SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.10 número2The role of supervision in behaviour therapy in promoting social skills in psychology traineesMusicoterapia como estratégia de intervenção psicológica com crianças: uma revisão da literatura índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.10 no.2 Belo Horizonte dez. 2017

 

 ARTIGO

 

Violência conjugal e suas relações com autoestima, personalidade e satisfação com a vida

Domestic violence and its relationship with self-esteem, personality and life satisfaction

Tamyres Tomaz Paiva1, Carlos Eduardo Pimentel2, Giovanna Barroca de Moura3

1 Universidade Federal da Paraíba; tamyres.tomaz@hotmail.com

2 Universidade Federal da Paraíba; Carlosepimentel@bol.com.br

3 Universidade Estadual do Vale do Acaraú; giovannabarroca@gmail.com

 

RESUMO

A violência conjugal é algo histãrico que significa ação executada sem cuidado ou uso de força excessiva a fim de causar danos ao parceiro. Objetivou-se, por meio da correlação e regressão, verificar a relação das formas de legitimações da violência conjugal com a autoestima, satisfação com a vida e personalidade. Participaram 305 respondentes da população geral, a maioria do sexo feminino (63%), com idades entre 18 e 62 anos (M = 28,45, DP = 10,65), residentes da Paraíba (88,9%). Foram usadas a Escala de Crenças de Violência Conjugal, a Escala de Autoestima de Rosenberg, Inventário de Personalidade de Dez Itens e a Escala de Satisfação com a Vida, analisados no IBM SPSS Statistics 21. Os resultados indicaram a correlação negativa entre os fatores legitimação da violência e autoestima, assim como também com os fatores de personalidade. E, por fim, a regressão indicou que os fatores pessoais predizem as crenças de legitimação da violência conjugal.

Palavras-chave: Violência Conjugal; Autoestima; Personalidade; Satisfação com a Vida.

 


ABSTRACT

Conjugal violence is something historic that means action taken without care or use of excessive force to cause damage to the partner. The objective is through correlation and regression, verify the relation of forms of legitimation of violence, with self-esteem, life satisfaction and personality. 305 respondents participated in the general population, mostly female (63%) aged between 18 and 62 years (M = 28.45, SD = 10.65), residents of Paraíba (88.9%). We used Beliefs in Couple Violence Scale, Rosenberg Self-Esteem Scale, Ten Item Personality Inventory and Life Satisfaction Scale, analyzed in IBM SPSS Statistics 21. The results indicated a negative correlation between the factors legitimizing violence and self-esteem, as well as with personality factors. And finally, the regression indicated that personal factors predict the beliefs of legitimizing conjugal violence.

Keywords: Conjugal Violence; Self-Esteem;Personality; Life Satisfaction.

 

 

Introdução

No Brasil, apesar da luta dos movimentos feministas contra as diversas formas de violência contra a mulher (Grossi, 1994), apenas em 2006 uma lei de cunho protetivo em defesa das mulheres entrou em vigor. De caráter familiar e conjugal, a Lei 11.340, conhecida popularmente como Lei Maria da Penha, tornou-se um fenômeno social em diversos estados brasileiros (Cunha & Pinto, 2014).

A violência entra nos lares de maneira cultural e sutil, entrelaçando as emoções dos indivíduos e as relações afetivas, desde uma simples palavra, que machuca o psíquico, até consequências mais graves, como a morte (Day et al. 2003; Félix, 2012; Heru, 2007). Nessa direção, a Organização Mundial de Saúde ressaltou que a violência é um fenômeno social presente em qualquer sociedade, desde as mais primitivas até as mais complexas (Krug, Mercy, Dahlberg & Zwi, 2002).

O Modelo Geral da Agressão (General Aggression Model, GAM) definiu a violência como um subconjunto de comportamentos agressivos que se destinam a causar danos extremos, de forma suficiente para exigir atenção médica, terapêtica e até causar a morte (Anderson & Bushman, 2002; Warburton & Anderson, 2015). A intenção de infligir violência surge de um motivo para atingir status ou recursos e vontade de atingir os objetivos de forma ilegítima (Hamby, 2017).

Sendo assim, a violência conjugal, também chamada de violência entre parceiro íntimo (VPI) (Warburton & Anderson, 2015; WHO, 2010), se refere ao uso da força física ou coercitiva que constitua desrespeito à  integridade física, mental e moral de uma pessoa ligada ao seu agressor por meio do vínculo de matrimônio ou laço íntimo amoroso (Cunha & Pinto, 2014, Jonhson, 2005; Heru, 2007). Nesse sentido, a violência doméstica tem o mesmo significado, sendo que mais abrangente por considerar não apenas o parceiro íntimo como agressor, mas toda constituição familiar (irmão, pai, avã, tio, entre outros) (Cunha & Pinto, 2014).

A violência conjugal é classificada, de acordo com o GAM (Warburton & Anderson, 2015) e a WHO (2010), em: a) violência física como todo contato físico indesejado que possa causar algum dano (p.ex., empurrões, bater, puxar o cabelo, queimaduras); b) violência sexual referindo-se a qualquer forma de coerção sexual (p.ex., tirar fotografias reveladoras ou relações sexuais sem consentimento); c) abuso psicológico, representando as ameaças e formas de prejudicar a vítima, com intimidação, insultos e humilhações; e d) abuso social, também conhecido como comportamentos controladores, em que ocorre a restrição de acesso a alimentação, abrigos, recursos financeiros, amigos, familiares, emprego e educação.

Nos estados brasileiros, 1.583 mulheres foram mortas por seus companheiros (Waiselfisz, 2015) e a central de atendimento à  mulher, ou "ligue 180", já registrou 4.488.644 atendimentos, em 2015. Desse total, 51,16% eram casos de violência física; 4,06% de violência sexual; 30,92% de violência psicológica; 10,8% de violência moral e patrimonial. Na maioria dos casos de reincidência de violência, foi identificada a recorrência maior com pessoas do sexo feminino, 49, 2%, enquanto com o sexo masculinho chega a ser menor que 30% dos casos de reincidência (Waiselfisz, 2015).

Considerando alguns dados apresentados, percebe-se a importância de estudos e ações que visam a conhecer os preditores da violência e propor estratégias para combatú-las. Com isso, buscou-se compreender em que medida as crenças de legitimação da violência conjugal estão correlacionadas com as variáveis da autoestima, da satisfação com a vida e da personalidade.

 

 

Crenças e violência conjugal

Para o GAM, a violência conjugal considera vários fatores pessoais (traços, gênero, crenças, atitudes, valores, objetivos e scripts) e situacionais (frustração, provocação, drogas, dor e desconforto) que irão ativar as trajetãrias internas, ou rotas (afeto, cognição, excitação), formando gatilhos para o comportamento agressivo (Anderson & Bushman, 2002).

Logo, os conjuntos de crenças são fator importante para se entender a violência conjugal (Anderson & Bushman, 2002; Warburton & Anderson, 2015). Ou seja, é pela interação com as pessoas e com a situação que as crenças se formam, constituindo uma referência para si (Rokeach, 1981; Mendes & Claúdio, 2010). Segundo os estudos de Warburton e Anderson (2015), na maioria dos casos, a fonte de disseminação de tais crenças é a prãpria família.

As crenças fortalecidas por uma população violenta podem levar o indivíduo a comportamentos violentos e agressivos (Anderson & Bushman, 2002; Warburton & Anderson, 2015). Nesse sentido, as crenças fundadas nos papéis de gênero, no conservadorismo sexual e na tolerância e aceitação da violência interpessoal fazem com que mulheres cedam à s pressões dos seus companheiros, devido à  concepção subordinada (Caridade & Machado, 2006; Félix, 2012; Nascimento, 2015; Worden & Carlson, 2005).

Essas crenças também contribuem para legitimar a violência, aceitando que o comportamento da vítima foi a causa da agressão, ou seja, culpa-se a prãpria vítima por descumprimento dos deveres (Félix, 2012; Warburton & Anderson, 2015). Como exemplo para ações embasadas nessa crença, o comportamento adúltero pode ser utilizado como justificativa para reações violentas (Caridade & Machado, 2006; Félix, 2012).

No entanto, essas crenças podem ser sexistas, já que várias pesquisas (Anderson & Bushman, 2002; Caridade & Machado, 2006; Day, et al. 2003; Félix, 2012; Worden & Carlson, 2005) mostram que o sexo feminino possui maior probabilidade de ser a vítima. Além disso, quanto mais idade a mulher possuir, mais vulnerável se torna e, consequentemente, tem níveis mais elevados de medo da violência (Pimentel, Gunther & Black, 2012). Enquanto o sexo masculino apresenta maior concordância e predisposição ao uso da violência, sendo também agente violentador, com consequências mais graves (Anderson & Bushman, 2002; Day et al,. 2003; Félix, 2012; Waiselfisz, 2015; Warburton & Anderson , 2015; Worden & Carlson, 2005).

Caridade e Machado (2006) túm outra visão em seus estudos, afirmando que as trocas mútuas de violência entre homens e mulheres tornam a violência banalizada. Até mesmo quando a intimidação do parceiro, mostrada por meio do ciúme, representa uma demonstração de cuidado e amor, tal fato também contribui para a banalização que inocenta o agente agressor, aceitando que ele não teve a intenção de causar danos graves (Caridade & Machado, 2006; Félix, 2012).

As causas externas e fora do controle emocional, como o desemprego, o consumo de álcool e outras drogas, também podem desencadear atos violentos pela sua ação desinibidora (uso de substâncias) (Caridade & Machado, 2006; Day et al, 2003; Félix, 2012; Hamberger & Hastings, 1986). O uso dessas substâncias facilita a agressão (por exemplo, provocação, frustração, sinais agressivos) (Warburton & Anderson, 2015) de tal modo que a violência passa a ser justificável para a sociedade, atribuindo a culpa nos estímulos externos (Félix, 2012; Hamberger & Hastings, 1986).

Além disso, vários pesquisadores (Caridade & Machado, 2006; Lynch & Graham-Bermann, 2000; Warburton & Anderson, 2015) destacam que a autoestima também contribui para uma predisposição para agredir, assim como se submeter a um relacionamento abusivo. Warburton e Anderson (2015) destacam que parceiras de homens agressivos túm menor autoestima. Essa submissão ao parceiro agressor tem contribuído para a deterioração da qualidade de vida (Vianna, Bomfim & Chicone, 2006).

 

 

Autoestima e violência conjugal

A avaliação pessoal das vítimas de violência tem maior inclinação a uma autopercepção desvalorizada, falta de esperança e sentimento de impotência, fazendo com que elas se posicionem como pessoas sem poder e direitos, além de apresentar problemas no desenvolvimento da intimidade e sexualidade (Caridade & Machado, 2006; Félix, 2012; Lynch & Graham-Bermann, 2000).

Baumeister, Boden e Smart (1996) e Egan (2009) ressaltam que os estudos mais tradicionais, nas ciências sociais e psicológicas, em relação à  autoestima direcionam a baixa autoestima e sentimentos de inadequação ou frustação como características proeminentes da maioria dos agressores. Ou seja, a autoestima apresenta caráter dual, que é aversivo para todos os indivíduos, pois contribui significativamente na violência (Baumeister et al., 1996).

A autoestima está ligada à  integralidade de sentimentos e pensamentos do indivíduo, tendo como referencial a imagem de si prãprio como objeto de análise positiva ou negativa (Hutz & Zanon, 2011; Sbicigo, Bandeira & Dell àglio, 2010). Pode ser definida, também, como uma atitude reflexiva de como se sente e como se é visto, em comparação com a avaliação pessoal (Lynch & Graham-Bermann, 2000).

A autoestima tem conotações positivas, mas, quando se é muito elevada, também pode contribuir para a violência, já que assume conotações de orgulho, egoísmo, arrogância, honra, presunção, senso de superioridade e narcisismo (Baumeister et al., 1996). Essas características são mais acentuadas em agressores, principalmente nos indivíduos com a autoestima inflada ou instável, pois esses usam especificamente da violência para manutenção de um relacionamento abusivo (Anderson & Bushman, 2002).

Pode-se notar que algumas dessas características estão diretamente ligadas à  personalidade, pois em alguns casos ela pode ser mais acentuada na vítima, em outros, ela é mais evidente no agressor (Pinto, Varela & Vinhal, 2012). Nesse sentido, a personalidade também é fator preditor para comportamentos agressivos e, consequentemente, para a violência (Barllet & Anderson, 2012; Egan, 2009).

 

 

Personalidade e violência conjugal

Os traços de personalidade podem influenciar por meio de seus impactos nas emoções e cognição (Barllet & Anderson, 2012). Associada a outros estímulos (por exemplo, situacionais, crenças, atitudes, sexo, gênero, predisposições genéticas), a personalidade colabora para as condutas agressivas (Gleason, Jensen-Campbell & Richardson,2004; Warburton & Anderson, 2015).

Estudos realizados por Hamberger e Hastings (1986) e, recentemente, outros pesquisadores (Madalena, Falcke & Carvalho, 2015; Warburton & Anderson, 2015) indicaram que a violência conjugal está mais presente em alguns transtornos de personalidade. Egan (2009) retrata que, dependendo do transtorno, a personalidade pode ter um traço mais acentuado do que outro, por exemplo, indivíduos do grupo B (de acordo com o DSM-V) túm características mais elevadas no fator de neuroticismo ou extroversão e níveis mais baixos em conscienciosidade e agradabilidade.

A personalidade antissocial ou psicãtica apresenta elevado grau de agressividade interpessoal e também maiores níveis de neuroticismo, irritabilidade e propensão à  raiva, além de ser instável e sem controle dos impulsos (Anderson & Bushman, 2002; Hamberger & Hastings, 1986; Madalena et al., 2015). Essas condutas antissociais estão mais presentes no sexo masculino (Anderson & Bushman, 2002; Félix, 2012). O fator da estabilidade emocional, presente nesses aspectos, é caracterizado pelo equilíbrio das emoções oscilando entre dois polos: indivíduos calmos ou ansiosos, chateando-se facilmente (Pimentel et al., 2014).

Por outro lado, o transtorno de personalidade dependente possui baixos níveis de propensão à  raiva, isso porque existe o comportamento submisso do parceiro na relação conjugal. O indivíduo dependente possui a necessidade de outras pessoas para tomar as decisões, no caso, precisa de alguém para lhe orientar, já que tem a crença de que não consegue aprender e nem desenvolver determinadas habilidades sem depender de outra pessoa (Anderson & Bushman, 2002; Hamberger & Hastings, 1986; Madalena et al., 2015).

Esse tipo de personalidade dependente acomete mais as vítimas de violência, na qual há também maior predominância de conscienciosidade (Pinto, Varela & Vinhal, 2012). Isso implica que os indivíduos com maior conscienciosidade apresentam características de autodisciplinamento, com mais concentração para atingir os objetivos, ou podem expressar, no polo oposto, desorganização em seus objetivos (Pimentel et al., 2014).

A agradabilidade, por sua vez, é fator inibidor para agressão, pois os indivíduos mais agradáveis são menos propensos a agredir seus pares (Gleason, Jensen-Campbell & Richardson, 2004). Esse fator tanto se refere ao acolhimento do outro quanto (no polo oposto) à  repulsa do parceiro, apresentando-se mais briguento e crítico (Pimentel et al., 2014).

No entanto, a agradabilidade não é o ênico fator presente nas relações de violência. A extroversão, caracterizada pela sociabilidade com os outros e podendo variar e ter aspectos extrovertidos ou (no polo oposto) reservados (Pimentel et al., 2014), também é um fator presente nas relações de violência, em que se relaciona tanto de forma positiva quanto negativa (Barlett & Anderson, 2012), o que torna difícil diferenciar em qual dos polos a agressão poderá ser engatilhada. Ademais, a abertura a experiências guarda relação direta com a agressão física (Barllet & Anderson, 2012), já que diz respeito tanto a flexibilidades de pensamentos abertos a novas experiências quanto (no polo oposto) à  tradição, algo já definido (Pimentel et al., 2014). Essas características aparecem como último traço em vítimas de violência, tendo em vista que quanto mais o indivíduo estiver tendendo ao polo tradicional, mais difícil será ele sair de uma relação abusiva (Pinto, Varela & Vinhal, 2012). Isso se torna um ciclo vicioso, no qual não se quebra a aliança conjugal para sair da relação abusiva e, também, não se está satisfeito com a continuação dessa relação (Day et al., 2003). Segundo Félix (2012), as vítimas apresentam baixa qualidade de vida e redução do bem-estar, além de apresentarem desmotivação para a mudança. Ou seja, a personalidade também é um fator relacionado com o bem-estar do indivíduo, em que quanto mais se avalia os eventos de forma positiva, maior a satisfação com a vida (Woyciekoski, Natividade & Hutz, 2014).

 

 

Satisfação com a vida e a violência conjugal

Esse julgamento da satisfação com a vida dependerá dos diferentes domínios específicos da vida do indivíduo, levando em consideração interesses e valores (Gouveia, Barbosa, Andrade & Carneiro, 2005). O processo de avaliação dos componentes cognitivos baseia-se em um conjunto de critérios próprios que busca entender a satisfação a partir da situação experienciada (Diener, Emmons, Larsen & Griffin, 1985).

É durante essa fase de avaliação que uma resposta imediata é produzida, ativando um gatilho situacional baseado na influência das cognições e sentimentos (Warbuton & Anderson, 2015). Após toda essa avaliação cognitiva da situação, as vítimas de violência conjugal que tentam sair do meio enfrentam muitos desafios diante dos recursos limitados e das condições estruturais e psicológicas (Ham-Rowbottom, Gordon, Jarvis & Novaco, 2005). Entretanto, quando as vítimas conseguem abandonar a relação conjugal, entram em um processo de quebra familiar, culpa, racionalização da situação e, nesste período, é comum muitas vezes o abandono e o retorno ao relacionamento, até um dia quebrar esse vínculo emocional (Day et al., 2003; Worden & Carlson, 2005; Felix, 2012). É nesse período que os indivíduos pautam seus interesses na busca pela autonomia (Ham-Rowbottom et al., 2005).

As vítimas, quando afastadas do parceiro agressor, conseguem estar satisfeitas com trabalho, saúde ou família, potencializando o bem-estar psicológico e a autonomia (Ham-Rowbottom et al., 2005). Esse bem-estar subjetivo é constituído de afetos positivos (prazer), negativos (desprazer) e também emocionais, representados pelos julgamentos cognitivos (são os aspectos racionais ou intelectuais da satisfação com a vida) (Gouveia et al., 2005).

 

 

Método

Participantes

A amostra foi composta por 305 participantes da população geral, sendo a maioria do sexo feminino (63%), com idades entre 18 a 62 anos (M =28,45, DP =10,65), residentes na Paraíba (88,9%), concentrando-se na cidade de João Pessoa (64,6%), que se autodeclararam brancos (44,9%), solteiros (72,8%), heterossexuais (86,6%), com ensino superior incompleto (58,4%) e renda entre 1 e 3 salários mínimos (38%). A maioria afirma estar em um relacionamento amoroso (68,89%), não sendo vítimas de violência (88,8%), sem histãrico familiar de violência conjugal (50,5%) e sem quaisquer denências de violência conjugal dos companheiros(as) (97%).

 

 

Instrumento

A Escala de Crenças de Violência Conjugal (ECVC), validada por Félix (2012), composta por 15 itens e 3 fatores, descritos: Legitimação e Banalização da Pequena Violência (α = 0,86) (por exemplo: "Dar uma bofetada a/ao parceiro quando se está aborrecido ou irritado é normal, é uma coisa sem gravidade"); Legitimação da Violência por Descumprimento dos Deveres/Expectativas do(a) Parceiro(a) (α = 0,79) (por exemplo: "O problema dos maus-tratos dentro do casamento afeta uma pequena porcentagem da população") e Legitimação da Violência pela sua Atribuição a Causas Externas (α = 0,68) (por exemplo: "Os maus-tratos ocorrem apenas em famílias de baixo nível educacional e econômico"). Variando numa escala de 1 = Discordo Totalmente a 5 = Concordo Totalmente.

A Escala de Autoestima de Rosenberg (1965), validada no Brasil por Hutz e Zanon (2011), constituída por 10 itens, unifatorial (α = 0,64) (por exemplo: "Sinto que sou uma pessoa de valor como as outras pessoas" ou "Sou capaz de fazer tudo tão bem como as outras pessoas"). Esta varia numa escala de 1 = Discordo Totalmente a 7 = Concordo Totalmente.

Inventário de Personalidade de Dez Itens (TIPI), desenvolvido por Gosling, Rentfrow e Swann (2003), utilizou-se a versão em portuguús do Brasil de Pimentel et al. (2014), apresentando uma precisão teste-reteste variando de 0,62 a 0,77 (Gosling et al, 2003). É composta por 10 itens equitativamente distribuídos em 5 fatores de personalidade: Extroversão (extrovertido, entusiasta); Agradabilidade (crítico, briguento); Consciensiosidade (confiável, autodisciplinado); Estabilidade emocional (ansioso, que se chateia facilmente); Abertura a experiências (aberto a novas experiências, complexo). Esta medida varia numa escala de 1 = Discordo Fortemente a 7 = Concordo Fortemente.

A Escala de Satisfação com a Vida (ESV), elaborada por Diener, Emmons, Larsen e Griffin (1985) e validada no Brasil por Gouveia et al. (2005), composta por 5 itens, unifatorial (α = 0,89) (por exemplo: "As condições da minha vida são excelentes" ou "Estou satisfeito com minha vida"). Esta varia numa escala de 1 = Discordo Fortemente a 7 = Concordo Fortemente.

Por meio do Questionário sociodemográfico, buscou-se caracterizar a amostra do estudo, incluindo perguntas como: idade, estado civil, cor, orientação sexual, escolaridade e renda. Ademais, buscou-se conhecer a atual situação no relacionamento amoroso ou conjugal, por meio de perguntas como: Já foi vítima de violência no relacionamento amoroso que vocú está vivendo?

 

 

Procedimento

Inicialmente, apresentou-se o projeto ao Comitú de Ética da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Com a emissão do parecer favorável (n° CAAE 46749115.4.0000.5188), prosseguiu-se com a aplicação do instrumento de pesquisa na população geral, de forma presencial, em ambientes coletivos e on-line, por meio das redes sociais. A participação foi iniciada Após a concordância com TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido). A coleta foi realizada por pesquisadores devidamente treinados. Os respondentes foram informados de que a pesquisa era de caráter voluntário, que não receberiam nenhum retorno financeiro pela sua participação e que foram tomados todos os cuidados para garantir o sigilo e a confidencialidade das informações individuais, preservando a identidade dos respondentes, seguindo as recomendações da Resolução 510/16 do Conselho Nacional de Saúde. Ficou esclarecido aos participantes que a pesquisa não envolveria nenhum risco à  sua saúde e integridade biopsíquica, moral e espiritual.

 

 

Análise dos dados

Para a tabulação e a análise dos dados foi utilizado o IBM SPSS Statistics 21. Verificou-se a frequência das questões demográficas para definir os grupos que participaram da pesquisa, juntamente com a média e o desvio padrão das respostas. Computou-se a consistência interna estimada a partir do coeficiente alfa separadamente para cada fator das escalas referidas. Além disso, realizou-se também a análise de correlação de Pearson, além da análise de regressão entre os fatores da violência conjugal com a autoestima, satisfação com a vida e os fatores da personalidade.

 

 

Resultados

Inicialmente, fez-se a frequência das médias dos fatores verificação do nível da concordância e discordância dos fatores estudados. Observar Tabela 1.

 

 

As médias dos fatores das crenças de legitimação da violência de banalizações, descumprimento com os deveres e causas externas demonstraram discordância quanto à  aceitabilidade. O fator de legitimação e banalização da pequena violência apresentou o maior grau de discordância, com média =1,60 e desvio padrão = 0,83. A legitimação da violência por descumprimento dos deveres/expectativas do(a) parceiro(a) apresentou média =1,78 e desvio padrão = 0,81. No caso da legitimação da violência por causas externas, foi obtida a média de 1,98 e desvio padrão de 0,89. Ademais, os outros fatores (personalidade, satisfação com a vida e autoestima) mostraram uma concordância de acordo com as médias expostas na Tabela 3.

 

 

Em seguida, foi verificada a correlação (unicaudal) entre os fatores de crenças de legitimação da violência conjugal com a autoestima, satisfação com a vida e com os fatores de personalidade, com toda a amostra, visando a conhecer as relações entre esses construtos, descritos na Tabela 2.

 

 

Identificou-se que a autoestima foi correlacionada negativamente com todos os fatores das crenças de legitimação da violência. Também foi verificado que a legitimação e banalização da pequena violência, a legitimação da violência por descumprimento dos deveres/expectativas do(a) parceiro(a) e a legitimação da violência pela sua atribuição a causas externas obtiveram, consequentemente (r = -0,12; p < 0,05), (r = -0,13; p < 0,01) e (r = -0,16; p < 0,01), magnitudes fracas, porém estatisticamente significativas. Isso significa dizer que quanto mais se aumenta a autoestima, menor é a concordância com os fatores de crença de legitimação da violência.

Nesse sentido, também foi encontrado que os fatores das crenças de legitimação da violência foram negativamente correlacionados com os fatores de personalidade. Especificamente, identificou-se que o fator legitimação e banalização da pequena violência relacionou-se com a estabilidade emocional (r = -0,14; p < 0,01), a abertura a experiências (r = -0,16; p < 0,01) e a agradabilidade (r = -0,09; p < 0,05). Quanto mais se aceita que a violência é algo "natural" e de trocas mútuas entre os casais, menos se tem pessoas com traços mais acentuados nos polos de estáveis emocionalmente, flexíveis e agradáveis, respectivamente.

Além disso, foi verificado que abertura a experiências também se correlacionou com a legitimação da violência pela sua atribuição a causas externas (r = -0,10; p < 0,05). Neste fator, verificam-se pessoas com flexibilidades de pensamentos com menor tendência a aceitar que a violência seja causada pelos estímulos externos. No entanto, os fatores das crenças de legitimação da violência não foram correlacionados com a satisfação com a vida, ou seja, não apresentaram estatisticamente critérios de significância (p > 0,05).

Em seguida, buscou-se averiguar a existência de correlações (unicaudais) entre os fatores das crenças de legitimação da violência com autoestima, satisfação com a vida e com os fatores de personalidade, utilizando apenas a amostra específica de pessoas que sofreram violência conjugal. Ver Tabela 3.

 

 

Nas correlações, verificou-se que a autoestima foi correlacionada negativamente com o fator de legitimação e banalização da pequena violência (r = - 0,37) e legitimação da violência por descumprimento dos deveres/expectativas do(a) parceiro(a) (r = - 0,34), todos a nível de p < 0,05. Nesta correlação, percebe-se a autoestima da população específica (grupos de vítimas) como um fator de magnitude moderada em comparação com a população geral, que obteve magnitude fraca.

Esse resultado demonstrou em grupos de vítimas que a autoestima baixa é um fator muito mais presente para a desculpabilização do agressor. Com isso, a violência se torna algo sem importância para a o indivíduo que é agredido e ainda culpabiliza a vítima por sofrer e ser violentada constantemente, no seu relacionamento amoroso. No entanto, os fatores das crenças de legitimação da violência continuam sem se correlacionar significativamente com a satisfação com a vida, como foi visto na Tabela 2.

Nesses achados, alguns fatores da personalidade continuaram tendo relação com as crenças de legitimação da violência. Sendo assim, foi observado que o fator abertura a experiências tanto se correlaciona negativamente com a legitimação e banalização da pequena violência (r = -0,46; p < 0,01) quanto com a legitimação da violência por descumprimento dos deveres/expectativas do(a) parceiro(a) (r = - 0,34; p < 0,05). Na Tabela 2, percebe-se também que obtiveram magnitudes mais fracas em comparação ao grupo de vítimas, demonstrando que a personalidade é tão importante quanto autoestima descrita anteriormente. Observa-se que as crenças, regentes da violência banalizada e descumprida de deveres e expectativas do outro (agressor), é aceitável em pessoas com traços inflexíveis e tradicionais.

O fator conscienciosidade foi correlacionado positivamente com o fator legitimação da violência por causas externas (r = 0,33; p < 0,05). Ou seja, pessoas mais cuidadosas, com necessidades de manter padrões aceitáveis e com autodisciplinamento túm maior tendência a aceitar que a violência cometida no relacionamento seja algo causado pelo álcool, por drogas, frustração ou qualquer evento externo. É uma forma de desculpabilizar o agressor pelo seu comportamento, atribuindo essa culpa a estímulos advindos do meio que proporcionou essa conduta violenta.

Subsequentemente, decidiu-se usar a regressão múltipla (enter) como forma de buscar relações preditivas entre as variáveis apenas com os fatores correlacionados anteriormente. Ver Tabela 4.

 

 

Logo na primeira análise, usou-se a autoestima como variável dependente (VD) e os fatores das crenças de legitimação da violência (banalização, descumprimento com os deveres e causas externas e os fatores de personalidades) como variáveis independentes (VIs), mas não foi verificada nenhuma relação estatisticamente significativa. Na segunda análise, definiu-se a personalidade e os fatores de violência predizendo a autoestima, o que também não apresentou significância.

Na terceira análise, os fatores das crenças de legitimação da violência foram caracterizados como variáveis dependentes e como variáveis preditoras, com a autoestima e os fatores de personalidade obtendo, nestas análises, valores significativos, como se pode observar na Tabela 4. Com isso, a legitimação e a banalização da pequena violência são explicados pela autoestima (β=-0, 12), abertura a experiências (β = - 0,13) e estabilidade emocional (β =- 0, 11). Todos obedeceram o critério de marginalmente significativos a nível de p < 0,07. Esses fatores explicam conjuntamente 5% (R² ajustado) a variância total.

A legitimação da violência por descumprimento dos deveres/expectativas do(a) parceiro (a) explicou apenas 2% (R² ajustado) da variância total, pela autoestima (β = - 0,15), a nível de p < 0,07, ou seja, apenas a autoestima prediz este fator de crença da legitimação da violência. A legitimação da violência por causas externas explicou 4% (R² ajustado), pela autoestima (β = - 0,17), como também pela abertura a experiências (β = - 0,10), a nível de p < 0,07. Esses resultados consideraram p < 0,07, o que representa marginalmente significativo.

Com isso, identifica-se que a autoestima, a abertura a experiências e a estabilidade emocional predizem as crenças que legitimam a violência conjugal. Isso significa que grande parte dessas crenças, como a obediência do parceiro, o cumprimento de tarefas e a infidelidade amorosa são explicados pela autoestima baixa e por traços de instabilidade emocional.

 

 

Discussão

O objetivo deste estudo foi verificar as relações das crenças de legitimação da violência conjugal com autoestima, satisfação com a vida e personalidade, tendo como base o GAM. Considerou-se que essas variáveis pessoais (autoestima e personalidade), assim como uma rota (satisfação com a vida), seriam preditores da violência conjugal (Anderson & Bushman, 2002; Warburton & Anderson, 2015). Ademais, a análise de regressão múltipla veio a confirmar o que a literatura já indicava.

As médias e cada fator demonstraram maior discordância na legitimação das crenças da violência conjugal e pontuação maior nos fatores de autoestima, personalidade e satisfação com a vida. Isso significa que pessoas contrárias a esses fatores de legitimação das crenças de violência pontuam mais em autoestima e traços de personalidade nos polos positivos, como, por exemplo, são estáveis emocionalmente. Esse dado, apesar de descritivo apenas, é coerente com o GAM, que denota que esses fatores formam gatilhos para a violência conjugal (Anderson & Bushman, 2002; Warburton & Anderson, 2015).

Com base nos resultados, os fatores de legitimação e banalização da pequena violência, descumprimento com os deveres e a atribuição a causas externas correlacionaram-se negativamente com a autoestima. Esse construto pode ser explicado através do GAM, em que a autoestima é um preditor para a violência conjugal (Anderson & Bushman, 2002) e esse dado foi encontrado nos resultados do presente estudo.

Sabe-se que a autoestima extremada nos polos (alta e/ou baixa) pode trazer consequências para a perpetuação da violência conjugal. A alta autoestima pode levar o indivíduo a ter senso de superioridade, egoísmo, sem pensar no parceiro (Baumeister et al., 1996). Entretanto, o presente estudo observou que pessoas com pontuação maior em autoestima discordam das crenças de legitimação da violência.

As pessoas que pontuam menos em autoestima (baixa autoestima) túm maior aceitação em permanecer em uma relação abusiva (Lynch & Graham-Bermann, 2000; Félix, 2012), com desrespeito e maus-tratos. Por não se comportarem da maneira como esperam, trocas mútuas violências e fazem atribuição a causas externas (Félix, 2012). Porém, a baixa autoestima pode provocar atos violentos em razão da frustração, que leva à  agressão (Baumeister, Boden & Smart, 1996), o que não foi verificado neste estudo.

Ademais, a satisfação com a vida não apresentou correlação significativa nem quanto à  população geral, nem quanto à  população específica de vítimas em relação aos fatores de legitimação das crenças da violência. De acordo com o GAM, a satisfação com a vida formaria uma rota (Anderson & Bushman, 2002) em que a avaliação dos componentes afetivos e cognitivos próprios do indivíduo (Diener et al., 1985; Gouveia, et al., 2005) direcionariam o comportamento para um modelo que deveria ser aprendido e reforçado (Anderson & Bushman, 2002; Warburton & Anderson, 2015).

Por sua vez, os fatores de personalidade foram correlacionados com os fatores da crença de legitimação da violência conjugal. Identificou-se que quanto mais estabilidade emocional, menos se aceita a legitimação e a banalização da pequena violência. Isso significa que, no pãlo oposto desse fator, caracterizam-se os neurãticos. Estes são indivíduos emocionalmente instáveis ou ansiosos (Pimentel et al., 2014), que apresentam comportamentos mais tolerantes ao uso da violência, congruentes com o estudo de Barllet e Anderson (2012). Além disso, esse fator prediz a aceitação dessa crença que banaliza e provoca o desrespeito conjugal (Caridade & Machado, 2006).

Também foi visto que a abertura à  experiência foi correlacionada negativamente com legitimação e banalização da pequena violência e a legitimação da violência por descumprimento dos deveres/expectativas do(a) parceiro(a), nas duas populações, sendo que com magnitude mais acentuada (moderada) em vítimas de violência. Esses achados corroboram Pinto, Varela e Vinhal, (2012), reafirmando que as vítimas de violência que túm mais tendência ao polo tradicional tendem a permanecer mais em um relacionamento com violência (Pinto, Varela & Vinhal, 2012).

Não obstante, esses resultados são coerentes com os achados de Barllet e Anderson (2012), explicando que esse fator prediz a agressão, independentemente de ter sofrido a agressão ou não, pois a abertura a experiências é relacionada, de forma indireta e direta, com a violência, sendo que esse fator é também considerado um perpetuador da violência conjugal, tanto para homens quanto para mulheres (Ulloa, Hammett, O’Neal, Lydston & Aramburo, 2016).

Ademais, a agradabilidade é correlacionada de maneira negativa com a legitimação e banalização da pequena violência. Indivíduos mais agradáveis podem ser menos propensos a agredir seus pares (Jensen-Campbell & Richardson, 2004; Pimentel et al., 2014), ou seja, quanto mais agradáveis, menos se propaga essa crença de que é necessário usar da violência para se obter o objetivo esperado entre os cônjuges. No entanto, esse fator não demonstrou predição nos achados do presente estudo, como a literatura explana (Barllet & Anderson, 2012; Gleason, Jensen-Campbell & Richardson, 2004).

Além disso, a conscienciosidade está correlacionada positivamente com o fator legitimação da violência atribuição a causas externas, nas amostras específicas, sendo congruente com estudo de Pinto,Varela e Vinhal (2012), em que há maior predominância desse fator em vítimas de violência. Entretanto, foi oposto aos resultados de Barllet e Anderson (2012), que mostram uma correlação negativa relacionada com atitudes em relação à  violência.

Essas correlações encontradas neste estudo, embasadas em outros pesquisadores, sinalizam o que Anderson e Bushman (2002) mostram, afirmando que a personalidade e a autoestima funcionam como preditor ou gatilho para o comportamento agressivo. Por outro lado, a estrutura da personalidade ou a autoestima sozinhas não exercem tal função de agente regulador da agressão, mas, associadas a outros estímulos situacionais e ambientais, exercerão papel fundamental para uma predisposição para agredir (Gleason, Jensen-Campbell, & Richardson, 2004; Warburton & Anderson, 2015).

 

 

Considerações finais

É sabido que existem muitos dados a respeito da violência doméstica na literatura global e também são realizadas diversas campanhas em prol da defesa da saúde e do bem-estar das vítimas de violência, que em sua maioria são mulheres. Entretanto, há escassez de estudos na literatura brasileira sobre a satisfação com a vida e a violência conjugal, bem como colaborações de vítimas de violência nesse processo de identificação de aspectos que colaboram para a prevenção da violência conjugal.

A pesquisa, neste sentido, ratificou o GAM (Anderson & Bushman, 2002; Warburton & Anderson, 2015), demonstrando que os fatores pessoais (autoestima e personalidade) túm relação e predição com a legitimação das crenças sobre a violência. Contudo, a rota ou trajetãria interna (satisfação com a vida) não demonstrou relacionamento, o que precisa ser verificado em estudo posterior.

De fato, não se mediu a violência diretamente no presente estudo e, sim, as crenças de legitimação. Outros estudos nesse sentido são importantes para suprir as limitações deste. Seria importante que este estudo fosse replicado em outras regiões do Brasil. Deste modo, poder-se-ia melhor entender as relações verificadas e, consequentemente, melhor prevenir a violência entre parceiros íntimos.

 

 

Referências

Anderson, C. A. & Bushman, B. J. (2002). Human aggression. Annual Review of Psychology, 53(1), 27-51.         [ Links ]

Barlett, C. P. & Anderson, C. A. (2012). Direct and indirect relations between the big 5 personality traits and aggressive behavior. Personality and Individual Differences, 52, 870-875.         [ Links ]

Baumeister, R. E., Joseph, M., Boden, J. M. & Smart, L. (1996). Relation of threatened egotism to violence and aggression: the dark side of high self-esteem. Psychological Review, 103(1), 5-33.         [ Links ]

Caridade, S. & Machado, C. (2006). Violência na intimidade juvenil: Da vitimação à  perpetração. Análise Psicológica, 4 (24), 485-493.         [ Links ]

Cunha, S. C., & Pinto, R. B. (2014). Violência doméstica. Lei Maria da Penha comentada artigo por artigo. São Paulo: Revista dos tribunais.         [ Links ]

 Day, V. P.; Telles, L. E. B.; Zoratto, P. H.; Azambuja, M. R. F.; Machado, D. A.; Silveira, M. B.; Debiaggi, M.; Reis, M. G.; Cardoso, R. G.; Blank, P. (2003). Violência doméstica e suas diferentes manifestações. Revista de psiquiatria do Rio Grande Sul, 25(1), 9-21.         [ Links ]

Diener, E., Emmons, R. A., Larsen, R. J. & Griffin, S. (1985). The satisfaction with life. Journal of Personality Assessment, 49 (1), 71-75.         [ Links ]

Egan, V. (2009).The "Big Five": Neuroticism, extraversion, openness, agreeableness and conscientiousness as organisational scheme for thinking about agression and violence. In M. McMurran & R. C. Howard (Eds.) Personality Disorder and Violence (pp.63-84). England: Wiley-Blackwell.         [ Links ]

Félix, D. S. S. (2012). Crenças de legitimação da violência de género e efeitos de campanhas de prevenção: um estudo exploratãrio. Dissertação de Mestrado, Secção de Psicologia da Educação e da Orientação. Universidade de Lisboa,         [ Links ] Portugal.

Gleason, K. A., Jensen-Campbell, L. A. & Richardson, D. B. (2004). Agreeableness as a predictor of aggression in adolescence. Aggressive Behavior, 30(1), 43-61.         [ Links ]

Gosling, S. D., Rentfrow, P. J. & Swann Jr., W. B. (2003). A very brief measure of the big-five personality domains. Journal of Research in Personality, 37(6), 504-528.         [ Links ]

Gouveia, V. V., Barbosa, G. A., Andrade, E. O. & Carneiro, M. B. (2005). Medindo a satisfação com a vida dos médicos no Brasil. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 54(4), 298-305.         [ Links ]

Grossi, M. P. (1994). Novas/Velhas Violências contra a Mulher no Brasil. Estudos Feministas, 94 (número especial), 473-483.         [ Links ]

Hamby, S. (2017). On Defining Violence, and Why It Matters Psychology of Violence. American Psychological Association, 7(2), 167-180.         [ Links ]

Ham-Rowbottom, K. A., Gordon, E. E., Jarvis, K. L., & Novaco, R. W. (2005). Life constraints and psychological well-being of domestic violence shelter graduates. Journal of Family Violence, 20(2), 109-121.         [ Links ]

Hamberger, K. & Hastings, J. E. (1986). Personality correlates of men who abuse their partners: a cross-validation study. Journal of Family Violence, 1(4), 323-341.         [ Links ]

Heru, A. M. (2007). Intimate partner violence: treating abuser and abused. Advances in Psychiatric Treatment, (13), 376-383.         [ Links ]

Hutz, C. S., & Zanon, C. (2011). Revisão da adaptação, validação e normatização da escala de autoestima de Rosenberg. Avaliação Psicológica, 10(1), 41-49.         [ Links ]

Johnson, M. P. (2005). Domestic violence: it´s not about gender – or is it? Journal of Marriage and Family, 67(5), 1126-1130.         [ Links ]

Krug, E. G., Mercy, J. A., Dahlberg L. L. & Zwi, A. B. (2002). The world report on violence and health. Geneva, Public Health. Lancet. October 5; 360, 1083- 1088.         [ Links ]

Lei n. 11.340. (2006). Lei Maria da Penha. Brasília, DF: Presidência da República.

Lynch, S. M. & Graham-Bermann, S. A. (2000).Woman abuse and self-affirmation: influences on women´s self-esteem. Violence Against Women, 6(2)178-197.         [ Links ]

Madalena, M.B. A., Falcke, D. & Carvalho, L. F. (2015). Violência conjugal e funcionamentos patológicos da personalidade. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 67(2), 122-139.         [ Links ]

Mendes, E. & Cláudio, V. (2010). Crenças e atitudes dos estudantes de enfermagem, engenharia e psicologia acerca da violência doméstica. Simpãsio Nacional de Investigação em Psicologia, Braga, Portugal.         [ Links ]

Nascimento, B. S. (2015). Atitudes frente à  violência contra a mulher: o papel dos valores e da desumanização da mulher. Dissertação de Mestrado, Programa de Pãs-graduação em Psicologia Social. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,         [ Links ] PB.

Pinto, M., Varela, A. & Vinhal, A. (2012). A personalidade das vítimas de violência conjugal. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, 8, 25-29.         [ Links ]

Pimentel, C. E., Ferreira, D. C. S., Vargas, M. M., Maynart, V. A. P. & Mendonça, D. C. (2014). Preferência por estilos de filmes e suas diferenças nos cinco fatores de personalidade. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 9 (2), 233-244.         [ Links ]

Pimentel, C. E., Gunther, H. & Black, P. U. V.(2012). Acessando o medo do crime: um survey por meio da internet. Psicologia Argumento, 30(69), 411-421.         [ Links ]

Rokeach, M. (1981). Crenças, atitudes e valores. Rio de janeiro: Interciência.         [ Links ]

Sbicigo, J. B., Bandeira, D. R. & Dell&apos;Aglio, D. D. (2010). Escala de autoestima de Rosenberg (EAR): validade fatorial e consistência interna. Psico-USF, 15(3), 395-403.

Secretaria de Políticas para as Mulheres. (2016). Balanço 1° Semestre de 2016: Ligue 180. central de atendimento à  mulher. Governo Federal Brasil. Disponível online (9.5.17) de: http://www.spm.gov.br/balanco180_2016-3.pdf        [ Links ]

Ulloa, E. C., Hammett, J. F., O’Neal, D. N., Lydston, E. E. & Aramburo, L. F. (2016). The big five personality traits and intimate partner violence: findings from a large, nationally representative sample. Violence and Victims, 31(6), 1100-1116.         [ Links ] 

Vianna, L. A. C., Bomfim, G. F. T. & Chicone, G. (2006). Auto-estima de mulheres que sofreram violência. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 14(5), 695-701.         [ Links ]

Waiselfisz, J. J. (2015). Mapa da Violência 2015. Homicídios de Mulheres no Brasil. Brasília: Flacso Brasil.         [ Links ]

Warburton, W. & Anderson, C. (2015).On the clinical applications of the general aggression model to understanding domestic violence. In R. A. Javier & W. G. Herron (Eds.) Understanding domestic violence: Theories, challenges, emedies. (pp.1-56). USA: Rowman & Littlefield Publishers.         [ Links ]

Worden A. P. & Carlson, B. E. (2005). Attitudes and beliefs about domestic violence: results of a public opinion survey. II. Beliefs About Causes. Journal of Interpersonal Violence. 20 (10) 1219-1243.         [ Links ]

World Health Organisation [WHO]. (2010). Preventing intimate partner and sexual violence against women: taking action and generating evidence. Geneva, Switzerland: World Health Organisation. Disponível online (5.5.16) de: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44350/1/9789241564007_eng.pdf?ua=1        [ Links ]

Woyciekoski, C., Nativista, J. C. & Hutz, C. S. (2014). As contribuições da personalidade e dos eventos de vida para o bem estar subjetivo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30(4), 401-409.         [ Links ]  

 

Recebido em: 05/07/2016

Aceito em: 17/07/2017

Creative Commons License