens maior gasto de energia e o progresso da civilização se faz às custas do sistema nervoso, que se esforça para acompanhar as demandas sociais que caem sobre o indivíduo. Para Freud (2003g [1908], p. 1251), contudo, as críticas desses eminentes pensadores não são suficientes para explicar as doenças psíquicas, na medida em que ignoram o fator etiológico mais importante, a saber, a sexualidade.

Deixando de lado essas "modalidades mais leves de nervosismo" para considerar as estruturas psicanalíticas, Freud afirma categoricamente: "não existe nenhuma correspondência entre as formas das doenças nervosas e as outras influências da civilização assinaladas por aquelas autoridades" (2003g [1908], p. 1251). Não se pode atribuir diretamente a quaisquer condições da vida moderna a causa das psiconeuroses. E continua o psicanalista: "Podemos, portanto, considerar o fator sexual como o fator básico na causação das neuroses propriamente ditas" (2003g [1908], p. 1251).

Essas transformações da modernidade não são consideradas motivos suficientes para levar à formação das psiconeuroses, na medida em que "a influência prejudicial da civilização reduz-se principalmente à repressão nociva da vida sexual dos povos (ou classes) civilizados através da moral sexual 'civilizada' que os rege" (2003g [1908], p. 1251). Para Freud, a estruturas psíquicas resultam da ação do re-calque sobre as pulsões sexuais. Desse modo, apenas os elementos culturais que impossibilitam a satisfação sexual, inibem sua atividade ou deslocam seu fim podem ser considerados como estruturantes.

Assim, Freud (2003g [1908], p. 1252) afirma que a cultura repousa sobre a renúncia das pulsões sexuais.

Todos e cada um de nós renunciou a uma parte das tendências agressivas e vingativas de nossa personalidade, e destas contribuições nasceu a propriedade cultural comum de bens materiais e ideais. A vida mesmo, e sem dúvida principalmente os sentimentos familiares, derivados do erotismo, foram fatores que motivaram o homem a tal renúncia, a qual foi progressivamente aumentada no curso do desenvolvimento da cultura.

A formação da cultura e a formação da subjetividade são originadas em uma base comum, a renúncia a uma parcela de satisfação da pulsão, que deve ser dirigida à circulação social em um processo em constante movimento. Aqueles que não conseguem participar desta repressão pulsional coletiva, rompem com os princípios éticos internos ao laço social e podem ser considerados por determinada sociedade como criminosos, delinquentes ou foras da lei (outlaw). Mas, se, por alguma condição excepcional, eles chegam a se impor socialmente, restabelecendo os laços sociais rompidos, podem ser vistos como "grandes homens" e assim representados na figura do herói.

Todos os indivíduos se constituem na medida em que estabelecem as primeiras relações com os outros. Para tanto, seu corpo deve dar o suporte para as primeiras inscrições desses laços. Os orifícios e buracos vão aos poucos delimitando as fronteiras entre o que é interno e externo, entre o que é próprio e alheio. Porém, deve haver algo em comum que possa movimentar uma certa circulação. Os objetos pulsionais são aqueles que possibilitam essa imbricação sem que haja uma relação totalizada entre ambos. O que é mais íntimo a cada um é, ao mesmo tempo, o mais estranho. O mais interno de si se manifesta como se fosse exterior. Quando procuramos a nós mesmos, encontramos um outro.

A inscrição de cada indivíduo no laço social - o que necessariamente pressupõe a perda e o afastamento do objeto sexual - depende do modo como sua satisfação pulsional vai ser destinada à relação com o outro. No processo de inscrição no laço social, a pulsão, cuja fonte é o corpo, é a condição do estabelecimento da coletividade dos indivíduos. Entretanto, mesmo no excesso ou na escassez, essa transferência de satisfação nunca pode se dar de forma absoluta. E, para esclarecer essa afirmação, Freud busca uma imagem na Física: "não é possível ampliar indefinidamente esse processo de deslocamento, da mesma forma que em nossas máquinas não é possível transformar todo o calor em energia mecânica" (2003g [1908], p. 1253).

Parte da satisfação que se obteria com os objetos pulsionais, por ser recalcada, é deslocada de seus objetivos para as atividades culturais. Cabe a cada pessoa singularizar o modo e a intensidade com que direciona certa parcela de pulsão à cultura. Por essa razão, Freud pode elaborar uma hipótese de correspondência entre funcionamento social e funcionamento pulsional. Para se afastar do entendimento de que as doenças nervosas fossem causadas pelos processos de crescimento e modernização que vinham ocorrendo na sociedade daquela época, Freud, neste texto de 1908, sustenta a hipótese, já apresentada nos Três ensaios, de 1905, de que tanto as construções sociais quanto as neuroses se fizeram à custa do recalque sobre a sexualidade. Assim ele escreve nesse texto: "Acrescentaríamos, portanto, que o mesmo processo [das realizações culturais] entra em jogo no desenvolvimento de cada indivíduo" (2003a [1905], p. 1198). As estruturas sociais surgem como fenômenos substitutivos consequentes da inibição da pulsão sexual, da mesma forma como "o que chamamos de doenças nervosas ou, mais precisamente, de psiconeuroses" (2003g [1908], p. 1254). Na mesma linha de equivalências, então, colocamos os fenômenos sociais e as formações do inconsciente.

Freud encerra o artigo de 1908 questionando se a moral sexual cultural "vale o sacrifício que nos impõe, já que estamos ainda tão escravizados ao hedonismo a ponto de incluir entre os objetivos de nosso desenvolvimento cultural uma certa dose de satisfação da felicidade individual" (2003g [1908], p. 1261). O que parece que está em questão é a tentativa de resolver o impasse que se estabeleceu na relação com a cultura. Não se trata mais de resolver a lacuna entre um e outro, mas, utilizando a expressão de Assoun, de inscrever um "profundo impossível de viver" (2003, p. 60).

A neurose já não é mais uma simples doença psíquica, mas é o sintoma mesmo da cultura. Como sintoma, então, ela revela a verdade de forma velada, mostrando que a cultura produz falhas ao tentar regular as pulsões. Assim ele afirma, no final desse texto de 1908: "as neuroses, quaisquer que sejam sua extensão e sua vítima, sempre conseguem frustrar os objetivos da civilização" (2003g [1908], p. 1261). O sintoma de cada um faz com que as estruturas sociais entrem em conflito com suas próprias intenções. E a psicanálise testemunha a insistência desse resto pulsional como um mais além que só se inscreve na condição de ficção.

 

A ficção como limite da relação do eu com o outro

Em 1912, pouco tempo depois de escrever sobre a moral sexual civilizada, Freud recoloca o debate sobre o antagonismo da cultura e da vida pulsional no texto Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor. Especialmente nas duas últimas partes do artigo, ele desenvolve a tese de que "é absolutamente impossível harmonizar as exigências da pulsão sexual com as da cultura" (2003i [1912], p. 1717).

Na primeira parte deste artigo, Freud se ocupa da análise sobre a impotência psíquica enquanto dificuldade na realização do ato sexual. Na medida em que os estudos psicanalíticos afirmavam que esse sintoma seria independente das condições físicas, essa inibição só poderia estar relacionada com "alguma característica do objeto sexual" (Freud, 2003i [1912], p. 1710). Investigando mais detidamente, ele afirma que, tanto nos sintomas de impotência psíquica, quanto em qualquer perturbação neurótica, o que está em jogo é a proibição do incesto. Isto só poderia ocorrer se houvesse a união da corrente afetiva com a corrente sensual.

Segundo Freud, a corrente afetiva é a mais antiga delas, na medida em que se sustenta na satisfação das primeiras necessidades. Desde o início, ela carrega consigo "componentes de interesse erótico", que vão possibilitar a criança direcionar-se aos objetos para além da necessidade, enquanto escolhas para satisfação pulsional. Por esse motivo, as primeiras satisfações sexuais vão estar ligadas aos objetos de necessidade e preservação. No desenvolvimento da libido, porém, uma "barreira moral contra o incesto" impede que o adulto volte sua carga sensual para seu primeiro objeto de satisfação, fazendo com que ele substitua-o por "outros objetos estranhos", mas que possuam algum traço comum com os primeiros.

Dois fatores surgem como causa da falha no desenvolvimento da libido. Um primeiro, de ordem real - quando não é possível ao indivíduo fazer nenhum tipo de escolha - e o outro, quando ainda há um forte investimento desses objetos infantis que já deveriam ter sido abandonados. Nesses casos, a neurose se apresenta como uma estrutura que dá suporte a essa separação do laço com o outro. "A libido afasta-se da realidade, é substituída pela fantasia (o processo de introversão), intensifica as imagens dos primeiros objetos sexuais e se fixa neles" (Freud, 2003i [1912], p. 1711). Os sintomas, então, aparecem como substitutos dos objetos perdidos. Eles carregam consigo esse empuxo a retornar às condições de satisfação anteriores.

Em 1912, Freud coloca a neurose como uma situação de isolamento do indivíduo com a cultura. Contudo, os objetos primários são substituídos por fantasias inconscientes. Então, "nada se altera nesse estado de coisas, se o avanço, que é abortado na realidade, se completa agora na fantasia" (Freud, 2003i [1912], p. 1712). Nada se altera, na medida em que se mantém o laço com o outro. Porém, na sequência do texto, Freud insiste que essa substituição ficcional não é de todo bem sucedida. Diante deste impasse na escolha dos objetos, o que resulta é sua degradação, ou melhor, um deslocamento necessário. A corrente afetiva que enlaça o eu aos objetos não pode estar presente no encontro com o objeto de desejo. Como efeito, a queda do primeiro objeto de escolha.

Freud utiliza o termo "geral" (Allgemeinste), mas traduzido em português para "universal", para qualificar a depreciação como condição necessária das escolhas objetais. Esta condição, portanto, não serve apenas para explicar os sintomas individuais de impotência psíquica. Podemos encontrar o rebaixamento dos objetos sexuais "praticamente em todos os homens pertencentes a um certo nível cultural" (Freud, 2003i [1912], p. 1713). Essa parece-nos uma das contribuições mais importantesdeste artigo de 1912. É a impotência psíquica que é vista como a condição das relações: "O comportamento amoroso dos homens, no mundo civilizado de hoje, de modo geral, traz o selo da impotência psíquica" (Freud, 2003i [1912], p. 1713). Trata-se de um sintoma que não se restringe ao ato sexual, mas de uma impotência que situa o impossível da completude do eu com o outro.

Parece-nos que Freud, nesse momento, já insiste em colocar que a relação entre eu e outro se baseia em um conflito que leva a um paradoxo. O desvio de parte da pulsão sexual para o trabalho da cultura, ao mesmo tempo em que dá as condições para o desenvolvimento social, também produz as neuroses. E estas, como afirmou, "sempre conseguem frustrar os objetivos da civilização" (Freud, 2003g [1908], p. 1261). Vemos que Freud vai abdicando gradativamente da possibilidade de resolver a tensão própria da inscrição do indivíduo na cultura, até poder concluir, no Mal-estar na cultura, que algo da ordem do irredutível se faz como condição para o laço social.

No texto Minhas teses sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses, Freud escreve: "Buscar a etiologia das neuroses exclusivamente na hereditariedade ou na constituição seria tão unilateral quanto pretender atribuir essa etiologia unicamente às influências acidentais que atuam sobre a sexualidade durante a vida" (2003b [1906], p. 1241). Do mesmo modo, encontramos a intenção de se afastar do dualismo no texto de 1912 intitulado Tipos de desencadeamento da neurose. Ali, ele explicita claramente seu propósito: "A psicanálise alertou-nos de que devemos abandonar o contraste infrutífero entre fatores externos e internos, entre destino e constituição" (2003j [1912], p. 1722).

Neste texto de 1912, Freud analisa algumas situações que poderiam levar à emergência de enfermidades neuróticas. A primeira diz respeito a um "fator exterior", descrito como frustração, no qual o indivíduo mantinha sua saúde na medida em que o "objeto real do mundo exterior" o satisfazia, mas passa a desenvolver uma neurose "quando perde este objeto e não encontra nenhuma substituição dele" (2003j [1912], p. 1718). Essa frustração, causada por uma abstinência real, seria o fator ao qual a maioria das pessoas padece. Nesse sentido, pode-se ver a "importância das restrições culturais da satisfação como causa das neuroses" (Freud, 2003j [1912], p. 1718).

O segundo tipo de desencadeamento da neurose não se trata de uma consequência em função de modificações no mundo exterior, mas de um "fator interno" para alcançar essa satisfação na realidade. O eu se depara com dificuldades próprias na "tentativa de adaptar-se à realidade e atender às exigências reais, trabalho no qual se impõem obstáculos internos insuperáveis" (Freud, 2003j [1912], p. 1719). Também é próprio ao eu a criação de impossibilidades para essa ligação.

Uma criança acostumada aos cuidados paternos e que é inserida no contexto escolar; uma adolescente que dedicou praticamente toda sua vida afetiva aos pais e começa a direcionar seus desejos a outros homens; um imigrante que foi obrigado a abandonar sua cidade e teve que se readaptar a uma nova vida em cultura e língua diferentes; um trabalhador que sai do campo em direção à cidade e se vê obrigado a reorientar-se a um novo tipo de sociedade. Todos eles, afirma Freud, "caem enfermos devido às mais louváveis aspirações, se as fixações anteriores de suas libidos são suficientemente fortes para se oporem a um deslocamento" (2003j [1912], p. 1720).

Para cada pessoa, há uma reorientação necessária a ser feita no laço com o outro, no momento em que se produzem mudanças tanto de fora quanto de dentro. Em uma certa medida, todos eles têm em comum a construção de um novo registro de relações, de reinvestimentos objetais na cultura. Todos eles devem fazer um esforço de reorientação e substituição de seus objetos a fim de reencontrar seu lugar. Afirma Freud:

A modificação pela qual os doentes se esforçam, mas realizam apenas imperfeitamente ou de modo algum, tem invariavelmente o valor de um progresso do ponto de vista da vida real. Mas é diferente se aplicarmos padrões éticos; vemos as pessoas caírem doentes tão frequentemente quando põem de lado um ideal como quando buscam atingi-lo (2003j [1912], p. 1720).

Mesmo em situações nas quais se encontram uma "influência extraordinariamente poderosa do mundo externo" ou "a influência não menos importante da idiossincrasia do sujeito" (Freud, 2003j [1912], p. 1722), o que temos que levar em consideração é o fato de que, conforme afirma Freud, "a patologia não poderia fazer justiça ao problema das causas ocasionais das neuroses enquanto estivesse simplesmente limitada em investigar se estas afecções eram de natureza endógena ou exógena" (2003j [1912], p. 1722).

 

Fechamento

Neste artigo, buscamos mostrar que a questão entre eu e outro está presente na obra de Freud desde seus primeiros textos. Ela não se coloca, portanto, a partir do que se costuma denominar seja de textos clínicos ou textos sociais, mas desde o momento em que Freud pensa as causas dos sintomas psíquicos. A delimitação ao texto freudiano serve justamente para o atualizarmos, apontando que ali se encontram os elementos fundamentais para pensar essa questão e seus desdobramentos. A constituição do corpo coletivo entre a mãe e seu filho, as teorias sexuais infantis como reprodução desse corpo infantil, o romance familiar como transposição dessa relação dual para os laços sociais, a inserção na cultura e seus efeitos nas relações entre os sexos, todos esses passos nos mostram que o as elaborações clínicas de Freud, feitas há mais de cem anos, apontam para a atualidade de nossa clínica psicanalítica.

O esforço que Freud faz para abandonar a preocupação em determinar se a impossibilidade da pulsão é de ordem intrínseca ou extrínseca ao sujeito leva a pensar que é no entre ambos que se opera esta falha necessária e irredutível. Assim, o redimensionamento da relação com os objetos pulsionais leva a uma necessária modificação nas relações sociais. A pulsão circula no laço ao outro na medidaem que ali ela encontra um furo. É uma falta própria desta estrutura que a lança em seu movimento contínuo. A relação entre as pessoas é mediada pela constituição dos objetos pulsionais, que se destacam do corpo e criam aberturas para o encontro com o outro.

No escrito sobre A história do movimento psicanalítico, de 1914, Freud utiliza uma imagem musical para compreender que essa complicada relação entre a pulsão e a cultura não pode pender para nenhum dos lados: "A verdade é que essas pessoas detectaram algumas nuanças culturais da sinfonia da vida e mais uma vez não deram ouvidos à poderosa e primordial melodia das pulsões" (2003k [1914], p. 1928). Tomando em representação a sinfonia de uma orquestra como os processos civilizatórios, deve-se saber escutar que por trás da cultura se escreve a "melodia das pulsões" (Triebmelodie). Na condição de violência original das pulsões, resta algo que não pode ser orquestrado e que muda completamente o tom das harmonias. Nesse sentido, a neurose mostra a dissonância entre pulsão e cultura.

O eu deve se impor o esforço impossível de reestabelecer esse primeiro laço com o outro. Isso faz com que a pulsão tenha o trabalho de realizar uma incessante reconstrução dos objetos. O impossível de a pulsão estabilizar-se em relação ao outro é o que torna possível a sua circulação social. Assim, conclui Freud, de uma maneira quase poética, no texto Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor: "Para intensificar a libido, se requer um obstáculo; e onde as resistências naturais à satisfação não foram suficientes, o homem sempre ergueu outros, convencionais, a fim de poder gozar o amor" (2003i [1912], p. 1715).

 

Referências

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Submetido: 11/06/2016
Aceito: 30/09/2016

 

 

1 Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP - 2015/04897-0).

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