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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.1 no.1 Juiz de fora jun. 2008

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

É com muita satisfação e entusiasmo que apresentamos à comunidade acadêmica de Psicologia Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, editada através de um Convênio entre quatro instituições de ensino superior do Estado de Minas Gerais: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Trata-se de um veículo de acesso livre para divulgação da produção científica em Psicologia e áreas afins, tornando possível o contato com pesquisas, relatos de experiências, entrevistas, notícias, resenhas e outras oportunidades de publicação de conhecimento psicológico e interfaces multidisciplinares.

 

Gerais: O que há em um nome?

Nem sempre se sabe tudo o que há por trás de um nome. No caso de Gerais, há algumas certezas. A revista nasce exatamente como o nome "Gerais" a quer, seu significado permeando a origem, a gestão, o acesso, o alcance e a abertura deste novo periódico científico em Psicologia.

Podemos dizer que a referência à origem e ao pertencimento está não por trás, mas à frente do nome. Embora repleta de vocação e abrangência geograficamente ilimitadas, Gerais vem do Estado das Minas, e o leva no nome. No mais, reverenciando a tradição de pioneirismo na área, Gerais quer ir além de levar em seu nome o Estado, mas também levá-lo consigo, divulgando-o através dos limites do interesse na produção científica em Psicologia no Brasil.

O significado de Gerais também se verifica na gestão, a cargo de uma possivelmente inédita comissão editorial que é oficial e propositalmente interinstitucional. Trata-se de um grupo generalista e plural em termos de domínio temático de seus representantes. Na prática, combina-se a democracia das decisões colegiadas no processo editorial ao respaldo da representação dos quatro departamentos/institutos de Psicologia que mantém cursos de graduação em instituições federais de ensino superior do Estado de Minas.

O acesso geral e irrestrito ao conhecimento é uma orientação fundadora de Gerais. A política de acesso livre sustenta da melhor e mais simples forma a verdadeira função de prestação de serviço que um periódico científico cumpre. A veiculação livre do conhecimento encontra consonância com as mais recentes concepções da atividade do psicólogo como profissional que reflete sobre o seu fazer, e do cliente do serviço como ator do seu processo de saúde. A informação científica livre, nesse contexto, é condição básica para a democratização e humanização dos serviços.

A filosofia de acesso livre é uma realidade, mas a base tecnológica é o que a potencializa e a torna efetiva. As possibilidades de alcance que o formato eletrônico permite a este e outros periódicos são, definitivamente, gerais. Como no caso de outras revistas, a perspectiva deste acesso, entre outros benefícios, é facultada de forma direta pelo Sistema Eletrônico de Editoração de Periódicos (SEER), fornecido em sua versão brasileira pelo IBICT.

Por fim naquilo que há num nome, Gerais é tipicamente generalista na sua abertura temática. Se por um lado, o grau de amadurecimento da Psicologia no Brasil acena com certa tendência de especialização temática no futuro, por outro, é este mesmo quadro que inspira esta iniciativa. O papel de uma revista generalista, neste momento, é o de fornecer e sustentar as condições para aquele amadurecimento vir a efetivar-se.

 

Efemérides

Após um período de tramitação do projeto do periódico, o grupo de professores que presentemente compõe a editoria de Gerais alcançou a meta de lançá-lo em 2008. Trata-se de um ano especialmente comemorativo para as instituições envolvidas. Ao mesmo tempo, recentemente foram rediscutidas as diretrizes que avaliam os periódicos científicos em Psicologia no Brasil.

Em termos de comemorações, teremos, na UFMG, os 45 anos do Departamento de Psicologia, os 20 anos do PPG-Psicologia, e o início da primeira turma do Curso de Doutorado do mesmo PPG. Na UFU, o Curso de Mestrado em Psicologia Aplicada comemora 5 anos de funcionamento pleno, com aprovação registrada em 2002 e a primeira turma iniciada em 2003. Na UFSJ iniciou em março o Curso de Mestrado em Psicologia, aprovado em 2007 pela CAPES. Na UFJF foi credenciado pela CAPES o Programa de Pós-Graduação em Psicologia, com estréia do Curso de Mestrado também em março último, com a primeira turma iniciando os trabalhos. Dessa forma, vê-se o envolvimento em estudos pós-graduados das instituições que editam Gerais. Historicamente, essa relação entre pós-graduação e periódicos científicos apresenta forte tradição, com resultados positivos para ambas as instâncias. Contudo, isso não significa uma tendência de Gerais publicar preferencialmente os trabalhos das instituições nela envolvidas.

As novas diretrizes de avaliação dos periódicos científicos em Psicologia chegam em momento importante para Gerais. Isto porque, durante os trabalhos de criação da revista, foram contempladas tais diretrizes, buscando promover uma revista sintonizada com as discussões acerca da publicação e divulgação científicas nacionais em Psicologia, e seus reflexos para a área.

 

No primeiro número

Em seu primeiro número, Gerais apresenta contribuições na forma de relatos de pesquisa, artigos teóricos, relato de experiência e resenha. A resenha desta edição, assinada por Luciana Karine de Souza, focaliza o livro "Prevenção e intervenção em situação de risco", organizado por Claudio S. Hutz, Professor Titular da UFRGS e ex-presidente da ANPEPP.

O primeiro artigo que publicamos neste número inaugural guarda uma importante relação com a própria criação de Gerais. O Professor Marco Aurélio M. Prado foi convidado a traçar uma história possível dos Cadernos de Psicologia - primeira iniciativa de publicação científica regular do Departamento de Psicologia da UFMG. Prado foi o último editor daquele periódico, e idealizador de um novo projeto de periódico científico interinstitucional. Tal proposta concretiza-se no lançamento de Gerais. Prado resgata essa história desde um ponto-de-vista privilegiado, e contribui para reflexões atuais e futuras sobre produção científica. O interesse inicia nos detalhes da história particular do "Cadernos", mas prossegue até o ponto em que esta micro-história permite uma tomada de perspectiva quanto às características e tendências mais universais da publicação científica em Psicologia no Brasil. Entre essas questões, incluem-se o localismo da produção, o espaço do debate científico, a inserção do periódico na vida institucional, e o papel complementar da pauta institucional na trajetória de um periódico.

Resultado de uma colaboração internacional, o artigo "Da autonomia à responsabilidade relacional: Explorando novas inteligibilidades para as práticas de saúde" salienta o conceito de autonomia e suas implicações para as práticas de saúde. As autoras Celiane Camargo-Borges, Silvana Mishima e Sheila McNamee enfatizam a aproximação entre os atores sociais envolvidos nestas práticas, compreendendo-as dialogicamente por meio da responsabilidade relacional, o que contribui para uma autonomia menos individualista e mais responsável.

Jussara L. Rodrigues, Fernanda O. Ferreira e Vitor G. Haase encontraram efeitos da idade sobre o desempenho motor e efeitos da educação escolar sobre a velocidade de processamento cognitivo. Esses dados, referentes a uma amostra da cidade de Belo Horizonte, são relatados no artigo "Perfil do desempenho motor e cognitivo na idade adulta e velhice". Além dos importantes resultados, a divulgação de instrumentos como o PASAT contribui para a consolidação do campo da avaliação neuropisicológica no Brasil. Do ponto-de-vista metodológico, destaca-se o uso da análise de curvas ROC, uma abordagem quantitativa sólida e prolífica, que pode e deve ser utilizada com mais freqüência em estudos psicológicos de processos cognitivos.

"Pesquisa e Clínica Psicológica: Uma reflexão sobre o método a partir do encontro da Psicologia com a Antropologia" apresenta uma interessante análise sobre a pesquisa na clínica psicológica e as contribuições da Antropologia hermenêutica para a discussão da epistemologia e da metodologia de pesquisa nas ciências humanas. André G. Vieira destaca a pertinência do delineamento de estudos de caso para a pesquisa em ciências humanas, partindo da reflexão sobre a proximidade entre o pesquisador e o terapeuta na investigação em clínica psicológica.

Em "O abandono psicanalítico do realismo psicológico", Roberto Calazans e Renata V. Gomide criticam a nosografia psiquiátrica na redução do quadro de histeria aos seus sintomas, o que corresponde a uma perspectiva de realismo psicológico. Os autores indicam, acompanhando o desenvolvimento do conceito de fantasma em obras de Freud e Lacan, possibilidades de evitar aquele reducionismo.

No artigo "O psicólogo na rede pública de saúde: Um estudo sobre a formação e a atuação profissional", Ana Cristina G. Dias e Ana Cláudia Muller discutem a formação e a prática profissional dos psicólogos da rede de saúde pública de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Ecoando o que ocorre em várias partes do Brasil, as autoras apontam que a formação dos psicólogos não tem se adequado às necessidades do trabalho em saúde pública. O texto convida a repensar a articulação universidade-serviços de saúde-usuários, enfatizando a necessidade de métodos participativos de aprendizagem na formação em Psicologia, e o reconhecimento dos profissionais inseridos nos serviços de saúde como produtores de conhecimento.

A pesquisa relatada em "Prevenção e promoção de saúde na escola: Concepções e práticas de psicólogos escolares de Juiz de Fora (MG)", empreendida por Marisa Cosenza Rodrigues, Chiara Z. Itaborahy, Marina D. Pereira e Talita M. C. Gonçalves, buscou demonstrar a necessidade da constante atualização teóricometodológica dos profissionais práticos em Psicologia, no caso, o psicólogo escolar. Os resultados do trabalho realizado refletem, dentre outras questões, carências acadêmicas que formam profissionais frágeis a contextos de elevada exigência teórica e prática, como no caso do contexto escolar.

Frente aos desafios da formação em saúde, Carla Guanaes e Augustus T. R. de Mattos relatam, em "O grupo de reflexão na formação do profissional de saúde: Um enfoque construcionista social", as experiências com o grupo de reflexão como método de ensino capaz de promover crítica sobre os sentidos de saúde, doença e cuidado que permeiam as práticas profissionais. Os autores propõem que o grupo de reflexão é capaz de redimensionar as relações entre profissionais e usuários dos serviços, promovendo uma formação integral do profissional de saúde.

 

Minas Gerais, 1º de setembro de 2008.

Emerson F. Rasera
Gustavo Gauer
Luciana Karine de Souza
Maria Luísa Magalhães Nogueira
Maria Nivalda Carvalho-Freitas
Ricardo Kamizaki

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