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Revista Psicologia Organizações e Trabalho

versão On-line ISSN 1984-6657

Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.14 no.4 Florianópolis dez. 2014

 

Orientação profissional e de carreira: análise de um periódico internacional

 

Career Counseling and vocational guidance: analysis of an international journal

 

 

Rodolfo A. M. AmbielI; Lariana Paula PintoII,*; Karen Cristina Alves LamasIII; Fernanda OttatiIV; Maria Cristina Rodrigues Azevedo JolyV

IDoutor em Psicologia e docente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco
IIMestre e doutoranda em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista CAPES
IIIMestre em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora e doutoranda em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista FAPESP
IVDoutora em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Docente da graduação e pós-graduação lato Sensu em Psicologia pela mesma instituição
VDoutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP. Pesquisadora associada sênior do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - Psicologia da Saúde e Desenvolvimento Humano - da Universidade de Brasília. Bolsista produtividade do CNPq

 

 


RESUMO

A análise da produção científica de diferentes áreas do conhecimento pode ser considerada uma atividade essencial para o desenvolvimento da ciência, especialmente no que se refere aos periódicos científicos. Este estudo teve como objetivo analisar a produção científica sobre a orientação profissional e de carreira de um periódico internacional com alto índice de impacto, o Journal of Vocational Behavior, a partir da revisão dos artigos publicados em um quinquênio (2007-2011). Foram averiguados aspectos como autoria, palavras-chave, temática, delineamento metodológico e características das amostras. No total, 403 artigos foram analisados e os dados mostraram o predomínio de publicações estadunidenses e ausência de estudos oriundos da América do Sul. Discutem-se as diferenças de perspectivas na orientação profissional e de carreira e a necessidade da internacionalização de estudos brasileiros. Por fim, ressalta-se que este estudo se restringiu a um único veículo de divulgação científica e, portanto, não esgota as possibilidades de verificação dos artigos.

Palavras-chave: orientação vocacional, pesquisa científica, profissões.


ABSTRACT

Analysis of scientific production, in certain areas of knowledge, can be considered an essential activity for scientific development, specifically with regard to scientific journals. This study aimed to analyze the scientific production on Career and Vocational Guidance, from an international journal with high impact, the Journal of Vocational Behavior, based on the review of articles published in a quinquennium (2007-2011), examining authorship, keywords, themes, methodological design, and characteristics of the samples. Overall, 403 articles were analyzed, and the data reveal the predominance of U.S. publications and a lack of studies from South America. We discuss the different perspectives in Career Counseling and Vocational Guidance, and the need for internationalization of Brazilian studies. Lastly, it is emphasized that the present study was restricted to a single medium of scientific publication, and therefore does not exhaust the possibilities for investigating articles.

Keywords: vocational guidance, scientific research, occupations.


 

 

Analisar a produção científica de determinada área de conhecimento é uma atividade essencial e desafiadora. É essencial, pois, a partir do conhecimento de uma dada realidade, ações proativas podem ser levadas a cabo a fim de que novas políticas de publicação, bem como novos focos de pesquisa sejam implementados. Também é desafiadora, uma vez que há muita discussão sobre qual a melhor forma de se avaliar a produção científica, entre vários formatos atualmente usados. Além disso, deve-se destacar que tal preocupação não é recente e tem se estendido à avaliação de periódicos científicos e programas de pós-graduação (Feres-Carneiro, Bastos, Feitosa, Seidl-de-Moura, & Yamamoto, 2010; Prat, 1998; Witter, 1999; Yamamoto, Souza, & Yamamoto, 1999; Yamamoto et al., 2002).

Em relação à avaliação dos periódicos, de acordo com Yamamoto et al. (1999), o processo de análise tem sido realizado considerando-se a quantidade de artigos publicados e o número de citações que recebem, critérios permeados pela necessidade de serem acessíveis à comunidade científica. A esse respeito, considerando a experiência brasileira em avaliação de periódicos (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, 2012b), verifica-se que o principal critério de avaliação diz respeito à visibilidade, por meio de indexação em bases de dados internacionais. Indiretamente, a partir da avaliação dos periódicos, pode-se expandir a classificação para os artigos publicados nos mesmos. Ainda, tal expansão também pode ser feita em relação aos programas de pós-graduação, responsáveis pela formação de pesquisadores, uma vez que o principal critério para a avaliação é a produção científica de seus membros, em que pese à discussão a respeito da quantidade versus a qualidade das publicações (Hutz, Rocha, Spink, & Menandro, 2010).

Pode-se considerar que a quantificação da produção, embora capte apenas uma parte do processo, parece ser essencial para o monitoramento da qualidade da produção científica, entre outros fatores, por possibilitar comparações (Hutz et al., 2010). Assim, um dos índices que busca qualificar a produção científica mundial é chamado de fator de impacto (FI) dos periódicos, disponibilizado anualmente pelo Institute for Scientific Information (CAPES, 2012b; Strehl, 2005). O FI foi proposto inicialmente na década de 1950, ganhando força na década seguinte, cujo propósito inicial era auxiliar em pesquisas históricas. No entanto, sua utilidade rapidamente foi percebida como um auxiliar no processo de tomada de decisão a respeito de financiamentos públicos de fomento a pesquisas (Strehl, 2005).

De acordo com a Copenhagen Business School, responsável pelo Journal Citations Reports (http://www.cbs.dk/en/library/databases/journal-citation-reports), em 2012, quando foi realizada a consulta, o FI expressa a razão entre o número de citações feitas no ano atual de artigos publicados no periódico avaliado nos últimos dois anos, e o número de artigos publicados nos mesmos dois anos pelo periódico em análise. Em termos matemáticos, por exemplo, tem-se o número de vezes em que os artigos publicados em 2007 e 2008 foram citados por periódicos indexados durante 2009 (A), e o número total de itens publicados em 2007 e 2008 (B), exceções feitas a editoriais ou cartas ao editor. Portanto, o FI em 2009 é a razão entre A e B.

Assim, é possível perceber que tal índice de qualidade leva em conta a capacidade de publicação de um periódico que tenha visibilidade na comunidade científica e, portanto, é considerado indicador de impacto. É importante ponderar que os periódicos avaliados são apenas aqueles presentes no ISI, uma base de dados com regras rígidas de seleção para disponibilização de conteúdo e de acesso pago aos usuários. Assim, embora abrangente, o conteúdo avaliado pelo ISI é restrito (Testa, 1998) e contraria a política editorial do Open Access para a ciência (Harnad et al., 2004).

Com vistas a prover uma alternativa para essa situação, Harzing (2007; 2011) disponibilizou o Publish or Perish (PoP), um software livre que busca quantificar e qualificar a produção de periódicos e autores, utilizando como base o Google Acadêmico, implicando em maior abrangência do conteúdo avaliado. Para tanto, o PoP utiliza o índice h (Hirsch, 2005), originalmente desenvolvido para avaliar a produtividade de pesquisadores, mas que teve seu uso generalizado com sucesso para a avaliação de periódicos e artigos. Como exemplo de utilização do PoP e do índice h para a avaliação da produção de um periódico, pode-se citar o Comunicado 001/2012 da CAPES, referente ao QUALIS da área de psicologia, que esclarece sobre uso de tais condições para avaliação de periódicos brasileiros, com correlações entre 0,81 e 0,92 entre os índices obtidos pelo PoP e pelo ISI (CAPES, 2012b).

Para além da discussão a respeito da quantificação e da qualificação da produção científica, existe também a preocupação com o seu mapeamento, no sentido de analisar as temáticas e as variáveis mais estudadas, bem como as metodologias mais utilizadas. Nesse sentido, vários pesquisadores têm buscado avaliar a produção científica da psicologia brasileira e, para tanto, os métodos para seleção do conteúdo têm sido diversos, variando entre análises de conteúdos de revistas especificas (Oliveira, Cantalice, Joly, & Santos, 2006; Pinto, Lima, & Lima, 2011; Rueda, 2009; Suehiro, Cunha, Oliveira, & Pacanaro, 2007; Teixeira, Lassance, Silva, & Bardagi, 2007), de coletâneas de revistas (Yamamoto et al., 1999), a partir de bases de dados nacionais e internacionais (Joly, Martins, Abreu, Souza, & Cozza, 2004) e trabalhos apresentados em congressos (Joly, Silva, Nunes, & Souza, 2007).

Tais estudos permitem visualizar parte do desenvolvimento da psicologia brasileira. Se a produção nacional for comparada a de outros países, pode-se perceber que há evolução, mas também que ainda é preciso mais investimentos para o incremento da psicologia de forma geral. Contudo, quando se considera especificamente a área de orientação profissional, podem ser encontrados trabalhos brasileiros que buscaram estudar sua produção científica, inclusive por meio de revistas especializadas.

Teixeira et al.(2007) analisaram a produção científica da Revista da Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP) e da Revista Brasileira de Orientação Profissional. Ressalta-se que a segunda é uma continuação da primeira, de modo que o periódico é um dos principais veículos de divulgação da área de orientação profissional no país. Foram analisados 11 volumes publicados entre 1997 e 2006, o que corresponde a 85 artigos. Entre as variáveis investigadas, destacam-se o tipo de estudo, o método de análise dos dados, a autoria e os temas prevalentes. Os autores constataram algumas diferenças entre a primeira e a segunda fase da revista, como o aumento da proporção de estudos empíricos e de trabalhos que tiveram autoria conjunta. No geral, houve mais estudos que utilizaram análises quantitativas (61,5%), seguida de métodos qualitativos (25,6%) e mistos (12,8%). A análise qualitativa dos temas identificou a ausência de investigações sobre questões mais específicas, como orientação profissional e de carreira com populações diversas e papel e formação do orientador profissional. Além disso, os autores ressaltam a necessidade de aprofundamento nas questões teóricas.

Rueda (2009) também analisou a produção científica da Revista Brasileira de Orientação Profissional, delimitando o período de revisão entre os anos de 2003 e 2008. A partir dos 12 números publicados, 81 artigos foram analisados. Destaca-se a verificação das seguintes variáveis: quantidade de artigos publicados por número da revista e por ano, autoria e tipo de trabalho. Segundo os autores, o número de artigos publicados foi homogêneo ao longo dos fascículos, com média de 6,75 por número, no qual o ano de 2008 foi o que apresentou maior número de publicações (n=19; M=9,5). Verificou-se a predominância de trabalhos com autoria múltipla (75,31%), sendo que o número de autores por artigo atingiu o total de 10, com média de 2,35. Assim como no trabalho de Teixeira et al. (2007), o relato de pesquisa foi o mais prevalente (69,14%).

No contexto internacional, pode ser citado o trabalho de Nilsson et al. (2007), que revisou as publicações de quatro periódicos de destaque em orientação profissional realizadas em 34 anos: Journal of Vocational Behavior (1971-2004); Career Development Quarterly (1970-2004; anteriormente nomeada de Vocational Guidance Quarterly); Journal of Career Assessment (1993-2004); e Journal of Career Development (anteriormente nomeada de Journal of Career Education, 1972, 1974-2004). Foram analisados 326 manuscritos a partir dos critérios: possuir pelo menos um autor de instituição não estadunidense; a amostra não ser norte-americana e; o artigo ter foco em estudos internacionais, ou seja, fora dos Estados Unidos. Entre os resultados, recebem destaque os assuntos de carreira relacionados a aspectos culturais, à população e ao país de origem, que representam a temática de maior ocorrência (30,9%). Os autores concluíram que, ao longo desses 34 anos, houve aumento na publicação internacional sobre desenvolvimento de carreira, mas fazem ressalva de que a literatura, em geral, manteve-se escassa, sugerindo possibilidades de desenvolvimento de novas áreas dentro do contexto da orientação profissional. Além disso, os autores destacam a necessidade de ampliação das publicações de pesquisas advindas de países asiáticos, africanos e da América do Sul, aumentando, assim, a compreensão dos comportamentos de carreira entre os indivíduos de diferentes partes do mundo.

Dessa forma, percebe-se que a produção científica brasileira, de forma geral, e do campo da orientação profissional, em específico, têm sido pesquisados ao longo dos últimos anos. Contudo, não há informações sobre a produção de pesquisadores brasileiros em países estrangeiros, ainda que se perceba uma preocupação com o aumento da veiculação internacional das pesquisas nacionais. Considerando que o tema da internacionalização da ciência brasileira tem sido alvo de investimentos governamentais, como os disponibilizados pelo programa Ciência sem Fronteiras (www.cienciasemfronteiras.gov.br), conhecer os padrões de publicações estrangeiras pode ser um passo importante para balizar as pesquisas nacionais. Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar a produção científica sobre orientação profissional e de carreira de um periódico internacional com alto índice de impacto. Para este fim, efetuou-se a revisão de todos os artigos publicados em um quinquênio, averiguando, principalmente, o ano de publicação, a autoria, as palavras-chave, a temática, o delineamento metodológico e as características das amostras de estudos empíricos.

 

MÉTODO

Seleção do periódico

Inicialmente, realizou-se uma busca avançada no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que disponibiliza a produção científica nacional e internacional de alto nível para instituições de ensino e pesquisa do Brasil. Esse portal conta com a indexação de 31.400 periódicos, de todas as áreas de conhecimento, dos quais 4.791 correspondem à área das Ciências Humanas (CAPES, 2012a).

Para definir as revistas analisadas, considerou-se a existência, no título, das palavras Vocational ou Career, com restrição à área citada. Foram encontradas 15 ocorrências, conforme a Tabela 1. Ressalta-se que nessa recuperação, a revista The Black Collegian apareceu entre os resultados , contudo, por não atender ao critério de inclusão, foi excluída da análise do índice h.

Posteriormente, levantaram-se os índices h desses periódicosobtidos no período de 2007 a 2011 por meio do software de busca Publish or Perish (Harzing, 2007). Essa busca foi realizada em maio de 2012. O índice h é uma medida utilizada para calcular o impacto e a relevância da produção científica de um autor ou periódico, que utiliza o número de artigos publicados e número de citações para cada trabalho (Harzing, 2007). Por exemplo, um índice h igual a 40 significa que houve 40 artigos publicados, e que cada texto foi citado pelo menos 40 vezes em determinado período (Hirsch, 2005). Entre os periódicos recuperados, os valores encontrados variaram de 1 a 35, enquanto três revistas não apresentaram qualquer índice.

Considerando os índices obtidos, evidenciou-se que o periódico Journal of Vocational Behavior (JVB) apresentou maior valor (índice h=35), com diferença considerável dos demais, sendo, então, escolhido para a análise das publicações no quinquênio de 2007-2011. O Journal of Vocational Behavior publica artigos empíricos e teóricos com o propósito de ampliar o conhecimento acerca do comportamento profissional, bem como do desenvolvimento da carreira ao longo da vida. Em linhas gerais, os estudos publicados abrangem aspectos sobre a escolha de carreira, ajustamento e adaptação profissional, e também são úteis para aplicações em aconselhamento e programas de desenvolvimento de carreira em faculdades, universidades, empresas, indústrias, órgãos militares e governamentais.

Procedimento

Com base na literatura sobre análise cientométrica (Witter, 1999), um estudo piloto foi realizado para verificar a concordância entre os autores (juízes) e a adequação das variáveis estabelecidas para análise. Assim, um número da revista foi analisado, concomitantemente, por todos os autores. Houve concordância superior a 75% e, quando ocorreu divergência, a variável foi excluída ou adequada de acordo com a disponibilidade das informações e exequibilidade das análises, totalizando oito variáveis ao final.

Assim, as oito variáveis que restaram para subsidiar as análises foram (a) número, volume e ano de publicação; (b) número de autores; (c) país dos autores; (d) temáticas dos artigos segundo as normas do JVB (Career development and choice, Evaluations of measuring instruments and assessment methods, Job satisfaction, Multiple role management and functioning, Occupational stereotyping, Vocational and career adjustment, Work commitment and in volvement, Work stress and strain, Work-related transitions, respectivamente traduzidos como Desenvolvimento e escolha profissional, Análises dos testes psicológicos e métodos de avaliação psicológica, Satisfação no trabalho, Gerenciamento e funcionamento de múltiplas funções, Estereótipos ocupacionais, Ajustamento vocacional e profissional2, Envolvimento e comprometimento com o trabalho, Tensão e estresse no trabalho, Transições relacionadas ao trabalho); (e) delineamento (levantamento, correlacional, experimental, quase experimental, qualitativo, teórico); (f) tipo de análise (quantitativa, qualitativa ou mista); (g) sexo dos participantes (masculino, feminino e ambos); (h) palavras-chave. Destaca-se que todos os artigos publicados no JVB durante o período selecionado foram analisados.

 

RESULTADOS

Buscando responder ao objetivo proposto, os resultados são apresentados seguindo a ordem de critérios estabelecidos para análise. Inicialmente, a distribuição das publicações realizadas no JVB, de acordo com número, volume e ano, é apresentada. O JVBé uma revista quadrimestral e publica três volumes por ano, os quais possuem três números. No período de 2007 a 2011, a média de artigos por número foi de 13, e ao todo foram analisados 403 trabalhos. Em 2011 foi publicado o maior número de artigos, somando 102. A seguir, a Tabela 2 apresenta a quantidade de autores presentes nas publicações.

 

 

A partir da Tabela 2, pode-se verificar que a produção com três autores foi a mais frequente (128; 31,8%), seguido de dois autores (118; 29,3%). Essas ocorrências refletem na média de autores por artigo, cujo valor é 3,02 (DP=1,45). Em relação à procedência da autoria dos artigos, houve uma variedade de países. Os Estados Unidos são representados por 52,1% (n=210) dos autores, e os demais estão presentes em países da Europa, continente Asiático, Oriente Médio e Oceania. Destaca-se que não houve participação de países da América do Sul, América Central e Japão. No que se refere à parceria internacional, 20,8% (N=84) foi desenvolvido por autores de mais de um país. Apresentados os aspectos relacionados à autoria, segue-se para análise das temáticas das publicações, de acordo com a Tabela 3. Vários artigos foram categorizados em mais de uma temática.

O periódico analisado define nove temáticas para suas publicações, quais sejam: Desenvolvimento de carreira e escolha; Análises dos instrumentos de medida e métodos de avaliação; Satisfação no trabalho; Gerenciamento e funcionamento de múltiplas funções; Estereótipos ocupacionais; Ajustamento vocacional e de carreira; Envolvimento e comprometimento com o trabalho; Tensão e estresse no trabalho; e Transições relacionadas ao trabalho. Considerando os dados da Tabela 3, pode-se observar que a temática Desenvolvimento de carreira e escolha é a mais presente (198; 28,53%), representando quase metade das publicações. A segunda refere-se a Envolvimento e comprometimento com o trabalho, correspondendo a 14,99% (104) das ocorrências, seguida de Ajustamento vocacional e de carreira (102; 14,70%).

Com relação à metodologia utilizada pelos pesquisadores, três variáveis foram analisadas: o tipo de delineamento empregado, o tipo de análise dos dados e o sexo dos participantes do estudo. A respeito do delineamento, o correlacional, com 80,9%, foi utilizado com mais frequência. Com percentual muito inferior, verificaram-se os trabalhos com delineamento de levantamento (N=35; 8,7%), que incluiu os estudos de metanálise, e os estudos com desenho qualitativo (N=13; 3,2%), quais sejam, estudos de casos ou análises de conteúdo. Os artigos exclusivamente teóricos representam 6,2%.

Quanto aos tipos de análises de dados utilizados, a maioria foi quantitativa, com 354 artigos, dado coerente ao tipo de delineamento mais frequente, que foi o correlacional. Poucos artigos utilizaram delineamento experimental (N=4), bem como análise mista, sendo apenas 4 no delineamento correlacional e 1 em levantamento, de acordo com a Tabela 4.

Ainda, quando verificado o sexo dos participantes, a maioria dos pesquisadores trabalhou com amostra de ambos os sexos, ou seja, 329 artigos. Esse dado não foi informado em 10 artigos e, em 27, não houve utilização de sujeitos de pesquisa, visto que esses são os trabalhos de metanálise.

A última análise refere-se às palavras-chave. Verificou-se o total de 2.142 descritores nos 403 artigos, sendo que entre estes havia muitas palavras repetidas. Dessa forma, o total de palavras analisadas foi de 1.337. Considerando a quantidade de palavras, adotou-se como critério para análise apenas as palavras com frequência mínima de dez ocorrências, conforme a Tabela 5.

 

 

As expressões mais utilizadas foram Satisfação no trabalho (1,4%), Desenvolvimento de carreira (1,3%) e Comprometimento organizacional (1,1%). Destaca-se que, entre as 19 palavras-chave, a maioria refere-se a construtos, indicando a temática estudada nos artigos. Outras palavras referem-se à metodologia e ao aspecto sociodemográfico, como Meta-analysis (Metanálise; 0,8%), Longitudinal (Longitudinal; 0,6%) e Gender (Gênero; 0,6%).

 

DISCUSSÃO

A partir da análise dos artigos publicados no Journal of Vocatinal Behavior foi possível apresentar uma visão ampliada da produção científica sobre orientação profissional. Considerando que esta área é mais ampla do que o processo de escolha e desenvolvimento de carreira, a revista aborda, além de questões relacionadas à tomada de decisão profissional, variáveis associadas ao contexto do trabalho. Portanto, ao verificar a frequência das publicações, as características da autoria, os construtos e temas investigados, bem como os métodos mais utilizados por estudos empíricos, foi possível mapear diversos aspectos teóricos e metodológicos que conduzem a pesquisa sobre orientação profissional.

Quanto ao número de publicações anuais, verificou-se frequência uniforme ao longo do período analisado, com relativa concentração nos últimos anos. Como afirmam Nilsson et al. (2007) a produção sobre orientação profissional, no contexto internacional e brasileiro (Rueda, 2009; Teixeira et al., 2007), assim como de outras áreas da psicologia (Oliveira et al., 2006) têm apresentado tendência ao crescimento, embora a quantidade absoluta de publicações do periódico internacional seja expressivamente mais elevada.

Diversos aspectos podem ter contribuído para o aumento da produção científica nos últimos anos. No caso da orientação profissional, especificamente, é mister reconhecer que os processos de decisão relativos à carreira tem sido preocupação constante tanto para o público quanto para os pesquisadores, o que tem impulsionado novas pesquisas com objetivos de descrever e conhecer melhor tais processos. Além disso, o aumento da quantidade de veículos de divulgação da produção ou a implementação de políticas editoriais mais ousadas por parte dos periódicos já existentes são consequência natural do desenvolvimento de determinadas áreas da ciência, o que resulta, por exemplo, no aumento dos fascículos publicados por ano.

Nessa direção, a necessidade de manter um nível de publicação reconhecida pela comunidade científica é o trabalho em conjunto dos autores. Essa tendência é observada no JVB e também parece acontecer na produção científica brasileira atual, tal como apresentado em outras revisões sistemáticas (Oliveira et al., 2006; Pinto et al., 2011; Rueda, 2009; Suehiro et al., 2007; Teixeira et al., 2007). Nos dados apresentados neste artigo, a autoria múltipla é a mais prevalente, o que sugere a existência de grupos e/ou redes de pesquisa. Porém, para além dessa constatação, é relevante notar que há publicações de autores de vários países, que não os Estados Unidos, na JVB no período analisado, mas há poucas parcerias internacionais entre autores evidenciadas nas autorias. Esse dado remete ao fato de que a internacionalização das pesquisas na área ainda se restringe à visibilidade internacional do material produzido, não avançando no sentido da organização de grupos de colaboração com participantes de dois ou mais países para a realização de pesquisas transculturais. Contribuindo com essa reflexão, o estudo de Nilsson et al. (2007) revela que pesquisadores da América do Sul e Central não estão representados em trabalhos nos periódicos analisados, indicando que as pesquisas produzidas em países da região tampouco chegam a ser vistos pela comunidade científica internacional e, se há grupos de colaboração, são apenas internos.

Esses dados devem ser analisados também do ponto de vista do grau de desenvolvimento das pesquisas em diferentes países, o que pode ser refletido, em certa medida, pelas temáticas estudadas. Enquanto os dados apresentados mostraram que houve prevalência de temas específicos relacionados à escolha e ao desenvolvimento de carreira, bem como ao comprometimento e envolvimento no trabalho, Teixeira et al. (2007) constataram a necessidade de se estudar temáticas relacionadas à atuação com populações específicas e mesmo em relação à formação de orientadores profissionais. Assim, é possível formular a hipótese de que tal descompasso tende a se posicionar como uma barreira para parcerias internacionais, em que pese ao rápido desenvolvimento, por exemplo, no Brasil.

De acordo com outras investigações (Nilsson et al., 2007; Rueda, 2009), a pesquisa empírica foi a mais frequente e o delineamento correlacional o método mais utilizado. Esse resultado está de acordo com o esperado para a área de ciências humanas, pois realizar experimentos com seres humanos implica em diversas questões éticas mais complexas do que as empregadas em outros tipos de pesquisas. No entanto, pesquisas com intervenção, que poderiam se enquadrar no delineamento quase-experimental, tão importantes para a prática em contextos clínicos, educacionais e organizacionais, foram pouco utilizadas. As metodologias qualitativas, úteis para aprofundar os estudos e trazer uma compreensão mais específica dos fenômenos, também foi pouco representada. A maior quantidade de pesquisas empíricas em detrimento das teóricas é algo esperado, uma vez que o processo de formulação, sustentação ou refutação de um aspecto teórico deve estar respaldado em dados obtidos em pesquisas empíricas, acumuladas e consolidadas ao longo do tempo.

A abordagem quantidade foi o tipo de análise de dados mais frequente, resultado que converge com os achados de outras revisões sistemáticas da área de orientação profissional (Teixeira at al., 2007) e de demais campos da psicologia (Suehiro et al., 2007). Por conseguinte, a frequência de análises qualitativas foi diminuta, e ainda menor, a análise mista. Ressalta-se que, principalmente, o último caso denota uma fragilidade da área, pois utilizar análises quantitativas e qualitativas possibilita uma compreensão mais ampla dos fenômenos. Nesse caso, a literatura brasileira se sobressai, uma vez que no trabalho de Teixeira et al. (2007) a porcentagem de estudos que adotaram análises qualitativa e mista foi muito mais elevada do que a encontrada no periódico analisado no presente estudo. Em relação ao gênero a maioria dos trabalhos utilizou amostras mistas, o que é refletido no fato da temática relativa aos estereótipos de gênero ter sido a menos abordada nos trabalhos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que o objetivo deste artigo foi analisar a produção científica de um periódico internacional com alto fator de impacto para a área de orientação profissional e de carreira, pode-se afirmar que o propósito foi alcançado. A intenção de estudar as características dos artigos a fim de instrumentalizar pesquisadores brasileiros que buscam publicar em revistas internacionais também foi bem sucedida, ao especificar, principalmente, as temáticas de maior interesse no período analisado, bem como indicar construtos e metodologias normalmente utilizadas.

Nesse sentido, é fundamental destacar que, no período analisado, nenhum pesquisador brasileiro publicou no Journal of Vocational Behaviour. Considerando que é observada consistência na quantidade e na qualidade das publicações brasileiras sobre o assunto, como diversos estudos já identificaram, deve-se questionar os motivos que ainda impedem que as publicações na área sejam mais abrangentes. É importante ressaltar que o presente estudo restringiu-se a um único veículo de divulgação científica e, portanto, não esgota as possibilidades de verificação de artigos brasileiros publicados em outros países. Contudo, ao considerar que o JVB é o veículo de maior visibilidade internacional, haja vista seu índice h, os estudos brasileiros sobre orientação profissional e de carreira ficam prejudicados quanto à sua integração na comunidade científica internacional.

Algumas hipóteses podem ser levantadas para tentar explicar essa condição. A primeira relaciona-se à língua, que pode ser uma barreira objetiva para a produção internacional, embora pareça uma dificuldade facilmente transposta. Além disso, a questão financeira pode ser outra variável importante, uma vez que a maioria das revistas internacionais, especialmente aquelas indexadas em bases mais renomadas, cobra tanto do autor, para publicar, quanto do leitor, para ter acesso aos conteúdos . Assim, investimentos por parte da CAPES no sentido de maior democratização e acessibilidade ao acervo do Portal Periódicos, bem como de proporcionar verbas para o pagamento das submissões, poderiam abrir espaços mais adequados para as pesquisas brasileiras no exterior. Por fim, mais atenção dos pesquisadores brasileiros para as temáticas, construtos e metodologias de análise de dados que estejam na vanguarda internacional também poderia facilitar o acesso, sem, contudo, perder de vista as condições próprias do Brasil no que tange aos processos de desenvolvimento de carreira.

 

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Recebido em: 10.09.2013
Primeira decisão editorial em: 05.01.2014
Versão final em: 13.02.2014
Aceito em: 06.04.2014

 

 

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