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Revista Psicologia Organizações e Trabalho

versão On-line ISSN 1984-6657

Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.13 no.3 Florianópolis dez. 2013

 

EDITORIAL DOSSIÊ

 

Inovação, criatividade e empreendedorismo

 

 

Inovação, criatividade e empreendedorismo são termos recorrentes na literatura acadêmica e profissional. Em diferentes disciplinas e nos meios de comunicação de massa os termos surgem, são destacados e volta e meia guindados ao posto de solução dos mais variados problemas. Na construção das políticas públicas o mesmo acontece: competitividade, emprego, crescimento, entre outros, são os complexos desafios para os quais estes termos parecem conter todas as respostas.

No entanto, tal importância não tem correspondência na consolidação desses conceitos. Sua pervasividade tem tido como contrapartida a polissemia e, infelizmente, a dispersão e o isolamento de grupos e linhas de pesquisa.

Isoladamente cada um dos conceitos deu origem a campos de pesquisa em diferentes graus de maturidade. Tanto nacional como internacionalmente, a inovação possui correntes enraizadas e uma produção profícua. Nesse caso, os enfoques são bem delimitados, com abordagens macroeconômicas, voltadas ao impacto da inovação no desenvolvimento dos países, estudos setoriais, abordagens no nível da firma e estudos sobre comportamento das organizações e indivíduos inovadores. A criatividade tem sido campo promissor, com estudos cada vez mais frequentes, mas com visível distância da produção internacional em relação à nacional, quando diz respeito à criatividade nas organizações. Já o empreendedorismo apresenta cenário próximo ao da inovação, com menos consolidação teórica, mas uma riqueza ainda maior de abordagens e o surgimento de grupos, linhas e revistas especializadas em grande número.

Ainda que reconheçamos os benefícios desta diversidade, a proliferação de conceitos sem o desejável diálogo interdisciplinar faz com que diferentes linhas de investigação sigam sem interconexão e que o acúmulo de conhecimento tenha custado mais do que o necessário. Os desafios teóricos e metodológicos, muitas vezes comuns, têm sido tratados em pequenas doses, frustrando, muitas vezes, o alcance do impacto desejado. O cenário indica a necessidade de buscar convergências e de promover a compreensão articulada destes conceitos que giram em torno do novo, da mudança e da iniciativa pessoal e de grupos.

Este dossiê certamente não encerra a dificuldade ora referida, mas é uma iniciativa nesse sentido, pois visa favorecer essa convergência. Em uma revista de Psicologia, foi dado espaço aos mais diferentes campos, procurando uma perspectiva transversal, e ao mesmo tempo aprofundada, desses conceitos. O dossiê busca, de maneira concomitante, destacar o estado da arte, os métodos empregados, os sujeitos e objetos escolhidos e chamar atenção para o que estamos fazendo em diferentes frentes.

Fomos bastante felizes nesta iniciativa, com o acolhimento da chamada de trabalhos por vários colegas e a participação de diversos avaliadores aos quais registramos aqui nossos agradecimentos. Muitos destes colegas atuaram pela primeira vez na Revista e têm, desde então, cumprido um papel importante na difusão deste desejo de diálogo que o dossiê enseja. Todos os autores que responderam ao nosso chamado apresentaram contribuições riquíssimas. Mesmo as não acolhidas, que são maioria, evidentemente, dado o rigoroso processo de avaliação, mostram que há um viçoso processo de construção do conhecimento em torno da temática. E os artigos que compõem este dossiê representam muito bem este frescor e pujança.

As contribuições ligadas ao empreendedorismo dominam os trabalhos selecionados para o dossiê e ilustram de que maneira a atividade empreendedora pode ser analisada sob múltiplas perspectivas. A compreensão do perfil empreendedor perpassa os objetivos de dois trabalhos. A análise de redes de mentoria, no desenvolvimento das carreiras de empreendedores incubados em Recife, mostra como o network é percebido na construção do perfil desses profissionais. Também evidencia que a mentoria pode ser trabalhada como uma forma de preparar o terreno para novos empresários. Já sob a abordagem psicodinâmica, outro artigo ilustra o papel central da subjetividade na atividade empreendedora, demonstrando a centralidade da liderança e da visão do empreendedor que contribuem decisivamente para a formação de grupos sociais no ambiente de trabalho. A importância dos empreendedores tem motivado a preocupação de identificar pessoas com este perfil e de associá-las aos mecanismos de apoio à criação de novos negócios. Três artigos se debruçam sobre esta questão. Um deles foca na análise de modelos mentais - operacional e estratégico - e visa investigar como estes influenciam as decisões estratégicas dos empreendedores, procurando tornar as escolhas mais efetivas. Outro busca relacionar perfil de personalidade e comportamento empreendedor em universitários brasileiros, permitindo também identificar mecanismos que possam ser incorporados a programas de formação de jovens empreendedores. Por fim, um terceiro artigo usa o protótipo de oportunidades de negócio para estudar o posicionamento de potenciais empreendedores, ainda sem a experiência de criação de um negócio, diante de fatores como risco, lucratividade e relacionamento com clientes, trazendo reflexões sobre ações que visem estimular a atividade empreendedora.

A criatividade nas organizações está representada em um artigo que busca identificar o papel da gestão de recursos humanos na construção de um ambiente de trabalho propício à criatividade, investigando essa problemática desde a perspectiva dos colaboradores. Com uso da template analysis, o artigo teve como cenário uma empresa portuguesa de médio porte da área de tecnologia da informação e nos traz elementos que podem ser incorporados às práticas de gestão de pessoas como forma de fomentar a criatividade e a inovação nas organizações.

A inovação é abordada em dois artigos. Ambos fogem das perspectivas tradicionais e ilustram a riqueza do tema, focando em organizações do setor de serviços. Um se dedica ao estudo da inovação no contexto de uma organização escolar de ensino fundamental, demonstrando aspectos histórico-contextuais que contribuíram para a construção da subjetividade favorável à consolidação de um projeto inovador. O outro artigo se dedica à gestão da inovação em empresas de serviços de software, procurando escrutinar as diferentes fases desse processo, os atores internos e externos, contribuindo assim com aspectos da literatura de inovação ainda pouco conhecidos no setor de serviços.

Como editores agradecemos aqui à equipe da rPOT que nos apoiou e, sobretudo, aos seus editores que compreenderam a pertinência do debate interdisciplinar aqui proposto em torno de temáticas tão relevantes. Mais uma vez agradecemos a todos os autores que submeteram artigos para este dossiê e ao trabalho inestimável dos colegas que colaboraram nas avaliações dos manuscritos. A todos desejamos uma ótima leitura e que o esforço aqui representado possa ser compartilhado por vocês em suas futuras pesquisas!

 

Fátima Bruno-Faria e Eduardo Raupp de Vargas
Editores do dossiê