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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.8 no.2 Juiz de fora dez. 2015

 

ARTIGOS

 

Análise fatorial confirmatória da versão Brasileira da Escala de Resiliência (ER - Brasil)

 

Confirmatory factor analysis of the Brazilian version of a Resilience Scale (ER - Brazil)

 

 

Paulo Castelar PerimI,1; Cláudia Salomé DiasII; Nuno Jose Corte-RealII; Alexsandro Luiz AndradeI; Antonio Manuel FonsecaII

IUniversidade Federal do Espirito Santo, Vitória, Brasil
IIUniversidade do Porto, Porto, Portugal

 

 


RESUMO

A criação de instrumentos psicológicos com indicadores favoráveis de validade é de extrema importância para o estudo e desenvolvimento de um determinado construto teórico, em especial quando este se trata de um fenômeno relativamente novo, como é o caso da resiliência, que é compreendida de forma geral como o processo que permite aos indivíduos sobreporem-se os riscos e tirar ganhos positivos desta experiência. O objetivo desta pesquisa foi proceder à avaliação da estrutura fatorial para contexto brasileiro da escala de resiliência de Wagnild e Young (1993). Para realização do estudo participaram 359 estudantes de ambos os sexos com idade variando de 12 a 20 anos. A partir de procedimentos de análise fatorial confirmatória verificou-se que a estrutura dimensional que possui melhores índices estatísticos ao contexto brasileiro foi a de cinco fatores: autossuficiência, sentido da vida, equanimidade, perseverança e singularidade existencial.

Palavras-chave: Resiliência, Análise Fatorial Confirmatória, Escalas psicológicas.


ABSTRACT

The development of psychological instruments with favorable validity indicators is of utmost importance for the study and development of a theoretical construct, in particular when it is a relatively new phenomenon, such as resilience, which is understood generally as the process that allows individuals to overlap their risks and obtain positive gains from this experience. The objective of this research was to evaluate the factorial structure for Brazilian context relating to the resilience scale by Wagnild and Young (1993). To conduct the study 359 students of both sexes aged 12-20 years participated. From procedures of confirmatory factor analysis it was found that the dimensional structure that has better statistical indices for the Brazilian context was that of five factors: self-sufficiency, meaning of life, fairness, perseverance and existential uniqueness.

Keywords: Resilience, Confirmatory factor analysis, Psychology scales.


 

 

A capacidade de se lidar com as dificuldades e não sucumbir a elas tem sido denominada nas ciências sociais por "Resiliência". Ainda que se trate de um conceito em construção, tomou forma e força a partir da chamada Psicologia Positiva, onde se procura dar ênfase aos aspectos positivos do desenvolvimento humano (Haggerty,1996; Rutter, 1993; Seligman & Csikszentmihalyi, 2000; Seligman, 2011).

Assim, com base na influência da Psicologia Positiva, vimos, especialmente na década de 1990, o crescimento pesquisas em campos até então pouco explorados (como bem estar subjetivo, otimismo, espiritualidade, entre outros), projetos de intervenção social e formas diferentes de pensar o homem a partir da valorização das suas potencialidades. O enfrentamento de riscos faz parte da vida de todos os humanos, podendo favorecer aquisição de recursos e habilidades sociais que permitem ao indivíduo lidar com as diferentes situações que lhe são colocadas (Seligman, 2011).

Perante uma situação de risco as pessoas tendem a assumir diferentes respostas que vão desde a negação do risco ao seu enfrentamento. Ao enfrentar o risco o sujeito pode sucumbir ou então pode suplantá-lo, assumindo desta forma um comportamento que poderia se afirmar como resiliente (Trombeta & Guzzo, 2002; Santana, Roazzi, & Sampaio,2014). Assim, a primeira condição para que possa ocorrer um comportamento resiliente reside no fato do indivíduo, ao ser exposto a um fator de risco (e ser por ele afetado) adote uma (re)ação de enfrentamento em relação a esse risco, que não seja a esquiva (pois esta pode ser considerada uma estratégia de enfrentamento mas não se coloca para a análise da resiliência, onde a primeira condição para o seu aparecimento é o enfrentamento do risco), e que, além disto possa gerar ganhos positivos a partir desta experiência. É esta atitude positiva e a qualidade desse enfrentamento que caracteriza um comportamento resiliente (Rutter, 1987; Cicchetti, 2010; Yunes & Szymanski, 2001).

Conceito tomado emprestado da Física, nas Ciências Humanas, a Resiliência consiste na capacidade do indivíduo enfrentar uma situação estressante e possível causadora de trauma sem se desestruturar, aprendendo algo de novo com a experiência e buscando mecanismos para contornar essa adversidade (Rutter, 1999; Yunes, 2006). Resiliência pode ser entendida também como a capacidade de "encontrar forças para transformar intempéries em perspectivas" (Assis, Avanci, Pesce & Deslandes, 2006).

O desenvolvimento de um determinado construto está associado às diferentes formas de estudá-lo. Em suas pesquisas, KimCohen, Moffitt e Taylor (2004) verificaram a existência de três formas específicas de coletar dados acerca da resiliência: testes projetivos, testes psicométricos e análises laboratoriais do DNA e do Genoma Humano, além das diversificadas formas de coletar dados nas pesquisas de caráter qualitativo. Sendo do ponto de vista teórico e metodológico a coleta de dados a partir de diferentes estratégias de delineamento, pois cada uma delas nos dará a possibilidade de ver o objeto sob um prisma diferente.

Nessa direção o uso de escalas psicométricas é considerado uma das estratégias adequadas para coletar dados em pesquisas com grandes números de participantes. Entretanto, como destaca Cohen e Wills (1985) existe uma dificuldade da realização de algumas pesquisas pela falta de instrumentos confiáveis para a coleta de dados, especialmente no que diz respeito aos erros que acontecem devido a falhas no processo metodológico do seu desenvolvimento, faltando em grande parte deles indicadores adequados de sua validade e precisão. A garantia da qualidade das medidas usadas em estudos científicos é fundamental para qualificação e avanço no campo da resiliência, adaptação e/ou desenvolvimento de medidas de qualidade para esse fenômeno favorecem o avanço na construção de um conhecimento mais efetivo do fenômeno (Fonseca & Fox, 2002).

No que se refere ao estudo da resiliência destaca-se, especialmente nas pesquisas de caráter predominantemente quantitativo, a utilização da Escala de Resiliência (nome original Resilence Scale - RS) criada e desenvolvida por Wagnild e Young em 1993. O estudo para o desenvolvimento da escala iniciou-se em 1987 através de uma pesquisa de caráter qualitativo, na qual foram entrevistadas 24 mulheres americanas identificadas como tendo passado por períodos de extremo stresse em suas vidas e tendo-os superado (Wagnild, 2009). Como resultado desse estudo foram identificados cinco fatores como características essenciais da Resiliência: 1) autossuficiência: a qual consiste na crença que o sujeito possui nele mesmo, confiando em suas forças e potencialidades pessoais, envolvendo também autoconhecimento de seus limites; 2) sentido de vida: relaciona-se com a percepção real do sujeito de que a vida possui um sentido, um propósito ou ainda melhor a crença de que existe um bom motivo para se viver; 3) equanimidade: expressa-se a capacidade do sujeito em encarar os variados acontecimentos de sua vida com flexibilidade, ou seja, aceitando-os como um processo pelo qual deverá passar da melhor maneira possível. As pessoas que possuem equanimidade elevada são em geral descritas também como pessoas bemhumoradas; 4) perseverança: consiste na capacidade do sujeito continuar, de seguir em frente e não cair na falta de motivação ou ser desencorajar-se pelas adversidades do dia a dia; 5) singularidade existencial: termo traduzido literalmente do inglês que designa uma "Solidão existencial", o que de fato não expressaria o que este fator pretende mensurar, ou seja, um aspecto primordial que é o sentimento de que somos únicos e que por isso algumas experiências podem e devem ser encaradas por cada um de nós, o que pode favorecer um sentimento de ser livre e único (Wagnild & Young, 1993).

A Escala de Resiliência (ER) foi inicialmente composta por 50 itens, tendo sido reduzida da versão original uma medida de 25 itens, avaliados por escalas do tipo Likert de sete pontos (discordo fortemente a concordo fortemente). Os escores desta escala reduzida variam entre 25 e 175, significando um maior ou menor grau de resiliência se o sujeito atinge um maior ou menor escore, sendo que escores até 125 representam uma baixa resiliência, entre 125 e 145 uma resiliência média e acima de 145 uma alta resiliência (Wagnild, 2009).

É curioso perceber ainda, que os próprios autores da escala de resiliência, ao procurarem determinar as propriedades psicométricas da mesma, acabaram por não adotar este modelo conceitual. Através de procedimentos fatoriais exploratórios identificaram a existência de apenas dois fatores, que designaram de "Competência pessoal" e "Aceitação de si e da vida", os quais obtiveram indicadores de consistência alfa de Cronbach superior a 0,80 (Wagnild, 2009; Wagnild & Young, 1993). Estudos com dados convergentes e divergentes apontam que escala de Wagnild e Young (1993) possui uma correlação positiva com medidas de satisfação com a vida, desenvolvimento moral, além de correlações negativas com escalas de depressão (Ospina Muñoz, 2007; Pesce, Assis, Avanci, Santos, Malaquis & Carvalhaes, 2005; Wagnild, 2009).

Atendendo a já anteriormente referida escassez de instrumentos, bem como a qualidade do seu processo de elaboração e por esta se constituir como uma escala com indicadores de validade e precisão, a escala de Wagnild e Young foi adotada por pesquisadores de outros países que naturalmente tiveram que a traduzir e adaptar as suas realidades (Aroian, Morris, Neary, Spitzer & Tran, 1997; Girtler et al, 2010; Heilemann, Lee & Kury, 2003; Lundman, et al 2007; Pesce, et al., 2005, Vara & Sani, 2006). Os estudos desenvolvidos para a adaptação transcultural para o idioma russo e para o espanhol foram desenvolvidos nos EUA com amostras de populações de imigrantes. No estudo para a adaptação da escala para o espanhol (Heilemann, Lee & Kury, 2003) utilizou-se uma amostra de 315 mulheres de ascendência mexicana e para o idioma russo (Aroian et al., 1997) a amostra constituise de 450 imigrantes recém chegados aos EUA. Os índices psicométricos encontrados nos dois estudos foram bastante satisfatórios demonstrando ser a Escala de Resiliência um instrumento fiável e os autores referendam a sua utilização para a mensuração da resiliência.

Lundman, Strandberg, Eisemann,Gustafson e Brulin (2007) adaptaram a escala de resiliência para uma realidade distinta da norte-americana, mais concretamente para a realidade sueca, tendo aplicado a versão traduzida a uma amostra constituída por 1.919 sujeitos que constituíram duas amostras distintas- uma com profissionais da saúde e outra constituída por idosos. Para determinar as propriedades psicométricas da versão sueca, estes autores recorreram à AFE a partir da qual identificaram dois fatores idênticos ao estudo de Wagnild e Young (1993). Para o contexto italiano também existe uma versão similiar da medida (Girtler e Cols., 2010), bem como Japão (Nishi, Uehara, Kondo & Matsuoka, 2010), ambas as versões com indicadores favoráveis de validade e precisão.

Os estudos para adaptação da escala para o português foram realizados em Portugal por Vara e Sani (2006) e no Brasil por Pesce et al (2005), sendo que até então não registro de instrumento na língua portuguesa específicos para se medir (quantitativamente) os níveis de resiliência. No Brasil a versão inicialmente proposta do instrumento é advinda de uma amostra de 997 alunos de escolas públicas, com idades entre 12 e 19 anos. A versão brasileira do instrumento sugeriu uma solução fatorial variante a tradicional de duas dimensões, sendo três fatores a opção adotada por Pesce et al (2005).

Talvez por sentirem alguma insatisfação com os resultados encontrados a partir da AFE, e reconhecendo algumas dificuldades, os autores sugerem que "novos estudos possam contribuir para se compreender melhor a organização interna da escala em fatores, possibilitando, também, o refinamento do instrumento e, possivelmente, sua redução" (Pesce et al., 2005, p.5). Como foi referido, apesar de no estudo original, Wagnild e Young (1993) apresentarem cinco dimensões da resiliência os estudos têm isolado dois fatores, excetuando os realizados no Brasil e em Portugal, onde foram encontrados três fatores que explicavam a maior parte da variância comum. Entretanto, não existem evidencias publicadas de que se tenha realizado em nenhum destes estudos com procedimentos fatoriais confirmatórios (AFC).

A importância da utilização da AFC para estudos de desenvolvimento de medidas psicológicas reside na possibilidade de avaliar o ajuste global dos modelos à teoria (Byrne, 2013), ou seja, no caso deste estudo verificar se o modelo teórico reflete de fato os construtos articulados por Wagnild e Young (1993) quando do desenvolvimento da escala RS, assim como verificar, no caso da existência de modelos concorrentes, qual deles se ajusta melhor a determinado contexto sociocultural (Eaves & Williams, 2006). Considerando todo o processo de desenvolvimento da escala de resiliência e assumindo a possibilidade de uma estrutura dimensional de cinco fatores para o contexto brasileiro, procedeu-se a realização desta pesquisa. Todavia decidiu-se também assim testar, concomitantemente, os modelos de duas ou três dimensões, comparando-os ao modelo originalmente proposto.

 

Método

Participantes

A amostra do presente estudo foi constituída por 359 alunos do ensino médio e fundamental oriundos de escolas públicas e privadas. Entre os participantes 159 era do sexo masculino e 197 do feminino. No que diz respeito a idade dos participantes ela variou de 12 a 20 anos com média de 15,89 anos (DP = 2,14 anos).

Instrumento

Foi aplicado um instrumento de autorelato contendo inicialmente questões para identificação demográfica dos participantes (idade, sexo, escolaridade). Na sequência era apresentada a versão adaptada ao contexto Brasileiro da medida de resiliência (ER-Brasil) de Wagnild e Young (1993) adaptada ao contexto brasileiro por Pesce et al. (2005). No total o instrumento conteve 25 itens avaliados por escalas do tipo likert de 7 pontos. Na primeira versão brasileira da medida o instrumento obteve indicadores de precisão superiores a 0,80, numa estrutura de três dimensões: Competência Pessoal e Aceitação de Si e da Vida; Independência e Determinação e; Autoconfiança e Capacidade de Adaptação.

Procedimentos

A aplicação foi conduzida pelos pesquisadores durante aulas previamente agendas com as instituições participantes, após as devidas autorizações dos responsáveis legais para aqueles participantes com idade inferior a 18 anos (envolvendo assinatura do TCLE e Termo de Assentimento). Na condução da coleta de dados primeiramente os respondentes recebiam uma explicação de como preencher o instrumento e as possíveis questões sobre o mesmo eram esclarecidas, sendo destacado o anonimato dos participantes.

Com a coleta realizada os dados foram tabulados e analisados por meio dos softwares estatístico SPSS (versão 17.0), e LISREL (versão 8.5). Inicialmente foram feitos cálculos e análise da distribuição de frequência com a finalidade de verificar a adequação dos dados para os procedimentos subsequentes, por final foi realizado procedimentos fatorias confirmatórios a partir de 3 modelos: a) modelo de dois fatores (original de Wagnild e Young, 1993); b) modelo de três fatores (na adaptação transcultural para o Brasil e Portugal) e ; 3) modelo da estrutura original de cinco fatores (Wagnild & Young, 1993).

Foram analisados os seguintes índices, de acordo com as sugestões de Byrne (2013): (1) χ2 (quiquadrado): indicador que avalia a probabilidade do modelo selecionado em se ajustar ao dados da matriz; (2) χ²/gl indicador de ajustamento, recomendando-se valores inferiores a 2, admitindo-se até 5. (3) CFI (Comparative Fit Index ou índice de ajuste comparativo): é um indicador comparativo referente ao ajuste dos modelos, seus valores variando de 0 a 1; quanto mais próximos de 1, melhor ajuste, sendo os valores superiores a 0,90 adotados para aceitação do modelo, embora um bom ajuste seja obtido com níveis superiores a 0,95. (4) RMSEA (Root Mean Square Error of Aproximation ou raiz quadrada média do erro de aproximação): é um indicador de resíduos, sendo recomendados valores inferiores a 0,06, mas aceitos valores até 0,08. Este índice é mais indicado para estratégias confirmatórias de grandes amostras. (5) GFI (Goodness-of-fit Index ou índice de qualidade do ajuste) e AGFI (Adjusted Goodness-of-fit Index): são indicadores do ajuste ponderado, relacionando-se com proporção de variânciacovariância nos dados explicada pelo modelo, com valores variando de 0 a 1. O valor de parâmetro para aceitação deste é superior a 0,90, sendo considerado um bom ajuste para valores superiores a 0,95.

Resultados e discussão

Procurando verificar a estabilidade da estrutura dimensional da medida de resiliência para o contexto brasileiro, bem como verificar qual organização de fatores melhor representa o construto ao contexto da amostra do estudo procedeuse três procedimentos de análise fatorial confirmatória.

O primeiro modelo nomeado de ER2 (ver Figura 1) foi baseado no modelo original (Wagnild & Young, 1993) constituído por dois fatores a saber: Competência Pessoal (itens 01, 02, 03, 04, 05, 06, 09, 10, 13, 14, 15, 17, 18, 19, 20, 23 e 24) e Aceitação de Si e da Vida (07, 08, 11, 12, 16, 21, 22 e 25).

 

 

O modelo 2, chamado ER3 (ver Figura 2), baseou-se na versão encontrada nos estudos realizados para a adaptação transcultural para a língua portuguesa (Portugal e Brasil), constituído por três fatores, identificados por Pesce et al. (2005) a saber: Competência Pessoal e Aceitação de Si e da Vida (itens 01, 02, 06, 07, 08, 10, 11, 12, 14, 16, 18, 19, 21, 23 e 24); Independência e Determinação (itens 04, 05, 15 e 25) e Autoconfiança e Capacidade de Adaptação (itens 03, 09, 13, 17, 20 e 22).

 

 

O modelo 3, nomeado ER5 (ver Figura 3) baseou-se na prosição original de cinco fatores (Wagnild & Young, 1993), a saber: Autossuficiência (itens 02, 09, 13, 18 e 23); Sentido da Vida (itens 04, 06, 11, 15 e 21); Equanimidade (itens 07, 12, 16, 19 e 22); Perseverança (itens 01, 10, 14, 20 e 24) e singularidade Existencial (itens 03, 05, 08, 17 e 25).

 

 

Considerando a dependência do teste do QuiQuadrado frente à dimensão do tamanho da amostra, é frequente que os investigadores considerem o o índice de razão entre o χ1 e os graus de liberdade como um indicador de melhor ajustamento dos modelos (Marsh & Balla, 1994). Embora não exista consenso no que diz respeito aos valores que corresponderiam a um bom ajustamento do modelo Joreskog (1967) sugeriu que valores inferiores a 3 refletem uma correspondência aceitável do modelo. Neste sentido, embora todos os modelos considerados cumprirem este critério o que revelou superioridade de ajuste foi o modelo de cinco fatores.

Outros indicadores de ajuste foram adotados (GFI, AGFI, CFI), observando-se o critério dos mesmos situarem-se iguais ou superiores a 0.90 indicando que o modelo se ajusta de forma aceitável à matriz de covariância inspecionada (Byrne, 2013; Hair, 1999; Kline, 2005). Assim, como se pode observar na Tabela 1, nos modelos aqui investigados encontrámos um melhor índice de GFI, AGFI e CFI no modelo de cinco fatores (0.93), enquanto os outros foram identificados como índices menos aceitáveis com escores abaixo de 0.90 (0.88 e 0.87).

Para além disso, os valores que dizem respeito à RMSEA e a RMRst convergem também no sentido de se poder afirmar a maior qualidade do modelo de cinco fatores. Sabendo-se que valores que chegam até 0.08 representam erros razoáveis de aproximação e que se devem rejeitar apenas valores que se situam num patamar superior a 0.10 (Byrne, 2013), verificámos que nos nossos modelos todos se adequam de fato, mas ainda aqui o modelo que utiliza cinco fatores demonstrou maior ajustamento dos dados examinados.

Por fim, quanto ao indicador de precisão a partir do Alfa de Cronbach, observou-se conforme tabela 2 consistência interna dos vários modelos:

Como se pode ver, os resultados do modelo de cinco fatores embora no fator 5 tenha sido ligeiramente abaixo de 0.60, de uma forma geral todos eles revelam a existência de uma aceitável consistência (Nunnaly, 1978).

Assim, os resultados encontrados no seu conjunto, sublinham a superioridade do modelo original de cinco fatores para amostra brasileira deste estudo. Os dados parecem destacar a importância de nortearmos futuros estudos (neste caso, da verificação da melhor estrutura fatorial para esta escala) por indicações e estruturas teóricas previamente elaboradas e discutidas, ainda que isso não signifique necessariamente que essas sugestões ou indicações devam ser consideradas como estáticas ou imutáveis. Observa-se ainda que mais de um modelo pode se ajustar a um conjunto de dados, de forma aceitável, significando que o modelo por nós sugerido como mais ajustado, permite considerar outras variações dimensionais do construto resiliência avaliado pela escala ER - Brasil.

Se uma determinada escala pode medir um conjunto maior de fatores que expressam os diferentes significados de um determinado construto social, como no nosso caso a resiliência, nos parece importante afirmar a sua utilização com modelos mais amplos em detrimento de modelos que mensuram um número reduzido de fatores. Assim, se a escala de resiliência proposta por Wagnild e Young (1993) é a mais utilizada em todo mundo, pensamos que é importante perceber e incorporar a sua capacidade para mensurar as 5 dimensões propostas original pelos próprios autores quando de sua criação.

O estudo da Resiliência tem avançado e muitas pesquisas tem sido desenvolvidas em todo o mundo sendo que, muitos autores (Cicchetti, 2010; Assis et al., 2006; entre outros) defendem que a resiliência não se refere a um conjunto de características pessoais de determinadas pessoas, mas sim um processo que envolve um conjunto de comportamentos que podem ser denominados como resilientes (Panter-Brick, & Leckman, 2013). Assim, o próprio conceito vem sofrendo modificações e aspectos que eram anteriormente considerado como atributos individuais de determinados sujeitos, passou a ser entendido sobre uma concepção contextual, ou seja, a resiliência passou a ser muito mais definida como um conjunto de comportamentos que se caracterizam pelo enfrentamento de uma determinada situação/risco, de onde os sujeitos retiram ganhos positivos para o seu desenvolvimento e não somente como características pessoais.

 

Considerações Finais

Existem alguns aspectos que devem continuar a merecer atenção dos pesquisadores da área especialmente para que outras pesquisas possam ser realizadas tendo como base a AFC da Escala de Resiliência de Wagnild e Young (1993) utilizando outras amostras (considerando inclusive que a amostra deste estudo se constituiu de estudantes do ensino médio e fundamental de escolas públicas e privadas), com outros sujeitos, com faixas etárias diferentes, tendo em conta as variáveis como sexo e idade e/ou ainda outro tipo de variáveis como os níveis socioeconômicos a fim de verificar como se comporta o modelo proposto pelos autores e reafirmado neste estudo.

 

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Recebido em: 09/02/2015
Aceito em: 21/10/2015

 

 

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