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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.4 no.1 Juiz de fora jun. 2011

 

REVISÕES CRÍTICAS DE LITERATURA

 

O impacto do testemunho da violência interparental em crianças: uma breve pesquisa bibliométrica e bibliográfica

 

The impact of children witnessing interparental violence: a brief bibliometric and bibliographic research

 

 

Lélio Moura Lourenço; Fellipe Soares Salgado1; Ana Carolina Amaral; Suzana Fajardo Leal Gomes; Luciana Xavier Senra

Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil

 

 


RESUMO

O presente trabalho consiste em uma pesquisa bibliométrica e bibliográfica, que investigou os resultados do impacto da exposição à violência interparental em crianças. Realizou-se uma busca eletrônica em duas diferentes bases de dados, BVS e Psyc Info, com associação dos descritores "conflito familiar" e "criança" e "domestic violence" com "child", respectivamente. Foram selecionados apenas artigos entre 2005 e 2010, observando-se autor, periódico, metodologia e resultados principais. Dos 211 artigos coletados, foram selecionados 15, destacando país e periódico com mais números de publicações (EUA, 12; Canadian Psychology, Journal of Youth Adolescence e Journal of Family Psychology, dois, respectivamente). Os resultados apontaram que o impacto desse tipo de violência assistida por crianças é evidente no curso de seu desenvolvimento, ocasionando sintomas depressivos e queda no desempenho escolar. Destaca-se a necessidade de novas pesquisas relativas ao tema, cuja produção é ainda incipiente.

Palavras-chave: Violência Doméstica, Crianças Testemunhas de Violência


ABSTRACT

This work consists of a bibliometric and bibliographic research which investigated the results of the impact of children witnessing interparental violence. An electronic search was conducted in two different databases, BVS and Psyc Info, with the descriptors "conflito familiar" (family conflict) with "criança" (child) and "domestic violence" with "child", respectively. Only articles written from 2005 and 2010 were selected, taking into account the author, the journal, the methodology, and the main results. From the 211 articles collected, 15 were selected, highlighting country and journal with more publications (USA, 12; Canadian Psychology, Journal of Youth Adolescence and Journal of Family Psychology, two, respectively). The results suggested that the impact of this type of violence observed by children is evident in the course of their development, causing depressive symptoms and decrease of school performance. The need for new researches related to the issue is highlighted, for its production is still incipient.

Keywords: Interparental Violence, Children Witnessing Violence


 

 

No Brasil, a violência contra crianças e adolescentes é considerada um grave problema de saúde pública. A conceituação dessa forma de violência vem sendo ampliada devido à maior conscientização relativa ao bem-estar e aos direitos de crianças e adolescentes, bem como ao impacto que a violência exerce sobre o desenvolvimento dos indivíduos, sobretudo nessas etapas da vida. As definições desse fenômeno variam também conforme as diversas visões culturais e históricas, com os direitos e o cumprimento de regras sociais referentes à criança e seus cuidados, e de acordo com os modelos explicativos para a violência como observado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (Brasil, 2001, 2010). A violência é expressa de diferentes maneiras: física, sexual e psicológica, negligência/abandono, política, econômica e patrimonial, e dirigida a várias vítimas: homossexuais, grupos étnicos, idosos, homens, mulheres, adolescentes e crianças. No caso específico da violência familiar ou doméstica contra a criança, a violência pode ser evidenciada, além dos referidos modos, de acordo com Ferreira et al. (2001), pela Síndrome de Münchausen por Procuração. No entanto, independentemente dos termos utilizados para nomeá-la, a violência contra crianças é definida por toda ação ou omissão capaz de provocar lesões, danos e transtornos a seu desenvolvimento integral (Deslandes, Assis, & Santos, 2005).

O contexto familiar é entendido como o espaço primordial de acolhimento e suporte para as crianças. Entretanto, nem sempre esse cenário se apresenta dessa forma, como nos casos em que esse ambiente é marcado pelo fenômeno da violência. Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2001) e a Fundação Oswaldo Cruz (Brasil, 2010), a violência intrafamiliar ocorre nas relações hierárquicas e intergeracionais e consiste em formas agressivas de a família se relacionar por meio do uso da violência como modo de solução de conflito, bem como estratégia de educação. Inclui, também, a falta de cuidados básicos com os filhos. Outra variação desse tipo de violência, entendida como psicológica, é denominada testemunho da violência e refere-se a situações violentas presenciadas pela criança/adolescente em casa, na escola, na comunidade ou na rua.

De acordo com Sani (2008), a exposição da criança à violência é definida como uma exposição à violência interparental, violência conjugal ou violência marital e designa "o tipo de vitimização, ou seja, o testemunho pela criança de violência entre duas pessoas próximas afetivamente e com quem partilha o mesmo espaço físico" (p. 95).

Para que o impacto da violência sobre a criança seja avaliado, em especial no que se refere à criança exposta à violência intrafamiliar, é necessário o entendimento de que a infância é uma etapa da vida extremamente delicada e importante e que requer significativos investimentos afetivos e de suporte social. Os cuidados prestados pela família e por outros grupos sociais e instituições à criança influenciarão sobremaneira sua possibilidade de sobrevivência e de qualidade de vida. Ademais, servirão também como uma espécie de espelho de valores no qual ela vai se refletindo e formando suas ideias sobre si mesma, sobre o outro e sobre o mundo em que vive (Deslandes et al., 2005).

Para Sani (2008), não é possível estabelecer um modelo reativo da criança à violência doméstica, ocorrendo, inclusive, reações bastante divergentes. Contudo, diversos fatores podem auxiliar na compreensão desse impacto, tais como: idade, gênero, frequência, intensidade e severidade dos conflitos, sua resolução, as formas de expressão da violência e o suporte social. O conhecimento dessa realidade é essencial para que melhores formas de prevenção e minimização dos efeitos negativos possam ser determinadas. Por isso, o Conselho Federal de Psicologia (2009) destaca que quaisquer abordagens profissionais, preventivas ou de intervenção, devem ser consideradas sempre de modo interdisciplinar, acrescentando aí também a importância da intersetorialidade, para que o trabalho se configure como uma rede de proteção articulada.

Um lar onde paira um constante clima de tensão e de conflito familiar iminente é o ambiente onde se desenvolvem essas crianças testemunhas da violência, e isso traz consequências, que vão desde marcas físicas, privação da satisfação de necessidades básicas (biológicas e psicológicas) e de educação, ao surgimento de problemas fisiológicos, emocionais, cognitivos e comportamentais. O envolvimento com a violência de figuras tão significativas para a criança, como os pais, responsáveis originalmente pelo seu acolhimento e proteção e com as quais se identifica, suscita diferentes reações na mesma. Ela pode assumir uma postura passiva diante dessa realidade ou ativa, buscando interferir de maneira que a situação seja interrompida. Isso acontece de acordo com a forma como a criança constrói no seu psiquismo os significados e as representações sobre a experiência vivenciada por meio de recursos próprios. Nesse sentido, estudos salientam também que não serão todas as crianças expostas à violência intrafamiliar que responderão negativamente, visto que a presença de fatores de proteção pode exercer um papel fundamental. Dentre estes, destacam-se: o ambiente escolar, o relacionamento com a vizinhança e o suporte advindo de demais membros familiares, entre outros (Sani, 2008).

Sani (2008), ao estudar os casos de duas crianças que foram testemunhas de violência doméstica, descreve o impacto dessa situação no desenvolvimento infantil. O estudo permitiu identificar sentimentos de ansiedade, medo, insegurança, vergonha, bem como comportamentos agressivos e manifestações depressivas. É preciso considerar também que crianças testemunhas de conflito familiar encontram-se inseridas em um sistema de justiça, civil ou criminal, podendo tal fator desempenhar um prejuízo no seu desenvolvimento psicológico, sendo necessária, portanto, a tomada de determinadas precauções diante dessa realidade. É o que o Conselho Federal de Psicologia (2009) aponta como danos secundários. Os danos primários são aqueles decorrentes da própria situação de violência, já os secundários são aqueles decorrentes de intervenções inadequadas ou de não-intervenções da rede de atendimento e proteção.

Sob esse aspecto, Sani (2008) evidencia a pertinência de algumas diretrizes para a atuação profissional daquele que se depara com o cenário da exposição de crianças a situações de violência, segundo o guia de operação da Office for victims of crime (conforme citado pela autora): possuir treino em nível de avaliação e identificação de casos, providenciar assistência e proteção no âmbito do sistema judicial, adaptar práticas condizentes com as necessidades do desenvolvimento infantil e colaborar com outros organismos e instituições envolvidos com a assistência à criança em situação de risco, bem como com os demais profissionais.

Tendo em vista o conceito ampliado de saúde e a partir das considerações expostas e da relevância do tema na atualidade, o presente estudo tem como objetivo verificar, em publicações científicas pesquisadas na base de dados eletrônica Biblioteca Virtual em Saúde - BVS -, quantas se destinam a investigar o impacto da violência familiar na criança.

 

Método

O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa bibliométrica, definida como "o estudo dos aspectos quantitativos da produção, disseminação e uso da informação registrada" (Macias-Chapula, 1998), ou seja, baseia-se no levantamento da produção científica acerca do impacto da violência interparental na vida da criança. Selecionou-se como base de dados a BVS, proposta e desenvolvida pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde - Bireme. A BVS se caracteriza como uma das principais iniciativas mundiais em informações científicas e técnicas e reúne publicações de diversas fontes, como Lilacs, Medline, Adolec e Ibecs, entre outros.

Para definição das palavras-chaves de busca, realizou-se uma consulta aos Descritores em Ciências da Saúde - DeCS - (OMS, 2009), que consiste em vocabulário estruturado em três idiomas, criado pela Bireme, para servir como uma linguagem única de indexação. A partir da consulta ao DeCS, foram selecionados os seguintes descritores de busca: crianças (child, niño) e conflito familiar (family conflict, conflicto familiar). A escolha desse último baseou-se na aproximação da definição do descritor do assunto que se busca levantar nessa bibliometria. Segundo o DeCS (OMS, 2009), no descritor conflito familiar, estão inscritos trabalhos sobre os conflitos emocionais e verbais entre os membros da família, tendo como sinônimos conflito interparental e conflito conjugal.

Na base de dados PsycInfo, a busca foi realizada mediante a associação dos descritores "conflito familiar" com "criança" e "domestic violence" com "child", respectivamente, em razão de nenhuma das bases utilizadas possuir como descritor "violência interparental", de acordo com os critérios também adotados para a base já mencionada e conforme denotam algumas publicações de autorias ibéricas (Pereira, 2006, 2008; Sani, 2008).

Foram selecionados artigos publicados em revistas indexadas (excluíram-se teses e outros tipos de publicações), que abrangessem o ano de publicação e o período entre 2005 e 2010. A análise deveria ser focada no impacto da violência doméstica e/ou interparental na vida da criança.

Os procedimentos de seleção e de análise envolveram: 1) a leitura flutuante dos resumos, a fim de definir aqueles que atendiam aos critérios de inclusão definidos; e 2) a leitura dos artigos selecionados, a fim de verificar os resultados obtidos.

 

Resultados

A busca a partir do cruzamento dos descritores "conflito familiar" e "criança" resultou em 211 registros publicados entre 2005 e 2010. Em relação ao ano e país de publicação, nota-se um crescimento do número de registros ao longo dos anos, sendo 2009 o de maior número de publicações. Vale destacar que a busca foi realizada no mês de junho de 2010, o que justifica o pequeno número de publicações encontradas nesse ano. A Figura 1 demonstra uma tendência de que esse número se aproxime ou supere os valores obtidos no ano de 2009.

Os periódicos que mais apresentaram publicações foram: 1) o Journal of Family Psychology, com 26 registros; 2) o Developmental Psychology (sete registros); 3) o Child Maltreatment e 4) o Journal of Pediatric Psychology (ambos com seis registros). Em relação ao tipo e número de vítimas, 73% dessas publicações apontaram a criança como principal vítima de violência doméstica e/ou interparental, um número significativo quando consideradas as características desenvolvimentais da criança, que explicitam menor repertório de comportamentos de defesa se comparadas aos adolescentes e adultos (Figura 2).

 

 

A partir da leitura flutuante dos 211 resumos, chegou-se a um número de 15 artigos que se destinavam a investigar quais as consequências da violência interparental para a criança que assiste a esse conflito. Dentre esses, um registro em 2005; 2006, dois; 2007, três; 2008, um; 2009, quatro; e 2010, três. Entre os periódicos, o Journal of Youth Adolescence e Child Abuse & Neglect - The International Journal/Elsevier, cada um com três publicações, e o Journal of Family Psychology e o Canadian Psychology/Psychologie Canadienne, ambos com dois artigos publicados. Os outros periódicos que tiveram apenas um registro foram: Developmental Psychology, Child Maltreatment, Child Abuse and Neglect, Journal of Pediatric Nursing e Journal of Child Psychology and Psychiatry. Esses dados podem ser visualizados, a seguir, na Figura 3.

Os Estados Unidos se destacaram com maior prevalência de publicações, sendo a maioria estudos com metodologias longitudinal e transversal. Menos presentes, os estudos longitudinais são aqueles nos quais "as variáveis relacionadas a um indivíduo ou grupo de indivíduos são acompanhadas por anos e com contato a intervalos regulares" (OMS, 2009), caracterizados por serem de alto custo e de difícil conclusão. Já os estudos transversais, estes mais presentes, são "estudos epidemiológicos que avaliam a relação entre doenças, agravos ou características relacionadas à saúde, e outras variáveis de interesse, a partir de dados coletados simultaneamente em uma população" (OMS, 2009).

A análise dos artigos permitiu verificar que as consequências mais frequentemente notadas nas crianças que testemunham a violência entre os pais foram: (a) sintomas depressivos/insegurança e (b) problemas relativos a ajustamento/conduta e agressividade. Podemos observar que a queda do rendimento escolar aparece apenas em 7%, o que demonstra que os aspectos psicológicos e psicossociais são mais significativos no que concerne às respostas encontradas na referida pesquisa. Esses dados são explicitados na Figura 4.

 

 

Considerações Finais

A partir da análise da presente pesquisa bibliométrica sobre crianças expostas à violência interparental, verificou-se que o testemunho do conflito interparental ocasiona sintomas fisiológicos, emocionais, comportamentais e psicológicos, além de problemas desenvolvimentais, como baixo desempenho acadêmico, dificuldades de ajustamento e comprometimento das relações interpessoais e sociais. Tais sintomas e problemas foram frequentemente relatados nos diversos estudos realizados na América do Norte e na Europa, conforme evidenciado nos artigos selecionados na busca feita na base de dados BVS.

No que concerne aos sintomas fisiológicos, emocionais e psicológicos, autores como O"Donnel, Moreau, Cardeml and Pollastri (2010), Salisbury, Henning and Holdford (2009), Harold, Aitken, and Shelton (2007) e Cui, Donnelan and Conger (2007) ressaltaram déficit de assistência às necessidades básicas infantis, depressão, stress pós-traumático, insegurança ou diminuição da autoestima. Esses autores observaram que quanto mais expostos aos conflitos interparentais e quanto mais intensa for a violência testemunhada pela criança, mais evidenciados serão os problemas. Esses aspectos remetem às recomendações de Sani (2008) quanto à necessidade de intervenção, seja ela individual ou em grupo, junto às crianças que assistem ao conflito interparental, bem como junto às famílias, tendo em vista os desdobramentos negativos de grande impacto sobre todo o desenvolvimento da criança.

Diversos outros autores e autoras, tais como Ghazarian and Buehler (2010), McDonald, Jouriles, Tart and Minze (2009), Whiteside-Mansell, Bradley, McKelvey and J. Fussel (2009), Grundy, Gondoli and Salafia (2007), salientam problemas de comportamento e ajustamento, queda no desempenho acadêmico e reprodução de comportamentos agressivos, hostis e de rejeição assistidos nos contextos familiar, acadêmico e social. Por meio desses estudos, constataram-se não somente a necessidade de algum tipo de intervenção, como também da continuidade de pesquisas e de criação e/ou aperfeiçoamento dos instrumentos existentes para tal intervenção, pois o impacto da experiência de violência para a criança ou adolescente é unânime como fator de risco em seu desenvolvimento. Os estudos também revelaram que algumas crianças não apresentam respostas negativas, uma vez tendo sido expostas ao contexto de violência por se utilizarem de ações deliberadas que foram e são aprendidas ou descartadas com objetivo de enfrentar o stress percebido.

Os dados da presente pesquisa demonstraram também que as crianças e adolescentes que assistem/testemunham o conflito/violência interparental ainda são vítimas relativamente esquecidas, ou seja, carecem de proteção oficial e dos possíveis benefícios de uma intervenção psicológica mais sistemática. Um apoio mais organizado e pertinente à demanda vigente, apoio esse proveniente dos sistemas político, social e de saúde para promoção de suporte familiar e bemestar no curso do desenvolvimento se faz necessário. Esse tipo de intervenção se apresenta como fundamental na promoção de saúde dessa população específica.

O Brasil, ao verificar alto índice de violência em diversos âmbitos, por intermédio de órgãos especializados e em conformidade com perspectivas evidenciadas nos estudos norteamericanos e europeus, tem lançado instrumentos que objetivam o apoio social e em saúde para a assistência de crianças e adolescentes vítimas indiretas e/ou diretas da violência interparental. O Ministério da Saúde observa um alto índice de violências no país, o que tem assumido um caráter endêmico. Os jovens se configuram como os mais afetados pela violência e, também, os mais envolvidos (Brasil, 2005). Isso posto, diretrizes são fundamentadas no documento "Política de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências" (Brasil, 2001), que incluem promoção de comportamentos seguros, monitoração de ocorrência de acidentes e violência, capacitações de profissionais para atuação multisetorial no contexto de violência e apoio ao desenvolvimento de pesquisas que as fundamente.

A notificação de casos de suspeita ou de confirmação de maus-tratos contra crianças e adolescentes (Brasil, 2002), de caráter compulsório a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - (Brasil, 1990), casos suspeitos ou confirmados, tem um papel importante na identificação e descrição dos casos de violência e seus tipos, tornando-se um instrumento que supre as poucas estatísticas oficiais sobre a violência doméstica no Brasil, mesmo levando em conta as dificuldades práticas referentes à identificação do fenômeno por profissionais de saúde.

Com a criação do ECA (Brasil, 1990), a criança e o adolescente passaram a ser titulares de direitos e deveres definidos. A lei assegura prioridade à criança e ao adolescente, no que diz respeito ao orçamento público, em receber socorro e atendimento médico, à vida, à saúde, à alimentação e ao desenvolvimento psicossocial num contexto de integridade física, psicológica e moral, direcionando ações de promoção dos direitos e defesa contra situações de risco.

Contudo, mesmo a existência desses instrumentos subsidiários das intervenções em violência contra a criança e o adolescente no país não faz com que as intervenções existentes sejam plenamente eficazes e eficientes, pois os recentes estudos, de modo geral, sobretudo aqueles que sustentaram a presente pesquisa, revelaram que são significativamente baixos os estudos especificamente direcionados à violência interparental assistida por crianças, o que representa mais um fator para concluir que necessitamos de referências para atuação e continuidade de pesquisas.

 

Referências

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Recebido em: 16/11/10
Aceito em: 21/07/11

 

 

1 Contato: fellipe.salgado@yahoo.com