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Revista Psicologia Organizações e Trabalho

versión On-line ISSN 1984-6657

Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.22 no.2 Brasília abr./jun. 2022

http://dx.doi.org/10.5935/rpot/2022.2.22498 

10.5935/rpot/2022.2.22498

 

A clínica psicodinâmica do trabalho e adaptações realizadas por pesquisadores no Brasil

 

The psychodynamic clinic of work and adaptations made by researchers in Brazil

 

La clínica psicodinámica del trabajo y adaptaciones realizada por investigadores en Brasil

 

 

Beatriz Amália Albarello; Lêda Gonçalves de Freitas

Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasil

Informações sobre os autores

 

 


RESUMO

O objetivo dessa revisão sistemática é analisar a aplicação da clínica psicodinâmica do trabalho no Brasil. Para tanto, buscar-se-á avaliar se os dispositivos clínicos propostos na metodologia de Dejours são utilizados como o prescrito pelo autor e identificar as adaptações realizadas ao modelo. Realizou-se um levantamento bibliográfico no banco de dados da plataforma Scopus, Capes, PePSIC, SciELO e BDTD. Considerou-se como critério para o levantamento os descritores Clínica AND Psicodinâmica do trabalho no período de 2015 a 2020. Os resultados indicam que 68% do total de produções utilizou na íntegra o prescrito dos dispositivos clínicos da clínica psicodinâmica do trabalho e 32% das pesquisas realizaram adaptações em seu percurso metodológico, adaptando o método com o uso de dinâmicas e oficinas no espaço coletivo e em demandas emergenciais nos atendimentos clínicos na modalidade individual, tendo a psicodinâmica e a psicanálise como suporte teórico.

Palavras-chave: psicodinâmica, trabalho, clínica.


ABSTRACT

The objective of this systematic review is to analyze the application of the psychodynamic clinic of work in Brazil. For this purpose, it will be sought to assess whether the clinical devices proposed in the Dejours methodology are used as prescribed by the author and to identify the adaptations made to the model. A bibliographic survey was carried out on the database of the Scopus, Capes, PePSIC, Scielo and BDTD platforms. Clinical and psychodynamic work descriptors from 2015 to 2020 were considered as criteria for the survey. The results indicate that 68% of the total productions used in full the prescriptions of the psychodynamic work clinic clinical devices, and 32% of the studies made adaptations in their methodologies, adapting the method with the use of roleplays and workshops in the collective space; and in emergency demands, clinical care in the individual modality, with psychodynamics and psychoanalysis as theoretical support.

Keywords: psychodynamics, labor, clinic.


RESUMEN

El objetivo de esta revisión sistemática es analizar la aplicación de la clínica psicodinámica del trabajo en Brasil. Para ello, se buscará evaluar si los dispositivos clínicos propuestos en la metodología de Dejours se utilizan según lo prescrito por el autor y identificar las adaptaciones realizadas al modelo. Se realizó un levantamiento bibliográfico en la base de datos de la plataforma Scopus, Capes, PePSIC, SciELO y BDTD. Se consideraron como criterios para la encuesta los descriptores de trabajo Clínico AND Psicodinámico del trabajo en el período de 2015 a 2020. Los resultados indican que el 68% del total de producciones utilizaron en su totalidad las prescripciones de los dispositivos clínicos de la clínica de trabajo psicodinámico y el 32% de las investigaciones realizaron adaptaciones en su metodología, adaptando el método con el uso de dinámicas y talleres en el espacio colectivo y en demandas emergenciales en las asistencias clinicas en la modalidad individual, con psicodinámica y psicoanálisis como soporte teórico.

Palabras clave: psicodinámica, trabajo, clínica.


 

 

A abordagem da psicodinâmica do trabalho desenvolvida por Christophe Dejours tornou-se conhecida no Brasil a partir do livro "A loucura do trabalho", em 1987. Esse foi o marco nos seus estudos em torno do núcleo central da clínica do trabalho pautado no conflito entre a organização do trabalho e o funcionamento psíquico, para mais do que o modelo causal. Sua abordagem se concretiza para além da dimensão conceitual sobre a organização do trabalho e os processos de subjetivação, seja no modo individual ou seja no coletivo. (Dejours, 1987).

Enquanto clínica psicodinâmica do trabalho (PDT), o foco de análise é o sujeito em interação com o mundo do trabalho, por meio de fatos, regras e prescrições, como também por meio de sentimentos e sentidos, no que tange ao coletivo e à realidade do que é vivenciado. O método clínico da psicodinâmica do trabalho inicia-se pela análise da demanda e escuta qualificada, na qual o pesquisador acessa os modos de pensar, sentir e agir dos trabalhadores na dinâmica de vinculação com o trabalho e as formas nas quais esse sentido é manifestado nas vivências de prazer e sofrimento, nas estratégias de ação para mediar as contradições entre o prescrito e o real, nas patologias sociais, na saúde e também no adoecimento psíquico (Dejours, 2008, 2012).

A metodologia da psicodinâmica do trabalho no Brasil vem sendo desenvolvida com os trabalhos de Mendes (1994) e Lancman e Sznelwar (2004) ao apresentar as primeiras pesquisas ancoradas nos estudos da psicodinâmica do trabalho nas suas produções científicas.

A pesquisadora Ana magnólia Mendes, do Programa de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, da Universidade de Brasília (UnB), apresentou as primeiras pesquisas ancoradas nestes estudos propostos por Dejours na sua dissertação de mestrado acerca da necessidade de estudar a relação do trabalho com os processos psíquicos. Verificou que estes estudos têm sua origem no começo do século XX, com ampla aplicação dos princípios tayloristas, criados com o objetivo de racionalizar o trabalho. (Mendes, 1994).

Os pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Selma Lancman e Laerte Sznelwar, publicaram a obra "Christophe Dejours: da Psicopatologia a Psicodinâmica do Trabalho" (2004), apresentando a necessidade de investigar os impactos da organização do trabalho sobre a saúde do trabalhador, especialmente a saúde mental. Essa obra foi fruto dos seus estudos no pós-doutorado em psicopatologia e psicodinâmica do trabalho, juntamente com Dejours, no Laboratório de Psicologia do Trabalho em Ação no Conservatoire National des Arts et Metiers, na França.

A abordagem da PDT surge como proposta de problematizar o sofrimento originado a partir da relação homem-trabalho, enfatizando as vivências de prazer e sofrimento e a reestruturação da organização do trabalho. Sob vários aspectos teóricos da dimensão do trabalho, a psicodinâmica aparece para elucidar questões subjetivas e analisar os aspectos psíquicos e relacionais do indivíduo no ambiente do trabalho (Bendassolli & Soboll, 2011).

Com o olhar do sujeito nesta relação, surge a clínica da psicodinâmica do trabalho, sugerido por Dejours (1987) pautada na descrição e análise das relações no contexto do trabalho, sendo a escuta coletiva do trabalho um dispositivo clínico que permite a análise da forma como a empresa se organiza e delibera ações prescritas, ocasionando sentimentos contraditórios nesta relação sujeito-trabalho, provocando vivências de sofrimento que produzem patologias ou provocam sentimentos de prazer gerando saúde ao trabalhador. Convém salientar que o método prescrito por Dejours prevê a análise da demanda, a pré-pesquisa, a pesquisa propriamente dita e a validação do relatório (Monteiro, Vieira, & Mendes, 2015; Monteiro, Moraes, Mendes & Merlo, 2017).

Para Dejours, na perspectiva do método, o mais importante é a possibilidade de fazer reuniões com o coletivo, montando grupos de trabalho com trabalhadores de empresas, sejam públicas ou privadas, haja vista uma discussão que começa entre os membros do grupo de trabalho, para que esse coletivo possa refletir sobre questões relacionadas sobre as dificuldades enfrentadas por eles no exercício do trabalho e voltar à questão da subjetividade e da organização, a fim de que eles entendam novas coisas sobre o trabalho e isso produza novas ideias sobre a transformação possível da organização do trabalho (Macedo & Heloani, 2017).

É importante problematizar que, nos últimos anos, pesquisadores brasileiros realizam adaptações metodológicas na clínica PDT para dar conta do real da precarização do mundo do trabalho. Para Mendes e Araújo (2012) novos dispositivos da prática clínica em relação à escuta do sofrimento, a elaboração e interpretação tem sido utilizados por pesquisadores clínicos, no qual o objetivo não é romper com a prática clínica utilizada na psicodinâmica, e sim desenvolver saberes sobre o trabalho e o sofrimento humano, contribuindo para a construção de uma identidade da clínica, sendo a prática da escuta indissociável da subjetividade do clínico.

Segundo Martins e Mendes (2012), esse modelo clínico se subdivide em três tipos, de acordo com a situação de trabalho a ser investigada: clínica da inclusão, clínica das patologias e clínica da cooperação. Na clínica da inclusão, tem-se o foco no sentido do trabalho como constituinte do sujeito em situação de não trabalho. Na clínica das patologias, o foco é a reestruturação da histórica do adoecimento por meio da mobilização subjetiva, realizada com grupos heterogêneos em relação à organização do trabalho e homogêneos em relação à categoria profissional ou à situação vivida. A clínica da cooperação perpassa desde a mobilização subjetiva, o resgate do sentido do trabalho com centralidade no diálogo, até o fazer coletivo enquanto sujeito de ação, ou seja, a potência do sujeito se dá na emancipação por intermédio da mobilização subjetiva. Na clínica da cooperação há um espaço coletivo de fala e ação, no qual os sujeitos imersos no mesmo cotidiano de trabalho compartilham os seus sentimentos em relação ao trabalho real e por meio de dispositivos clínicos da psicodinâmica do trabalho é possível construir uma potência do sujeito para a ação, para o fazer e para o agir.

A clínica psicodinâmica do trabalho procura acessar os aspectos subjetivos dos sujeitos que trabalham com vistas ao pensar, sentir e agir sobre o seu trabalhar. Assim, os trabalhadores elaboram as situações de trabalho que produzem sofrimento. A metodologia traz um olhar voltado para a subjetividade do sujeito em relação ao contexto do trabalho e as implicações destas para a sua saúde mental. O funcionamento desta clínica ocorre em três etapas: a análise da demanda, as sessões coletivas e a validação dos resultados. A proposta é realizar uma intervenção por meio de diálogos sobre anseios que envolvem o mundo do trabalho, sob a ótica da produção social do sofrimento no trabalho, conforme a conjuntura se apresenta. A ressignificação deste sofrimento é possível por intermédio de ações coletivas, na tentativa de criar espaços de fala e de desenvolvimento criativo do sujeito nas suas vivências relacionadas ao trabalho. Dessa forma, é possível construir a mobilização subjetiva e uma potência de ação. Para tanto, os dispositivos clínicos utilizados por Dejours apontam a necessidade de realizar uma pré-pesquisa e uma análise da demanda sobre o sofrimento no trabalho; a instituição das regras de conduta do coletivo de pesquisa e do coletivo de clínicos; a constituição do espaço público de grupos de trabalhadores e pesquisadores, com sessões coletivas para a escuta qualificada do sujeito pela observação clínica; a restituição e deliberação das sessões; o registro das sessões com memoriais, diário de campo e transcrições dos encontros gravados, a interpretação dos dados analisados e a validação (Mendes & Araújo, 2012).

Tendo em vista o desenvolvimento da metodologia da clínica psicodinâmica do trabalho no Brasil e a importância de aprofundar a saúde do trabalhador frente ao contexto de intensa precarização do trabalho, a problemática desse estudo é evidenciar as adaptações metodológicas que estão sendo realizadas por pesquisadores brasileiros na prática clínica da psicodinâmica do trabalho, com vistas a um enfrentamento do trabalho real no país.

Assim sendo, o objetivo geral desta pesquisa é realizar uma revisão sistemática de artigos, teses e dissertações nacionais que utilizam a clínica psicodinâmica do trabalho proposta por Dejours. Especificamente, serão descritas as adaptações realizadas na prática clínica da PDT no Brasil; mostrar a pujança da prática psicodinâmica do trabalho focada na realidade brasileira e contribuir com a expansão das práticas clínicas do trabalho com vistas à saúde psíquica dos trabalhadores.

 

Método

Esta pesquisa de revisão sistemática da literatura explorou o panorama dos artigos científicos, dissertações e teses na língua portuguesa, de pesquisas realizadas na perspectiva da clínica psicodinâmica do trabalho sob a égide Dejouriana, publicados em base de dados, periódicos e portais acadêmicos que dispõem de uma coleção selecionada de produções científicas brasileiras, no período de 2015 a 2020. Como a área de psicodinâmica tem um volume considerável de produções, compreende-se que no período de 5 (cinco) anos, tem-se uma quantidade relevante de estudos que conseguem trazer um quadro das adaptações da clínica PDT no Brasil.

Utilizou-se a metodologia da pesquisa bibliográfica, por meio do levantamento de dados e informações disponíveis na literatura e a análise dos materiais já publicados em fontes secundárias, como revistas, congressos e diretórios acadêmicos. O método de coleta de dados consistiu na pesquisa em base de dados on-line da plataforma Scopus da Elsevier (SciVerse Scopus é um banco de dados de resumos e citações de artigos para jornais/revistas acadêmicos), da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), de PePSIC (Periódicos Eletrônicos de Psicologia da BVS), de Scielo (Scientific Electronic Library Online) e da BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações). Considerou-se como critério para o levantamento os descritores nos bancos de dados listados acima utilizando o descritor Clínica AND Psicodinâmica do trabalho.

Foram encontrados nas bases de dados e periódicos acadêmicos um total de 73 (setenta e três) artigos científicos e 85 (oitenta e cinco) resultados de trabalhos acadêmicos em formato de dissertação e tese. Considerando que muitas publicações nas diferentes fontes eram semelhantes, foi realizada uma triagem dos achados considerando o período de publicação, autores, temas da pesquisa e objetivos.

Foi realizada uma análise descritiva dos achados acadêmicos e com a leitura dos resumos encontrados, dialogou-se acerca da forma que a clínica psicodinâmica do trabalho é apresentada, o percurso metodológico utilizado pelos pesquisadores e as suas contribuições para a comunidade científica. Diante dos resultados obtidos nas buscas, realizou-se a leitura dos títulos, dos resumos e, nos casos dos materiais selecionados, leitura dos textos completos para a análise descritiva. Em consequência dos critérios de inclusão, só foram considerados as pesquisas que utilizam a prática da clínica psicodinâmica do trabalho. Portanto, pesquisas que utilizam a abordagem teórica e não utiliza o método, foram excluídas.

Após o procedimento de busca e coleta de dados, foram selecionadas 28 (vinte e oito) produções para compor a amostra desta revisão, sendo 11 (onze) artigos de pesquisa científica e 17 (dezessete) publicações de trabalhos acadêmicos de dissertações e teses, para analisar o percurso metodológico da clínica psicodinâmica do trabalho e as adaptações realizadas.

Os resultados são apresentados da seguinte maneira: inicialmente tem-se um panorama das publicações apresentados em formato gráfico e separados por grupos, a saber: (1) ano de publicação, região dos pesquisadores e área de conhecimento dos estudos, a fim de que fossem identificadas as regiões brasileiras que tem utilizado a clínica do trabalho, nos últimos anos; (2) Número de produções por base de consulta de dados, tipos de publicação em que foi identificado se o material era artigo, tese ou dissertação e público-alvo para compreender o cenário de precarização ao qual a clínica demanda; (3) Tipos e nomes das instituições de ensino e vinculação dos primeiros autores dos projetos observados para analisar o contexto das produções cientificas; (4) quantitativo de documentos discriminados por produções com o detalhamento metodológico da clínica psicodinâmica do trabalho, para identificar as pesquisas que utilizam do prescrito; (5) quantitativo de documentos discriminados por produções das metodologias adaptadas na prática clínica do trabalho, para identificar os dispositivos clínicos que estão sendo utilizados.

Posteriormente, para efeito da discussão, foram criadas categorias com vistas a responder os objetivos do estudo, contendo as categorias que mostram os dispositivos sem adaptações e as categorias que mostram as adaptações na prática clínica.

 

Resultados e Discussão

Panorama Geral

Ao realizar um levantamento do número de documentos produzidos por ano de publicação e a região dos pesquisadores que desenvolvem estudos sobre a clínica psicodinâmica do trabalho, identificou-se a importância da área da Psicologia para a produção do conhecimento sobre trabalho, subjetividade e práticas clínicas nos diversos estados brasileiros.

A tabela 1 apresenta o quantitativo de produções científicas publicadas em periódicos e repositórios acadêmicos nos últimos anos no Brasil. Os pesquisadores desta abordagem teórica e metodológica têm desenvolvido estudos sobre a clínica psicodinâmica do trabalho com mais publicações na área da psicologia e em sua maior concentração na região Centro-Oeste.

 

 

Em relação à base de dados e tipos de publicação, foi feito um levantamento separado entre artigos, dissertações e teses no Brasil e o público-alvo em que as escutas foram realizadas. Estes estudos versam sobre pesquisas com ênfase na prática clínica do trabalho com o uso da abordagem da psicodinâmica.

Na tabela 2 observa-se um quantitativo maior de produções de artigos e dissertações no período de 2015 a 2020, com demandas significativas com profissionais de educação (10) e servidor público (11). Para tanto, constata-se que as produções acadêmicas de teses e dissertações têm sido produzidas de maneira significativa e as publicações científicas não acompanham a velocidade das escutas clínicas.

 

 

Buscou-se detalhar o nome e o tipo de instituições de ensino superior e os seus pesquisadores que publicaram trabalhos acadêmicos e pesquisas científicas utilizando a clínica psicodinâmica do trabalho.

A tabela 3 descreve quantitativamente os achados de dissertações, teses e artigos científicos publicados em repositórios acadêmicos, periódicos e revistas de psicologia. Observa-se nos dados apontados o volume de produção científica em universidades públicas federais (19). Vale ressaltar que a Universidade Federal do Amazonas apresenta um quantitativo maior de produções acadêmicas.

 

 

Foi realizada uma análise para compreender as produções científicas que realizaram a clínica psicodinâmica do trabalho utilizando na íntegra os dispositivos clínicos da abordagem Dejouriana.

De acordo com a tabela 4, foram identificadas 19 (dezenove) pesquisas que utilizam na íntegra o prescrito dos dispositivos clínicos da clínica psicodinâmica do trabalho, entre artigos, dissertações e teses, representando 68% do total de produções nos últimos cinco anos. Na análise detalhada apresenta-se, na sequência, um compilado dos resumos dessas produções científicas publicadas em revistas ou periódicos científicos e das dissertações e teses realizadas e produzidas academicamente em programas de pós-graduação stricto sensu de mestrado ou doutorado, na perspectiva da clínica psicodinâmica do trabalho.

 

 

Nos estudos apontados na sequência, destacam-se artigos, dissertações e teses que utilizaram a PDT como modelo teórico, mas no percurso metodológico fizeram adaptações utilizando de novos dispositivos clínicos com atendimentos na modalidade de plantão psicológico com escutas individuais de trabalhadores em sofrimento psíquico, sessões presenciais com escutas clínicas individuais, atendimentos on-line individuais, grupos de conversação com o uso de oficinas e dinâmicas de grupo.

De acordo com a tabela 5, podemos identificar um quantitativo significativo de adaptações da clínica do trabalho no formato de escuta individual, para atender às demandas de emergências nas instituições de serviço clínico especializado ao trabalhador em sofrimento psíquico, sob a égide Dejouriana da psicodinâmica do trabalho e a psicanálise, representando um percentual de 32% do total de produções nos últimos cinco anos.

 

 

Categorias que Mostram os Dispositivos sem Adaptações e Categorias que Mostram as Adaptações na Prática Clínica

O prescrito da clínica psicodinâmica do trabalho. Na análise das teses de Chehab (2020), Schimin (2019), C. P. Silva (2019), Camargo (2017) e Ramos (2016) objetivou-se compreender a psicodinâmica do trabalho dos magistrados do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região; dos servidores públicos federais de uma instituição do Poder Executivo Federal; o trabalhar de professores que atuam com adolescentes em conflito com a lei de uma escola inserida dentro de uma unidade de internação no Distrito Federal; o trabalho de servidores públicos em estágio probatório de uma Fundação Pública e os servidores técnicos-administrativos da UFG (Universidade Federal de Goiás). Todos os estudos ocorreram por meio do referencial teórico psicodinâmica do trabalho com ênfase na fala do sujeito e na escuta qualificada do sofrimento, baseado na construção de um espaço coletivo de discussão. A clínica do trabalho foi constituída por sessões gravadas, entre 6 a 12 sessões, com a duração média de 1h e 15min por encontro, e em geral, de 11 participantes nos casos de estudos específicos e todos os encontros foram gravados e transcritos na íntegra. Ao longo do processo clínico, foram utilizados instrumentos de gravação em áudio das sessões, o memorial, o diário de campo e o registro da supervisão. A análise de conteúdo e clínica do trabalho foram utilizadas para a organização e análise dos resultados estabelecidos nas categorias: organização do trabalho, sentido do trabalho, sofrimento no trabalho, mobilização subjetiva, prazer no trabalho, sofrimento no trabalho e estratégias defensivas. Os estudos descritos acima se configuram na dimensão da clínica das patologias e a clínica da cooperação, proposto por Martins e Mendes (2012) em função das experiências de prazer e sofrimento no trabalho e o resgaste da cooperação na ressignificação dos sentidos.

Nas dissertações de Vieira (2019), Takaki (2019), Menezes (2018), S. L. Silva (2017), Oliveira (2017), Freitas (2016) e K. Silva (2016), teve-se como objetivo analisar os sentidos do trabalho docente; os impactos da organização do trabalho em trabalhadores de uma empresa pública de navegação aérea; os egressos, associados a uma cooperativa brasiliense de reciclagem de resíduos de construção; as vivências subjetivas no trabalho de cuidadores sociais de uma instituição de acolhimento que atende crianças em situação de vulnerabilidade social na cidade de Manaus-AM; o cotidiano laboral de professores substitutos de uma IFES; o trabalho dos operadores de armazenagem que integram o quadro funcional de uma empresa privada na cidade de Manaus; os trabalhadores em tarefa restrita de uma empresa no Polo Industrial de Manaus e as implicações no trabalho dos professores de uma instituição pública de ensino superior de Manaus. Em todos os estudos aplicou-se a clínica do trabalho e da ação, na dimensão da clínica das patologias e da cooperação, tendo em vista que os sujeitos de grupos homogêneos em relação à categoria profissional estavam imersos no mesmo cotidiano de trabalho, como proposto por Martins e Mendes (2012), na qual se privilegiou a construção de um espaço público de discussão, com sessões coletivas variando de 6 a 14 sessões, sendo um encontro por semana, com duração média de uma hora. O quantitativo de participantes variou de 5 a 12 pessoas, de acordo com a especificidade de cada estudo. O método da clínica do trabalho e da ação contribuiu para a promoção da saúde, com o uso das etapas: a pré-pesquisa, análise de demanda, constituição de grupos de trabalhadores e pesquisadores, pesquisa propriamente dita, material de pesquisa, observação clínica, método de interpretação e validação. Os memoriais, as anotações do diário de campo e as transcrições das sessões foram gravadas e analisadas sob o olhar da psicodinâmica do trabalho, utilizando a análise clínica do trabalho (ACT) para organização do material.

Nos estudos realizados por Schmidt et al. (2020), Lancman et al. (2019), Santos e Traesel (2018), Facas et al. (2017), Medeiros et al. (2017), J. D. G. Silva, Aciole e Lancman (2017) e Magnus e Merlo (2015), buscou-se o desenvolvimento de um espaço coletivo de escuta para professores readaptados. Igualmente, com farmacêuticos, com Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) que atuam na saúde pública, com gestores de uma unidade de taquigrafia parlamentar de uma organização pública, com um grupo de trabalhadores agentes de trânsito da área de monitoramento aéreo da unidade de operações aéreas do Detran, um grupo de trabalhadores da Saúde Mental do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS tipo III) do interior paulista aferindo sua percepção sobre a saúde em seu trabalho e um grupo constituído por magistrados (juízes substitutos, titulares e desembargadores) da Justiça do Trabalho da 4ª Região. Foram realizados encontros semanais e/ou mensais, com duração de uma a duas horas cada encontro. Realizaram-se de 6 a 10 sessões coletivas e com uma variação média de 8 a 12 participantes, conforme cada estudo apresentado. Em todas as pesquisas foram realizadas ações em PDT e organizadas segundo princípios da clínica psicodinâmica do trabalho, sendo aplicadas a pré-pesquisa e a pesquisa propriamente dita, contemplando a análise da demanda, a observação clínica, a análise do material das sessões, a interpretação, a elaboração de relatório e a validação. Segundo Martins e Mendes (2012), os modelos clínicos utilizados nas pesquisas foram a clínica das patologias, em decorrência dos grupos serem homogêneos em relação à categoria profissional e heterogêneos em relação à organização do trabalho, bem como a clínica da cooperação, na tentativa de construção de um espaço de cooperação, de vínculos afetivos e de confiança.

Adaptações da clínica psicodinâmica do trabalho. O estudo de Kátia Brasil et al. (2020) objetivou realizar uma escuta clínica com adolescentes em conflito com a lei e agentes de reintegração em uma instituição socioeducativa. Utilizou-se o método de intervenção triangular, por intermédio dos dispositivos metodológicos: plantão psicológico de escuta individual, um grupo de fala com adolescentes e uma intervenção em psicodinâmica do trabalho com os agentes socioeducativos. A clínica ampliada, no contexto institucional, permitiu compreender o lugar da violência na dinâmica relacional intersubjetiva, seus impactos psíquicos e os riscos à saúde mental, por meio da observação clínica, espaço coletivo de fala, interpretação, devolutiva e validação do relatório, conforme o prescrito da PDT. A inovação neste estudo foi em relação à intervenção com o grupo de adolescentes, que ocorreu em um espaço grupal e também individual, tendo utilizado o dispositivo metodológico da conversação. De acordo com Martins e Mendes (2012), o modelo clínico utilizado foi a clínica das patologias, com grupos heterogêneos em relação à experiência vivida.

A dissertação de Pereira (2018), apresenta o estudo das vivências subjetivas de um coletivo de técnicos administrativos em educação de uma instituição pública de ensino superior em Manaus. O método adaptado da clínica da PDT ocorreu na etapa de pré-pesquisa, momento em que as demandas específicas foram organizadas e coletadas com o uso de diversas dinâmicas. Constituiu, assim, o ponto de partida para o início dos relatos, as entrevistas com gestores, palestras de sensibilização com os trabalhadores e episódios de "quebra de paredes" com o uso das oficinas de escuta do sofrimento no trabalho com três grupos do setor do mesmo nível hierárquico. Nestas oficinas foram utilizadas técnicas expressivas gráficas e promoção da circulação da palavra, oportunizando a fala compartilhada e o pensar reflexivo. As dinâmicas utilizadas envolveram técnicas de dessensibilização, integração, reflexão e discussão. Após a validação dos resultados das oficinas, realizou-se a clínica do trabalho e da ação, com seis sessões coletivas, uma vez por semana, com duração média de uma hora. De acordo com Martins e Mendes (2012), os modelos clínicos utilizados foram a clínica das patologias e da cooperação, por serem grupos homogêneos em relação à categoria profissional e os encontros permitirem cooperação entre os pares.

O estudo de Santana (2015), apresenta a escuta coletiva de trabalhadores no setor de enfermagem de um Hospital Universitário em Manaus, utilizando-se o referencial teórico da PDT e fazendo a adaptação da metodologia à clínica do trabalho, com oficinas de escuta clínica do trabalho. A adaptação ao método foi o uso da oficina de grupo operativo, utilizando o relato clínico e a dinâmica de grupo na intervenção grupal, articulando os conhecimentos da psicodinâmica do trabalho, da psicanálise e do grupo operativo de Pichon-Rivière. De acordo com Martins e Mendes (2012), o modelo utilizado foi a clínica das patologias e da cooperação, dado a importância de os grupos serem homogêneos em relação à categoria profissional e o espaço de discussão colaborar para a mobilização do coletivo para superar as dificuldades.

A dissertação de Galvão (2019), refere que foi realizada a clínica psicodinâmica do trabalho adaptada no seu percurso metodológico, tendo os ajustes feitos na modalidade do atendimento individual on-line. Visou a descrever a organização do trabalho, investigar o sofrimento e estratégias defensivas e analisar a mobilização subjetiva e a potência política de cada caso clínico. A pesquisa teve como referencial teórico a PDT e, como objeto de estudo, dois atendimentos on-line e individuais realizados no Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da Universidade de Brasília, fundamentado na clínica das patologias, conforme proposto por Martins e Mendes (2012) tendo em consideração a reestruturação do adoecimento por meio da mobilização subjetiva.

O estudo de Santos e Monteiro (2018), informa que foi realizado a escuta clínica individual com servidores da educação pública em sofrimento psíquico. O método clínico utilizado nos atendimentos foi baseado na clínica psicodinâmica do trabalho, seguindo os pressupostos da psicanálise, a qual embasa teoricamente a PDT e adaptada com a utilização dos dispositivos clínicos, a saber: o acolhimento, a transferência (constituição do vínculo terapêutico), a interpretação e a elaboração do sofrimento. O objetivo foi propiciar um espaço de fala e de escuta clínica qualificada do educador, visando a elaboração das situações de sofrimento vivenciadas no contexto laboral. Os atendimentos ocorreram quinzenalmente, com duração média de 40 minutos cada encontro, totalizando dez encontros com cada educador. O manejo da clínica do trabalho ocorreu com foco na visibilidade das vivências de prazer-sofrimento dos trabalhadores, com a finalidade de proporcionar a ressignificação pela análise (escuta-interpretação-elaboração) das questões vivenciadas no real do trabalho. Segundo Martins e Mendes (2012), foi utilizado o modelo da clínica das patologias, em virtude do processo mobilizatório apresentado na pesquisa.

Em sua dissertação, F. H. M. Silva (2018) revela que foram realizados atendimentos clínicos individuais com a abordagem da clínica psicodinâmica do trabalho no Centro de Referência Estadual em Saúde do Trabalhador do Amazonas (CEREST/AM). Ao todo, foram quatro estudos de casos clínicos com o método da clínica do trabalho adaptada para atendimentos individuais em interface com os dispositivos técnicos da psicoterapia breve. Os resultados foram organizados em duas partes, sendo a primeira relativa à clínica do trabalho em atendimento individual e a segunda destinada à discussão da técnica do atendimento individual ao sofrimento no trabalho. Foi realizada a clínica das patologias para o sujeito encontrar recursos para lidar com a subjetividade e transformar ações em benefício da saúde mental (Martins & Mendes, 2012).

Em suas pesquisas, Cunha e Ghizoni (2017) realizaram a escuta clínica individual com um policial militar (PM) afastado por alcoolismo. A modalidade de estudo de caso da escuta clínica baseado nos aportes da psicodinâmica do trabalho foi suporte do método usado, buscando descrever o trabalho vivo do policial militar afastado do trabalho. Foram realizadas seis sessões e os atendimentos ocorreram com uma duração média de 50 a 60 minutos, ocorrendo supervisão após cada atendimento. O conteúdo apresentado foi gravado e enviado para transcrição ao final da sessão e discutido em supervisão para a construção do memorial a ser lido no início da sessão seguinte. Na análise de dados, avaliando as informações (conteúdo verbal e não verbal) obtidas a partir da escuta clínica, foi utilizada a análise clínica do trabalho (ACT) nas suas três etapas. Configura-se, também, a clínica das patologias descritas por Martins e Mendes (2012), decorrente da análise da subjetividade e ressignificação do sofrimento do trabalhador.

A dissertação de Ayelén Gómez (2017) apresenta a realização de um estudo de caso clínico de atendimento individual a uma trabalhadora bancária no CAEP/UnB. A prática em clínica do trabalho sob a forma de atendimento individual foi conduzida por meio de estágio supervisionado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília. Especificamente, foi uma prática inserida no Projeto Práticas em Clínica do Trabalho, do Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho. Foram realizadas 18 sessões semanais com duração média de 50 minutos e supervisão do caso após cada atendimento. Os dados, registrados em diários de campo e memoriais, foram analisados por intermédio de interpretação e da ACT. Verifica-se a clínica das patologias, descritas por Martins e Mendes (2012), em decorrência do processo de ressignificação das vivências de sofrimento no trabalho.

Nos estudos de Biasi e Rumin (2015) destaca-se a realização de uma escuta clínica individual com uma trabalhadora que sofreu mutilações em um acidente do trabalho. Foram realizadas 34 sessões de psicoterapia de orientação psicanalítica em uma clínica-escola de psicologia, com atendimentos semanais. O profissional responsável pelo atendimento realizou atividades práticas de pós-graduação, em um serviço de extensão em psicologia, denominado Núcleo de Atenção em Saúde do Trabalhador (NAST). A realização deste estudo de caso, focado na intervenção psicoterápica dirigida a uma trabalhadora acidentada, foi empreendida para indicar como o processo interpretativo em psicanálise se articulou aos pressupostos da psicodinâmica do trabalho. Reside também a clínica das patologias, descritas por Martins e Mendes (2012) ao compreender as vivências de prazer e sofrimento no trabalho.

De acordo com os achados na prática clínica PDT do trabalho no Brasil, nos deparamos com o uso das metodologias da clínica psicodinâmica prescritas pela égide Dejouriana, mas em casos com demandas nas quais o trabalhador procura o serviço de escuta do sofrimento psíquico fora da instituição do trabalho, os pesquisadores usam de adaptações no método. Diante disso, as pesquisas indicam a distância entre o prescrito e o real da escuta clínica do sofrimento no trabalho, evidenciando a diversidade de demandas e dispositivos adaptativos ao modelo da clínica PDT. Assim, identificou-se a importância do espaço da fala e a riqueza ao qual ela proporciona aos trabalhadores para ressignificar o sentido do trabalhar. Alguns pesquisadores utilizam de adaptações metodológicas no coletivo, tais como dinâmicas e oficinas, enquanto que outros adaptam com o serviço de acolhimento, atendimento emergencial em plantões psicológicos e escuta clínica individual, com atendimento on-line ou presencial, para atender as demandas de escuta qualificada.

Para Dejours (2012) a Clínica PDT identifica estratégias de mobilização subjetiva representada pelos modos de pensar, sentir e agir individual e coletivo dos trabalhadores, nos quais se amparam na inteligência prática, na cooperação e no espaço de discussão. Vale ressaltar que neste espaço, os sujeitos estão imersos no mesmo cotidiano de trabalho e compartilham os seus sentimentos em relação ao real do trabalho.

Tendo em vista os tipos de clínicas propostas por Martins e Mendes (2012), as clínicas da patologia, nas quais os encontros são formados por grupos homogêneos em relação a categoria profissional e a situação vivida; ou heterogêneos em relação a organização do trabalho são as clínicas mais procuradas pelos trabalhadores nos serviços de acolhimento e atendimento clínico individual. Em estudos que há a formação de coletivos, observa-se a cooperação para o fazer e o agir no espaço de discussão.

Neste cenário, as clínicas encontradas em diversos contextos - clínica das patologias e/ou clínica da cooperação - apresentam uma escuta qualificada com dispositivos que outorga o processo de mobilização subjetiva e emancipação do sujeito com o olhar para o sentido do trabalho.

 

Considerações Finais

O objetivo desta revisão sistemática foi analisar a aplicação da clínica psicodinâmica do trabalho no Brasil e as pesquisas que têm adaptado a metodologia da clínica psicodinâmica do trabalho. Buscou-se avaliar se os dispositivos clínicos propostos na metodologia de Dejours são utilizados como prescritos pelo autor, além de identificar as adaptações realizadas ao modelo.

Um dos modelos de investigação se referiu aos modelos da clínica psicodinâmica do trabalho propostos pela escola Dejouriana e adaptados no Brasil pelos cientistas sociais. É, pois, o processo clínico que surge a partir de uma demanda precisa, na qual a mediação ocorre no coletivo com a escuta qualificada do sujeito social, com adaptações no uso de recursos metodológicos, como dinâmicas e oficinas para auxiliar o processo mobilizatório.

Identificou-se também o uso da clínica do trabalho adaptada à modalidade de atendimento individual presencial, atendimento individual on-line e estudo de casos na clínica individual com espaços para observação e escuta, com serviço de plantão psicológico para acolhimento e atendimento emergencial. Nos casos clínicos individuais, realizou-se a escuta clínica do trabalho com o referencial da psicodinâmica do trabalho e da psicanálise, efetuando uma intervenção em psicodinâmica do trabalho com profissionais nas diversas áreas e campos de atuação, tendo em vista a clínica ampliada, no contexto institucional, destinada à discussão do sofrimento no trabalho, considerando o eixo central da reestruturação da saúde do sujeito.

Por fim, a importância deste estudo não se limita aos modelos teóricos e metodológicos de atendimento clínico ao sofrimento no trabalho, mas principalmente no que se refere à escuta clínica do sofrimento no trabalho. É importante destacar que, independente da abordagem psicológica, a escuta clínica do sofrimento no trabalho é fundamental para o exercício/trabalho do psicólogo como agente de promoção de saúde e bem-estar.

Em que pese as adversidades do mundo do trabalho, pesquisadores têm utilizado de adaptações metodológicas na clínica psicodinâmica para dar conta do real da precarização do trabalho e, assim, tem-se criado novas formas de escuta qualificada, fora do ambiente do trabalho, para discutir problemas relacionados à organização do trabalho, ao sofrimento psíquico e às situações de precarização e injustiça social.

Portanto, recomenda-se como agenda de pesquisa um estudo aprofundado sobre as práticas clínicas do trabalho realizado pelos pesquisadores clínicos vinculados à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia para aprender o saber fazer a clínica do trabalho, especificamente os pesquisadores da região centro-oeste e norte do país, haja vista o maior número de produções realizadas nos últimos anos.

 

Referências

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Informações sobre as autoras
Beatriz Amália Albarello
Universidade Católica de Brasília - UCB

Lêda Gonçalves de Freitas

Submissão: 22/04/2021
Primeira Decisão Editorial: 02/05/2022
Versão Final: 11/05/2022
Aceito em: 29/06/2022

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