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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.4 no.1 Juiz de fora jun. 2011

 

ARTIGOS

 

Qualidade conjugal: estudo de caso de ribeirinhos na Amazônia

 

Marital quality: case study of river dwellers Amazon

 

 

Simone Souza da Costa SilvaI,1; Leandro Cavalcante LimaI; Fernando Augusto Ramos PontesI; Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-MaluschkeII; Thamyris Maués dos SantosI

IUniversidade Federal do Pará, Belém, Brasil
IIUniversidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a qualidade da relação conjugal de um casal ribeirinho da Ilha do Marajó-PA, Amazônia. O casal respondeu a uma entrevista sobre ciclo vital da família (namoro, nascimento dos filhos e vida atual) e participou de Situações Estruturadas de Investigação. Observações naturalísticas foram registradas em diários de campo. Uma análise do contexto, processos adaptativos e recursos pessoais permitiu averiguar a qualidade da relação associada às características do contexto sociocultural ribeirinho. Os resultados apontam para um padrão relacional marcado por mútuo ajustamento às práticas e aos papéis da cultura local embora se relate insatisfação na história conjugal. Os hábitos, sexualmente delimitados, encarregaram-se de suavizar a obrigação socialmente imposta em valores e expectativas da tradição.

Palavras-chave: Qualidade Conjugal, Ribeirinhos, Amazônia


ABSTRACT

The objective of this study was to analyze the quality of the marital relationship of a couple of river dwellers from Marajó Island - PA, Amazon. The couple was interviewed about family life cycles (dating, birth of sons and daughters, and current life) and participated in Structured Situations of Investigation. Naturalistic observations were recorded in field journals. An analysis of the context, adaptive processes, and personal resources allowed the investigation of the quality of the relationship associated with the characteristics of the socio-cultural context of the river dwellers. The results suggest a relationship standard marked by mutual adjustment to the practices and the roles of local culture, although the dissatisfaction of the marital history is reported. The customs, sexually delimitated, were able to soften the obligation socially imposed in values and traditional expectations.

Keywords: Marital Quality, River Dwellers, Amazon


 

 

As pesquisas sobre qualidade das relações conjugais estão no rol dos interesses acadêmicos, o que se justifica pela frequência de relatos sobre dificuldades e insatisfações de casais comumente correlacionadas a problemas de saúde física, psicológica e emocional e de condição socioeconômica (Berscheid, 1994; Berscheid & Reis, 1998; Gottman, 1998; Gottman & Notarius, 2004; Moreira, Silva, & Canavarro, 2009).

Braz (2002) destacou, também, que o aumento da taxa de divórcios e separações nos EUA, em países europeus e no Brasil retrata a insatisfação nas relações conjugais; e, ainda, que o surgimento de novos arranjos familiares, como "as famílias sucessivas ou recasadas, a coabitação de casais nãocasados, o casamento 'experimental', os cônjuges morando em casas separadas etc. (Carter & McGoldrick, 1995; Petzold, 1996; Ribeiro, Sabóia, Branco, & Bregman, 1998; Trost, 1995)" (Braz, 2002, p. 2), é uma evidência de que as pessoas buscam relacionamentos qualitativamente mais satisfatórios.

O que determina a boa qualidade de um relacionamento conjugal? Uma pergunta para um fenômeno tão complexo, sem dúvidas, terá uma resposta igualmente complexa.

Os autores parecem concordar que se trata de um fato multidimensional e multideterminado. As pesquisas sobre qualidade das relações conjugais apresentam explicações diversas. A própria definição de qualidade conjugal não é consenso na literatura, sendo muitas as variáveis apontadas como determinantes de uma relação satisfatória, por exemplo: as características individuais dos parceiros em relação, a natureza dessa relação, as normas sociais, o contexto sócio-histórico-cultural no qual os indivíduos estão inseridos, as características percebidas ou idealizadas do parceiro e da relação, as expectativas e os aspectos demográficos, psicológicos e interpessoais (Braz, 2002; Mosmann & Wagner, 2006).

Mosmann e Wagner (2006) mapearam o conceito de qualidade conjugal por meio de uma revisão na literatura. Após terem analisado os postulados propostos por cinco teorias que versam sobre o tema (Teoria da Troca Social, Comportamental, Apego, Teoria da Crise e Interacionismo Simbólico), as autoras sugerem três grupos de variáveis fundamentais na definição de qualidade da relação conjugal: o contexto, os recursos pessoais e os processos adaptativos.

O contexto em que se insere o casal oferta as condições materiais, sociais e psicológicas que são fontes de estresse ou de suporte para seu desenvolvimento. Belsky (1984), por exemplo, deixa claro que as situações estressantes vividas no contexto do vínculo pais-filhos são decisivas para a qualidade que os cônjuges experimentam em sua relação. Numa aproximação ao modelo Bioecológico de Desenvolvimento (Bonfenbrenner, 1979/1996), aludida por Mosmann e Wagner (2006), há de se considerarem, ainda, o micro e o macrocontexto que, em sua articulação, expõem a interdependência de muitas variáveis na determinação da qualidade da relação.

Os recursos pessoais dos cônjuges, tais como o nível educacional e as características de personalidade destacados por Griffin (1993), são decisivos na interação com outras variáveis e eventos estressores, tendo um impacto diferente para cada um, visto que deverão gerir procedimentos de adaptação e superação às circunstâncias para o desenvolvimento e crescimento do casal e da família.

Os processos adaptativos se definem pela capacidade e/ou estratégias que o casal lança mão para se ajustar às variáveis estressantes e às situações que invariavelmente ocorrem na vida marital, o que depende das características pessoais condicionadoras das ações individuais e deriva em influências sobre a estabilidade e a percepção da qualidade da relação.

Uma vez que estas dimensões (contexto, recursos pessoais dos cônjuges e processos adaptativos) reúnem um numeroso e ainda indefinido conjunto de variáveis, como as experiências na família de origem, o nível educacional, as características de personalidade, a fase do ciclo vital do casal etc. (Mosmann & Wagner, 2006), os pesquisadores que investigam a qualidade das relações conjugais tendem a fazer escolhas por algumas variáveis identificadas nas três dimensões. Dessa forma, por se entender a qualidade da relação conjugal como um fenômeno multidimensional, coloca-se o desafio de identificar e esclarecer as relações de funcionalidade das variáveis implicadas, independente da orientação metodológica adotada (Mosmann & Wagner, 2006).

Essa perspectiva ampliada sobre os relacionamentos é uma tendência nos estudos sobre desenvolvimento, sobretudo, nas pesquisas que adotam o modelo Bioecológico de Bronfenbrenner. Tal como as relações conjugais, esse autor compreende o desenvolvimento como um fenômeno multideterminado, sujeito à ação de variáveis biológicas e dos ecossistemas físicos, históricos e culturais (Bronfenbrenner, 1979/1996; Bronfenbrenner & Morris, 1998).

Partindo dessa orientação bioecológica que prioriza o contexto nos estudos de desenvolvimento, é necessário investigar os relacionamentos conjugais, contextualizando-os em seus ambientes físico, social, cultural e psicológico, em um "laboratório natural", uma vez que os sistemas ecológicos aí presentes geram formas de relacionamentos com facetas próprias.

Nessa perspectiva, os contextos ecológico social, histórico e cultural marcam as relações das pessoas conforme suas peculiaridades. O Brasil, com sua grande dimensão geográfica e com uma multiplicidade de grupos culturais, favorece formas singulares de viver, que balizam a história dos casais e suas famílias. A Amazônia brasileira é um desses contextos sociais de enorme pluralidade cultural. Nesse espaço, o ribeirinho é descrito como um personagem central nos processos histórico e social da região (Murrieta, 1998) embora seus ecossistemas relacionais sejam ainda ignorados ou focados como fatos sociais exóticos no meio acadêmico.

Dessa forma, a peculiaridade desse grupo social justifica a importância de estudos acerca da forma como se relacionam. Como pesquisadores amazônidas, nosso compromisso é enfatizar os padrões de relacionamento que aqui são vividos, para que apreciações macrossistêmicas sejam viáveis. Neste artigo, apresenta-se uma análise da qualidade da relação conjugal de uma família ribeirinha da Ilha do Marajó no estado do Pará. Descrevem-se o contexto sociocultural, os processos adaptativos e os aspectos dos recursos pessoais de um casal ribeirinho e, na análise, são associados o micro e o macrocontexto dos participantes.

 

Método

Participante

Participou do estudo o casal (Bruno e Marta) de uma família ribeirinha formada por dez pessoas (família nuclear), que vivem no Rio Araraiana no município de Ponta de Pedras na Ilha do Marajó, estado do Pará (Amazônia-Brasil). A despeito de fazer parte do referido município, a comunidade estudada distancia-se da sede a uma distância que corresponde a duas horas de viagem de barco. Para fins de manter o anonimato dos participantes, os nomes usados neste artigo são fictícios.

O casal vive em união estável há cerca de 20 anos e possui oito filhos, sete meninas e um menino. Bruno (não sabe informar a idade) possui a 1ª série do Ensino Fundamental e sempre morou no Rio Araraiana, assim como seu pai; apenas sua mãe morou em outro município, Abaetetuba. Marta (não sabe informar a idade) é analfabeta e sempre morou no rio, assim como os pais. A escolha dessa família foi baseada em critérios de acessibilidade e disponibilidade de participação da pesquisa além de ser um grupo característico da comunidade estudada.

Ambiente

O casal mora em uma das muitas comunidades ribeirinhas do município de Ponta de Pedras, localizada a 32,7 milhas náuticas (aprox. 60,570 km) da capital do Pará, Belém. No período de coleta dos dados, 125 pessoas viviam no local, distribuídas em 22 habitações familiares ao longo do Rio Araraiana. As casas apresentavam uma distância aproximada de 300 metros de uma para outra no rio investigado. Além disso, os moradores do Araraiana estão afastados de outros rios onde se localizam outras comunidades ribeirinhas. Não havia acesso a serviços de educação a partir da 5ª série fundamental, de saúde, de saneamento básico, de energia elétrica e de informação (há apenas alguns rádios e uma TV à bateria de carro).

A população sobrevive de atividades extrativistas de baixo rendimento econômico, como a pesca, a caça para o consumo doméstico, a coleta de frutos de açaí e a extração de cipós e de cascas de palmeiras nativas.

Instrumentos e técnicas

A proposta metodológica contou com entrevistas, observações naturalísticas registradas em diário de campo e com as Situações Estruturadas de Investigação (SEI) - mescla de observações e entrevistas.

Entrevista sobre o Ciclo vital da família

Inspirada na tarefa do teste marital de Lewis, Beavers, Gossett and Phillips (1976), a entrevista teve a finalidade de identificar a história do casal durante o ciclo vital da família. O pesquisador solicitou que os cônjuges descrevessem o ciclo da relação conjugal em suas várias etapas, isto é, antes de se casarem (namoro) e de as crianças nascerem, após o nascimento dos filhos e a vida atual.

Situações Estruturadas de Investigação (SEI)

As SEI foram construídas para que a metodologia fizesse sentido ao casal e refletisse, pelo menos em parte, suas percepções. Uma vez que o contato com o rio, a flora e a fauna invadem a linguagem, as práticas e as crenças do ribeirinho, os padrões relacionais foram observados a partir de situações estruturadas, planejadas com base nas características da cultura regional e nas atividades cotidianas dos casais.

Essas situações são "jogos" interacionais propostos aos participantes, com o objetivo de facilitar manifestação de comportamentos indicadores de regras e padrões relacionais. O procedimento foi filmado, tendo um tempo de aproximadamente 20 minutos em cada situação; posteriormente, os episódios foram transcritos. Duas SEI foram elaboradas e realizadas: construção de objetos em Miriti e a solução de problemas.

1) Construção de objetos em Miriti: baseada na sexta questão da tarefa familiar de Minuchin, Guerney, Elbert and Rosman (1964)2, utilizou-se do Miriti, palmeira típica das áreas de várzea na Amazônia. No estado do Pará, a "bucha" ou polpa de sua palma é utilizada no artesanato tradicional de brinquedos, comuns entre a população ribeirinha empobrecida. Solicitou-se à família a confecção de um objeto em Miriti, sendo estabelecido apenas o critério de permanência dos membros do grupo no mesmo espaço da tarefa, porém não se determinou se esta deveria ser realizada em conjunto ou individualmente. O objetivo foi verificar o aparecimento de aspectos estruturais da família, como papéis, competição, cooperação, hierarquia, liderança, conflito, comunicação familiar e regras familiares.

2) Solução de problemas: inspirada na tarefa 1 da Entrevista Familiar Estruturada (EFE) desenvolvida por Féres-Carneiro (1983)3 , a Solução de problemas consistiu no convite aos membros da família para que resolvessem situações hipotéticas em conjunto. Três histórias hipotéticas foram apresentadas. O objetivo foi identificar como a família lida com situações estressoras e avaliar aspectos de fronteira ao se verificar como respeitam a individualidade de cada membro. As histórias foras as seguintes:

Problema 1: "Todos vocês saíram em viagem para Ponta de Pedras em uma sexta-feira à noite. Quando já estavam distantes de casa, a baía começa a ficar agitada, a noite fica mais escura do que o habitual, começa a chover, um tronco de árvore solto no rio bate e fura o barco. O que vocês fariam?"

Problema 2: "Chegou a época do Círio de Nazaré. A família toda viajou a Belém para acompanhar a procissão. Na procissão, havia muita gente, muito barulho, muito tumulto, empurra de um lado, empurra do outro e, nessa confusão, uma das crianças se perdeu. O que vocês fariam?"

Problema 3: "Imaginem que vocês ganharam na loteria e estão com bastante dinheiro, porém vocês só receberão o dinheiro se conseguirem dizer cinco coisas que sejam do desejo de todos comprar. Caso vocês não consigam chegar a um acordo, vocês não receberão o dinheiro. Que coisas vocês escolheriam?"

Observação naturalística e diários de campo

Após a inserção no contexto das rotinas da família, os contatos foram registrados em diários de campo que continham descrições das pessoas, dos objetos, dos lugares, dos acontecimentos, das atividades e das conversas vivenciadas durante a coleta de dados, bem como estratégias e reflexões do pesquisador.

 

Procedimentos

Do cuidado ético

A pesquisa que ora se apresenta foi inicialmente submetida como projeto ao Comitê de Ética do Hospital Universitário João de Barros Barreto, da Universidade Federal do Pará, sendo aprovada pelo parecer de número 2716-06. Em seguida, um primeiro contato foi realizado com as famílias do Rio Araraiana. O casal participante foi convidado a participar da pesquisa e informado sobre os objetivos, os procedimentos de aplicação dos instrumentos e a liberdade pessoal de desligar-se da investigação em qualquer fase. Aceito o convite, assinou-se um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que formalizava por escrito as informações dadas oralmente e o aceite dos participantes.

Da coleta de dados

Visitas realizadas à comunidade permitiam a inserção ecológica (Cecconello & Koller, 2003) gradual ao modo subjetivo de organização das pessoas que moravam no local. Ao longo de um ano, foram feitas visitas periódicas à comunidade. A cada dois meses, a equipe de pesquisa passava uma semana visitando, conversando, entrevistando e participando de atividades cotidianas dos ribeirinhos do Araraiana (contabilizando 35 dias de inserção).

Partindo da experiência no relacionamento com os ribeirinhos, os instrumentos foram sendo adaptados à linguagem e às circunstâncias condicionadoras das coletas de dados, como: o tempo disponibilizado pela família, sua acessibilidade e o entendimento das atividades propostas. Só então, o casal focal foi convidado a participar da aplicação dos instrumentos. Com a sua disponibilidade e permissão, na casa da família foram realizadas a Entrevista sobre o ciclo de vida da família (um dia) e as Situações Estruturadas de Investigação, sendo estas filmadas (dois dias, um para cada SEI). Em todas as etapas do contato, foram redigidos Diários de Campo.

Análise dos dados

A perspectiva multimetodológica utilizada permite explorar detalhadamente o ponto de vista dos participantes mediante mecanismos diferentes. Ora, a análise feita neste estudo de caso é construída a partir de observações, entrevistas e situações estruturadas. O pesquisador considerou não apenas a voz e a perspectiva do casal, mas também as interações e as percepções manifestadas no intercâmbio com os filhos nas condições produzidas das situações estruturadas em ambiente familiar.

As observações das SEI geraram um total de 16 páginas de registro, contendo a descrição detalhada não apenas das verbalizações, mas também dos comportamentos que ocorreram durante as filmagens. Esses dados empíricos complementaram as informações registradas durante a Entrevista sobre ciclo familiar e as reflexões e descrições contidas nos Diários de Campo.

Parte-se, então, de uma perspectiva ecológica de conhecimento, notadamente balizada no modelo Bioecológico de Bronfenbrenner, para descrever e analisar a qualidade da relação de um casal ribeirinho da Amazônia. A reflexão é construída sob o foco das categorias conceituais de Mosmann e Wagner (2006), que definem a qualidade conjugal. Logo, os resultados são organizados nos itens:

Contexto - Descreve as condições ecológicas físicas, econômicas e sociais que dão sustentação à vida dos participantes. São apresentados aspectos da dinâmica social na relação com o rio, a mata de várzea, a fauna e a flora local, bem como seu efeito sobre a subsistência e o imaginário do ribeirinho do Rio Araraiana.

Processos adaptativos - Eventos singulares são destacados em uma narrativa sobre o relacionamento do casal. Tomam-se para análise três momentos: período de namoro, gravidez e nascimento do primeiro filho e consolidação da vida marital. Nesse percurso, são retomadas as estratégias, isto é, os padrões comportamentais descritos pelos participantes no enfrentamento aos eventos estressores.

Recursos pessoais - Apresentados contexto e história, são ressaltadas características pessoais apresentadas por cada um dos cônjuges. Para além de seu nível escolar e situação socioeconômica, pontuam-se repertórios comportamentais provavelmente sinalizadores da personalidade dos participantes e seu mútuo ajustamento a valores e papéis sociais da comunidade investigada.

 

Resultados

Contexto

Marta e Bruno vivem às margens do Rio Araraiana (Ilha do Marajó), lugarejo distante dos centros urbanos e carente da assistência dos serviços estatais. A comunidade possui um agente de saúde, que não presta os serviços necessários por falta de recursos, uma escola e uma professora para o ensino das séries iniciais até a 4ª série do Ensino Fundamental. Para além das parcas condições ofertadas pelo Estado, a subsistência das famílias ribeirinhas é garantida e condicionada pelas práticas, costumes, valores, crenças e conhecimentos tradicionais que esse povo historicamente construiu na várzea amazônica. Os cônjuges que contribuíram com esta pesquisa, cresceram e habitaram esse ambiente físico e cultural desde crianças, bem como as várias gerações de suas famílias.

Na várzea, o homem ribeirinho se relaciona física e simbolicamente com um ecossistema constituído pelo rio, pela floresta e pelas faunas aquática e terrestre, com os ciclos naturais das chuvas, da floração das frutas e dos peixes e camarões dos rios e matas da Amazônia.

O rio é o centro vital da população investigada. De seu leito, são pescados os camarões e os peixes, que cotidianamente nutrem as famílias com as proteínas e lipídios dos quais necessitam para o desenvolvimento de seus corpos. A água é bebida e consumida no preparo de alimentos e na higiene bucal. O banho, em especial, é um momento de limpeza física e de lazer para crianças e jovens, sendo realizado apenas nas marés cheias e sempre nas margens do rio. A ressalva decorre do risco de entrar no rio. Para além de um possível afogamento, o uso do ambiente do rio é permeado por uma postura de respeito e temor, expressados nas histórias contadas sobre a figura lendária da Pirarara4 , que a população teme, e dos "encantados", como o boto, a mãe-d'água etc.

No mundo das águas, o movimento das marés parece controlar a dinâmica das atividades de rotina. Há as temporadas de pesca do camarão e da abundância dos peixes. O movimento das marés determina a forma como as casas são construídas, os momentos dos banhos, das pescas, dos deslocamentos e da própria percepção sobre a fertilidade da terra, que, sendo coberta pela lama da maré, é considerada fraca e inútil para plantios. Lidar com as águas do rio, seus conteúdos objetivo e subjetivo, é tarefa que se aprende pela comunicação desencadeada nas interações diárias entre adultos e jovens, por exemplo: durante a pesca, ao respeitar os limites onde se pode tomar banho, ao nadar, ao remar os cascos5 e na comunicação e conhecimento das lendas.

A floresta onde moram os ribeirinhos é constituída particularmente pelas áreas diariamente alagadas da várzea. Ali, são construídas as casas em palafitas com a madeira e as palhas da flora local. Frutos são colhidos e plantados para o consumo doméstico. Destes, o açaí é o mais importante, uma vez que é consumido na alimentação diária e vendido para gerar renda às famílias. Essas vendas são feitas a atravessadores ou diretamente nos mercados de Belém e de Abaetetuba, cidade que fica a cerca de três horas de viagem da comunidade do Rio Araraiana e que possui ligação por via terrestre com a capital do Estado. A demanda pelo produto e sua valorização impulsionou a "limpeza dos terrenos"6 para semear os frutos de açaí, gerando certa homogeneidade da flora em diversas propriedades.

Outro produto gerador de renda é a tala7 extraída da palmeira de Jupati, vendida em grandes feixes aos milheiros. Da floresta, ervas e cipós também são coletados para a produção de banhos de ervas e chás usados na cura de doenças e/ou moléstias diversas, como o "mundiamento"8. O uso medicinal de ervas é comunicado pelas mulheres locais às suas filhas e netas. Na mata, ainda, são caçados animais como tatus, pacas e mucuras9, preparados como alimentos que complementam a dieta, especialmente no tempo da escassez de peixes e do açaí. A saída para caçar é feita prioritariamente por homens, durante a noite, com o auxílio de cães.

O ambiente físico e cultural descrito é experienciado e ordenado pelo ribeirinho, com uma divisão clara entre os gêneros. Diante das pressões ambientais, a população parece garantir a coesão social, dividindo tarefas, papéis e expectativas entre homens e mulheres. Assim, por exemplo, mulheres costumam desenvolver afazeres centralizados no espaço doméstico e os seus maridos nos espaços extracaseiros, como matas e rio. A garantia da subsistência financeira e nutricional da família demanda essas especializações, sobretudo do subsistema conjugal.

Nesse contexto ecológico, identificou-se um parcial isolamento das famílias geográfica e sociopoliticamente em relação a outras comunidades e centros urbanos além da separação física entre as próprias casas das famílias, com acesso dificultado pelo custo de resposta da navegação em canoas a remo. Esses aspectos parecem favorecer relações com maior intensidade, riqueza de atividades e constância no próprio interior dos domicílios, o que torna a família no mundo ribeirinho um importante valor partilhado socialmente.

Processos adaptativos

Ao longo dos 20 anos de vida conjugal, o casal suportou muitas dificuldades. Hoje, além das rotineiras situações estressantes, seu relacionamento é marcado por percepções negativas.

Marta relata que quando conheceu Bruno e durante os primeiros anos juntos, ele fazia uso abusivo de bebida alcoólica. Por outro lado, ele diz que sua vida antes de casar era muito boa, com o tempo dividido entre o trabalho e o lazer (festas, futebol, viagens etc.). Fala que sua relação não era agradável e o casamento não era algo desejado. Sobre o namoro, diz: "A gente não se demo muito bem" (Bruno, 2005). O comportamento de Bruno desagradava Marta, que provavelmente cobrava mais envolvimento e apoio, o que é sugerido por sua fala que destaca uma percepção negativa do período:

Logo que a gente se conheceu, era uma vida boa, mas, depois, ficou pior, porque não dava certo. A gente brigava muito, porque ele bebia muito, se metia em farra. Não dava certo, né! Eu ainda tentei me sair, mas não dava, já tava gestante do [Pedro]. Aí, ficou (Marta, 2005).

Bruno também se considerava insatisfeito naquele momento, mas, em seu depoimento, reconhece sua contribuição negativa para a qualidade da relação quando fala a respeito do tempo da gravidez:

Olha, não dava certo. Nesse tempo, eu não pensava. Só farra. Nesse tempo, pra mim, tudo era bom. A gente tinha problema. Nós dois tinha problema. Nesse tempo, era nota zero, eu acho. A gente brigava muito, não se acertava. Aí, fica difícil (Bruno, 2005).

A gravidez foi mais um elemento estressor adicionado ao turbulento namoro, uma fase de transição. No período, a característica marcante de Bruno era sua vida boêmia e o abuso no consumo de álcool, relacionando-se com Marta de forma descomprometida. Esta, por sua vez, esperava maior envolvimento e suporte emocional do então namorado.

Enquanto aguardavam um filho, Bruno parecia não suportar a situação e sua estratégia foi abandonar10 Marta, deixando-a mais insatisfeita. Ela diz, por exemplo, não ter desejado construir uma família com Bruno, mas ficou grávida e teria que cuidar de uma criança, o que foi decisivo para a reaproximação do casal. É aqui então que entra em cena todo o peso do contexto sociocultural daquela comunidade, coagindo os casais a reatarem os laços, ainda que esgarçados, para cuidar de uma nova criança no difícil mundo das águas amazônicas.

Com o nascimento do filho e sua necessidade de cuidados, o casal é levado ao "casamento"11. Marta esclarece que Bruno só ficou com ela por causa do filho e que as dificuldades não se encerraram com sua volta para casa, uma vez que ele continuou se comportando como antes em desarmonia com as circunstâncias. Ela conta que:

Ele ficava com os parceiros, com os primos dele, com os parceiros dele. Ele vivia só com os parceiros... Eu acho que quem tem uma família tem que cuidar das coisas como deve... Passava noites e noites com os colega dele. Os menino, às vezes, adoecia, tinha que andar atrás dele. Às vezes, a gente falava pra ele, ele ainda queria briga, muito difícil! (Marta, 2005: grifos nossos).

Com o filho, o casal é chamado, também, a assumir os papéis socialmente determinados de mãe e de pai, sendo Marta a porta-voz social desse compromisso. A adoção do papel de pai é difícil para Bruno, mas ele vai se voltando aos poucos para a família, como conta: "Aí o [Pedro] nasceu. Aí, eu voltei pra casa. Aí, melhorou, né! Parei, mais, aí, veio ele, o [Pedro], as brigas diminuíram, passei a trabalhar, cuidar dele, né! Do [Pedro]" (Bruno, 2005).

Bruno se responsabiliza pelo filho, sugere entrar em harmonia com Marta, quando diz que as brigas diminuíram, e se torna ainda o provedor da família. Ela, após reclamar, destaca que o marido mudou o comportamento e, inclusive, passou a participar dos cultos religiosos da Assembleia de Deus.

Verifica-se que a adaptação à vida conjugal e, logo em seguida, ao papel de pai foi mais difícil para Bruno. Ele parece ter investido pouco em um envolvimento emocional significativo com a esposa, inibindo a emergência de um padrão transacional de mútuo apoio e acomodação comportamental, elementos necessários à constituição de um sistema funcional (Minuchin, 1982).

De fato, o nascimento das crianças tem sido tratado como um período de crise que representa uma diminuição do nível de satisfação conjugal, haja vista que os cônjuges tomam contato com aspectos da personalidade de seus parceiros que até então não conheciam (Belsky, 1981, 1984; Cox, Owen, Lewis, & Henderson, 1989; Kreppner, 1988, 1995; Siqueira, Ribeiro, & Duarte, 1999; Trost, 1995). No caso em análise, a crise gerada pelo nascimento dos filhos estabeleceu regras no sistema conjugal que sustentam papéis organizadores da dinâmica familiar.

Notam-se, ainda, os valores e as formas de sociabilidade culturalmente estabelecidas na comunidade influindo na vinculação de Bruno e Marta. Aos poucos, o comportamento de Bruno foi se enquadrando às "normas" do contexto de modo funcional.

Ao assumir os papéis de pai/marido e mãe/esposa, o casal arranja seus laços de compromisso. Bruno passou a ser o provedor da família, buscando a alimentação e a renda necessárias por meio de seu trabalho nos rios e matas. Começou a participar dos cultos religiosos e tomou notoriedade dentro da população do rio. É, assim, que passou a ser visto pelos conterrâneos como um homem trabalhador e bem-sucedido na comunidade, recebendo o apelido social de "Buado"12. Marta, por seu turno, continua a cuidar dos filhos que vai gestando, do marido e da casa e seu entorno, executando uma variedade de tarefas domésticas. Nessa rotina, delimitada pelo gênero, os hábitos foram engendrados e se encarregaram de suavizar a obrigação imposta socialmente pelos valores e expectativas.

 

Recursos Pessoais dos Cônjuges

O casal em questão vive as contingências ofertadas pela ecologia local - física e/ou sócio-histórico-cultural, cada qual com seu estilo de perceber e enfrentar as vicissitudes do relacionamento. Algumas de suas características são semelhantes: não sabem informar suas idades, pois perderam os documentos; cumpriram apenas os primeiros anos de ensino formal; e estão sujeitos a um ambiente de valores tradicionais e com limitações para conseguir alimentos e atendimento dos órgãos estatais, o que pode ter marcado seus padrões comportamentais durante a experiência da vida conjugal.

Bruno reconhece que, no início de seu casamento, agiu de modo descomprometido, mas, hoje, parece adotar, diante das dificuldades da relação, uma postura de aceitação associada ao comprometimento para com esposa e filhos. Em sua fala, destaca sua postura e o peso que representa seu casamento: "Depois que o cara se mete, ele tem que carregar a cruz. Não tem jeito, né! Às vezes, a gente briga, tem discussão, sempre, né! Mas o cara tem que suportar e carregar essa cruz. Não tem jeito agora" (Bruno, 2005).

A determinação de Bruno alude a uma característica pessoal de lidar com circunstâncias estressoras. Na situação estruturada de um provável naufrágio em que estivesse toda a sua família, ele diz: "Tem que reagir numa hora dessa, né! Porque não tem jeito. Pedi ajuda de Deus, e se virar pra vê se consegue, né! Pelo menos se salvar. Se o cara ficar com medo, se intimidar, é pior, né?!" (Bruno, 2005).

A atitude do entrevistado diante do naufrágio aponta, também, para a forma como vivencia seu casamento. Ele enfrenta essas situações como alguém que não tem alternativas que não seja expor-se às contingências, em suas palavras, "como uma cruz", como um caminho sem retorno. Esse atributo, em linhas gerais, caracterizaria um estilo de coping, que, segundo Antoniazzi, Dell'Aglio e Bandeira (1998), são manifestações estáveis, ao longo do tempo, de avaliação e de respostas às situações estressoras, transcendendo ocorrências ocasionais de contexto e tempo específicos.

Por sua vez, Marta diz estar insatisfeita com o casamento e apresenta uma visão pessimista da situação atual de sua relação. Ela diz, em meio a choro: "Eu acho que pra mim eu nunca fui feliz. Na minha vida, tudo difícil. Eu acho que até hoje ainda é difícil" (Marta, 2005).

Contudo, em outra fala, ela apresenta um discurso aparentemente ambíguo se relacionado ao registrado a seguir. Ressalta que o companheiro não deixa faltar o alimento para a família e, por essa razão, o considera um bom marido e um homem trabalhador. Contudo, exprime sua insatisfação embora não consiga explicitar os motivos. Comparando o trecho citado com o descrito a seguir, identifica-se essa aparente ambiguidade: "Pelo um ponto, hoje tá melhor, que ele cuida dos filhos dele. Agora, por outro..." (Marta, 2005).

Por outro, é provável que as regras da relação conjugal estabeleçam um distanciamento afetivo, limitando-os ao encontro sexual, pois, embora se admitam infelizes, o casal gerou oito filhos. Ressalta-se, além disso, que, durante o registro nas situações estruturadas, eles mantiveram-se fisicamente afastados e apresentaram baixa frequência de olhares mútuos.

Na divisão dos papéis entre o casal, Bruno rotineiramente permanece a maior parte do dia fora de casa (na mata e no rio) envolvido em alguma atividade de subsistência13 com o filho Pedro. Suas tarefas resultam na manutenção nutricional e econômica da família. Marta, por sua vez, é responsável pelos cuidados dos filhos e está sempre envolvida em afazeres domésticos, sendo ajudada pelas filhas mais velhas. O espaço doméstico parece ser sua seara de ação, mas, na hierarquia doméstica, sua autoridade está submetida à do marido. De fato, essa divisão de tarefas está associada aos diferentes status sociais estabelecidos na cultura da comunidade de modo que os homens são detentores de maior poder.

Pode-se exemplificar na situação de confecção de um objeto em Miriti essa autoridade diferenciada quando Marta, diante da disputa das filhas por uma faca, ordena "Solta essa faca" não é obedecida, sendo necessária a mediação do marido, que, com sua voz de comando, termina o conflito entre as filhas, dizendo "Dá pra ela".

Prováveis regras implícitas delimitam as fronteiras do casal em relação à família e ao grupo social e estabelecem a divisão dos papéis com base nas diferenças de gênero. Essa divisão define uma hierarquia rígida de poder. Porém, essa desigualdade não é percebida como um motivo de insatisfação, mas como algo apropriado à dinâmica local. Esses fatos são demonstrados por Silva, Pontes, Lima e Maluschke (2010) em sua investigação sobre as redes sociais de casais ribeirinhos.

 

Considerações Finais

Os resultados indicam que a relação do casal estudado foi/é marcada por conflitos e insatisfações, porém estabilizada pela divisão de papéis delimitados pelo gênero diante da necessidade de sobrevivência pessoal e coletiva que parece marcar aquele contexto ribeirinho de extrema pobreza econômica.

O casal abraça os padrões tradicionais característicos do contexto da comunidade, personificando os papéis socialmente construídos para a manutenção de um equilíbrio homeostático no sistema familiar. Características pessoais, como os comportamentos de aceitação do casamento, traços de temperamento e, ainda, a observância de expectativas e de papéis socialmente construídos no contexto cultural (como a função paterna e as diferenças de gênero), revelam-se claramente influentes na forma como os cônjuges relacionamse entre si e com os filhos.

As vicissitudes, ou os processos adaptativos da história do casal, resultam na percepção e na idealização que cada cônjuge tem de seu parceiro e de seu relacionamento, o que pode influenciar a qualidade da relação. Isso se observa, sobretudo, no discurso aparentemente ambíguo de Marta, que ora se vê infeliz no casamento, ora expressa certa "satisfação" com o fato de o marido prover a família. Aqui, parecem prevalecer, sobretudo, os valores, crenças e práticas do contexto cultural do lugarejo, que ofertam o "laço" simbólico entre Marta e Bruno e influenciam a percepção de suas características pessoais e os processos adaptativos identificados ao longo de sua história marital.

 

Referências

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Recebido em: 02/09/10
Aceito em: 18/04/11

 

 

1 Contato: symon@ufpa.br
2 A sexta questão da tarefa familiar de Minuchin apresenta o seguinte comando: copiar graficamente um modelo construído em madeira que existe na sala.
3 A tarefa 1 da EFE de Féres-Carneiro 1983) apresenta o seguinte comando: vamos imaginar que vocês teriam que mudar da casa onde moram no prazo de um mês. Gostaria que vocês planejassem agora, em conjunto, essa mudança.
4 Uma espécie de bagre pardo ou pintado capaz de devorar um ser humano.
5 Cacos é o termo usado pela população para as canoas.
6 Corte de outras espécies de plantas e árvores para o plantio exclusivo de açaí.
7 Tiras da casca da palma da palmeira de Jupati, que é seca ao sol.
8 Estado psicológico de despersonalização e/ou desrealização, supostamente provocado pelo contato com os "encantados" da floresta, animais e seres detentores de poderes misteriosos.
9 Pequenos gambás.
10 Abandono foi o termo usado por Marta para descrever a situação.
11 O casamento na comunidade estudada, antes ser um contrato social civil ou religioso, parece ser uma vinculação do casal quando se relaciona de forma estável e gera filhos nessa união. Essa forma de matrimônio é socialmente legítima na comunidade e provavelmente evoluiu da história de desassistência do poder público ao lugarejo.
12 Buado é por analogia buiado, expressão usado no Centro-oeste e Norte do Brasil para designar popularmente quem está com muito dinheiro.
13 Atividades de subsistência aqui se referem ao trabalho cotidiano do ribeirinho com a pesca, a caça e o extrativismo vegetal, que visa à obtenção de recursos financeiros e de alimentos para a família.