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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.12 no.2 Belo Horizonte jul./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.36298/gerais2019120202 

ARTIGOS

 

Pessoas em situação de rua e seus cães: fragmentos de união em histórias de fragmentação

 

Homeless people and their dogs: relationship fragments in fragmented lives

 

 

Juliana Gomes da Cunha BaltarI; Agnaldo GarciaII

IUniversidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil. E-mail: juliana88gomes@gmail.com
IIUniversidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil. E-mail: agnaldo.garcia@uol.com.br

 

 


RESUMO

Buscou-se, neste trabalho, investigar e compreender particularidades dos relacionamentos humano-canino em pessoas em situação de rua. Doze pessoas em situação de rua da região da Grande Vitória participaram de entrevistas individuais com roteiro semiestruturado. O material coletado foi analisado qualitativamente e dividido em três temas centrais. Dos resultados obtidos, destacam-se a visão da segurança pública sobre a população de rua, complicações para o acolhimento institucional e aspectos peculiares do laço afetivo homem-cão para a população estudada. Propõe-se atenção especial às políticas públicas que regulamentam acompanhamento de animais em instituições de abrigo ou serviços semelhantes. Ainda que o arcabouço conceitual para lidar com comportamentos sociais de animais seja distinto do utilizado para a compreensão de relações humanas, a lacuna pode ser parcialmente resolvida mediante aproximação dos conhecimentos do comportamento animal e de estudos de Psicologia Social. Assim, um dos referenciais são os estudos de Hinde, autor de destaque na área do Relacionamento Interpessoal.

Palavras-chave: Relacionamento homem-cão. Situação de rua. Políticas públicas.


ABSTRACT

In this paper, we aim to investigate and understand the particularities of human-canine relationships in homeless people. Twelve homeless people from the metropolitan area of Vitória took part in individual semi-structured interviews. The collected data was analyzed qualitatively and divided into three central themes. From the results obtained, we highlight the public safety´s perception on homeless population, the complications for the permanency in institutions and the peculiar aspects of the human-canine affective bond for the studied population. Special attention is given to the public policies that regulate the monitoring of animals in shelter institutions or similar services. Although the conceptual framework for dealing with animal social behavior is distinct from that used for understanding human relationships, the gap can be partially solved through the approximation of the knowledge about animal behavior and Social Psychology studies. Thus, one of the basic references is the study of Hinde, author of prominence in Interpersonal Relationship.

Keywords: Human-canine relationship. Homeless population. Public policies.


 

 

Introdução

Pesquisas em Psicologia e Etologia têm apresentado indícios de que o envolvimento entre humanos e cães, apesar de ainda importantemente influenciado pelo poder aquisitivo, não se restringe aos que optam e têm condições financeiras de arcar com bens e serviços voltados aos animais (Martins et al., 2012). A questão da renda parece ter influência sobre estudos científicos para além do ponto de vista social, uma vez que estes têm se voltado expressivamente para a classe média e acabam por negligenciar pessoas em outras condições, tais como a população em situação de rua (Irvine, 2013).

Conforme Vieira, Bezerra e Rosa (2004), a definição da situação de rua perpassa estados de permanência que podem seguir um continuum, se considerado o tempo de estada como determinante. Assim, os estados seguem de "ficar na rua" a "ser da rua", passando pela situação intermediária "estar na rua". O esquema formulado pelas autoras ilustra o mencionado, com a adição de características de moradia, trabalho e grupo de referência.

 

Quadro 1

 

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Brasil, 2012) também discorre sobre a população em situação de rua, caracterizando-a como um grupo heterogêneo de pessoas que se encaixam em situação de pobreza extrema, não possuem moradia regular e cujos laços familiares são frágeis ou interrompidos por algum motivo. Isso leva esses indivíduos a utilizarem "logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente" (Brasil, 2012). Para lidar com o fenômeno, são ofertados serviços de acolhimento institucional (abrigos institucionais e casas de passagem) e repúblicas. Os serviços apresentam particularidades, mas mantêm o propósito de garantir condições de estada, privacidade, convívio e endereço de referência às pessoas em situação de rua e desabrigo. Destaca-se, contudo, que a disponibilidade para acomodação de animais de estimação depende da realidade de cada local (Brasil, 2012). A facultatividade da existência de espaços para animais nesses serviços de acolhimento acaba por dificultar ou até impossibilitar a permanência em tais instituições (Martins, Capelli, Casamassa & Lima, 2013; Irvine, 2013). Com isso, defende-se o acompanhamento do animal de estimação em serviços de acolhimento, tendo em vista que "à semelhança dos núcleos familiares, os cães e seus donos constituem, nesse universo, uma evidente unidade" (Queiroz, 2010, p. 195).

O laço afetivo com animais de estimação pode ser muito forte ou representar o único elo afetivo da pessoa em situação de rua, de acordo com Martins et al. (2013). Bonas, McNicholas e Collis (2000), ao partirem para análises de relacionamentos entre humanos e cães em comparação ao de humanos entre si, concordam que ambos apresentam características em comum, o que permite que sejam analisados de formas similares. Apesar disso, Bonas et al. (2000), assim como Merizio e Garcia (2006), concordam que o que os animais trazem para a dinâmica de um relacionamento é diferente do trazido por humanos.

Robert Hinde (1997) parte do comportamento cotidiano para uma ciência do relacionamento interpessoal, procedendo a uma análise do comportamento social em diferentes níveis de complexidade, a saber: os processos psicológicos envolvidos, o comportamento individual, as interações, os relacionamentos, os grupos sociais e a sociedade.

Segundo o autor, cada um dos níveis está em processos contínuos de criação, degradação e alteração, por meio das relações dinâmicas e dialéticas que os envolvem. Sendo assim, os relacionamentos continuamente influenciam e são influenciados pelas interações que o compõem, e isso envolve cada um dos participantes e é influído por processos psicológicos, estrutura sociocultural de valores, crenças, instituições, características dos grupos e da sociedade em que se inserem, e assim por diante.

Assim, adotando a ideia de níveis de complexidade social proposta por Hinde (1997) - sendo eles: interações, relacionamentos, grupos e estrutura sociocultural -, é sabido que os primeiros envolvem intercâmbios limitados no tempo. Relacionamentos, por sua vez, envolvem uma sequência de interações entre indivíduos, sendo, por isso, mais expandidos cronologicamente. Salvas as distinções, há nos dois níveis de complexidade um grande envolvimento de forças subjetivas como esperanças, atitudes, expectativas e emoções.

O autor considera que relacionamentos comportam trocas, ou seja, um "dar e receber" que ocorre tanto em via de reciprocidade quanto de complementariedade.

Além disso, relacionamentos abrangem aspectos como conflito e poder, intimidade em graus variados, percepção interpessoal, satisfação, compromisso e autonomia, todos ressaltados por Hinde (1997). Tendo em vista essa série de características, é justificável o uso do termo "relacionamento" neste trabalho para referenciar o envolvimento entre humanos e cães, a exemplo do adotado para relacionamentos familiares e amorosos.

Indo além, Hinde (1997) considera o dinamismo uma característica de todos os níveis de complexidade do comportamento social, aos quais se incluem os relacionamentos. Tem-se observado que o apoio e o companheirismo caracterizam tais vínculos (Hinde, 1997; Queiroz, 2010) e que há evidências de que o relacionamento do ser humano com o animal de estimação, especialmente quando o animal é um cão, proporcione elementos de suporte comparáveis aos fornecidos por outros humanos (Bonas et al., 2000), podendo gerar até mesmo a predileção por esse tipo de relação. Para Queiroz (2010), a predileção pelo laço afetivo com animais de estimação pode ocorrer, tendo em vista que, diferentemente de vínculos afetivos com seres humanos, as expectativas na relação com cães não perpassam o receio do abandono, por exemplo.

Além de representarem fonte de afeto e lealdade, o elo entre cães e pessoas em situação de rua parece destacar-se também por conta de seu caráter protetivo em vista da vulnerabilidade à qual estão suscetíveis (Queiroz, 2010). Nesse sentido, importa ressaltar o papel intermediador do animal de estimação entre a pessoa em situação de rua e a população em geral. Para Queiroz (2010), não é incomum que a população em geral demonstre certo compadecimento pela pessoa em situação de rua quando em companhia do animal de estimação. Sobre isso, Taylor, Williams e Gray (2004) verificaram que pessoas em situação de rua que não viviam em companhia de cães demonstraram maior probabilidade a iniciar conversas com o público.

Pelo exposto, consideramos que as relações humano-humano e humano-cão merecem ser estudadas a partir da interlocução entre os conhecimentos sobre o comportamento animal e sobre a Psicologia Social (Merizio & Garcia, 2006). Para isso, objetivamos com este trabalho investigar, apontar e compreender relacionamentos estabelecidos entre indivíduos em situação de rua e cães com os quais convivem. Mais especificamente, pretendemos: a) identificar atividades cotidianas realizadas pelos pares homem-cão; b) analisar as concepções dos indivíduos sobre o cão em suas vidas; c) conhecer as repercussões que esse relacionamento produz na vida do indivíduo; e d) identificar como serviços municipais de assistência da região metropolitana da Grande Vitória se posicionam em relação à possibilidade de o indivíduo ter a companhia do cão durante a estada em instituições.

 

Método

Participantes

Participaram deste estudo 12 pessoas com idade entre 24 e 65 anos, do sexo masculino ou feminino, em situação de rua na região metropolitana da Grande Vitória (ES), em um tempo entre 2 a 30 anos, e que se relacionam com cães, ou seja, que mantêm um vínculo constante e de longo prazo com esses animais. Foram convidadas a partir de indicações de profissionais dos serviços de assistência à população de rua das prefeituras dos municípios em questão; de moradores(as) que afirmavam conhecer ou já terem visto pessoas com as características do público-alvo; dos(as) próprios(as) participantes; e, por fim, a partir de buscas sistemáticas por bairros diversos dos municípios.

Procedimentos de coleta de dados e instrumento

Mediante concordância com a participação na pesquisa, o(a) participante era instruído(a) acerca do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, para que o documento fosse assinado. Após isso, era convidado a responder a uma entrevista individual de roteiro semiestruturado, contendo questões relativas a dados sociais e econômicos; aspectos dos relacionamentos interpessoais; histórias de vida que envolvam relacionamento com cães1 e o uso de serviços de assistência à população de rua, seja na presença ou na ausência do(s) cão(es). Optou-se pela modalidade de entrevista episódica, que tem como princípio fundamental a solicitação ao participante de que rememore situação específica e a relate (Flick, 2008). Em adição, foram utilizados dados provenientes de conversa informal e voluntária entre a pesquisadora e três assistentes sociais do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) do município de Vitória, que se voluntariaram para responder algumas questões e são referenciadas neste estudo pelas siglas F.S.1, F.S.2 e F.S.3. Em suma, a utilização desse material se deve à pertinência e relevância de seu conteúdo, uma vez que as funcionárias são conhecedoras e observadoras externas do fenômeno em estudo. Importa ressaltar que todas as entrevistas e conversas informais foram gravadas - mediante autorização dos participantes - em mídia eletrônica, e que foram utilizados nomes fictícios para identificação dos(as) participantes neste estudo.

Procedimentos de organização e análise dos dados

Seguindo o proposto por Jovchelovitch e Bauer (2008), as entrevistas foram transcritas e o material foi processado seguindo uma redução gradual do material qualitativo, que envolveu a redução progressiva em rodadas de séries de paráfrases. Dessa forma, passagens inteiras ou parágrafos foram parafraseados em sentenças sintéticas e posteriormente sintetizadas em palavras-chave (Jovchelovitch & Bauer, 2008). Em seguida, o material foi codificado e subdividido em categorias, agrupados e, então, organizados, discutidos e comparados à literatura pertinente. Por fim, os resultados e a discussão deste estudo foram organizados e expostos por temas, de acordo com similaridades de conteúdo.

 

Resultados e discussão

Após análise qualitativa, o material foi dividido em três grandes temas: Caracterização geral dos relacionamentos (1); Concepções dos participantes acerca dos cães em suas vidas (2); e Repercussões individuais e sociais do relacionamento (3), apresentados a seguir.

Caracterização geral dos relacionamentos

O Quadro 2 expõe o número de cães com que cada participante se relaciona, seus respectivos nomes e o tempo de convívio entre eles.

Diante do histórico de relacionamentos homem-cão dos(as) participantes, uma questão permeia, especialmente, os relacionamentos interpessoais: a ocorrência de evolução constante. Novas configurações surgem com a incidência de novos vínculos e desmantelamento de outros. Conforme Hinde (1997), os relacionamentos, apesar de diversos, se desenvolvem em quatro estágios parcialmente definidos: início, crescimento e fortalecimento, manutenção e declínio. Nessa perspectiva, o estágio de início envolve primeira impressão, atração e desejo de iniciar um relacionamento. Em relação ao crescimento e ao fortalecimento, fala-se em identificação entre o par, fortalecimento do vínculo, tabus, confiança, entre outros aspectos. A manutenção engloba a estabilidade, estratégias de manutenção, ajustes ou término. Por fim, fatores pessoais e externos se sobressaem e dão lugar ao estágio de declínio e dissolução.

Início, crescimento e fortalecimento dos relacionamentos

De modo recorrente, dois fatos foram destaque nos históricos dos participantes acerca da chegada dos cães a suas vidas: o abandono ou a doação dos animais. O Quadro 3 expõe alguns desses exemplos.

Percebe-se, nesses casos, o crescimento e fortalecimento das relações com os cães, percebidos não apenas nos participantes como também no comportamento dos próprios cães, que, como mencionado por muitos, passaram a segui-los e acompanhá-los por onde vão. É notável, portanto, a existência de uma reciprocidade, já citada por Costa (2009), pois as pessoas oferecem acolhimento e os cães retribuem com o carinho e a segurança de que não as abandonarão. Assim, o encontro entre o cão e uma pessoa em situação de rua "[] é, sem dúvidas, um símbolo de mútuo reconhecimento de identidades perdidas" (Sposati, 2009, p. 193), característica do estágio de crescimento e fortalecimento (Hinde, 1997). Então, se o cuidado deixa marcas fortes no início desses relacionamentos, estratégias no mesmo sentido se fazem presentes, em geral, como uma das formas de sua manutenção.

Manutenção e término dos relacionamentos

Quando questionados sobre cuidados com os cães, muitos(as) relataram inicialmente apenas o atendimento às necessidades primárias como alimentação, água e higienização, apesar de geralmente citar questões afetivas. Verificou-se nos relatos que, além dos cuidados com a higiene - especialmente o ato de dar banho -, é recorrente a preocupação em fornecer alimentação balanceada para os cães, o que reflete práticas consideradas responsáveis (Langoni et al., 2011). Cabe ressaltar, no entanto, que a vida nas ruas por vezes impõe limites e dificuldades que acabam por repercutir no trato com os animais. De toda forma, em muitos casos - como os de Miguel, Gabriel e Fagner -, há relatos de amenização das limitações com recebimento de ajudas vindas de domiciliados, conforme Quadro 4.

Com isso, é notória certa sensibilização social diante do par homem-cão em situação de rua, que, segundo Taylor, Williams e Gray (2004), provém mais das mulheres do que dos homens. Fato é que, em alguns casos, por meio da soma das práticas dos próprios participantes e dos domiciliados - mesmo que pontuais - para com os cães, são adotados cuidados que os aproximam da chamada guarda responsável. Para Langoni et al. (2011), esse tipo de guarda envolve, dentre outros cuidados, a vacinação, a alimentação, o conforto, a castração e a vermifugação. Assim, muitas dessas medidas parecem ser adotadas ao menos por parte dos(as) participantes, ainda que limitadas pelas condições precárias próprias do viver nas ruas.

Diante da ideia de zelo para com os animais, é afastada a concepção recorrente e generalizante produzida pelo senso comum de que os cães que convivem com pessoas em situação de rua são maltratados e adoecidos. Em contrapartida ao tratamento dispensado a eles, os cães parecem retribuir oferecendo não apenas carinho, como também proteção - como já destacado nos trabalhos de Irvine (2013) e de Queiroz (2010) sobre a relação entre pessoas em situação de rua e cães -, uma vez que 11 dos(as) 12 participantes da pesquisa fizeram menção ao fato de se sentirem protegidos(as) pelos animais.

O estágio de manutenção dos relacionamentos compreende outro fator que cabe ser destacado: as estratégias de término (Hinde, 1997). Esse tipo de estratégia foi citado por dois participantes, ainda que o término não tenha se concretizado de fato ou definitivamente, considerando o comparecimento de questões afetivas urgentes. Jorge relata já ter pensado em sacrificar Paquita, acometida por uma doença: "Aí, eu ia sacrificar ela, mas eu fiquei com pena dela, porque ela é muito companheira. Onde é que eu vou ela vai atrás".

Miguel, por sua vez, menciona o desfecho da ocasião em que doou Bolinha para outra pessoa por conta de mudança para uma moradia onde a cadela não era aceita:

[...] dei [Bolinha] pro cara lá na Praia do Canto, porque no lugar que eu morei uma vez o cara não aceitava cachorro. Aí eu falei pra ele: "Você não solta a cachorra! Se você soltar, ela vai vir atrás de mim". Aí quando foi no outro dia, eu cheguei de manhã cedo, fui trabalhar, aí o cara topou comigo: "Aí, Miguel, a cachorra sumiu". Aí eu peguei, virei pra ele e falei: "É aquela ali?"

Concepções dos(as) participantes acerca dos cães em suas vidas

De acordo com Tesche, Cunha e Ciscon-Evangelista (2011), é comum a tendência à humanização do cão diante de um corriqueiro contexto de afetividade pulsante, o que pôde ser percebido numa das falas de Miguel, na qual se refere à Bolinha como "pessoa": "[...] Ela que era minha companheira da rua, não deixava ninguém chegar perto. Aí eu amarrava ela. E depois que eu vim pra cá, eu soltei. No entanto, ela, assim, ela é uma pessoa que protege a gente".

Além disso, a humanização comparece quando, em referência aos seus cães, os(as) participantes utilizam termos que denotam relacionamentos, em essência, interpessoais. Sendo assim, semelhantemente ao verificado por Irvine (2013) em estudo norte-americano, os cães foram aqui recorrentemente referidos como membros da família ou amigos. Somando-se a essas concepções, em 11 dos 12 relatos, tornou-se evidente material que dá forma a uma terceira categoria: a do "cão que protege". Retomaremos esse ponto mais à frente.

O cão como um membro da família

Na atualidade, são muitos os casos em que cães são concebidos por humanos como membros de sua família (Schuch, 2009; Silva, Carvalho, Klein & Quessada, 2009). Santana, Macgregor, Souza e Oliveira (2004) associam esse fenômeno a um processo de urbanização em que as pessoas, ao se isolarem em casa, acabam estabelecendo vínculos com cães e gatos. Entretanto, tal fenômeno não se restringe àqueles a quem cabe o "isolamento em casa", ou seja, os domiciliados. Irvine (2013), por exemplo, aponta que muitos participantes de seu estudo - pessoas norte-americanas em situação de rua que convivem com pets - os descreveram como familiares.

No presente estudo, Luis, Gabriel e Miguel também o fizeram, mais especificamente se remetendo aos cães como filhos, o que confirma a hipótese de Irvine (2013), que afirma tendência a conceber o animal como filho ou criança, não como irmão ou pai. Conforme Luis: "Eu falei: 'Ah! Quer saber de uma coisa? Moro na rua, então eu vou, vou adotar um filho. Um filho pra poder caminhar junto comigo'". Miguel, por sua vez, menciona: "[...] Igual eu falei pra você, eu pra mim, isso aí eu considero igual assim, ter um filho. Eu não gosto assim, de maltratar cachorro.

Com isso, é trazida à tona uma ideia de dependência, e, por conseguinte, de responsabilidade e cuidado para com os cães, como refletido na fala de Gabriel: "Tudo o que eu como, ele come também".

Essa reflexão também é possível pela fala de Miguel: "Eu sinto assim, muito amor e carinho, né? Porque a gente acostuma. Igual assim, igual se a gente pegar amor por uma criança. [...] Eu tenho dó de dar ela pros outros, porque não consegue ficar longe de mim".

Ademais, Irvine (2013) cita que nos relatos em que comparece esse tipo de concepção familiar, a ênfase tende a recair sobre a intensidade e profundidade relacional, especialmente quando em comparação com relações humanas. Nesse sentido, Gabriel afirma: "Pelo que eu já passei na minha vida, não consigo acreditar em ninguém [...] A única companhia que eu tenho diariamente é meu cachorro".

Nesse contexto, o autor menciona que outra concepção comum é justamente a do cão como amigo.

O cão-amigo

Para Irvine (2013), é comum que entre pessoas em situação de rua que consideram seus cães como amigos a ênfase das narrativas recaia sobre dimensões como companheirismo e o conforto inerentes ao relacionamento. Aqui, a relevância dessas dimensões se faz notória nos relatos dos participantes, como pode ser observado no Quadro 5.

De outro modo, o companheirismo e a afetividade entre os pares comparecem também em relatos de conversas, na medida em que os participantes julgam estabelecer com os cães uma comunicação genuína, baseada em um entendimento mútuo. Abigail, por exemplo, relatou uma ocasião em que o cão teria literalmente pedido água, pronunciando, para tanto, a palavra: "[...] a gente viu que ele tava querendo alguma coisa. A gente perguntou: 'Pai, o que você quer?' [Abigail emite um som semelhante a um latido]. Ele pediu água! A gente ficou em estado de choque! []".

Conforme Hinde (1997), a comunicação, seja verbal ou não verbal, se trata de componente elementar para a compreensão dos relacionamentos de modo geral. Talvez, essa seja uma das razões para que a comunicação entre humanos e cães venha despertando o interesse de estudiosos diversos, que têm comprovado grande habilidade canina em compreender sinais de comunicação humanos (Cunha & Garcia, 2013).

Com isso, observou-se que a dita relação de amizade homem-cão se aproxima da amizade típica, à semelhança dos achados de Merizio e Garcia (2006), porque, além do companheirismo, comparecem elementos como intimidade, afeição e interdependência voluntária (Hays apud Hinde, 1997), reconhecimento, participação, espontaneidade, aceitação e prazer mútuo (Davis & Todd apud Hinde, 1997).

O cão que protege

Em meio à recorrência de relatos do cão como protetor, alguns(umas) participantes chegaram a detalhar situações perigosas ou problemáticas em que se sentiram protegidos(as) pelos caninos em questão. Ismael, por exemplo, relata já ter sido protegido diversas vezes por Chokito e Caramelo: "Com certeza! Vários [os episódios em que os cães o protegeram]. Principalmente uma abordagem de polícia que já chegou me abordando, me jogando na parede. Aí eles começaram a latir".

Esse relato, inclusive, denuncia a relação, geralmente muito conturbada, entre a população em situação de rua e os agentes de segurança pública, o que já havia sido observado por Kunz (2012), que mencionou a truculência de agentes de segurança do município de Vitória para com indivíduos em situação de rua, resultando muitas vezes em sensação de medo e insegurança. Segundo a autora, "As queixas sobre espancamentos são inúmeras, as incidências de violações de direitos são quase uma constante contra esses sujeitos. O povo da rua muitas vezes se cala e não denuncia por medo de represália na calada da noite" (Kunz, 2012, p. 104).

A autora também ressalta que a visão da segurança pública sobre a população de rua muitas vezes é pautada em estereótipos que perpassam tanto a cor da pele quanto a aparência desgastada pelas condições de rua. Todavia, as agressões - muitas vezes revidadas - contra pessoas em situação de rua nem sempre partem dos agentes de segurança, podendo advir de qualquer sujeito disposto a violentar os que habitam espaços públicos. Segundo Moura Jr., Ximenes e Sarriera (2013), por exemplo, é comum que essa população seja vítima de roubos, o que foi observado nos relatos de alguns sujeitos do presente estudo, conforme Quadro 6.

Destaca-se um elemento que comparece na maioria dos relatos mencionados: a proteção noturna provida pelos cães. Nesses termos, a presença canina se soma a artifícios que garantem algum grau de segurança aos indivíduos enquanto buscam pernoitar. Isso porque, conforme Kunz (2012) e Moura Jr. et al. (2013), o quadro de vulnerabilidade, insegurança e medo vivido nas ruas se torna ainda mais expressivo à noite.

A qualquer momento as pessoas em situação de rua podem ser despertadas com chutes ou pontapés, com frequência desferidos por aqueles que se ocupam da segurança pública. Assim, faz-se necessário ter sempre alguém na espreita enquanto os "irmãos da rua" (Kunz, 2012) dormem. Sendo assim, confirma-se a hipótese levantada por Queiroz (2010) em seu trabalho intitulado "O último vínculo: 'moradores de rua' e seus cães na cidade de São Paulo", conforme o qual, além de fornecer afeto, os cães desempenham o papel de protetores diante das vulnerabilidades enfrentadas cotidianamente.

Repercussões individuais e sociais do relacionamento

Há indícios de que quando os humanos que compõem pares com cães se encontram em situação de rua, as repercussões relacionais tendem a tomar proporções expressivamente maiores se comparadas à população em geral (Singer, Hart & Zasloff, 1995). Queiroz (2010) e Costa (2009) chegam a dizer que, por vezes, os cães se tornam o único vínculo afetivo dessas pessoas, que, por sua vez, auxiliam os animais na manutenção de suas vidas. Então, ao que tudo indica, são produzidas repercussões classificadas como positivas para ambos.

Contudo, nem sempre as repercussões se restringem ao par, podendo atingir seu âmbito social/grupal, pois os grupos sociais dialeticamente afetam e são afetados pelos relacionamentos (Hinde, 1997). É dito, por exemplo, que em uma relação cão-pessoa em situação de rua regida por falta de cuidados básicos com saúde e higiene do animal, pode haver propagação de doenças por todo um grupo (Souza, 2011). Sendo assim, questiona-se a repercussão individual e social das formas de relacionamentos com cães nos sujeitos do presente estudo. Para fins de discussão dos dados que respondem a essa questão, adotou-se a seguinte sequência de subitens.

Repercussões positivas

Como repercussões positivas, destacaram-se nos relatos: a assunção de novas responsabilidades - muitas vezes em decorrência da própria relação de dependência dos pets -; a proteção; o papel intermediador e o bem-estar, consequência do companheirismo e da relação de amizade que se estabelece, conforme os exemplos do Quadro 7.

Na fala de Abigail, nota-se um aspecto relevante já retratado na literatura (Bonas, McNicholas & Collis, 2000): o conforto e/ou o bem-estar provenientes do relacionamento entre cães e humanos em situação de rua ou não. Cabe acrescentar o relato de Célia, que diz passar bastante tempo "abraçada com o cachorro", o qual, segundo ela, auxilia na superação de seu quadro depressivo.

De outra forma, Ismael relata ser ajudado pelo cão, na medida em que as pessoas se aproximam dele quando na companhia canina, configurando o que Queiroz (2010) já havia observado, ou seja, o papel de intermediador do cão entre a população em geral e as pessoas em situação de rua. Somando-se a isso, o relato de Luis busca explicar esse olhar diferenciado de alguns domiciliados, visto como algo prevalentemente positivo e vantajoso.

A partir das falas acerca da aproximação e intervenção de domiciliados nas vidas dos(as) participantes por meio da presença canina, é possível remontar dois movimentos correntes e controversos admitidos até o momento no presente trabalho: a) o reconhecimento dos cães como dotados de sentimentos e direitos, como os de gozar de cuidados que lhes garantam saúde e conforto (Chalfun, 2009; Gutiérrez, Granados & Piar, 2007); e b) o processo de invisibilidade e segregação da pessoa em situação de rua, em que têm constantemente seus lugares e valores humanos postos em xeque (Lima & Moreira, 2009).

Assim, tudo indica que, mesmo não intencionalmente, o relacionamento pessoa em situação de rua-cão por vezes traz consigo uma repercussão instrumental, uma vez que retira o(a) vivente nas ruas do papel de "coisa" e o(a) insere no papel de pessoa, na medida em que a população em geral lança sobre ele um novo olhar, de um ser dotado de emoções refletidas em suas ações para com os animais. A partir disso, reforça-se que a linha divisória entre o que pode ser enquadrado como repercussão negativa e positiva parece tênue, o que nos leva a admitir o julgamento dos(as) próprios(as) participantes como definidor, já que os fatos incidem direta e prioritariamente sobre suas vidas. Nesses termos, cabe mencionar que o mesmo olhar do público tido como vantajoso para alguns é rechaçado por outros(as).

Repercussões negativas

Dentre os aspectos negativos destacam-se os relatos do Quadro 8.

A fala de Abigail demonstra que algumas pessoas tendem a se aproximar dela e de seus companheiros quando ela e seus pares estão em companhia dos cães com os quais convivem, o que pode ser motivado por uma aparente sobreposição de valores caninos sobre os humanos. Para Lorenz (1997), no entanto, esse julgamento se trata de um equívoco eticamente perigoso, uma vez que pensar os animais como superiores ao homem "significa a negação satânica do desenvolvimento criativo no mundo dos organismos vivos" (p. 100).

Inversamente a essas, porém, há pessoas que tendem a considerar o relacionamento entre cães e pessoas em situação de rua como repulsivo e/ou problemático, como exemplificado na fala de Luis. Dentre as causas para tanto, contextos de procriação exagerada e propagação de doenças são destacados por F.S.2, que também destaca as medidas adotadas pelo Seas nesses casos. Outra repercussão negativa refere-se à impossibilidade de utilizar transportes coletivos com seus pets, para que esses os acompanhem nos deslocamentos cotidianos ou eventuais. Deixar o cão sozinho nas ruas é visto como negativo, ainda que nesses casos o afastamento se dê momentaneamente, no intervalo do deslocamento entre o local de acomodação habitual e outro espaço da cidade em um mesmo dia, por exemplo.

Por conseguinte, quando levadas em conta as possibilidades de afastamentos mais duradouros, a negação parece persistir e se avolumar fortemente. A fala de Miguel retrata a realidade vivida pela força dos vínculos estabelecidos entre pessoas em situação de rua e seus animais de estimação, ou seja, a dificuldade de inserção em instituições de albergamento ou de tratamento para dependência química, o que por vezes representa vislumbre de superação de vidas imersas em estigmas e quebras de vínculos sociais. Fagner2 menciona ter recebido oferta de tratamento em instituição mantida por uma igreja, mas relata igual preocupação quanto à possibilidade de levar o pet consigo.

Esses relatos demonstram que a impossibilidade de se manterem com seus cães é tida como limitadora à entrada e permanência em instituições de abrigo/albergamento, assim como observado por Martins et al. (2013) e Irvine (2013). No caso da região metropolitana da Grande Vitória, os municípios de Serra, Cariacica, Vitória e Vila Velha não apresentam atualmente esse tipo de acomodação, fato que se relaciona a uma série de questões elencadas por trabalhadores à frente dos serviços municipais dessa natureza, que parecem inseridos em uma realidade comum de vulnerabilidades e dificuldades. Moradores domiciliados de Vila Velha, por exemplo, relatam o incômodo produzido pela presença de pessoas em situação de rua que ocupam imóveis vizinhos aos seus, quando alugados pela prefeitura para esse fim. Com isso, eclodem denúncias de aumento de violência e sujeira na região em que o serviço se instala, culminando na "expulsão" das pessoas do imóvel (Vila Velha - comunicação pessoal), o que torna ainda mais difícil a possibilidade de acomodar animais.

Outras justificativas para a não permanência dos pets nessas instituições são limitação do espaço físico e impossibilidade de arcar com despesas, como relatado pela coordenação de um abrigo de Serra (Serra - comunicação pessoal). Contudo, ainda que legítimas as limitações, ressalta-se a ausência de alternativas a elas. Nesse ponto, o serviço de abordagem social de Vitória se difere dos demais, uma vez que F.S.1 e F.S.2 refletem a preocupação do serviço em discutir meios para que o convívio entre usuários e cães seja mantido.

[...] por exemplo, uma possibilidade que a gente pensou pros catadores, até em relação a isso, são as repúblicas. Porque aí é um espaço, é uma casa que vai ser deles, eles vão dividir entre 5 pessoas que convivem juntas na rua, que têm uma vinculação. [...] (F.S.2)

E a gente sempre pensa assim, quando a gente vai fazer algum projeto, alguma coisa, nesses fatores que podem dificultar o acesso da população em situação de rua ao serviço [] (F.S.1)

 

Considerações finais

O relacionamento entre humanos e cães, apesar de manter semelhanças com amizades ou relacionamentos familiares, apresenta peculiaridades, sobretudo por se tratar de relacionamento interespécies e por se tratar de um grupo repleto de particularidades, como o de pessoas em situação de rua. No presente estudo, temas importantes surgiram, como a visão da segurança pública sobre a população de rua, complicações para acolhimento em instituições e aspectos característicos do tipo de laço afetivo.

Um aspecto observado nas entrevistas foi a tendência à concepção do cão como protetor, o que não é verificável de modo relevante entre grupos de domiciliados, tanto de classe média alta quanto de classe baixa, ainda que nesse segundo grupo a menção a esse papel canino seja menos discreta (Tesche, Cunha & Ciscon-Evangelista, 2011). Esse fato, segundo as autoras, possivelmente se relaciona aos contextos habitacionais e tipos de moradias, tendo em vista que geralmente as habitações se tratam de casas, em contraposição a edifícios, que, frequentemente, se resguardam por meio de monitoramentos eletrônicos e humanos. Sendo assim, utilizar o cão como artifício para a segurança parece mais frequente entre a classe baixa, o que acarreta na percepção do cão como protetor com maior frequência, considerando que vulnerabilidades no contexto das ruas são ainda maiores e mais diversas.

Os resultados demonstraram também que os relacionamentos homem-cão constituídos pelos(as) participantes se diferem dos constituídos por domiciliados(as) principalmente pela dificuldade de separação do animal, seja momentânea, seja duradoura. Insere-se, nesse sentido, a consideração sobre a ausência de espaço para que tais pessoas deixem seus cães em algum grau de segurança, prática comum entre domiciliados(as). Sendo assim, tudo indica que para os participantes se separar do cão envolve deixá-lo vulnerável aos reconhecidos perigos das ruas. Como consequência, é comum constituir-se entre os pares uma relação simbiótica, com constante acompanhamento do cão nas atividades humanas, uma vez que ambos parecem mutuamente protetores e protegidos, o que também foi observado por Queiroz (2010).

Todavia, apesar de geralmente usufruírem fortemente do relacionamento como um todo, essa "unidade" (Queiroz, 2010) nem sempre é considerada positiva pelos(as) participantes, em vista das limitações consequentes dessa unidade. Dessa forma, considera-se que, assim como nos relacionamentos interpessoais, os relacionamentos homem-cão são processos, trazendo afetações positivas e negativas vividas pelo membro do par (Casado, 2012).

Quanto aos aspectos negativos, observou-se que instituições de abrigamento adotam práticas vinculadas a receios da população em relação aos pets (Orlandi, 2011; Soto, de Souza, Risseto & Lima, 2006), como propagação de doenças e reprodução exacerbada, tornando, por vezes, necessárias intervenções do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Entretanto, devido ao grande volume de animais errantes ou criados nas ruas, nem sempre é possível que suas ações atinjam a todos. Nesse contexto, é comum membros da sociedade em geral se envolverem voluntariamente, como observado em falas de participantes.

Todavia, para além de estigmatizar serviços como CCZs como ineficazes, faz-se mister analisar as condutas implementadas, com o intuito de propor melhorias em sua abrangência e resolutividade. Parece interessante buscar envolver a população em situação de rua nas ações do serviço para além da aplicação de recursos punitivos (como ameaças de recolhimento do animal), evidenciando, por exemplo, a importância do recolhimento das fezes dos animais das vias públicas, cuidados básicos e necessidade da castração.

Seguindo o mesmo raciocínio, propõe-se atenção especial às políticas públicas que regulamentam o acompanhamento de animais a seus "donos" em abrigos ou serviços de natureza semelhante. Entre as alternativas apontadas pelas funcionárias do Seas - Bento Ferreira, está a união com debates dos serviços de outras localidades da Grande Vitória, a fim de que sejam construídas medidas realmente eficazes para lidar com o fenômeno na região.

 

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Recebido em: 05/05/2017
Aprovado em: 16/05/2017

 

 

1 Em consonância com o utilizado por Irvine (2013) em contexto norte-americano.
2 Fagner representa uma parcela significativa da população brasileira que tem sua situação de rua vinculada ao uso/abuso de álcool e drogas, a saber: 35,5% (MDS, 2009).

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