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Revista Psicologia Organizações e Trabalho

versão On-line ISSN 1984-6657

Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.12 no.3 Florianópolis dez. 2012

 

Editorial

 

 

Os fatores psicossociais estão ancorados nas interações humanas e têm origens e consequências em, pelo menos, cinco âmbitos de análise: individual, das atividades de trabalho, do grupo de trabalho, organizacional e do entorno. Os conceitos associados aos processos psicossociais nas organizações e no trabalho, na amplitude de opções que constituem as vertentes que lhes são comuns, sustentam a temática proposta para este número da rPOT. O estudo dos processos psicossociais nas organizações e no trabalho tem avançado na literatura internacional e nas intervenções práticas. A literatura é farta em demonstrações das variáveis psicossociais relacionadas ao contexto de trabalho, no que concerne aos riscos e decorrentes danos e, em menor proporção, aos fatores que propiciam melhor saúde, qualidade de vida e bem estar. Explorar e aprofundar descobertas desses fenômenos, em um mundo claramente ameaçado pelo avanço do estresse vinculado às mudanças laborais, na busca de condições saudáveis e produtivas, tornou-se de inegável relevância.

Os autores convidados para colaborar com este número da rPOT estão vinculados a universidades e centros de pesquisa do Brasil, Portugal, Colômbia e Espanha. Todos mantêm preocupações, evidentes em suas histórias profissionais, voltadas para a solução dos graves problemas psicológicos e sociais interpostos pelo mundo do trabalho. São reconhecidos em suas áreas de atuação e contribuem para a construção desse campo específico de conhecimento.

Sigmar Malvezzi, da Universidade de São Paulo (Brasil), em entrevista a Johnny Javier Orejuela, da Universidad de Cali (Colômbia), no artigo "No soy más un psicólogo, soy un multidisciplinario", descreve sua trajetória de docente, pesquisador e consultor em Psicologia Organizacional e do Trabalho. Malvezzi esclarece os motivos de sua opção pela Psicologia e, posteriormente, pela área de atuação assentada no interesse pelo desenvolvimento de pessoas. Desse modo, elementos da história familiar, pessoal, estudantil e eventos políticos nacionais são entremeados na construção do profissional. Ele também elucida como as mudanças no mundo do trabalho em quatro décadas e os avanços tecnológicos e do conhecimento remodelaram as atividades de trabalho, no geral, e as da área, em particular. Isso o levou a ampliar os interesses e esforços além da área estrita da Psicologia para uma compreensão multidisciplinar dos fenômenos psicossociais. Centraliza na melhoria da qualidade de vida o objetivo maior das intervenções. Reflete sobre a educação nos níveis de graduação e pós-graduação nas realidades latino-americanas e, por fim, pondera aspectos da crise moral, do individualismo que se acentua e possibilidades de futuro dos países capitalistas.

Maria José Chambel, da Universidade de Lisboa (Portugal), interessada em analisar o comprometimento afetivo dos trabalhadores terceirizados, investigou as "Práticas de Recursos Humanos e Duplo Comprometimento Afetivo por parte dos Trabalhadores Terceirizados". Considerou dois pontos de partida. O primeiro, que quando a empresa cliente mostrava investimento no sentido de satisfazer as necessidades desses trabalhadores, estes retribuíam com atitude positiva em relação à organização. O segundo, que a relação estabelecida com a empresa cliente se relacionava com o comprometimento afetivo com a agência que contratava esses trabalhadores.

Renata Schirrmeister e Ana Cristina Limongi-França, da Universidade de São Paulo (Brasil), no artigo "A Qualidade de Vida no Trabalho: relações com o Comprometimento Organizacional nas Equipes Multicontratuais", instigadas por contribuir para a reflexão das relações de satisfação com bem-estar no trabalho e os tipos de comprometimento organizacional, tomam por base o pressuposto de que os vínculos psicossociais de comprometimento e do tipo de contrato de trabalho modificam a percepção e o significado da qualidade de vida no trabalho. Os resultados, em base de procedimentos estatísticos, comprovam relações entre as variáveis estudadas, reforçam a relevância dos construtos e revelam novos desafios para a gestão.

Carlos María Alcover, da Universidad Rey Juan Carlos (Espanha), é o autor de "¿Ageism en las organizaciones? El papel mediador del apoyo organizacional percibido en las relaciones entre la edad y la ruptura del contrato psicológico". Com base nas forças impostas pelos mercados globais, que reduzem os quadros de pessoal, pressupõe que os trabalhadores maiores de 50 anos estão sob risco nos procedimentos de downsizing. Estabelece como primeiro objetivo analisar a relações entre a idade e a percepção de ruptura do contrato psicológico e, adicionalmente, analisar o papel mediador desempenhado pela percepção de apoio organizacional nessas relações.

Gustavo Silva Menezes e Lucia Helena França, em trabalho realizado na Universidade Salgado de Oliveira (Brasil), que recebeu o título "Preditores da Decisão da Aposentadoria por Servidores Públicos Federais", constatam que o fenômeno da aposentadoria no Brasil e em diversos países, concomitante ao crescente número de idosos, é um dos maiores desafios da atualidade. Presumem que são raros os estudos sobre a transição trabalho-aposentadoria e propõe investigar as influências sobre a decisão dos trabalhadores na adoção de trabalhos após aposentadoria (bridge employment), adiamento da aposentadoria e a permanência na organização ou, enfim, pela aposentadoria definitiva.

José Carlos Zanelli, da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil), com o propósito de analisar as características psicossociais que facilitam o enfrentamento adequado dos estressores na transição para aposentadoria, apresenta um ensaio denominado "Processos psicossociais, bem-estar e estresse na aposentadoria". Postula que a aposentadoria é mais um evento entre tantos ao longo da vida, embora significativo e que as mudanças são contínuas e inerentes ao desenvolvimento humano. A interação complexa de variáveis que envolvem o fenômeno demanda continuada orientação e cuidados nas organizações de trabalho, a favor do desenvolvimento individual e redução de danos coletivos.

Narbal Silva e Suzana da Rosa Tolfo, ambos da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil), em estudo de revisão de dois conceitos complexos, sob o título "Trabalho Significativo e Felicidade Humana: Explorando Aproximações", questionam como as abordagens atuais que tratam da felicidade no trabalho, a partir de perspectivas ancoradas na Psicologia, podem ser relacionadas com percepções positivas do trabalho. Articulam argumentos sustentados em ações ou indicadores postulados por organizações voltadas à felicidade, bem estar e qualidade de vida no trabalho. Inferem que tais fenômenos implicam na construção de relacionamentos solidários e que levam em conta princípios saudáveis de convívio entre seres humanos

Lilia Aparecida Kanan, da Universidade do Planalto Catarinense (Brasil), e Silvana Regina Ampessan Marcon, da Universidade de Caxias do Sul (Brasil), amparadas na revisão da literatura, no artigo "Formação, Aprendizagens e Empowerment: Estratégias para Derrocar o Mito de Sísifo", discutem três conceitos: processos de formação do trabalhador, aprendizagens e empowerment. Com base em pressupostos das exigências intensas e constantes pelo instantâneo, imediato, breve e urgente que têm caracterizado a atualidade, o trabalhador se vê obrigado ao enfrentamento de situações que podem prejudicar o seu bem-estar. Depreendem que rearranjos impostos no âmbito pessoal interferem no que é denominado "um novo trabalhador reflexivo", condição que demanda, de parte das organizações, estratégias emancipadoras para coconstruir um sujeito implicado.

Como editores deste número, nossa intenção foi trazer ao público os estudos desses autores, de distintas proveniências, mas todos atraídos pela importância de investigar os processos psicossociais em profundidade e de projetos perfilados na solução de problemas e promoção da saúde e bem estar, ao mesmo tempo em que é necessário manter a qualidade dos processos produtivos. Somos gratos aos autores, aos avaliadores, aos revisores e a todos que colaboraram nesta construção.

 

José Carlos Zanelli
Editor Convidado da rPOT
Universidade Federal de Santa Catarina

Suzana da Rosa Tolfo
Editora Associada da rPOT
Universidade Federal de Santa Catarina