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Revista de Psicologia da UNESP

versão On-line ISSN 1984-9044

Rev. Psicol. UNESP vol.16 no.2 Assis jul./dez. 2017

 

ARTIGOS

 

Que voz na voz não ouvida? Uma escuta psicanalítica a catadores de recicláveis

 

What voice in the unheard voice? A psychoanalytic listening to recyclable collectors

 

 

João Elias Cury JúniorI; Silvio José BenelliII

IPsicológo e mestre em Psicologia (FCL/Unesp-Assis). E-mail: joaoeliasjr@gmail.com
IIPsicólogo, doutor em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP, São Paulo. Professor assistente do Depto. de Psicologia Clínica no curso de Graduação em Psicologia e no Programa de e Pós-Graduação em Psicologia e Sociedade da FCL/UNESP-Assis. E-mail: benelli@assis.unesp.br

 

 


RESUMO

Apresentamos o relato de uma experiência na modalidade de grupo psicoterapêutico com catadores de material reciclável, com base nos fundamentos da psicanálise do campo de Freud e Lacan. Por meio de enunciados construídos segundo o princípio da associação livre, foi possível observar, ao longo do processo, mudanças/deslocamentos nos sujeitos, que ressoavam para além do locutor, atingindo partes do coletivo. O objetivo é mostrar que o favorecimento de construções narrativas pode levar o sujeito a reposicionar-se diante do seu sofrimento e o entorno. Aspecto relevante também para pensar os modos de aproximação utilizados pelas equipes de Saúde Mental e da Assistência Social em relação às populações oprimidas.

Palavras-chave: psicanálise; grupo psicoterapêutico; catadores de recicláveis; políticas públicas.


ABSTRACT

We present an account of an experience in psychotherapeutic group with recyclable collectors, based on the foundations of Freud and Lacan's psychoanalysis. By means of enunciations built on the principle of free association it was possible to observe, along the process, changes/displacements in the subjects which resonated beyond the speaker, reaching parts of the collective. The goal is to show that the favoring of narrative constructions can lead the subject to reposition themselves before their suffering and their surroundings. A relevant aspect to also take into consideration concerning the approach modes used by Mental Health and Social Service teams when addressing to oppressed populations.

Keywords: psychoanalysis; psychotherapeutic group; recyclable collectors; public policies.


 

 

As pressões para os avanços sociais experimentados pela sociedade brasileira, intensificados a partir dos anos de mil novecentos e setenta, têm reflexos também na área da Saúde, para o escopo do que pretendemos aqui tratar, especificamente, no que concerne à Atenção Psicossocial e à Assistência Social (AS). Na esteira dos avanços propiciados pela Reforma Psiquiátrica, com base nas considerações de Amarante (2001), os diversos estabelecimentos do setor público - Ambulatórios de Saúde Mental, CAPS, CREAS, dentre outros - têm, como norteadoras de suas ações, diretivas cujo discurso objetiva a promoção de cidadania, que leva em conta aspectos que poderiam ser nomeados como o campo da subjetividade (Brasil, 2005, 2011, 2012; Conselho Federal de Psicologia, 2010). As considerações a serem desenvolvidas tomam como centro do argumento a atuação de psicólogos, mas sua circunscrição à área da psicologia não é um requisito indispensável: poderiam servir de apoio para reflexões de outros atores sociais nas diversas instâncias das Políticas Públicas.

No que concerne aos catadores de recicláveis, sujeitos de nossa pesquisa, dados do IBGE, de 2010, estimam a existência de cerca de 70 mil catadores de recicláveis em áreas urbanas do Brasil. Já o Movimento Nacional dos Catadores afirma ser superior a 800 mil a cifra para todo o território nacional, segundo relatório do IPEA (2011). Os especialistas deste instituto, por sua vez, calculam que algo em torno de 400 e 600 mil pessoas vivam da reciclagem. Número considerável, portanto, para a definição de Políticas Públicas focadas neste ator social.

Apesar de as questões socioambientais terem adquirido crescente espaço na mídia, a discrepância entre os dados oficiais pode ser interpretada como um Analisador Institucional (Lourau, 1970/1996) acerca da atenção estatal (não)dispensada a essa população. Além disso, apenas 10% do total estimado integram cooperativas e associações (IPEA, 2013). Está em foco, portanto, o difícil jogo na conquista de garantias mínimas para que cidadãos das camadas subalternas ampliem sua janela de oportunidades. Sem restringir-se ao universo dos catadores, Benelli (2014a, 2014b), Benelli & Costa-Rosa (2013) e Nascimento (2012) afirmam que, quando chegam as políticas de assistência, tanto aquelas na Saúde Mental (SM) quanto as da AS, elas trazem, muitas vezes, a submissão, a disciplina, a normalização, apoiadas que estão no saber médico-político que permeia a vida social e acrescidas, frequentemente, de uma percepção, em relação aos pobres, com base no senso comum.

Visão a ser desconstruída por profissionais e dirigentes comprometidos, de fato, com a questão social. Caminho árduo, pois induz também a um questionamento e posicionamento do profissional sobre si no entrelaçado de relações sociais sustentadas pela exploração.

É possível constatar, no campo das práticas psi, outras, que não se alinham com modelos de submissão, docilização. Voltadas para uma visão de saúde coletiva e de políticas públicas que contemplam os interesses do polo socioeconômico dominado no MCP, tais práticas procuram atuar de modo a promover a emancipação, situando no campo da SM e da AS, por meio de uma atuação e produção teórica, uma visão de homem mais ampla (Ciampa, 1983; Campos & Guareschi, 2000; Lane, 1991; Lane & Codo, 1993; Lane & Araújo, 2000; Sawaia, 2006). Aliada a uma crítica das condições socioeconômicas, com o intuito de melhor compreender os impasses, sofrimentos e, finalmente, as soluções a que chega um sujeito refém de situações-limite, esta práxis psi, a partir de um compósito de influências - da psicologia social latino-americana, da psiquiatria democrática italiana, da sociologia, da arte, da educação, da AS, das comunidades eclesiais, etc. -, tem obtido resultados animadores.

Nossa contribuição, num movimento de procurar estabelecer pontos de convergência entre o que essas diversas perspectivas críticas têm em comum, com o objetivo de favorecer a potencialização de vida, especialmente daqueles oriundos das camadas mais pobres, visa, portanto, agregar a esse conjunto o legado de Freud, no que se refere a uma abrangente compreensão daquilo que constitui o sujeito. Para a psicanálise, o sujeito jamais deveria ser tomado nem como interioridade absoluta, nem como resultante apenas do campo social e histórico (Benelli, 2014a), por entender que a dimensão desejante, dimensão do sujeito do inconsciente, dividido, participa dos processos por meio do qual o sujeito - qualquer sujeito, de qualquer classe social - se vincula com o Outro social (o conjunto simbólico e de ofertas disponíveis na civilização, por meio dos quais nos expressamos na existência). Concepção sistematicamente ignorada e até mesmo combatida por adeptos de uma psicologia centrada no ego, na qual tudo parece ser redutível ao poder deliberativo da racionalidade.

De fundamental importância para nosso trabalho, citamos as conceituações a respeito de uma clínica da Atenção Psicossocial, desenvolvidas por Costa-Rosa (2000, 2012, 2013), fundadas no Materialismo Dialético e na psicanálise do campo de Freud e Lacan, a fim de refletir sobre os processos primários de constituição subjetiva, seus impasses diversos, bem como sobre as possibilidades de intercessão junto aos sujeitos, cidadãos e sujeitos de desejo, visando o cuidar-se (Benelli, 2014a; Costa-Rosa, 2013; Conselho Federal de Psicologia, 2010). Suas considerações para uma Clínica Crítica fornecem instrumentais teóricos, éticos e técnicos significativos, a fim de romper com formas reducionistas e estáticas na resolução de problemas complexos (Mendes, 1999). Para essa clínica, trata-se de fornecer ferramentas críticas que permitam ao sujeito vivenciar sua existência num continuum dialético em que interioridade e campo social não estão separados, tampouco meramente conectados sob leis de relações causais lineares.

É nesse contexto que desenvolvemos nossa investigação, que articula a psicanálise e a questão social, focalizando o sujeito em questão: catadores de material reciclável, participantes ou não de uma cooperativa popular de geração de trabalho e renda, no contexto de um grupo psicoterapêutico. Relacionar psicanálise e lixo não é um luxo, mas sim uma exigência ética e lógica da Atenção Psicossocial, pois a centralidade do tema da cidadania deve incluir fundamentalmente a dimensão subjetiva e desejante, na acepção que lhe dá a psicanálise do campo de Freud e Lacan (Costa-Rosa, 2013).

Apresentamos o contato com os catadores, com base em uma escuta terapêutica em grupo, inspirada em Lacan, que leva em conta a promoção de laços discursivos que incitem o sujeito a situar-se como protagonista de sua fala, uma vez que o terapeuta se exime de uma posição de mestria, permitindo, assim, abertura para o inconsciente. Ao falar de si, gradativamente, efeitos potencializadores podem ser percebidos no sujeito. A aplicação de dispositivos extremamente sutis, como aqueles contemplados pela psicanálise, em oposição à visão simplista de uma prática circunscrita às elites, pode, sem prejuízo da qualidade, fazer-se vibrante em espaços e condições aparentemente incompatíveis, sobretudo entre os que estão do outro lado da corda, na ponta da miséria, incapazes, segundo alguns, de simbolizar suas vivências.

Ao seguir os breves relatos, o leitor poderá apreender de modo aproximado como o dispositivo opera. Observar seu funcionamento, por meio da narrativa, poderá inspirar questionamentos sobre os modos de aproximação e de escuta existentes nos serviços, para que outros emerjam.

O eixo de sustentação para o trabalho foram as considerações de Lacan sobre os laços discursivos e sua relação com o dispositivo conhecido como cartel (Costa-Rosa, 2013; Lacan, 2014; Vieira; Holck; Machado; Grova, 2008). De modo sucinto, como possíveis efeitos dos diversos laços/posicionamentos do sujeito, há aqueles que contribuem para sua coisificação/dominação (Discursos do Mestre, da Universidade e do Capitalista) e outros que o levam ao questionamento sobre seus impasses e o meio (Discursos da Histeria e do Analista). Mediante as observações sobre a que levam determinados saberes e fazeres, o posicionamento de um psicólogo que visa a práticas com populações exploradas - cujos efeitos subjetivos por ele almejados sejam contrários à sujeição - adquire, por meio desse referencial, elementos iluminadores para uma práxis no campo das Políticas Públicas.

Práxis consoante com a emergência da singularidade do sujeito. Nela são, portanto, indispensáveis o encorajamento ao fluxo da fala livre (livre associação) e um terapeuta - ou qualquer trabalhador da área social orientado por uma ética comprometida com processos de singularização - isento de mestria. Entendemos que a psicanálise possui subsídios para uma prática que transcende a clínica em um setting tradicional, podendo incidir de modo positivo, transformador, na relação do profissional com o sujeito que busca os variados serviços da rede pública, além do que este experimenta diante dos seus impasses, seu sofrimento. Referimonos ao vislumbre de uma relação com o Outro social que pode adquirir outros contornos que não os que o aprisionam ao sofrimento, à menoridade, à tutela (Benelli, 2014a; Vieira, 2008).

Retomemos o grupo psicoterapêutico, no que se refere a aspectos que o fundamentam. O dizer de si, dentro do dispositivo grupal, é entendido como um processo dinâmico, pois considera a intensa carga transferencial produzida pelos membros do grupo, em seus múltiplos vetores: a transferência de cada sujeito em relação ao analista, posicionado apenas como sujeito suposto saber (não detentor do saber), as chamadas transferências cruzadas e as "revoluções do discurso", como salienta Costa-Rosa (2013), que podem levar a um reposicionamento subjetivo, diferenciando-o da tendência a identificações seriadas, como em linha de produção, tão em voga no MCP. Os processos de identificação estão presentes em todo o campo social, cuja tessitura formadora nos constitui. Sendo assim, não se pode tomar todo tipo de identificação como um mal a ser combatido: a questão passa a ser a do bom uso, estratégico, da identificação (Carvalho, 2013).

Essa observação reforça a importância dos vetores transferenciais em benefício da atuação sob o dispositivo grupo psicoterapêutico, pois os fenômenos, comportamentos e enunciados dela decorrentes, no grupo, põem em movimento a criação de sentido para os sujeitos e sua eventual bifurcação. Bifurcação pode ser entendida como a possibilidade de o sujeito advir com novos sentidos para si, seu entorno, seu sofrimento; o que o leva a um reposicionamento diante de seus impasses. Para o sujeito, aqui objetivado (mas não objetificado, passível de ortopedia do ser), seria razoável supor, nesse posicionamento, alguns ganhos. Entretanto, não se deveria apreender tal modo de intercessão como mais uma receita pronta a ser seguida acriticamente.

Cabe indagar como seria, na prática, um terapeuta orientado pelas modalidades do Discurso da Histeria e do Analista - aquelas que não objetificam o outro, favoráveis ao protagonismo do sujeito -, posicionado como o "mais-um" do cartel (Lacan, 2014). Uma vez que os fenômenos clínicos são múltiplos e variados (Costa-Rosa, 2013; Lacan, 2014; Vieira; Holck; Machado; Grova, 2008) e possibilitam a bifurcação de sentido, por uma questão de tato, teoricamente embasado, sua função é, aos poucos, promover que os sujeitos se desprendam da cola imaginária, dos laços identificatórios - do "somos todos iguais" -, em busca de pontos de ruptura, para que a singularidade emerja. Em outras palavras, o "mais-um" promove nos participantes a busca por "falar o mais abertamente possível, consentindo em que, em seus discursos sobre seus sintomas, incluam-se as mais variadas coisas, nem todas diretamente relacionadas a ele" (Vieira, 2008, p. 32).

Nesse dispositivo, tudo, não apenas o significante linguístico, tem valor significante - potencialidade para gerar bifurcação de sentido. Tampouco a interpretação é uma prerrogativa do terapeuta (do "mais-um"); ela também emerge dos demais componentes do grupo e nutre o processo de construção de enunciados, assim como as transformações tanto no campo particular como no coletivo, interativamente. Movimentação de suma importância - a do significante - para o funcionamento grupal, bem como para a produção de efeitos no sujeito; o que torna pertinente a observação de Pratta (2010, p. 91): "Não é uma terapia individual em grupo, mas uma terapia através do grupo", ao referir-se à apropriação que, uma vez tocado pela fala de um outro, um sujeito faz "sobre seus próprios enredos" (Carvalho, 2013).

Pertinentes considerações, uma vez que é preciso levar em conta que "a interpretação não é necessariamente do analista, mas sim do inconsciente" (Carvalho, 2013), embora seja aquele também um insuflador do processo, devido à função que encarna. Essa intensa movimentação do significante na busca por apropriação da palavra - e bem atestamos sua intensidade, uma vez estabelecido o vínculo transferencial - promove oscilações de agenciamentos no discurso que deslocam o posicionamento do sujeito: de um queixar-se para um questionar-se, por exemplo. Difícil não reconhecer nesse modo de trabalho a posição ativa do sujeito perante seu sofrimento, o potencial gerador de conhecimento acerca de si. Técnica e ética que se diferenciam radicalmente das formas prescritivas de diversas terapêuticas que trazem, hierarquicamente, o discurso pronto da ciência para nivelamento do sujeito a um modo de ser padronizado, por operar "sem que haja uma resposta prévia â demanda de cada um" (Cecchetti & Grova, 2008, p. 90). Na contramão, portanto, do típico "eu sei o que você tem", eu sei por você.

O protagonismo desse dispositivo mostra-se de suma importância para os trabalhadores que atuam com a população subalterna, sob o enfoque da potencialização do sujeito. Nossa posição é a de que, longe de ser um "artigo de luxo", os sujeitos dos polos explorados podem, sim, se servir da psicanálise, uma vez que as incidências do social interagem nos processos de subjetivação, inclusive na composição do seu modo de sofrimento, e levar o sujeito à "[obtenção de] uma nova margem de manobra em relação ao Outro social" (Holck & Vieira, 2008, p. 12-13).

É o caso de constatar, portanto, que a psicanálise contém em si um posicionamento político ao "ousar alcançar a produção de efeitos de sujeito que se multipliquem na comunidade, a fim de que novos espaços sejam criados fora das estratificações e de aprisionamentos preestabelecidos.", como nos lembram Machado e Grova (2008, p. 16).

 

Uma escuta psicanalítica a catadores de recicláveis: a produção e movimentação do significante

Em Psicologia das massas e análise do Eu, texto de 1921, Freud (1921/1994) já afirmava que a psicologia individual é também coletiva. Lacan recupera e insiste nessa ideia. Volta às raízes da investigação acerca do inconsciente e recupera da obra freudiana a concepção segundo a qual o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Sendo a linguagem o que de mais social existe, o sujeito fatalmente é coletivo (Lacan, 2012a, 2012b). Portanto, reside aí a noção de um continuum dentro-fora.

Em sua práxis, a oferta de uma escuta psicanalítica aos catadores de recicláveis, membros ou não de uma cooperativa de geração de renda, está inserida em uma reflexão sobre a contemporaneidade e os impasses gerados no sujeito. Uma observação: essa escolha não implica a criação de mais guetos, pois a moenda do Modo Capitalista de Produção (MCP) gira de maneira a atingir a todos. Aqueles menos expostos ao que de mais pernicioso esse Modo de Produção tem consigo não estão imunes aos seus efeitos, uma vez que o processo de coisificação submete a todos e pauta amplamente as relações.

Desse modo, esse continuum de enunciados produzidos a partir das diversas interações - eu-outro, particular e coletivo, produção social e modos de constituição subjetiva, que toca diferentemente a cada um e gera outros e outros enunciados/sentidos -, atualizado no grupo psicoterapêutico, representa uma singular oferta de escuta também para os catadores de material reciclável. A adesão a esse trabalho subjetivo é absolutamente voluntária. O sujeito é convidado a falar livremente, inclusive sobre seus impasses. Conteúdos imbuídos de variada carga afetiva emergem, ainda que sob as roupagens protetoras dos chistes, lapsos, "esquecimentos", até mesmo sob a aparente indiferença ante o dito - o seu próprio ou o do outro. A inserção do sujeito em um espaço de fala acerca de si - "limpeza de chaminé" e "cura por meio da fala" (Freud, 1893/1994, p. 55) -, por outro lado, tende a mitigar aquilo de que o sujeito se encontra refém, com a possibilidade de levá-lo a um reposicionamento perante os seus sintomas. Grande achado o de Freud: a maneira como falamos do que sofremos modifica aquilo de que sofremos. Em outras palavras, o sofrimento se transforma à medida que dele falamos.

Munido da ética e da técnica pertinentes, que advêm da apropriação dos conceitos basais do campo psicanalítico, tais como: inconsciente, pulsão, desejo, castração, transferência, deslocamento, condensação, livre associação, repetição, modos de constituição subjetiva, dentre outros, o terapeuta trabalha no manejo de eventuais problemas ao longo do processo, por saber tratar-se, sobretudo, da construção de um vínculo transferencial que se dá de modo não uniforme nem apaziguante. Nessa (difícil) busca por uma fala "livre", o sujeito pode, inclusive, interromper o trabalho em qualquer momento. O uso das aspas é justificado, pois, a partir da psicanálise, o eu deliberativo não reina soberanamente em sua moradia, como bem o dizia Freud. Com Lacan, sabemos que de onde um eu aparentemente fala, de fato, ele é falado pelo sujeito da enunciação: estratagema por meio do qual as pulsações do inconsciente se disfarçam e fazem seu caminho, chegando ao sujeito do enunciado. Portanto, o inconsciente chega à consciência sempre de modo velado. Isso esclarece, pelo menos em parte, por que se diz muito mais do que se supõe ter dito. Neste trabalho, a regra fundamental - a livre associação - e a do compromisso de sigilo são esclarecidas no início e lembradas, caso venha a ser percebida sua necessidade; o ingresso de novos membros seria um desses casos.

O estudo das bases teóricas permitiu uma escuta mais sensível, além de um posicionamento fundamentado na condição de terapeuta (mais um) e pesquisador, a fim de transitar em um campo social rico em possibilidades, uma vez ultrapassadas as barreiras impostas pelas chagas do fenômeno, ante o que aparentemente de nós difere (e incomoda), cegando-nos para tanta vida. A nosso ver, refletindo melhor, não se trata de uma opção meramente pessoal o amplo corpus teórico: a própria psicanálise parece exigi-lo, uma vez atenta, desde seus primórdios, aos mais diversos campos da vida/produção social e sua relação com o psiquismo. Fundamentos que contribuem para que o profissional saiba e consiga apagar-se o suficiente, para que o outro/Outro emerjam, a fim de que o sujeito que sofre possa colocar-se - não como objeto passível de intervenção (lugar a ele reservado nas práticas do cuidar de), mas como produtor de saber de si mediado pelo estar junto, um cuidar-se, na dinâmica, portanto, de um outro modo de formação de laço: Discursos da Histeria e do Analista.

Os atendimentos realizados ao longo de dezenove meses, ao todo, na modalidade de dispositivo grupal, em grupos distintos, junto a catadores de uma associação (por 7 meses) e catadores de um depósito de reciclagem (por 12 meses), aliados ao estudo teórico e à supervisão, permitiram ensaiar um elo entre teoria e prática, entre uma técnica e efeitos éticos decorrentes. Relatos extraídos do Caderno de Campo ilustram o trabalho subjetivo empreendido pelos catadores. A movimentação do significante nele relatada apresenta algo sobre o modo como tecem e lidam com as representações de si, evidentemente, perpassadas pela função social por meio da qual o sujeito se insere na existência: a de lidar com dejetos, sem a ela restringir-se. Foi possível constatar que muitas das questões abordadas em nada diferem das de qualquer cidadão, de outros recortes socioeconômicos, que frequenta modalidades mais tradicionais de atendimento clínico; aspecto igualmente constatado por Vieira (2008) e outros participantes do Projeto Digaí, ações junto a moradores do complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro.

Não seria demasiado salientar que, nesse dispositivo, o dizer de si deve ser entendido como dinâmico, pois leva em conta a intensa carga transferencial produzida pelos membros do grupo, em seus múltiplos vetores: a transferência de cada sujeito em relação ao que é encarnado no psicólogo/terapeuta, as chamadas transferências cruzadas e as "revoluções do discurso" (Costa-Rosa, 2013; Lacan, 1995, 2014; Pratta, 2010). As modificações nas posições do sujeito são, por exemplo, apreendidas por meio de sua produção discursiva. Alguém que, inicialmente, busca no outro, às vezes no terapeuta, respostas para uma inquietação pessoal, pode deslocar-se para a de um sujeito que eventualmente se lança a uma experiência que, embora não saiba ao certo por quê, ao falar de si, percebe-se diferente diante de seus impasses. Também de relevante menção: a abertura à possibilidade de uma escuta fora do setting convencional expõe sobremaneira o profissional/pesquisador às intensidades de um campo desconhecido e sem filtros, Mas, pelo que temos constatado, de modo algum inviabilizam o trabalho nem a possibilidade de extração de ganho pelo sujeito. Reiteramos: diferimos da visão segundo a qual é precária a capacidade de simbolização da população das camadas oprimidas, como se esse fosse terreno estéril para a psicanálise, viável apenas para uma parcela específica da sociedade e no isolamento de um consultório.

Abordemos o caso de um catador pertencente ao grupo atendido por um período de doze meses. Em sua composição, "funcionários" de um depósito de reciclagem, como se autodenominam. Todos, ex-catadores. Alguns, nas horas vagas, ainda "fazem catação", nas ruas. Curiosamente, os donos do depósito também participam dos atendimentos. Ex-catadores, eles também. Ao todo, cerca de dez membros fixos compõem o grupo. Ainda assim, frequentadores ocasionais, em número expressivo, "dão o ar da graça", como dizem alguns dos frequentadores; a graça de inclusive contribuir com o funcionamento do grupo. Juntamente â expressão de "gostar" de ali estar, há outros sinalizadores de que algo daquilo neles ressoa, o que faz com que, já no início do processo, seja depreendido algum elemento sobre a percepção dos catadores em relação ao trabalho.

Evidentemente, o improviso é uma constante, a fim de possibilitar uma oferta de escuta em meio à execução de diversos processos de trabalho. Escuta entre idas e vindas com enormes bags (frequentemente ruidosos), durante a seleção de material, concomitante à operação de máquinas, no momento de pesagem e limpeza do local... Geralmente não é possível, nesse espaço aberto, literal e metaforicamente, um momento específico para uma sessão, mais aproximada, portanto, do setting convencional. Mas não vemos impedimento algum para uma atuação clínica, desde que observados os princípios norteadores da prática, simultaneamente à lida com a constante quebra dos acordos estabelecidos.

Do lado de fora do prédio, próximos à calçada, com alguns em pé, outros sentados no chão, em meio ao barulho do intenso tráfego, acontecem os atendimentos. Estendemo-nos noite adentro. Quando é chegado o momento para a sessão, alguns, cansados, outros, com mais trabalho em vista, já terão partido. E a promessa - geralmente cumprida - de participar na semana seguinte. Interrupções durante o atendimento ocorrem por motivos os mais variados. Alguns catadores, de passagem, permanecem e até retornam. Em outros, a visível surpresa pelo que escutam de outras bocas (escutam em si) e o decorrente afastamento. Essa escuta, realizada em trânsito pelo local, ocorre individualmente ou com agrupamentos em constante variação quanto aos membros. Ao término do expediente, catorze ou mais catadores chegam a reunir-se.

Intensa é a movimentação do significante. Alguém, de passagem, capta um fragmento de fala e se engaja no trabalho, ainda que por alguns momentos. Outro, ao se afastar do grupo temporariamente formado, leva um enunciado a um terceiro, mais adiante. Este, ao se aproximar, traz seus fragmentos: aquilo que nele reverbera, e disso se utiliza ao compor uma narrativa de si. Subgrupos formam-se, nutridos por fragmentos que viajam de um a outro. A fim de viabilizar ainda mais a fala, potencializar a oferta de transferência, às vezes participamos das atividades que realizam. Nesse estratégico envolvimento, enquanto um catador, por exemplo, esvazia seu carrinho de mão, sua carroça, perua Kombi semiapodrecida ou caminhão, e distribui o material em enormes recipientes (bags) para pesagem, discretamente seguramos uma de suas bordas, o que possibilita a continuidade de produção de enunciados. É nesse contexto, sob essas condições, que a psicanálise é posta em movimento, a favor da "emergência do sujeito no catador" (acepção na psicanálise: ser desejante, inserido na linguagem, cindido, dotado de um inconsciente), produção de sentido individual ou transindividual.

Em meio a essa ambiência, sob intensidades impulsionadas por significantes que brotam de todos os lados, por diferentes sujeitos, tomemos o caso de Rafael - nome fictício - trabalhador do depósito, extremamente calado. Apesar de mudo, ainda assim, Rafael fala: pela boca dos colegas que, ao falarem dele, Rafael segue falando de si. Apesar de sua imensa dificuldade em construir, por meio do discurso oral, uma narrativa de si, Rafael utiliza-se de meios que, ao longo do trabalho, aludem à configuração de significativos processos de mudança. Os efeitos, é sabido, se estendem para além do tempo de uma psicanálise - termo aqui utilizado em sentido amplo, que se refere à exposição do sujeito a um outro discurso e apercebimento de algo que nele opera e que, embora não consiga bem definir, produz efeitos de deslocamento nas suas angústias.

Primeira visita ao depósito. Dia em que é feita a apresentação da oferta de atendimento. Nem 45 minutos decorridos, sob sol de meio-dia, quando um dos donos do depósito enuncia algo a respeito de Rafael: "Ele é um dos que precisa fazer essa terapia, mas acho que não vai conseguir falar". Introduzo, a partir de outro enunciado seu: "Você comentou sobre as pessoas terem medo que os calados falem...". Imprimo um tom de voz que permite abertura. Silêncio. Mudança imediata de assunto. Haveria ressonância de algo sobre a noção de opressão que exerce em relação a seus subordinados? Digno de nota: mesmo em situação aparentemente banal, uma vez percebidos indicadores de uma transferência sendo estabelecida, uma intercessão torna-se possível. A fala sobre o silenciamento reverbera para além de Rafael, da suposta menoridade dos seus pares, incidindo em questões pessoais do próprio dono do depósito, produz bifurcação de sentidos. A busca pela sutileza ao tocar em espinhos... Uma suspensão na fala, um deslocamento do olhar podem bem servir a esse propósito. Ocorrência que nos leva a ponderar sobre o não isolamento entre o interno e o externo, entre o sujeito, seus impasses e o contexto social.

Os significantes "bebê abandonado na caixa de sapato" e "o incapaz de construir narrativas de si" marcarão todo o período do seu atendimento; traços com os quais Rafael parece inserir-se no Outro. Porém, serão constatadas mudanças sutis, mas significativas, de como algo de Rafael tenta um dizer-se.

Na semana seguinte, oficialmente dia do "primeiro atendimento", tudo se dá de modo intenso e rápido; fluidez impressionante. Encontro-me sentado, sozinho. Menos de 1 minuto e Rafael se aproxima. Um saco de estopa em uma das mãos. Coloca-o no chão, deita-se ao meu lado, apoiando no saco sua cabeça. Diante de gesto tão contundente, de alto valor significante, entrega, abertura, pergunto: "O que tem nele?". "Uns fios que vou levar pra casa." Prossigo: "E em você?". Os olhos se fecham; semblante que agora miro em seu perfil. Nítida a percepção de que algo do enunciado ressoa em Rafael. Por sua vez, o patrão reitera com frequência que os catadores "não conseguem pensar direito, nem se expressar", calando a emergência do Outro do sujeito. Coloca-se como tradutor. Tento deslocá-lo da pretensa função, sutilmente, enquanto um pensamento sobre esta estratégia - do "eu sei por você" - muito utilizada na SM e na AS, passa por mim. O terreno é difícil: criar condições para a emergência do sujeito - no patrão e no empregado -, apesar das posições sociais antagônicas, reconhecendo que seu elemento em comum é fazerem parte de uma engrenagem maior, a da exploração generalizada do MCP.

Rafael, ao longo de todo o trabalho subjetivo, posicionou-se predominantemente calado, mas constantemente em busca de proximidade. Muito poderia ser dito a respeito do barulho através do qual o sujeito silenciado-silencioso, nele, falava - linguagem que seu silenciamento produzia: a música, em altíssimo volume, no ambiente ou em seu celular, quando sentado ao lado do terapeuta, os sons guturais produzidos, o cuspir constante em vez de falar, dentre outras linguagens. Segue um resumo de seu último atendimento, após 12 meses.

Rafael está dentro da cabine do caminhão. Apesar da forte chuva, o som alto, a porta aberta. Alternadamente, olha para mim e para um livro que tem no colo. Escuto aquilo. Vou até ele. Aguardo para que fale. Lança um olhar que parece querer dirigir o meu em direção ao que está lendo: um curso preparatório para motorista de veículos de grande porte. Faço-lhe uma ou duas perguntas sobre o material, encontrado no descarte, sem competir com o volume do rádio. Ele o diminui sensivelmente e explica que pretende estudá-lo em casa antes de procurar uma escola. Com menos de cinco palavras revela o sonho de trabalhar com caminhão e o ato que ali se insinua. Por fim, algo acontece e ele precisa mover o caminhão. Cerca de uma hora mais tarde, diante dos comentários sobre sua ex-esposa, não lhe faltam receitas sobre como conduzir uma relação com uma mulher. Segue calado, olhar entristecido. Noto o livro que vai levar para casa, envolto em um plástico, colado ao corpo por um dos braços.

Um caso extremo como o de Rafael pode ser útil para considerar uma mudança significativa no sujeito mais calado do grupo, que, gradativamente, apresenta articulações para vias de saída perante alguns de seus impasses. Vítima há anos de violência física, exercida pela esposa e enteados, preso ao significante de ser uma excrecência, seu viver é pautado por relações que o desvalorizam ao extremo. Nos últimos meses de frequência ao grupo, muda-se de casa e, aos poucos, ensaia reorganizar sua vida, apesar das dores da alma, que persistem. A contundência de gestos, olhares, dentre outros fiapos de linguagem, no caso, considerados com alto valor significante, permitiu certo tipo de aproximação que, no tênue campo repleto de mal-entendidos, pôs, de alguma forma, o sujeito para funcionar no sentido de alternativas ao sofrimento. Porém, mais relevante do que se tornar de fato um motorista de caminhão, é, sobretudo, viabilizar emergências indicativas de um sujeito desejante - constatar que algo nele volta a pulsar.

 

Conclusão

Neste trabalho de escuta dos catadores, foi possível constatar que as tentativas de promover bifurcação de sentido, visando à quebra de significantes e de posições cristalizadas, por meio de uma prática de escuta que almeja os Discursos da Histeria e do Analista, ocorriam o tempo todo. A fim de servir a tal propósito, escansões, a utilização da linguagem fática, a suspensão da continuidade de um enunciado, o corte lacaniano, foram alguns dos recursos técnicos. Elementos que, apesar de mínimos, demandam tato para sua aplicação. Escuta sutil, porém necessária, se almejada a abertura para ações emancipadoras do sujeito que sofre.

Não é tomado o grupo no sentido de uniformidade, de algo monolítico, absoluto, generalizador, o que o aproximaria da noção de massa: noção criticada por Freud em Psicologia das massas e análise do eu (Freud, 1921/1994). Entretanto, nesse tipo de trabalho, mudanças/deslocamentos no sujeito podem atingir partes do coletivo. Certos enunciados, ao ressoar para além do locutor, podem, no plano coletivo, resultar em uma mudança de posicionamento em relação ao dispositivo. No caso apresentado, foi notada a substituição gradativa dos gemidos, uivos, algazarra ou volume da música ambiente, em favor do engajamento em construções de narrativas. Indicação do comprometimento maior do sujeito com uma reflexão sobre sua história pessoal, uma proximidade via discurso. É sabido o poder que o tecer discursivo tem sobre o sujeito, como promotor de mudança.

Trabalho não isento de recuos e avanços, pois lida com processos que não condizem com o imediatismo e o espetáculo, em voga na sociedade de consumo. Trata-se de um empoderamento de ordem mais sutil que abre espaço também para efeitos coletivos, caso uma série de incidências outras mobilizem os sujeitos enquanto tal, para a transformação do seu entorno.

Optamos por nos restringir a comentar o caso de Rafael - transformações lentas, mas gradativas - que apontam para um sujeito que ensaia novo percurso pela seara de outros modos de ser. Apesar da brevidade na exposição, esperamos que contribua para uma reflexão acerca dos trabalhos com grupos e sobre formas outras de olhar para e de se aproximar dos cidadãos das classes oprimidas. Nada mais oportuno, se levarmos em conta as tantas novas formas de aprisionamento e exploração do sujeito, dissimuladas ou não, geradas pelo MCP, dentre as quais citaríamos o abuso medicamentoso e a serialização diagnóstica. Um convite a se repensar as estratégias de trabalho originadas nas várias frentes das Políticas Públicas.

Freud parecia saber muito bem o caráter subversivo da psicanálise: os efeitos de uma inserção na fala livre que emancipa o sujeito. Luxo? A nosso ver, nada mais consoante com o princípio de cidadania plena - para aqueles que desejem realizar esse percurso. Plena, mas não totalizante, por levar em conta um sujeito sempre cindido, que tece a si ao transitar pelo mundo.

 

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