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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

On-line version ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.3 no.1 Juiz de fora July 2010

 

ARTIGOS

 

Maus-tratos em adultos mais velhos e seus cuidadores familiares: um estudo de revisão

 

Maltreatment of older adults and their family caregivers: a review study

 

 

Maria Silva Santana1

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil. Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Desportos, Natal, Brasil

 

 


RESUMO

Objetivou-se identificar a produção científica sobre violência doméstica por meio dos descritores Elder Abuse e Family e caracterizar os artigos encontrados em periódicos nacionais e internacionais quanto ao enfoque temático, período e local de publicação, cenário da pesquisa e caracterização do primeiro autor. A abordagem metodológica foi uma revisão bibliográfica nas bases de dados LILACS e MEDLINE no período de 1997 a 2009. Em 2006, ocorreu o maior número de publicações, destacando-se o Brasil e os Estados Unidos. A prevalência de escolha dos pesquisadores foi o contexto de órgãos governamentais e assistenciais com predominância da abordagem qualitativa. O objeto de estudo seguiu as mais variadas temáticas: estado de maus tratos e fatores associados; entendimento sobre o abuso e perspectivas de ocorrência. Conclui-se que esse estado de vitimação é complexo e representa um desafio tanto para a investigação como para as políticas a respeito de como enfrentar o mau-trato familiar nesse grupo populacional.

Palavras-chave: Maus-tratos, Idoso, Família.


ABSTRACT

The objective was to identify the scientific production about domestic violence by means of the descriptors Elder Abuse and Family and to classify the articles found in national and international journals according to the thematic focus, the time, and the place of publication, research scenario, and description of the first author. The methodological approach was a bibliographic review in the databases LILACS and MEDLINE for the period from 1997 to 2009. In 2006, the biggest number of publications occurred, especially in Brazil and in the United States. The prevalence of choice among the researchers was the context of government and assistance agencies with a predominance of the qualitative approach. The object of the study followed the most varied themes: state of maltreatment and associated factors; understanding about the abuse, and perspectives of occurrence. It can be concluded that this state of victimization is complex and represents a challenge both for the investigation and for the policies regarding how to deal with family maltreatment in this population group.

Key words: Maltreatment, Elderly, Family.


 

 

A violência doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, na maioria das vezes de forma silenciosa e dissimulada, principalmente os idosos. Esse tipo de violência pode estar situado no âmbito da negação da vida, pela transgressão da confiança intergeracional, pela negação do conflito ou pelo preconceito que impede que os vitimados expressem suas palavras, seus potenciais e participem do cotidiano das relações que são construídas e vividas (Faleiros, 2007).

A Rede Internacional para a Prevenção de Abusos ao Idoso conceitua a violência como o ato único ou repetido, ou a falta de uma ação apropriada, que ocorre no âmbito de qualquer relacionamento em que haja uma expectativa de confiança que cause dano ou angústia a uma pessoa mais velha (WHO, 2005). A violência contra o idoso, frequentemente, é denominada maus-tratos e abusos.

No Brasil, mais de 95% das pessoas acima de 60 anos moram com seus parentes ou vivem em suas próprias casas e a violência intrafamiliar se constitui na forma mais frequente de abuso contra esse segmento populacional (Veras, 2007). Ela acomete ambos os sexos e não costuma obedecer a nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico (Faleiros, 2007).

Minayo (2005) comenta que, na maioria dos casos, o agressor vive na mesma casa da vítima; os vínculos afetivos entre os familiares são frouxos e pouco comunicativos; há o isolamento social dos familiares ou da pessoa da idade avançada; tem-se a presença do comportamento agressivo, atual ou anterior, do idoso nas relações com seus familiares; há história de violência na família; e os cuidadores foram vítimas de violência doméstica, padecem de depressão ou de qualquer tipo de sofrimento mental ou psiquiátrico, dentre outros aspectos.

Todos esses fatores propiciam situações que deixam as pessoas idosas vulneráveis a uma das mais diversas formas de violência intrafamiliar. Percebe-se que tal violência remete à complexidade das relações familiares (Schenker, 2008; Meira, Gonçalves, & Xavier, 2007), às mudanças no interior da família em decorrência da dependência parcial ou total de seu idoso (Faleiros, 2007; Karsch, 2003) e sobre a qualidade de vida de quem cuida (Campos, 2005; Nascimento, Moraes, Silva, Veloso, & Vale, 2008; Schulz & Martire, 2004).

Na família, a doença ou a limitação física em uma pessoa pode provocar mudanças na vida de todos os parentes ou integrantes do domicílio. É comum a ocorrência de alterações nas funções ou no papel de cada membro familiar; por exemplo, a filha que passa a cuidar da mãe.

Estudo mostra que o cuidado se torna mais cansativo e estressante no momento em que o idoso está doente, uma vez que passa a requerer cuidados específicos e com maior intensidade. Nessa situação, o familiar vivencia um período de insegurança, que pode acarretar sentimentos de revolta e angústia, favorecendo o aparecimento de conflitos e violência (Leite, Hildebrandt, & Santos, 2008).

Nesse contexto, percebe-se que, na relação familiar/idoso, os envolvidos precisam de suporte para que em seu cotidiano possam encontrar uma forma de interagir do melhor modo possível, uma vez que nessa relação há muita singularidade e somente quem a vivencia pode compreender e delinear mudanças efetivas para que a convivência seja satisfatória para ambos.

Em se tratando da reação do idoso frente ao agressor, esta se mostra frágil ou inexistente, principalmente quando ocorre dentro do próprio domicílio. Estudo mostra que os vitimados não reagem, não expressam sua fragilidade para as pessoas com quem convivem, pois têm medo, afinal, em muitos casos, elas são as próprias promotoras dos atos violentos (Silva, Oliveira, Joventino, & Moraes, 2008).

Desse modo, e devido à diversidade nas formas de violência e maus-tratos, esses atos tornam-se de difícil identificação, uma vez que não se trata somente de lesões físicas, visíveis aos olhos das pessoas, como também de danos sociais, psicológicos e morais. Assim, muitos comportamentos e atitudes no cotidiano dessas pessoas não são percebidos ou entendidos por familiares e idosos como um ato de violência ou como maus-tratos (Leite et al., 2008).

Diante dessa realidade, o desenvolvimento de pesquisas para investigar fatores de risco de maus-tratos e até indícios de violência contra os idosos contribuirá para que profissionais da saúde possam desenvolver ações preventivas de doenças ou agravos decorrentes dessas brutalidades, pois esses fatores indicam probabilidades de o indivíduo adoecer, ou seja, de ser acometido de condições que predispõem aos eventos que aumentam os índices de morbimortalidade de determinado grupo de pessoas (Veras, 2002).

Partindo desse pressuposto, a finalidade deste estudo foi conhecer, por um período determinado, a produção de conhecimento relacionada a maustratos a idosos, e assim também a qualidade da relação cuidador-familiar-idoso. Os objetivos do estudo foram: verificar a produção científica por meio de levantamento bibliográfico de artigos publicados, utilizando os descritores elder abuse e family, e caracterizar os artigos e o primeiro autor.

 

Método

Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica que abordou os trabalhos científicos publicados entre os anos de 1997 e 2009, pela realização de buscas em banco de dados eletrônicos: LILACS e MEDLINE. O uso de palavras chave incluiu os termos Elder abuse e Family. Foi considerada como critério de inclusão inicial a disponibilidade dos resumos ou textos completos online e como critério de exclusão ser artigo teórico e de validação ou proposição de instrumentos.

Primeiramente, e com a finalidade de averiguar a(s) terminologia(s) mais apropriada(s), foram realizadas consultas ao DeCS - Descritores em Ciências da Saúde. O DeCS é um vocabulário estruturado e trilíngue de revistas científicas, livros, anais de congressos, relatórios técnicos e outros tipos de materiais, assim como pode ser usado na pesquisa e recuperação de assuntos da literatura científica em diversas bases de dados, como LILACS, MEDLINE e SciELO, dentre outras cadastradas na Bireme - Biblioteca Virtual em Saúde.

A consulta aos DeCS resultou na localização do descritor maus-tratos a idosos (para buscas no idioma português) e Elder abuse (para pesquisas no idioma inglês). O mesmo procedimento foi usado para o descritor família/family. Após a consulta aos descritores, deu-se início à consulta a cada base de dados. As bases LILACS e MEDLINE foram consultadas por meio do portal www.bvspsi.org.br. A coleta das informações incluiu buscas dos descritores nas palavras dos títulos e dos resumos.

Os procedimentos de análise dos resultados incluíram a leitura dos resumos e/ou dos textos completos quando estes estiveram disponíveis, a categorização dos artigos quanto aos autores, à pesquisa ou ao estudo publicado, ao tipo e à natureza da investigação e, no que se refere ao campo de estudo (cenário), se relato de experiência, exploratória, descritiva ou explicativa, de abordagem quantitativa ou qualitativa, país de origem, temática e quantidade de estudos encontrados.

 

Resultados

Identificou-se uma amostra composta por dez artigos na base de dados LILACS e 13 na base MEDLINE, totalizando 23 artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais referentes a maus-tratos ao idoso no contexto familiar. Houve destaque para os anos de 2006 e 2008 com maior produção científica para a problemática nas duas bases, respectivamente, LILACS com quatro e MEDLINE com cinco produções. Por outro lado, em 2000, 2005 e 2009, não se registrou nenhuma produção na base LILACS e, nos anos de 1999 e 2004, no banco de dados MEDLINE.

Na caracterização dos artigos, verificou-se um total de dez artigos na base de dados LILACS (oito em português e dois em espanhol - Tabela 1) e 13 na base MEDLINE (12 em inglês e um em chinês - Tabela 2).

Na base de dados LILACS, dos dez artigos publicados, oito apresentaram estudos de corte transversal, exploratório-descritivos, um com proposta de intervenção um estudo de base populacional. Dos 13 artigos publicados na base MEDLINE, sete apresentaram estudos de caráter exploratório-investigativo, três documental, um estudo experimental, um retrospectivo e um de base populacional.

Quanto ao gênero, 90% das publicações da base de dados LILACS fizeram a identificação do nome completo dos autores. Houve predomínio do sexo feminino em 60% do total, 30% foi do sexo masculino e 10% não informaram. Na base MEDLINE, não foi possível obter essa informação, porque os autores se identificaram pelo sobrenome e com abreviação do primeiro nome.

A informação sobre a profissão do 1º autor foi insuficiente nas duas bases estudadas. Alguns fatores podem ter contribuído para isso: acesso livre restrito na maioria dos textos completos, principalmente na base MEDLINE, e os autores informarem somente a instituição ou a base de pesquisa à qual pertencem. Na busca, encontrou-se a profissão de enfermagem, do sexo feminino, somente em dois artigos distintos, na base de dados LILACS, no Brasil.

Quanto à origem de publicação dos artigos na América do Norte, das dez referências encontradas, os Estados Unidos, com oito publicações, foram o país com maior número de artigos, seguido do México com uma e do Canadá também com uma publicação. Na América do Sul, as oito publicações encontradas foram no Brasil, e o Rio Grande do Sul liderou com duas produções, seguido dos demais estados: Paraná, Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo, com uma publicação cada um, respectivamente.

Também foi possível observar uma diversidade de revistas. Na base LILACS, praticamente um artigo por revista foi encontrado (Tabela 3).

 

 

As regiões Sul e Sudeste do Brasil predominaram no número de publicações com 75%, sendo 35% para cada uma, e a região Nordeste com 25%. De acordo com Rodrigues, Andrade e Faro (2008), são nessas regiões (Sul e Sudeste) de maior produção que está concentrado o maior número de universidades e de população idosa, tornando maior o número de pesquisadores e de investigações. Na base MEDLINE, os Estados Unidos lideram com 61,5% de revistas/publicações (Tabela 4).

 

 

No que concerne ao cenário da publicação adotado pelos pesquisadores, tanto na base de dados LILACS (n = 10) quanto na MEDLINE (n = 13), destacaram-se, principalmente, as organizações governamentais e assistenciais, tipo: Unidades Básicas de Saúde, Hospitais, Delegacias Especiais, Departamentos de Proteção, Médicos de Família e Centros de Acolhimento, como locais de escolha, perfazendo um total de 19 estudos e quatro em domicílio, revelando a magnitude do evento, sua maior prevalência entre indivíduos, vulnerabilidades e consequências negativas à saúde quanto à situação de maus tratos.

 

Discussão

O objeto de estudo elder abuse family adotou as mais variadas abordagens nos artigos selecionados, que foram agrupadas em três categorias temáticas: estado de maus-tratos e fatores associados, com 18 publicações; entendimento sobre o abuso, com três artigos; e perspectivas de ocorrência, com duas publicações.

 

Estado de Maus-tratos e Fatores Associados

Estudos realizados sobre o estado de maustratos revelaram a vulnerabilidade das pessoas vitimadas e suas consequências negativas à saúde. Questões como essas precisam ser problematizadas com mais clareza e objetividade pelos órgãos competentes a partir das evidências científicas e das denúncias registradas no dia a dia, cuja amplitude das ocorrências requer ações efetivas em políticas públicas para o enfrentamento dessa forma de violência contra os idosos (Moraes, Apratto Júnior, & Reichnheim, 2008).

Seguindo esse raciocínio, Gaioli e Rodrigues (2008) afirmam que tais ocorrências estão se tornando cada vez mais evidentes na sociedade, adquirindo, dessa forma, uma dimensão social e de saúde pública, inclusive já com um índice elevado de denúncias aos órgãos competentes e assistenciais, até mesmo com a identificação de ofensores e o estado das lesões causadas a partir de laudos de exames de corpo de delito.

Para Melo, Cunha e Falbo Neto (2006), os maus-tratos contra idosos apresentam-se como problema relevante para a saúde pública e medidas educativas poderiam ser implementadas para esclarecê-los sobre seus direitos e facilitar a denúncia e a obtenção de apoio ou ajuda. Programa de assistência domiciliar a idosos fragilizados como proposta de prevenção de negligência doméstica também seria uma medida importante (Lemos & Queiroz, 2002).

Dentre as diferentes estratégias de investigação para a detecção de abuso de idosos, a CTSI - Conflict Tactis Scales (Escala de Táticas de Conflito), modificada, mostrou-se adequada para a detecção de abuso físico clinicamente significativo, afirma estudo de Chaves e Costa (2004). Estes pesquisadores constataram que a violência que o idoso sofre no âmbito familiar requer, por parte das pesquisas, uma abordagem nova ao processo de vitimação. Sugerem que a CTSI poderia ser usada rotineiramente na prática clínica com os cuidadores de pessoas com demência para detectar clinicamente sobre casos de abuso, muitas das quais estão sendo perdidas.

Moraes et al. (2008) também utilizaram essa escala para estimar a prevalência da violência física contra idosos no ambiente doméstico e constataram que a violência esteve mais presente entre os mais novos, os que moram com maior número de indivíduos e os com história de diabetes e/ou doença articular. Além disso, a grande magnitude do evento, sua maior prevalência entre indivíduos que apresentam outras vulnerabilidades e suas consequências negativas à saúde impõem que a Estratégia Saúde da Família incorpore ações para o enfrentamento da violência física contra idosos às suas atividades de rotina.

 

Entendimento Sobre o Abuso

Em estudo sobre a percepção da vítima sobre o abuso, os idosos descreveram os maus-tratos como a falta de respeito a que são sujeitos pela violência urbana, institucional e intrafamiliar. As reações de enfrentamento dos idosos variaram de acordo com o lugar e o agente da violência. Geralmente, ao se sentirem agredidos, eles recorrem a Deus, a vizinhos ou a alguns parentes (Silva et al., 2008). Com isso, percebe-se a importância de promover a educação para a cidadania no âmbito do envelhecimento na sociedade em geral, mas, sobretudo, nos serviços de saúde básica, visando à valorização do idoso, o respeito a ele e à garantia de seus direitos.

Sobre o entendimento de maus-tratos na ótica dos familiares, constatou-se que familiares e idosos podem conviver harmoniosamente no ambiente domiciliar, mas podendo ocorrer momentos de conflitos e desentendimentos, o que favorece a ocorrência de maus-tratos (Leite et al., 2008). Esse estado de vitimação é complexo e representa um desafio tanto para a investigação como para as políticas a respeito de como enfrentar o mau-trato familiar nesse grupo de idade propenso a vulnerabilidades (Azoh, 2002).

 

Perspectivas de Ocorrência

No que diz respeito às perspectivas de ocorrência de maus-tratos contra esse segmento populacional, estudos afirmaram que os tipos de abuso podem variar culturalmente, adotando escores numa escala que vai do extremamente abusivo, moderadamente abusivo ou suavemente abusivo (Yalçinkaya, Mandiracioglu, & Turan, 2006). Os exemplos mais comuns de abuso extremo pesquisados foram a negligência e o mautrato físico, particularmente. Na forma moderada e nível leve, os vários tipos de agressão psicológica foram os mais citados. A única diferença significativa entre os sexos foi a de mais exemplos de abuso extremo constante entre os homens do que entre as mulheres. Uma correlação positiva foi encontrada entre a idade e o número de exemplos de abandono em nível extremo.

Quanto às características que aumentariam a probabilidade de um idoso com demência, cuidado por um cuidador familiar, estar em risco de ser abusado, o grau de violência contra esse idoso foi significativamente associado com a carga do cuidador, a deficiência mental dos idosos, a dependência da vida diária do destinatário de cuidados e o uso de serviços formais (Lee & Kolomer, 2005).

 

Considerações Finais

Embora o acesso a alguns artigos tenha sido apenas por meio dos resumos, foi possível perceber que os artigos encontrados de maneira geral descreveram maus-tratos e negligência como um fenômeno multifatorial e identificaram fatores de risco específicos associados com a etiologia e a manutenção dessas formas de violência no âmbito familiar. Num segundo momento, foram sugeridos pelos autores atendimentos clínico-terapêuticos, assim como reflexões sobre a necessidade de se aprimorarem políticas de saúde a estenderem para além de suas práticas de intervenções rotineiras de assistência, ou seja, dar um enfoque mais peculiar ao objeto em questão.

Dentro desse contexto, torna-se necessário, em intervenções futuras, educar o público sobre os direitos dos idosos. Educar os profissionais, cuidadores e público sobre o abuso também é fundamental para a prevenção. A falta de consciência sobre a violência contra o idoso pode levar a que o público não seja capaz de detectar e/ou denunciar o abuso de idosos e a consequências extremas: morte da vítima ou do agressor.

Uma grande proporção de vítimas de abuso utiliza os órgãos governamentais de proteção e de assistência clínica para as suas denúncias, as quais são feitas tantas vezes pela própria vítima, por outros familiares, vizinhos etc. Os estudos sugerem que nesses pontos de entrada nos sistemas de serviços tenha um pessoal altamente capacitado, utilizando uma abordagem de gerenciamento de caso.

Maus-tratos e/ou negligência é uma questão que envolve cuidados intensivos de saúde, que devem ser levados ao conhecimento dos prestadores de cuidados de saúde e cuidadores familiares. Adultos com mais de 65 anos que vivem em casa ou em instituições de longa permanência para idosos podem estar em risco de abuso. Profissionais habilitados, principalmente da rede básica de saúde, devem estar cientes das causas, da seleção de perguntas a serem dirigidas aos idosos, dos sintomas nem sempre tão evidentes de abuso e dos recursos na comunidade para atender-lhes convenientemente. Mediante essas informações e um entendimento mais amplo sobre o assunto, é possível aperfeiçoar ações que possam minimizar os efeitos devastadores do abuso contra idosos.

 

Referências

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Recebido em: 07/06/10
Aceito em: 23/07/10

 

 

1 Contato: mariasilvasantana@gmail.com