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Revista de Psicologia da UNESP

versão On-line ISSN 1984-9044

Rev. Psicol. UNESP vol.12 no.2 Assis dez. 2013

 

Artigo

 

Espiritualidade e sintomatologia depressiva em estudantes universitários brasileiros

 

Spirituality and depressive symptoms in brazilian college students

 

 

Rodrigo Carvalho CarlottoI

I Universidade Federal de Santa Maria

 

 


RESUMO

O presente estudo buscou investigar trabalhos referentes à espiritualidade e/ou sintomatologia depressiva em estudantes universitários brasileiros. Foi realizada uma revisão sistemática de literatura na base de dados LILACS no período de 2003 a 2013. No total, foram encontrados 137 artigos. Após a utilização dos critérios de inclusão e exclusão, restaram para análise final apenas 10 estudos. Esses trabalhos foram organizados e discutidos em três categorias: 1) Espiritualidade, religião e religiosidade, 2) Espiritualidade e saúde, 3) Depressão, espiritualidade e contexto universitário. Constatou-se que apenas dois artigos investigavam as correlações entre espiritualidade e depressão no contexto universitário, as demais produções abordavam essas variáveis de forma isolada.

Palavras-chave: Espiritualidade; Depressão; Estudantes Universitários.


ABSTRACT

The present study investigated papers concerning spirituality and/or depressive symptoms in brazilian college students. A systematic review of literature was performed in LILACS database from 2003 to 2013. There were found 137 publications, but only 10 of them met the inclusion and exclusion criteria. These papers were organized and discussed in three categories: 1) Spirituality, religion and religiosity, 2) Spirituality and Health, 3) Depression, spirituality and university context. We noticed that only two articles sought to establish correlations between variables spirituality and depression in a university context, the other productions addressed these variables in isolation.

Keywords: Spirituality; Depression; College Students.


 

 

A temática da espiritualidade tem despertado cada vez mais o interesse da ciência e da sociedade de forma geral. No meio acadêmico, nas reportagens expostas pela mídia e nas conversas informais manifesta-se um interesse evidente pelo assunto, especialmente no que diz respeito às suas possíveis relações com aspectos da saúde física e mental (Costa et al., 2008). Esse novo enfoque em relação as práticas ditas alternativas constitui-se em uma das marcas do século XXI (Koenig, 2007).

A busca por tratamentos homeopáticos, medicina ortomolecular, livros de autoajuda e pelas diversas formas de exercício da espiritualidade encontram-se cada vez mais presentes em um contexto de promoção de saúde (Roberto, 2004). No entanto, apesar desse momento favorável, várias práticas continuam sendo muito discutidas, especialmente por ainda apresentarem um conjunto de métodos e resultados pouco confiáveis (Rocha & Fleck, 2011).

Em virtude desse contexto, alguns setores do meio acadêmico vêm trabalhando com o intuito de reduzir essas dificuldades e promover o desenvolvimento de estudos confiáveis na área. Nos EUA e no continente Europeu um número considerável de pesquisadores tem investigado as possíveis associações entre crenças, práticas espirituais e saúde (Dalgalarrondo, 2006). Em revisão da literatura norte-americana, observou-se em 147 publicações a presença de algum tipo de associação entre espiritualidade e depressão. Desse total, 30 estudos envolviam estudantes universitários, na faixa etária dos 19 aos 24 anos. A maior parte dos resultados apontou uma relação negativa entre sintomas depressivos e espiritualidade (Smith, McCullough, & Poll, 2003). Os resultados mostram-se animadores, especialmente em trabalhos realizados com populações de idosos e pacientes hospitalizados (Lucchetti, Granero, Bassi, Nasri, & Nacif, 2011).

No Brasil também se observa que um número considerável de trabalhos vem examinando as relações entre espiritualidade e saúde. Pesquisas realizadas com idosos (Cupertino & Novaes, 2004; Duarte & Wanderley, 2011; Santana & Santos, 2005; Silva & Alves, 2007) e com sujeitos que padecem de alguma enfermidade física ou mental (Dezorzi & Crossetti, 2008; Lucchetti, Almeida, & Granero, 2010; Rocha & Fleck, 2011; Stroppa & Moreira-Almeida, 2009) tem apresentado importantes contribuições nessa área.

Da mesma forma, merecem destaque as publicações que investigam junto ao público universitário nacional as relações entre espiritualidade e uso de drogas (Abdala, Rodrigues, Torres, & Rios, 2010), consumo de álcool (Pillon, Santos, Gonçalves, Araújo, & Funai, 2010) e depressão (Volcan, Sousa, Mari, & Horta, 2003). Observa-se que, ao longo da graduação, a presença de diferentes estressores pode afetar a saúde física e psicológica dos acadêmicos. No início do curso, mudanças como o ajustamento à nova instituição, o volume de informações que o aluno passa a receber, a carga horária exigida e a reconfiguração na rede de amigos podem interferir na saúde emocional dos acadêmicos (Santos, Almeida, Martins, & Moreno, 2003). Com a chegada do final do curso, situações corriqueiras como a insegurança em relação à própria competência e as preocupações em relação ao mercado de trabalho que se aproxima podem alterar o equilíbrio psíquico dos acadêmicos, muitas vezes colaborando para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, em especial a depressão (Conte & Gonçalves, 2006; Nardi, 2000).

Nos últimos anos, no Brasil, o público universitário tem sido alvo de um número significativo de pesquisas. Em especial, observa-se que aspectos relacionados à saúde emocional têm sido constantemente investigados junto a essa população. Nesse sentido, com o intuito de contribuir para a produção e organização de informações sobre o tema, o presente estudo buscou revisar de forma sistemática trabalhos referentes à espiritualidade e/ou sintomatologia depressiva em estudantes universitários brasileiros.

 

MÉTODO

Para verificar a disponibilidade de produções em âmbito nacional, realizou-se uma revisão sistemática de literatura, na qual foram investigados os artigos que abordavam a temática da espiritualidade e/ou sintomatologia depressiva em estudantes universitários brasileiros. A pesquisa compreendeu trabalhos publicados entre os anos de 2003 a 2013 na base de dados LILACS. Este período foi escolhido em função do foco deste estudo estar voltado para publicações atuais sobre o tema. Foram utilizadas combinações duas a duas entre, de um lado, os descritores estudante(s) universitário(s) e ensino superior, e de outro, os descritores espiritualidade, religiosidade, religião, depressão e sintomatologia depressiva.

Foram encontrados 137 trabalhos completos. Destes, foram excluídos 29 artigos que se repetiam na busca e outros 16 que eram publicações anteriores ao ano de 2003. Os 92 artigos restantes foram submetidos aos critérios de inclusão e exclusão para delimitar a amostra de trabalhos a serem analisados na íntegra. Esses critérios foram definidos a partir do foco deste estudo. Os critérios de inclusão dos artigos foram: (1) utilizar amostra de estudantes universitários brasileiros, (2) abordar a temática da espiritualidade e/ou religiosidade, (3) investigar a questão da sintomatologia depressiva. Foram desconsiderados os artigos que fizeram uso da amostra de universitários apenas para auxiliar na construção ou validação de instrumentos. Nesta etapa da análise foram excluídos mais 82 artigos. Dessa forma, a amostra final foi constituída por 10 trabalhos, que foram lidos na íntegra. A leitura dos artigos permitiu a identificação de três categorias, a saber: 1) Espiritualidade, religião e religiosidade, 2) Espiritualidade e saúde, 3) Depressão, espiritualidade e contexto universitário. Para a elaboração dessas categorias levou-se em conta aspectos relacionados à temática, objetivos e resultados das pesquisas analisadas.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a presente revisão foram analisados 10 artigos na íntegra. Desses, quatro trabalhos abordavam questões relativas à espiritualidade e/ou religiosidade entre universitários, sem estabelecer relações com a temática da depressão. Observou-se também que outras quatro pesquisas abordavam apenas aspectos referentes à sintomatologia depressiva. Na tabela 1 apresentam-se as pesquisas encontradas nessa revisão.

 

Tabela 1: Descrição dos Artigos Revisados sobre Espiritualidade e Sintomatologia Depressiva em Universitários Brasileiros no Período 2003-2013.

 

Verificou-se que a maior parte dos estudos não se deteve em investigar as correlações entre depressão e espiritualidade. Apenas os artigos de Volcan et al. (2003) e Gastaud et al. (2006) buscaram avaliar as associações entre essas duas variáveis. A seguir, nas categorias são apresentados e discutidos os principais conceitos e resultados encontrados nos artigos analisados.

 

Espiritualidade, religião e religiosidade

A literatura apresenta um número considerável de definições sobre a espiritualidade, religião e religiosidade (Panzini, Rocha, Bandeira, & Fleck, 2007). Contudo, não existe uma postura consensual a respeito do significado exato de cada termo. Pelo contrário, o que mais se observa em diversos estudos é uma sobreposição de conceitos, uma considerável dificuldade na definição e delimitação dessas terminologias (Miller & Thorensen, 2003; Rocha & Fleck, 2004).

No entanto, apesar dessas dificuldades, é importante estabelecer bases conceituais que possibilitem uma abordagem mais adequada do tema (Zilles, 2004). Nesse sentido, pode-se definir a espiritualidade como "a busca pessoal de respostas sobre o significado da vida por meio de conceitos que transcendem o tangível" (Volcan et al., 2003). Duas noções importantes merecem ser destacadas na definição de espiritualidade: 1) transcendência: aquilo que ultrapassa e está além deste mundo; 2) conexidade: ligação com as pessoas, com a natureza e com o cosmos, seja ela de caráter intrapessoal, interpessoal ou transpessoal (Silva, 2008). Um indivíduo pode se dizer espiritualizado sem que haja a necessidade de vinculação religiosa ou reverência a determinado "Deus" (Miller & Thorensen, 2003; Panzini & Bandeira, 2005).

Já o conceito de religião normalmente está associado à crença na existência de um poder sobrenatural, criador e controlador do Universo que deu ao homem uma natureza espiritual que continua a existir depois da morte de seu corpo físico (Rocha & Fleck, 2011). Por vezes essa definição encontra-se atrelada à determinada entidade ou instituição social, organizada em torno de práticas, regras e leis comuns (Sarriera, 2004). De certa forma, a religião acaba se constituindo em um local onde a espiritualidade encontra uma maneira de instituir-se, de obter uma expressão social (Fonseca, Coutinho, & Azevedo, 2008; Miller, & Thoresen, 2003).

Por sua vez, o ato de acreditar, seguir e praticar determinada religião é designado pelo termo religiosidade. Embora, em certos casos, possa haver sobreposição entre os conceitos de espiritualidade e religiosidade, a última caracteriza-se pela reverência a uma doutrina específica, normalmente partilhada por determinado grupo (Panzini et al., 2007).

 

Espiritualidade e saúde

A relação entre espiritualidade e saúde apresenta um nível de complexidade considerável. Embora não seja possível determinar com exatidão os mecanismos dessa interação, vários estudos têm sugerido que o exercício de atividades espirituais pode influenciar positivamente aspectos da saúde humana (Costa et al., 2008; Hill & Pargament, 2003; Levin & Chatters, 1998; Pillon et al., 2010).

Atualmente, pesquisadores têm buscado analisar a relação entre espiritualidade e saúde segundo perspectivas psicológicas, biológicas e sociais (Moreira-Almeida, Pinsky, Zaleski, & Laranjeira, 2010). Esses estudos têm mantido alguns interesses específicos, a saber: analisar os fatores que estão envolvidos na relação saúde-espiritualidade; avaliar os motivos que levam determinado indivíduo a tornar-se mais espiritualizado; verificar os possíveis efeitos negativos de comportamentos relacionados à espiritualidade; analisar o possível caráter protetor que a espiritualidade manteria em relação a aspectos da saúde física e mental (Sarriera, 2004; Rocha & Fleck, 2004).

Várias publicações, em âmbito nacional e internacional, vêm demonstrando os benefícios das práticas religiosas e espirituais em um contexto de saúde. Nessa linha, pode-se mencionar os trabalhos de Holt e Dellmann-Jenkns (1992), Levin e Chatters (1998), Luskin (2000), Rocha (2002), Volcan et al. (2003), Gastaud et al. (2006), Moreira-Almeida et al. (2006), Costa et al. (2008), Pillon et al. (2010), entre outros.

Nos EUA, especialmente nas últimas duas décadas, tem aumentado consideravelmente o número de periódicos destinados a investigar a relação entre religião, religiosidade, espiritualidade e saúde (Faria & Seidl, 2005). Revistas científicas conceituadas como o Journal of Religion and Health, o Journal for the Scientific Study of Religion e o Journal of Religion têm promovido uma produção constante sobre o tema. Além disso, figuras proeminentes no contexto norte-americano como os psicólogos Kenneth Pargament, Carl E. Thorensen, William R. Miller e o médico psiquiatra Harold G. Koenig, têm desenvolvido importantes trabalhos na área.

No Brasil pode-se destacar os diversos trabalhos produzidos em núcleos de estudo de universidades brasileiras. Atividades como as desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos em Problemas Espirituais e Religiosos (NEPER) da Universidade de São Paulo (USP), e pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos Transdisciplinares sobre Espiritualidade (NIETE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem colaborado para o desenvolvimento desse campo em território nacional.

 

Depressão, espiritualidade e contexto universitário

A depressão pode interferir de forma significativa nas relações sociais e no bem-estar geral da criança, adolescente ou adulto (Claudino & Cordeiro, 2006). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, até 2020 a depressão será a segunda síndrome que mais afetará os países desenvolvidos e a primeira em nações em desenvolvimento. Em virtude desse panorama, um número cada vez maior de pesquisadores tem investigado o tema. Boa parte desses estudos tem buscado avaliar a incidência e características do transtorno depressivo na vida dos universitários (Fonseca et al., 2008).

Normalmente, quando comparado ao restante da população, a presença de quadros depressivos é mais intensa no meio acadêmico (Santos et al., 2003). Estima-se que 8 a 15% dos estudantes universitários apresentem algum tipo de transtorno psiquiátrico durante sua formação acadêmica, notadamente transtornos depressivos e de ansiedade (Cavestro & Rocha, 2006). Em determinados cursos de graduação essa porcentagem é ainda mais elevada, em pesquisa realizada com 99 estudantes de enfermagem de uma universidade do interior de São Paulo observou-se que 41,41% dos acadêmicos apresentavam níveis de depressão que variavam do leve até o grave (Santos et al., 2003).

De maneira geral, esses índices podem ser explicados pela existência de vários estressores inerentes à boa parte dos cursos universitários. Fatores como a competição imposta dentro da universidade, o maior grau de dificuldade das avaliações, a falta de momentos de lazer, a menor percepção de suporte familiar, a escassez de tempo para a convivência com amigos, entre outros, podem contribuir para alterações na qualidade de vida desses acadêmicos (Soares, Baldez, & Mello, 2011).

Entre esses fatores, a carência afetiva tem sido apontada como um dos principais desencadeantes da sintomatologia depressiva (Fonseca et al., 2008). Em pesquisa realizada com 377 alunos da Universidade de São Paulo, constatou-se que quanto menor era a percepção de suporte familiar, maiores eram os escores de sintomas depressivos nesses acadêmicos (Lemos et al., 2011).

Em muitos casos a presença dos sintomas depressivos pode trazer repercussões cognitivas, sociais e emocionais para a vida do graduando. Dificuldades de aprendizagem, baixo rendimento acadêmico, dificuldades de atenção e um consumo mais elevado de medicações psiquiátricas, especialmente antidepressivos, podem comprometer a qualidade de vida do universitário. Em estudo realizado com 368 acadêmicos de uma instituição de ensino superior do interior do Paraná, observou-se que 9,51% dos estudantes pesquisados afirmaram fazer uso de antidepressivos (Scolaro et al., 2010).

Devido à incidência significativa de transtornos depressivos no meio universitário, um bom número de pesquisadores vem trabalhando com o intuito de identificar quais técnicas, estratégias ou estilos de vida poderiam atuar como protetores ou promotores de uma melhor saúde emocional para esses jovens (Costa & Leal, 2008). Nesse contexto, os estudos envolvendo os conceitos de espiritualidade e religiosidade tem obtido espaço (Pillon et al., 2010).

Em pesquisa realizada com 136 universitários de psicologia da PUC-RS foram avaliadas as possíveis associações entre qualidade de vida e bem estar espiritual. Verificou-se a existência de correlações positivas entre bem estar espiritual e os domínios físico, psicológico, social e ambiental desses acadêmicos. Pode-se dizer que nessa amostra de estudantes, a presença da espiritualidade foi preditora de índices mais elevados de saúde física e mental (Costa et al., 2008).

Da mesma forma, em estudo realizado com 313 estudantes de dois cursos de enfermagem de universidades do interior de São Paulo e Minas Gerais observou-se o caráter protetor dos comportamentos espiritualizados. Ao analisarem-se as relações entre fatores de risco, níveis de espiritualidade e uso de álcool, constatou-se que os alunos que obtiveram pontuação mais elevada na escala que mensurava a espiritualidade apresentavam menor propensão ao uso de álcool (Pillon et al., 2010). Entretanto, esses resultados não podem ser generalizados, em pesquisa realizada com estudantes de enfermagem de uma universidade de Marília-SP não foi constatada essa função protetiva da espiritualidade (Funai & Pillon, 2011).

No entanto, apesar do crescimento das pesquisas nessa área, observa-se que ainda são escassas as publicações que investigam especificamente as associações entre espiritualidade e sintomatologia depressiva em universitários. Propriamente nessa revisão de literatura constatou-se que apenas os estudos de Gastaud et al. (2006) e Volcan et al. (2003) abordavam essas relações. Nas duas pesquisas pode-se verificar correlações entre bem-estar espiritual e transtornos psiquiátricos menores (ansiedade, depressão). Da mesma forma, em ambas, as crenças e atividades espirituais atuavam como fator de proteção em relação aos sintomas relacionados à depressão.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse da ciência pelos aspectos religiosos e espirituais acompanha a história da humanidade. Nos últimos anos vários autores vêm pesquisando, e encontrando correlações entre comportamentos ditos espirituais ou religiosos e saúde. Embora não seja possível determinar com exatidão os mecanismos dessa interação, vários estudos sugerem que o exercício de atividades espirituais podem influenciar positivamente diversos aspectos da saúde física e mental.

Nesse sentido, o presente trabalho examinou pesquisas nacionais que investigassem as associações entre espiritualidade e saúde. Após a utilização de critérios de inclusão e exclusão específicos, procedeu-se a análise de 10 artigos que abordavam de forma empírica as referidas temáticas. Desses, percebeu-se que apenas dois artigos procuram, especificamente, investigar as relações entre espiritualidade e depressão.

Acredita-se que trabalhos de revisão de literatura sejam importantes para sistematizar as produções sobre determinada área. Este artigo, no entanto, apresenta a limitação de mapear somente publicações nacionais. Mesmo assim, supõe-se que este estudo possa auxiliar pesquisadores interessados em investigar essas questões, uma vez que oferece um razoável panorama sobre essas duas variáveis no contexto brasileiro.

Diante desse contexto, entendendo a espiritualidade como um recurso psicossocial de promoção de saúde, sugere-se o desenvolvimento de pesquisas que busquem investigar as relações entre espiritualidade e sintomatologia depressiva. Estudos que abordem tanto o caráter protetor das atividades espirituais e religiosas, quanto as diferentes repercussões dessas práticas na saúde física e mental podem ser igualmente úteis para embasar novos trabalhos.

 

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Recebido: 10 de junho de 2013.
Aprovado: 12 de novembro de 2013.