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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.12 no.3 São Leopoldo set./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2019.123.15 

ARTIGOS

 

Fatores de Proteção e Risco na funcionalidade em adultos e idosos com deficiência

 

Factors of Protection and Risk in functionality in adults and elderly disabilities

 

 

Maria Andreia da Nóbrega Marques; Felipe Augusto Cunha; Makilim Nunes Baptista

Universidade São Francisco, USF. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Waldemar César da Silveira, 105.Vl. Cura D'Ars (SWIFT), Campinas - São Paulo, CEP 13045-510 Brasil. mandreiamarques@yahoo.com.br, felp.cunha@gmail.com, makilim01@gmail.com

 

 


RESUMO

O objetivo do presente estudo foi avaliar a associação da funcionalidade de adultos e idosos com fatores de risco e proteção (depressão, suporte familiar, religiosidade, motivos para viver e qualidade de vida). Este estudo foi de natureza transversal e realizado em uma amostra de 140 pacientes com deficiência física ou auditiva, atendidos em um centro de reabilitação. Foram utilizados os instrumentos Miniexame do Estado Mental, Questionário de Informações Pessoais e Clínicas, Escala Baptista de Depressão (Versão Hospital/Ambulatório), Inventário de Percepção de Suporte Familiar, Escala de Religiosidade da Duke, Escala de Ações de Autocuidado das Pessoas Idosas com Enfoque nas Atividades da Vida Diária (Básicas, Instrumentais e Avançadas), Escala de Motivos para Viver e Escala de Qualidade de Vida de Pessoa Idosa de Vitor. Em relação às análises de dados, foram realizados o teste t de Student, Correlação de Pearson e análise de regressão linear com método de reamostragem. Como principais resultados, a depressão e a qualidade de vida insatisfatória foram evidenciadas como fatores de risco capazes de predizer de forma significativa a funcionalidade. Também foram identificados a percepção de suporte familiar, religiosidade e motivos para viver como fatores de proteção capazes de ajudar na adaptação às respostas pessoais e favorecer atividades da vida diária. Esses resultados revelam a importância desses fatores na funcionalidade de pacientes, bem como no planejamento e acompanhamento da reabilitação de adultos e de idosos com deficiência.

Palavras-chave: Deficiência, Sintomas depressivos, Qualidade de vida


ABSTRACT

The objective of the present study was to evaluate the association between the functionality of adults and elderly people with risk and protection factors (depression, family support, religiosity, reasons for living and quality of life). This cross-sectional study was carried out in a sample of 140 patients with physical or hearing impairment, attended at a rehabilitation center. Mental State Miniexame, Personal and Clinical Information Questionnaire, Baptist Depression Scale (Hospital / Ambulatory Version), Family Support Perception Inventory, Duke Religiousness Scale, Self-Care Action Scale for Elderly People with a Focus in the Activities of Daily Life (Basic, Instrumental and Advanced), Scale of Living Reasons and Vitor's Elderly Life Quality Scale. Data were analyzed using Student's t-test, Pearson's correlation and linear regression analysis with resampling method. As main results, depression and unsatisfactory quality of life were evidenced as risk factors capable of meaningfully predicting functionality. The perception of family support, religiosity and reasons to live as protective factors capable of helping to adapt to personal responses and favor activities of daily living were also identified. These results reveal the importance of these factors in the functionality of patients, as well as in the planning and monitoring of the rehabilitation of adults and the elderly with disabilities.

Keywords: Desabled, Depressive Symptoms, Life Quality.


 

 

Introdução

A funcionalidade é concebida como uma interação dinâmica entre estado de saúde e fatores contextuais, que podem ser pessoais ou ambientais. Os aspectos pessoais englobam características que não são parte da condição de saúde principal, como sexo, idade, outros estados de saúde, estilo de vida, modos de enfrentar problemas, eventos vividos e outras características que podem influenciar a funcionalidade em qualquer nível. Já os ambientais envolvem o espaço que o indivíduo está inserido, podendo ser considerado um ambiente favorável ou não, interferindo diretamente na funcionalidade desse local. Os elementos contextuais, tanto os pessoais como os ambientais, podem ser facilitadores ou obstáculos à funcionalidade da pessoa (World Health Organization, 2004). A questão da funcionalidade tem notoriedade e, nos últimos anos, tem sido extremamente abordada na perspectiva da inclusão em seus vários contextos, como o das deficiências (Brasil, 2012, 2013a, 2013b, 2013c, 2015, 2016) e o do envelhecimento (Cardoso e Costa, 2010; Castaneda et al.,2014; Medeiros et al., 2017).

De acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (WHO, 2004), as deficiências físicas estão relacionadas com funções ou estruturas do corpo, como um desvio importante ou uma perda. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a partir do Censo Demográfico de 2010, aponta mais de 45 milhões de pessoas com pelo menos uma dessas condições, correspondendo a 23,9% da população brasileira. A região Nordeste continua concentrando os municípios com os maiores percentuais de indivíduos com algum tipo de deficiência, acima de 35%, com destaque aos que residem no Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará. Considerando somente o Piauí, o estado possui aproximadamente 27,59% dos seus habitantes com algum tipo de deficiência investigada (visual, auditiva, motora e intelectual), o que representa cerca de 860.000 pessoas.

Em relação à proporção de pessoas com deficiência segundo a idade, os dados censitários apontaram que 24,9% da população encontra-se entre 15 e 64 anos, e os sujeitos com idade igual ou superior a 65 anos (67,7%) atingiram mais da metade do público que apresenta algum tipo de deficiência física. Esse aumento de deficiências nos mais idosos foi relacionado às limitações do envelhecimento. Apesar de essas insuficiências ocorrerem em qualquer etapa da vida, é possível detectar um número mais elevado nos idosos (IBGE, 2010).

A partir da CIF (WHO, 2004), a abordagem das deficiências evoluiu do modelo médico, que considerava exclusivamente a patologia e o seu diagnóstico, para o sistema que enfatiza também os contextos ambientais e os fatores pessoais de quem tem o problema. No que tange ao citado aspecto, devem-se considerar os fatores pessoais, elementos subjetivos individuais, que refletem o modo como as experiências são vividas (Fontes et al., 2010), incluindo as formas de reação diante dos eventos considerados estressores. Nesse contexto alguns eventos de vida estressores, como por exemplo o surgimento de algumas doenças incapacitantes geradas pelo avanço da idade nos idosos, são reconhecidas como ameaças no agravamento de alguns transtornos psicológicos, por exemplo, o surgimento de possíveis sintomas depressivos, podendo culminar futuramente em um Episódio Depressivo Maior (EDM) propriamente dito (Furlanetto e Brasil, 2006).

O EDM é definido pelo DSM-5 (Associação Psiquiátrica Americana[APA], 2014), por alguns critérios e sintomas específicos, tais como o humor deprimido e a falta de prazer e interesse em atividades que antes faziam sentido na vida do sujeito (anedonia); sentimento de vazio ou irritabilidade, acompanhado de alterações somáticas (alteração no sono e apetite) e cognitivas (pensamentos negativos e desesperança) que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do organismo. Dessa forma, pode-se considerar a sintomatologia depressiva como um obstáculo à funcionalidade.

No que se refere aos eventos estressores, condições médicas específicas têm sido apontadas como acontecimentos associados a depressão (Hammen, 2005; APA, 2014). Vários estudos tiveram como resultados a identificação de um número significativo de quadros depressivos em amostras constituídas por pacientes com doenças crônicas ou outras situações de agravos à saúde (Baptista et al., 2008; Salomé, Blanes et al., 2011; Dal-Bó et al., 2013; Troncoso e Conterno, 2015). Outras condições crônicas, além das enfermidades, são consideradas eventos estressores e associadas à depressão, dentre as quais se têm as deficiências (Resende et al., 2007). Uma deficiência física adquirida, por exemplo, ao provocar significativo comprometimento da capacidade funcional pode desencadear também respostas de estresse psicossocial de alto impacto (Vera e Araújo, 2011).

Existem diferenças individuais na avaliação do evento de estresse, podendo desencadear reação depressiva, representando vulnerabilidade cognitiva ou de personalidade (Hammen, 2005). Segundo Diehl (1999), os momentos que o indivíduo passa durante a sua vida podem ser avaliados como positivos ou negativos, assim, influenciando no seu modo de enfrentar determinadas situações do cotidiano. Nessa direção, existem fatores pessoais que se configuram como recursos para enfrentamento aos eventos estressores, como as perdas associadas às deficiências.

Os aspectos protetivos fortalecem as estratégias de enfrentamento da pessoa, constituindo-se em condições de suporte que ajudam a diminuir a probabilidade do indivíduo vivenciar eventos negativos, como é o caso da depressão. Motivos para viver têm sido apontados como importantes em situações que demandam processo de adaptação e são indicadores protetivos nos transtornos mentais, abuso de substâncias, comportamentos delinquentes e ideação suicida. Religiosidade, espiritualidade e suporte familiar também podem ser considerados importantes variáveis protetivas para auxiliar na manutenção do equilíbrio emocional no indivíduo (Gomes, 2015; Silva et al., 2014).

A espiritualidade e a religiosidade podem proporcionar aumento do senso de propósito e do significado da vida, elementos que são relacionados à maior capacidade do ser humano em responder de forma positiva às demandas e às adversidades do cotidiano (Lawler e Younger, 2002). É conhecido o efeito positivo do fator espiritual e da religião sobre a saúde, com a mediação de mecanismos específicos. Um desses benefícios é o aumento de comportamentos preventivos e de estilos de vida mais saudáveis ou a inibição de atitudes prejudiciais ao bem-estar. Outro exemplo é o apoio social de pequenos grupos, que contribuem para as pessoas se sentirem amadas, cuidadas e valorizadas (Son e Wilson, 2011).

Outro aspecto importante que é considerado como um fator protetivo seria o suporte familiar. Esse suporte é definido a partir do grau em que as necessidades de apoio são satisfeitas pela família, o que pode ser manifestado por meio de ações que demonstrem afetividade, diálogo e autonomia entre seus membros. Tal aspecto exercido de maneira adequada permite à pessoa adquirir habilidades e autoconfiança necessárias para enfrentar os desafios (Cardoso e Baptista, 2015). De outra forma, conforme referem Teodoro et al. (2012), a família pode representar fonte de estresse, como em situações de conflitos, dificultando o enfrentamento de crises. Dessa maneira, a percepção que o sujeito tem do suporte familiar que recebe pode ser positiva ou não, podendo interferir diretamente na sua qualidade de vida.

Na população idosa, a qualidade de vida tem sido bastante estudada (Khoury e Sá-Neves, 2014; Barbosa et al., 2015; Nogueira e Silva, 2015). Isso se deve, em parte, à ideia de que não basta uma existência longa, sendo fundamental a boa qualidade de vida. O envelhecimento saudável não é resultado apenas da ausência de doenças, mas também da manutenção das condições de autonomia e de funcionalidade, o que prediz um bom nível de bem-estar (OMS, 2005).

A pesquisa de Pinto (2018) teve como objetivo inicial avaliar a resiliência, qualidade de vida, depressão, ansiedade, religiosidade e capacidade física em 108 idosos, sendo metade da amostra com dor crônica e a outra sem dores. Os principais construtos foram avaliados a partir da Escala de Depressão Geriátrica (GDS), o questionário de qualidade de vida (SF-36), a incapacidade funcional a partir da Medida da Incapacidade Funcional (MIF) e a religiosidade através do Questionário de Duke. Os resultados mostraram que mais de 35% dos participantes que sofriam dor apresentaram sintomatologia depressiva, seguidos de baixos índices de qualidade de vida, porém apresentaram uma percepção adequada de sua religiosidade. A autora ressaltou também que, ao passo que o paciente se queixava de um nível maior de dor, diretamente interferia na sua capacidade física, resultando em maior sintomatologia depressiva e piora na qualidade de vida.

Na avaliação da qualidade de vida de idosos, devem-se considerar os domínios físicos, psicológicos e sociais (Papuc e Stelmasiak, 2012). Há perdas e diminuição de capacidades próprias do envelhecimento que podem ser vividas como eventos estressantes, devido às limitações funcionais (Fortes e Neri, 2004; Neri e Fortes, 2006; Resende et al., 2007). Ademais, estudos mostram que esses sujeitos, estando com doenças crônicas, sofrem deterioração da qualidade de vida como resultado das limitações e das incapacidades (Santos et al., 2013).

Como mencionado no trabalho de Pinto (2018), além das variáveis pesquisadas em comum com este estudo (depressão, religiosidade e qualidade de vida), também é importante avaliar outros construtos, como por exemplo os motivos para viver e o suporte familiar. Assim, considerando a alta prevalência de deficiências entre adultos e idosos e a importância da avaliação de fatores pessoais de risco e protetivos à funcionalidade, este trabalho teve como objetivo geral avaliar a associação da funcionalidade de adultos e idosos entre os fatores de risco e proteção (depressão, suporte familiar, religiosidade, motivos para viver e qualidade de vida).

 

Método

Participantes

A amostra foi composta por 140 pessoas, entre adultos e idosos com deficiência física ou deficiência auditiva atendidos por um centro de reabilitação em Teresina-PI, com variação de idade entre 19 e 88 anos (m=51,03; DP=15,80). A maior parte dos sujeitos foram do sexo masculino (N=87; 60,5%). Quanto ao estado civil, houve um equilíbrio, 71 (50,9%) relataram não ter parceiro e 69 (49,1%) tinham uma união amorosa estável. A fim de facilitar a compreensão, os dados sociodemográficos dos grupos serão dispostos na Tabela 1, que foram divididos em dois grupos distintos, um de adultos (n=96; 68,6%) e outro de idosos (n=44; 31,4%).

O nível de escolaridade apresentou mais frequência com baixa ou média escolaridade (pessoas que não tinham ensino superior) e não estando trabalhando. E a maioria morava com a família constituída, incluindo quatro ou mais pessoas. Quanto ao perfil clínico, a maior parte tinha lesão medular ou outro tipo de doença neurológica e tinha dois anos ou mais do trauma ou de diagnóstico.

Instrumentos

Questionário de Identificação: foi construído pelos pesquisadores e teve por objetivo obter informações pessoais e da situação clínica de cada participante. As variáveis pessoais investigadas foram: idade, sexo, estado civil, escolaridade, ocupação, com quem mora e quantas pessoas moram na residência. As características clínicas incluíram: diagnóstico e tempo de lesão ou diagnóstico.

Mini-Exame do Estado Mental (MEEM; Bertolucci et al., 1994): é um instrumento que realiza um rastreio do funcionamento cognitivo, sendo que seu resultado foi utilizado como critério de inclusão de participantes deste estudo. Inclui 11 itens, divididos em duas seções. A primeira exige respostas verbais a questões de orientação, memória e atenção. A segunda exige leitura e escrita e avalia habilidades de nomear, de seguir comandos verbais e escritos, de escrever uma frase e de copiar um desenho. Foi utilizada uma versão traduzida e adaptada no Brasil do MEEM construído por Folstein e Foltein (1995), com pontos de corte sugestivos de déficit cognitivo para intervalos determinados com base na educação formal: para analfabetos, 13 pontos; para indivíduos com baixa ou média escolaridade, 18 pontos; e, para aqueles com alto nível de escolarização, 26 pontos (Bertolucci et al., 1994).

Escala Baptista de Depressão (Versão Hospital/Ambulatório) (EBADEP-HOSP-AMB; Baptista, 2011): é uma escala de rastreamento de sintomatologia depressiva, direcionada a amostras ambulatoriais e hospitalares. É derivada dos descritores da Escala Baptista de Depressão (Versão Adulto) (EBADEP-A) (Baptista, 2012). É constituída por 43 frases, estruturadas em formato Likert de três pontos (0, 1 e 2), com pontuação mínima de zero e máxima de 86 pontos. É requisitado ao participante que ele escolha uma das alternativas "sim", "às vezes" ou "não" como resposta a cada item. Para a interpretação, quanto menor for a pontuação, menor será a sintomatologia em depressão. Segundo o estudo de Cremasco e Baptista (2017) o instrumento apresentou índices de fidedignidade (acima de 0,89) e com uma variância total explicada de 56%

Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF; Baptista, 2010): Avalia a percepção que o indivíduo tem do apoio que recebe do grupo familiar. É composto por 42 itens, divididos em três fatores: afetivo-consistente (α=0,91) adaptação familiar (α=0,83) autonomia familiar (α=0,80). As questões são do tipo Likert de três pontos, nas quais o respondente assinala nunca (0), quase nunca (1) ou quase sempre (2). Quanto maior a pontuação, maior será a percepção adequada de suporte familiar.

Escala de Religiosidade da Duke (DUREL; Moreira-Almeida et al., 2008): versão traduzida para o português de uma breve escala construída por Koenig et al. (1997) que avalia o elemento religioso. Possui cinco itens que captam três das dimensões de religiosidade que mais se relacionam com desfechos em saúde: organizacional, não organizacional e religiosidade intrínseca.

Escala de Ações de Autocuidado das Pessoas Idosas com Enfoque nas Atividades da Vida Diária (Básicas, Instrumentais e Avançadas (EABVD-EAIVD-EAAVD; Silva, 2015): é um instrumento que tem enfoque nas atividades da vida diária, que estão formadas por três grupos distintos: atividades básicas da vida diária (EABVD), atividades instrumentais da vida diária (EAIVD) e atividades avançadas da vida diária (EAAVD). Nas duas primeiras, as opções são: "ajuda total" (um ponto); "ajuda parcial" (dois pontos); "sem ajuda" (três pontos); e "não se aplica" (zero ponto). Para a EAAVD, adotaram-se as seguintes alternativas de respostas: "nunca fiz" (um ponto); "parei de fazer" (dois pontos); "faço" (três pontos), sendo informados os motivos da escolha de cada opção. Para os três índices, quanto maior a sua pontuação, melhor está a ação de autocuidado de cada atividade.

Escala de Motivos para Viver (EMVIVER; Gomes, 2015): instrumento construí-do e fundamentado na Psicologia Positiva. É composta de 29 itens, no formato Likert de três pontos, e pontuação mínima de zero e máxima de 87 pontos. As questões são aglutinadas em três fatores que explicaram 27,8% da variância total: Relacionamentos Significativos (α=0,97), Atração pela Vida (α=0,94) e Virtudes (α=0,92),

Escala de Qualidade de Vida de Pessoa Idosa de Vitor (EQVI VITOR; Silva e Baptista, 2016): é destinada a medir a qualidade de vida das pessoas idosas. Está escala é formada por 48 itens e seis domínios: 1) Autonomia e Dimensão Psicológica; 2) Meio Ambiente; 3) Independência Física; 4) Família; 5) Saúde; e 6) Dimensão Social. Todas as questões assumem natureza positiva, com as seguintes opções de respostas: "muito insatisfeito" (um ponto); "insatisfeito" (dois pontos); "nem satisfeito nem insatisfeito" (três pontos); "satisfeito" (quatro pontos) e "muito satisfeito" (cinco pontos). A pontuação mínima é de 48 pontos e a máxima, de 240 pontos. Quanto mais próximo ao limite inferior, pior é a qualidade de vida.

Procedimentos

Após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco (USF) (CAAE: 79433417.4.0000.5514), teve início a coleta de dados da investigação, entre janeiro e agosto de 2018, em um centro de reabilitação situado no Piauí. Ao candidato à participação do estudo e/ou ao seu responsável, foram fornecidas informações sobre a pesquisa, os seus objetivos e a utilização dos instrumentos. Após a assinatura do TCLE, houve a aplicação do MEEM, e, caso o adulto ou o idoso obtivesse a pontuação mínima exigida, realizava-se a aplicação dos demais instrumentos. Na situação de participante não alfabetizado ou possuindo dificuldade de leitura e/ou escrita, optou-se pela aplicação acompanhada. A coleta de dados foi realizada individualmente, em salas de espera da instituição, com tempo médio de duração de 50 minutos, e na seguinte sequência: Questionário de Informações Pessoais e Clínicas, Escala Baptista de Depressão (Versão Hospital/Ambulatório), Inventário de Percepção de Suporte Familiar, Escala de Religiosidade da Duke e Escala de Ações de Autocuidado das Pessoas Idosas com Enfoque nas Atividades da Vida Diária (Básicas, Instrumentais e Avançadas). Por fim, foi aplicada a Escala de Motivos para Viver, com os adultos, e a Escala de Qualidade de Vida de Pessoa Idosa de Vitor, com os idosos.

Análise dos dados

Foi utilizada estatística descritiva para caracterizar o perfil sociodemográfico e clínico da amostra, em dois grupos distintos, adultos (de 18 até 59 anos e 11 meses) e idosos (a partir de 60 anos). Para analisar possíveis diferenças de média dos instrumentos usados entre grupos, foi utilizado testes paramétricos como o teste t de Student. Por fim, foram analisadas, separadamente, as correlações entre os fatores de risco e proteção utilizados pelo grupo de adultos e entre os utilizados pelo conjunto de idosos, utilizando-se o teste de correlação de Pearson. Para obtenção da relação entre as variáveis independentes e as atividades da vida diária, foi realizada a análise de regressão linear com método de reamostragem (bootstrap).

 

Resultados

Inicialmente foram realizadas análises estatísticas a partir da diferença de média das respostas dos participantes e das suas diferenças entre os grupos com todas as variáveis sociodemográficas e com os instrumentos utilizados. Apenas dois instrumentos apresentaram resultados significativos, sendo esses o IPSF (t=-1,91[81]; p=0,000) que indicou que as pessoas que estão em uma situação conjugal estável (M=69,27; DP=9,25) apresentaram maior suporte familiar que os solteiros (M=64,26; DP=14,39); em relação ao DUKE (t=-1,83[94]; p=0,008), os homens (M=10,11; DP=4,45) demonstraram ter menos elementos religiosos do que as mulheres (M=8,89; DP=2,12). Não foram descritas as demais análises de comparação de médias porque não deram resultados estatisticamente significativos.

Posteriormente, foram verificadas as correlações das características de ambos os grupos separadamente. A interpretação das magnitudes foi feita de acordo com Dancey e Reidy (2006) e serão expostas a seguir na Tabela 2 e 3.

A partir dos resultados da Tabela 2, acerca do escore de correlação de Pearson entre variáveis no grupo de pacientes adultos, observa-se que os instrumentos apresentaram correlações negativas e positivas, variando entre magnitudes fracas e fortes (r=-0,28 a r=0,66). Assim, a EBADEP-HOSP-AMB resultou em correlações negativas e fracas com todos os fatores das atividades da vida diária, e moderada com o IPSF. Considerando os fatores das atividades da vida diária, foram encontradas correlações somente entre atividade básica com atividades instrumentais, e essa com atividades avançadas. Sobre as correlações dos fatores das atividades da vida diária, apenas o EAAVD apresentou uma correlação positiva de magnitude fraca (r=0,28) com o IPSF. Nesse grupo de pacientes, as demais correlações não foram relatadas por não serem estatisticamente significativas.

Já em relação aos idosos (Tabela 3) observa-se que os instrumentos apresentaram correlações negativas e positivas, variando entre magnitudes fracas e fortes (r=-0,46 a r=0,66). Foi identificada correlação negativa e moderada (r=-0,46) entre os instrumentos EBADEP-HOSP-AMB e EQVI-Vitor. Os fatores das atividades da vida diária, EABVD e EAAVD resultaram em valores positivos de magnitude moderada (r=-0,34 e 0,43) em comparação com a EQI-Vitor.

Para as análises de regressão linear simples, a amostra foi dividida em dois segmentos: dos pacientes adultos e dos idosos. Em relação aos primeiros, foram realizadas três avaliações separadamente, com as variáveis dependentes "EABVD", "EAIVD" e "EAAVD". Nas três, as variáveis independentes foram "sintomas da depressão", "percepção de suporte familiar", "religiosidade" e "motivos para viver" (Tabela 4).

Para a observação de regressão linear em relação à variável dependente EABVD dos adultos, os resultados da Tabela 4 informam que as variáveis independentes podem explicar 9,4% (R2 0,094) da variação das atividades básicas da vida diária desses sujeitos. Na análise de variância, apenas "sintomas da depressão" predisseram EABVD. No que se refere à variável dependente EAIVD desses mesmos indivíduos, as variáveis independentes podem informar que 11,5% (R2 0,115) da variação das atividades instrumentais da vida diária desses pacientes, e novamente os sintomas da depressão foram expressivos no modelo. Por fim, em relação a EAAVD, essa variável independente explicou 29,8% (R2 0,298) dos adultos avaliados. A análise apontou que há significância estatística nesse aspecto a partir de "religiosidade" (p=0,001), "motivos para viver" (p=0,008) e "percepção de suporte familiar" (p=0,046), nesta ordem de importância.

Quanto ao conjunto de idosos, também foram realizadas três testagens de regressão linear simples com as variáveis dependentes "EABVD", "EAIVD" e "EAAVD". As variáveis independentes nessas três análises foram "sintomas da depressão", "percepção de suporte familiar", "religiosidade" e "qualidade de vida" (Tabela 5).

Em relação ao grupo idoso, a Tabela 5 mostra para o modelo que foi calculado, que o R2 apresentou um valor de 0,191, informando que as variáveis independentes podem explicar 19,1% da alteração das atividades básicas da vida diária desses pacientes. Na análise de variância, foi evidenciada que "qualidade de vida" tem significância (Beta 0,468). No que se refere às atividades instrumentais e às avançadas da vida diária, nenhuma variável independente demonstrou significância estatística nesses sujeitos idosos.

 

Discussão

O presente estudo teve como proposta analisar fatores associados à funcionalidade de adultos e idosos com deficiência física. A capacidade funcional da amostra foi analisada a partir dos instrumentos EABVD-EAIVD-EAAVD, considerando as habilidades funcionais relatadas, o quanto a pessoa diz ser independente ou necessita de ajuda para a realização de suas Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD), suas Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) e suas Atividades Avançadas da Vida Diária (AAVD). Essas habilidades são comportamentos influenciados por fatores econômicos, educacionais e socioculturais, como, por exemplo, realizar o processo de higiene pessoal básica, produção inédita de um texto, a participação em reuniões de trabalho ou o aprendizado de uma língua estrangeira (Neri e Vieira, 2013).

Averiguando-se os sintomas da depressão, percepção de suporte familiar, religiosidade, motivos para viver e qualidade de vida, ABVD, AIVD e AAVD se diferenciam entre grupos das variáveis sociodemográficas e clínicas da amostra. Duas categorias foram evidenciadas a partir da análise, as quais são apresentadas a seguir: 1) união conjugal e percepção satisfatória de suporte familiar; 2) sexo e superioridade em experiências religiosas.

Há uma quantidade próxima entre os participantes sem parceiro e os com algum tipo de união. Contudo, foram significativas as diferenças de percepção de suporte familiar no que se refere à situação conjugal dos avaliados, com percepção mais satisfatória entre os casados ou com outro tipo de vínculo. Com uma amostra de idosos, o estudo de Vieira (2015) encontrou diferenças significativas entre essas duas variáveis, sendo a percepção mais satisfatória por casados, comparados com solteiros, divorciados e viúvos, resultados que apontam correspondência às evidências desta pesquisa.

O construto Suporte Familiar adotado nesta pesquisa apresenta em seu modelo a dimensão "coesão", definida como uma variação entre separação e conexão dos membros da família ou vínculo emocional que os integrantes possuem. Nessa perspectiva, não há uma relação direta entre tal variável e a estrutura da família (tipo de agrupamento), de modo que o adequado suporte familiar (carinho, empatia, afetividade, pertença, aceitação, apoio, comunicação etc.) pode advir de diversas estruturas (Baptista, 2005). Assim, os achados deste estudo e do de Vieira (2015) quanto à percepção do tratado aspecto mais satisfatória entre os sujeitos que têm algum tipo de união podem ser explicados a partir da ideia de que esses possuem vínculos representativos de uma boa e intensa coesão.

A análise de diferença de médias também evidenciou desigualdades na religiosidade em relação ao sexo dos participantes, com as mulheres possuindo mais experiências no âmbito da religiosidade. A relação entre esses aspectos religiosos e o sexo foi objeto de investigação de Noronha et al. (2017), em que homens e mulheres não se distinguiram quanto ao fator religioso. Com uma amostra de pacientes com deficiência e em reabilitação, no estudo realizado por Vera e Araújo (2011), a variável "sexo" não predeterminou diferença significativa no emprego das estratégias de enfrentamento estudadas, dentre as quais está a religiosidade, porém as mulheres apresentam mais facilidade em atribuir elementos da religiosidade para sua vida, por exemplo, frequentar mais templos religiosos e buscar mais apoio com divindades espirituais. Portanto Noronha et al. (2017), sugeriram que a religiosidade seja mais investigada empiricamente em relação ao sexo, pois, embora estudos sugiram diferenças nos padrões religiosos, porém faltam informações sobre o desenvolvimento e as principais influências da religião na variável "sexo".

Na busca por identificar correlações entre as características estudadas no grupo de adultos e no de idosos com deficiência, cinco categorias foram constituídas, sendo discutidas a seguir: 1) correlação entre ABVD com AIVD, e AIVD com AAVD de adultos e de idosos; 2) correlação entre ABVD e EAAVD, e qualidade de vida de idosos; 3) correlação entre sintomas da depressão e qualidade de vida em idosos; 4) correlação entre percepção de suporte familiar e sintomas depressivos em adultos; e por fim, correlação entre ABVD, AIVD e AAVD e sintomas depressivos em adultos e suporte familiar.

Foi evidenciada uma correlação positiva moderada entre ABVD com AIVD (r=0,66) e AIVD com AAVD (r=0,39) nos dois grupos. Ou seja, quanto mais necessitam de ajuda nas ABVD, mais precisam também nas AIVD e consequentemente na AAVD, por exigir certos domínios em atividades mais avançadas. Corroborando essa evidência, Ponte e Fedosse (2016) referem que as pessoas com sequelas permanentes (como é o caso dos participantes deste estudo) vivenciam restrições, pois existem limitadores tanto nas suas ABVD como nas AIVD e AAVD. Gold (2012) afirma que a educação inferior tem sido relacionada com um pior estado funcional em AIVD, o que pode explicar tais resultados, já que a maioria dos participantes têm baixa ou média escolaridade. Também assevera que a cognição é fundamental para a realização dessas atividades e que mesmo um leve comprometimento cognitivo pode interferir na independência nessas ações. Ressalta-se que os participantes possuíram capacidade em tal âmbito para inclusão nesta pesquisa. Contudo, infere-se que há a possibilidade de eles possuírem algum declínio cognitivo em nível muito leve, que é, porém, capaz de interferir nas AIVD, especialmente entre os idosos.

A capacidade funcional possibilita ao idoso cuidar de si mesmo e executar as atividades de vida cotidiana, mesmo com a presença de doenças e comorbidades (Cardoso e Costa, 2010), representando sua habilidade para conduzir a vida de maneira independente e autônoma (Veras, 2012) e prediz boa qualidade de vida (Freitas et al., 2016). No contexto das deficiências, tal aspecto é apontado como um dos domínios determinantes da qualidade de vida (Rangel et al., 2013). Em acordo com essa perspectiva, correlação positiva moderada (r=0,43) foi encontrada entre ABVD e qualidade de vida nos idosos com deficiência da amostra, e correlação positiva fraca (r=0,34) entre AAVD e qualidade de vida também, o que sugere que, quanto mais independentes na realização dessas atividades, maior a qualidade de vida deles.

Considerando a evidência identificada nesta investigação de correlação positiva moderada entre ABVD, AIVD e AAVD da amostra, pode-se considerar que, nos idosos com deficiência, essa relação significativa entre qualidade de vida e ABVD ocorre também com as AIVD e AAVD. Assim, sugere-se também que, nos sujeitos com deficiência, quanto mais independentes na realização das AIVD, maior a sua qualidade de vida (Freitas et al., 2016).

Neste estudo, foi identificada correlação negativa moderada (r=-0,46) entre sintomas da depressão e qualidade de vida em idosos com deficiência, ou seja, a qualidade de vida insatisfatória é capaz de se associar a sintomas da depressão e vice e versa. Resultados semelhantes foram encontrados por Rangel et al. (2013), que identificaram correlação moderada entre essas duas variáveis, quando avaliaram 139 pacientes adultos e idosos com deficiência e em reabilitação em um município de Alagoas. Nesses sujeitos, quando há presença de depressão e de dependência do cuidador para a realização das atividades diárias, ocorre significante diminuição de todos os domínios da qualidade de vida.

No que se refere ao fator protetivo aos sintomas de depressão, entre os resultados dos adultos com deficiência deste estudo, a análise evidenciou correlação negativa entre percepção de suporte familiar e sintomas depressivos. O apoio da família pode ser pensado como agente de proteção diante do risco a doenças mentais e como agente amortecedor frente aos eventos estressantes (Souza e Baptista, 2008). A partir disso, é possível explicar os resultados deste trabalho, em que, quanto mais satisfatória a percepção de suporte familiar, menos a sintomatologia depressiva está presente, estando essa percepção satisfatória funcionando, então, como fator protetivo aos referidos sintomas.

Por fim, quando foram realizadas as correlações entre os sintomas depressivos e as principais atividades de vida diária (ABVD, AIVD e AAVD), foram encontrados resultados estatisticamente significativos somente no grupo de adultos. Assim, entende-se que quando o sujeito apresenta algum nível considerado de sintomatologia depressiva, o mesmo poderá sentir desanimo e dificuldade em focar sua atenção em atividades que antes servia como fontes de prazer (anedonia), atribuindo mais impedimentos no momento de elaborar e/ou executar suas atividades diárias, sendo essas básicas ou avanças (Brito e Rabinovich, 2012)

Considerando os construtos que foram pertinentes para realizar as análise de regressões, sendo esses a percepção de suporte familiar, religiosidade, motivos para viver, qualidade de vida e sintomas da depressão na variação da funcionalidade de adultos e idosos com deficiência, três resultados foram encontrados: 1) percepção de suporte familiar, religiosidade e motivos para viver como facilitadores das AAVD de adultos; 2) sintomas da depressão interferindo às ABVD e às AIVD de adultos; 3) qualidade de vida insatisfatória como às ABVD de idosos. Em relação às AAVD não foram identificadas predições entre esse tipo de atividade funcional e as ABVD ou as AIVD. Também não foram identificadas predições entre AAVD e as demais variáveis estudadas (sintomas da depressão, percepção de suporte familiar, religiosidade, motivos para viver e qualidade de vida).

O desempenho de AAVD requer funcionamento cognitivo preservado e envolve decisões, metas, expectativas e preferências, influenciadas por fatores educacionais e socioculturais. Os aspectos centrais do desempenho dessas práticas não são a ausência de doenças e ótima funcionalidade física, mas, sim, os mecanismos de seleção, de otimização e de compensação adotados para lidar com as perdas e realizar um manejo eficaz do ambiente (Neri e Vieira, 2013). Isso explica os resultados das análises de regressão linear neste estudo, em que percepção de suporte familiar, religiosidade e motivos para viver foram identificados como capazes de variar à independência nas AAVD de adultos com deficiência, sugerindo maior capacidade funcional nessas atividades quanto mais satisfatórios forem esses fatores.

Por outro lado, as análises de regressão apontaram que sintomas da depressão causam variação significativa nas ABVD e nas AIVD dos adultos com deficiência. De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), a mudança em relação à funcionalidade é um dos critérios diagnósticos da depressão. Concordante com esse manual diagnóstico, Brito e Rabinovich (2012) referem que a depressão é apontada como fator determinante das incapacidades dos pacientes. Os autores acrescentam que tal distúrbio se associa ao pior prognóstico dos pacientes com deficiências, por comprometer de forma significativa a reabilitação motora e cognitiva. Quanto aos idosos, a partir das análises de regressão linear, não foi identificada significância dos sintomas depressivos na funcionalidade dos avaliados.

Como foi apresentado nas análises, a depressão e a qualidade de vida insatisfatória foram evidenciadas como fatores de risco capazes de alterar de forma relevante a funcionalidade. Entende-se também, que cada paciente reage de forma diferente diante de um trauma ou de um diagnóstico, porém existe uma associação entre eventos geradores de estresse e o início de um episódio depressivo (Furlanetto e Brasil, 2006; Mayberg et al., 2006). Em se tratando de pacientes com lesão ou doença neurológica, perfil clínico da maior parte dos participantes desse estudo, há controvérsias na literatura quanto à relação entre manifestações depressivas e tempo decorrido desde a lesão ou diagnóstico.

De outra forma, também foram identificados fatores de proteção capazes de melhorar as respostas pessoais e favorecer atividades da vida diária. Cabe salientar que o impacto da deficiência deve ser compreendido a partir da dinâmica estabelecida entre cada pessoa e seu ambiente. Também seja importante ressaltar que o modo de enfrentamento da pessoa com deficiência em reabilitação é influenciado pela participação nesse programa, em que a meta é a promoção da autonomia e da independência (Vera e Araújo, 2011).

 

Considerações finais

Os resultados do presente estudo evidenciaram relações importantes entre funcionalidade básica e instrumental com sintomas depressivos. Nesse sentido, pode-se inferir que a avaliação da sintomatologia depressiva de pacientes com deficiência é muito importante, pois é capaz de traduzir condições de risco relacionadas à qualidade de vida e obstáculos à funcionalidade. De outra forma, os resultados apontaram percepção de suporte familiar, motivos para viver e religiosidade como fatores capazes de facilitar o aspecto avançados dos sujeitos, o que pode ser preponderante para favorecer seus processos de inclusão social, educacional e laboral.

Dessa forma, os resultados revelam elementos importantes a serem considerados na avaliação para o planejamento e o acompanhamento da reabilitação de adultos e idosos com deficiência. A partir deste estudo, também foi possível conhecer o perfil predominante desses pacientes em reabilitação na capital piauiense. Não foi objetivo do estudo o acompanhamento longitudinal, o que poderia explicar se há alterações das variáveis estudadas quanto ao tempo de deficiência e ao longo do tempo do processo de reabilitação - isso pode ser apontado como uma sugestão referente a um futuro delineamento metodológico da pesquisa.

 

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Recebido em: 26.11.2018
Aceito em: 18.07.2019

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