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Contextos Clínicos

Print version ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.14 no.2 São Leopoldo May/Aug. 2021

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2021.142.12 

ARTIGOS

 

O que os olhos não veem, o coração não Sente? Desenvolvimento de um instrumento brasileiro para avaliar a violência psicológica contra a mulher

 

What the eyes don't see, the heart doesn't feel? Developing a Brazilian instrument to assess psychological violence against women

 

Larissa Fook Bastos; Lucas Guimarães Cardoso de Sá

Universidade Federal do Maranhão

Correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo foi desenvolver um instrumento capaz de mensurar o nível de violência psicológica praticada por parceiro íntimo contra a mulher, investigando quais comportamentos são identificados como violentos. O trabalho foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira, foram analisados o conteúdo e a estrutura interna de 61 itens que descrevem comportamentos considerados como violência psicológica. O instrumento foi nomeado como Escala de Violência Psicológica em Relacionamentos Íntimos contra a Mulher (EVIPRIM). Na segunda, foi feita a confirmação da estrutura fatorial obtida e investigada a relação da violência psicológica com estados emocionais negativos e autoestima. Os resultados da análise semântica e de conteúdo indicaram que sete itens deveriam ser excluídos por não representarem a violência psicológica. Após Análise Fatorial Exploratória, a melhor estrutura encontrada foi de dois fatores, um com 24 itens que avaliavam Violência Psicológica Direta, e outro com 12 itens que avaliavam Violência Psicológica Indireta. A adequação da estrutura foi observada a partir de ótimos ajustes obtidos em Análise Fatorial Confirmatória e excelentes valores de precisão por consistência interna. Também foi possível observar que, quanto maiores os escores de violência psicológica, maior o estado emocional negativo e menor a autoestima.

Palavras-chave: gênero; psicometria; violência doméstica; violência psicológica.


ABSTRACT

This study aimed to develop an instrument capable of measuring psychological violence practiced by an intimate partner against women, investigating which behaviors are identified as violent. The research was developed in two stages. First, the content and the internal structure of 61 items describing behaviors considered as psychological violence were analyzed. The test was named as Scale of Psychological Violence Against Women in Intimate Relationships (EVIPRIM). Second, the factorial structure obtained was confirmed and the relationship between psychological violence and negative emotional states and self-esteem was checked. The results of the semantic and content analysis indicated that seven items should be excluded as they do not represent psychological violence. After Exploratory Factor Analysis, the best structure found has two factors. Factor one with 24 items that assessed Direct Psychological Violence and factor two with 12 items that assessed Indirect Psychological Violence. The adequacy of the structure was observed from the excellent fit indices obtained in Confirmatory Factor Analysis as well as the excellent values of internal consistency reliability. At last, the higher the scores of psychological violence, the greater the negative emotional state and the lower the self-esteem.

Keywords: gender; psychometrics; domestic violence; psychological violence.


 

 

Introdução

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define violência como o "uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação" (2002, p. 05). Dentre os diversos tipos de violência, há aquela que é praticada contra a mulher, resultado de uma complexa relação entre cultura, indivíduo, contexto e sociedade (Echeverria, 2018; Zancan & Habigzang, 2018). De acordo com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (2020) a violência praticada contra mulheres é compreendida como violência de gênero, pois se relaciona à condição histórica de subordinação do gênero feminino na sociedade, sendo uma das causas do grande número de casos de agressões físicas, sexuais, psicológicas, morais e patrimoniais, manifestando desigualdade de poder entre homens e mulheres, sobretudo nas relações domésticas.

A violência doméstica, que representa grande parte dos casos de violência de gênero no país, vem sendo foco de pesquisas e intervenções por ser considerada um problema jurídico, social e de saúde pública (Moura, Fermann, & Correa, 2019; Zancan & Habigzang, 2018) e se encontra tipificada no Código Penal brasileiro (Carronda & Loureiro, 2014) por meio da Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Conhecida como Lei Maria da Penha, dispõe sobre mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, que é caracterizada como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (Brasil, 2006).

A Lei compreende também que a violência pode ocorrer independentemente de coabitação, não se limitando a um ambiente físico, uma vez que há situações em que basta a existência de uma relação íntima de afeto com o agressor, como o caso de namorados, para que ela ocorra (Procuradoria Especial da Mulher do Senado, 2015). Por essa razão, neste estudo, violência doméstica será tratada como sinônimo de violência por parceiros íntimos ou violência conjugal contra mulheres. Na mesma linha, embora existam diversas classificações em relação aos tipos de violência doméstica, optou-se por utilizar como base uma tipologia brasileira, como disposta na Lei Maria da Penha (Brasil, 2006), que a divide em cinco categorias: (a) física, (b) sexual, (c) patrimonial, (d) moral e (e) psicológica.

Considerando que a literatura mostra predominância de estudos focados nas agressões físicas e sexuais, por estas produzirem efeitos mais visíveis (Oliveira, Assis, Njaine, & Pires, 2014), este trabalho terá como foco a violência psicológica. Esta é definida como qualquer conduta que cause danos emocionais e diminuição da autoestima, que prejudique e perturbe o desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação da intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação (Brasil, 2006).

Na mesma linha, definições semelhantes indicam que violência psicológica pode ser compreendida pela atitude do companheiro de tratar a cônjuge com menosprezo, indiferença, sarcasmo, longos silêncios ou manipulações, chantagens, ameaças, humilhações (Souza & Ferreira, 2000). Ou ainda como uma agressão que pode incluir rejeição de carinho, ameaças de espancamento à mulher e seus filhos, impedimentos da mulher de trabalhar, ter amizades ou sair e acusação sobre infidelidades (Casique & Furegato, 2006).

Silva, Coelho e Caponi (2007), a partir de relatos de mulheres que foram atendidas no Centro de Atendimento a Vítimas de Crime (CEVIC), em Santa Catarina, revelaram comportamentos de violência psicológica de agressores, como chantagens para a parceira trocar de roupa, mudar a maquiagem, deixar de ir a algum lugar previamente combinado, desistir do programa com amigas ou parentes e desestimular a mulher a traçar metas para a sua vida. Jiménez, Briones e Briones (2019) sugerem que os principais componentes da violência psicológica costumam ser a agressão verbal e o uso de estratégias não físicas para controlar e produzir medo na parceira.

Ao longo dos anos, diferentes instrumentos foram desenvolvidos para avaliar os tipos de violência. Por exemplo, o Abuse Assessment Screen (Reichenheim, Moraes, & Hasselmann, 2000); a Conflict Tactics Scales Form R - CTS-1 (Hasselmann, & Reichenheim, 2003) e a versão revisada Revised Conflict Tactics Scales Form R - CTS2 (Moraes, Hasselmann, & Reichenheim, 2002); a Double Standart Scale e a Rape Supportive Attitude (Sierra, Costa, & Ortega, 2009); o Index of Spouse Abuse (Sierra, Monge, Iglesias, Bermúdez, & Salinas, 2011); a Conflict in Adolescent Dating Relationship Inventory - Cadri (Barreira, Lima, & Avinci, 2013); a Domestic Violence Attitude (Nascimento, 2015); e a Escala de Violência entre Parceiros Íntimos - EVIPI (Lourenço & Baptista, 2017). Alguns instrumentos específicos para avaliar a violência psicológica são a Subtle and Overt Psychological Abuse of Women Scale - SOPAS (Marshall, 1999), o Psychological Maltreatment of Women Inventor - PMWI (Tolman, 1989) e a Escala de Violencia en la Pareja - EAP-P (Porrúa-García et al., 2016).

Embora existam instrumentos disponíveis para avaliar violência psicológica, a maioria foi desenvolvida para outras culturas, o que suscita a pergunta: quais comportamentos são considerados como violência psicológica na cultura brasileira? A resposta a essa pergunta é importante porque, como discute Almeida (2013), a dificuldade na identificação da violência contra a mulher é apontada muitas vezes como uma barreira para que se possa fazer uma intervenção preventiva eficaz junto àquelas em situação de violência, evitando que o ciclo de violência se perpetue e que a intensidade aumente. Isso se torna ainda mais evidente em relação à violência psicológica já que, por não envolver agressão física, ela possui aspectos mais sutis. Parte desse obstáculo pode estar justamente na escassez de instrumentos que ajudem na identificação clara de comportamentos que caracterizam o problema como um todo, sem enfocar somente nas suas consequências extremas (Kronbauer & Meneghel, 2005; Lettiere, Nakano & Rodrigues, 2008; Oliveira et al., 2009). Para Jiménez et al. (2019), a violência psicológica deve ser considerada uma prioridade na prevenção, pois foi identificada como sendo um antecedente causal direto da violência física. Entretanto, cabe ressaltar que a violência psicológica por si só já se constitui como uma forma de violência que pode gerar diversos impactos negativos na vida da mulher. Portanto, a identificação desta se faz necessária, independentemente de outras formas de agressão.

Além disso, a violência psicológica pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtornos alimentares, consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas (Zancan & Habigzang, 2018). Pode também gerar isolamento social, vergonha, culpa, medo de represálias, desconfiança, transtornos no sono, baixa autoestima, ideações suicidas (Echeverria, 2018). Por essa razão, avaliá-la corretamente, considerando aspectos da cultura local, é imprescindível.

Dessa forma, partindo do pressuposto de que o contexto cultural é importante para compreender a violência psicológica, o objetivo deste estudo foi desenvolver um instrumento capaz de mensurar o nível de violência psicológica praticada por parceiro íntimo contra a mulher, investigando quais comportamentos são identificados como violentos. Objetivos específicos foram investigar evidências de validade de conteúdo, de estrutura interna e de relações baseadas em variáveis externas, assim como a fidedignidade da estrutura.

 

Método

Trata-se de uma pesquisa empírica, quantitativa, transversal e descritiva de uma população por meio de questionário, com delineamento instrumental (Montero & Leon, 2007). Foi submetida à Plataforma Brasil (CAAE 1444420.3.0000.5087) e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Maranhão (parecer número 4.043.094). Todos os procedimentos éticos foram conduzidos conforme orientado pela Resolução 466/2012 da Comissão Nacional de Saúde.

Para cumprir os objetivos, este estudo foi dividido em duas etapas. Na primeira, foi realizado o processo de identificação de comportamentos de violência, elaboração dos itens, avaliação da qualidade de seu conteúdo e identificação da estrutura fatorial e sua fidedignidade. Na segunda, foi feita a confirmação da estrutura obtida na primeira etapa e investigada a relação da violência psicológica com estados emocionais negativos e autoestima.

 

Etapa 1

Participantes

Juízes

Para elaboração de itens e análise da validade de conteúdo, seis psicólogos expertos em violência, escolhidos a partir do critério de já terem tido prática profissional ou realizado pesquisa acadêmica com o tema. Para a análise semântica, cinco estudantes universitários que declararam possuir bom conhecimento da língua portuguesa.

Público-alvo

Três grupos foram formados por conveniência, para procedimentos distintos. O primeiro, para identificação geral sobre quais comportamentos são considerados psicologicamente violentos contra mulheres, foi composto por 15 pessoas de acordo com três características diferentes: sexo (quatro homens e 11 mulheres), idade (10 pessoas com idades entre 18 e 34 anos e cinco com idade entre 35 e 59 anos) e escolaridade (seis pessoas com ensino médio e nove com ensino superior). O segundo, para realização de estudo piloto, foi composto por oito mulheres que estavam em um relacionamento afetivo-sexual com um parceiro íntimo.

O terceiro grupo, para realização de procedimentos analíticos, foi formado por 349 mulheres, com média de idade de 31.13 anos (SD = 11.78), tendo a mais nova 18 e a mais velha 59 anos. Em relação a escolaridade, 45.27% tinham ensino superior completo, 42.40% ensino superior incompleto, 10.89% ensino médio completo e menos de 2% da amostra possuíam ensino médio incompleto (0.57%), ensino fundamental completo (0.29%) e ensino fundamental incompleto (0.57%). A maioria vivia na cidade de São Luís (67.9%), seguido pelo interior do Maranhão (11.74%), outros estados da região Nordeste (8.02%), região Sudeste (7.73%), região Norte (3.43%), região Centro-Oeste (0.57%) e região Sul (0.57%). Em relação ao estado civil, 42.69% das participantes estavam namorando ou em um relacionamento sério, 27.79% eram casadas, 1.43% estavam noivas, 10.31% estavam morando com o parceiro e 17.76% estavam solteiras no momento da participação, mas tiveram um relacionamento estável por no mínimo seis meses nos últimos 12 meses. A média de tempo desses relacionamentos foi de 90.31 (SD = 98.44) meses, com mediana de 43, o que equivale a aproximadamente 3 anos e 7 meses. Em uma autoavaliação sobre a percepção da intensidade de violência psicológica sofrida no relacionamento, a média obtida para o grupo foi de 2.52 (SD = 3.11), com mediana 1, em uma escala que variava de 0-nenhuma a 10-muito forte.

Instrumentos

Os instrumentos utilizados foram: (a) roteiro de entrevista semiestruturado para descrição de comportamentos de violência psicológica, em que era solicitado ao respondente que indicasse a maior quantidade de comportamentos diferentes possíveis que representassem violência psicológica contra a mulher em um relacionamento íntimo; (b) formulário para avaliação semântica, baseado no modelo sugerido por Cassepp-Borges, Balbinotti e Teodoro (2010), em que era solicitado aos juízes que indicassem o grau de qualidade da redação dos itens, da adequação ao público-alvo e qualquer outra sugestão que pudesse melhorar a compreensão das questões; (c) formulário para avaliação teórica, em que os juízes expertos deveriam mensurar o quanto o comportamento descrito representava violência psicológica, utilizando para isso uma escala entre 0-nada a 5-totalmente, bem como poderiam indicar itens com conteúdo repetido ou sugerir outros ajustes teóricos necessários; (d) primeira versão do instrumento, contendo os itens desenvolvidos para esta pesquisa.

Procedimentos

Para a elaboração dos itens, foram utilizadas três fontes de informações: (a) definições teóricas sobre violência psicológica, (b) entrevistas com expertos no construto e (c) entrevistas com uma amostra de 15 pessoas da população brasileira. Todos os comportamentos indicados como violência psicológica, provenientes das três fontes, foram descritos e agrupados por semelhança, formando categorias. Contabilizou-se, em cada grupo, a frequência a partir da literatura, dos especialistas, da amostra da população e o total. A transformação desses comportamentos em itens seguiu as regras propostas por Pasquali (2010). A escala de resposta adotada foi tipo Likert, em que a respondente indicava a frequência com que cada comportamento ocorreu nos últimos 12 meses de relacionamento: 0 - Nunca, 1 - Quase nunca, 2 - Poucas vezes, 3 - Muitas vezes, 4 - Quase sempre. O instrumento foi nomeado como Escala de Violência Psicológica em Relacionamentos Íntimos contra a Mulher (EVIPRIM).

Os participantes da amostra de universitários responderam ao formulário de avaliação semântica. As sugestões de alteração na redação dos itens foram analisadas e implementadas pelos autores. Em seguida, os juízes expertos analisaram a qualidade teórica do conteúdo. Os itens que tiveram seu conteúdo teórico aprovado foram aplicados em formato de estudo piloto no grupo de oito pessoas do público-alvo. Ajustes menores na redação foram realizados e, após não existirem mais dúvidas sobre a compreensão, o instrumento foi aplicado virtualmente de forma ampla a 349 mulheres, por meio da plataforma Formulários Google. Foi utilizado o método "bola de neve" (Vinuto, 2014), sendo solicitado a cada participante do estudo piloto que indicasse outras pessoas que poderiam responder ao instrumento. Cada novo participante sugeria novas participantes. A coleta de dados foi encerrada quando as indicações deixaram de responder ou sugeriram pessoas que já haviam participado.

Análise de dados

As análises estatísticas descritivas (médias, desvios-padrão, valores mínimos e máximos, assimetria) foram feitas por meio do programa JASP versão 0.12 (Jasp Team, 2020). A análise da validade do conteúdo dos itens foi feita por meio dos valores de V de Aiken, com obtenção de intervalos de confiança de 95%. Para isso, foi utilizado o programa Visual Basic ICAiken (Soto & Segovia, 2009). Itens com valores abaixo de .80 foram excluídos por terem baixa validade de conteúdo, não representando adequadamente a violência psicológica.

A Análise Fatorial Exploratória (EFA) foi feita com correlações policóricas, método de estimação Weighted Least Squares Means and Variance Adjusted (WLSMV) e rotação Oblimin. Foi observada a medida geral de adequação amostral por meio do índice de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e a decisão sobre o número de fatores a ser retido foi feita por Análise Paralela para matrizes policóricas. Foram excluídos itens com cargas fatoriais abaixo de .40 (Field, 2005) ou cargas acima desse valor em dois fatores simultaneamente, o que indicaria pouca clareza em relação à qual fator o item pertence. A fidedignidade por consistência interna foi observada a partir dos valores de Ômega de McDonald (ω) e Alfa de Cronbach (α). Estas análises foram executadas no software R Studio (RStudio Team, 2020).

 

Etapa 2

Participantes

Para a segunda etapa do estudo foi obtida uma nova amostra de 273 mulheres, com idades entre 18 e 59 anos (M = 29.59, SD = 10.10), sendo a maioria residente no estado do Maranhão (72.89%), seguido por mulheres que moravam no Sudeste (12.82%), no Centro-Oeste (4.39%), no Sul (4.02%), em outro estado da região Nordeste (3.66%) e no Norte (2.19%). Mais da metade (54.57%) tinha Ensino Superior completo, 35.53% Ensino Superior incompleto, 9.15% Ensino Médio e 0.73% Ensino Fundamental. A maioria, 40.29%, estava namorando ou em um relacionamento sério, 29.67% estavam casadas, 17.58% estavam solteiras, mas tiveram um relacionamento estável por no mínimo seis meses no último ano, 9.82% moravam com o parceiro e 2.56% estavam em um noivado. O tempo médio de relacionamento foi de 75.74 meses (SD = 83.64), com mediana de 38.50, que equivale a aproximadamente três anos e dois meses. Em uma autoavaliação sobre o nível de violência psicológica percebida no relacionamento mais recente, a média foi de 2.38 (SD = 2.97), com mediana 1, em uma escala que variava de zero a dez.

Instrumentos

Os instrumentos utilizados foram: (a) Escala de Violência Psicológica em Relacionamentos Íntimos contra a Mulher (EVIPRIM), desenvolvida na primeira etapa do estudo; (b) Depression Anxiety and Stress Scale (DASS-21) [Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse], instrumento de autorrelato composto por 21 itens que avaliam o estado emocional negativo (sintomas de depressão, ansiedade e estresse) utilizando escala Likert de resposta de quatro pontos, de 0 ("Discordo totalmente") a 3 ("Concordo totalmente"). Possui três subescalas, cada uma contendo sete itens, que avaliam os estados de depressão, ansiedade e estresse (Vignola & Tucci, 2014; Martins, Silva, Maroco & Campos, 2019). Quanto maior a pontuação total e em cada uma das escalas, maior o estado emocional negativo avaliado. A escala possui estudos psicométricos que indicam validade e confiabilidade adequadas, apresentando bons índices de ajuste (χ2/df = 5.83; CFI = .96; TLI = .97; RMSEA = .07), obtidos por meio de análise fatorial confirmatória (Martins et al., 2019); (c) Escala de Autoestima de Rosenberg, em versão adaptada para o Brasil por Hutz e Zanon (2011), é uma medida unidimensional constituída por dez afirmações que avaliam a autoestima global. Os itens são respondidos em uma escala Likert de quatro pontos variando entre 1- discordo totalmente e 4- concordo totalmente. Quanto maior o valor do escore total, maior a autoavaliação da autoestima. Possui estudos que demonstram uma consistência interna satisfatória (coeficiente alfa de Cronbach = .90) e os resultados da análise fatorial apresentaram bons índices de ajuste em relação ao modelo unifatorial (Hutz & Zanon, 2011).

Procedimentos

Os dados foram coletados seguindo procedimentos semelhantes aos da primeira etapa, com uso da plataforma Formulários Google e amostragem por conveniência, por meio do método bola de neve.

Análise de dados

As análises estatísticas descritivas dos dados foram realizadas por meio do programa JASP versão 0.12 (Jasp Team, 2020) e a Análise Fatorial Confirmatória (CFA) foi feita no software R Studio. O método de estimação utilizado foi o Weighted Least Squares Means and Variance Adjusted (WLSMV) e a qualidade do ajuste foi interpretada pela observação dos índices de proporção qui-quadrado (χ2) por graus de liberdade (df), do Comparative Fit Index (CFI), Tucker-Lewis Index (TLI), Root Mean Square Error Of Approximation (RMSEA) e Standardised Root Mean Residual (SRMR). Para análise da precisão por consistência interna, foram obtidos os valores dos coeficientes Ômega de McDonald (ω) e Alfa de Cronbach (α).

Para verificar evidências de validade baseadas na relação com variáveis externas, foram realizadas análises de correlação de Pearson dos indicadores de violência psicológica fornecidos pela EVIPRIM com os indicadores de estados emocionais negativos e o de autoestima. Com base na literatura (Echeverria, 2018; Zancan & Habigzang, 2018), era esperado que os escores de violência psicológica se correlacionassem de forma positiva, moderada e significativa com os indicadores de depressão, ansiedade e estresse e de maneira negativa, moderada e significativa com a autoestima, o que demonstraria evidências de validade baseada na relação externa com construtos relacionados. Os fatores da EVIPRIM também foram correlacionados com o autorrelato de nível de violência psicológica percebida no relacionamento, fornecido pelas mulheres antes de responder aos itens do instrumento. Esperavam-se correlações significativas, positivas e fortes, o que indicaria uma evidência de validade de critério concorrente. A interpretação qualitativa do nível de força foi baseada no sugerido em Ambiel, Andrade, Carvalho e Borges (2011): muito fraca até .19, fraca entre .20 e .29, moderada entre .30 e .39, forte entre .40 e .69 e muito forte a partir de .70. Por fim, foram verificados as médias e os percentis 50, 85 e 99 para as pontuações geradas pelos fatores da EVIPRIM. Os percentis mais elevados foram listados porque eles podem ser úteis para sinalizar maiores níveis de violência psicológica.

 

Resultados

A partir da análise da teoria e dos conteúdos das entrevistas com a amostra da população e com os especialistas, foram listados comportamentos que representariam violência psicológica contra a mulher em relacionamentos íntimos. Contabilizando as frequências, os comportamentos foram agrupados em 14 categorias (Tabela 1) e transformados em 61 itens.

Com base nos resultados da análise semântica foram feitas alterações na redação de 16 itens. Na análise teórica do conteúdo, os juízes sugeriram excluir cinco itens repetitivos ou que eram mais representativos de outros tipos de violência. Dois outros itens foram excluídos por não alcançarem o valor mínimo de validade de conteúdo, medido pelo V de Aiken. Após a coleta de dados, ao observar os valores de assimetria e a frequência de resposta em cada ponto da escala, mais 11 itens foram descartados, pois apresentaram "efeito chão", com pouca variação de respostas (Sousa, 2015).

O valor do índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) para os 43 itens restantes foi de .97, considerado ótimo. A Análise Paralela sugeriu dois fatores como sendo o melhor agrupamento para os itens. Uma primeira rodada de Análise Fatorial Exploratória com 43 itens em uma estrutura de dois fatores mostrou que sete deles tinham cargas fatoriais insatisfatórias. Uma segunda rodada foi realizada com 36 itens, indicando uma divisão adequada em que os itens tinham com cargas fatoriais altas em um fator e baixas em outro.

Na Tabela 2 é possível observar os valores detalhados de validade de conteúdo e cargas fatoriais para cada item.

A correlação entre os fatores foi elevada (r= .78) e a precisão, medida por consistência interna, pode ser classificada como ótima para ambos os fatores (Tabela 3).

O fator 1, nomeado como Violência Psicológica Direta (VPD), tem 24 itens e avalia a violência sofrida de forma objetiva, com comportamentos que visam afetar diretamente a mulher. Inclui aspectos de abuso emocional, menosprezo, responsabilização e culpabilização da parceira. Está relacionado a comportamentos a partir dos quais o homem busca humilhar a mulher, fazendo com que ela se sinta inferior, constrangida e/ou incapaz. O fator 2, nomeado de Violência Psicológica Indireta (VPI), tem 12 itens e avalia a violência em um aspecto mais sutil, abarcando comportamentos que visam controlar o contexto da parceira, incluindo atos realizados para supervisionar atitudes, dominar e isolar a mulher, limitando seu convívio social.

Os resultados da Análise Fatorial Confirmatória, com os dados da segunda amostra, indicaram um ótimo ajuste dos dados à estrutura de dois fatores, como mostrado na Tabela 4. Todos os 36 itens tiveram cargas fatoriais elevadas, acima de .50 (Tabela 2) e os fatores apresentaram ótima precisão por consistência interna, com valores superiores a .90 (Tabela 3). Assim como nos resultados da primeira etapa, a correlação entre os dois fatores foi muito forte (r = .71).

As correlações entre violência psicológica direta e estados emocionais negativos foram positivas, fortes e significativas. Já a violência psicológica indireta correlacionou-se de forma positiva, moderada e significativa com depressão, ansiedade e estresse. Para os dois tipos de violência, as correlações com autoestima foram muito fracas, negativas e significativas (Tabela 5). O autorrelato do nível de violência psicológica percebida no relacionamento mostrou correlações fortes, positivas e significativas com os escores fornecidos pelos fatores da EVIPRIM, tanto em VPD (r = .84, p < .001) quanto em VPI (r = .65, p < .001).

O fator Violência Psicológica Direta gera uma pontuação que pode variar entre 0 e 88. A média foi de 18.66 (SD = 21.40) e a mediana, percentil 50, foi de 9.00. O percentil 85 foi de 40 e percentil 99 de 76. Para a escala Violência Psicológica Indireta, a pontuação pode variar entre 0 e 48. A média foi de 5.94 (SD = 9.45), com mediana de 1.00. O percentil 85 é alcançado com a pontuação 15, enquanto o percentil 99 é de 39.

 

Discussão

Os resultados apresentados indicaram que a EVIPRIM apresenta características psicométricas adequadas, contendo boas evidências de validade e precisão e coerência teórica em relação às definições de violência psicológica. A melhor estrutura encontrada para o instrumento foi aquela com 36 itens divididos em dois fatores, estrutura semelhante a proposta por Porrúa-García et al. (2016), que nomearam as dimensões da Escala de Abuso Psicológico na Parceira (EAP-P), desenvolvida na Espanha, como Estratégias Diretas de Violência Psicológica e Estratégias Indiretas de Violência Psicológica. Os nomes dos fatores da EVIPRIM foram baseados neste trabalho. Outro resultado a ser destacado é a forte correlação encontrada entre os fatores da EVIPRIM, semelhante ao estudo realizado por Paiva, Cavalcanti e Lima (2020), que ao adaptar a EAP-P para o Brasil encontraram uma correlação de .73 entre as dimensões. Isso sugere que os fatores são indissociáveis e que tanto comportamentos diretos quanto indiretos são utilizados por homens que cometem violência psicológica.

Como propõem Silva et al. (2007) é possível que temporalmente a violência seja iniciada com comportamentos de violência indireta, como monitorar mensagens ou limitar a ida a determinados lugares, mas posteriormente passe se manifestar também por comportamentos mais diretos, embora ainda sutis, como humilhações e menosprezos verbais, representando a escalada da violência doméstica, que é identificada como a evolução da frequência e intensidade das agressões, nesse caso, das psicológicas (Gomes, 2012; Larrosa, 2010; Manita, Ribeiro & Peixoto, 2009; Silva et al., 2007; Saffioti, 2002). Entretanto, cabe ressaltar que a violência é um fenômeno dinâmico, não necessariamente ocorrendo de forma linear. Dessa forma, os comportamentos diretos e indiretos podem transitar durante os episódios de agressão.

É interessante destacar que a EAP-P espanhola (Porrúa-García et al., 2016) foi desenvolvida para mulheres que relataram altos níveis de violência, inclusive física, enquanto a EVIPRIM foi construída a partir de uma amostra em que as mulheres declararam sofrer um nível mínimo de violência psicológica. Apesar disso, as estruturas são bastante parecidas. Considerando a semelhança dos resultados, é possível propor a hipótese de que mesmo em níveis mais baixos de violência psicológica são encontrados comportamentos diretos e indiretos, não sendo, portanto, algo que só pessoas que sofreram níveis extremos de violência são capazes de perceber.

Este resultado pode ser explicado pela possível subnotificação dos casos de violência psicológica doméstica no país, uma vez que provavelmente existe grande número de mulheres na população que sofrem agressões, mesmo que em um grau menor, mas que não chegam aos serviços de saúde e atenção social, reforçando a invisibilidade deste tipo de violência (Alcantara et al., 2016; Kind et al., 2013). Segundo Paiva et al. (2020), aproximadamente 40% das mulheres não denunciam seus cônjuges por violência psicológica, o fazendo somente quando ela ocorre concomitante a física. Assim, ela pode estar presente em uma parcela significativa dos relacionamentos, mas não ser percebida como motivo para intervenção, uma vez que parece existir um certo grau de naturalização, além de crenças e atitudes tolerantes em relação a essa violência nos relacionamentos íntimos (Ferrer-Perez, Sánchez-Prada, Delgado-Álvarez & Bosch-Fiol, 2020), o que gera impactos negativos para a mulher e suas relações. Pode ocorrer uma percepção de que os comportamentos violentos são "um modo de ser casal", não sendo identificados como uma violência de fato. Com isso, é estabelecida uma dinâmica relacional violenta, mas tolerada, que se manifesta e se mantém através de ciúmes, desconfianças, humilhações, ofensas, xingamentos e outros comportamentos apontados nos resultados do estudo aqui apresentado.

Em uma perspectiva menos dicotômica e mais relacional, também é possível propor que quanto mais frequentes os comportamentos ligados a violência psicológica direta, mais afetados negativamente são os fatores emocionais e comportamentais da mulher, fazendo com que ela tenha sua identidade, segurança e autoestima comprometidas em diferentes graus, por meio das agressões emocionais que envolvem humilhação e discriminação (Paiva et al., 2020). Na mesma direção, a violência psicológica indireta poderia torná-la mais dependente emocionalmente e, em alguns casos, financeiramente, o que faz com que o parceiro tenha maior influência sobre a liberdade e individualidade dessas mulheres.

Como citam Zancan, Wassermann e Lima (2013), ambas podem ocasionar prejuízos que se relacionam com a qualidade de vida da mulher, o que foi corroborado pelo resultado que mostrou que quanto maior a violência psicológica percebida, maior o estado emocional negativo. Como era esperado, os fatores da EVIPRIM foram capazes de captar a relação teórica da violência psicológica com depressão, estresse e ansiedade, como proposto, por exemplo, por Jiménez et al. (2019). Para Bittar e Kohlsdorf (2013), os efeitos da violência conjugal têm implicações permanentes na saúde física e mental, podendo comprometer e reduzir as possibilidades de defesa e deixar as mulheres menos seguras de seus valores e de seus limites pessoais, influenciando, dessa forma, nos estados emocionais negativos vivenciados.

Um ponto relevante é que os comportamentos diretos tiveram correlações mais fortes com os estados emocionais negativos do que as estratégias indiretas, o que faz sentido, uma vez que o primeiro fator está intrinsecamente relacionado com a degradação dos aspectos emocionais da mulher, enquanto o segundo, embora também afete esses aspectos, é um subterfúgio. Entretanto, mesmo sendo mais sutil, ainda está relacionado a prejuízos significativos em relação à saúde emocional da mulher, não se tornando menos importantes que as estratégias diretas.

De acordo com Zancan e Habigzang (2018), esses estados emocionais negativos podem dificultar o rompimento do ciclo de violência e a capacidade de resolução de problemas dessas mulheres, o que pode gerar efeitos negativos em como a mulher pensa e se sente a respeito de si mesma, o que também se alinha com os resultados que mostraram que quanto maior o grau de violência psicológica percebida, menor a autoestima da mulher. Ainda que essa relação tenha sido fraca, quando a violência psicológica é constante, pode levar a rejeição e desvalor a si própria, e aumentando a tendência a submeter-se a situações de abuso nos relacionamentos (Carneiro & Freire, 2015).

 

Considerações finais

A dificuldade na identificação da violência psicológica é apontada como uma das maiores dificuldades para as intervenções, pois a mulher que vivencia ou vivenciou uma situação de violência psicológica, na maior parte dos casos, tende a aceitar e naturalizar as atitudes do parceiro (Almeida, Perlin, Vogel & Watanabe, 2020), tornando-se mais difícil mensurar essa forma de violência (Colossi & Falcke, 2013; Oliveira et al., 2014; Rosa & Falcke, 2014; Schraiber et al., 2007). Assim, ter evidências científicas sobre quais são os comportamentos violentos e ter disponível um instrumento com boa qualidade psicométrica pode permitir detectar com clareza e intervir sobre eles, interrompendo o ciclo em tempo hábil, evitando que a violência chegue a níveis extremos (Jiménez et al., 2019).

Espera-se que a EVIPRIM possa auxiliar em avaliações sobre os níveis de violência psicológica na população que não necessariamente sofreu outra forma de violência, como a física ou a sexual, com identificação mais precisa sobre quais comportamentos descrevem essa condição, uma vez que a violência psicológica por si só já se constitui como uma forma de violência grave, sendo necessário desestigmatizá-la como um tipo de agressão mais branda. Mesmo que nem todos os casos se tornem feminicídios, ainda sim são promotores de grande sofrimento, o que atesta a importância de identificar e intervir. Almeja-se que, futuramente, a EVIPRIM possa auxiliar na prevenção e em intervenções eficazes.

Algumas limitações dessa pesquisa são a pouca diversidade da amostra em relação a região e escolaridade das participantes, uma vez que a coleta foi realizada por conveniência; a ausência de um grupo de comparação, de mulheres com histórico de violência psicológica, o que permitiria avaliar diferenças entre níveis de depressão, ansiedade, estresse e autoestima entre mulheres com e sem histórico dessa violência em seus relacionamentos; e a avaliação somente de relacionamentos heterossexuais.

A EVIPRIM também não deve ser utilizada para a avaliar a violência psicológica praticada por mulheres contra homens, pois uma violência exercida por um homem difere da violência praticada por uma mulher (Zancan & Habigzang, 2018). Estudos que queiram focar na violência em relacionamentos íntimos, podendo ser perpetrada tanto por mulheres quanto por homens, devem estar atentos à questão de gênero, pois, embora a mulher possa também apresentar comportamentos agressivos em seu relacionamento, são em geral estratégias de resistência, defesa ou resposta ao ciclo de violência (Oliveira et al., 2014; Alencar, 2019).

Cabe destacar também que a coleta de dados para esta pesquisa foi realizada entre abril e outubro de 2020, durante o contexto de pandemia por conta do vírus SARS-CoV2 e, consequentemente, de isolamento social. Por essa razão, os resultados, tanto do nível de violência psicológica nos relacionamentos, quanto dos estados emocionais negativos e da autoestima, podem ter sido afetados, uma vez que se compreende que esse contexto excepcional pode ter influenciado os resultados da pesquisa. Não é possível afirmar que os resultados seriam os mesmos em condições sociais e culturais normais. Pode ser útil repetir esse estudo em um momento posterior para verificar se essa condição causou alguma interferência nos resultados.

Para direcionamentos de futuros estudos sugere-se o uso de amostragem probabilística, para controlar melhor as variáveis que possam influenciar nas respostas. Propõe-se também averiguar mais evidências de validade baseadas na relação com variáveis externas, como por convergência e discriminância. Ainda se torna necessário verificar a estabilidade temporal da escala e a invariância do modelo fatorial de acordo com variáveis sociodemográficas. Também seria importante aprofundar nas relações entre violência de gênero e aspectos sociais no Brasil. Por exemplo, levar em consideração a influência de questões étnico-raciais na violência psicológica praticada contra mulher. Estudos posteriores também podem ampliar a amostra com mulheres homossexuais, a fim de verificar o fenômeno da violência psicológica em relacionamentos homoafetivos.

 

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Correspondência para:
Larissa Fook Bastos
Universidade Federal do Maranhão, Departamento de Psicologia
Av. dos Portugueses, 1966 - Vila Bacanga, São Luís - MA, 65080-805
E-mail: larissa.fook@discente.ufma.br ou lucas.gcs@ufma.br

Submetido em: 26.12.2020
Aceito em: 28.07.2021

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