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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.12 no.1 São Leopoldo jan./abr. 2019

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2019.121.04 

ARTIGOS

 

Envolvimento parental e temperamento de crianças: uma revisão sistemática da literatura

 

Parental involvement and child's temperament: a systematic review of the literature

 

 

Beatriz SchmidtI; Lauren Beltrão GomesII; Carina Nunes BossardiIII; Simone Dill Azeredo BolzeIV; Mauro Luis VieiraV; Maria Aparecida CrepaldiVI

IUniversidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Rua Ramiro Barcelos, 2600, Santa Cecília, 90035-003, Porto Alegre, RS, Brasil. psi.beatriz@gmail.com
IIFundação Universidade Regional de Blumenau. Departamento de Psicologia. Rua Antônio da Veiga, 140, Victor Konder, 89030-903, Blumenau, SC, Brasil. lbgomes@furb.br
IIIUniversidade do Vale do Itajaí. Curso de Psicologia e Programa de Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho. Rua Uruguai, 458, Centro, 88302-901, Itajaí, SC, Brasil. carinabossardi@univali.br
IVUniversidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Campus Universitário, Trindade, 88040-500, Florianópolis, SC, Brasil. simoneazeredo@yahoo.com.br
VUniversidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Campus Universitário, Trindade, 88040-500, Florianópolis, SC, Brasil. maurolvieira@gmail.com
VIUniversidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Campus Universitário, Trindade, 88040-500, Florianópolis, SC, Brasil. maria.crepaldi@gmail.com

 

 


RESUMO

O objetivo do estudo foi analisar a produção científica sobre as relações entre envolvimento parental e temperamento de crianças. Para tanto, realizou-se uma revisão sistemática da literatura, por meio de buscas de artigos publicados em periódicos científicos indexados, entre os anos de 2007 e 2016, nas bases de dados PsycINFO, PePSIC e SciELO. Treze estudos quantitativos preencheram os critérios delimitados. A maioria investigou famílias nucleares, em que ambos os genitores residiam com o filho de até três anos de idade. Os resultados foram diversificados face à variedade dos objetivos, das amostras investigadas, dos instrumentos aplicados, bem como dos tipos de análises estatísticas realizadas. A maior parte dos estudos revelou correlações entre envolvimento e temperamento, embora as dimensões que se correlacionaram, em algumas situações, foram diferentes para mãe e pai. Evidenciou-se a tendência do pai se envolver mais com crianças com temperamento difícil, possivelmente no sentido de auxiliar a mãe a lidar com os desafios atinentes à criação dos filhos nesses casos. Ainda assim, houve predominância de estudos que indicaram maior envolvimento parental, quanto mais fácil o temperamento da criança. Esses resultados encorajam a realização de pesquisas futuras sobre envolvimento parental e temperamento de crianças, sobretudo junto a famílias com diferentes configurações e no contexto brasileiro, onde não foram encontrados estudos sobre a temática.

Palavras-chave: envolvimento; temperamento; relações familiares; relações pai-criança.


ABSTRACT

The objective of this study was to analyze the scientific production on relations between parental involvement and child's temperament. A systematic review of the literature was conducted through the search of articles published in indexed scientific journals between 2007 and 2016, in PsycINFO, PePSIC, and SciELO databases. Thirteen quantitative studies met the designated criteria. Most of them investigated nuclear families, in which both parents lived with a child of up to three years of age. The results were diverse due to the variety of objectives, samples investigated, instruments applied, as well as the types of statistical analysis performed. Most studies revealed correlations between involvement and temperament, although the dimensions that correlated in some situations, were different for mother and father. We observed the fathers' tendency to become more involved with children with difficult temperament, possibly in the sense of helping the mother to deal with the challenges of raising children in these cases. Nevertheless, there was a predominance of studies that indicated the easier the child's temperament the greater parental involvement. These results encourage future research on parental involvement and children's temperament, especially with families with different configurations and in the Brazilian context, where studies on the subject were not found.

Keywords: involvement; temperament; family relations; parent-child relations.


 

 

Introdução

A partir do crescente interesse pelo envolvimento paterno nas últimas décadas (Polli et al., 2016; Vieira et al., 2014), a literatura científica tem passado a enfatizar a forma pela qual mãe e pai constroem os padrões de interação na rotina familiar, bem como as similaridades e as diferenças entre os comportamentos dos genitores1 (Brown et al., 2011). De acordo com Lamb et al. (1985), o envolvimento paterno pode ser compreendido em termos de três componentes: interação, que diz respeito ao contato direto com a criança; disponibilidade, no sentido de se manter acessível à criança; e responsabilidade, concernente à garantia de cuidados e recursos à criança. Essa estrutura conceitual se caracteriza como a mais utilizada em estudos empíricos sobre a paternidade (Flouri et al., 2016), e vem sendo adotada para investigar tanto o envolvimento paterno quanto o envolvimento materno, sob a denominação de envolvimento parental (Kotila et al., 2013).

O envolvimento parental pode se relacionar a características individuais da criança, como é o caso do temperamento (Brown et al., 2011; Planalp et al., 2013). Conforme Linhares et al. (2013), é possível estudar o temperamento infantil por meio de diferentes abordagens. Não obstante, a maioria das pesquisas contemporâneas se pauta na teoria de Mary Rothbart (Casalin et al., 2012; Cassiano e Linhares, 2015). Tal teoria concebe o temperamento como diferenças individuais com base constitucional na autorregulação e na reatividade, observadas nos domínios de atenção, emocionalidade e atividade motora, influenciadas ao longo do tempo pela hereditariedade, maturação e experiência (Rothbart, 2004). Com base na proposta dessa autora, o temperamento pode ser investigado, em diferentes culturas, por meio de três dimensões: afeto negativo, referente a tristeza, medo, desconforto, raiva e baixa capacidade de se acalmar; extroversão, atinente a impulsividade, nível de atividade, prazer de alta intensidade e baixa timidez; e controle com esforço, que inclui controle inibitório, focalização de atenção, prazer de baixa intensidade e sensibilidade perceptual (Aring e Renk, 2010).

Mesmo que relativamente estável, o temperamento pode se transformar ao longo do tempo (Schmidt et al., 2018), o que parece ser influenciado tanto por processos intrapsíquicos quanto inter-relacionais (Casalin et al., 2012). Assim, o temperamento consiste em uma variável individual que interage com variáveis ambientais (Schmidt et al., 2011), associando-se a desfechos adaptativos ou disfuncionais (Ferreira et al., 2016). Ademais, o temperamento também tende a facilitar ou a dificultar relações interpessoais (Cassiano e Linhares, 2015).

Portanto, o temperamento dos filhos pode impactar os genitores (Aring e Renk, 2010; Kulik e Sadeh, 2015). Em particular, há indicativos de que crianças com temperamento difícil podem incitar uma parentalidade mais inconsistente (Ato et al., 2015). O temperamento difícil se relaciona a irregularidade nas funções biológicas (e.g., hábitos de sono ou alimentares), alta impulsividade, tendência a evitar situações novas ou mesmo dificuldade para se adaptar a elas (Kulik e Sadeh, 2015). Em crianças, também está ligado a expressões intensas de humor, geralmente negativas, e a maiores dificuldades para o cuidador (Schmidt, 2012). Por outro lado, crianças com temperamento fácil - funcionamento biológico regular, alta adaptabilidade a mudanças e humor predominantemente positivo (Kulik e Sadeh, 2015) -, costumam evocar uma parentalidade mais positiva (Ato et al., 2015). Similarmente, aspectos do contexto familiar, como as relações nele estabelecidas, tendem a influenciar o temperamento infantil, de modo que os comportamentos dos genitores se constituem em uma variável importante no desenvolvimento do temperamento dos filhos (Schmidt, 2012).

No que tange especificamente à relação entre envolvimento e temperamento, a literatura apresenta resultados divergentes. Por um lado, há evidências que sugerem que os genitores tendem a se envolver mais quando as crianças apresentam temperamento fácil (Brown et al., 2011). Por outro lado, há casos em que os achados não revelam relação significativa entre envolvimento e temperamento (Monteiro et al., 2010). Há de se destacar, ainda, a possibilidade dessa relação ser mais complexa, mediada por outros fatores, tais como a conjugalidade (Mehall et al., 2009). Logo, entende-se que uma revisão sistemática de literatura pode favorecer a compreensão acerca desses fenômenos, de forma a oferecer subsídios para a realização de pesquisas futuras e para a prática de profissionais que atuam junto a famílias e a crianças. Nessa direção, o objetivo do presente estudo foi analisar a produção científica sobre as relações entre envolvimento parental e temperamento de crianças, de forma a sistematizar os aspectos metodológicos e os principais resultados da literatura.

 

Método

Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, conduzida com base em diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (Moher et al., 2009). O levantamento de dados foi realizado em outubro de 2016 e atualizado em janeiro de 2017, a partir das bases PsycINFO, PePSIC e SciELO. O acesso à PsycINFO ocorreu por meio do Portal de Periódicos CAPES/MEC, enquanto o acesso à PePSIC e à SciELO ocorreu por meio da Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia Brasil. Para esse levantamento, considerou-se a combinação de versões em língua portuguesa e inglesa de dois descritores: "envolvimento AND temperamento" e "involvement AND temperament". Foram analisados artigos publicados em periódicos científicos indexados, entre os anos de 2007 e 2016 (i.e., últimos dez anos). A delimitação desse período de publicação se justifica pelas transformações no envolvimento parental nas famílias contemporâneas, no sentido de uma maior participação paterna nos cuidados à criança, conforme evidenciado em diferentes estudos (Flouri et al., 2016; Polli et al., 2016; Vieira et al., 2014). Optou-se por artigos indexados, uma vez que consistem em produções que passaram por processo de avaliação por pares. Levou-se em consideração também a maior facilidade de acesso a esses documentos na íntegra, quando comparados a outros tipos de publicação, tais como livros, dissertações e teses.

Por meio desse processo, obteve-se 162 artigos, os quais foram importados para o gerenciador de referências Zotero. Três estudos duplicados foram excluídos. Dois pesquisadores realizaram a leitura e a classificação dos títulos e dos resumos dos 159 estudos, de maneira independente, com a finalidade de remover aqueles não concernentes ao objetivo proposto. O percentual de concordância entre os pesquisadores foi de 93%. Nos casos em que houve discordância, a opção por incluir ou excluir o estudo do corpus de análise foi realizada por consenso. Foram excluídas produções que: (i) não investigaram variáveis atinentes ao envolvimento parental, nem ao temperamento de crianças (n=81); (ii) abordaram unicamente o envolvimento parental em famílias com crianças ou unicamente o temperamento de crianças (n=38); (iii) abordaram famílias com filhos adolescentes, com a análise do envolvimento parental e/ou do temperamento na adolescência, e não exclusivamente na infância (n=20); (iv) consistiram em revisões de literatura sobre o temperamento (n=2).

Após esse processo, identificou-se que 18 estudos pareciam preencher os critérios de inclusão, de modo que se buscou consultá-los na íntegra. Em um caso, não foi possível recuperar o artigo completo nas bases de dados. Em quatro estudos, por meio do exame do artigo completo, verificou-se que não foram realizadas análises que relacionassem diretamente o envolvimento parental e o temperamento de crianças, embora essas duas variáveis tivessem sido investigadas. Assim, o corpus de análise da presente revisão sistemática da literatura foi composto por 13 estudos publicados em periódicos internacionais, sendo 12 deles redigidos em língua inglesa e um em língua portuguesa (Portugal). Os procedimentos das etapas de obtenção e de avaliação dos estudos são ilustrados na Figura 1.

 

Resultados

Os 13 artigos foram integralmente lidos e analisados. Nas duas subseções a seguir, apresentam-se os aspectos metodológicos e os principais resultados desses estudos, no que tange às relações entre envolvimento parental e temperamento de crianças.

Aspectos metodológicos dos estudos

No que diz respeito aos objetivos gerais, em dez estudos as variáveis investigadas se referiam exclusivamente à parentalidade e ao desenvolvimento infantil, de forma geral (Aring e Renk, 2010; Brown et al., 2011; Casalin et al., 2012; Flouri e Malmberg, 2012; Flouri et al., 2016; Kulik e Sadeh, 2015; Millikovsky-Ayalon et al., 2015; Monteiro et al., 2010; Planalp e Braungart-Rieker, 2015; 2016), ao passo que outros três estudos contemplavam adicionalmente a conjugalidade (Ato et al., 2015; Mehall et al., 2009; Planalp et al., 2013). Sete estudos eram longitudinais; um deles acompanhou crianças até sete anos (Flouri et al., 2016), outro até quatro anos (Planalp e Braungart-Rieker, 2016), enquanto os demais acompanharam crianças até três anos (Casalin et al., 2012; Flouri e Malmberg, 2012; Mehall et al., 2009; Planalp e Braungart-Rieker, 2015; Planalp et al., 2013). Seis estudos eram transversais; um realizado com crianças até oito anos (Ato et al., 2015), três com crianças até seis anos (Aring e Renk, 2010; Kulik e Sadeh, 2015; Monteiro et al., 2010), e dois com crianças até três anos (Brown et al., 2011; Millikovsky-Ayalon et al., 2015).

Em dez estudos, a amostra foi composta por famílias nucleares, em que ambos os genitores residiam junto aos filhos (Brown et al., 2011; Casalin et al., 2012; Flouri et al., 2016; Kulik e Sadeh, 2015; Mehall et al., 2009; Millikovsky-Ayalon et al., 2015; Monteiro et al., 2010; Planalp e Braungart-Rieker, 2015; 2016; Planalp et al., 2013). Um estudo investigou famílias uniparentais, chefiadas por "mães solteiras" (Flouri e Malmberg, 2012). Em outros dois, a configuração familiar não foi especificada (Aring e Renk, 2010; Ato et al., 2015).

A maior parte dos estudos (n=11) contou com a participação materna e paterna; Flouri e Malmberg (2012) realizaram coleta de dados exclusivamente junto à mãe, enquanto Kulik e Sadeh (2015) exclusivamente junto ao pai. Na Tabela 1 são apresentadas informações sobre objetivos, delineamento, amostra, bem como principais resultados obtidos nos estudos.

Todos adotaram abordagem quantitativa dos dados, com análises estatísticas. Onze estudos apresentaram resultados de correlações entre variáveis de envolvimento e temperamento; portanto, apenas dois não o fizeram (Casalin et al., 2012; Flouri e Malmberg, 2012). Além disso, análises de regressão foram realizadas em quatro estudos (Aring e Renk, 2010; Ato et al., 2015; Kulik e Sadeh, 2015; Millikovsky-Ayalon et al., 2015); equações estruturais em três estudos (Flouri e Malmberg, 2012; Flouri et al., 2016; Mehall et al., 2009); curvas de crescimento em dois estudos (Planalp e Braungart-Rieker, 2015; Planalp et al., 2013); testes t em dois estudos (Casalin et al., 2012; Millikovsky-Ayalon et al., 2015); latent difference score2 em um estudo (Planalp e Braungart-Rieker, 2016); análise de variância e análise de variância multivariada em um estudo (Kulik e Sadeh, 2015).

No que diz respeito ao envolvimento, em oito estudos foram considerados tanto o envolvimento materno quanto o paterno (Aring e Renk, 2010; Ato et al., 2015; Casalin et al., 2012; Brown et al., 2011; Mehall et al., 2009; Millikovsky-Ayalon et al., 2015; Planalp e Braungart-Rieker, 2015; Planalp et al., 2013), ao passo que em cinco estudos o foco era somente no envolvimento paterno3 (Flouri e Malmberg, 2012; Flouri et al., 2016; Kulik e Sadeh, 2015; Monteiro et al., 2010; Planalp e Braungart-Rieker, 2016). Para medida do envolvimento, quatro estudos utilizaram checklist de atividades diárias (Casalin et al., 2012; Mehall et al., 2009; Planalp e Braungart-Rieker, 2015; Planalp et al., 2013); em um desses casos, considerou-se o tempo total - horas por dia - de envolvimento materno e paterno (Casalin et al., 2012). Três estudos analisaram diferenças no envolvimento entre dias da semana (i.e., dias de trabalho) e finais de semana (i.e., dias de não-trabalho) (Brown et al., 2011; Casalin et al., 2012; Mehall et al., 2009). A subescala de envolvimento do Parent-Child Relationship Inventory foi utilizada em dois estudos (Aring e Renk, 2010; Ato et al., 2015). Por outro lado, Brown et al. (2011) avaliaram o envolvimento por meio da aplicação do protocolo de entrevista Interaction/Accessibility Time Diary, sendo que o escore das dimensões consistiu no número de minutos em que mãe e pai interagiam ou estavam disponíveis à criança ao longo do dia. Já Monteiro et al. (2010) aplicaram a Escala de Envolvimento Parental: Participação em Actividades de Cuidados e de Socialização; Kulik e Sadeh (2015), o Paternal Involvement Questionnaire; Millikovsky-Ayalon et al. (2015), a 'Who Does What' Scale. Em três estudos a avaliação do envolvimento ocorreu por meio da aplicação de um questionário, cujo nome não foi especificado (Flouri e Malmberg, 2012; Flouri et al., 2016; Planalp e Braungart-Rieker, 2016).

Para avaliação do temperamento infantil, em sete estudos os instrumentos foram aplicados à mãe e/ou ao pai (Aring e Renk, 2010; Ato et al., 2015; Brown et al., 2011; Casalin et al., 2012; Millikovsky-Ayalon et al., 2015; Monteiro et al., 2010; Planalp et al., 2013), enquanto em três estudos apenas à mãe (Flouri e Malmberg, 2012; Mehall et al., 2009; Planalp e Braungart-Rieker, 2015), e em um estudo apenas ao pai (Kulik e Sadeh, 2015). Dois estudos não especificaram se o instrumento de avaliação do temperamento foi aplicado à mãe, ao pai ou a ambos (Flouri et al., 2016; Planalp e Braungart-Rieker, 2016).

Em seis estudos os instrumentos faziam parte dos Questionários de Temperamento de Mary Rothbart; como alguns deles eram longitudinais e utilizaram mais de um instrumento de medida, em função da idade da criança nos diferentes momentos de coleta de dados, o Infant Behavior Questionnaire - Revised foi aplicado em quatro estudos (Casalin et al., 2012; Mehall et al., 2009; Planalp e Braungart-Rieker, 2015; Planalp et al., 2013), o Early Childhood Behavior Questionnaire em dois estudos (Casalin et al., 2012; Planalp et al., 2013), o Children's Behavior Questionnaire em um estudo (Aring e Renk, 2010) e o Temperament in Middle Childhood Questionnaire em um estudo (Ato et al., 2015). Além desses questionários, derivados da abordagem teórico-conceitual de Rothbart, em três estudos o temperamento da criança foi avaliado por meio do Infant Characteristics Questionnaire (Brown et al., 2011; Millikovsky-Ayalon et al., 2015; Monteiro et al., 2010), em dois estudos por meio da Carey Infant Temperament Scale (Flouri e Malmberg, 2012; Flouri et al., 2016), em um estudo por meio da Infant/Toddler Symptom Checklist (Planalp e Braungart-Rieker, 2016), e em um estudo por meio do Child's Temperament Questionnaire (Kulik e Sadeh, 2015).

Principais resultados dos estudos

Os resultados dos estudos analisados na presente revisão foram bastante diversificados. Por exemplo, dos 11 estudos que utilizaram análises correlacionais, nove revelaram correlações estatisticamente significativas entre envolvimento e temperamento. Dessa forma, somente nos estudos de Flouri et al. (2016) e de Monteiro et al. (2010), as correlações entre essas variáveis não alcançaram significância estatística. Em três estudos, as dimensões do envolvimento que se correlacionaram às dimensões do temperamento foram diferentes para mãe e pai (Brown et al., 2011; Planalp e Braungart-Rieker, 2015; Planalp et al., 2013). Além disso, em um estudo, o temperamento infantil se correlacionou ao envolvimento paterno, mas não ao envolvimento materno (Millikovsky-Ayalon et al., 2015).

Cinco estudos evidenciaram que o envolvimento tendia a ser maior quanto mais fácil fosse o temperamento da criança (Ato et al., 2015; Kulik e Sadeh, 2015; Mehall et al., 2009; Millikovsky-Ayalon et al., 2015; Planalp e Braungart-Rieker, 2016), enquanto em um estudo as correlações foram no sentido de que o envolvimento tendia a ser menor nesses casos (Aring e Renk, 2010). Assim, Aring e Renk (2010), ao examinarem associações entre temperamento da criança, percepções dos genitores sobre a criança, e características da relação mãe/pai-criança, constataram correlação positiva entre envolvimento parental e afeto negativo da criança, de forma que quanto maior o envolvimento, maior o afeto negativo.

Por outro lado, Millikovsky-Ayalon et al. (2015) exploraram como o temperamento infantil, o estresse materno e paterno e as interações genitores-criança diferiam entre famílias com filhos com distúrbios do sono e um grupo de comparação. Esses autores obtiveram correlações estatisticamente significativas entre envolvimento paterno e temperamento infantil, mas não entre envolvimento materno e temperamento infantil. Portanto, quanto menor o envolvimento do pai, mais agitada era a criança.

Igualmente, Planalp e Braungart-Rieker (2016), que investigaram os determinantes do envolvimento paterno em famílias nas quais o pai residia com a criança, identificaram correlações negativas entre envolvimento e temperamento, no sentido de que, quanto menor a frequência de cuidados e de brincadeiras paternas, mais difícil o temperamento da criança. Nessa mesma direção estão os achados de Kulik e Sadeh (2015), ao examinarem a contribuição de variáveis que explicavam o envolvimento paterno. Os resultados revelaram correlação negativa entre envolvimento paterno e temperamento infantil, de modo que quanto menos o pai brincava/jogava e demonstrava amor à criança, mais difícil era o temperamento infantil. Análises de regressão desse estudo também evidenciaram que o pai tendia a ser mais envolvido nas dimensões brincadeiras/jogos e demonstração de amor com crianças cujo temperamento era mais fácil.

De forma semelhante, Ato et al. (2015), ao analisarem a relação entre ajustamento conjugal e práticas parentais, examinando o papel moderador do temperamento, constataram correlação positiva entre envolvimento e controle com esforço, bem como correlação negativa entre envolvimento e afeto negativo. Logo, parecia haver maior envolvimento parental quanto maior fosse o controle com esforço e menor fosse o afeto negativo da criança.

Já Mehall et al. (2009) investigaram o temperamento da criança e a satisfação conjugal como preditores do envolvimento materno e paterno. Esses autores identificaram correlações entre envolvimento e regulação: quanto maior a regulação infantil, maior o envolvimento materno durante os finais de semana, bem como maior o envolvimento paterno durante os dias de semana. Os achados desse estudo, similarmente aos de outros estudos analisados (Ato et al., 2015; Kulik e Sadeh, 2015; Millikovsky-Ayalon et al., 2015; Planalp e Braungart-Rieker, 2016), indicaram que quanto mais fácil a criança, maior tendia a ser o envolvimento. Ademais, Mehall et al. (2009) constataram que isso parecia ocorrer especialmente nos períodos em que aumentava a propensão do outro genitor estar mais envolvido (ou seja, nos finais de semana para a mãe e nos dias de semana para o pai).

Evidências de variações no envolvimento em relação ao temperamento, em dias de semana (ou dias de trabalho) e em finais de semana (ou dias de não-trabalho), para mãe e pai, também foram descritas por Brown et al. (2011). Os resultados das análises de correlação indicaram que, em dias de trabalho, quanto mais irregular o temperamento da criança, mais o pai interagia e estava acessível a ela. Um padrão semelhante emergiu no que diz respeito aos altos escores de dificuldade como dimensão do temperamento, pois o pai pareceu mais acessível nesses casos. Também a mãe tendia a interagir mais com crianças cujos escores eram altos em temperamento irregular e difícil, em dias de trabalho. Por outro lado, o pai interagia menos e estava menos acessível ao filho com temperamento irregular, bem como brincava menos com o filho com temperamento difícil, em dias de não-trabalho. Diferentemente do pai, não houve correlação estatisticamente significativa entre envolvimento da mãe e temperamento da criança em dias de não-trabalho, de forma que o envolvimento materno parece depender menos das circunstâncias laborais. Esses achados sugerem padrões similares em dias de trabalho, mas padrões diferentes em dias de não-trabalho; em dias de trabalho, tanto o envolvimento materno quanto o paterno foram maiores, quanto maiores foram os níveis de irregularidade ou de dificuldade do temperamento do filho. Assim, é possível que o pai seja mais chamado a auxiliar nos cuidados de crianças desafiadoras em dias de trabalho, quando os genitores passam a maior parte do tempo longe de casa, e precisam dividir as tarefas no momento em que retornam ao lar.

Os resultados das análises de correlação do estudo de Planalp e Braungart-Rieker (2015), que examinou potenciais determinantes das trajetórias de comportamento regulatório na infância, também sugeriram maior envolvimento do pai, quanto maiores fossem os níveis de afeto negativo e de extroversão da criança. Por outro lado, o envolvimento da mãe esteve correlacionado a maiores níveis de regulação e de extroversão da criança.

Similarmente, no estudo de Planalp et al. (2013), que investigou como o temperamento infantil e o ajustamento conjugal se relacionavam às trajetórias de envolvimento materno e paterno e à sensibilidade durante a infância, o envolvimento da mãe também esteve correlacionado a maiores níveis de regulação e de extroversão da criança. Contudo, não houve correlações estatisticamente significativas entre envolvimento paterno e temperamento infantil no estudo de Planalp et al. (2013). O mesmo ocorreu no estudo de Monteiro et al. (2010), que analisou o envolvimento paterno relativamente ao materno, considerando o envolvimento desejado pela mãe e as características individuais da criança como fatores explicativos da participação do pai, e no estudo de Flouri et al. (2016), que investigou relações cruzadas entre envolvimento paterno e problemas de comportamento na infância, testando se o temperamento modulava efeitos entre essas variáveis. Além disso, os achados de Flouri et al. (2016) revelaram ainda que o temperamento não moderou a influência do ajustamento infantil sobre o envolvimento paterno. Ou seja, o temperamento não exacerbou ou inibiu efeitos cruzados entre comportamento da criança e envolvimento paterno.

Três estudos utilizaram abordagem bidirecional para analisar os efeitos do envolvimento sobre o temperamento e os efeitos do temperamento sobre o envolvimento (Aring e Renk, 2010; Flouri e Malmberg, 2012; Mehall et al., 2009). Nos resultados das análises de regressão de Aring e Renk (2010), o envolvimento não predisse e nem foi predito significativamente pelo temperamento. Da mesma forma, nos modelos de equação estrutural de Mehall et al. (2009), não houve relação direta entre envolvimento parental e temperamento da criança. Já no estudo de Flouri e Malmberg (2012), embora não tenham sido encontradas evidências de efeitos do envolvimento sobre o temperamento, os achados indicaram os efeitos do temperamento sobre o envolvimento. Esses autores investigaram associações entre o envolvimento paterno e o comportamento da criança, em uma amostra composta por pais que nunca haviam residido junto aos filhos, mas mantinham contato com eles. Nos modelos de equação estrutural, o humor predisse positivamente o envolvimento paterno, ao passo que a regularidade e a adaptabilidade predisseram negativamente o envolvimento paterno.

Ademais, outros três estudos utilizaram abordagem unidirecional, no sentido de analisar os efeitos do temperamento sobre o envolvimento (Planalp e Braungart-Rieker, 2015; 2016; Planalp et al., 2013). Assim, embora Planalp e Braungart-Rieker (2016) tenham evidenciado correlações positivas entre envolvimento e temperamento, nos modelos de latent difference score não foram identificadas associações estatisticamente significativas, de forma que o envolvimento paterno não foi predito pelo temperamento da criança. Contudo, os autores assinalaram que as limitações na medida do temperamento podem não ter refletido acuradamente a associação entre envolvimento paterno e temperamento da criança. Dentre essas limitações, Planalp e Braungart-Rieker (2016) referiram a expressiva quantidade de missing nas respostas sobre o temperamento (a saber, 18,4%). Além disso, pontuaram também o fato de se examinar apenas a dimensão de temperamento difícil, excluindo-se dimensões mais positivas, como sociabilidade ou extroversão da criança.

Em contrapartida, as análises de curvas de crescimento realizadas por Planalp e Braungart-Rieker (2015) marcaram a tendência de que o pai se envolvia mais com crianças reativas, possivelmente para auxiliar a mãe a lidar com os desafios atinentes à criação dos filhos nesses casos. Esses autores examinaram potenciais determinantes das trajetórias de comportamento regulatório na infância, incluindo o envolvimento parental e o temperamento da criança. Explorou-se a possibilidade de o temperamento afetar níveis ou mudanças no envolvimento parental ao longo do tempo. Em geral, o envolvimento materno foi maior que o paterno. Também se identificou uma interação significativa entre os genitores (mãe versus pai) e a regulação da criança para predizer níveis iniciais de envolvimento. Em particular, o envolvimento paterno se mostrou menor junto a crianças com altos níveis de regulação, ao passo que o envolvimento materno se mostrou maior junto a crianças com altos níveis de regulação. Por conseguinte, os achados de Planalp e Braungart-Rieker (2015) apontaram a tendência de maior envolvimento do pai com crianças desafiadoras, tal como outros estudos ora revisados (Brown et al., 2011; Flouri e Malmberg, 2012; Mehall et al., 2009).

Os achados de Planalp et al. (2013) também evidenciaram o temperamento como preditor do envolvimento. Em particular, os resultados das análises de curvas de crescimento indicaram que a extroversão da criança predisse mudanças no envolvimento da mãe nos cuidados, de modo que o envolvimento da mãe nos cuidados aumentou ao longo do tempo, quanto menor o nível de extroversão da criança. Além disso, o envolvimento da mãe foi predito pela extroversão da criança, no sentido de que a mãe brincava mais com a criança quando ela era mais extrovertida. Visto que costuma ser desafiador à mãe realizar atividades de cuidado ao filho com maior nível de extroversão, ela pode reorientar o seu envolvimento para a realização de mais brincadeiras.

Diferentemente de Flouri e Malmberg (2012), os modelos que examinaram o envolvimento paterno e o temperamento da criança não produziram resultados estatisticamente significativos no estudo de Planalp et al. (2013). Isso pode se dever ao fato de a mãe ser a principal responsável pela criança nos seus primeiros meses de vida (período investigado nesse estudo), uma vez que frequentemente realiza mais atividades de cuidado e permanece por mais tempo junto do filho, em comparação ao pai. Outrossim, à medida que a criança desenvolve suas habilidades físicas e motoras, o envolvimento paterno tende a aumentar. Por conseguinte, a maior frequência da interação pai-criança poderia aumentar a probabilidade de ocorrência de efeitos do temperamento sobre o envolvimento paterno.

Nessa mesma direção estão os resultados de Mehall et al. (2009), uma vez que a satisfação conjugal mediou a associação entre maiores níveis de regulação da criança e maiores níveis de envolvimento materno aos 7 meses. Para o pai, o mesmo fenômeno somente foi constatado em período posterior do desenvolvimento infantil, pois a satisfação conjugal mediou a associação entre maiores níveis de regulação da criança e maiores níveis de envolvimento paterno aos 14 meses. Esses autores, tal como Planalp et al. (2013), pontuaram a tendência do pai se tornar mais envolvido com o passar do tempo. Isso porque as atividades em que tipicamente o pai se engaja (e.g., brincadeiras) costumam ocorrer mais tarde no desenvolvimento infantil e demandar menos tempo de interação, em comparação às atividades em que tipicamente a mãe se engaja (e.g., alimentação e troca de fraldas).

Achados semelhantes foram obtidos por Casalin et al. (2012). Na primeira etapa de coleta de dados desse estudo longitudinal (8 a 13 meses da criança), testes t evidenciaram que o envolvimento materno foi significativamente maior que o paterno em sete das oito dimensões avaliadas4. Já na segunda etapa (20 a 25 meses da criança), o envolvimento materno foi significativamente maior que o paterno em cinco das oito dimensões5. Quanto maior a diferença no envolvimento materno e paterno, maior a diferença na forma como os genitores percebiam o temperamento da criança. Especificamente dos 8 aos 13 meses, a mãe percebia meninas e meninos como mais extrovertidos, e meninas como mais reguladas, em comparação ao pai. Todavia, não houve diferenças significativas entre percepções maternas e paternas sobre o temperamento das crianças de 20 a 25 meses. Assim, tal como Mehall et al. (2009) e Planalp et al. (2013), no estudo de Casalin et al. (2012) também se pontuou que, como a mãe passa significativamente mais tempo com crianças menores, é possível que ela tenha maiores oportunidades de perceber os indicadores do temperamento infantil. À medida que o pai aumenta o seu envolvimento, conforme constatado nas crianças de 20 a 25 meses, mais congruentes foram as respostas maternas e paternas sobre o temperamento infantil.

 

Discussão

Por meio da presente revisão sistemática da literatura, foi possível constatar unicamente estudos internacionais sobre envolvimento parental e temperamento de crianças, mesmo com a inclusão de bases de dados brasileiras. Ademais, embora tenham sido buscados artigos publicados em periódicos científicos indexados, entre os anos de 2007 e 2016, a maior parte dos estudos foi publicada a partir de 2012. Esses resultados sugerem que o interesse por estudos sobre envolvimento parental e temperamento de crianças é recente, ao mesmo tempo em que parece estar se tornando crescente no contexto internacional. Achados semelhantes foram evidenciados por Schmidt et al. (2011), em revisão da literatura sobre relacionamento conjugal e temperamento de crianças. Segundo esses autores, estudos que investiguem aspectos do relacionamento familiar e das diferenças individuais de crianças vêm aumentando nos últimos anos, em particular no contexto internacional. A inexistência de estudos brasileiros sobre a temática consiste em um achado de certo modo esperado, haja vista que relativamente poucos pesquisadores, em âmbito nacional, têm investigado envolvimento parental e temperamento de crianças, em comparação a pesquisadores de outros países.

No que diz respeito ao corte dos estudos revisados, não foram identificadas diferenças significativas, dado que sete eram longitudinais e seis transversais. Esse resultado é similar ao obtido por Linhares et al. (2013), ao revisarem a literatura sobre o temperamento de crianças, do nascimento à idade escolar, de acordo com a abordagem de Rothbart. Dos 25 estudos analisados por essas autoras, 13 eram longitudinais e 12 transversais. Face às relações entre envolvimento parental e temperamento de crianças, como revelou grande parte da literatura revisada no presente estudo, destaca-se a importância das investigações longitudinais. Isso porque, segundo Planalp et al. (2013), a infância consiste em um período de rápidas transformações, tanto para a criança quanto para a família, de forma que o acompanhamento longitudinal possibilita a realização de inferências sobre essas transformações.

Vale salientar que a maioria dos estudos foi realizada com crianças até os três anos de idade, ou seja, sem incluir períodos posteriores do desenvolvimento infantil. Outrossim, apenas dois estudos investigaram o temperamento de crianças com mais de seis anos. Esse resultado corrobora os achados de Linhares et al. (2013) e de Schmidt et al. (2011), uma vez que nas revisões de literatura realizadas por esses autores, também se notou o predomínio da avaliação do temperamento nos primeiros anos de vida das crianças. Sobre esses aspectos, ressalta-se que apesar de relativamente estável, o temperamento é passível de transformação ao longo do processo desenvolvimental (Schmidt et al., 2018). Além disso, evidências empíricas sobre o envolvimento parental sugerem uma tendência do pai se tornar mais envolvido com o passar do tempo (Casalin et al., 2012; Planalp et al., 2013; Planalp e Braungart-Rieker, 2016; Polli et al., 2016; Mehall et al., 2009). Assim, destaca-se a relevância de estudos que enfatizem períodos mais tardios do desenvolvimento infantil (Ato et al., 2015), no sentido de investigar a relação entre envolvimento parental e temperamento de crianças maiores (e.g., escolares). Na mesma direção, encoraja-se a realização de estudos longitudinais que acompanhem o desenvolvimento por períodos mais prolongados de tempo, para investigar se essa relação varia nas diferentes idades da criança (Flouri et al., 2016).

No que concerne à configuração familiar, em quase todos os estudos analisados, a amostra foi composta por famílias nucleares, nas quais ambos os genitores residiam junto aos filhos. De tal forma, somente um dos artigos investigou famílias uniparentais, chefiadas por "mãe solteira". Embora estudos relativos a famílias nucleares sejam importantes, entende-se que é fundamental a realização de mais pesquisas sobre envolvimento parental e temperamento de crianças junto a famílias com diferentes configurações. Isso porque as diferentes configurações - tais como famílias recasadas, homoparentais e adotivas - estão se tornando cada vez mais presentes (Schmidt et al., 2016), ao mesmo tempo em que também parecem se associar ao modo como mãe e pai, ainda que não biológicos, organizam-se para o cuidado dos filhos e ao desenvolvimento das crianças (Högnäs e Thomas, 2016).

Na presente revisão sistemática, também chamou atenção a participação materna e paterna, visto que na maioria dos estudos analisados as coletas de dados foram realizadas com ambos os genitores. Esse dado é interessante, pois revela a tendência à maior inclusão do pai nas pesquisas com famílias, diferentemente do que ocorria em outros momentos, em que a díade mãe-criança parecia priorizada (Schmidt et al., 2011). Assim, por um lado, é possível hipotetizar que esse aumento da participação paterna nas pesquisas seja reflexo de transformações sociais recentes, associadas às novas atitudes e expectativas sobre o papel da mulher e do homem no contexto familiar (Monteiro et al., 2010; Vieira et al., 2014). Por outro lado, a participação materna praticamente em paridade com a participação paterna, evidenciada nos artigos componentes do corpus de análise, pode ter relação com o conceito de envolvimento parental, investigado na presente revisão sistemática. Isso porque, conforme indicado anteriormente, muitos estudos que examinam o envolvimento parental o fazem com base na definição de Lamb et al. (1985), a qual se caracteriza como a mais utilizada nos estudos sobre a paternidade (Brown et al., 2011; Flouri et al., 2016). Assim, esse resultado vai de encontro aos achados da revisão de literatura de Linhares et al. (2013), que investigou unicamente o temperamento de crianças e revelou as mães como as principais informantes.

Merece destaque, ainda, o fato de todos os estudos analisados terem adotado abordagem quantitativa dos dados. Contudo, face à variedade dos objetivos, das amostras investigadas, dos instrumentos aplicados e das dimensões que os compunham, bem como dos tipos de análises estatísticas realizadas, os achados foram bastante diversificados. Em suma, a maior parte dos estudos revelou correlações entre envolvimento parental e temperamento infantil, embora as dimensões que se correlacionaram, em alguns casos, fossem diferentes para a mãe e para o pai.

Dado que a mãe e o pai interagem de formas distintas com os filhos (Schmidt et al., 2018), parece esperado que a relação entre envolvimento e temperamento também difira entre os genitores. Nesse sentido, a literatura tem destacado que, tradicionalmente, a mãe se envolve mais em cuidados básicos, ao passo que o pai se envolve mais em brincadeiras (Planalp et al., 2013). Por outro lado, uma visão mais contemporânea do envolvimento parental vem sugerindo que os papeis e os tipos de comportamento maternos e paternos parecem estar se tornando paulatinamente mais convergentes (Lang et al., 2014). Apesar disso, não se deve negligenciar as diferenças na natureza e nos desfechos desenvolvimentais, para a criança, do envolvimento materno e paterno (Flouri et al., 2016). Nesse sentido, um achado interessante que se repetiu em alguns estudos foi a tendência do pai a se envolver mais com crianças com temperamento difícil, possivelmente no sentido de auxiliar a mãe a lidar com os desafios atinentes à criação dos filhos nesses casos. De qualquer forma, é importante destacar que o cuidado e o envolvimento parental são fenômenos complexos e que os cuidadores devem ser corresponsáveis no processo de criação e educação das crianças, independentemente das condições físicas e psicossociais destas.

Ainda assim, houve predominância de estudos que indicaram uma tendência ao maior envolvimento parental, quanto mais fácil o temperamento da criança. No que tange aos modelos que utilizaram abordagem bidirecional para prever efeitos do envolvimento sobre o temperamento e efeitos do temperamento sobre o envolvimento, apenas um deles revelou efeitos do temperamento sobre o envolvimento. Outrossim, dos estudos que utilizaram abordagem unidirecional, em dois casos também se evidenciou o temperamento como preditor do envolvimento. Esses achados parecem sustentar a perspectiva de que crianças mais sociáveis, adaptáveis e fáceis de acalmar estimulam a sensibilidade e a responsividade parental, enquanto crianças mais demandantes ou irritadiças tendem a provocar menores índices de estimulação ou afastamento por parte dos genitores (Schmidt et al., 2018).

Conforme pontuado anteriormente, entende-se que essa diversidade de resultados tenha relação, inclusive, com os instrumentos aplicados nos estudos. Sobre esse aspecto, para avaliação do envolvimento parental, destacaram-se checklists de atividades diárias, escalas e questionários; para avaliação do temperamento infantil, predominaram questionários. Além disso, diferentemente dos instrumentos para avaliação do envolvimento parental, grande parte dos instrumentos para avaliação do temperamento infantil consistia em medidas já validadas e derivadas de abordagens teórico-conceituais sobre o fenômeno, sobressaindo-se os Questionários de Temperamento de Mary Rothbart. É possível que tal diferença na disponibilidade de instrumentos validados se deva ao tempo em que a literatura científica venha lançando luz sobre esses fenômenos; enquanto o interesse por estudos sobre o envolvimento emergiu nas últimas décadas (Planalp e Braungart-Rieker, 2015; Vieira et al., 2014), sobretudo em meados dos anos 1980 (Pleck, 2010), os estudos sobre o temperamento são anteriores a esse período (Schmidt, 2012).

Concernente ao envolvimento parental, notou-se ênfase a instrumentos que mediam o período de tempo em que mãe e pai se envolviam em atividades com contato direto com a criança, o que também foi pontuado por Flouri et al. (2016). Contudo, segundo Pleck (2010), o tempo de interação genitores-criança nem sempre provê evidências suficientes do quanto essa relação pode contribuir efetivamente para o desenvolvimento infantil. De tal maneira, para além da quantidade ou da divisão entre os genitores sobre as responsabilidades e as tarefas que cada um desempenhará, seria importante considerar a qualidade do envolvimento, com destaque à sensibilidade e à responsividade materna e paterna (Monteiro et al., 2010). Sobre a avaliação do temperamento infantil, a revisão de Linhares et al. (2013) também revelou o predomínio de questionários. Acerca de tal aspecto, essas autoras indicaram as vantagens metodológicas das observações, em associação aos questionários, de modo que a avaliação não ocorra exclusivamente com base nas informações dos genitores. Nessa mesma direção, Aring e Renk (2010) assinalaram que os relatos dos genitores podem estar sujeitos à memória ou mesmo à desejabilidade social.

Adicionalmente, Schmidt et al. (2011) sugeriram a contribuição de instrumentos pautados nas abordagens qualitativas para avaliação do temperamento infantil (e.g., entrevistas), no sentido de melhor abranger a complexidade do fenômeno em questão. Assim, ressalta-se a relevância de se examinar aspectos como afetos, percepções, pensamentos e crenças maternas e paternas, sob o enfoque qualitativo (Pleck, 2010). Entretanto, poucos estudos têm salientado a qualidade da interação, em particular com o intuito de compreender como se dá a relação entre os comportamentos dos genitores e o desenvolvimento da criança (Cerniglia et al., 2014). Dados como esses poderiam ser coletados por meio de instrumentos que investigassem aspectos subjetivos, com vista à obtenção de informações mais acuradas (Millikovsky-Ayalon et al., 2015).

Logo, a adoção de métodos mistos enriqueceria o entendimento sobre esses fenômenos, à medida que pode ser difícil compreender as características do contexto familiar e as diferenças individuais utilizando somente abordagem quantitativa ou somente abordagem qualitativa, tal como pontuaram Yoshikawa et al. (2008). Nessa direção, os métodos mistos podem reduzir vieses ou limitações decorrentes do uso de cada uma das abordagens isoladamente, o que contribuirá para o avanço da literatura sobre envolvimento parental e temperamento de crianças.

 

Considerações Finais

O objetivo do presente estudo foi analisar a produção científica sobre as relações entre envolvimento parental e temperamento de crianças, de forma a sistematizar os aspectos metodológicos e os principais resultados da literatura revisada. Algumas lacunas foram identificadas, bem como possibilidades para pesquisas futuras foram sugeridas. Dentre elas, destacam-se a importância de investigações longitudinais, de amostras compostas por crianças maiores e por famílias com diferentes configurações, além de dados coletados em observações e entrevistas, buscando compreender a complexidade do fenômeno também por meio de métodos mistos e qualitativos, ao invés de exclusivamente quantitativos.

Além das contribuições, esse estudo também apresenta limitações. Nesse sentido, cita-se a restrição referente ao período de publicação dos artigos, às bases de dados pesquisadas e aos descritores estabelecidos. É possível que ao se buscar por publicações anteriores ao ano de 2007, em bases de dados adicionais, tanto nacionais quanto internacionais, ou mesmo em livros, dissertações e teses, considerando ainda o uso de diferentes descritores, outros estudos sejam encontrados, de modo a contribuir para ampliar a compreensão sobre o envolvimento parental e o temperamento de crianças.

Entende-se que a ampliação da compreensão acerca desses fenômenos pode trazer importantes implicações à prática profissional. Nessa direção, ressalta-se a relevância da realização de intervenções voltadas à promoção do envolvimento parental, com ênfase a aspectos como a sensibilidade e a responsividade materna e paterna, bem como à compreensão das diferenças individuais das crianças. Isso porque genitores mais sensíveis e responsivos podem identificar e melhor lidar com as disposições temperamentais infantis, o que também tende a reduzir as expressões comportamentais relacionadas ao temperamento difícil nas crianças e o risco de ocorrência de psicopatologias. Adicionalmente, esses aspectos também podem contribuir para aumentar a satisfação parental e diminuir as percepções negativas dos genitores a respeito dos filhos. Assim, tais intervenções se constituem em fator de proteção à saúde e ao desenvolvimento individual e familiar.

 

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Submetido em: 30.03.17
Aceito em: 16.01.18

 

 

Agradecimento. As quatro primeiras autoras agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas bolsas de doutorado no país e de doutorado sanduíche no exterior. Os dois últimos autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelas bolsas de produtividade em pesquisa.
1 No presente estudo, o termo 'genitores' será utilizado para se referir à mãe e ao pai, conjuntamente. O termo 'pais' será usado exclusivamente como plural de 'pai'.
2 Trata-se de uma maneira relativamente nova para abordar análises baseadas em modelos de equações estruturais de dados longitudinais. Segundo Planalp e Braungart-Rieker (2016), os modelos latent difference score levam em conta a dinâmica das mudanças longitudinais e incorporam os determinantes dessas mudanças, ao mesmo tempo em que também consideram as mudanças não lineares. Os autores do presente estudo não identificaram tradução para a língua portuguesa do título dessa análise.
3 Em dois estudos (Flouri et al., 2016; Planalp e Braungart-Rieker, 2016) o envolvimento materno foi examinado como preditor do envolvimento paterno, mas não foi associado ao temperamento da criança. Em um estudo (Monteiro et al., 2010), avaliou-se a percepção do pai sobre o seu envolvimento relativamente ao da mãe.
4 A saber: cuidado em dia de semana e final de semana; acessibilidade em dia de semana e final de semana; responsabilidade em dia de semana e final de semana; brincadeira em dia de semana.
5 A saber: cuidado em dia de semana; acessibilidade em dia de semana e final de semana; responsabilidade em dia de semana; brincadeira em dia de semana.

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