SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.11 número1Competências socioemocionais: análise da produção científica nacional e internacionalAvaliação psicológica em escolares: relação entre personalidade, autoconceito e habilidades sociais índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.11 no.1 Belo Horizonte jan./jun. 2018

http://dx.doi.org/10.36298/gerais2019110103 

ARTIGOS

 

Gênero como uma categoria de análise nos estudos brasileiros sobre mulheres e consumo de crack

 

Gender as a category of analysis in brazilian studies on women and crack consumption

 

 

Maria Eduarda Freitas MoraesI; Adriane RosoII; Michele Pivetta de LaraIII

IUniversidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. E-mail: mariaefmoraes@gmail.com
IIUniversidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. E-mail: adrianeroso@gmail.com
IIIPrefeitura Municipal de Faxinal do Soturno, Faxinal do Soturno, Brasil. E-mail: micapivetta@gmail.com

 

 


RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi (re)construir as práticas de consumo de crack em mulheres a partir de pesquisas empíricas realizadas no contexto brasileiro e sustentadas na categoria analítica "gênero". Trata-se de um estudo quantitativo-descritivo, de revisão teórica de 30 publicações em duas bases de dados, no período aproximado de 15 anos. A análise foi desenvolvida em duas etapas. Etapa 1: estatística descritiva, recorrendo ao software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para identificar as características gerais dos artigos (variáveis quantitativas e variáveis qualitativas). Etapa 2: análise qualitativa com base na categoria analítica "gênero". Foi observado que a maioria dos artigos reconhece as mulheres como uma população específica que consome crack, no entanto a maioria deles não olha para a relação mulheres/crack através das lentes da categoria analítica "gênero". Foi notado que essa relação é basicamente considerada como um problema de saúde e não como uma questão psicossocial.

Palavras-chave: Mulheres. Gênero. Drogas.


ABSTRACT

The goal of this research was to (re)construct the practices of crack use among women, based on empirical research sustained by the 'gender' analytical category. It is a quantitative-descriptive study, based on a theoretical review of 30 publications in two databases, in the approximate period of 15 years. The analysis was developed in two steps. Step 1: descriptive statistics, using the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) in order to identify the general characteristics of the articles (quantitative and qualitative variables). Step 2: qualitative analysis according to the "gender" analytical category. We observed that the articles recognize women as a specific population that consumes crack, however, most of them do not look at the women/crack relation through the lenses of the 'gender' analytical category. We noted that this relation is basically considered as a health matter and not a psychosocial issue.

Keywords: Women. Gender. Drugs.


 

 

Introdução

O consumo de drogas é uma prática milenar inerente à humanidade e ocorre devido a necessidades subjetivas e sociais (Dias, 2012; Nery Filho, 2012) independentemente do gênero. Todavia, os problemas relacionados ao uso de drogas entre as mulheres têm aumentado progressivamente a partir da segunda metade do século XX (Blume, 1990). Dentre as drogas consumidas, temos o crack, que se tornou uma questão central no cenário brasileiro (Rui, 2014). Segundo a pesquisa nacional sobre uso de crack, estima-se que aproximadamente 370 mil pessoas fazem uso regular de crack ou similares no Brasil. Cerca de 21,3% das pessoas encontradas pela pesquisa nas cenas de uso dessa substância eram mulheres, muitas delas sofrendo violência - seis vezes mais do que homens - alguma vez na vida (Bastos & Bertoni, 2014), indicando a possibilidade de elementos causais relacionados a gênero.

Existe uma lacuna na produção científica envolvendo mulheres e crack (Oliveira et al., 2014; Cruz et al., 2014a), se compararmos com estudos envolvendo homens ou a população em geral que faz uso de crack (Pedroso, Kessler & Pechansky, 2013). Percebe-se a invisibilidade dessas mulheres em termos de disponibilidade de dados, bem como nos serviços prestados a essa população específica (International Network of People who Use Drugs, 2014), caracterizando uma necessidade de contemplar as especificidades de diferentes mulheres.

Os elementos sinalizados até aquinos levam a considerar fundamental que se problematize o uso de drogas sob uma óptica psicossocial, a qual, argumenta Paiva (2013), ressalta a centralidade da intersubjetividade para pensar a saúde no plano individual, social e programático e destaca a reflexão crítica ao individualismo. Busca uma reflexão dialógica também com participação direta de usuários dos serviços, nos encontros de cuidado e em qualquer plano institucional e político. Denuncia os traços macrossociais da desigualdade, mas compreende a concretude das relações de gênero, raça e classe no cotidiano, no modo como é experimentada em cada território e pelas pessoas.

Assumimos que a categoria analítica gênero faz par com essa óptica e abre frentes para um entendimento acerca dos "problemas de gênero" (Butler, 2015). Gênero não se refere apenas às mulheres e nem diz apenas de elementos biofisiológicos, mas como vivemos em uma cultura machista e misógina (e.g., Diniz, 2014; Vallejo & Pimentel, 2015), é fundamental atentar para as mulheres e para as relações que elas estabelecem como a sociedade e com os objetos que elas convivem, como é o caso do objeto droga. A categoria gênero "não se refere apenas às ideias, mas também às instituições, às estruturas, às práticas quotidianas, como também aos rituais e a tudo que constitui as relações sociais" (Scott, 1998, p. 2), bem como se refere às relações de poder baseadas nas diferenças percebidas entre sexos (Scott, 1998; Azerêdo, 2010). Desse modo, a categoria potencializa perspectivas psicossociais para refletir sobre o consumo de drogas entre as mulheres.

Diante desse panorama, elaborou-se o presente estudo, cujo objetivo foi conhecer as produções científicas sobre crack que atentaram ao consumo realizado por mulheres. Como objetivo específico, buscou-se (re)construir as práticas de consumo de crack em mulheres no contexto brasileiro, a partir de pesquisas empíricas sustentadas na categoria de análise gênero. Considera-se que refletir e interrogar sobre a empregabilidade da palavra "gênero" nas pesquisas é fundamental na atualidade. Esta ganhou espaço, mas perdeu o sentido (Louis, 2006). Com isso, pretende-se defender o tensionamento do termo no sentido de torná-lo sensível o suficiente para olhar as singularidades dos fenômenos sociais.

 

Métodos e Delineamento do Estudo

A pesquisa trata de um estudo quantitativo-descritivo (Tripodi, Fellin & Meyer, 1981) envolvendo um delineamento exploratório. Este busca a descrição de fatos simples e/ou a descrição de características quantitativas. Recorrendo à modalidade de pesquisa bibliográfica (Fontelles, Simões, Farias & Fontelles, 2009), realizou-se um levantamento da produção brasileira de artigos na biblioteca eletrônica SciELO Brasil (www.scielo.br) e as produções indexadas na base de dados Lilacs (lilacs.bvsalud.org/). Por meio da pesquisa bibliográfica, elaborou-se este estudo de revisão teórica, que implica rever trabalhos de outros pesquisadores para conhecer, dialogar (Santos, 2012), refletir sobre as produções já realizadas, bem como sobre o que ainda pode ser pesquisado (Echer, 2001).

O levantamento ocorreu em julho e agosto de 2015. O período de abrangência da pesquisa foi de aproximadamente 15 anos, período este dado da primeira publicação sobre a temática.

Os critérios de inclusão na revisão foram: produções científicas publicadas até agosto de 2015 (período de realização do levantamento) com os termos "mulheres" e "crack". Os critérios de exclusão: não abordar diretamente o consumo de crack e/ou outras drogas; não adotar uma abordagem psicossocial; não estar disponível o texto completo na biblioteca eletrônica ou base de dados pesquisada. Como foram analisadas uma biblioteca eletrônica e uma base de dados, a repetição dos produtos (artigo, dissertação ou tese) em uma das bases também serviu de critério de exclusão. A avaliação conforme os critérios foi realizada por meio da leitura do resumo dos artigos e, após, foi feita a leitura completa.

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. Na Etapa I, foi realizado um levantamento das características gerais das produções. Os procedimentos de análise dessas variáveis foram: tabulação e apresentação dos dados, composição e comparação dos dados coletados, análise e discussão dos resultados e apreciação e comparação dos dados coletados. Recorreu-se ao software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 21 para essa construção analítica, utilizando para a análise dos dados a estatística descritiva. Esse método consiste em técnicas que servem para coleta, análise e síntese de dados numéricos (Correa, 2003). Na Etapa II, os artigos foram classificados e analisados qualitativamente com a intenção de observar se as produções científicas trabalhavam na perspectiva de gênero. Com base nas produções analisadas buscou-se (re)construir as práticas de uso do crack por mulheres.

 

Resultados e Discussão

Etapa I - Características gerais de produções

Na biblioteca eletrônica SciELO, utilizamos a ferramenta "pesquisa de artigos" e os termos "mulheres" e "crack" para buscar produções que tratassem dos termos simultaneamente. A opção de busca no campo escolhida foi "Todos os índices". Foram encontrados 18 produtos. A partir dos critérios de inclusão/exclusão, dois produtos foram excluídos, restando 16 para análise. Já a pesquisa na base de dados Lilacs foi realizada por índices e o campo selecionado foi "todos os índices". Os termos da pesquisa foram "mulheres" e "crack", cujo resultado foi 29 achados. Inicialmente, foram excluídos produtos que se repetiram na SciELO (critério de exclusão), resultando 17. Destes, quatro não exibiam texto completo. Todavia, como um desses quatro indicava ter uma perspectiva psicossocial que abordava diretamente o consumo de crack,considerou-se importante incluí-lo no corpus de pesquisa. Desse modo, recorrendo à busca no Google Brasil (www.google.com), foi encontrado o artigo referente a esse resumo; ou seja, foram excluídos apenas três, resultando num corpus composto por 14 produtos (Lilacs).

Somando os 16 produtos resultantes da SciELO com os 14 da Lilacs, o corpus final tornou-se composto por 30 produtos (n=30). Esse corpus foi composto por: 25 artigos publicados em revistas (83,3%); três dissertações de mestrado (10%); e duas teses de doutorado (6,7%). Apenas um dos trabalhos incluídos na Etapa I não foi realizado no Brasil, tendo sido produzido em San Pedro Sula, Honduras. Optou-se por incluir o trabalho por contemplar os critérios de inclusão, podendo ampliar o corpus da pesquisa. Entretanto, na Etapa II, o trabalho não foi incluído. O levantamento e a reflexão sobre as práticas centrou-se majoritariamente no contexto brasileiro.

A publicação mais antiga encontrada foi publicada em 2000, com uma publicação. Separando por períodos de tempo, observa-se que o período de 2000-2003 contou com duas publicações (6,7%); o período de 2004-2007 também contou com duas (6,7%); de 2008 a 2011 houve quatro (13,3%); enquanto de 2012 a 2015 foram produzidos 22 trabalhos (73,3%).

Observa-se um aumento de publicações a partir de 2013, comparado com os anos anteriores. O aumento foi mantido em 2014. Esse dado demonstra que pesquisas englobando drogas e mulheres vem se tornando presentes mais recentemente.

O uso de crack não é uma situação nova no Brasil (Nuñez, 2013). Existem registros que indicam que o crack começou a ser consumido no país no fim da década de 1980 e início da década de 1990 (Oliveira & Nappo, 2008). Todavia, é importante salientar o aumento do registro de consumo em várias capitais e em cidades do interior, o que pode ser observado no portal do Observatório do Crack. Em vista disso, o Governo Federal lançou o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas em 2010, que visa à prevenção, ao tratamento e à reinserção social de usuários, à capacitação de profissionais e ao enfrentamento do tráfico de drogas ilícitas. A proposta é ampliar e fortalecer as redes de atenção à saúde e assistência social (Galera, 2013). Assim, cabe perguntar o que fez com o que crack ganhasse visibilidade e que isso refletisse em investigações científicas.

Nesse sentido, pode-se indicar que na mídia existem discursos que (re)produzem a ideia de que o consumo de crack consiste em uma epidemia (Romanini & Roso, 2012). Entretanto, o termo epidemia deve ser questionado, pois "revela o desejo de se medicalizar um problema de natureza social" (MacRae, 2013, p. 11).

Utilizando as áreas do conhecimento indicadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), das 30 produções científicas analisadas, são encontradas 21 que eram exclusivamente das Ciências da Saúde (70%). Foram encontradas oito produções mistas, englobando mais de uma área de ciência (26,7%). Apenas uma produção era exclusivamente das Ciências Humanas (3,3%). Um artigo não pôde ser enquadrado nas áreas sugeridas pelo CNPq, pois foram feitos por redutores de danos de diferentes áreas, desse modo, tendo em vista a perspectiva de nosso trabalho, este foi situado no campo da Saúde para fins de contabilizar os dados.

Na variável "área da revista em que foi publicada ou do curso (no caso de teses/dissertações)", vislumbra-se que 28 publicações se deram na área da Saúde (93,3%). Apenas uma publicação se deu em revista das Ciências Humanas (3,3%) e uma em revista classificada como Interdisciplinar (3,3%).

É relevante que o crack tenha sido abordado como uma questão de saúde com a finalidade, sobretudo, de atender as pessoas que fazem uso e desejarem atendimento. Todavia, a presença preponderante da área da saúde permite questionamentos sobre as demais ciências não buscarem se inserir no debate com o intuito de abarcar a complexidade do fenômeno. A busca em bases de dados que remetem à área da saúde pode ter interferido no resultado. Todavia, ressalta-se que a saúde e as ciências sociais poderiam complementar-se para discutir perspectivas psicossociais, tais como a perspectiva de gênero, e que a Psicologia teria um papel fundamental nessa articulação.

Ainda, percebe-se a presença de outras áreas, ainda que não na mesma proporção que a saúde. Esse dado reflete um aspecto positivo, visto que se torna mais acessível articular saberes em busca da compreensão do fenômeno. O campo de estudo, portanto, apresenta-se como um campo que dispõe de diferentes áreas, mas ainda centralizado na saúde.

Tendo em vista as diferentes formas de estudo que costumam ser trabalhadas em artigos, investigou-se quais estiveram presentes no corpus desta pesquisa, dentre: relato de pesquisa; revisão da literatura; estudo teórico; e relato de experiência. Observa-se que apenas relato de pesquisa e relato de experiência estiveram presentes nas produções científicas encontradas. O relato de pesquisa esteve presente majoritariamente, em 28 produções (93,3%), enquanto o relato de experiência abarcou duas produções (6,7%).

Salienta-se a ausência de estudos teóricos e de revisão, indicando a predominância de um modelo de ciência calcado no empiricismo. Observa-se ainda a presença de alguns (2) relatos de experiência. Cabe destacar a relevância destes, uma vez que trazem a importância dos saberes construídos no cotidiano.

Quanto à técnica utilizada para coleta de dados, predominaram os questionários (30%), sendo usado de forma exclusiva em nove produções; seguido das entrevistas, em oito produções (26,7%). Destaca-se que as pesquisas podem utilizar mais de uma técnica para obter achados. Sendo assim, 16,7% das pesquisas utilizaram duas formas diferentes de coleta de dados e 10% utilizaram mais de duas técnicas. Pode-se dizer que entrevistas e questionários foram usados com mais frequência. Observa-se que técnicas de coleta de dados que envolvem um contexto social, tais como: observação de campo (4), método etnográfico (1) e grupo focal (5) foram menos utilizadas que técnicas individuais (entrevistas e questionários).

A abordagem de interpretação de dados mais utilizada foi a quantitativa (56,7%). Em 13 achados, predominou a perspectiva qualitativa (43,3%). Foi encontrada uma pesquisa que se afirmava mista, mas nesta predominou a apresentação de dados quantitativos. Sendo assim, as produções foram contabilizadas conforme a abordagem predominante por entender que qualitativo e quantitativo estão interligados.

Sobre o local de pesquisa, foram mais frequentes locais em que funcionam serviços de atenção à saúde (56,7%), aparecendo em 17 pesquisas; seguidos por locais públicos em que ocorrem uso de drogas, tráfico e prostituição, em sete (23,3%). Ainda, apareceram serviços de educação (6,7%) e residência dos/as participantes das pesquisas (6,7%) em duas pesquisas cada. Apenas uma pesquisa ocorreu no contexto do aprisionamento carcerário (3,3%) e uma não informou com clareza o local (3,3%).

Desse modo, observa-se uma pluralidade de resultados nessa variável. Pode-se observar que os locais mais citados são alas psiquiátricas e locais públicos, ambos presentes em sete pesquisas, mas não simultaneamente. Esses locais fazem contraponto um ao outro. Enquanto no ambiente da ala psiquiátrica a pessoa que faz uso de drogas encontra-se internada, retirada do seu contexto, no espaço público surge a possibilidade de investigar e/ou vivenciar com/a pessoa em seus contextos de uso. Ainda, vislumbra-se a presença massiva da saúde, representada pelos serviços de saúde.

Quanto à variável abordar especificamente ou perifericamente o uso de crack nas pesquisas, identificamos que 17 produções abordavam de forma periférica (56,7%) e 13 abordavam de forma central o uso de crack (43,3%).

Observou-se que 20 trabalhos abordavam as mulheres de forma específica, incluindo ou não homens (66,7%). Em 16, foram entrevistadas apenas mulheres. Os demais produtos não tinham como proposta da pesquisa trabalhar especificamente com mulheres (33,3%). Estes artigos compuseram nosso corpus de pesquisa, pois, ainda que nas palavras-chave dos artigos levantados não constassem necessariamente o descritor "mulher", no corpo do artigo a palavra era mencionada. Lembramos que na busca nas bases de dados optamos pelo campo "Todos os índices". Esses artigos não se propõem a trabalhar a especificidade das mulheres com relação ao consumo das drogas. A inclusão desses artigos no corpus de análise de nosso estudo serve, ainda que timidamente, para sinalizar que quase mais de 1/4 dos artigos não priorizam olhar atentamente para elas.

Novamente vislumbra-se que estão sendo realizados estudos envolvendo drogas e mulheres especificamente. Sob essa variável encontra-se a maioria (20) dos trabalhos. Ainda, cabe ressaltar que a categoria "feminino" ou "mulher" pouco nos diz, visto que seus significados são polissêmicos (Butler, 2015). Considera-se, portanto, que envolver mulheres em pesquisas não determina o olhar do estudo. A relevância das questões de gênero foi citada em sete produções (23,3%) (e. g., Fertig, 2013; Malta, 2005; Malta et al., 2008; Romanini & Roso, 2014; Vernaglia, Vieira & Cruz, 2015; Cruz et al., 2014a, 2014b). Em uma delas não se adotou como objetivo trabalhar questões referentes às mulheres, mas pode-se perceber a categoria como norteadora do trabalho, visto que questiona estereótipos de gênero na produção (e. g., Romanini & Roso, 2014). Seis são em português e uma em inglês. Sendo assim, a perspectiva de gênero não foi citada em 23 produções (76,7%).

Etapa II Estudos Sustentados na Categoria de Análise Gênero: de que Gênero e de que Práticas de Consumo Estamos Falando?

Nesta etapa, releu-se o conteúdo de produções científicas que envolveram mulheres como participantes de pesquisa e que indicavam sustentar suas análises na categoria analítica gênero. Dois produtos encontrados (e. g., Malta, 2005; Malta et al., 2008) correspondem à mesma pesquisa, sendo uma dissertação e um artigo, respectivamente. Dessa forma, optou-se por incorporar apenas o artigo nesta análise. A escolha foi feita tendo em vista que a maior parte do corpus desta etapa estava composta por artigos (3), o que permitiria analisar produções acadêmicas estruturadas de forma semelhante.

O corpus de pesquisa, portanto, foi composto por cinco produções, incluindo quatro artigos (Malta et al., 2008; Cruz et al., 2014a, 2014b; Vernaglia, Vieira & Cruz, 2015) e uma tese (Fertig, 2013). A intenção foi observar as características das participantes de cada uma delas. Na segunda etapa, não se buscou desconsiderar os demais trabalhos, mas enfocar aqueles que tinham potencial de contribuir com o objetivo de (re)construir as práticas de consumo de crack em mulheres a partir de pesquisas empíricas sustentadas na categoria de análise gênero.

 

Quadro 1

 

Constatou-se que duas das produções incluídas nesta etapa, apesar de indicarem trabalhar com a perspectiva de gênero, não definiram o que seria gênero para elas (e. g., Malta et al., 2008; Cruz et al., 2014b). As demais (3), de alguma forma situaram como entendem gênero (e. g., Vernaglia, Vieira & Cruz, 2015; Cruz et al., 2014b; Fertig, 2013).

No artigo de Vernaglia, Vieira e Cruz (2015), os autores conceituam gênero como o que é culturalmente atribuído ao feminino ou masculino, ou uma perspectiva que ajuda a pensar as relações sem incidir o erro de vitimização da mulher ou culpabilização do homem [sic]. O embasamento de gênero está calcado nos autores: Schienbinger, Laqueur, Bordieu, Abdala, Silveira e Minayo.

Fertig (2013) e Cruz et al. (2014a) baseiam-se em Joan Scott para indicar gênero como algo que dá sentido às diferenças sexuais, constitui nossas relações sociais e dá significado às relações de poder. Ainda, Fertig (2013) nos indica a multiplicidade de culturas masculinas e femininas, mas assinala as relações assimétricas de gênero, que privilegia homens e aspectos masculinos. A autora ainda se baseia em Meyer para dizer que gênero permite que seres humanos se reconheçam como homens e mulheres. Assinala a perspectiva de gênero como posição que desnaturaliza e desindividualiza a violência, pontuando que a hierarquia de gênero expõe as mulheres a vulnerabilidades sociais. Para tal, a autora utiliza como referência Meneghel e Hirakata, cujas conceituações convergem para a perspectiva de gênero empregada neste trabalho, situada principalmente em Joan Scott.

Apesar de Fertig (2013) utilizar 27 vezes o radical da palavra vulnerabilidade (busca recorrendo ao termo "vulner$"), ela não define vulnerabilidade na tese, mas apresenta elementos que conduzem à conclusão de que o uso do crack é um dos fatores que torna as mulheres vulneráveis, dentre diversos outros, tais como: câncer ginecológico, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e a SIDA, prostituição, implicações delicadas na gestação e no recém-nascido, julgamento moral e estigmatizante, violência de diversos tipos, incluindo estupro, falta de afeto, dificuldade de acesso aos serviços, família desestruturada [sic], abuso, condição econômica e educacional, desemprego, relacionamento conflitivo com os filhos, criminalidade, conflito com companheiros e trajetória vivida na rua. Nesse sentido, cabe refletir sobre o quanto essas associações entre mulheres, consumo de crack e vulnerabilidade podem reforçar preconceitos, apesar de algumas vezes refletirem um contexto social.

Para aproximar-se das práticas de uso de crack realizadas por mulheres, elaborou-se indicadores para (re)construir as práticas de uso, a partir do conteúdo dos cinco produtos incluídos(e. g., Fertig, 2013; Malta et al., 2008; Cruz et al., 2014a, 2014b; Vernaglia, Vieira & Cruz, 2015). Os cinco produtos foram selecionados por indicar a relevância e o trabalho com uma perspectiva de gênero. Buscou-se levantar algumas informações sobre essas pesquisas empíricas, tais como: quando iniciaram o consumo; porque iniciaram; com quem consomem; local de consumo; como consomem; como adquirem a droga; por que consomem; por que continuam consumindo; quando consomem; como as pesquisas se referem a essas mulheres; e consequências do uso.

No que se refere a quando as mulheres que fazem uso de drogas iniciaram esse uso, algumas pesquisas indicam um início em atividades ilícitas geralmente antes ou durante a adolescência, incluindo o consumo de crack e/ou outras drogas (e. g., Fertig, 2013; Malta et al., 2008). Ao pensar o porquê do início do uso, as pesquisas referem situações de risco (Fertig, 2013; Malta et al., 2008). Algumas dessas mulheres iniciaram por um amigo ou seu companheiro ter oferecido (e. g., Cruz et al., 2014b; Fertig, 2013). Ao pensar sobre a vida dessas mulheres, se atribui o favorecimento do uso de crack a uma família de estrutura frágil, com pais que faziam uso de drogas, histórico de abusos físicos, emocionais e/ou sexuais. Nessa perspectiva, as mulheres são vistas em um contexto de "falta de perspectivas de vida" (p. 92) e o crack seria uma alternativa às dificuldades (e. g., Fertig, 2013).

O estudo de Limberger e Andretta (2015), embora não compondo o corpus, também refere que dificuldades familiares podem favorecer o consumo de crack. Nesse sentido, cabe pontuar que atentar ao contexto familiar é relevante para refletir sobre o contexto social. Entretanto, faz-se necessário evitar um julgamento moral do que seria uma "estrutura familiar correta", visto que esse posicionamento pode favorecer a reprodução de iniquidades sociais e de gênero. No que se refere a opressões contra as mulheres, a sociedade tende a enfatizar a reprodução e a educação dos filhos como responsabilidade majoritariamente destas (Almeida & Quadros, 2016; Macedo, Roso & Lara, 2015).

Quanto à companhia para o consumo de crack, as pesquisas sinalizam para o consumo, com pessoas de confiança, com a finalidade de se ter uma segurança, preocupando-se também com a ocultação do consumo dessa droga (e. g., Cruz et al., 2014b; Fertig, 2013). Também se indica uma rede de apoio entre as pessoas que fazem uso (e. g., Cruz et al., 2014a; Fertig, 2013), visto que se busca por uma troca de favores e se encontram identificados com seus pares: "reconhecimento de si mesmo no outro" (Fertig, 2013, p. 102).

Apenas uma pesquisa se referiu a um local destinado ao consumo de crack. Esse local foi referenciado como "fumódromo" - local que visa compartilhar a droga e reforça relações por meio da identidade de "usuária de crack". Também a pesquisa descreve esse lugar como um local de acolhimento da dependência, um refúgio para o consumo (e. g., Fertig, 2013). Sobre a forma de consumo, apenas uma pesquisa contemplou esse item (e. g., Malta et al., 2008) e indica que o consumo se dá por meio de compartilhamento do cachimbo. Esse compartilhamento acontece devido à crença de que ter seu próprio cachimbo aumentará o consumo de crack ou favorecerá uma prisão pelo uso (Malta et al., 2008).

Uma pesquisa traz o dado de que as mulheres limitam as quantidades de uso, fazendo uma determinada economia para os momentos de sociabilidade (e. g., Cruz et al., 2014b). Esse dado é interessante e merece novos estudos que possam confirmá-lo ou refutá-lo. Além disso, é importante entendermos as dinâmicas de uso por mulheres e a as sociabilidades engendradas no contexto de consumo. Como Rui (2014, p. 260) lembrou, sociabilidade e violência "fazem parte de um mesmo continuum e campo de possibilidades". Devemos atentar para as conexões entre esses dois elementos para explorar esse cenário (Rui, 2014).

Para pensar a forma como as mulheres adquiriam as drogas para consumir, as pesquisas citam parceiros das mulheres como fornecedores (e. g., Cruz et al., 2014b), bem como ações realizadas por essas mulheres, tais como: furtar (e. g., Fertig, 2013; Cruz et al., 2014a), traficar drogas (e. g., Cruz et al., 2014a), pedir dinheiro na rua, vender pertences pessoais, negociar drogas com pessoas que fazem uso (e. g., Fertig, 2013) e prostituir-se (e. g., Cruz et al., 2014a; Fertig, 2013). A prostituição não aparece apenas como uma forma de conseguir a droga, mas também como forma de sustento que traz certa autonomia das mulheres perante os companheiros (e. g., Cruz et al., 2014a).

Sobre os motivos para o uso do crack realizado por mulheres, as pesquisas indicaram fatores como: sociabilidade, influência do companheiro, fuga da solidão, dos problemas e das perdas, enfrentamento de dificuldades (e. g., Cruz et al., 2014b), do estresse (e. g., Malta et al., 2008), das opressões, das desigualdades sociais e do consumo de álcool e outras drogas entre seus familiares (e. g., Cruz et al., 2014a). Questões como "euforia" e "dependência rápida" são indicadas por uma das pesquisas (e. g., Fertig, 2013), que atribui às carências afetivas tal espaço para dependência, bem como uma possibilidade de fuga do cotidiano.

Uma pesquisa assinalou a possibilidade de as mulheres continuarem consumindo crack por receberem dinheiro do companheiro para adquirir a droga (e. g., Cruz et al., 2014b). Enquanto, outra pesquisa argumenta que apesar dos esforços para evitar recaídas, elas acontecem porque, em alguns casos, essas mulheres estão expostas a fatores de risco, contextos em casa que não garantem apoio para "deixar" as drogas (e. g., Fertig, 2013).

Ao buscarmos como os estudos levantados se referem às mulheres que fazem uso de drogas, observamos que à palavra "mulher" adiciona-se os seguintes predicados: "que vivem em situações de exclusão social", "vulneráveis ao HIV/Aids", "vulneráveis a DSTs", "trabalhadoras do sexo", "usuárias abusivas", "usuárias de crack" (e. g., Malta et al., 2008), "jovens", "adultas" (e.g., Cruz et al., 2014b) e "pertencentes à camada social de baixo poder aquisitivo" (e. g., Fertig, 2013). Um estudo de revisão sistemática sobre o consumo de crack entre mulheres demonstrou que o consumo costuma estar associado à violência física e sexual, preconceito social, prostituição, intensidade de consumo, gravidez, vulnerabilidade e DSTs (Limberger, Nascimento, Schneider & Andretta, 2016). Apesar dessa caracterização, uma pesquisa assinala o quanto essas mulheres são vistas de forma estigmatizada. Entretanto, salienta o quanto elas possuem vivências diversas, não sendo possível tratar a todas da mesma forma (e. g., Fertig, 2013).

Sobre as consequências do uso, apenas uma pesquisa abarcou esse item (e. g., Fertig, 2013). Nela, se destacam consequências negativas do uso, que enfatizam o uso de crack como algo danoso à vida das pessoas. As consequências citadas foram: sofrimento, perdas afetivas e materiais, problemas, dependência, situações de risco, violência, furto, discriminação, perda da guarda dos filhos, conflitos familiares, dificuldade em permanecer empregada, dificuldade em estabelecer vínculos, prostituição, vivência na rua, criminalidade, agravos na saúde e no autocuidado, internações, encarceramento no sistema prisional, gestações não planejadas, sentimento de culpa, perda do juízo crítico, bem como deterioração física e psicológica. Em certo momento, a autora relata que o uso de crack foi descrito a ela como um inferno [sic].

Fertig (2013) sinaliza uma multiplicidade de consequências e atos que convivem ao lado do consumo do crack. Todavia, enfatiza aspectos negativos como os indicados, sem explicitar de que multiplicidade está falando. Ao consumo de crack, a autora atribui uma dependência devido ao efeito rápido e intenso da droga. À medida que se apresenta um espectro sob o qual o crack é central se fecham algumas possibilidades para que se veja para além disso. A pessoa que fez uso da droga parece ser colocada numa posição de anomia, como se não tivesse senso crítico [sic], enquanto na literatura indica-se que usuários de crack podem ter suas funções cognitivas preservadas (Almeida & Quadros, 2016). Nesse sentido, podemos indicar que a tese sustenta um discurso de que o uso do crack leva à destruição e faz mal à saúde.

 

Considerações Finais

Após a análise e discussão de 30 estudos, foi observado que a maioria dos artigos reconhecem as mulheres como uma população específica que faz uso de crack, o que é importante para os estudos sobre drogas, na medida em que passa a reconhecer as especificidades dessa população e a "retira" da invisibilidade. Sendo assim, confirmar o uso por mulheres é um passo importante dentro de outro processo, que consiste no reconhecimento de que as mulheres fazem um uso distinto dos homens dado os contextos de uso no contexto social mais amplo. Aí sim se avançaria em direção a uma perspectiva de gênero e se passaria a empregar essa categoria como potencial analítico e, talvez, de microtransformações.

Foi notado também que a relação mulheres/crack é basicamente considerada como um problema de saúde e não como uma questão psicossocial. Isso pode justificar por que se observou uma lacuna na diversificação dos estudos analisados, sobretudo por parte das Ciências Humanas. E não seriam justamente essas ciências que especialmente deveriam adotar essa óptica?

Percebe-se, portanto, que a questão das drogas tem sido tratada como problema de saúde e cabe questionar se também não deveria ser tratada como uma questão psicossocial. A importância de abordar a questão em um campo psicossocial permitiria pensar os contextos culturais e históricos em que se inicia e se dá o uso de drogas, não pensando esse uso essencialmente como problema, mas propondo reflexões calcadas na crítica. Possibilitaria, também, que as produções se preocupassem com aspectos econômicos e políticos na sua interlocução com as subjetividades.

Ainda que a maioria dos artigos reconheça as mulheres como uma população específica que faz uso de crack, a maioria deles não olha para a relação mulheres/crack através das lentes da categoria analítica "gênero". As diferenças entre homens e mulheres parecem ser tomadas como naturais e são secundarizadas nas produções. Elas não são tensionadas e tampouco se chama a comunidade para construir o pensar sobre as condições que constroem o consumo como um problema social. Desse modo, se faz relevante os/as pesquisadores/as se aproximarem mais de uma dimensão analítica de gênero, observando atentamente as estruturas e iniquidades sociais a partir de diferenças construídas e percebidas. Embora alguns estudos discutidos na Etapa II não tenham aprofundado a perspectiva de gênero que indicaram, eles permitiram mapear práticas de consumo entre mulheres que evitaram recair numa visão que reforçaria a culpabilização das usuárias e intentaram refletir sobre o contexto social. Nesse sentido, acreditamos que para se aproveitar toda a potencialidade dessa categoria analítica seria necessário assumi-la como essencial nos estudos de caráter psicossocial. Tangenciar "gênero" é insuficiente para produzir rachaduras nas "pedras" da cultura machista e misógina.

Dentre os desafios enfrentados na pesquisa, pode-se destacar a dificuldade de trabalhar com o operador "psicossocial". Embora as produções analisadas abarcassem elementos psíquicos e sociais, parece que estes costumam ser pensados como a influência de um sobre o outro e não em relação. Psicossocial não é o mesmo que levar em conta a instância psíquica e a instância social, como se cada uma delas fosse um produto subjetivo ou objetivo, respectivamente. O psico só tem sentido em conjunto com o social. Abrem-se novas questões, portanto, nesse campo de saber. Se a maioria dos estudos tratam especificamente de mulheres, porque a perspectiva de gênero ainda é pouco empregada? Quais as implicações políticas dessa lacuna no campo das drogas?

De fato, abordar os fenômenos sociais por meio de uma perspectiva de gênero não é sinônimo de trabalhar com mulheres como "sujeitos" de pesquisa. Devemos prestar atenção no sentido do substantivo "mulher" nas investigações, pois, muitas vezes, ele é empregado para designar "sexo" (mulher = fêmea), possibilitando que seu uso seja banalizado. De acordo com Scott (1989, para. 8), "no seu uso recente mais simples, 'gênero' é sinônimo de 'mulheres'". Entretanto, a confusão entre os termos podia buscar uma legitimidade acadêmica ou "sugerir que a informação a respeito das mulheres é necessariamente informação sobre os homens" (Scott, 1989, para. 9). Neste trabalho, buscou-se utilizar uma perspectiva de gênero e questionar a utilização desta no campo das drogas, tendo em vista que essa perspectiva pode apontar para as iniquidades e possibilitar que se criem formas alternas de viver.

Espera-se que as reflexões possam guiar elaborações de novos estudos e possibilitar elementos para a criação de propostas de intervenções com essa população. Acima de tudo, deseja-se que pesquisas que trabalhem com o operador "gênero" possam fazê-lo de modo claro, definindo o significado e o sentido do uso.

Este estudo apresenta limitações, pois outras combinações de descritores poderiam ser utilizadas e foram analisadas duas bases de dados. Outras revisões realizadas em outros contextos poderiam adensar as reflexões, o que permitiria aprofundar a discussão sobre as especificidades do contexto brasileiro. Ainda, esta pesquisa abarcou a perspectiva de gênero apenas em estudos que envolviam mulheres e crack. Novos estudos poderiam ser feitos abordando outras temáticas, o que ampliaria a investigação. Há que se investigar mais a fundo a noção de gênero nos estudos em geral, no sentido de ampliar o corpus de pesquisa, considerando que "gênero estabelece intersecções com modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais de identidades discursivamente constituídas. Resulta [...] que se torna impossível separar a noção de gênero das intersecções políticas e culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida" (Butler, 2015, p. 21). Esse é o maior desafio para os estudos na óptica psicossocial.

 

Referências

Almeida, D. J. R., & Quadros, L. C. T. (2016). A pedra que pariu: Narrativas e práticas de aproximação de gestantes em situação de rua e usuárias de crack na cidade do Rio de Janeiro. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 11(1), 225-237. Recuperado em 3 maio, 2017, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script= sci_arttext&pid=S1809-89082016000100018&lng=pt&tlng=pt        [ Links ]

Azerêdo, S. (2010). Encrenca de gênero nas teorizações em psicologia. Estudos Feministas, Florianópolis, 18(1), 175-188.         [ Links ]

Bastos, F. I., & Bertoni, N. (Orgs.). (2014). Pesquisa Nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras?. Rio de Janeiro: Editora ICICT/FIOCRUZ. Recuperado em 5 junho, 2016, de http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/10019/2/UsoDeCrack.pdf        [ Links ]

Blume, S. B. (1990). Chemical Dependency in Women: Important Issues. Am J Drug Alcohol Abuse, 16(3-4), 297-307.         [ Links ]

Butler, J. (2015). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade (R. Aguiar, Trans.). (8a ed.). Coleção Sujeito & História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.         [ Links ]

Correa, S. M. B. B. (2003). Probabilidade e estatística (2a ed.). Belo Horizonte: PUC Minas Virtual.         [ Links ]

Cruz, V. D., Oliveira, M. M., Coimbra, V. C. C., Kantorski, L. P., Pinho, L. B., & Oliveira, J. F.(2014a). Vivências de mulheres que consomem crack. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, 15(4), 639-649. Recuperado em 14 setembro, 2015, de http://www.redalyc.org/pdf/3240/32403221 2011.pdf        [ Links ]

Cruz, V. D., Oliveira, M. M., Pinho, L. B., Coimbra, V. C. C., Kantorski, L. P., & Oliveira, J. F. (2014b). Condições sociodemográficas e padrões de consumo de crack entre mulheres. Texto & Contexto - Enfermagem, 23(4), 1068-1076. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n4/pt_0104-0707-tce-23-04-01068.pdf        [ Links ]

Dias, A. C. (2012). Crack: reflexões para abordar e enfrentar o problema. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.         [ Links ]

Diniz, D. (2014). O machismo está presente em nossas vidas o tempo inteiro: entrevista com Débora Diniz. Revista Communicare, 14(1), 18-21. Recuperado em 11 maio, 2017, de https://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2015/08/O-machismo-est%C3%A1-presente-em-nossas-vidas-o-tempo-todo.pdf        [ Links ]

Echer, I. C. (2001). A revisão de literatura na construção do trabalho científico. Revista gaúcha de enfermagem, 22(2), 5-20.         [ Links ]

Fertig, A. (2013). História de vida de mulheres usuárias de crack. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.         [ Links ]

Fontenelles, M. J., Simões, M. G., Farias, S. H., & Fontenelles, R. G. S. (2009). Metodologia da pesquisa científica: diretrizes para a elaboração de um protocolo de pesquisa. Revista paraense de medicina, 23(3). Recuperado em 5 junho, 2016, de http://files.bvs.br/upload/S/0101-5907/2009/v23n3/a1967.pdf        [ Links ]

Galera, S. A. F. (2013). O enfrentamento do uso do crack. Revista Latino-americana de Enfermagem, 21(6), 1193-1194. Recuperado em 25 abril, 2017, de http://www.scielo.br/pdf/rlae/v21n6/pt_0104-1169-rlae-21-06-01193.pdf        [ Links ]

International Network of People who Use Drugs - INPUD (2014). A War in Women who Use Drugs. London: INPUD Secretariat. Recuperado em 13 setembro, 2015, de https://www.unodc.org/documents/ungass2016/Contributions/Civil/INPUD/DUPI-A_War_on_Women_who_Use_Drugs-Web.pdf        [ Links ]

Limberger, J., Nascimento, R. S., Schneider, J. A., & Andretta, I. (2016). Women Users of Crack: Systematic Review of Brazilian Literature. Jornal brasileiro de psiquiatria, 65(1), 82-88. Recuperado em 2 maio, 2017, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_a rttext&pid=S0047-20852016000100082&lng=en         [ Links ]

Louis, M. V. (2006). Diga-me: o que significa gênero?.Revista Sociedade e Estado, 21 (3),711-724. Recuperado em 14 novembro, 2015, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_a rttext&pid=S0102- 69922006000300008&lng=en&nrm=iso         [ Links ]

Macedo, F. S., Roso, A., & Lara, M. P. (2015). Mulheres, saúde e uso de crack: a reprodução do novo racismo na/pela mídia televisiva. Saúde &sociedade, 24(4), 1285-1298. Recuperado em 3 maio, 2017, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_a rttext&pid=S0104-12902015000401285&lng=enLinks ] Arial, Helvetica, sans-serif" size="2">

MacRae, E. (2013). A história e os contextos socioculturais do uso de drogas. In Brasil. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Prevenção de problemas relacionados ao uso de drogas: capacitação para conselheiros e lideranças comunitárias (6a ed, pp. 27-42). Brasília: SENAD-MJ; NUTE-UFSC.         [ Links ]

Malta, M., Monteiro, S., Lima, R. M. J., Bauken, S., Marco, A., Zuim, G. C. et al. (2008). HIV/AIDS Risk among Female Sex Workers who Use Crack in Southern Brazil. Revista de Saúde Pública, 42(5), 830-837. Recuperado em 12 setembro, 2015, de http://www.scielo.br/pdf/rsp/v42n5/6591.pdf        [ Links ]

Malta, M. S. (2005). Uso de drogas & HIV/AIDS entre profissionais do sexo e caminhoneiros no sul do país. Dissertação de Mestrado, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.         [ Links ]

Nery Filho, A. (2012). Introdução: por que os humanos usam drogas? In Nery Filho, A. et al. (Orgs.). As drogas na contemporaneidade: perspectivas clínicas e culturais (pp. 11-20). Salvador: UFBA/CETAD.         [ Links ]

Nuñez, M. E. (2013). A chegada do crack em Salvador: quem disse que o crack traz algo de novo?. In E. Macrae, L. A. Tavares & M. E. Nuñez (Org.). Crack: contextos, padrões e propósitos de uso (pp. 135-170). Salvador: UFBA: CETAD.         [ Links ]

Oliveira, L. G., & Nappo, S. A. (2008). Crack na cidade de São Paulo: acessibilidade, estratégias de mercado e formas de uso.         [ Links ]

Oliveira, M. M., Kantorski, L. P., Coimbra, V. C. C., Ferreira, R. Z., Ferreira, G. B., & Cruz, V. D. (2014). Consequences Related to Crack Use among Women and Reasons for Abandonment of the Drug. SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog., 10(3), 119-125. Retrieved September 14, 2015, from http://www.revistas.usp.br/smad/article/vie wFile/98729/97291        [ Links ]

Paiva, V. S. F. (2013). Psicologia na saúde: sociopsicológica ou psicossocial? Inovações do campo no contexto da resposta brasileira à AIDS. Temas em Psicologia, 21(3), 531-549. Recuperado em 11 maio, 2017, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2013000300002        [ Links ]

Pedroso, R. S., Kessler, F., & Pechansky, F. (2013). Treatment of Female and Male Inpatient Crack Users: a Qualitative Study. Trends in Psychiatry and Psychotherapy, 35(1), 36-45, Retrieved September 14, 2015, from http://www.scielo.br/pdf/trends/v35n1/a05v35n1.pdf        [ Links ]

Romanini, M., & Roso, A. (2012). Mídia e crack: promovendo saúde ou reforçando relações de dominação?. Psicologia Ciência e Profissão 32(1), 82-97.         [ Links ]

Romanini, M., & Roso, A. (2014). Midiatização do crack e estigmatização: corpos habitados por histórias e cicatrizes. Interface, Botucatu, 18(49), 363-376, 2014. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.scielo.br/pdf/icse/v18n49/1807-5762-icse-1807-576220130138.pdf        [ Links ]

Rui, T. (2014). Nas tramas do crack: etnografia da abjeção. São Paulo: Terceiro Nome.         [ Links ]

Santos, V. (2012). O que é e como fazer "revisão da literatura" na pesquisa teológica. Fides Reformata XVII, (1), 89-104. Recuperado em 26 abril, 2017, de http://mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/Fides_Reformata/17/17_1artigo6.pdf        [ Links ]

Scott, J. W. (1989). Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. (C. R. Dabat, & M. B. Ávila, Trad.). Recuperado em 26 abril, 2017, de http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/generodh/gen_categoria.html        [ Links ]

Scott, J. W. (1998). "Entrevista com Joan W. Scott". Estudos Feministas, 6(1), 114-124.         [ Links ]

Tripodi, T., Fellin, P., & Meyer, H. (1981). Análise da pesquisa social (2a ed.). Rio de Janeiro: Francisco Alves.         [ Links ]

Vallejo, S. E. R., & Pimentel, S. R. (2015). Machismo misoginia patriarcado una reflexión desde la terapia narrativa. Revista Eletrónica: Procesos Psicológicos y Sociales, 11(1), 1-31. Recuperado em 11 maio, 2017, de https://www.uv.mx/psicologia/files/2015/09/Sara-E.-Ruiz-Vallejo-Susana-Ruiz-Pimentel.pdf        [ Links ]

Vernaglia, T. C. V., Vieira, R. A. M. S., & Cruz, M. S. (2015).Usuários de crack em situação de rua - características de gênero. Ciência & Saúde Coletiva, 20(6), 1851-1859. Recuperado em 20 novembro, 2015, de http://www.scielo.br/pdf/csc/v20n6/1413-8123-csc-20-06-1851.pdf        [ Links ]

 

 

Recebido em 20/07/2016
Aprovado em 21/08/2017

Creative Commons License