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Revista Psicologia Organizações e Trabalho

On-line version ISSN 1984-6657

Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.22 no.1 Brasília Jan./Mar. 2022

http://dx.doi.org/10.5935/RPOT/2022.1.22912 

10.5935/RPOT/2022.1.22912 ARTIGOS

 

O trabalho invisível: prazer e sofrimento na produção científica stricto sensu

 

The invisible work: pleasure and suffering in stricto sensu scientific production

 

El trabajo invisible: placer y sufrimiento en la producción científica stricto sensu

 

 

Janaína Vilares da Silva; Liliam Deisy Ghizoni; Hareli Fernanda Garcia Cecchin

Universidade Federal do Tocantins (UFT), Brasil

Informações sobre o autor principal

 

 


RESUMO

O aumento do suicídio de jovens nos últimos anos tem trazido a necessidade de discutir sobre a saúde mental dos estudantes. Foram analisadas as vivências de prazer-sofrimento que os estudantes de pós-graduação têm vivenciado no Brasil. Para isso, foi aplicado um instrumento on-line nos estudantes de Comunicação, com retorno de 176 respostas válidas. Os dados foram analisados estatisticamente e via análise de conteúdo. Como lente teórica, adotou-se a Psicodinâmica do Trabalho. As principais fontes de sofrimento são: (a) dificuldade em conciliar o mestrado/doutorado com um trabalho remunerado, (b) pressão pela produção científica, (c) dificuldades financeiras, (d) autocobrança e (e) sentimentos negativos quanto ao desempenho. Estratégias para evitar adoecimentos são: (a) relaxar, (b) divertir-se, (c) ficar com amigos, (d) fazer atividades não relacionadas ao trabalho, (e) buscar atendimento de saúde e (f) praticar exercícios físicos. Prazer-sofrimento é um constructo único indissociável. A vivência de prazer-sofrimento no mundo acadêmico é apresentada nos programas de pós-graduação em Comunicação do Brasil como intrínseca ao ser um estudante/trabalhador.

Palavras-chave: saúde mental; condições de trabalho; estudante.


ABSTRACT

The increase in youth suicide in recent years has brought the need to discuss the mental health of students. We analyzed the experiences of pleasure-suffering that post graduate students have experienced in Brazil. For this, we applied an online instrument to students of Communication, with a return of 176 valid answers. The data were analyzed statistically and via content analysis. As a theoretical lens,the Psychodynamics of Work was adopted. The main sources of suffering are(a) difficulty in reconciling the studies of master's/doctorate degree with a paid job, (b) pressure for scientific production, (c) financial difficulties, (d) self-demand, and (e) negative feelings about performance. Strategies to avoid illnesses are (a) to relax, (b) have fun, (c) stay with friends, (d) doing activities not related to work, (e) seeking health care, and (f) to practice physical exercise. Pleasure-suffering is a unique indissociable construct. The experience of pleasure-suffering in the academic world is presented in the graduate programs in Communication in Brazil as intrinsic when being a student/worker.

Keywords: mental health; work conditions; student.


RESUMEN

El aumento del suicidio de jóvenes en los últimos años ha generado la necesidad de discutir sobre la salud mental de los estudiantes. Se ha realizado un análisis las vivencias de placer-sufrimiento que los estudiantes de posgraduación han vivido en Brasil. Para ello, se aplicó un instrumento en línea destinado a los estudiantes de Comunicación, con respuesta de 176 respuestas válidas. Los datos se analizaron estadísticamente y vía análisis de contenido. Como lente teórica, se adoptó la Psicodinámica del Trabajo. Las principales fuentes de sufrimiento son: (a) dificultad en conciliar el maestrado/doctorado con un trabajo remunerado, (b) presión por la producción científica, (c) dificultades financieras, (d) autoexigencias y (e) sentimientos negativos sobre el desempeño. Las estrategias para evitar padecimientos son: (a) relajarse, (b) divertirse, (c) reunirse con amigos, (d) hacer actividades no relacionadas con el trabajo, (e) buscar atención a la salud y (f) practicar ejercicio físico. El placer-sufrimiento es una construcción única indisociable. La vivencia de placer-sufrimiento en el mundo académico se presenta en los programas de pos-graduación en Comunicación en Brasil como intrínseca al ser un estudiante/trabajador.

Palabras clave: salud mental; condiciones de trabajo; estudiante.


 

 

A produção de conhecimento científico no Brasil é uma engrenagem complexa, da qual participam estudantes de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Estes participam de projetos de pesquisa e, ao final de seus cursos, entregam conhecimento, um produto intangível, imaterial. Como o produto final pode ser invisível aos beneficiários diretos (Nogueira & Freitas, 2015), às vezes o próprio labor ao produzi-lo pode se tornar invisível e não reconhecido. Olhar para a produção desse saber tão valorizado no século XXI é considerar o processo de trabalho em todas as suas dimensões, num contínuo saúde-doença ou prazer-sofrimento (Dejours, 2011; E. P. Silva, Todaro, & Reis, 2020). Em um contexto de forte pressão por resultados, a saúde mental dos pós-graduandos é um tema que vem se tornando cada vez mais relevante, sobretudo após o aumento do suicídio de estudantes verificado nos últimos anos (Ariño, 2018; Oikawa, 2019; Santos, 2018; Ventura, 2018).

Considerar o estudante de pós-graduação um trabalhador é dar visibilidade para esse trabalho, marcado por diversos tipos de adoecimento (Neves, Nascimento, Felix Jr., Silva, & Andrade, 2018; Salgado, Aires, & Santos., 2018). Em alguns casos, as dificuldades do trabalho se somam a renúncias pessoais e sociais, como a mudança de residência, distância dos familiares e isolamento social. Nessa direção, o presente estudo teve como objetivo geral analisar as vivências de prazer-sofrimento que os mestrandos e doutorandos têm vivenciado nos programas de pós-graduação em Comunicação no Brasil. Como objetivos específicos, buscou-se: a) caracterizar a organização do trabalho a que esses estudantes estão submetidos; b) identificar as fontes de prazer e de sofrimento ético, patológico e criativo desses sujeitos; e c) analisar os destinos dados ao sofrimento vivenciado no meio acadêmico.

Não foi localizada uma pesquisa de âmbito nacional sobre o perfil dos estudantes de pós-graduação e suas condições de saúde, tal como existe com os estudantes de graduação (FONAPRACE, 2019), no entanto, alguns autores discorrem sobre o tema. Costa e Nebel (2018) apontam que na pós-graduação, a questão da saúde mental e adoecimento ainda é subexplorada, havendo poucas pesquisas publicadas. Os autores afirmam que o ambiente da pós-graduação é, de fato, bem mais estressante do que o da graduação, quando se comparam as exigências acadêmicas. Tais demandas exigem um elevado grau de envolvimento cognitivo e emocional, podendo desencadear uma série de doenças mentais, principalmente nos sujeitos que já se encontram em um estado de vulnerabilidade psicológica. Bispo e Helal (2013) e Salgado et al. (2018), corroboram os autores acima, ao afirmarem que há poucas pesquisas que apresentam dados a respeito da saúde mental dos universitários, principalmente em mestrados e doutorados.

Deste modo justifica-se o desenvolvimento da pesquisa com esse público, entretanto, destaca-se que a escolha por estudantes stricto sensu da área de Comunicação se deu por ser o locus de pesquisa das autoras. No Tocantins não existem programas de pós-graduação stricto sensu em Psicologia e assim psicólogos tem procurado o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade (PPGCOMS) da Universidade Federal do Tocantins (UFT) para fazerem seus estudos, alinhando-se aos psicólogos que lá pesquisam.

Deste modo, tanto estudantes quanto professores psicólogos acabam fazendo escutas sobre diversas formas de sofrimento no cotidiano deste programa, o que tem levado o PPGCOMS/UFT a dialogar sobre o tema saúde mental dos estudantes no colegiado, promover rodas de escuta entre os mestrandos, fazer acolhimento integrado (gestão, professores e alunos) na chegada ao programa - via Acolhe PPGCOMS e promover pesquisas olhando para dentro dos demais programas de Comunicação do País, como foi o caso deste estudo que ora apresentamos.

A Psicodinâmica do Trabalho como base teórica para compreender as vivências dos estudantes de pós-graduação em Comunicação no Brasil

A Psicodinâmica do Trabalho constitui a base teórico-conceitual para a condução deste estudo. Criada por Christophe Dejours na França do século XX, essa abordagem busca olhar, para além da questão do sofrimento e das patologias mentais associados à organização do trabalho, para a saúde dos trabalhadores (Dejours, 2017b; Salgado et al., 2018). Analisa as lacunas entre o trabalho prescrito e o trabalho real, com seu consequente sofrimento, que pode ser patogênico, criativo e ético, bem como as estratégias defensivas, os mecanismos de defesa e as mobilizações subjetivas diante dessas vivências (E. P. Silva et al., 2020).

O trabalho prescrito consiste em um "conjunto de determinações impostas aos trabalhadores pelos gestores para a execução de suas atividades de trabalho" (Costa, 2013, p. 467), ou seja, "no quê" e "como" as atividades devem ser executadas. Já o trabalho real é a "maneira desenvolvida pelo trabalhador para lidar com as situações reais de trabalho" (Costa, 2013, p. 468), compostas pelas interações dos trabalhadores com os recursos da organização e as pessoas envolvidas no processo de trabalho. A lacuna entre o trabalho prescrito (dimensão formal) e as situações reais do trabalho (dimensão informal) é considerada o trabalho em si, no qual se encontram as contradições, os conflitos, as incoerências e as inconsistências do trabalho, pois não é possível fazê-lo apenas cumprindo o que foi prescrito pela organização, devendo ser ajustado e rearranjado para ser concretizado, o que impõe aos trabalhadores dificuldades, constrangimentos e o confronto com o fracasso (Costa, 2013; Monteiro, Vieira, & Mendes, 2015).

O sofrimento é inerente ao ato de trabalhar, devido ao conflito entre a organização do trabalho e o funcionamento psíquico do sujeito (Dejours, 2011), podendo ocorrer de três formas: criativo, ético e patológico. No sofrimento criativo, o sujeito transforma o sofrimento em algo benéfico para si e, para tanto, a organização do trabalho precisa oferecer certa flexibilidade para que ocorra uma negociação entre as imposições organizacionais e os seus conteúdos subjetivos (Moraes, 2013b; Vasconcelos, 2015). O sofrimento torna-se criativo quando o trabalhador consegue subvertê-lo em prazer a partir da inteligência e ir além da prescrição para acrescentar a sua contribuição (Moraes, 2013b; Salgado et al., 2018).

O sofrimento patológico ocorre quando o trabalhador não encontra forma de negociar com a organização de trabalho. Nesses casos, as vivências são fixas e rígidas e ele se vê impedido de exercitar sua capacidade criadora, necessitando lançar mão de estratégias defensivas para suportar o trabalho. Tal sofrimento leva à vivência de fracasso, frustração, alienação e ao sentimento de impotência, e quando persistente, pode comprometer a saúde do sujeito (Dejours, 2011; Monteiro et al., 2015; Moraes, 2013b).

O sofrimento ético se diferencia dos demais, pois se trata de um conflito moral e emocional do sujeito consigo mesmo, que vivencia como uma traição a si. Ocorre quando o trabalhador se submete a situações que confrontam os seus princípios éticos e morais, ou das quais discorda intimamente, agindo de forma contrária a seus desejos e valores. Ao cometer atos que ele mesmo condena, o sujeito vivencia o sofrimento e pode sentir insegurança, vergonha, medo e angústia (Vasconcelos, 2013). O sofrimento ético pode ter dois destinos: a negação, quando é minimizado, e o enfrentamento, realizado pela mobilização do sujeito, uma vez que "sofrer pelo mal que é infligido a si mesmo e ao outro é um modo de se indignar, de pensar, sentir e agir diante de uma realidade cruel" (Mendes & Araújo, 2013, p. 94).

A forma como o trabalhador lida com dificuldades e situações imprevistas que ultrapassam o domínio técnico e o conhecimento científico relaciona-se às estratégias de mediação individuais e/ou coletivas. Os trabalhadores não se portam apenas passivamente frente às pressões organizacionais, mas agem a fim de se proteger dos seus efeitos nocivos e preservar a saúde mental (Dejours, 1992; 2011; Perez, Brun, & Rodrigues, 2019; Vasconcelos, 2015). As estratégias de defesa são "recursos construídos pelos trabalhadores, de forma individual e coletiva, para minimizar a percepção do sofrimento no trabalho; funcionam através da recusa da percepção daquilo que faz sofrer" (Moraes, 2013a, p. 153). Elas fornecem proteção ao psiquismo contra o sofrimento da organização do trabalho, o que possibilita aos trabalhadores permanecerem no plano da normalidade e continuarem trabalhando (Moraes, 2013a).

O funcionamento das estratégias defensivas ocorre de forma inconsciente. As mais comuns são: a) negação, na qual se responsabiliza o sujeito pelos problemas no ambiente de trabalho, negando que a organização do trabalho é o motivo do sofrimento e b) a racionalização, um tipo de defesa protetora na qual o trabalhador se afasta do foco da organização de trabalho, manifestando verbalizações que justificam as adversidades do trabalho, como o ritmo acelerado e a cobrança exagerada de produtividade (Moraes, 2013a).

É importante salientar que as estratégias de defesa são diferentes dos mecanismos de defesa, embora este último possa ser considerado uma estratégia de defesa. Enquanto os mecanismos de defesa protegem o ego da angústia de conflitos intrapsíquicos, as estratégias de defesa buscam atenuar a percepção do sofrimento oriundo do trabalho, protegendo o psiquismo e afastando os riscos de doença mental. Todavia, as estratégias de defesa não promovem a emancipação dos trabalhadores. Os mecanismos de defesa estão correlacionados à adaptação do indivíduo à vivência de experiências dolorosas, como angústia, medo e insegurança, advindas do trabalho (Cançado & Sant'anna, 2013; Monteiro et al., 2015; Perez et al., 2019).

O trabalho atua na vida humana com uma dupla potencialidade: como promotor de saúde ou como desencadeador de sofrimento e adoecimento (Dejours, 1992; Moraes, 2015; Souto et al., 2017). O prazer emerge dos contextos de trabalho e é um princípio mobilizador, que coloca o trabalhador para agir em busca da realização de si, de gratificação e reconhecimento pelos demais, promovendo uma ressignificação do sofrimento e o fortalecimento da identidade (Mendes & Muller, 2013). O sofrimento pode ser um risco para a construção da identidade e integridade dos sujeitos (Macêdo & Heloani, 2013).

O trabalhador resiste ao trabalho prescrito e utiliza sua capacidade inventiva, minimizando o sofrimento. Um saber singular desenvolve-se aí e, ao tornar-se coletivo, transforma-se em uma ação de cooperação (Vasconcelos, 2013). Dessa forma, tanto o sofrimento como o prazer advêm dos ajustes da história do sujeito, juntamente com a organização do trabalho, e o sofrimento pode ser subvertido em prazer por meio das condições sociais, políticas e éticas da organização e dos processos de trabalho, sendo o prazer uma vitória sobre a resistência do real.

O trabalhar não é apenas fonte de sofrimento, mas também de prazer, sendo que um não exclui o outro, na realidade são indissociáveis, um constructo único "prazer-sofrimento" (Mendes & Muller, 2013). Passa-se a considerar a capacidade de enfrentamento dos sujeitos em relação à organização do trabalho e o trabalho como um mediador entre saúde e emancipação, pois quando o trabalho ganha sentido, torna-se um mobilizador de prazer e agente de ganhos para a identidade, revelando-se como acesso à experiência do mundo e de todo seu conhecimento (Barboz, Dantas, & Santos, 2019; Dejours, 2011; 2017a; 2017b; Mendes & Araújo, 2013).

 

Método

Trata-se de uma pesquisa social, cuja premissa fundamental é levantar e aprofundar sobre a percepção de um grupo social, buscando identificar suas características (Minayo, 2015; Richardson, 2017).

Segundo Minayo (2015) e Richardson (2017), a pesquisa em Ciências Sociais, em comparação com as Ciências da Natureza, não deve desprezar a reflexão sobre o contexto social, histórico e conceitual, pois seu maior objetivo é o desenvolvimento do ser humano. Neste contexto, a particular relevância da pesquisa qualitativa nos estudos das relações sociais, obteve um enorme crescimento nas últimas décadas, devido à pluralização das esferas de vida (Flick, 2009b).

Assim, a abordagem utilizada nesta pesquisa foi a qualitativa, pois parte-se da construção social das realidades em estudo e encontra-se interessada nas perspectivas dos participantes do seu conhecimento empírico e cotidiano em relação à questão a ser estudada (Flick, 2009a; 2009b). De acordo com o posicionamento de Flick (2009b), apesar da possibilidade da integração e associação dos métodos quantitativo e qualitativo, de diversas maneiras no planejamento de um estudo, a presente pesquisa insere-se no método qualitativo, pois tanto a exploração dos elementos iniciais para o estudo, quanto o aprofundamento e avaliação dos resultados não cabem só a quantificação, apesar do instrumento de coleta de dados ter perguntas fechadas, pois se perderia a essência dos objetivos estudados e do aporte teórico escolhido.

Reconhece-se que a Psicodinâmica do Trabalho é uma abordagem teórica e metodológica, entretanto, neste estudo, ao adotá-la somente como corpo teórico que sustenta as reflexões da pesquisa de campo, ela encontra-se como uma adaptação à realidade brasileira, tal como pontuam Giongo, Monteiro e Sobrosa (2015). Para estas autoras o método proposto originalmente, pelo criador da teoria na França, não atende a diversa realidade brasileira, fato já observado em algumas publicações, tais como a de Areosa (2019) e de Pena e Remoaldo (2019) em que usam a abordagem somente como lente teórica.

Participantes

Os participantes desta pesquisa foram 176 estudantes de mestrado e doutorado regularmente matriculados nos programas de pós-graduação inseridos na área de concentração "Comunicação e Informação" (classificação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES), tanto de instituições privadas como públicas do Brasil.

A escolha por este público foi por conveniência, uma vez que as pesquisadoras fazem parte de um Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Comunicação, com acesso aos coordenadores dos demais programas de comunicação do país, o que promoveu chegar até os participantes deste estudo.

Os participantes, que aceitaram colaborar voluntariamente com a pesquisa - assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido -, foram informados sobre o anonimato e sigilo de suas respostas e requeridos a responder o questionário eletrônico.

Deste modo, recebeu-se 185 instrumentos respondidos e destes, 176 foram válidos, seguindo os critérios de inclusão e exclusão.

 

 

O critério de inclusão dos participantes foi: estar regularmente matriculado nos Programas de Pós-Graduação em Comunicação do Brasil de acordo com a classificação da CAPES, como aluno regular, até o final do mês de agosto de 2019, momento em que foi finalizada a aplicação dos questionários.

Desta forma, foram selecionados como critérios de exclusão para esta pesquisa: discentes afastados por motivos de saúde ou que não estivessem cursando o programa no momento da aplicação dos questionários por algum motivo (cuidado ético); pessoas menores de 18 anos; estudante de outros programas de pós-graduação que estejam cursando alguma disciplina da área de comunicação e informação; alunos especiais; e aqueles que deixassem de responder mais de 50% das questões.

Instrumento

Optou-se pelo uso de um questionário, desenvolvido por J. V. Silva (2019). Foi aplicado na modalidade on-line e continha 51 perguntas-mistas, de múltipla escolha, escala Likert e descritivas. Foi estruturado em Identificação Inicial e cinco eixos: Eixo I - Perfil do Participante; Eixo II - Organização do Trabalho; Eixo III - Fontes de Sofrimento Ético e Patogênico; Eixo IV - Fontes de Prazer e Sofrimento Criativo; Eixo V - Destinos aos Sofrimentos Vivenciados. Os eixos foram apresentados de forma invertida (do V até o I), com o intuito de tornar o instrumento mais atrativo e iniciar pelas perguntas consideradas mais cansativas, como perguntas abertas, que exigem maior elaboração por parte dos participantes.

Procedimentos de Coleta de Dados e Cuidados Éticos

Os dados dos programas de pós-graduação em Comunicação foram coletados no site da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS) e na Plataforma Sucupira da CAPES. Foram encontrados 55 programas, sendo que a totalidade deles oferece mestrado e 30 possuem também doutorado. Inicialmente buscou-se captar os contatos dos alunos (e-mail e telefone), bem como levantar o quantitativo de alunos regularmente matriculados, com a finalidade de realizar o levantamento do número total da população para avaliação de amostra. Todavia, nem todas as secretarias dos programas de pós-graduação responderam à demanda e as que o fizeram argumentaram que não poderiam repassar os contatos dos discentes devido a uma questão ética.

Deste modo a aplicação do instrumento da presente pesquisa ocorreu de forma não probabilística, por acessibilidade, intermediada pela coordenação de cada Programa de Pós-graduação, utilizando-se convites por e-mail a estes para serem repassados aos discentes do programa de forma individual, juntamente com o link questionário eletrônico Google forms. O instrumento ficou disponível para resposta por 31 dias.

A coleta de dados respeitou as diretrizes que regem a pesquisa com seres humanos, obedecendo aos princípios éticos da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Além da aprovação pelo comitê de ética sob o registro Nº 3.547.902, os cuidados éticos envolveram o consentimento dos participantes via Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), a não identificação dos participantes, o compromisso com o envio dos resultados para estes.

Procedimentos de Análise de Dados

Os dados foram organizados e sistematizados em uma planilha do Excel, sendo posteriormente transferidos para montagem de banco de dados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Foram elaboradas estatísticas descritivas e exploratórias por meio de tabelas de frequência e tabelas cruzadas, e para identificar associação entre variáveis nas tabelas cruzadas foi utilizado o teste qui-quadrado de Pearson, com um nível de significância de 5%.

De posse destes dados fez-se uma integração, associando os métodos quantitativo e qualitativo. Para tal, fez-se uso da análise de conteúdo (Bardin, 1977/2016), composta de três fases: 1) pré-análise; 2) exploração do material; 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Primeiramente, foi realizada leitura flutuante das respostas, que consiste em "estabelecer contato com os documentos a analisar e em conhecer o texto, deixando-se invadir por impressões e orientações" (Bardin, 1977/2016, p. 96). Posteriormente, foi realizada a referenciação dos índices (menção explícita de temas), e a elaboração dos indicadores, que é a frequência deste tema, para dar suporte a formação das categorias (Bardin, 1977/2016; Silva & Fossá, 2015). Por fim, realizou-se a escolha do tema como unidade de análise, a frequência deste como regra de contagem e a criação das categorias, que é a classificação e agregação do conteúdo (Bardin, 1977/2016; A. H. Silva & Fossá, 2015).

 

Resultados

A pesquisa recebeu 176 respostas válidas, provenientes de 25 programas. A divisão dos participantes quanto à região geográfica das universidades foi a seguinte: Sudeste, 34,1%; Nordeste, 26,7%; Norte, 19,3%; Sul, 17,6% e Centro-oeste, 2,3%. A partir das informações sociodemográficas, observou-se que os participantes formam um perfil majoritário de mestrandos, jovens entre 18 e 40 anos de idade (84,7%), solteiros (residentes com pais, amigos ou sós) (52,3%), sem filhos (69,9%) e que residem no município em que estudam (76,1%).

Com relação à "organização do trabalho", a maioria (45,4%) se graduou no ano de 2010, ingressando na pós-graduação entre 2018 e 2019; com relação ao curso concluído na graduação, a maior parte se formou em Jornalismo (57,4%); Publicidade e Propaganda (17%); e Relações Públicas (3,3%).

O instrumento apontou que 62,5% dos estudantes estão matriculados em pelo menos uma disciplina, 97,2% dedicam uma média de 14 horas de estudos semanais fora da sala de aula e 96,6% ficam envolvidos com atividades da pós-graduação durante a semana. Além desse tempo destinado ao estudo/trabalho, 58% dos participantes trabalham concomitantemente à pós-graduação, não recebem auxílio financeiro de terceiros (54%) e não possuem nenhum auxílio da universidade (94,9%), necessitando, muitas vezes, recorrer ao auxílio financeiro de pais e cônjuges.

Com relação às violências vividas na pós-graduação e na universidade, a maioria relatou não ter sofrido nenhuma violência (78,9%). Todavia, os que as sofreram apontaram: violência psicológica (29,73%), institucional (16,22%) e moral (13,51%). Vale ressaltar que, nesta questão, o participante poderia marcar mais de uma opção.

Com relação às principais dificuldades encontradas durante o mestrado/doutorado, "conciliar o mestrado/doutorado com o trabalho" apareceu como a maior dificuldade, seguida por "pressão pela produção" e "dificuldades financeiras". Com relação aos sentimentos e sensações apontaram para a "tensão" presenciada durante o curso, seguida da "dificuldade em se concentrar", "angústia", "incapacidade de relaxar" e sensação de "fadiga". A sensação de "ouvir vozes que ninguém mais ouve" não foi marcada por nenhum participante.

A maioria dos participantes relatou não ter desenvolvido nenhuma doença durante o mestrado/doutorado (69,9%). No entanto, os 30,1% que desenvolveram citaram crise de ansiedade (39,6%), gastrite (9,4%), depressão (9,4%) e dores musculares (7,5%). Destes, 71,6% não buscaram tratamento. A maioria afirmou não fazer uso de medicamentos psiquiátricos (83,5%) e não conhece ninguém que tenha tentado se suicidar ou se suicidou enquanto fazia mestrado/doutorado (90,3%). No que se refere a atividade física, 55,1% afirmaram realizar algum tipo, destacando: musculação/academia (38,1%), caminhada (12,4%), corrida (10,3%) e ciclismo (8,2%).

Com relação à energia e disposição suficientes no dia a dia, as respostas dos estudantes foram quase equiparadas (52,8% não a dispõem, enquanto 47,2% a dispõem). Quanto à frequência com que os estudantes possuem sentimentos negativos, as respostas foram: "nunca" (5,7%); "algumas vezes" (45,5%); "frequentemente" (18,2%); "muito frequentemente" (22,7%); "sempre" (8%). Em relação ao sofrimento ético, 96% não foram obrigados a realizar algo que ia contra seus princípios éticos, religiosos, etc.

O sofrimento criativo foi observado entre os participantes ao relatarem: desenvolvimento do pensamento crítico; possibilidade de lecionar; aprofundamento em um tema do seu interesse; nova visão da ciência e do mundo acadêmico; possibilidade de ir para eventos/congressos; maior motivação para estudar; contatos profissionais; possibilidade de estudar fora do país, especialização em determinada área; conhecer novas técnicas de pesquisa; publicações; ampliação da rede de contatos; possibilidade de conhecer outros estados e/ou países e desenvolvimento de habilidades para trabalhar em equipe.

Quanto as vivências de prazer na universidade observa-se satisfação em relação ao programa de pós-graduação (75%), ao curso em si (75,6%) e com o orientador (75%). Todavia, a maioria acredita estar de regular a insatisfeito com relação a sua capacidade para o estudo (54%) e a concretização dos trabalhos da pós-graduação (50%).

Sobre os destinos ao sofrimento vivenciado, 58% dos estudantes relataram que a universidade em que estudam possui algum tipo de apoio psicossocial ao discente e 90,9% afirmam que não existe serviço de apoio psicossocial ao discente oferecido e promovido pelo próprio programa de pós-graduação ao qual estão vinculados. A maioria dos discentes (83,5%) não participou de nenhuma atividade para apoio psicossocial no último ano.

 

Discussão

O perfil sociodemográfico apresentado demonstra um prolongamento do amparo dos pais, que vai ao encontro do público exigido pela CAPES, por conta dos baixos valores das bolsas, do produtivismo e individualismo imperante, que exige cada vez mais dos acadêmicos, como escrita, apresentações em eventos e publicações, com o aumento da sobrecarga de trabalho e a diminuição dos prazos (Estácio, Andrade, Kern, & Cunha, 2019; Spink & Alves, 2011).

Devido às elevadas exigências de produção na academia, reguladas pelos índices de avaliação da CAPES, torna-se difícil a entrada e permanência de estudantes em idade mais avançada, com família constituída, que demanda tempo e dinheiro para seu sustento. Entre essas exigências está o encurtamento do prazo médio de titulação no país, as diretrizes da avaliação periódica dos programas e a pressão para que se qualifique e defenda a dissertação/tese o quanto antes (Costa & Nebel, 2018; Zandoná, Cabral, & Sulzbach, 2014).

No entanto, a despeito da necessidade de produtivismo acadêmico, sem conseguir emprego no mercado de trabalho muitos retornam à universidade com a expectativa de conseguir uma bolsa de estudos. Ocorre que muitas vezes a universidade não oferece esse apoio e o aluno então volta ao mercado de trabalho a fim de se sustentar e findar a pós-graduação, ainda que em um trabalho precarizado e abaixo de sua qualificação (E. P. Silva et al., 2020; J. V. Silva, 2019).

Os participantes da pesquisa apontaram que "conciliar o mestrado/doutorado com o trabalho", seja ele formal ou informal, a "pressão pela produção" e as "dificuldades financeiras" são as principais dificuldades que enfrentam no dia a dia como estudantes de pós-graduação. Isso demonstra uma sobrecarga de trabalho ao longo da vida acadêmica, pois às demandas das disciplinas cursadas, como leituras, trabalhos e artigos para a avaliação dos professores, somam-se a escrita de outros artigos e da dissertação ou tese, a participação em eventos, o tempo dedicado ao trabalho formal ou informal, sem contar a necessidade de dedicação à família e à vida social (Costa & Nebel, 2018; E. P. Silva et al., 2020; Ventura, 2018).

A necessidade de dedicação quase exclusiva ao programa de pós-graduação, a falta de auxílio financeiro de terceiros, além da dificuldade em se obter uma bolsa de estudos, é uma realidade que vem se agravando cada vez mais, em especial porque a CAPES tem condicionado a distribuição de bolsas às notas obtidas pelos programas em seu sistema de avaliação. Essa tensão é repassada aos docentes, que precisam produzir cada vez mais para elevar a nota do programa, e também aos discentes, que também têm de produzir cada vez mais, muitas vezes abdicando da qualidade de sua pesquisa ou da própria qualidade de vida (Costa & Nebel, 2018; Spink & Alves, 2011; Ventura, 2018; Zandoná et al., 2014).

Nesse sentido, o sofrimento no trabalho/estudo tem se intensificado nos últimos anos, podendo vir a se tornar patogênico. Como foi apontado, esse sofrimento ocorre quando o sujeito não encontra forma de negociar com a organização de trabalho, tornando as vivências fixas e rígidas, o que o impede de exercitar sua capacidade criadora e leva à necessidade de se criar estratégias defensivas para suportar o trabalho (Dejours, 2011). Tal sofrimento leva à vivência de fracasso, frustração, alienação e ao sentimento de impotência, e quando persistente pode comprometer a saúde do sujeito, abrindo portas para a manifestação de patologias psíquicas e/ou somáticas (Dejours, 2011; Monteiro et al., 2015; Moraes, 2013b), como algumas citadas pelos participantes da pesquisa: depressão, crise de ansiedade, dificuldade em se concentrar, sensação de fadiga e incapacidade de relaxar.

Assim, essa elevada pressão no ambiente acadêmico, juntamente com a falta de sentido e de significação, pode levar a um aumento de estresse e desgaste mental que, ao se agravar, pode gerar diversas outras patologias como as apontadas neste estudo: crise de ansiedade, gastrite, depressão, dores musculares, enxaqueca, gripe, insônia, labirintite, obesidade, entre outras. Além de intensificar problemas já existentes (Zandoná et al., 2014) como, por exemplo, o agravamento do bruxismo, relatado por um participante na pesquisa.

Os sentimentos e sensações que emergem durante o curso de mestrado/doutorado são fatores a serem observados quando se pensa na saúde mental e no processo de prazer-sofrimento. Assim, "tensão", "dificuldade em se concentrar", "sensação de angústia", "incapacidade de relaxar" e "fadiga" foram os mais citados pelos discentes neste estudo. Tais informações vão ao encontro do que Han (2015) chama de "Sociedade do Desempenho", considerada a atual, em que o ser humano necessita ser extremamente positivo e proativo sob toda e qualquer circunstância e a todo tempo, o que acaba levando ao cansaço e ao esgotamento do sujeito, que muitas vezes adoece. Dejours (2011) fala das chamadas "patologias da modernidade" ou da "solidão", caracterizadas pela dor e sofrimento excessivos, gerados pelo modelo produtivo do capitalismo pós-industrial e suas configurações sócio-históricas. O sujeito não se permite o ócio, o descanso, e muitas vezes, quando se permite relaxar, sente-se culpado por não estar produzindo. Deixa em segundo plano sua saúde e qualidade de vida, abrindo mão de passar tempo com a família, adotar bons hábitos alimentares, realizar atividades físicas e de lazer.

Neste estudo, 55,1% dos participantes afirmaram realizar atividade física. Embora não se configure uma grande quantidade, se faz relevante ressaltar a importância da atividade física e dos seus benefícios para a saúde mental, como a diminuição do estresse, da ansiedade e da depressão. A atividade física também auxilia na socialização, aumentando os laços de afetividade entre as pessoas, uma vez que ameniza a sensação de isolamento, aumenta o envolvimento e a cooperação nas atividades, melhora a disposição física, aumenta a autoestima, reduz a ociosidade e o risco de ideação suicida (Lourenç, Peres, Porto, Oliveira, & Dutra, 2017).

Com relação às horas semanais dedicadas ao lazer, 14,3% dos participantes apontaram não possuir nenhum tempo para descanso e lazer, um dado preocupante, porque o isolamento social é um fator de risco para o adoecimento, o agravamento de patologias e tentativas de suicídio (Heloani & Barreto, 2018; Merlo & Heloani, 2013; Wenjing, Dorstyn, & Jarmon, 2019).

Embora a maioria dos participantes tenha relatado não ter desenvolvido nenhuma doença e não fazer uso de medicamentos psiquiátricos, muitos apontaram crises de ansiedade e depressão que apareceram durante o percurso de estudo. Dos que se disseram adoecidos, a maioria buscou tratamento e medicação. É importante salientar que foi relatada a acentuação de doenças preexistentes, o que demonstra que a saúde mental desses estudantes não deve ser negligenciada (Cristo et al., 2019).

O sofrimento ético, caracterizado como um conflito do sujeito consigo mesmo, no qual o trabalhador submete-se ou participa de situações que confrontam seus valores e princípios éticos e morais, apareceu num percentual muito baixo, o que indica um resultado diferente do verbalizado por vários estudantes em sites como da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). Esse resultado também pode indicar uma mobilização por parte do sujeito, levando-o a transformar o sofrimento ético em sofrimento criativo ou prazer.

Outro ponto positivo apresentado é que a maioria dos participantes não conhece ninguém que tenha tentado o suicídio ou tenha se suicidado enquanto fazia mestrado/doutorado. Todavia, os que responderam "sim" a essa pergunta precisam ser valorizados em sua voz, uma vez que o tema "suicídio e saúde mental" está aparecendo como uma demanda a ser abordada nas universidades (Botega, 2014, Cristo et al., 2019; Merlo & Heloani, 2013; Oikawa, 2019). Dejours (2011) aponta que tentativas de suicídio e o ato em si estão correlacionados às patologias da solidão, que aparecem no mundo contemporâneo com as transformações históricas do trabalho, em que o isolamento, a solidão e a desolação instalam-se de forma tão intensa que o sujeito não consegue criar defesas suficientemente eficazes contra o sofrimento.

A maior parte dos estudantes afirma estar satisfeita com a universidade, o programa, o curso em si e o orientador, o que apresenta o ambiente universitário como um importante motivador e propulsor para a saúde. Assim, se esse espaço de trabalho for cuidado, onde as relações sejam de afeto, solidariedade e cooperação, é possível a construção de saúde, mesmo diante das adversidades que o produtivismo impõe (Ariño & Bardagi, 2018).

Com relação à energia e disposição suficiente no dia a dia, pouco mais da metade relata não dispor de tal energia; e os sentimentos negativos apareceram com uma frequência extremamente elevada. Assim, a insatisfação, baixa energia, indisposição e sentimentos negativos aparecem como sofrimentos advindos da lacuna entre o trabalho prescrito (dimensão formal) e as situações reais do trabalho (dimensão informal). A falta de energia pode ser um sintoma da sobrecarga e do desgaste, uma vez que o trabalho de pesquisa não é o único a ser desempenhado por esses sujeitos. Esse sintoma também foi observado em pesquisadores de carreira de uma empresa pública de pesquisa (Nogueira & Freitas, 2015).

O trabalho prescrito é observado através de "no quê" e "como" as atividades devem ser executadas, e no caso dos programas de pós-graduação seria ditado por documentos como o "regime didático do curso", "manual de trabalhos acadêmicos e científicos", "modelo de projeto e de dissertação", entre outros. Já o trabalho real é a "maneira desenvolvida pelo trabalhador para lidar com as situações reais de trabalho", compostas pelas interações e relações dos trabalhadores (Costa, 2013), como, por exemplo, a relação com o orientador, com os professores das disciplinas, as horas destinadas a pesquisas e elaboração de trabalhos.

A lacuna entre o trabalho prescrito e o trabalho real é o trabalho em si, ou seja, a rotina em que se encontram esses estudantes, com as contradições, conflitos, incoerências e inconsistências do trabalho de se estudar, o ajustado e o rearranjado constantemente no dia a dia para ser concretizado (Costa, 2013; Monteiro et al., 2015). O estudante-trabalhador depara-se com dificuldades, constrangimentos, confrontos e fracassos que ultrapassam o domínio técnico e o conhecimento científico, que precisarão ser elaborados através de estratégias de mediação individuais e/ou coletivas (J. V. Silva, 2019).

Com relação aos destinos que os participantes estão dando ao sofrimento vivenciado, a maioria relata que a universidade possui algum tipo de apoio psicossocial. Todavia, mais da metade destes afirma não saber ou desconhecer qual setor/ação/programa da universidade é responsável por tal apoio. Da mesma forma, apesar de a grande maioria dos participantes ter relatado não existir um apoio psicossocial ao discente oferecido especificamente pelo próprio programa de pós-graduação, dos que disseram haver, a maioria relatou que, na realidade, não conhece esse tipo de serviço. A participação em atividades para apoio psicossocial no último ano também foi bastante baixa. Infere-se que as universidades têm oferecido apoio de saúde mental aos estudantes da graduação (Bernardes & Rosa, 2020), mas não têm estendido esses serviços para os alunos da pós-graduação. Esses dados também indicam um déficit na promoção e divulgação dessas ações pelas universidades e pelos programas.

Na análise de conteúdo, as sensações e sentimentos negativos apresentam um percentual superior em comparação aos positivos, indicando um aspecto de sofrimento na pós-graduação. Todavia, ao se considerar as verbalizações como "tenho que produzir", "ansiedade", "preocupação com prazos", "vontade de fazer, mas cansaço e preguiça", "cansado, porém motivado por gostar", "pressão de estar atrasada para a qualificação", "frustração", "nervosismo", entre outros, observa-se que expressam a realidade inerente ao se fazer mestrado ou doutorado. Embora essa realidade possa ser considerada "normal", uma vez que todo o trabalho implica tacitamente um custo humano expresso sob a forma de carga de trabalho, não podem ser falas negligenciadas, pois as vivências de prazer-sofrimento têm como uma das implicações o confronto do sujeito com essa carga, que, por conseguinte, tem impacto no seu bem-estar (Arenas,Viduani, Zortéa, & Bassols, 2019; Salgado et al., 2018).

A "normalidade" no trabalho não se caracteriza pela ausência de sofrimento, mas sim pelo compromisso entre o sofrimento e as estratégias de defesa, que exige do sujeito uma elaboração tanto individual como coletiva, resultante das exigências do trabalho e da ameaça de desestabilização psíquica e somática (Dejours, 2011, 2017a; Mendes & Araújo, 2013; Moraes, 2015; Vasconcelos, 2015). Com relação ao que os alunos fazem quando se sentem bem, "produzir (ler, estudar, escrever...)", "compartilhar com pessoas" seu conhecimento e buscar "mais conhecimento/mais informação" se destacaram na maior parte dos participantes, bem como apareceu a categoria "estudar mais" quando os alunos se sentem mal, apontando que há um prazer e/ou sofrimento criativo no ato de produzir e reproduzir. O trabalhar torna-se um mediador entre saúde e emancipação, ganhando sentido e se tornando um mobilizador de prazer e ganhos (Barboza et al., 2019; Dejours, 2011, 2017a, 2017b; Macêdo & Heloani, 2013; Mendes & Araújo, 2013; Neves et al., 2018; Vasconcelos, 2015).

Com relação ao que os discentes fazem quando se sentem mal, notou-se que o tema com mais verbalizações "desvincular das atividades do mestrado (lazer, atividade física...)" também aparece nas verbalizações quando os alunos se sentem bem, através do tema "relaxar/divertir", demonstrando que descansar e se divertir atuam como um princípio mobilizador, no qual o sujeito, a partir da inteligência da prática, promove uma ressignificação do sofrimento, buscando transformar o sofrimento (patológico) em algo benéfico para si (sofrimento criativo).Todavia, é importante salientar que nesses casos o acompanhamento ao discente é importante, pois se estes fazem atividades desvinculadas do mestrado/doutorado devido ao fato de se sentirem mal, pode ser uma manifestação de negação ao objetivo de concluir o programa, que pode vir a se concretizar como um abandono ou atraso na formação, dois indicadores que fazem os programas perderem nota na avaliação da CAPES. Desse modo, cuidar dos alunos, acompanhá-los de perto, é também uma forma de cuidar do programa de um modo geral.

Outro ponto a salientar do tema "quando os estudantes se sentem mal" são as verbalizações a respeito do apoio social, que aparecem nas categorias "compartilhar a angústia (colegas, amigos...)" e "buscar ajuda (colegas, professores...)", apontando o apoio social, a escuta e o acolhimento pelo outro como um fator importante e necessário. Portanto, se faz importante trabalhar a gestão dos programas de forma a propiciar redes de afeto entre as turmas de mestrado e doutorado, com vistas a amenizar o ambiente competitivo, prezando pelos rituais de solidariedade e acolhimento na entrada de cada turma, envolvendo uma turma para receber a outra. A formação de grupos via WhatsApp ou demais redes sociais também auxilia para que as conversas fluam e favoreçam encontros reais, pois a formação de vínculos pode ajudar a estreitar laços e os alunos se apoiarem mutuamente.

A reconstrução da subjetividade e da capacidade de reapropriação da inteligência destruída pelo trabalho, que possibilita a reorganização deste (Lancman, 2011; Heloani e Barreto, 2018) uma vez que possuem potencial para emancipação, reapropriação, transformação e reconstrução da sua realidade, transformando sofrimento em prazer. Segundo Oliveira e Nina (2019) a escuta, o contato com o outro, as redes de amizade e apoio são de fundamental importância, pois possuem a capacidade de humanizar e legitimar a voz daquele que se encontra em sofrimento psíquico.

O ambiente universitário é complexo e multifacetado, no qual o estudante de pós-graduação stricto sensu passa por diversas experiências e atividades, interagindo com diversos sujeitos, em ambientes com dinâmicas novas para ele e diferenciadas. Assim, tanto o sofrimento como o prazer emergem dos ajustes da história do estudante juntamente com a organização do trabalho, ou seja, a rotina e as experiências vividas no ambiente universitário da pós-graduação stricto sensu que podem ser subvertidas em prazer.

Como em todo ambiente de trabalho, a organização do trabalho da universidade é um locus das vivências de prazer-sofrimento dos estudantes, sempre um confronto do prescrito com o real, que se deixa reconhecer por sua resistência a se submeter aos conhecimentos e às diferentes formas de saber-fazer. Portanto, esse confronto é gerador de sofrimento, que pode vir a se tornar patogênico quando insuportável. Todavia, no sentido inverso, quando o sofrimento possibilita deslocamento dos limites do trabalho real, podendo ativar estratégias de mobilização subjetiva ou levar o sujeito à ação e, consequentemente, à alteração da sua realidade e da sua perspectiva, a saúde e o prazer são conquistados (Mendes & Muller, 2013).

A partir da análise de todo esse conjunto de dados é possível observar que o prazer-sofrimento é um constructo único indissociável, no qual um não existe sem o outro e um não anula a presença do outro. Portanto, a vivência de prazer-sofrimento no mundo acadêmico é apresentada nos programas de pós-graduação em Comunicação do Brasil como intrínseca ao ser um estudante/trabalhador. Contudo, faz-se importante não negligenciar a saúde mental e a qualidade de vida da comunidade universitária, que vem demandando cada vez mais projetos e ações dos profissionais que atuam na área de apoio ao estudante, juntamente com os docentes que atuam diretamente com os alunos, com a finalidade de ressignificar o sofrimento, evitando que este se transforme em patologias.

 

Considerações Finais

Resgatando as inquietações que suscitaram esta pesquisa, buscou-se analisar as vivências de prazer-sofrimento que os mestrandos e doutorandos vinculados aos programas de pós-graduação em Comunicação no Brasil têm vivenciado, considerando-se o estudante como um ser trabalhador, pois este tipo de trabalho exige esforço, transforma e emancipa o sujeito, cria identidade, cultura e relações interpessoais.

A partir das análises, observou-se que a caracterização da organização do trabalho dos sujeitos estudados não aparece como causa direta para o adoecimento. Todavia, uma vez que os estudantes não são considerados "trabalhadores", também não são tratados como tal, o que pode dificultar pensar em um ambiente acadêmico mais saudável e em ações de saúde mental.

Este estudo aponta uma autocobrança e sentimentos negativos por parte dos discentes, principalmente referentes ao próprio desempenho na universidade, que não podem ser negligenciados devido ao risco de se tornarem sérias patologias e constituírem um agravante ao risco de suicídio. Diante desse quadro, torna-se imprescindível a existência de mecanismos que promovam o reconhecimento desse sofrimento e do estudante como um trabalhador que sofre exigências e pressões advindas do mundo trabalho/universitário.

A afirmação de que o "estudante é trabalhador" não é reconhecida socialmente, inclusive no próprio ambiente universitário. Isso revela uma dificuldade em se legitimar o papel da universidade na sociedade, pois o estudar é um importante trabalho criativo, com consequências que vão muito além da formação do indivíduo e da entrega de um diploma. Assim, sugere-se a realização de pesquisas futuras com as próprias universidades, buscando compreender como os dados levantados nesta e em outras pesquisas sobre a saúde mental dos estudantes podem impactar na universidade.

Apesar dos sofrimentos evidenciados e elencados neste estudo, observa-se que os estudantes, através da mobilização subjetiva, parecem ter conseguido desenvolver estratégias eficazes para evitar adoecimentos, encontrando o sofrimento criativo e o prazer. Considera-se que a presente pesquisa atingiu os objetivos propostos e que os estudantes de pós-graduação stricto sensu em Comunicação atribuem significados ao seu trabalho/estudo, mesmo diante das vivências de sofrimento.

Assim, os resultados obtidos podem vir a subsidiar a elaboração de projetos e ações de saúde e qualidade de vida no trabalho/estudo, auxiliando a forma como a universidade e programas de pós-graduação stricto sensu poderão lidar com os seus estudantes. Reforça-se a importância de investimentos da alta gestão (reitoria, pró-reitorias e direção de campi) em ações que tenham como foco a saúde preventiva dos estudantes em todo o âmbito da universidade (principalmente as multicampi) e, também, a necessidade de se qualificar servidores (professores e técnico-administrativos) para uma primeira escuta deste.

Também se faz necessário, por parte dos docentes e dos programas, uma melhor e maior atenção à saúde mental e ao sofrimento de seus alunos, com o desenvolvimento de ações que possam promover qualidade de vida, desempenhando um papel humanístico de acolhimento e escuta e, caso necessário, encaminhamentos a profissionais especializados. Esses processos possibilitarão que os discentes se mantenham engajados e sintam-se reconhecidos, fator importante para a saúde mental.

Os resultados da pesquisa podem auxiliar na proposta de mudanças e práticas em diversos programas de pós-graduação, não apenas da área de Comunicação, embora as informações aqui coletadas possam ser utilizadas diretamente em ações voltadas para os discentes destes programas, já que constituíram o público-alvo do estudo. A outros programas, esta pesquisa pode auxiliar em ações voltadas aos mecanismos de formação de orientadores, por exemplo, uma vez que tal prática não ocorre na formação dos professores.

As limitações neste estudo centram-se na falta de acesso direto aos participantes, necessitando a intermediação das secretarias de curso. A internet e as novas tecnologias permitiu que estudantes de todas as partes do Brasil tivessem a oportunidade de participar desta pesquisa, todavia perdeu-se na interação e escuta com esses sujeitos.

Sugere-se para pesquisas futuras investigar como fatores institucionais e socioculturais têm impacto na saúde mental dos estudantes de pós-graduação, realizando uma pesquisa em âmbito nacional. Entre eles cita-se: especificidades de universidades públicas e privadas, gastos com a pós-graduação, moradia (particularidades dos estudantes que residem em Casas de Estudante); especificar a realidade dos estudantes indígenas, quilombolas, ribeirinhos; tempo de permanência no local de estudo/trabalho; questões de etnia e gênero. Além disso, analisar registros de violências nas universidades e investigar como esses estudantes podem desenvolver estratégias defensivas eficazes diante das vivências de sofrimento no meio universitário.

Estudar e intervir na formação dos discentes pode evitar que estes, como futuros professores e orientadores, perpetuem as violências na relação professor-aluno. A saúde mental de discentes na academia é uma "tragédia silenciada", haja visto que os pesquisadores demoram para pesquisar fenômenos que estão inseridos no seu contexto e cotidiano.

É importante destacar que a ciência vem sofrendo duros ataques em nosso país (e no mundo), e a produção científica, realizada dentro das universidades, sobretudo nas públicas, vem sendo desqualificada nos últimos anos. As fake news, a polarização na política e um projeto neoliberal para o país, são exemplos que chegam como avalanches dentro dos laboratórios das universidades. Estudantes perdem bolsas, universidades perdem recursos, sucateia-se o pouco que se tem e a precarização da ciência se instala, afetando fortemente os participantes deste estudo.

As pesquisadoras Freitas e Ghizoni (2021) pontuam que no Brasil a prática do negacionismo, sobretudo negar a ciência, negar a razão, em proveito da economia é uma praxe, e o que se viu no Brasil, durante essa pandemia, foi o desprezo ao direito à vida e ao direito humano constitucional de acesso à saúde.

Por fim, embora a coleta de dados tenha acontecido antes que vírus SARS - CoV-2 e a consequente doença do coronavírus (Covid-19) assolasse o mundo, observa-se repercussões que irão perdurar alguns anos entre os agentes da pós-graduação (discentes e docentes). O que se vivenciou em 2020 e 2021 é um grupo de mestres e doutores que entrou para estudar presencialmente e se viu por este tempo todo sem conhecer presencialmente o seu orientador, colegas de programa e demais professores. Um distanciamento e uma solidão irreparáveis, que as telas não dimensionam. Potencializou assim, o desastre do capitalismo neoliberal que o país já vivia.

 

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Informações sobre os autores:
Janaína Vilares da Silva
Universidade Federal do Tocantins
Pró-Reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas
(PROGEDEP), Quadra 109 Norte
Av. NS15, ALCNO-14, Bloco IV, Sala 03, Plano Diretor Norte
77001-090 Tocantins, Brasil
E-mail: vilaresjana@gmail.com

Liliam Deisy Ghizoni
E-mail: ldghizoni@gmail.com

Hareli Fernanda Garcia Cecchin
E-mail: hareli@uft.edu.br

Submissão: 27/09/2021
Primeira Decisão Editorial: 07/12/2021
Versão Final: 22/12/2021
Aceito em: 15/02/2022

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