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Gerais : Revista Interinstitucional de Psicologia

versão On-line ISSN 1983-8220

Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.15 no.1 Belo Horizonte jan./jun. 2022

http://dx.doi.org/10.36298/gerais202215e17503 

ARTIGOS

 

Quem cuida, ama? Trabalho agroecológico e (re)significações em um assentamento rural

 

Who cares, loves? Agroecological work and (re)significations in a rural settlement

 

 

Leonardo Victor de Sá PinheiroI; José de Queiroz PinheiroII; Fernanda Fernandes GurgelIII

IUniversidade Federal do Piauí, Floriano, Brasil. E-mail: leonardopinheiro@hotmail.com. (orcid.org/0000-0001-8846-9994)
IIUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil. E-mail: pinheirojq@gmail.com. (orcid.org/0000-0003-2675-3521)
IIIFaculdade de Ciências da Saúde do Trairí, Universidade Federal d Rio Grande do Norte, Santa Cruz, Brasil. E-mail: fernandafgurgel@hotmail.com. (orcid.org/0000-0001-7739-3058)

 

 


RESUMO

Levando-se em consideração que a relação com o lugar pode desempenhar importante papel na forma como o produtor rural pode ser emocionalmente ligado à terra e à comunidade à qual pertence, traçou-se como objetivo geral deste estudo investigar a natureza da relação com o lugar, a partir das vivências de produtores agroecológicos de uma comunidade rural. Para isso, foi adotada uma abordagem qualitativa, de inspiração etnográfica, utilizando-se a observação participante e a entrevista semistruturada, além do auxílio do software ATLAS.ti para análise dos dados. Verificou-se a existência de diferentes aspectos da relação com o lugar, revelando um vínculo multidimensional formado por variadas formas de apropriação pelos participantes. A agricultura e o processo de luta e conquista do assentamento se confundem com a própria história das famílias, ocupando centralidade no papel da terra ao influenciar nas dimensões funcionais, simbólicas e espirituais. Também foi possível observar diferentes relações nas formas de ser, trabalhar e viver, impulsionando novas formas de (re)significação do lugar.

Palavras-chave: agroecologia; relação pessoa-ambiente; psicologia ambiental; relação com o lugar; contexto rural.


ABSTRACT

Considering that the relationship with the place can play an important role in the way the rural producer can be emotionally connected to the land and to the community to which he/she belongs, the general objective of this study was to investigate the nature of the relationship with the place, based on the experiences of agroecological producers of a rural community. A qualitative, ethnographic-based approach was adopted, using participant observation and semi-structured interview, and the help of the ATLAS.ti software for data analysis. We verified the existence of different aspects of the relation with the place, revealing a multidimensional bond formed by various forms of appropriation by the participants. Agriculture and the process of struggle and conquest of the settlement are combined with the history of families themselves, occupying center place in the role of the land by influencing the functional, symbolic, and spiritual dimensions. We were able to observe different relationships in the ways of being, working, and living, impelling new forms of (re)significance of the place.

Keywords: Agroecology; Person-Environment Relationship; Environmental Psychology; Relationship with Place; Rural Context.


 

 

Diante da crescente necessidade de produção de alimentos, a agricultura tem se mostrado um fator importante na modificação dos espaços naturais, tendo o trabalhador rural um papel fundamental nessa transformação. Considerado uma das atividades mais impactantes sobre o ambiente em nível mundial (FAO, 2006), o cultivo de alimentos por meio de práticas não conservacionistas acarreta uma série de consequências nocivas ao ser humano e à natureza, refletida no aumento da abordagem sobre os problemas associados à produção, ao consumo, à saúde e ao meio ambiente. Nesse sentido, a falta de sustentabilidade - compreendida como um modelo que atende às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras (Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991) - no campo remete à necessidade de soluções emergenciais que visem minimizar os impactos socioambientais gerados pelos diferentes modos de produção.

Contrapondo-se ao modo de produção agrícola hegemônico e na tentativa de resgatar um tempo em que ainda era possível ter à mesa alimentos frescos e de boa qualidade, um novo mercado é impulsionado pela crescente demanda de consumidores que procuram alternativas para uma alimentação mais saudável, sem agredir a natureza. Ao buscar romper os bloqueios impostos pelo regime de cultivo químico-dependente, a agroecologia surge como uma proposta alternativa para minimizar os problemas ocasionados pela modernização da agricultura, buscando, entre outras coisas, denunciar os efeitos do agronegócio e conquistar uma maior autonomia dos agricultores. Nesse âmbito, Zamberlam e Froncheti (2012) acreditam que "a questão agroecológica nos coloca novos desafios na relação, na inter-relação e na dialogação não só entre o homem e a natureza, mas com todas as coisas existentes" (p. 7).

Ao considerar que as transformações na forma de cultivo podem ocasionar diferentes maneiras de perceber e significar o ambiente, há uma necessidade de abordar contextualmente e compreender as complexidades geradas pelas mudanças no modo de produzir e agir em relação ao lugar. Por serem dinâmicos e continuarem a se regenerar à medida que as pessoas se esforçam para se adaptar aos seus novos significados, alguns lugares são traduzidos em fortes vínculos emocionais, influenciando atitudes e comportamentos. Portanto, em qualquer esforço de transformação, é imperativo entender o nível, a forma de vínculo e os significados associados a esses lugares (Ujang & Zakariya, 2015).

Para Cheshire, Meurk e Woods (2013), a prática da agricultura vincula o agricultor à terra, promovendo forte sentimento de apego ao lugar, que seria a formação de um vínculo cognitivo-emocional entre o indivíduo e o ambiente (Scannell & Gifford, 2017), contrastando com a percepção de mobilidade e desenraizamento da população não agrícola na sociedade contemporânea. Levando-se em consideração que as pessoas se tornam mais motivadas a buscar permanecer, proteger e melhorar os lugares que são significativos para ela (Manzo & Perkins, 2006), o vínculo afetivo ao lugar pode contribuir para uma maior ação e engajamento em práticas socioambientais na comunidade.

Embora haja poucas pesquisas que investiguem especificamente a perspectiva de agricultores agroecológicos, sua relação com o lugar e o uso dos recursos naturais, estudos empíricos sugerem que os vínculos relacionados ao lugar, como, por exemplo, identidade (Proshansky, Fabian & Kaminoff, 1983), senso de lugar (Tuan, 1983) e apego ao lugar (Low & Altman, 1992), estão envolvidos de alguma forma com práticas agrícolas sustentáveis, preservação e/ou cuidado ambiental (Anderson, Williams & Ford, 2013; Lincoln & Ardoin, 2015). De acordo com Lincoln e Ardoin (2015), as investigações existentes abordaram apenas tangencialmente as práticas ambientais e socialmente benéficas realizadas pelos agricultores e a relação com o lugar. Nesse sentido, a agricultura pode, portanto, "envolver uma complexa interface entre as influências particulares, sociais, financeiras e ambientais" (Morgan, Hine, Bhullar, & Loi, 2015, p. 36), resultando em um conjunto único de desafios.

Considerado como um espaço plural, constituído por um processo dinâmico de constante reestruturação, o ambiente rural passa a absorver diferentes modos de identificação e de afiliação com o território (Saforcada, 2015). Sendo assim, destaca-se, segundo Wanderley (2001), a necessidade de se investigarem os valores e as práticas sociais dessa população, uma vez que estes podem intensificar ainda mais o sentimento de pertencimento a um lugar e de identidade territorial. Ademais, conhecer essas relações pode proporcionar subsídios para entender as cognições e os afetos dos produtores agroecológicos com o campo e a natureza, que, direta e indiretamente, orientam suas práticas cotidianas, além de poder contribuir para a elaboração de propostas que levam a desenvolvimento rural e agrícola verdadeiramente mais sustentável.

Com base na revisão da literatura que será apresentada, constatou-se que os estudos envolvendo o contexto rural e as relações com o lugar ainda são escassos, principalmente quanto ao vínculo afetivo em áreas agrícolas. Diante disso, o estudo investigou a natureza do vínculo afetivo dos produtores agroecológicos com o lugar, mais especificamente em um assentamento rural localizado no interior do estado do Rio Grande do Norte, situado na região Nordeste do Brasil. A realização do presente estudo possibilitou tratar esse tema além das fronteiras disciplinares, apresentando contribuições para que novos olhares sejam lançados na discussão sobre a problemática investigada.

A literatura-base utilizada para fundamentação deste trabalho será explorada na próxima seção, identificando-se os aspectos-chaves que ajudarão na compreensão das análises e discussões. Em seguida, são descritos os procedimentos metodológicos que serviram de direcionamento para a condução da pesquisa, abordando-se as escolhas epistemológicas, bem como o processo de construção e análise dos dados. Na quarta seção são apresentadas as análises e a discussão dos resultados encontrados com base nas evidências empíricas do estudo. Por fim, a última seção é reservada para as considerações finais das principais contribuições que foram encontradas e sugestões para pesquisas futuras.

 

2. Revisão da literatura

2.1 A relação com o lugar e o (vi)ver rural

A ligação com a terra, da qual direta ou indiretamente extraímos nossa subsistência, e as realizações da sociedade sempre estiveram presentes na história das comunidades humanas (Williams, 2011). O vínculo a um lugar, segundo Hummon (1992), reflete o nível de envolvimento social e compromisso individual com o local, especialmente em ambientes rurais em que o tamanho e o tipo de comunidade podem exercer níveis de satisfação maiores do que em contextos urbanos.

Nesse âmbito, estudos sobre a relação com o lugar têm exercido fascínio e curiosidades, recebendo grande atenção por parte da psicologia e, particularmente, dos estudos que investigam as interações humano-ambientais (Hidalgo & Hernandez, 2001; Raymond, Brown & Weber, 2010; Scannell & Gifford, 2010a). A interdisciplinaridade desse tema, presente em diversos campos de estudos, possibilita investigar, por diferentes ângulos, os vínculos afetivos que as pessoas desenvolvem em relação a determinados lugares. Ao longo das últimas décadas, diversas pesquisas nacionais e internacionais passaram a abordar o tema em relação às mais diferentes áreas do conhecimento como, por exemplo, sociologia, antropologia, psicologia, arquitetura, administração, turismo, geografia humana, agricultura, ciências da saúde, entre outras (Felippe & Kuhnen, 2012; Giuliani, 2003; Hidalgo & Hernandez, 2001; Lewicka, 2011; Scannel & Gifford, 2010a; Vaske & Kobrin, 2001).

Atualmente, existe uma crescente e extensa quantidade de estudos que procuram abordar as relações das pessoas com os lugares como uma espécie de apego ao lugar (place attachment). Nesse contexto, levando-se em consideração que o entendimento das complexas relações entre as pessoas e os lugares pode ser bastante desafiador e ilusório (Walker & Ryan, 2008), Raymond, Brown e Weber (2010) propõem um modelo de análise do apego ao lugar para áreas rurais e de ambientes naturais, sugerindo a existência de cinco dimensões de apego ao lugar que são divididas em três eixos, conforme apresentado na Figura 1.

 

 

O primeiro contexto refere-se ao vínculo pessoal, composto pelas dimensões de identidade e dependência de lugar. Esse contexto ressalta o significado atribuído às dimensões do self, como a mistura de sentimentos sobre as configurações físicas específicas e as ligações simbólicas com o lugar, além das conexões funcionais ou dirigidas a objetivos pretendidos. Já o segundo contexto aborda as características do ambiente natural como um fator influenciador do apego ao lugar, destacando-se a ligação/conexão da pessoa com a natureza. Por sua vez, o terceiro remete ao contexto social, considerando a importância do papel da comunidade na formação do apego ao lugar e a relação existente do vínculo do indivíduo com a família e os amigos (Raymond, Brown & Weber, 2010).

De acordo com Lewicka (2005), a ligação afetiva com um lugar proporciona condições psicológicas que levarão a efeitos benéficos tanto para a pessoa como para a comunidade a que pertence. Sendo assim, o conceito de comunidade local estaria intimamente ligado a um senso de pertencimento ou apego à comunidade, formado por redes sociais que funcionam em espaços geográficos bem definidos (Giuliani, 2004). Para Scannell e Gifford (2017), o vínculo ao lugar pode gerar a sensação de pertencimento, conectando simbolicamente as pessoas aos seus antepassados e culturas, além de reforçar os laços sociais com os membros da comunidade, o que pode resultar em benefícios para todo o grupo.

As inter-relações com os lugares também podem ser entendidas por meio das apropriações que o ser humano realiza com os ambientes. Por enfatizar a natureza dialética (comportamental e simbólica) do processo de ligação com o lugar, a apropriação do espaço também incorpora a dimensão temporal ao longo dos estágios do ciclo de vida (Pol, 1996), o uso do espaço na transformação e identificação com o lugar (Vidal & Pol, 2005), bem como a influência das memórias pessoais, os vínculos intergeracionais e as representações culturais da história de um lugar (Benages-Albert, Masso, Porcel, Pol & Vall-Casas, 2015).

Apesar de ser crescente o interesse pelo tema, poucos estudos nacionais dedicados à investigação da relação com o lugar foram evidenciados. Essa carência de estudos na área também é destacada por Felippe e Kuhnen (2012) ao afirmarem que a pouca produção nacional relacionada aos laços afetivos das pessoas com os lugares evidencia um descompasso de interesses entre nações, o que pode ser compreendido pelo fato de a produção internacional sobre o tema ser notadamente recente.

2.2 Engajamento socioambiental e a relação com o lugar

Apesar do crescente interesse nos estudos que investigam a ligação com o lugar e a relação socioambiental (Lewicka, 2005; Morgan et al., 2015; Mullendore, Ulrich-Schad & Prokopy, 2015; Takahashi & Selfa, 2015; Vaske & Kobrin, 2001; Walker & Ryan, 2008), esta associação não se apresenta de forma evidente e bem definida (Scannell & Gifford, 2010b). Com isso, ao longo das últimas décadas, o entendimento dessa relação vem se tornando um desafio para os que se propõem investigá-la, sendo suas pesquisas alvo de constantes contradições.

A afinidade do indivíduo ao lugar e as ações de participação e controle relacionadas a práticas socioambientais foram verificadas em alguns estudos (Brown, Perkins & Brown, 2003; Brown, Perkins & Brown, 2004; Kelly & Hosking, 2008; Lewicka, 2005; Manzo & Perkins, 2006; Wakefield, Elliott, Cole & Eyles, 2001; Walker & Ryan, 2008), que identificaram uma estreita relação entre o vínculo afetivo ao lugar e a predisposição para o engajamento em ações socioambientais na comunidade. De acordo com Lewika (2011, 2005), diversas pesquisas demonstram que o apego ao lugar pode contribuir para a atividade cívica tanto do indivíduo como da comunidade em geral, o que pode ser representado por comportamentos sustentáveis, ecológicos e reações a invasão de seus territórios. Segundo a autora, o apego ao lugar pode incentivar e motivar o envolvimento em ações cívicas por meio dos laços de vizinhança presentes no lugar, do capital cultural, do tempo de residência e do interesse nas raízes da história familiar.

Os estudos que investigam os vínculos emocionais com lugares em associação com os laços sociais e a territorialidade geralmente apresentam uma compreensão sistêmica do fenômeno (Felippe & Kuhnen, 2012). Nesse sentido, um conjunto acumulado de evidências foi detectado por Scannell e Gifford (2017), demonstrando alguns benefícios psicológicos atribuídos ao vínculo pessoa - lugar, tais como: memórias, pertencimento, relaxamento, emoções positivas, apoio à atividade, conforto/segurança, crescimento pessoal, liberdade, entretenimento, conexão com a natureza, benefícios práticos, privacidade e estética. Portanto, influenciada por fatores sociais e ambientais, a relação afetiva com o lugar pode servir como forte motivação para estratégias de proteção e cuidado com o ambiente, seja em nível individual ou grupal (Walker & Ryan, 2008).

Pesquisas realizadas por Lokocz, Ryan e Sadler (2011) e Walker e Ryan (2008) detectaram que o nível de apego de uma comunidade rural ao lugar teria uma forte ligação com a predisposição desses moradores para se envolverem no planejamento de estratégias de conservação e uso da terra. A partir desses dados, Bruno, Profice, Aguiar e Ferraz (2018) defendem que o sentimento de pertencimento de uma pessoa a um lugar e a uma comunidade pode proporcionar, em nível individual, maior sensação de bem-estar, satisfação e qualidade de vida. Já em nível comunitário, pode estimular um maior sentimento de força comunitária, participação e mobilização na busca pela mudança social. De acordo com os autores, a interação cotidiana presente nos contextos rurais, seres e processos naturais contribui para o apego ao lugar (Bruno, Profice, Aguiar & Ferraz, 2018), o que pode influenciar, portanto, para um maior envolvimento em ações de cuidado socioambiental.

Diante dos estudos apresentados anteriormente, faz-se necessário que mais pesquisas sejam realizadas para analisar o compromisso ambiental e a relação com o lugar, especialmente em contextos rurais (Goslling & Williams, 2010). De fato, pode-se perceber a existência de fortes indícios para a ligação entre o vínculo ao lugar e as práticas de engajamento socioambientais, motivando a realização de novas investigações que consigam aprofundar e analisar essa relação, especialmente em contexto brasileiro.

Nesse sentido, conforme o que foi abordado anteriormente e levando-se em consideração os aspectos ainda contemplados de forma insuficiente pela literatura, este estudo investigou a natureza da relação com o lugar, a partir das vivências de produtores agroecológicos de uma comunidade rural, sendo para isso adotados os procedimentos metodológicos descritos a seguir.

 

3. Procedimentos metodológicos

Esta pesquisa está ancorada nos princípios da abordagem qualitativa, de inspiração etnográfica e caráter exploratório. Alinhada a uma abordagem que possibilita dar voz aos sujeitos do estudo, é adotado um posicionamento com ênfase no paradigma interpretativista, assumindo-se, portanto, a subjetividade do pesquisador. Apoiado no argumento de Daft e Weick (2005), que entende o sistema interpretativo como uma atividade social complexa que não pode ser tratada por técnicas precisas de mensuração, tal escolha se deve ao fato de essa abordagem permitir acessar sob novos pontos de vista à riqueza das informações pesquisadas.

Ao permitir um mergulho com maior profundidade no contexto e nas informações, a estratégia de estudo de caso proporcionou uma melhor investigação e compreensão do tema proposto, possibilitando, assim, uma maior reflexão para a discussão dos problemas relacionados. Nessa perspectiva, segundo Merriam (1988); Patton (2002) e Stake (1988), casos podem ser constituídos por indivíduos, grupos, programas, instituição, processo, culturas, regiões, estados, empresa, incidentes críticos, unidade social ou um determinado grupo de pessoas que compartilham o mesmo ambiente e a mesma experiência. No presente estudo, o caso foi constituído pelo conjunto de agricultores que realizaram a transição do cultivo convencional para o agroecológico no assentamento rural Canto da Ilha de Cima, localizado na zona rural do município de São Miguel do Gostoso, no estado do Rio Grande do Norte.

Com uma história marcada por muitos conflitos e ameaças, o assentamento escolhido teve início oficialmente em 1995, quando algumas famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais lutaram, ocuparam e conquistaram o seu pedaço de terra. De acordo com os moradores mais antigos, no local havia uma fazenda que não era utilizada pelo antigo proprietário, o que motivou, diante da necessidade de terras para o cultivo e a sobrevivência, que algumas pessoas utilizassem parte da propriedade para suas plantações.

O assentamento analisado foi escolhido devido as suas particularidades, já que diante das inúmeras dificuldades enfrentadas, foi por meio do cultivo sem a utilização de agrotóxicos e do trabalho na forma de economia solidária que algumas famílias encontraram novas alternativas de permanecer no lugar. A mudança da forma de produção se refletiu também na transformação do modo de vida da comunidade rural, influenciando em aspectos socioambientais dos moradores. Com isso, o método adotado possibilitou um melhor direcionamento para investigar a natureza do vínculo desses agricultores em um lugar que passa atualmente por plena transformação nas dimensões: social, ambiental, econômica e cultural.

Com base no pressuposto de que não é possível compreender uma dada realidade sem observar o contexto que a circunda, a observação participante foi realizada por permitir um melhor acesso do pesquisador a aspectos do comportamento humano, verificando in loco elementos importantes da inter-ação pessoa-ambiente. Para isso, o diário de campo foi adotado como instrumento de pesquisa, por possibilitar o registro das informações produzidas no contexto investigado, com descrição dos acontecimentos e fatos, assim como as impressões percebidas.

Os participantes foram escolhidos intencionalmente e por acessibilidade, sendo entrevistados dez agricultores (incluindo marido, esposa e filhos), que estão vinculados diretamente ao cultivo de alimentos agroecológicos. A quantidade de entrevistas realizadas adotou o critério de saturação teórica (Glaser & Strauss, 1967), estratégia utilizada quando se percebe que os dados já obtidos apresentam certa redundância e repetição e o acréscimo de novos dados esgota o surgimento de outras categorias e propriedades.

Desse modo, o grupo foi composto por dez pessoas, sendo quatro homens e seis mulheres com idades que variaram entre 18 e 55 anos. Todos os participantes possuíam no mínimo o ensino fundamental completo e estavam em plena atividade com o trabalho agroecológico. Por representar um movimento contra-hegemônico ao padrão de produção agrícola até então existente no assentamento, entendemos que esses moradores sejam uma escolha significativa e relevante para o aprofundamento dos estudos de como questões sociopolíticas e ecológicas também podem influenciar a relação das pessoas com o lugar, atendendo, portanto, aos critérios relacionados ao estudo.

A inserção no campo deu-se por meio do vínculo inicial como pesquisador. As primeiras visitas ao lugar e às conversas com os assentados foram fundamentais para estabelecer o processo de confiança e conhecimento sobre as intenções do estudo. Em seguida, com o convívio direto no lugar, o fato de estar hospedado na casa de um dos agricultores possibilitou uma melhor proximidade e interação com as famílias assentadas, o que permitiu vivenciar diferentes momentos da vida cotidiana.

Com o consentimento dos respondentes, todas as entrevistas foram gravadas para posterior transcrição, sendo todos os participantes identificados com nomes fictícios. Faz-se importante ressaltar que foram tomados todos os cuidados éticos previstos para as pesquisas com seres humanos, sendo esta pesquisa submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A realização de entrevistas também mostrou-se adequada, principalmente, como salienta Albuquerque (2001), para o ambiente rural, onde um grande contingente de pessoas apresenta baixo nível de escolarização. As entrevistas, em sua maioria, foram realizadas durante o período em que um dos pesquisadores conviveu diretamente no assentamento, tendo tido a duração mínima de 30 e máxima de 240 minutos.

O roteiro das entrevistas consistiu em perguntas semiestruturadas, sendo inicialmente realizadas questões de natureza sociodemográficas, tais como: idade, gênero, estado civil, escolaridade, entre outras. Posteriormente, foram realizadas perguntas disparadoras que versaram sobre suas histórias de vida, a conquista pela terra, o começo do trabalho com a agricultura e o processo de transição do cultivo convencional para o agroecológico. Em seguida, de forma mais específica, foram conduzidas as perguntas norteadoras relacionadas às dimensões da relação com o lugar, propostas por Raymond, Brown e Weber (2010). Tais perguntas abordavam aspectos relacionados à identidade e dependência do lugar, à relação do agricultor com a natureza, com a comunidade e também com a família. Nesse sentido, procuramos estudar a afetividade a partir da integração e associação entre o físico e o social, pois não há como separá-las totalmente (Altman & Low, 1992).

O corpus construído com as entrevistas e o diário de campo foram analisados com base na análise de conteúdo temática, de lógica interpretativista (Braun & Clarke, 2006). Tal lógica foi escolhida por possibilitar uma melhor identificação e a análise dos temas que foram significativos e recorrentes na fala dos entrevistados, além de viabilizar a interpretação dos aspectos importantes para o cumprimento do objetivo da pesquisa. Para isso, foi utilizado o software ATLAS.ti como ferramenta de apoio para o tratamento, manuseio e organização dos dados, auxiliando, assim, o processo de interpretação.

 

4. Análise e discussão dos resultados

Por meio das observações realizadas e das narrativas dos entrevistados, procuramos entender as suas relações afetivas com o lugar. A seguir, são apresentados os relatos de alguns agricultores e agricultoras, moradores do assentamento, que revelam aspectos do vínculo afetivo relacionado ao lugar. A partir da identificação desse(s) vínculo(s) e reconhecimento, podemos observar como esses moradores se relacionam, significam e percebem o ambiente, contribuindo para um melhor entendimento do fenômeno analisado.

4.1 Rompendo cercas: por um lugar para chamar de "meu"

Alguns dos agricultores assentados contaram que durante a infância, quando ainda viviam em uma das comunidades vizinhas, brincavam cotidianamente nas dunas e nos terrenos próximos à antiga fazenda, pois consideravam tudo "uma coisa só". Com o passar dos anos, a utilização da terra se tornava cada vez mais uma condição essencial para a sobrevivência dos agricultores, garantindo suas subsistências e renda financeira.

Os relatos demonstraram que uma das principais razões de ligação com o lugar se deve ao fato de este ter sido o local onde cresceram, brincavam com amigos e, ao mesmo tempo, ajudavam a família (pais e avós) na plantação quando criança. Tais experiências vividas estão ligadas à influência que as memórias da infância podem exercer na relação com o lugar, de modo que as histórias desse passado ambiental podem ser elementos importantes da dimensão temporal na estruturação da identidade social e do lugar (Medeiros, 2005).

Segundo os relatos, foi possível verificar, a priori, que os moradores já realizavam formas de apropriação do espaço onde futuramente viria a ser o assentamento. Este espaço, apropriado tanto pelo coletivo quanto pelo sujeito em sua singularidade, fez com que o lugar fosse transformado com o seu trabalho na terra, ganhando importância e significado. Ao envolver uma complexidade de interações entre o ser humano e o ambiente, Pol (1996) elucida que o processo de apropriação ocorre não somente da pessoa para o espaço, mas também ao contrário. Ou seja, assim como o indivíduo transforma o espaço, este também o transforma, refletindo sua identidade e estilo de vida que estão ligados aos modos de ser e fazer.

Nesse sentido, entende-se que a apropriação do lugar para o trabalho e lazer foi um aspecto importante no desenvolvimento do que pode ser uma espécie de sentimento de pertença ao lugar, principalmente pela utilização da terra para o cultivo de alimentos, como pode ser verificado na fala do agricultor, a seguir:

"Eu fui um dos fundadores disso aqui... acreditei, né? Eu acreditei que isso aqui dava certo e, graças a Deus, pra mim, tá dando certo. E eu sinto prazer de viver aqui porque eu tive uma luta grande, saí graças a Deus vitorioso. Não só eu, mas todo o assentamento saiu vitorioso, né? Que a gente conquistou o nosso espaço, né, que a gente queria a terra que a gente conquistou. Eu uso bem essa terra, eu uso bem porque eu planto, eu colho, eu crio [...]". (Ramiro, 55 anos)

Muitas explicações em relação ao assentamento também giravam em torno do sentimento de amor, orgulho e gratidão e do prazer de trabalhar e viver da agricultura. A tranquilidade encontrada no lugar muitas vezes era apontada de forma contrastante com a vida corrida, os perigos e as incertezas da cidade grande. Alguns produtores já chegaram, inclusive, a morar na capital, mas, como não se adaptaram ao cotidiano da cidade, retornaram ao assentamento.

Segundo Proshansky, Fabian e Kaminoff (1983), a identidade do lugar refere-se à mistura de sentimentos sobre configurações físicas específicas e conexões simbólicas ao lugar, definindo quem somos. Nesse sentido, a identificação com o assentamento também se afirma pela conquista da terra e pela possibilidade de produzir no que agora é "seu", aspecto que emerge diante das narrativas das diferentes histórias de vida e do desejo de permanecer morando no lugar. Ademais, autores como Santos (1997) e Bauman (2002) acreditam que o lugar é construído a partir das relações sociais estabelecidas entre os indivíduos e das experiências cotidianas e espaços vividos, sendo repletos de sentimentos e de representações, tensões e conflitos, conforme pode ser verificado a seguir com o relato da agricultora sobre o processo de luta pela terra:

"Sempre eram carros de homens fortemente armados, sabe? Amedrontando com metralhadora, ia lá em casa à procura de painho... acho que eu tinha 8 anos, a gente vivia amedrontado! [...] cercaram lá na cerca e a gente não podia passar lá pra trabalhar e aí juntou todo mundo e se mobilizou... e era tanta gente com facão que foi cortar essa cerca e a gente com medo desses homem armado! Foi muito triste, mas depois da conquista... aí as coisas aconteceram". (Corina, 30 anos)

Considerando uma variedade de cenários e emoções que podem se formar e mudar por meio de experiências negativas e positivas em relação ao lugar, foi possível observar no assentamento investigado sentimentos ambivalentes relacionados a momentos difíceis de luta pela terra e, ao mesmo tempo, a conquista do lugar como meio de sobrevivência e reconhecimento. As lembranças resgatadas apresentaram uma variedade de momentos alegres e tristes, fazendo com que alguns participantes se emocionassem ao lembrar da história do lugar enquanto relatavam os acontecimentos. Esse sentimento nostálgico é apontado por Flemsæter (2009) como estando intimamente ligado aos locais, uma vez que as memórias e a nostalgia são aspectos fundamentais nos sentidos de lar e na forma como os lugares rurais são promulgados.

4.2 Construindo saberes, cultivando reciprocidades

Após a desapropriação da fazenda e com o passar dos anos, em meio às muitas dificuldades vividas, os assentados perceberam que a conquista pela terra seria apenas o início de uma série de outros desafios a serem enfrentados. Localizado na região do semiárido potiguar, os agricultores encontraram muitas dificuldades para continuar produzindo no assentamento, principalmente devido à escassez de água decorrente da irregularidade das chuvas, do empobrecimento do solo devido à utilização de substâncias químicas e da competitividade do cultivo em larga escala nos municípios vizinhos com o uso de agrotóxicos. Tais dificuldades fizeram com que alguns moradores procurassem novas fontes de renda e/ou se mudassem para a cidade em busca de trabalho e melhores condições de vida, deixando o lugar e abandonando a atividade agrícola.

Diante dos problemas encontrados, um grupo de moradores se reuniu para discutir e organizar uma experiência alternativa de cultivo que possibilitasse continuar com o trabalho agrícola na região. Iniciava-se, assim, o cultivo de alimentos de forma agroecológica, possibilidade encontrada para tentar superar as contradições advindas do modo hegemônico de produção, além de proporcionar melhorias na qualidade de vida com uma alimentação mais farta e saudável e uma renda extra para as famílias assentadas. A formação desse grupo possibilitou o surgimento de um movimento social embrionário baseado nos princípios da agroecologia e da economia solidária.

Com o trabalho árduo que se inicia muitas vezes antes do dia nascer e sem hora certa para terminar, as famílias dos agricultores conseguem manter um ganho financeiro mais previsível com o trabalho agroecológico na forma de economia solidária. De acordo com eles, além do ganho proporcionado, a feira funciona como um meio de aproximação e comunicação direta com os consumidores, o que possibilitou reconhecer a importância dos seus trabalhos, firmando laços de amizades, confiança e fidelidade com os clientes. Nesse contexto, verificamos que além de ser um espaço de comercialização, a feira permitiu que a identidade dos agricultores ganhasse um novo significado, havendo uma outra compreensão do trabalho diante da maior proximidade com o público.

Observamos que o fato de muitos já se conhecerem e as experiências vivenciadas estimularam, ainda mais, sentimentos de cooperação e confiança mútua entre os produtores. Eles percebem que, trabalhando em conjunto e não separadamente, tornam-se mais fortes, mais unidos e integrados. Ademais, o trabalho nas hortas possibilitou que os produtores deixassem de trabalhar fora de casa, com a realização dos chamados "bicos", e se tornassem "donos do próprio negócio", como eles mesmos se consideram, ganhando relativa autonomia e independência de trabalho e renda. Também foi observado que as unidades de produção proporcionaram certo grau de consumo e uma mudança nas relações sociais de trabalho, passando de empregado a empregador, conforme o relato a seguir:

"Eu amo esse lugar... esse lugar aqui eu nasci, né, e tô sobrevivendo dele, aí se não fosse ele, onde é que tava, né? A gente hoje sem ter estudo pra ter um emprego melhor... se a gente não viver do que a gente faz... aí só se for roubar, mermo, que nem os outros faz por aí [...]. Eu já digo aos meninos que eu sou proprietário... Eu digo aos meninos que eu já sou um proprietário, é... como é que chama? Um empresário... que já tenho minha própria renda, né? [...] as coisas que a gente quer adiantar, a gente bota até algumas pessoa pra trabalhar, né? Já aumenta as coisa, né?". (Teotônio, 44 anos)

O lugar para esses agricultores funciona, portanto, muito mais do que como um endereço fixo para moradia, trabalho e lazer. É considerado como um meio de sobrevivência em que são reafirmados seus ideais identitários, possibilitando o cultivo de alimentos tanto para o próprio consumo como para a renda familiar, evidenciando uma melhoria nos padrões de vida desses trabalhadores. Nesse aspecto, percebemos também que a casa e o trabalho, diferentemente do espaço urbano, estão relacionados de forma indissociável.

Entendida como o preenchimento de objetivos e necessidades (psicológicas e físicas) proporcionados pelo ambiente à vida da pessoa (Bow & Buys, 2003), a dependência do lugar exerce uma influência funcional na relação com o lugar. A possibilidade de tirar da própria terra o sustento da família faz com que essas pessoas se sintam ainda mais ligadas ao assentamento, o que, segundo Ujang e Zakariya (2015) e Flemsæter (2009), indica uma forma de apego econômico e funcional do quanto uma pessoa se sente ligada e dependente de um lugar devido à satisfação das suas necessidades, objetivos e motivações. Tal aspecto utilitário possibilita analisar como o lugar se torna importante por proporcionar os recursos e condições necessárias que dão suporte para o cumprimento de metas específicas e atividades desejadas pelos agricultores.

4.3. "Somos todos uma família só"

O assentamento pode ser caracterizado tanto como um espaço de individualidades, como de vivências coletivas. As relações com a comunidade possuem forte influência do contexto histórico de luta e conquista do lugar, principalmente entre os moradores mais antigos que vivenciaram todo o processo.

Como é um assentamento relativamente recente, com aproximadamente 28 anos, parte dos moradores ainda é formada por pessoas e familiares que acompanharam a luta pela terra e presenciaram de perto a sua conquista. Essa união pode ser observada no relato do agricultor, a seguir, que enfatiza o apoio da comunidade, independentemente do gênero e da faixa etária, na resistência e luta pela terra:

"Nós se reunimos um dia aqui, homem, mulher e criança e fomo pra dentro do mato, acho que nós tinha aproximadamente umas 200 pessoas, entre grande e pequeno, e derrubamo essa cerca na foice, estaca cortada de três pedaço, sabe? Aí pronto, aí o negócio ficou acirrado mermo, e eu tinha muito medo [...]". (Ramiro, 55 anos)

Os laços de parentesco presentes no lugar também despertaram especial atenção, funcionando como uma relação de suma importância para os produtores e seu modo de vida. A proximidade de moradia com pais, irmãos e demais parentes que também residem no assentamento estimula o cultivo agroecológico, fortalecendo o vínculo dos produtores com o lugar. De certa forma, mesmo tratando-se, em alguns casos, de parentesco distante, quase todas as famílias são aparentadas entre si. Com isso, a importância dos parentes e o elo existente entre as famílias assentadas não se restringem somente às estratégias de sobrevivência, desenvolvendo-se também formas de sociabilidade que são costumeiramente valorizadas em comunidades rurais. Constatou-se, portanto, que as relações com a comunidade e a família muitas vezes são vistas de forma entrelaçada, sendo considerada pelos agricultores como um importante meio de cooperação e tomada de decisões, conforme pode ser observado na fala a seguir:

"Aqui eu tinha uma irmã que morava lá na outra rua, tem minha irmã aí, tem meu irmão aqui, aí pra cá já é a família do meu marido... essa rua é uma família só! Aí já tem outro lá do final que somos cumpadre [...]". (Ermelinda, 44 anos)

A fixação de gerações é outro fenômeno conhecido, contribuindo para a construção social que une o apego ao lugar ao significado atribuído à terra (Lewicka, 2011). No mesmo sentido, Kyle e Chick (2007) apontam para a importância atribuída ao se colocar as experiências compartilhadas com a família e amigos próximos, visando à formação do significado de lugar em áreas agrícolas. Além disso, de acordo com as memórias e experiências vivenciadas no assentamento, observou-se uma ligação genealógica relacionada ao lugar, conforme proposto por Low (1992), fomentada diante do vínculo familiar presente nas histórias narradas e na herança sucessiva da propriedade.

Ao influenciar fortemente nas práticas agrícolas e tomadas de decisões, as mulheres passaram a desempenhar um novo papel social no lugar. O cultivo agroecológico e o trabalho na forma de economia solidária tiveram uma importante influência no incentivo ao protagonismo feminino no assentamento, estimulando a participação em movimentos sociais e uma maior conscientização em relação às questões de gênero na comunidade, conforme destaca a agricultora a seguir:

"A economia solidária e agroecologia além do respeito com meio ambiente, tem essa questão das relações de gênero. Porque não adianta você fazer agroecologia e economia solidária se você não levar em conta o papel da mulher, né? A questão da família, do respeito". (Corina, 30 anos)

Além do que foi apontado anteriormente, foi possível verificar que o sentimento de comunidade não está relacionado apenas aos aspectos sociais, mas também aos laços que as pessoas desenvolvem com o ambiente natural, além do residencial (Bow & Buys, 2003). O sentimento de pertencer a uma comunidade com a qual se identifica pode proporcionar ao indivíduo saber que reciprocamente é possível contar com parcela de recursos da comunidade, ao mesmo tempo em que esta também requer alguma parte de seus recursos.

Nesse sentido, o indivíduo cuida e também é cuidado por aqueles aos quais sente que pertence (Pretty, Chipuer & Bramston, 2003), proporcionando, assim, um maior senso de comunidade. Hummon (1992) afirma que os envolvimentos sociais locais, seja com amigos ou parentes, são fontes consistentes e significativas de laços sentimentais com os lugares. Com isso, o engajamento com a comunidade local também funciona como um importante aspecto de ligação dos agricultores ao lugar (Flemsæter, 2009).

4.4. Natureza como alimento para o corpo e a alma

Hoje em dia, parte dos lotes do assentamento ainda apresenta características da mata nativa. Entretanto, nos lotes em que existe uma maior ocupação, observa-se uma menor incidência da vegetação, que foi perdendo cada vez mais espaço para a construção das casas, ruas e plantações.

Ao analisarmos a interação dos agricultores com o ambiente natural, percebemos formas diferenciadas dessa relação, atribuindo-se características relacionadas a um perfil de afinidade ecológica e utilitarista da natureza (Flemsæter, 2009; Ujang & Zakariya, 2015). O perfil de afinidade ecológica está ligado aos sentimentos de contemplação, admiração e gratidão com a natureza, considerando o local de cultivo, muitas vezes, como um ambiente restaurador (Mayer, Frantz, Bruehlman-Senecal & Dolliver, 2009) que é procurado para se "desligarem" e se reestabelecerem dos problemas enfrentados.

Nessa perspectiva, formas diferentes de integração com a natureza foram observadas, sendo demonstradas por meio de relações de respeito, conectividade e reciprocidade. Uma concepção de natureza punitiva também foi percebida nas falas de alguns agricultores, que enfatizavam o caráter de mutualidade da ação negativa das pessoas e as consequências ambientais provocadas, conforme o agricultor comenta a seguir:

"Você respeitando, né? A natureza. Porque a natureza, ela te cobra se tu judiar com ela". (Teotônio, 44 anos)

Por outro lado, o perfil utilitarista foi observado como uma forma de apropriação funcional da natureza, levando-se em consideração os benefícios que ela pode proporcionar para a sobrevivência dos produtores. Baseado em uma visão de natureza produtivista, a interação com o ambiente natural, neste caso, foi observada como o ganho e a rentabilidade financeira ligada ao cultivo e à venda dos alimentos, que passa a ser considerada também como uma forma de permanecer no lugar. A cura pela natureza também foi um forte aspecto percebido no relato dos produtores, resgatando crenças e os conhecimentos populares para o tratamento de doenças e demais enfermidades, como observado a seguir: "Aqui em casa é mais só remédio do mato, que eu acho muito bom. Faço garrafada e lambedor quando tem muita gente aqui que manda fazer lambedor pra tosse". (Marilene, 55 anos)

Folhas, caules e raízes dão origem aos diversos remédios naturais, o que possibilita alternativas aos caros remédios das farmácias. Crendice ou verdade, ao ultrapassar os limites do tempo e resistir à era da medicalização industrial, a cura pela natureza foi uma das formas encontradas para suprir também a carência de atendimento médico na região. A esse respeito, Mazumdar e Mazumdar (1993) sinalizam que o plantio e a harmonização do ambiente com plantas ritualmente significativas também podem ser considerados como forma de apropriação do espaço, sendo as crenças e os atos sagrados importantes elementos de ligação das pessoas ao lugar.

A diversidade de modos de perceber a natureza e as distinções que se operam por meio da sua utilização são claramente expressas nos depoimentos dos agricultores, que apresentam uma visão ambígua quanto a sua significação. Parece haver entre os agricultores agroecológicos, portanto, cosmovisões distintas de natureza, ocorrendo uma espécie de disputa paradigmática em que o modo de produção hegemônico permanece em constante rivalidade com o emergente, estando inserido constantemente nos modos de ser, trabalhar, viver e conhecer dos assentados.

 

5. Considerações finais

Nas últimas décadas, vários estudos trouxeram à tona a questão da relação com o lugar nos mais variados contextos. Diante disso, considerando a acentuada importância que o sistema agroecológico de produção apresenta na transformação das relações com o ambiente e entre as pessoas, esta pesquisa buscou trazer o estudo da relação com o lugar como uma proposta de pesquisa a ser utilizada nas investigações sobre as relações humano-ambientais em contextos agrícolas e rurais.

Como verificado, a agricultura e o processo de luta e conquista da terra se confundem com a própria história das famílias dos moradores, ocupando determinada centralidade do papel da terra ao influenciar tanto na dimensão funcional como nas dimensões simbólica e espiritual. O conjunto do corpus analisado até o momento nos leva a perceber as transformações na configuração da forma de uso e ocupação da propriedade, sendo elencadas, a partir das experiências e memórias, as diferentes maneiras de vivenciar a relação com o lugar.

O sentimento de pertencimento e ligação com a terra, tanto como base produtiva, como espaço de moradia, de contemplação e de lazer, foi verificado em diversas narrativas, demonstrando importantes elementos que direcionam para uma melhor compreensão do fenômeno investigado. Nesse sentido, o vínculo afetivo com o lugar no contexto analisado ultrapassa o entendimento do local unicamente como espaço de produção, denotando a relação com o assentamento e a terra de cultivo como um ambiente de referenciais identitários e pertencimento, caracterizados por aspectos que se assemelham à apropriação do espaço e à identidade de lugar.

Levando-se em consideração as experiências vivenciadas desde a infância até os dias atuais, vários entrevistados transmitiram memórias pessoais e familiares que foram vivenciadas no assentamento, o que demonstra que a análise da dimensão temporal não pode - e nem deve - ser desvinculada do entendimento da relação dos assentados com o lugar. O vínculo familiar, por exemplo, juntamente às experiências de vida transmitidas por diferentes gerações, indicou uma forte ligação genealógica presente no assentamento. Verificamos também que a relação com a comunidade e a família muitas vezes se sobrepõe, já que boa parte dos moradores do lugar é formada por pessoas que, direta ou indiretamente, possuem algum vínculo de parentesco.

A polissemia caracterizada ao lugar reflete, assim, diferentes formas de vínculos. Os participantes investigados apresentaram tipos particulares de vínculos com o lugar que, por sua vez, dependiam das trajetórias de vida, das alterações no ambiente e das relações socioeconômicas e ambientais estabelecidas. Com isso, foram verificados diferentes aspectos da relação dos agricultores com o lugar, revelando um vínculo multidimensional formado por distintas formas de significação. As dimensões relacionadas à identidade e à dependência de lugar, a conectividade com a natureza e a relação com a comunidade e a família foram importantes elementos que contribuíram para esse entendimento.

A linha que separa o cuidar do amar é tênue. Entretanto, foi possível detectar que as novas formas de cultivo e economia possibilitaram uma ressignificação positiva do trabalho e do lugar, mesmo quando não se percebiam fortes vínculos e apegos. O conjunto dos dados analisados nos leva a pensar, portanto, que diferentes alternativas de agricultura e economia, como a agroecológica, podem contribuir não somente para uma revalorização da própria atividade agrícola como também do meio rural e, especificamente, da terra de cultivo. Nessa transição paradigmática, observamos uma comunidade em constante transformação, o que impulsiona novas formas de relação e (re)significação do lugar e da natureza.

Apesar de a pesquisa possuir limitações próprias de uma amostra por conveniência, tendo sido o estudo de caso desenvolvido em um determinado assentamento, seus resultados podem não expressar a realidade de outras localidades. Pesquisas futuras poderão explorar outros novos elementos que também auxiliam nessa relação, levando-se em consideração diferentes contextos, regiões e atividades econômicas, bem como as transformações ocorridas diante do engajamento social da população no lugar.

 

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Recebido em: 15/01/2019
Aprovado em: 09/04/2020

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