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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.12 no.1 São Leopoldo jan./abr. 2019

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2019.121.03 

ARTIGOS

 

Significados atribuídos ao relacionamento amoroso estável em jovens homossexuais do sexo masculino

 

Meanings attributed to stable romantic relationships among young homosexual males

 

 

Geysa Cristina Marcelino NascimentoI; Fabio Scorsolini-CominII

IUniversidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Rua Conde Prados, 155, Abadia, Uberaba, 38025-260, Uberaba, MG, Brasil. geysanascimento@terra.com.br
IIUniversidade de São Paulo. Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Avenida dos Bandeirantes, 3900, Monte Alegre, 14040-902, Ribeirão Preto, SP, Brasil. fabioscorsolini@gmail.com

 

 


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo compreender os significados atribuídos ao relacionamento amoroso estável em jovens homossexuais do sexo masculino. Foram entrevistados 17 homossexuais com idade média de 25,5 anos e 3,6 anos de relacionamento estável, em média. Utilizaram-se dois instrumentos: Técnica de História de Vida e Entrevista Semiestruturada. A partir da análise de conteúdo temático, nota-se que o conceito de relacionamento estável ganha diversas facetas, possibilitando analisar que não são somente as questões sociais/religiosas que podem definir um status, mas principalmente as vivências diárias e a forma como o casal se percebe. Entre os fatores essenciais para a constituição e a manutenção desses relacionamentos ao longo do tempo emergiram o respeito, a cumplicidade, o amor, bem como os planos e as expectativas compartilhados. Um dos aspectos que merece destaque nesse tema é a fidelidade. A abordagem dos conflitos nesses relacionamentos deve ser realizada em estudos vindouros.

Palavras-chave: homossexuais; namoro; conjugalidade.


ABSTRACT

The objective of this study was to understand the meanings attributed to stable romantic relationships among young homosexual males. We interviewed 17 homosexual men, with ages averaging 25.5, who were in stable relationships averaging 3.6 years. We used two tools: The Life History Technique and Semi-structured Interview. From the analysis of the thematic content, we noted that the concept of stable relationship gained various facets, allowing the analysis that they are not only social/religious issues, which may define a status, but especially the daily experiences and how the couple perceives themselves. Among the essential factors for the constitution and maintenance of these relationships over time, aspects emerged include respect, complicity, love, as well as shared plans and expectations. One of the aspects that deserve to be highlighted in this theme is fidelity. The conflicts in these relationships must be investigated in future studies.

Keywords: homosexuals; dating; conjugality.


 

 

Introdução

O amor e as relações de intimidade fazem parte da vida dos indivíduos, sendo que a capacidade de construir e manter relações íntimas é essencial para a qualidade de vida mental e a satisfação interpessoal, além de que hoje passa-se por uma etapa na qual questões de gênero ganham novos espaços para discussões, o que acarreta na maior visibilidade das relações homossexuais, homoafetivas e na homoparentalidade (Ayouch e Charafeddine, 2013; Ceballos-Fernández, 2014; Gottman e Silver, 2000; Lomando e Wagner, 2009; Puckett, et al., 2015; Scorsolini-Comin e Santos, 2012; Wu e Hart, 2002). A transição para a conjugalidade geralmente é compreendida como um período que antecede a união, podendo receber denominações como namoro e noivado. A conjugalidade, de acordo com Heilborn (2004), pode ser entendida como "uma relação social que condensa um 'estilo de vida', fundado em uma dependência mútua e em uma dada modalidade de arranjo cotidiano, mais do que propriamente doméstico" (p.11). E para Luz (2015), a homoconjugalidade pode ser compreendida como sendo um relacionamento afetivo-sexual entre pessoas do mesmo sexo.

Desse modo, o relacionamento amoroso estável passa a ser visto como um "contrato" que acontece antes do casamento com o intuito de aproximar o casal, além de permitir uma vivência afetiva. Tal noção do que vem a ser um relacionamento estável é premente na literatura científica, predominando estudos ligados ao casamento, bem como às novas formações do núcleo familiar (Féres-Carneiro, 1997; Gato et al., 2015; Nina e Souza, 2012; Silva, 2008; Scorsolini-Comin et al., 2016; Solórzano e Mendonza, 2014; Zordan et al., 2005).

O namoro pode ser entendido como o estabelecimento da associação entre duas pessoas, com o intuito de que ambas permaneceram em tal relação. A presença momentânea e explícita do amor tem um papel fundamental na aproximação e fortalecimento da relação entre os parceiros, o que resulta na promoção de comportamentos que exprimem compromisso e reciprocidade no relacionamento (Fonseca e Duarte, 2014).

Giddens (1993) nomeia o namoro como um "relacionamento puro", por ser "um relacionamento centrado no compromisso, na confiança e na intimidade, de modo que os parceiros tenham garantias da estabilidade do relacionamento ao mesmo tempo que este deve durar enquanto for satisfatório para ambas as partes" (p. 56). Para Araújo (2002), o namoro indica uma melhor manutenção das relações de gênero, sendo caracterizado por uma parceria que visa à valorização do respeito mútuo e não às normas sociais apenas, o que promove uma relação pessoal democratizada. No entanto, em um mundo no qual as delimitações semânticas em torno dos relacionamentos amorosos são constantemente revistas, há que se considerar que nem sempre é possível elencar uma definição precisa desse tipo de parceria, haja vista outras denominações consideradas recentes, como o "ficar", o "pegar", os "namoridos", entre outras possibilidades (Fonseca e Duarte, 2014; Scorsolini-Comin et al., 2016). Ainda assim, podemos pensar no namoro como um relacionamento no qual há uma aliança, um compromisso, um sistema de regras próprio de cada casal que organiza e direciona o modo como os parceiros vão interagir, dentro de uma expectativa de estabilidade.

As motivações para se estabelecer um relacionamento amoroso estável estão ligadas às expectativas para cada um enquanto parceiro, ao casamento, ao que ambas as famílias de origem esperam, ao casamento enquanto instituição e quanto ao esperado do parceiro ideal. Segundo Baucom et al. (1996), as expectativas relacionam-se com "previsões sobre o futuro da relação em áreas específicas do funcionamento conjugal" (p. 10). De acordo com Juvva e Bhatti (2006), as normas sociais e o contexto sociocultural em que vivem contribuem para a construção da relação do casal, bem como as experiências e estruturas familiares desde a infância, além das experiências românticas e os meios de comunicação social.

A maior parte dos estudos no campo da conjugalidade e do namoro dedica-se à compreensão dos arranjos heterossexuais, havendo ainda um número não tão grande de investigações no contexto brasileiro que aprofundam aspectos do relacionamento afetivo entre pessoas do mesmo sexo (Ferrari e Andrade, 2011; Miskolci, 2015; Moscheta e Santos, 2006; Mosmann et al., 2010; Silva, 2008). A compreensão da conjugalidade homossexual mostra-se relevante justamente por permitir uma reflexão em torno de configurações amorosas ainda consideradas à margem da lógica heteronormativa (Andrade e Ferrari, 2009; Fazzano e Gallo, 2015; Meletti e Scorsolini-Comin, 2015).

De acordo com o IBGE (2011), em levantamento realizado no ano de 2010, há no Brasil cerca de 60 mil casais do mesmo sexo em coabitação. Embora esse número possa ser maior, observa-se uma tendência a dar visibilidade a esses casais, tanto social, jurídica como cientificamente (Chapman et al., 2012; Silvestre e Figueiredo, 2013; Tavares et al., 2010), o que torna importante conhecer como os relacionamentos estáveis de namoro e casamento, predominantemente compreendidos a partir de modelos centrados no modo heteronormativo, são entendidos e experienciados pelos protagonistas desses processos, ou seja, pelos casais do mesmo sexo (Scorsolini-Comin e Santos, 2012). Menezes e Lopes (2007), fizeram um estudo acerca de casais que coabitam e os que não-coabitam, visando conhecer tal experiência antes do casamento. Em suma, concluíram que o indivíduo não está isolado, fazendo parte do meio social no qual se encontra inserido, sendo a coabitação um contato interessante para sua evolução no novo ambiente - o possível futuro casamento. Sendo assim, a coabitação colabora para que o casal se aproxime e tenha uma experiência acerca da vida de casados - o que pode ajudá-los a optar ou não por permanecerem juntos e/ou casar oficialmente.

Além disso, há que se considerar que, historicamente, a figura do homossexual (notadamente do sexo masculino) foi sendo construída como a de um ser promíscuo e com vários parceiros sexuais, o que dificultava o estabelecimento de relacionamentos mais longevos ou estáveis (Meihy, 2006; Mott, 2006; Silva, 2008; Trevisan, 2011), ou, pelo menos, que dificultava que relacionamentos mais duradouros pudessem ser associados àqueles entre pessoas do mesmo sexo (Nascimento et al., 2015). A partir dessas considerações, o presente estudo teve por objetivo compreender os significados atribuídos por jovens adultos homossexuais do sexo masculino aos relacionamentos amorosos estáveis, ou seja, namoro e casamento.

 

Método

Delineamento

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório e de corte transversal, embasado na abordagem qualitativa de pesquisa.

Participantes

Foram entrevistados 17 homens - dentre eles, alguns são casais - que se declararam homossexuais, que mantinham um relacionamento estável do tipo namoro/casamento com duração mínima de dois anos. A idade média foi de 25,5 anos (DP = 5,568) e tempo médio de namoro de 3,6 anos (DP = 2,48). A caracterização completa da amostra encontra-se na Tabela 1.

Instrumentos

Foram utilizados dois instrumentos: Técnica de História de Vida e Entrevista Semiestruturada. A primeira trata-se de uma técnica livre que visa a investigar de que modo a pessoa constrói explicações e descrições para a própria trajetória, elencando momentos, eventos, situações e relacionamentos que sejam considerados relevantes para a construção da sua identidade (Meihy, 2006). A Entrevista Semiestruturada foi desenvolvida pelos pesquisadores a partir dos objetivos deste estudo, contendo questões referentes à história de vida do participante, suas experiências amorosas, processos de desenvolvimento ligados à homossexualidade, experiência do namoro estável e perspectivas futuras em termos de relacionamentos afetivos.

Procedimentos éticos e de coleta de dados

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de origem dos autores (Protocolo nº 2162). Inicialmente, por meio da rede social dos pesquisadores, fez-se contato via telefone com os possíveis participantes, explicando acerca do tema e dos objetivos do projeto. Vale ressaltar que os entrevistados não mantinham vínculo direto com os pesquisadores, sendo que o recrutamento foi feito por meio de indicações da rede social dos mesmos, mantendo, deste modo, a validade das respostas, respeitando as questões éticas. Após aceite, foram agendadas entrevistas individuais e face a face. Os encontros foram realizados na residência dos respondentes e também em salas reservadas no serviço-escola de Psicologia de origem dos autores. Em todas as situações, foram respeitadas as normas éticas para pesquisas envolvendo seres humanos. As entrevistas tiveram duração média de uma hora e foram audiogravadas mediante o consentimento do participante. Foram transcritas na íntegra e literalmente para posterior análise, compondo o corpus.

Procedimentos de análise de dados

As entrevistas transcritas foram analisadas horizontalmente, ou seja, de modo integrativo, substituindo os nomes verdadeiros dos entrevistados e os demais nomes por eles citados durante as entrevistas por fictícios, a fim de garantir o sigilo das informações e preservar a identidade destes. Foi empregada a análise de conteúdo temático, definida por Turato (2003) como aquela que busca nas expressões verbais ou textuais os temas gerais recorrentes que fazem a sua aparição no interior de vários conteúdos mais concretos. Dessa forma, o tema corresponde a uma esfera psicológica, não apenas linguística. Os núcleos temáticos foram construídos por meio das falas que mais apareceram durante as entrevistas. Temas como namoro/casamento, confiança, família, sexualidade e motivos para se manter um relacionamento estável emergiram no processo de análise, resultando em três categorias que serão apresentadas na seção de Resultados e Discussão. Essas categorias foram analisadas teoricamente a partir dos estudos nas áreas de conjugalidade, sexualidade e as novas constituições familiares (Cadieux e Chasteen, 2015; Etengoff e Daiute 2013; Féres-Carneiro, 1997; Ferrari e Andrade, 2011; Grossi et al., 2007; Heilborn, 2004; Meletti e Scorsolini-Comin, 2015; Miskolci, 2009; Moscheta e Santos, 2006; Mosmann et al., 2010; Parreiras, 2008; Silva, 2008).

 

Resultados e discussão

A análise das entrevistas resultou em três categorias temáticas: (a) "Esse meu namoro é um casamento": comparação entre namoro e casamento; (b) Respeito, confiança e fidelidade: o tripé para uma boa relação; (c) Afetos, rotinas e experiências: análise acerca dos pontos positivos e negativos de se manter um relacionamento estável. Na Tabela 1, pode-se conhecer brevemente acerca de algumas características dos participantes como idade, escolaridade, profissão, religião, tempo de relacionamento e se coabita ou não com o parceiro.

"Esse meu namoro é um casamento": comparação entre namoro e casamento

O namoro, de um modo geral, visa a proporcionar uma fase de conhecimento do outro, sendo o desejo de ambos aprofundar a relação até o casamento ou uma união estável, permitindo também uma preparação para assumir os deveres e responsabilidades que um lar exige. O relacionamento estável entre pessoas do mesmo sexo revela a realidade social na qual essas pessoas vivem como companheiros, tendo o afeto como fator primordial de união entre o casal, além de um sentimento comum de pertencimento a um núcleo familiar, prestando apoio mútuo emocional e financeiro um para o outro, construindo patrimônios, o que apresenta para a sociedade a natureza familiar de tal relação (Costa et al., 2015; Fontanella, 2006; Guimarães, 2009; Mello, 2005; Perucchi et al., 2014). E para que a sociedade seja renovada e diversificada, a homoconjugalidade pode ser vista como uma construção de novas formas de expressão amorosa, bem como uma forma de desconstruir paradigmas relacionados ao modo como uma família deve ou não ser constituída, além dos papeis desempenhados por cada membro que a compõe (Silva, 2008). Assim como mencionado pela literatura, pode ser observado na fala de grande parte dos entrevistados, que o processo de morarem juntos, surgirem as atividades domésticas e as despesas financeiras foi natural, sendo que a união entre o casal favoreceu para que o cotidiano fosse adaptado às necessidades de cada um, bem como à demanda da casa. Além disso, os entrevistados relatam que o fato de passarem mais tempo juntos favorece o fortalecimento do vínculo não apenas do amor romântico, mas também da divisão das responsabilidades, o que, além de ajudar nas tarefas cotidianas, colabora para que a relação ganhe traços de estabilidade e faz com que o casal se sinta mais seguro. Renato conta que

(...) Eu sempre fiz de tudo. Sei cozinhar, sei lavar, sei passar, sei fazer de tudo, então sempre eu fazia tudo. Aí ele chegava e tava tudo pronto. Aqui não. A gente mudou pra [nome da cidade], a gente divide. Ele lava, a gente pega comida fora, porque não dá tempo, porque nosso tempo é muito pouco pra chegar em casa e fazer comida, então ele busca a comida, eu lavo a louça, então a gente dividiu bem dividido assim. A despesa é dividida pra dois. (...)

No que tange ao casamento, este vem sofrendo mudanças ao longo do tempo, inclusive com o advento do divórcio e das diversas possibilidades de arranjo familiar observadas na contemporaneidade (Giddens, 1993; Mello, 2005; Miskolci, 2007; Santos, et al., 2007). Miskolci (2007) reforça a ideia de que, há poucas décadas, a ideia de casamento e a identidade homossexual eram vistas como possibilidades opostas e, talvez por isso, atualmente ainda possa causar grande impacto social, de modo que a população veja o tema como algo polêmico e difícil de ser compreendido. Ainda para o autor, os valores tradicionais e a hierarquia entre os sexos são pontos que causam mudanças sociais diante da possibilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que gera temor para aqueles que acreditam que a população gay seja uma ameaça ao equilíbrio social. Este fator citado pelo autor pode ser observado na fala de Davi, que relata que seus pais não podem saber acerca da sua homossexualidade por serem tradicionais, ou seja, heteronormativos, o que impossibilita os pais de pensarem nas novas possibilidades de formações de núcleos familiares do que não heterossexuais.

A aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil tem promovido diversos debates que extrapolam a questão dos direitos e deveres na constituição de um contrato matrimonial, repercutindo no modo como esses arranjos têm sido compreendidos, aceitos, legitimados e também investigados cientificamente (Ferrari e Andrade, 2011; Luz, 2015; Mello 2006; Scorsolini-Comin e Santos, 2012). Para Grossi et al. (2007), faz-se necessário refletir acerca das questões relacionadas à homoconjugalidade, levando em consideração e fazendo contraponto com as regulamentações feitas no exterior e a realidade no Brasil. Também vale pensar sobre as novas formações familiares, a reprodução social e os reflexos que a conjugalidade tem proporcionado na sociedade.

De acordo com a literatura, os tipos de casamento considerados no país atualmente são o civil e o religioso, sendo a união estável e o casamento civil permitidos para casais do mesmo sexo. Essas uniões atualmente são reconhecidas como uma nova formação nuclear de família. Mesmo com diversos avanços em termos da visibilidade dos movimentos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgêneros e travestis), ainda são observados preconceitos ao que se refere à união homoafetiva, uma vez que esta representa mudanças, ampliações e subversão de um histórico heterossexual (Etengoff e Daiute 2013; Mott, 2006; Nina e Souza, 2012; Luz, 2015; Silvestre e Figueiredo, 2013; Tavares et al., 2010). Vale ressaltar que nenhum dos entrevistados é casado no civil. Alguns optaram por morar juntos, evitando, assim, o embate com pessoas da família que não aceitam a homossexualidade. Contudo, relatam o desejo de se casarem oficialmente. É importante que cada vez mais de desmistifique e se desnaturalize a ideia de família nuclear e do modelo heteronormativo como sendo um modelo no qual os indivíduos devem se embasar para constituir suas famílias (Silva, 2008). Ainda para o autor, as relações homoafetivas são baseadas no afeto, respeito, companheirismo, além de serem reconhecidos como uma família perando a sociedade, contribuindo para a manutenção da relação do casal.

De acordo com Silvestre e Figueiredo (2013), a Constituição Federal de 1988 não faz menção ao que vem a ser denominado por família em seu artigo 266 e, sendo assim, tal norma traz amplitude para o conceito de família. Interpretando esta norma, nota-se que o artigo é de inclusão, logo, abriga a família homoafetiva. Para o autor, "os parceiros homossexuais também são capazes de manter uma relação duradoura, pública e contínua, como se casados fossem, podendo formar uma família como qualquer outra" (p. 304). Para Fontanella (2006), essa nova família "é constituída pelo conjunto de pessoas unidas pelo afeto, independentemente de existir união formal ou procriação" (p. 81). Como pode ser observado na fala de Juliano, o entrevistado conta sobre a satisfação de ter um companheiro e poder desfrutar da relação dos dois, como foi mencionado pela literatura, não apenas em bons momentos, mas também em situações conflituosas, sendo o companheirismo um dos aspectos que favorece a estabilidade nas relações, além da resolutividade dos problemas:

Ah, estar junto é muito bom. Chegar em casa e ter uma pessoa te esperando é muito bom. Ter alguém que te ampare nos momentos assim de tristeza é muito bom, sabe, ter aquele apoio emocional, aquele apoio afetivo, ter uma outra família [família construída por ele e o companheiro] com quem você pode contar também é muito bom.

Para alguns dos entrevistados, o namoro já é visto como um casamento. Nota-se também a ideia de "pré-casamento", como dito pelo participante Ricardo que define seu relacionamento como sendo um

(...) amigo que transa e que ao mesmo tempo é companheiro. Porque no momento, por exemplo, eu não posso usar a definição de companheiro pra vida toda, porque eu imagino que isso seja pra casamento, que apesar de imaginar que eu vou ficar com o Davi aí por, hoje eu imagino que eu vá ficar com ele em um relacionamento bem duradouro, tipo aqueles "até que a morte nos separe" (...).

Luiz também compartilha da ideia de Ricardo, dizendo

(...) Eu acho que no namoro faz parte uma prévia do que que vai ser no casamento. A gente convive menos tempo do que em um casamento, mas já é um tempo razoável de se ver mais. Então é um teste pra ver se a gente dá certo com a pessoa que a gente tá, se é um parceiro que a gente considera próximo do ideal (...)

Para Zordan et al. (2005), o casamento passa por rituais sociais e é comemorado por meio de normas, costumes sociais e valores. Ao contrário do que é afirmado pelas autoras, Roberto se considera casado com seu companheiro, pois a convivência é mais séria por morarem juntos. Com isso, dividem as alegrias, vivem as mesmas angústias, as mesmas dívidas e as mesmas dificuldades, sendo o diálogo e o companheirismo essenciais para a manutenção da relação. Conta também que

(...) A gente faz tudo junto, tudo, tudo, tudo. Não tem nada que não façamos juntos, a não ser trabalhar, que é separado. A gente sai, vai em boate, bar, às vezes viaja e é um dia-a-dia normal. [...] Tenho ele hoje como o meu melhor amigo. Acho que antes de qualquer coisa ele é um grande amigo meu, uma companhia minha (...)

Para Matos (2000) e Heilborn (2004), tais práticas conjugais colaboram para o fortalecimento e reconhecimento do casal, consolidando os aspectos da vida cotidiana deles, como, por exemplo, ao dividirem as despesas do lar e as atividades domésticas, o cuidado com o outro, a relação de amizade e companheirismo, bem como o respeito na relação. Dessa forma, nota-se que o casamento, mais do que costumes sociais, é a forma como cada participante se sente diante de suas vivências. Para Daniel, seu casamento é vivenciado em pequenos momentos, "(...) é bom um deitar no colo do outro, assistir um filme em casa, arrebentar uma pipoca e tomar um refrigerante. Olha, a gente se diverte só os dois. Tipo assim: "vamos sair?", só nós dois a gente se diverte (...)".

Como nos estudos de Wu e Hart (2002), a coabitação tornou-se algo natural na vida dos namorados, passando a ser não apenas mais uma nova forma de constituição familiar, mas principalmente, um evento normativo do ciclo de vida dos indivíduos, como pode ser observado na fala de Renato, que acredita que "meu namoro é um casamento" em comparação ao seu último relacionamento homossexual. Ele mora com seu companheiro e acredita não ter mais fatores apenas do namoro em sua relação. Já vivem as responsabilidades de casados, têm bens juntos, o que vai além do namoro na visão dele. No que se refere às diferenças entre namoro e casamento, Ronaldo acredita que o namoro

é diferente do casamento, onde você divide tudo, mas as pessoas passam a fazer parte uma da vida da outra, não com tanta influência como no casamento, mas elas passam a fazer parte da vida uma da outra, e ter exclusividade, senão não é namoro.

Para Féres-Carneiro (1997), tal noção de individualidade faz parte de um dos temas centrais diante da escolha do casamento. Para Silva (2008), são as individualidades singulares que constituem o cotidiano do viver a dois. É possível analisar na fala de Ronaldo a diferenciação feita entre a conjugalidade e a individualidade que o namoro possibilita. Ao contrário das falas anteriores, o entrevistado acredita estar vivendo um relacionamento estável, visando a um casamento futuro, o que reafirma que cada indivíduo sente, entende e tem uma definição subjetiva do seu atual relacionamento.

Em suma, percebe-se que o conceito de relacionamento estável ganha diversas facetas, possibilitando analisar que não são somente as questões sociais/religiosas que podem definir um status, mas principalmente as vivências diárias e a forma como o casal se vê. O casamento, assim como visto tradicionalmente, parece apontar para uma relação de maior comprometimento e associada à indissolubilidade (Féres-Carneiro, 1997; Scorsolini-Comin e Santos, 2012). Em contrapartida, o namoro, apesar de possuir estabilidade, nas falas dos respondentes, poderia ser rompido e repensado em função da avaliação que os cônjuges realizam do relacionamento, o que nos permite compreender que nem sempre há uma clara distinção entre o namoro e o casamento.

Nota-se que os entrevistados se situam diante de um duplo movimento: o de assimilar o namoro como um casamento devido a aspectos que envolvem afetividade, intimidade e divisão de tarefas domésticas típicas da coabitação, e o de perceber o namoro como uma fase anterior ao casamento, de preparação, de avaliação para a tomada de decisão em torno de uma relação de maior estabilidade e responsabilidade. Mais do que um ritual religioso, as alegrias e os obstáculos cotidianos são fatos que selam a relação entre estes casais (Diamond e Shpigel, 2014; Feinstein et al., 2014; Zordan et al., 2005).

Respeito, confiança e fidelidade: o tripé para uma boa relação

Não há dúvidas de que comportamentos infiéis podem trazer consequências negativas para a vida conjugal. Tendo em vista que a monogamia indica fidelidade sexual e emocional e é notada como uma norma para grande parte dos casais (Fife et al., 2008; Haack e Falcke, 2013; Viegas e Moreira, 2013), a permissão da chegada de um terceiro elemento na intimidade sexual e/ou emocional pode ser sentida como um rompimento com a quebra do compromisso e da confiança entre o casal.

Desse modo, a conjugação entre os julgamentos da traição e o investimento amoroso estremecem a segurança e a estabilidade que são o alicerce para um relacionamento estável saudável, não apenas do casal, mas também das famílias de origem. Para muitos casais, as consequências da infidelidade podem resultar em uma dor profunda, sentimento de incerteza e de desconfiança, levando aos casais a possibilidade de se sentirem abandonados pelo companheiro. Assim, a crise relacional pode surgir, ocasionando a perda de perspectiva de futuro e sentimento de não-controle, tornando incerta a possibilidade de reaproximação do casal (Fife et al., 2008; Silva, 2008).

Para os entrevistados, o relacionamento estável deve ter como base a confiança. Nenhum dos entrevistados relatou ter descoberto uma traição do parceiro, contudo, todos citaram a fidelidade como um fator primordial para manter a relação. Para Davi, a traição é um fator que não perdoaria. Ele diz: "trai o meu amor, trai a minha paixão, mas não trai a minha confiança". Namoro para ele é estável devido ao tripé que o compõe: respeito, confiança e fidelidade. André nos conta que, "(...) namoro pra mim assim, tem que ter confiança, além de gostar da pessoa também (...). Relacionamento estável é isso: confiar na pessoa, amar, respeitar". Daniel também ressalta a importância da confiança. Segundo ele, confiando você passa a construir coisas juntos de forma serena e que a confiança leva à plenitude do amor: "é quando você não precisa correr contra o nada, contra o tempo, e viver aquele momento simples".

O local de trabalho e a internet são as principais locais onde as traições costumam acontecer, de acordo com estudos (Cadieux e Chasteen, 2015; Miskolci, 2013; Treas e Giesen, 2000). Nota-se que a internet proporciona a possibilidade de vivenciar a homossexualidade e as questões ligadas à sexualidade de um modo geral, o que nem sempre ocorre fora do mundo virtual (Miskolci, 2013). Com relação às diversas formas de infidelidade, atualmente encontra-se uma nova triangulação: o casal e a tecnologia. Os contatos virtuais têm substituído os contatos pessoais, o que pode favorecer as insatisfações e as queixas de infidelidade entre os casais. Os meios eletrônicos proporcionam aos casais a busca por significados, as escolhas que a vida aponta e principalmente levanta questionamentos acerca das definições do que vem a ser secreto e a privacidade, além de ser um modo se liberar de certas restrições que o "armário" impõe (Miskolci, 2009). Desta forma, Luiz entende a confiança como algo que molda e entra na privacidade do outro, tem acesso às senhas de redes sociais e do celular do namorado. Conta que

(...) porque eu acho que namoro estável você tem que fechar as suas portas pras outras pessoas que são de interesse sexual. Então não existe você tá namorando com aquela pessoa, você tá com interesse de evoluir naquela relação e de repente te liga um número querendo ficar com você. Isso é ridículo. Eu sei, nesse ponto é um pouco conservador demais, ciumento demais, mas ainda bem que o Mateus pensa igual a mim.

Luiz rastreia os passos do namorado e monitora suas conversas. Já Fernando relata que

(...) Você tem que tá respeitando a privacidade do outro. Igual eu sempre falo, você tem que ter tempo pra tudo. Seu tempo pra você ir nos seus amigos, tá visitando família, pra estudar, então eu acho que o namoro é isso, é tá sempre respeitando a privacidade do outro. [...]Então, eu acho que o namoro é isso: confiança, respeito e amor acima de tudo.

De acordo com Arent (2009), a (in)fidelidade remete a contradições no que tange aos valores tradicionais, como a segurança, estabilidade e a fidelidade, e aos valores modernos, como a experimentação, autonomia e independência. Para a autora, há uma fidelidade ilusória, uma vez que os cônjuges preferem ter suas próprias crenças - de que não foi traído, por exemplo - a ver a realidade que os cercam. De modo semelhante, no estudo de Silva (2008), os entrevistados também citam a ideia ilusória da fidelidade, compreendendo que pode ser que nem sempre o companheiro seja exclusivo. Outros entrevistados colocam a fidelidade em um plano ético e moral, e outros, como a fidelidade sendo algo circunstancial. Para Lopes (2010), na conjugalidade contemporânea têm-se a expectativa de se vivenciar uma exclusividade afetiva, assim como foi esperado por grande parte dos entrevistados nos estudos citados. Dessa forma, nos trechos apresentados, nota-se que a fidelidade é cobrada e mesmo que se diga confiar no outro, há aqueles que preferem ficar atentos e outros que confiam plenamente em seus parceiros.

A fidelidade é um atributo que parece estar associado à intimidade, na medida em que controlar comportamentos, conversas e interações é visto por alguns como uma invasão e por outros como uma necessidade do relacionamento, algo considerado cotidiano. É lícito refletir que a violação da privacidade pode deflagrar vinculações consideradas inseguras, de modo que a intimidade pode ser confundida com permissividade em relação a práticas de controle do parceiro (Meihy, 2006). No contexto das relações entre pessoas do mesmo sexo, sobretudo em homens, há que se recuperar que, historicamente, a homossexualidade esteve associada a comportamentos promíscuos, à existência de muitos parceiros sexuais, dificultando o estabelecimento de relacionamentos estáveis (Mott, 2006; Trevisan, 2011). Essa consideração pode nos ajudar a compreender de que modo a desconfiança (e a necessidade de confiar no parceiro, respeitá-lo e não traí-lo) mostra-se presente nos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Pelas falas dos respondentes, não há diferenças entre namoro e casamento no que se refere à fidelidade, respeito e confiança. Têm-se que este tripé sustenta os relacionamentos aqui estudados, uma vez que todos os candidatos citaram ao menos uma dessas palavras em seus discursos. A palavra "traição" surgiu em todas as falas, seguidas de afirmações que constatavam a importância do respeito nas relações. As cobranças implícitas ou explícitas dos parceiros demonstraram que, embora a confiança exista entre o casal, há sempre um reforço para que o companheiro se lembre da relevância do respeito entre eles.

Desse modo, nos relacionamentos estudados a fidelidade é considerada uma forma de estruturar e possibilitar o enlace afetivo. No estudo de Féres-Carneiro (1997), a fidelidade foi um atributo significativamente mais valorizado pelos homens heterossexuais do que pelos homossexuais, não estando entre os atributos mais valorizados pelos homens homossexuais em seus relacionamentos, o que difere dos achados do presente estudo, o qual constatou que os homossexuais têm a fidelidade, o respeito e a confiança como base e suporte para se manter um relacionamento estável. Vale ressaltar que o conceito de fidelidade varia de entrevistado para entrevistado, sendo que em dois casos a fidelidade era considerada não manter relações com outras pessoas longe do parceiro, mas que com o parceiro presente poderia haver relações com outras pessoas. Desse modo, deve-se levar em consideração o que cada indivíduo entende por fidelidade, traição e respeito, englobando os aspectos por eles apresentados. Faz-se necessário lembrar também que, embora os conceitos de traição e fidelidade apresentem significados diferentes entre os entrevistados, todos eles esperam o mesmo do parceiro, que é o respeito entre eles, não violando as regras por eles combinadas. A presença destas três premissas juntas - respeito, confiança e fidelidade - se fizeram presentes nas falas de grande parte dos entrevistados, de modo que enfatizaram a valorização de tal tripé para uma boa relação.

Afetos, rotinas e experiências: análise acerca dos aspectos que mantêm um relacionamento estável

As relações homoafetivas têm recebido maior visibilidade na literatura científica, com o intuito de se combater preconceitos e promover uma cultura de mais tolerância e respeito à diversidade (Nascimento et al., 2015). Para Moscheta e Santos (2006), na construção da relação homossexual tem destaque a busca por modelos de relação e desenvolvimento criativo de um modo diferenciado de conjugalidade, a fim de que haja a diferenciação do que já é tradicionalmente vivido, visando à expansão das vivências conjugais dos casais.

Para Silva (2008), o momento de escolher o parceiro e se decidir por manter um relacionamento estável releva uma ocasião interessante para compreender como a sociedade atua nas pessoas, traçando escolhas, preferências e também aquilo que não se gosta no outro. No que tange às motivações para se manter um relacionamento estável, os participantes destacam a importância de uma convivência harmônica, caracterizada pela troca e pela construção de planos em comum. Os planos individuais também parecem ser dialogados pelo par, o que revela a consolidação de uma conjugalidade na qual há o respeito pela individualidade de cada cônjuge (Féres-Carneiro, 1997), como pode ser visto na fala de Ricardo, que conta que "a gente tem alguma coisa pra conversar diferente do nosso dia-a-dia todos os dias, nem que seja a coisa mais trivial possível, mas a gente tem", e também no caso de Roberto que diz que "só temos boas expectativas, só fazemos bons planos; eu sonho, realmente, em envelhecer ao lado dele". Contudo, as dificuldades também surgem e, embora os entrevistados mencionassem muitos pontos positivos de suas relações, também há o lado negativo como, por exemplo, o fato de terem idades e interesses diferentes, como no caso de Renato. Ele é mais novo que seu parceiro e ainda está na faculdade, enquanto seu companheiro já é pós-graduado e tem a vida financeira estável. O ponto negativo é que enquanto Renato quer ir para as festas da faculdade, seu companheiro prefere ficar em casa lendo livros ou vendo filmes, não impedindo que ele frequente as festas. Mas o que o entrevistado gostaria é de que seu parceiro frequentasse os mesmos locais que ele, pois entende que o relacionamento é estável e fazer as atividades juntos é importante para a manutenção da relação.

Foi solicitado que cada participante trouxesse uma definição acerca do que é um relacionamento estável, tendo como base não apenas os conceitos trazidos por cada um, mas fundamentalmente suas experiências conjugais. Nota-se que as palavras que mais se destacaram quando a pergunta foi "Como você define um relacionamento estável?" foram respeito, companheirismo, amizade, cumplicidade e lealdade. Como pode ser visualizado na Tabela 2, cada entrevistado trouxe sua impressão acerca do relacionamento atual, o que envolve suas percepções acerca das definições do que é um relacionamento estável.

Para Ricardo, Alex, Roberto, Mateus, Renato, Luciano, Mauro, André e Daniel, um ponto forte de suas relações é o companheirismo e a cumplicidade que encontram em seus parceiros. Falam sobre os pontos positivos que notam, que são o fato de terem sempre um companheiro por perto, de terem com quem contar em momentos de alegrias e dificuldades, principalmente pela segurança que sentem em suas relações. Um ponto positivo que surgiu foram os planos para o futuro. De acordo com Moscheta e Santos (2006), uma forma de oferecer sustento à relação é por meio dos planos e dos sonhos. Vale ressaltar a importância de se preservar os planos pessoais e, ao mesmo tempo, comungar de sonhos do casal, o que fica expresso na fala de Ronaldo, por exemplo

Então tanto eu como ele pensamos em estudar, pensamos em fazer uma pós, um mestrado, um doutorado, alguma coisa nesse sentido assim e sempre buscar mais. Eu acho que esse é um dos pontos mais fortes no nosso relacionamento. Outros são que a gente tem os pés bastante no chão, [...] Quando a gente caminha junto, pensa junto, acaba fortalecendo mais. (Ronaldo)

De um modo geral, um ponto fraco que causa a maior parte das dificuldades nos relacionamentos são as diferenças de personalidade e de comportamento, bem como o ciúme, o que foi deflagrado nas falas de Fernando, Ronaldo, Juliano, Douglas, Davi, Vitor, Renato, Luciano, Daniel e Mauro. Para Gottman e Silver (2000), o namoro/casamento se trata da união de dois indivíduos que levam consigo opiniões, valores e peculiaridades. Sendo assim, mesmo casais que se consideram felizes poderão enfrentar problemas conjugais, resultando em incômodo e irritação e, em outros casos, a opressão pode se fazer presente. Casais que não se permitem envolver no negativo das relações tendem a ter relacionamentos mais construtivos, reduzindo os conflitos, tendo mais aprovações e menos críticas e discordâncias (Madhyastha et al., 2011).

Para Féres-Carneiro (1997), cada casal é único e formado por duas individualidades que compõem a conjugalidade. Segundo a autora, cada um dos cônjuges carrega consigo uma história pessoal, uma identidade, expectativas, planos e sonhos que, diante da relação conjugal, tornam-se projetos em comum, a identidade conjugal. Dessa forma, faz-se necessário o equilíbrio entre as vivências e expectativas entre o casal, a fim de que juntos possam construir e desfrutar de uma realidade comum. Silva (2008) afirma que, para fortalecer a união entre casais do mesmo sexo, aspectos do cotidiano como a divisão das tarefas domésticas, divisão das despesas financeiras, o contrato de lealdade e fidelidade, a parentalidade, entre outros, são fundamentais para que isto aconteça. Por meio das falas, pode ser observado que grande parte dos entrevistados adotam tais medidas citadas por Silva, resultando em uma relação não com ausência de conflitos, mas equilibrada dentro dos limites e potencialidades de cada casal.

Outro ponto destacado por Roberto, Douglas e Daniel está ligado à idade e ao envelhecimento. Relatam que sentem o amadurecimento diante da relação, bem como nas atitudes e pensamentos perante as situações. Entendem também que o tempo passou e que hoje podem dar um maior suporte aos seus companheiros devido às experiências adquiridas ao longo dos anos. Contudo, esse processo pode também colaborar para o surgimento de atritos devido à forma diferente que o parceiro tem de pensar, o que se relaciona também à personalidade e características pessoais. Para Moscheta e Santos (2006), o envelhecimento dos parceiros pode acarretar maiores dificuldades e limites na relação, mas pode ajudar na manutenção da conjugalidade. Roberto conta que:

Nunca parei para pensar nisso [facilidades e dificuldades da relação], porque é tão normal nosso dia-a-dia, tão corriqueiro que não tem nada que facilite ou que dificulte. [...] Eu acho que o relacionamento homossexual às vezes pensa-se que é uma coisa de bicho de sete cabeças. Eu já vejo como um relacionamento normal, [...] O que é as dificuldades da vida? É pagar as contas, é conseguir conciliar os horários, o dia e tal, é o que são as dificuldades que eu penso.

Ainda acerca do entendimento e da descrição de namoro estável, pode-se observar na Tabela 2 a aparente simplicidade com que as definições foram feitas. Foram levadas em consideração as vivências cotidianas, o bem-estar da companhia um do outro, destacando também as brigas por fazerem parte da relação e que estas devem ser encaradas como algo natural, não permitindo que o relacionamento se deixe levar pelos pontos negativos. Observa-se também a necessidade de confiar no parceiro e respeitar o amor e o compromisso que foi assumido, como podemos observar nas falas a seguir:

Ah, que nem eu tinha te falado, é a gente se entender, a sintonia, entendeu, acho que é um ponto forte. Um sempre tá ajudando o outro, um sempre tá compreendendo, porque o ser humano é assim, tem dia que você tá bem, tem dia que você não tá bem, [...]. (Fernando)

Eu acho que os pontos fortes assim é a cumplicidade, a gente ajuda um ao outro nos momentos difíceis, a gente sempre conversa, acho que é, posso dizer que o ponto forte mesmo tem sido desde o início a cumplicidade um para com o outro, [...] E eu acho que justamente essa atitude de um ajudar o outro nos momentos difíceis é que fortalece o relacionamento [...] (Alex)

Estudos que avaliaram a qualidade dos relacionamentos afetivos atestam que indivíduos com maior desenvolvimento da conjugalidade tendem a estabelecer relações mais sadias e próximas com seus parceiros de interação, apresentam maior facilidade de expressão do afeto, usam estratégias de resolução de conflito mais construtivas, tendo alto grau de satisfação em suas relações e identidades bem estabelecidas (Mosmann et al., 2010; Silva, 2008). Nota-se, por meio da fala dos entrevistados, que estes apresentam boa qualidade em seus relacionamentos, uma vez que, em seus discursos, remetem-se de maneira saudável às vivências conjugais, bem como buscam consolidar seus planos por meio da partilha, da confiança e, principalmente, do amor. Contudo, em momentos durante as entrevistas, nota-se que há presença de atritos entre o casal, porém, eles não reforçam o negativo, mas sim, o positivo da relação.

As definições envolvem aspectos como confiança, fidelidade, amizade e compromisso, revelando que esses são atributos que tanto balizam o que é um relacionamento estável como mostram pontos valorizados pelos parceiros na construção de um relacionamento de casal, o que também foi encontrado em outras investigações (Meletti e Scorsolini-Comin, 2015; Mello, 2005; Silva, 2008; Parreiras, 2008; Poeschl et al., 2012). A afetividade, o gostar e o estar apaixonado são aspectos menos mencionados pela amostra, embora presentes nas entrevistas, o que pode apontar para o fato de que o relacionamento estável estaria mais associado a dimensões de compromisso e estabilidade emocional, retomando aspectos considerados tradicionais na estruturação da conjugalidade, como apontado pelos estudos com heterossexuais (Féres-Carneiro, 1997; Scorsolini-Comin e Santos, 2012; Silva, 2008). Para Poli e Poli (2013), o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo pode apontar para um cenário no qual atributos como afetividade e desejo cedam espaço para outras características também consideradas relevantes na estruturação da conjugalidade, como compromisso e fidelidade ao longo do tempo, o que foi encontrado na presente investigação.

 

Considerações Finais

O relacionamento estável entre pessoas do mesmo sexo ainda é um tema pouco investigado no contexto nacional. Observa-se que grande parte dos estudos relacionados aos enlaces homossexuais remete à descrição dos mesmos, possíveis preconceitos enfrentados, bem como os avanços adquiridos pelo movimento LGBT. Desta forma, o presente estudo pode contribuir justamente por destacar a questão da construção e manutenção dos relacionamentos estáveis nessa população, não recorrendo a comparações com casais heterossexuais, o que poderia reforçar o modelo binário e heteronormativo. No entanto, algumas limitações podem ser destacadas, como a composição da amostra em uma única cidade, não sendo possível estabelecer maiores reflexões acerca do contexto social envolvido. Também foram ouvidos apenas homossexuais do sexo masculino, de modo que a audição de mulheres homossexuais poderia contribuir para outros apontamentos, o que pode ser investigado em estudos vindouros. Embora não tenha sido o objetivo da presente investigação, é importante que os estudos também deem visibilidade a questões que envolvem diretamente esse universo e que podem estar envolvidas na construção e manutenção dos relacionamentos amorosos, entre elas a homofobia (Scorsolini-Comin e Santos, 2012), os fatores de risco e de proteção (Lira e Morais, 2017) e o acesso a serviços de saúde (Chapman et al., 2012), por exemplo.

Diante dos questionamentos, foi possível observar que o amor e o respeito são fatores imprescindíveis para que a relação seja estabelecida e mantida. As motivações para permanecerem na relação são diversas, desde causas como o uso de roupas e objetos em comum, o amor existente entre o casal, os planos e sonhos que estão conseguindo realizar juntos, além das vivências e experiências que a relação está lhes proporcionando. Pode-se ter uma noção também de como os parceiros se organizam no que se refere às obrigações de um modo geral, sendo a divisão feita na maior parte das relações. Embora existam conflitos, os mesmos não foram salientados pelos entrevistados, provavelmente pelo fato de quererem mostrar apenas o lado positivo de sua relação, com ênfase na estabilidade e nos aspectos considerados adaptativos, o que também pode ter sido norteado pelo próprio objetivo do estudo, que foi investigar os significados dos relacionamentos amorosos estáveis. Nota-se que a composição da amostra pode ter favorecido para que fossem encontradas pessoas com baixo nível de conflitos, bem adaptadas enquanto casal e na família ou com pouca exposição a fatores de risco. É importante que a abordagem mais incisiva desses conflitos, ainda que em casais considerados ajustados psicossocialmente ou com elevados índices de satisfação no relacionamento, possa emergir em estudos futuros.

O relacionamento estável entre pessoas do mesmo sexo pode ser entendido como uma relação na qual o respeito, a cumplicidade e o amor são fatores essenciais para sua permanência, assim como os planos e as expectativas compartilhados. Os participantes mostraram, assim como na literatura vigente, que o afeto parece ser o principal mantenedor dessas relações ao longo do tempo.

 

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Recebido em: 16.02.2017
Aceito em: 16.01.18

 

 

Nota. Este estudo recebeu o apoio da CNPq, por meio de concessão de bolsa de Iniciação Científica para a primeira autora, além da CAPES, que concedeu bolsa de Mestrado também para a primeira autora.

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