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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

On-line version ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.15 no.1 Belo Horizonte Jan./June 2022

http://dx.doi.org/10.36298/gerais202215e17485 

ARTIGOS

 

Oportunidades e mobilidades de jovens em contextos de precariedade social

 

Opportunities and mobilities of young people in contexts of social precariousness

 

 

Sabrina Dal Ongaro SavegnagoI; Lúcia Rabello de CastroII

IUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: sabrinadsavegnago@gmail.com. (orcid.org/0000-0003-1052-1005)
IIUniversidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: lrcastro@infolink.com.br. (orcid.org/0000-0003-1238-4497)

 

 


RESUMO

Neste artigo, lançamos o olhar para a situação de jovens das classes populares do Rio de Janeiro, que vivem em contextos marcados pela incerteza, falta de garantias e precariedade social. Buscamos compreender como os jovens, movendo-se entre diversos espaços, lidam com a incerteza e a imprevisibilidade e oportunizam, em um contexto instável e precário, algo que é bom e tem valor para eles. Participaram da pesquisa 51 jovens, estudantes de duas escolas públicas municipais do Rio de Janeiro, com idades entre 14 e 16 anos. Foram realizados três grupos de discussão, que ocorreram no formato de oficinas. Foi possível observar situações em que os jovens, mesmo quando inseridos em contextos incertos e desfavoráveis em termos de garantias e oportunidades objetivas, oportunizam para si condições para ser e fazer o que desejam.

Palavras-chave: juventude; oportunidade; mobilidade.


ABSTRACT

In this study, we looked at the situation of young people from popular classes on Rio de Janeiro, who live in contexts marked by uncertainty, lack of guarantees, and social precarity. We seek to comprehend how young people, moving between different spaces, deal with uncertainty and unpredictability and how they opportunize, in a precarious and unstable context, something that is good and has some value to them. A total of 51 youths participated in this research, students from two public municipal schools of Rio de Janeiro with ages between 14 and 16. Three discussion groups took place in the format of workshops. It was possible to observe situations in which young people, even when inserted in uncertain and unfavorable contexts in terms of guarantees and objective opportunities, still opportunize for themselves the conditions to be and to do what they want.

Keywords: youth, mobility, opportunity.


 

 

Os processos de subjetivação e o posicionamento do sujeito diante do mundo e da vida têm sofrido mudanças significativas na contemporaneidade. A literatura dos últimos anos sobre o curso de vida refere que, na modernidade, a representação do tempo dava ênfase à linearidade, à irreversibilidade, à predição e ao controle em relação ao curso da vida (Franch, 2008; Melucci, 1997). Por outro lado, a sociedade ocidental atual encontra-se marcada pela velocidade das novas tecnologias, pelo ritmo acelerado das mudanças sociais, pela incerteza em relação ao futuro, pela predominância da ideia de risco, pelo imediatismo e pela desvalorização da experiência e do passado como um guia para a ação (Augusto, 2007; Franch, 2008).

Este cenário contribui para uma descronologização ou deslinearização do curso de vida (Groppo, 2010), bem como para o enfraquecimento da noção de projeto de vida. O tempo do agora adquire preferência para o sujeito como referência para a compreensão de si mesmo e do ambiente (Augusto, 2007; Carneiro, 2002; Leccardi, 2005) e o curso de vida não pode mais ser considerado previsível e planejável como foi considerado na modernidade.

Estas profundas mudanças, as quais impactam diretamente nas formas como as biografias dos jovens vêm se definindo nos últimos anos, têm sido destacadas por pesquisadores europeus, como Melucci (1997), Leccardi (2005) e Pais (2012), os quais têm se dedicado ao estudo sociológico da juventude. Eles referem como uma questão contemporânea o fato de que os jovens precisam lidar com um ambiente social altamente arriscado e incerto, o que leva a uma situação de descrença ou temor em relação ao futuro. A precariedade, o risco, a falta de garantias e certezas em relação à vida e a deslinearização biográfica compõem um fenômeno que começou a ser vivenciado e tornou-se objeto de preocupação nas sociedades europeias mais recentemente, mas que, em países latino-americanos e africanos, por exemplo, faz-se presente há muito tempo. Assim, podemos considerar que uma concepção linear do curso de vida e, consequentemente, a possibilidade de planejar o amanhã talvez nunca tenham feito muito sentido para as populações pobres, inseridas em contextos inóspitos.

A noção de "projeto de vida" se constituiu em uma peça crucial na organização biográfica da modernidade, sobretudo quando nos referimos ao contexto europeu, e supõe uma linearidade e uma cronologização da vida. De acordo com Velho (2003), o projeto se constitui em uma conduta organizada a fim de que determinadas metas sejam alcançadas. O conceito de campo de possibilidades caminha junto à noção de projeto, já que designa o espaço a partir do qual é possível formular e implementar projetos (Velho, 2003). No entanto, a noção de projeto de vida, enquanto possibilidade de preparação e planejamento a longo prazo do percurso biográfico, possui limitações e precisa ser problematizada quando pensada a partir da realidade dos países do Sul, onde a vivência do risco e da precariedade não é uma novidade.

Assim, questionamos sobre como este cenário de incerteza e precariedade reverbera na vida dos jovens brasileiros de camadas pobres. Estes jovens se deparam com um sistema educacional e um mercado de trabalho que não são capazes de garantir a realização de suas aspirações, pela precariedade estrutural e pela falta de oportunidades objetivas (Sposito, 2003). Somado a isso, destacamos o alto índice de homicídios cometidos contra a população jovem, em sua maioria pobre e negra, no Brasil. Diante de um cenário que provoca incerteza em relação à própria sobrevivência, o planejamento racional das ações a longo prazo torna-se um aspecto completamente sem sentido para estes jovens.

Desse modo, em contextos marcados pela precariedade, observa-se a existência de uma limitação da noção de projeto de vida, ou seja, da possibilidade de se pensar em um tempo muito dilatado, em uma trajetória linear e regida por uma normatividade, que possa garantir um percurso previsível para o acesso à vida adulta. O que emerge com mais força, a partir da narrativa dos próprios jovens inseridos nestes contextos, e que de certa forma vem sendo mapeada na literatura (Castro & Correa, 2005; Franch, 2008), é a noção de oportunidade. Assim, mais que a noção de "projeto de vida", a ideia de "oportunidades de vida" parece fazer mais sentido para jovens que vivenciam inúmeras fortuidades do tempo e do espaço e que dependem muito das circunstâncias e de fatores aleatórios que podem oportunizar ou barrar o que desejam.

Este trabalho propõe-se a lançar o olhar para a situação de jovens pobres urbanos, de uma forma que problematize uma visão prospectiva, preparatória e planejável de suas trajetórias, a qual já não dá conta de responder às questões relacionadas à situação juvenil na contemporaneidade. Neste intuito, apropriamo-nos das noções de mobilidade e oportunidade, considerando que elas possam nos capacitar a ver melhor a situação destes jovens, suas contingências e como eles vivenciam e significam seu contexto imediato e o que está para além do aqui e do agora.

 

Oportunidades e mobilidades

A oportunidade é aqui entendida como uma situação favorável que move e conduz o jovem para algum lugar. É reconhecida como tendo valor no aqui e no agora, mas que pode também repercutir de forma favorável no depois. A origem da palavra oportunidade1 remete à antiguidade romana, na qual Portunus era considerado o deus das chaves, das portas e, posteriormente, dos portos. Seu nome vinha de portus, relacionado com porta, o ponto de passagem para um aposento, para outro lugar. De ob-, significando "para, em direção a", e Portunus, fez-se opportunus - o que empurra para o porto, ou seja, vento favorável, que move em direção a algo, que tira do mesmo.

A mobilidade, como parte do processo de como nos engajamos com o mundo (Skelton, 2013) - e de como vemos nesse mundo possibilidades de oportunizar coisas -, constitui-se em uma prática social de deslocamento por meio do tempo e do espaço, que possibilita o acesso a atividades, pessoas e lugares. Trata-se de uma ação que não se reduz à locomoção, ao movimento como trajeto que liga dois pontos, mas envolve, além das dimensões espaciais e temporais, aspectos corporais, simbólicos e afetivos, desigualmente vividos, em relação à classe, ao gênero, à idade, à etnia, ao território, entre outras dimensões de desigualdade e diferença. A mobilidade dos sujeitos também possui uma dimensão relacional, uma vez que se torna compreensível na medida em que depende de (e/ou dela dependem) outras pessoas, atividades, meios e objetos (Chaves, Segura, Speroni, & Cingolani, 2017; Gough, 2008; Skelton, 2013).

Nos últimos anos, com foco crescente nas geografias juvenis, estudos vêm voltando sua atenção para as mobilidades dos jovens e a forma como estes utilizam o espaço na cidade, o que tem sido objeto de atenção tanto de países do Norte quanto do Sul (Gough, 2008). No intuito de explorar a noção de mobilidade, bem como o estatuto da oportunidade e a articulação entre ambas, buscamos priorizar o enfoque em literaturas do Sul, uma vez que se referem a realidades mais próximas da que foi objeto de interesse desta pesquisa e lançam mão de conceitos que dialogam com as noções de mobilidade e oportunidade, que pretendemos abordar neste trabalho. Trata-se de estudos que têm em comum o fato de retratarem jovens marginalizados, com status social reduzido e trajetórias incertas, inseridos em contextos de precariedade, alto nível de imprevisibilidade e insegurança (Vigh, 2006; 2010; Waage, 2006). Além disso, são jovens que têm suas mobilidades reguladas por uma série de fatores, sejam eles de classe, território, gênero, geração, raça, etnia, entre outros (Gough, 2008; Langevang & Gough, 2009). Neste sentido, destacamos a afirmação de Cooper, Swartz e Mahali (2019) de que urgentes desafios dominam a vida dos jovens dos países do Sul, demandando teorias que sejam capazes de analisar os constrangimentos contextuais multidimensionais da experiência de vida dos jovens. Teorias que tomem o Sul, seus jovens, seus valores e políticas como foco de pesquisa.

Langevang e Gough (2009) relatam uma pesquisa realizada em Madina, localizada no subúrbio de Acra, capital de Gana, a partir da qual buscaram explorar a mobilidade cotidiana de jovens e suas aspirações de mobilidades em relação ao amanhã. O estudo mostra jovens pertencentes a uma realidade marcada pela incerteza, precariedade, dificuldade econômica e desemprego. Os jovens experienciam que, o que eles têm hoje, podem não ter amanhã, e o que eles inicialmente haviam previsto ou imaginado pode ter que ser reavaliado. Nestas condições, estes jovens precisam ser muito inventivos e criativos, precisam deslocar-se para oportunizar para si o que desejam. Mover-se, para eles, é equiparado a ser ativo, fazer algo de si mesmo, indo a lugares e adquirindo conhecimento. Muitos deles trazem a ideia de que, mesmo diante das barreiras que surgem quando buscam alcançar seus objetivos, é necessário "manter-se em movimento", pois por meio dele é possível sobreviver. Mesmo que por vezes sintam que estão "movendo-se para nada", continuam seus movimentos esperando uma situação oportuna, aguardando seu "dia de sorte", adaptando-se às possibilidades que surgem e em prontidão para o caso de aparecer alguma oportunidade de trabalho.

A noção de navegação social proposta por Vigh (2006; 2010), baseada no termo crioulo guineense dubriagem, também é útil para explorar a relação entre juventude, mobilidades e oportunidades. Trata-se de uma perspectiva de análise esclarecedora do modo de atuação dos sujeitos em ambientes instáveis. Os jovens em Bissau em geral vivem à margem do poder e dos fluxos de recursos, ocupam uma posição de imaturidade social e política e deparam-se com a ausência de possibilidades de uma vida digna, num contexto de constante conflito, precariedade, pobreza e instabilidade. Vigh, então, volta sua atenção para as possibilidades e práxis sociais e para as relações sociais e as redes em que os jovens navegam - ou pelas quais se movem -, a fim de obterem uma existência social positiva. Dubriagem é uma palavra associada a dinamismo e movimento, que engloba tanto a avaliação imediata dos perigos e do que a situação atual oportuniza a esse indivíduo, bem como a capacidade de visualizar, traçar e atualizar um movimento vantajoso do presente em relação a um depois imaginado.

Neste sentido, Vigh propõe a noção de navegação social que, inspirada na ideia de dubriagem, refere-se à forma de agência que implica na capacidade de agir e responder de forma criativa em relação a constrangimentos e possibilidades imediatos, bem como mapear e atualizar o movimento a partir do hoje em relação ao amanhã imaginado (Vigh, 2006). Olhando através da lente da navegação social, é possível observar que, ao invés de agirem de modo planejado e plenamente racional, como se o seu ambiente social e a vida cotidiana fossem fundamentalmente constantes, estes jovens atuam de forma improvisada em relação a uma leitura e interpretação de sua fluidez e instabilidade (Vigh, 2010).

A palavra dubriagem tem um paralelo no francês na expressão "je me debrouille", cujo uso foi observado, no estudo de Waage (2006), entre jovens de Ngaoundéré, uma cidade dos Camarões. A expressão significa "estou me defendendo" ou "estou lidando com essa situação complicada", sendo utilizada para explicar como eles lidam com a insegurança e as imprevisibilidades da vida cotidiana e os desafios no meio social urbano. Significa também o uso de estratégias criativas e flexíveis de negociação de agenciamento de acessos - ou oportunidades - no meio social e indica a abertura para novas possibilidades de emprego ou formas de ganhar a vida em seu ambiente urbano. Trata-se de uma busca constante por novos conhecimentos, relações e experiências, experimentando novos papéis e possibilidades, improvisando e agenciando "tentativamente" o que desejam para si.

Estas ações, que são muito mais da ordem da criação e do improviso do que de um planejamento, também são destacadas pelo estudo de Castro (2004), junto a crianças e jovens do Rio de Janeiro. Estes referem que viver em uma cidade marcada pela imprevisibilidade e incerteza implica em se "aventurar", "ter que se virar", expor-se ao imprevisto e ao risco, lançando mão de seus próprios recursos para enfrentar as dificuldades e conseguir chegar a algum lugar ou obter algo.

Segundo Honwana (2014), os jovens africanos desenvolveram os seus próprios termos para transmitir a natureza precária de suas vidas. Além das expressões "dubriagem" e "je me debrouille", referidas, respectivamente, pelos jovens dos estudos de Vigh (em Guiné Bissau) e Waage (em Camarões), Honwana aponta que os jovens moçambicanos costumam usar a expressão "desenrascar a vida" e os jovens sulafricanos utilizam a expressão inglesa "I am just getting by", ou seja, "vou-me safando", para referir-se à forma como lidam com a incerteza e a precariedade de suas realidades. É interessante observar que estas expressões, bem como os exemplos citados até então, geralmente remetem ao dinamismo e ao movimento, a ações que possuem um caráter de improviso, fluidez, tentativa, experimentação, ou seja, a outras condições subjetivas de enfrentamento, que não passam por um planejamento a longo prazo. O que nos leva, neste trabalho, a uma desconstrução da ideia de projeto de vida.

A partir da literatura apresentada, podemos visualizar que oportunidades e mobilidades estão intimamente relacionadas. Além disso, observamos que a ideia de oportunidade se apresenta com um caráter híbrido, como algo que tanto pode ser agenciado pelo próprio jovem - no sentido de que há uma busca para achar aquilo que se quer e oportunizar para si o que se deseja (que aparecem na ideia de navegação social de Vigh, 2006; 2010) -, quanto pode ser "encontrada" a partir de uma mobilidade que não tem um direcionamento, um intuito específico, ou seja, quando o jovem apenas se move à espera que algo favorável aconteça, o que foi destacado por Langevang e Gough (2009).

Não se pode deixar de considerar que a facilidade para acessar e aproveitar as oportunidades depende muito dos recursos com que cada jovem conta, especialmente no que se refere a seu capital cultural, social e também subjetivo (Franch, 2008). A dificuldade de acesso às oportunidades objetivas pode ser observada, por exemplo, nas restrições às mobilidades vivenciadas pelos jovens pobres, que geralmente se mantêm circunscritos ao seu bairro e acabam não acessando e conhecendo o que a cidade poderia lhes oferecer. Assim como a noção de mobilidade, a noção de oportunidade está marcada pela questão do poder e pelos vieses de classe social, gênero, etnia, raça, local de moradia, entre outros, uma vez que as possibilidades de mover-se e de acessar oportunidades/oportunizar para si podem estar fortemente conectadas, como veremos na discussão a seguir.

Neste estudo, buscamos compreender, como os jovens, movendo-se entre diversos espaços - escola, casa, rua, bairro, espaços de lazer, entre outros -, lidam com a incerteza e imprevisibilidade e oportunizam, em um contexto instável e precário, algo que é bom e tem valor para eles. Ou seja, como esses jovens, a partir de suas mobilidades, oportunizam experiências com relevância biográfica, que não se referem apenas ao aqui e agora, mas também a tempos e espaços dilatados. Apresentamos situações em que os jovens, mesmo quando inseridos em contextos incertos e desfavoráveis em termos de garantias e oportunidades objetivas, agenciam/oportunizam para si condições para ser e fazer o que desejam.

 

Método

No intuito de alcançar os objetivos propostos, realizamos um estudo qualitativo junto a jovens das classes populares do Rio de Janeiro, Brasil, estudantes de duas escolas públicas municipais (Escola 1 e Escola 2). Participaram da pesquisa 51 jovens (25 moças, 26 rapazes), estudantes do 9º ano do ensino fundamental, com idades entre 14 e 16 anos. A maioria dos jovens residia em favelas da Zona Central do Rio de Janeiro e pertencia a famílias de baixa renda.

Foram realizados três grupos de discussão (Grupo 1 - G1 e Grupo 2 - G2, realizados na Escola 1 e Grupo 3 - G3, na Escola 2), que ocorreram no formato de oficinas. Essas oficinas tiveram um número médio de 12 participantes por encontro, tendo no mínimo oito e no máximo 16 jovens. Foram realizadas sete oficinas com o grupo 1, oito oficinas com o grupo 2 e 10 oficinas com o grupo 3, totalizando 25 encontros.

As oficinas, que constituíram um campo empírico amplo e resultaram em um material bastante vasto, tiveram como proposta, de modo geral, abordar as oportunidades e mobilidades reais e imaginadas dos jovens no espaço urbano, tendo como referência principal os trajetos realizados costumeiramente no ir e vir da escola e outros percursos realizados e imaginados em relação à cidade. Foram divididas em cinco módulos (1 - Da casa para a escola; 2 - Da escola pra casa; 3 - De casa para outros lugares; 4 - Lugares bem longe de casa; 5 - Conversando sobre oportunidade), nos quais foram propostas algumas atividades, como a criação de desenhos, maquetes e histórias, que foram utilizados como recursos auxiliares para motivação, imaginação e discussão.

Os grupos foram gravados e posteriormente transcritos para a análise das informações. Além das oficinas, foram realizadas observações participantes em ambas as escolas, as quais foram registradas em diários de campo. Buscando manter o anonimato dos jovens, seus nomes foram substituídos por nomes fictícios ao longo do texto2. As informações foram analisadas pelo método de Análise de Conteúdo Temática (Bardin, 1977/2011).

Algumas discussões tomaram certa força nas narrativas dos jovens e, a partir das análises, foram organizadas em torno das seguintes categorias: (1) os jovens e as oportunidades de "viver o hoje"; (2) expressividades e agenciamentos dos jovens nas oportunidades do aqui e do alhures; e (3) a fortuidade levada ao limite e a incerteza das mobilidades juvenis, as quais serão apresentadas e discutidas na seção a seguir.

 

Resultados e discussão

1. Os jovens e as oportunidades de "viver o hoje"

A importância dada pelos jovens à "vivência do hoje" emergiu em vários momentos durante as oficinas. Guilherme, por exemplo, quando fala sobre os passeios que às vezes faz com a família nos finais de semana e nas férias, comenta que sempre, mesmo nestes momentos de maior descontração, pensa sobre o quanto a vida é incerta e, por isso, acredita que precisa aproveitar ao máximo o hoje. A principal incerteza referida por ele é em relação à sobrevivência.

Guilherme: A única certeza que a gente tem na vida é que a gente vai morrer. Você tem certeza de que você vai se formar? Você tem certeza de que na próxima vez que você respirar vai entrar oxigênio no seu pulmão? Você não tem certeza. Você sabe se quando você piscar e você abrir o olho, você não vai estar cego?

Pesquisadora: Então, o Guilherme está falando dessa incerteza da vida...

Guilherme: É. Incerteza de que eu vou acordar amanhã. Essas coisas, e eu penso bastante nisso.

Joyce: Pessimista...

Guilherme: Não é pessimista, porque eu penso assim: enquanto eu estiver vivo, eu vou tentar aproveitar ao máximo. Eu não vou deixar pra depois o que eu posso fazer agora.

Heitor: Eu também sou assim. (G3, 5º encontro, grifos nossos)

Essa ideia parece ser compartilhada pela maioria dos jovens participantes das oficinas e foi demonstrada de diversas formas por eles, não só por meio de uma fala explícita, mas de forma "atuada" ou dita de maneira indireta. A incerteza em relação ao depois, não necessariamente um depois a longo prazo, também ficou evidenciada em uma fala de Pietro. Durante o último encontro com o grupo, realizado no mês de julho, comentei sobre um evento que seria realizado na universidade, para o qual seriam convidados alunos e professores das escolas que participaram de pesquisas feitas pela universidade. Pietro manifestou interesse em participar do encontro, quando falei que haveria alunos de outras escolas e perguntou quando aconteceria. Quando respondi que seria em novembro, ele exclamou, encerrando o assunto: "Ah, não sei nem se vou estar vivo até lá". Vale salientar que Pietro morava em uma favela onde os confrontos entre facções do tráfico e entre traficantes e policiais eram muito frequentes, o que gerava uma situação de constante insegurança.

O risco se faz tão presente na vida de alguns jovens - sobretudo quando consideramos o "caos" do espaço urbano, relatado pelos próprios participantes -, que a orientação presenteísta é levada aos limites, perante a possibilidade de aniquilamento físico (Franch, 2008). De forma semelhante ao que pôde ser constatado no presente estudo, vários outros pesquisadores vêm destacando que, diante do risco, imprevisibilidade e incerteza que marcam seu contexto, as vivências dos jovens parecem mais encarnadas no aqui e no agora e marcadas por atitudes e comportamentos limitados ao imediato (Augusto, 2007; Cárdenas, 2005; Pais, 2006, 2012; Soares, 2000).

A partir do campo empírico, foi possível constatar que tanto as oportunidades quanto as mobilidades reais e imaginárias dos jovens, por meio dos diversos espaços-tempos, são marcadas por uma "agoridade". Não é à toa que, quando a palavra oportunidade foi trazida à tona no G1, houve uma diferenciação entre "oportunidades do presente e do futuro", sendo que a "oportunidade do presente" foi a mais evidenciada e vivenciada por eles. Segundo os jovens, a "oportunidade do presente" relaciona-se ao hoje, ao aqui e agora, e a "oportunidade do futuro" refere-se a algo que é necessário abraçar para se ter acesso a um amanhã melhor.

Samara: Eu tenho a oportunidade de me formar em medicina, e no futuro eu vou ser médica [exemplo de oportunidade do futuro]. Aí agora eu tenho a oportunidade de comer pra ficar sem fome [exemplo de oportunidade do presente].

Ao falar nestes dois tipos de oportunidades, os jovens talvez quisessem nos mostrar que, diante das incertezas em relação ao futuro e da dificuldade de projetar-se a longo prazo, talvez faça mais sentido, de fato, falar de "oportunidades do presente". A oportunidade do presente parece referir-se ao que não é necessariamente fruto de um planejamento, de uma projeção a longo prazo. Trata-se de um fazer e ser agora, que tem a ver com um desejo e uma ação momentâneos, que pode ser, por exemplo, divertir-se ou satisfazer alguma necessidade imediata.

No grupo 2 (escola 1), a abordagem do tema oportunidade durante o último encontro foi um tanto difícil. Parecia haver uma apatia e um desânimo generalizado em relação ao que era proposto ao grupo. Poucos jovens queriam de fato participar da discussão e insistiam para que fizéssemos outras atividades:

Gisele: Vamos fazer uma festa!

Jéssica: Compra balinha da tia S. pra gente? Vamos jogar um jogo!

Fernando: Vamos jogar bola! Vamos jogar bola!

Milena: Bóra brincar de corre cotia. (G2, 8º encontro)

No caso do grupo 1, houve a verbalização de que existiriam dois tipos de oportunidades: do presente e do futuro. Já no encontro com o grupo 2, quando recebi os apelos dos participantes para que fizéssemos outras atividades, que tinham um caráter mais lúdico, de diversão, parecia que os jovens estavam atuando o que o grupo 1 nomeou "oportunidade do presente". Ou seja, como se eles quisessem me dizer: "Não queremos falar de oportunidades do futuro, nem falar do amanhã, queremos jogar e nos divertir neste momento, fruir aqui e agora", vivenciar as oportunidades do presente. Neste caso, as "oportunidades do futuro" referem-se a espaços mais dilatados - vistos e imaginados - como a possibilidade de fazer cursos, referida no exemplo anterior, o que não foi objeto de interesse e discussão dos jovens deste grupo, durante a oficina.

Diante deste cenário, questionamos se esses jovens conseguem se identificar com algo que diz respeito a espaços - vistos e imaginados - mais dilatados e que possam se articular com o imediato. Neste sentido, a partir do campo empírico, entramos em contato com algumas oportunidades e mobilidades agenciadas pelos próprios jovens, que muitas vezes os conduzem ao acesso e à prática de experiências e à descoberta de interesses que podem carregar a marca de como eles se veem e se colocam diante dos outros e do mundo, além de se relacionarem com desejos, sonhos e com o que eles querem pra si. Estas experiências e interesses parecem ter para estes jovens uma ressonância subjetiva para além do instantâneo, ou seja, parecem vivências que não se esgotam no agora mesmo.

2. Expressividades e agenciamentos de jovens em contextos de precariedade social nas oportunidades do aqui e do alhures

A incerteza e a imprevisibilidade que marcam a vida destes jovens demandam deles certa criatividade, inventividade, além de diversas mobilidades. Neste sentido, múltiplas zonas de experiências e uma diversidade de interesses e expressividades - ou diferentes tipos de mobilidades, portas, acessos e oportunidades - foram referidos pelos jovens durantes as oficinas e observações de campo, tais como: o interesse em relação a/ e o envolvimento com/ esportes - MMA, JiuJitsu, Badminton -, maquiagem, redes sociais, jogos eletrônicos, animes, cosplay, "coisas do campo", teatro, programação, práticas religiosas, atividades culturais, entre outros.

Chama a atenção que poucos destes interesses surgem a partir do espaço escolar. A maioria deles parece ser cultivada em outros espaços e é trazida para dentro da escola em alguns momentos. Isso vem ao encontro da afirmação de Pais (2006), de que as performatividades e expressividades dos jovens geralmente ocorrem nos domínios da vida cotidiana mais libertos dos constrangimentos institucionais - os do lazer e do lúdico. O que se observou a partir das oficinas é que a escola muitas vezes é um espaço onde os jovens atualizam-se entre si por meio da conversação sobre seus interesses construídos em outros espaços. Em relação a essa diversidade de interesses e experiências, que Pereira (2016) chama de "públicos", um jovem pode ser parte de diversos deles simultaneamente; pode, por exemplo, ao mesmo tempo gostar de rock, de quadrinhos, envolver-se com futebol e participar destes com adesões, intensidades e ritmos diferentes. O envolvimento com estes públicos, em que se compartilham informações e sentimentos de pertença, tem cada vez mais exercido influência na constituição das subjetividades contemporâneas (Pereira, 2016).

Desde as primeiras visitas às escolas, os jovens nos endereçaram vários relatos sobre seus interesses e experiências preferidos, que se mostraram bastante diversos e que se relacionam com o que eles querem para suas vidas no aqui e no agora. O olhar para alguns destes interesses, experiências e expressividades pode nos situar em relação a como o jovem oportuniza para si condições para ser e fazer o que quer e, deste modo, como o que faz pode ter ressonâncias não apenas no agora mesmo, mas um pouco mais além do aqui e do agora - no alhures e no depois. A seguir, apresentaremos alguns exemplos dessa diversidade de interesses e expressividades que os jovens relataram ao longo das oficinas.

Guilherme e a programação

Guilherme, participante do grupo 3 (escola 2), desde os primeiros encontros, falou sobre seu interesse em programação e sobre um curso técnico em computação que fazia no turno inverso ao escolar.

Quando eu estava fazendo o trajeto de retorno da escola, indo até o metrô, Guilherme me alcançou na rua, perto do Museu de Arte e fomos juntos conversando até próximo ao metrô. Ele disse que tomaria um ônibus para Saens Peña, onde fazia um curso de técnico em computadores. Pedi a ele como soube do curso. Ele disse que buscou na internet por cursos - segundo ele, "a internet é ótima para estas coisas" - e encontrou o anúncio, se inscreveu, fez uma prova e foi selecionado. Porém ele estava achando o nível do curso um pouco fraco e disse que buscaria algo melhor, mais avançado. Falou que pretende ser "técnico de TI" e trabalhar em uma empresa. (Relato de campo, Escola 2)

Podemos considerar que estes interesses muitas vezes oportunizam que os jovens se desloquem em direção a outros lugares, real e imaginariamente, como no caso de Guilherme.

Guilherme: O meu desenho é meio autoexplicativo... Eu saio da escola, pego o ônibus pra ir pro curso, porque antes de ir pra casa eu vou pro curso, na maioria das vezes. Aí pego o meu ônibus, passo pelo portal do sonho infinito, eu durmo e acordo magicamente na porta do curso, desço do ônibus e vou pro curso de programação. Aí eu fico lá, o tempo passa e fica de noite. Eu saio do curso, entro no ônibus, passo novamente pelo portal do sono e de vez em quando acordo no meio do caminho (G3, 4º encontro).

A oportunidade de fazer este curso de programação, além de possibilitar um deslocamento para outros lugares diferentes da casa e da escola, é vista por Guilherme como uma "porta" para algo que é do seu interesse e tem valor para ele no agora, mas que também tem conexão com algo que ele deseja para si no depois. Desse modo, o jovem consegue articular o agora com o depois, tendo como referência um espaço do presente - o curso de programação - e outro lugar onde imagina estar - uma empresa na qual poderia trabalhar na área de informática, por exemplo.

Wagner e a paixão pelas "coisas do campo"

Conheci Wagner numa das primeiras visitas que fiz à escola 2, durante uma aula da disciplina de projeto de vida, da qual participei no intuito de começar a interagir com os jovens que viriam a participar das oficinas posteriormente. "Naquele dia, Wagner contou uma história ao professor sobre um dia em que estava andando a cavalo. Chamou-me a atenção sua animação enquanto falava sobre isso. Manifestei interesse pelo seu relato e perguntei se ele tinha um cavalo. Ele disse que no momento não tinha mais o cavalo, pois teve que vendê-lo, mas que em casa criava galinhas, passarinhos e porcos. Falou sobre as características dos porcos, suas cores, tamanhos e tipos. Mostrou-se um grande conhecedor das raças de cavalos, explicando-me com detalhes seus tipos de marchas. Contou que ensinou alguns meninos da comunidade a trotar com o cavalo. Ficamos cerca de 20 minutos conversando. Foi uma conversa muito interessante, pois ele parecia gostar muito deste universo, falava com muita empolgação, seus olhos brilhavam e ele demonstrava muito conhecimento sobre o assunto. A aula acabou, os outros alunos estavam saindo e ele continuava falando sobre cavalos" (Relato de campo, Escola 2). Em quase todas as outras vezes em que encontrei Wagner durante as oficinas, este assunto foi trazido à tona por ele novamente. Uma dessas ocasiões foi quando os jovens conversavam sobre os desafios de suas mobilidades de casa para a escola, e vice-versa, e as dificuldades da vida nos contextos sociais onde estão inseridos, marcados pela pobreza, risco e violência.

Wagner: Eu vejo aquilo ali, aquele caos todinho... gente vendendo droga... eu olho assim, ah nem ligo. Por que eu penso no quê? Coisas melhores. Eu penso em coisas que eu gosto, que nem tem aqui [mostra na maquete]: aqui é onde eu crio meus bichos (Figura 1).

Pesquisadora: E como tu te sente quando vê essas coisas todas?

Wagner: Fico muito mal, né. Não posso fazer nada... muitas vezes já vi gente... parente meu... dá mó tristeza assim. Mas é isso que ele escolhe. A gente fala, fala, entra num ouvido e sai no outro. Aí com o tempo a gente não pode mais fazer nada por ele, até que ele entra nessa vida, vai, morre, e é isso.

Pesquisadora: E tu deseja algo nesse caminho, espera que algo aconteça?

Wagner: Olha, eu espero que melhore, né. Eu sei que o crime, o tráfico, aquilo ali não vai acabar, entendeu? Mas pode amenizar. Então se isso se ameniza pelo menos um pouco, pra mim já é o máximo.

Pesquisa: E pra tua vida o que tu espera?

Wagner: Eu sou uma pessoa que quero viver bastante, quero realizar meus sonhos, que eu sei que todo mundo tem um sonho que quer ser realizado.

Guilherme: Ele (W) quer ter um haras, um estabelecimento de cavalos...

Giovana: Ele é apaixonado por cavalos.

Wagner: É um sonho desde criança, gente. Eu pensei que esse sonho ia passar, mas não passa, não. Eu quero ter uma cabanha. Nas cabanhas eles são criadores que tiram o sustento daquilo ali. Não sei se tu já viu leilões... Então, muitos criadores de cabanha tem leilão, tipo faz criação daquela raça pra começar a fazer leilão... Aí eu acho isso maneiro. (G3, 4º encontro, grifos nossos)

 

 

 

O que chama a atenção é que estes sonhos, desejos, "paixões" e interesses constituem o que Wagner é hoje, para si e perante os outros. Ele é conhecido na escola como o menino que gosta de cavalos, de animais e das "coisas do campo". Observa-se que quando ele leva para a escola estes interesses em relação a outros espaços, isso é valorizado e reconhecido pelos colegas e professores.

Trata-se de algo no qual Wagner investe no agora, mas que também tem a ver com o que ele deseja para si no amanhã. Mesmo diante do caos do espaço urbano e da violência, que já vitimou inclusive jovens próximos a ele, ou seja, mesmo diante daquilo que pode representar a destruição de sonhos e da própria sobrevivência, ele se desloca imaginariamente para outros lugares, que tem a ver com o que ele gosta e com o que ele quer para si. Apesar da realidade precária na qual está imerso, apesar dos diversos constrangimentos e muros que o rodeiam, Wagner não assume apenas a posição de esperar as oportunidades baterem à porta, mas busca, abre portas, agencia oportunidades para si.

Chama atenção que estes interesses de Wagner referem-se ao campo, um lugar muito diferente de seu contexto urbano, que não tem a ver nem com a escola, nem com a vizinhança. As ações deste jovem são da ordem da aventura e da aposta, pois ele se lança para fazer algo diferente, imaginando para si uma oportunidade muito remota em relação ao que ele vive.

Milena e a identificação com a cultura japonesa e os games

A música também se mostrou como uma expressão significativa para os jovens, como algo que os envolve e mobiliza, principalmente pela fruição que proporciona. Também pôde-se observar em alguns encontros que os jovens "falavam de si", de suas realidades e mobilidades por meio da música, mais especificamente do rap, expressão musical que está perpassada pelos valores de contestação e resistência à realidade de desigualdade social e pela denúncia de situações de discriminação vividas por moradores de periferias urbanas.

Muitos dos jovens buscavam expor de alguma forma seus gostos musicais, seja cantando, mostrando as músicas nos fones de ouvido para os colegas e para a pesquisadora ou colocando as músicas para tocar em seus celulares. Estes interesses parecem traduzir o que eles são, como se colocam diante do mundo e do outro e também parecem sinalizar como querem ser vistos pelo outro. Foi o caso de Milena, que, logo que a conheci, contou que gostava muito de músicas coreanas e japonesas e, durante uma das oficinas, pediu que eu escutasse algumas delas em seus fones de ouvido.

Milena: Tem uma grande diferença entre música coreana e música japonesa. Essa aí é japonesa. Quer ver? Coreana tem mais batida. Só que só tem outra menina na escola que gosta disso.

Pesquisadora: Mas você conhece algumas pessoas que não são daqui, mas que gostam?

Milena: Sim, tem os eventos, que a gente faz cosplay, aí eu vou. É legal. Eu gosto desde pequena.

Pesquisadora: Como tu conheceu?

Milena: Meus tios, eles gostam, sempre gostaram de Naruto, Samurai x, essas coisas... Aí eu via desde pequena. Aí eu comecei a gostar. Também eles me influenciaram muito nos jogos. Desde pequena eu começava a jogar videogame. Minha mãe também, eu ia me chamar Sayuri, só que minha mãe não quis porque ela achou que as pessoas iam achar ruim, aí ficou Milena (G2, 3º encontro)

Na escola, os jovens podem encontrar-se ou não com outros que partilham dos mesmos gostos e preferências nas mais diferentes áreas, que pertencem, por isso, a um mesmo público. Milena, além do interesse por músicas coreanas e japonesas, relatou seu gosto por animes e falou sobre participação em eventos de cosplay. Essa atração da jovem por atividades e expressões artísticas relacionadas à cultura japonesa e coreana parece ter um forte componente afetivo, pelo fato de serem compartilhadas com alguns familiares, em especial a mãe, da qual Milena estava afastada na época da realização das oficinas. Além disso, este tipo de interesse parece ser para ela algo que se desvia do que a maioria dos colegas gosta: funk, rap e futebol. Enquanto ela me mostrava suas músicas preferidas, alguns colegas zoavam dela, dizendo que só ela gostava desse tipo de música, que é diferente. Foi possível observar que Milena não tinha uma boa relação com seus colegas, que pareciam tratá-la com certo desprezo e por vezes até com agressividade. Durante o recreio, ela costumava ficar isolada, ou na companhia de alunos mais novos, pertencentes a outras turmas.

Considerando que tanto a casa quanto a escola parecem se constituir em espaços hostis e pouco acolhedores, pelo menos no que se refere à sua relação com o pai, em casa, e com os pares, na escola, Milena parece ter buscado e acessado em outros lugares relações nas quais se sente acolhida e tem o sentimento de pertencimento, espaços que oferecem mais prazer e menos sofrimento. A mobilidade por estes outros espaços - o "universo" dos games e a cultura japonesa - também parece se constituir em um escape das realidades inoportunas da escola e da casa e talvez mantenha algum tipo de ligação com sua mãe que está distante.

Assim, foi possível observar que Milena faz referência a lugares longínquos e oportuniza elementos destas culturas distantes - japonesa e coreana - no seu próprio contexto, os quais contribuem na construção de uma imagem de si, de uma identidade. Estes elementos de outros espaços são trazidos pela jovem para o espaço escolar, como um algo a mais de si, que de certa forma a diferencia dos demais.

3. "No meu caminho eu vejo o caos": a fortuidade levada ao limite e a incerteza das mobilidades juvenis

Os resultados deste estudo revelam a complexidade das mobilidades e de seus sentidos para os jovens participantes e as várias contradições e tensões inerentes ao estar e constituir-se como sujeitos nos diversos-espaços tempos por onde se movem. Estas contradições e tensões parecem estar muito ligadas à precariedade, incerteza e falta de garantias. Nestes casos, vemos mais o desamparo e a impotência do que a busca e o movimento dos jovens. Estes se deparam com algo aniquilador e avassalador que acua e impede o movimento.

Em seus percursos e a partir do encontro com o outro, os jovens são confrontados com o pior da cidade - a pobreza, a miséria, o egoísmo, a indiferença, o desrespeito e a violência - elementos estes que compõem o que eles chamam de "caos".

Pesquisadora: E o que ela [personagem] vê nesse caminho?

Fabiana: Muito caos.

Clara: Ela vê muita gente descendo a ladeira pra ir pra escola... Muita fumaça dos carros na cara dela...

Jaqueline: Vejo muito bandido...

Clara: Armado...

Jaqueline: É. Muitos policiais também... [Figura 2] (G3, 2º encontro)

 

 

Estes aspectos caóticos da cidade também são referidos de forma muito semelhante pelos participantes de um estudo realizado em três cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Fortaleza e São José dos Campos), que buscou analisar de que modo crianças e jovens são afetados pela vivência na cidade grande. Estes jovens demonstram um reconhecimento e uma perplexidade diante das desigualdades e apontam as grandes dificuldades da convivência coletiva, onde se fazem presentes a irracionalidade e imprevisibilidade da ação humana (Castro, 2001).

Mover-se pelas ruas dessa cidade caótica é um desafio diário enfrentado pelos jovens, que se encontram à mercê das restrições, do sofrimento e do desamparo. São diversos os constrangimentos vivenciados por eles em suas mobilidades na cidade, onde sempre existe a possibilidade de algo acontecer repentinamente (tiroteios, roubos, atropelamentos, abordagem e revista policial), o que provoca uma sensação de insegurança, ou até mesmo a restrição de suas mobilidades.

Wagner: Sempre quando eu desço pra ir pra escola, eu vejo aqui bandidos armados, pessoas comprando droga e se eu não tomar cuidado, eu posso estar descendo pra escola e ter trocas de tiros. Que foi o que aconteceu muitas vezes, eu deixei de vir pra escola por causa de tiroteio. Aí quando eu saio de casa, eu vejo bandido na parte de cima do morro, no meio do morro, lá embaixo... e lá embaixo um carro só de polícia, com dois, no máximo três. Eu faço esse trajeto todo dia. Encontro gente usando drogas, gente bêbada na rua, outros de tão doidos e drogados, dormindo na calçada... também o trânsito terrível (G3, 2º encontro, Figura 2).

O caos pode barrar o movimento e impossibilitar o acesso ao que pode ser oportuno, pois o sujeito não consegue se organizar subjetivamente. Um cenário de caos é excessivo, e neste sentido remete àquilo que é traumático, àquilo que o sujeito não consegue dar conta, simbolizar e assimilar com seus próprios recursos psíquicos o que provoca no sujeito o sentimento de impotência e desamparo. Este caos não é simplesmente o caos da imprevisibilidade, mas da ordem de uma fortuidade extrema, levada ao limite, que ameaça a própria existência.

Ainda como parte deste "caos", os jovens apontam a vivência de diversos constrangimentos ao seu deslocamento no espaço urbano, onde o local de moradia, a raça, o gênero, a classe social, a aparência e a forma de vestir parecem se constituir fatores que se tornam fonte de estigmas e preconceitos e, assim, contribuem para a restrição de suas mobilidades na cidade.

Na cidade globalizada contemporânea, os encontros facilitados pela mobilidade podem aumentar a mobilidade social por meio da atribuição de capital social e cultural. Por outro lado, tais mobilidades também podem oferecer àquele que se move indesejáveis encontros de confronto, medo ou perigo (Skelton, 2013), e este é o aspecto que mais fica evidenciado nos relatos dos jovens participantes do presente estudo.

4. Discussão: o agenciamento de oportunidades

Estes dados nos mostram uma diversidade de formas encontradas pelos jovens para agenciarem algo que eles visualizam que podem fazer frente a uma realidade tão precária. Foi possível observar que seus interesses os movem para abrir portas e tentar fazer algo que não está necessariamente "no roteiro", ou seja, independentemente do que possa estar planejado para eles, principalmente no que se refere a um caminho via escolarização. Notamos que eles realizam diversos movimentos e acessam diferentes espaços no sentido de "oportunizarem para si mesmos". Estes jovens engendram "invenções tópicas", ou seja, novos lugares onde querem se ver reconhecidos (Castro, 2001, p. 124).

Honwana (2014), a partir de pesquisas realizadas em Moçambique, África do Sul, Senegal e Tunísia, destaca que grande parte dos jovens africanos vivencia uma fase que ela nomeia waithood, ou "idade de espera", que representa um período prolongado de suspensão entre a infância e a adultez. A vivência desta fase se daria pelo fato de que as transições para a idade adulta são tão incertas - caracterizadas pelo desemprego, marginalização, falta de acesso a meios de subsistência e ausência de liberdades civis - que muitos jovens se veem obrigados a improvisar modos de subsistência e relações interpessoais para além das estruturas econômicas e familiares dominantes. Apesar de a situação desses jovens ser particularmente difícil, também inspira muitos deles a agenciar soluções criativas. Ou seja, estes jovens não estão passivamente à espera de que a situação mude, mas estão buscando descobrir e criar novas formas de ser e de relacionar-se com a sociedade. Desse modo, mesmo diante de tanta precariedade, assim como os jovens da presente pesquisa, eles desenvolvem seus próprios espaços de ação, agenciam e oportunizam para si novas formas de ser. Suas ações não são estratégias de longo prazo, mas representam lutas diárias que respondem a necessidades relacionadas ao aqui e agora.

Em todos os casos relatados no subitem anterior, podemos observar que estes jovens não estão parados, mas se movendo, buscando e oportunizando coisas para si, fazendo com que os lugares tenham sentido na totalidade de suas vidas. Destaca-se que estas são ações de risco, de aposta, que não passam por um planejamento tão racional, mas são tecidas nos encontros e situações cotidianas, oportunizando sentidos de vida e expressões identitárias.

Observamos também que, por vezes, o contexto é tão adverso, que dificulta a busca real e imaginária em relação ao que se deseja. Podemos considerar, por exemplo, o caso dos jovens do G2, que afirmavam só querer brincar e se negavam a falar sobre oportunidades e sobre o depois. Talvez suas dificuldades de imaginar se relacionem justamente às barreiras criadas pelo caos e pela fortuidade experimentadas de forma muito intensa em suas vidas.

Alguns jovens relataram situações em que o desejaram algo, viram-se diante de uma oportunidade, mas não conseguiram acessá-la por motivos alheios à sua vontade. Eles apontam que as condições que facilitam ou dificultam o acesso às oportunidades podem ser de ordem financeira, mas também podem se relacionar a outros fatores, tais como a vivência de problemas e preocupações familiares, o local de residência, o contexto educacional e a existência ou não do apoio familiar. Assim, as limitações às mobilidades e ao acesso às oportunidades podem ter um sentido mais micro, sendo relacionadas, por exemplo, a questões familiares, ou também podem ser estruturais, relacionadas a um nível mais macro, quando dizem respeito às políticas públicas e à estruturação da sociedade. Desse modo, o que os jovens querem alcançar no amanhã e como eles se dirigem para essas aspirações depende tanto de seus próprios agenciamentos, habilidades e aspectos subjetivos quanto das oportunidades objetivas que lhes são oferecidas pelo seu contexto social, que interagem com o seu nível socioeconômico, etnia, raça, gênero, local de moradia e outros fatores contextuais.

 

Considerações finais

A partir da análise do campo empírico, observamos que os jovens falam de uma realidade precária, incerta, sem garantias, na qual tudo parece fortuito, o que certamente dificulta que eles experienciem a vida de modo que o sentido daquilo que fazem hoje tenha alguma relação com o depois. Diante dessa situação de total desamparo frente àquilo que não se pode controlar e garantir, "viver o hoje" e apresentar um discurso de "aproveitar a vida" parece ser uma via encontrada por estes jovens.

Neste artigo, foram enfocadas algumas oportunidades e mobilidades cotidianas vividas ou sonhadas pelos jovens, deslocamentos que em alguns casos incluem a escola e a casa, mas que vão além delas. Tais mobilidades muitas vezes conduzem os jovens ao acesso e à prática de experiências e à descoberta de interesses que podem carregar a marca de como eles se veem e se colocam diante dos outros e do mundo, além de se relacionarem com desejos, sonhos e com o que os jovens querem para si, mesmo que seja em um tempo a curto prazo. Nestas ações, também é possível visualizar uma forma do jovem agir e se colocar diante do mundo que não passa necessariamente por uma preparação para a inserção na vida produtiva. Chama a atenção que tais mobilidades e oportunidades não são da ordem do instantâneo, mas são construídas, agenciadas por estes jovens e têm um espraiamento no depois e em outros espaços, além do aqui e do agora.

Conforme destacamos anteriormente, a ideia de projeto de vida está muito ligada a uma institucionalidade da vida, no sentido de que seja possível planejar o percurso biográfico. No entanto, os resultados deste estudo nos mostram realidades em que a vivência do risco e da precariedade torna difícil a possibilidade de planejamento do percurso biográfico a longo prazo, o que nos conduz a um deslocamento da noção de projeto de vida para pensarmos a partir da noção de "oportunidades de vida", que se relaciona com vivências mais caracterizadas pela fluidez, criatividade, tentativa e improviso.

Desse modo, podemos considerar que a vivência da fortuidade do tempo demanda desses jovens não a elaboração de projetos de vida, mas o contato com - e o agenciamento de "oportunidades de vida". Assim, constatamos a existência de agenciamentos, interesses e expressividades juvenis, que parecem estar relacionados a uma afirmação de si no presente - quem sou eu, o que quero agora, que escolhas mostram o que desejo.

Neste sentido, observamos que, mesmo diante das adversidades, os jovens vão "abrindo suas próprias portas" e criando oportunidades para si. Eles vão se descobrindo no que fazem e no seu movimento pela cidade e pelos diversos espaços-tempos por onde circulam. Assim, estas "oportunizações" ou "agenciamentos" nos mostram como alguns jovens conseguem dilatar a vivência do aqui e do agora em relação a um pouco mais adiante e alhures, fazendo com que o que acontece agora tenha também um trânsito um pouco mais para frente e que possa ser visto repercutindo no tempo do "depois" e em conexão com outros espaços.

 

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Recebido em: 10/1/2019
Aprovado em: 17/7/2019

 

 

1 Do livro "Qual é a tua obra?", de Mário Sérgio Cortella.
Origem da palavra "oportuno". Disponível em: http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/oportuno/ Acesso em: 2 set. 2017.
2 Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob o parecer nº 1.518.016.

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