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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.1 no.1 Juiz de fora jun. 2008

 

RESENHA

 

Prevenção e intervenção em situações de risco e vulnerabilidade

 

 

Luciana Karine de Souza

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG

 

 

Hutz, C. S. (Org.). (2007). Prevenção e Intervenção em Situações de Risco e vulnerabilidade. São Paulo: Casa do Psicólogo.

No livro "Prevenção e Intervenção em Situações de Risco e Vulnerabilidade", organizado por Claudio Simon Hutz (2007), encontra-se uma coletânea de textos fundamentados na pesquisa e na prática profissional com populações em situação de risco e de vulnerabilidade. Os temas tratados no livro são de relevância científica e social, especialmente para o contexto brasileiro. Representam o esforço conjunto da pesquisa com a prática profissional na direção de propor abordagens teórico-práticas que melhor contribuam para os problemas abarcados nas situações relatadas.

Os autores dos sete capítulos que compõem o livro são pesquisadores ou profissionais envolvidos com estudos pós-graduados em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, seja na Especialização em Psicologia Clínica, com foco na Saúde Comunitária, seja na formação stricto sensu. As situações de risco e vulnerabilidade abordadas abrangem tópicos como adoção, contexto penitenciário, institucionalização, drogadição, abuso sexual, Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, e Terapia Assistida por Animais. Todos estes temas exigem, tanto do pesquisador como do profissional prático, uma postura atenta no que concerne à qualidade das ações interventivas e à pertinência das ações preventivas. Nesse sentido, os textos presentes nesta coletânea contribuem nessa direção.

No primeiro capítulo, Juliana Noal e Lucas Neiva-Silva proporcionam, com o texto "Adoção, Adoção Tardia e Apadrinhamento Afetivo: Intervenções em Relação a Crianças e Adolescentes Vítimas de Abandono e Institucionalizadas", uma proveitosa discussão acerca dos processos adotivos e suas implicações para o desenvolvimento psicológico de crianças e adolescentes, focalizando as situações de abandono e de institucionalização. Abordam os fatores de risco, de proteção e resiliência associados aos processos adotivos, apontando o abandono e a institucionalização como fatores de risco desenvolvimental. Discutem a adoção, a adoção tardia e o apadrinhamento afetivo como fatores de proteção para crianças e adolescentes em situações de abandono. Ao final, Noal e Neiva-Silva detalham os processos de adoção tardia e de apadrinhamento afetivo, debatendo os esforços já empreendidos no país. O capítulo representa uma contribuição importante para a literatura acadêmica brasileira nos temas da adoção e da institucionalização.

O segundo capítulo traz a contribuição de Lutiana R. da Rosa e Clarissa De Antoni sobre "Os Desafios da Prática Psicológica no Contexto Penitenciário". Aborda o ambiente prisional, problematizando-o à atuação do psicólogo nesse importante contexto. Os conceitos de prisionização, de saúde, e de rede apoio social e afetivo são tratados pelas autoras com a preocupação de fundamentar teoricamente as possibilidades de trabalho em penitenciárias. Na segunda parte do capítulo, Rosa e De Antoni relatam uma experiência inovadora de estágio em Psicologia realizado em presídios do Rio Grande do Sul, fornecendo um panorama interessante sobre o trabalho possível no contexto prisional, considerando as dificuldades enfrentadas e aconselhando o contato sólido com a direção da instituição. O capítulo descreve com clareza as reais possibilidades de contribuição do psicólogo ao contexto prisional, e auxilia as demais áreas de conhecimento e de prática na compreensão mais ampla da atuação do profissional psicólogo na situação de risco e de vulnerabilidade abordada no capítulo.

Caroline T. Reppold e Simone Luz discutem, no terceiro capítulo, "A Compreensão do Professor sobre o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e o Impacto sobre o Trabalho Docente em Escola Pública". O TDAH atualmente vem sendo debatido por distintas áreas do conhecimento e, embora a maioria dos trabalhos brasileiros sobre a incidência do transtorno na população brasileira adote os mesmos critérios clínicos, há recentes trabalhos que questionam a própria existência do TDAH. Reppold e Luz mostram resultados interessantes quanto ao (des)conhecimento do professor sobre o transtorno e, o que se destaca na investigação, sobre como agir diante do estudante portador do TDAH.

No quarto capítulo, intitulado "Da Instituição ao Convívio Familiar: Estudo de Caso de uma Adolescente", Aline C. Siqueira e Débora D. Dell'Aglio apresentam uma pesquisa qualitativa e longitudinal, fundamentada na Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, sobre a reinserção familiar de uma jovem após seu desligamento institucional. O texto destaca os fatores de risco e de proteção associados à reinserção familiar, despertando para a importância de a transição ecológica ser acompanhada por estratégias sólidas e seguras, e para a necessidade de mais pesquisas que evidenciem as melhorias imperativas à qualidade dos processos de desligamento institucional e de reinserção familiar.

No texto "Adolescência e Drogas: Intervenções Possíveis", Lucas Neiva-Silva e Fernanda T. de Carvalho assinalam a importância de uma abordagem diferenciada ao adolescente no que tange à drogadição. O cuidado ao tratamento dado ao tema exige a atenção aos tipos e padrões de uso de drogas, assim como os fatores de risco e de proteção envolvidos. Neiva-Silva e Carvalho fazem referência em detalhes, ainda, às intervenções possíveis direcionadas ao adolescente usuário de drogas. O capítulo prima pela abordagem comprometida com a prática profissional reflexiva e com a pesquisa científica relevante às questões sociais brasileiras.

Cátula Pelisoli e Débora D. Dell'Aglio expõem uma revisão de estudos dedicados ao tema do abuso sexual, com foco no contexto familiar.

"Características Familiares no Contexto do Abuso Sexual" indica quão complexo é o tema investigado, tanto em relação à sua interface com a família, como nas conseqüências ao desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo. Especialmente de interesse ao profissional que atua no contexto jurídico, o texto também contribui para os demais profissionais que se deparam, na prática, com o delicado tema do abuso sexual.

No último capítulo, a leitura do texto de Úrsula Miotti e de Clarissa De Antoni - "Terapia Assistida por Animais (TAA): Alternativa Terapêutica no Contexto Comunitário" - oferece uma reflexão sobre a oportunidade em saúde comunitária que as novas interações "ser humanoanimal" vêm proporcionando. Lembrando o pioneirismo de Nise da Silveira no uso de animais no contexto terapêutico, Miotti e De Antoni salientam a escassez de investimento, no Brasil, na inovadora Terapia Assistida por Animais. Trata-se de uma intervenção terapêutica com o potencial de tanto atender à demanda da saúde humana, como ao cuidado com os animais.

O livro "Prevenção e Intervenção em Situações de Risco e Vulnerabilidade", organizado por Claudio Simon Hutz (2007), vem se unir a esforços constantes dedicados à pesquisa científica e à prática profissional sobre contextos que oferecem risco a populações muitas vezes já vulneráveis a uma série de fatores (Hutz, 2002, 2005), como baixo nível sócioeconômico e fragilidade na observação a seus direitos de cidadão. É leitura pertinente a profissionais e estudantes de todas as áreas que se preocupam com populações de risco e situações de vulnerabilidade, proporcionando um diálogo interdisciplinar da Psicologia outras ciências e práticas.

 

Referências

Hutz, C. S. (Org.). (2005). Violência e risco na infância e na adolescência: Pesquisa e intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Hutz, C. S. (Org.). (2002). Situações de risco e vulnerabilidade na infância e na adolescência: Aspectos teóricos e estratégias de intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

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