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Revista de Psicología Universidad de Antioquia

versão On-line ISSN 2145-4892

rev. psicol. univ. antioquia vol.5 no.1 Medelin jun. 2013

 

ARTÍCULOS DE INVESTIGACIÓN

 

Pares sócio-normativos, orientação cultural, hábitos de lazer e condutas desviantes: verificação de um modelo teórico em jovens

 

Social-Normative Pairs, Cultural Orientation, Leisure Habits and Deviant Behaviour: Verifying a Theoretical Model in Youth

 

 

Nilton Soares Formiga1; Gislane Melo 2 e Jamila Leme3

 

1. Doutor em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba. Professor do curso de Psicologia na Faculdade Mauricio de Nassau -FMN - JP. Endereço para correspondência: Avenida Guarabira, 133. Bairro de Manaíra. CEP: 58038-140. João Pessoa - PB. Brasil. E-mail: nsformiga@yahoo.com.

2. Doutora em Educação Física. Professora do Mestrado e Doutorado em Educação Física e do Mestrado em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília (UCB). E-mail: gmelo@ucb.br

3. Aluna do curso de Psicologia na Universidade Federal da Paraiba.

 

Recibido: 04-Marzo-2013 Revisado: 07-Mayo-2013 Aprobado: 18-Mayo-2013

 

Para citar este artículo:

Formiga, N; Melo, G. y Leme, J. (2013). Pares sócio-normativos, orientação cultural, hábitos de lazer e condutas desviantes: verificação de um modelo teórico em jovens. Revista de Psicología Universidad de Antioquia, 5 (1), 7-26.

 


Resumo

Neste estudo pretende-se verificar um modelo teórico, no qual, os pares sócio-normativos, orientação cultural e hábitos de lazer explicam a conduta desviante. 710 homens e mulheres, de 15 a 20 anos, da rede particular e pública de educação da cidade de João Pessoa-PB, responderam as escalas de afiliação com pares sócio-normativos, atributos da orientação cultural, atividades de hábitos de lazer, condutas desviantes e dado sócio-demográfico. Considerando um modelo recursivo de equações estruturais observou-se que os pares sócio-normativos associaram-se, positivamente, aos atributos culturais do coletivismo e aos hábitos de lazer instrutivos, tendo estes, associados, negativamente, as condutas desviantes. Por outro lado, os pares sócio-normativos, relacionaram, negativamente, com os atributos culturais do individualismo e ao lazer hedonista, estes últimos, relacionaram, positivamente, a conduta desviante.

Palavras chave autores: Pares sócio-normativos; Orientação cultural; Lazer; Conduta desviante.

Palavras chave descritores: Modelos Teóricos, Comportamento Perigoso, Pesquisa Empírica.


Abstract

This study intends to verify a theoretical model, in which social-normative pairs, cultural orientation and leisure habits explain deviant behavior. 710 men and women, 15 to 20 years, from the private and public education in the city of João Pessoa, responded scales about affiliation with socio-normative peers attributes of cultural orientation, activities, leisure habits, deviant behavior and socio-demographic data. Considering a recursive structural equation model, it showed that the socio-normative peers were associated positively to the cultural attributes of collectivism and instructive leisure habits, and these were negatively associated with deviant behaviors. Moreover, the socio-normative pairs were negatively related with the cultural attributes of individualism and hedonistic pleasure, the latter related positively to deviant behavior.

Key Words Authors:Socio-normative Pairs, Cultural Orientation; Leisure; Deviant Conduct.

Key Words Plus: Models, Theoretical, Dangerous Behavior, Empirical Research.


 

 

Introdução

A compreensão sobre os motivos que levam os jovens a manifestarem uma conduta desviante sugere explicações que contemplam variáveis biológicas, sociais, e psicológicas, bem como, à volta de um insistente debate epistemológico quanto a ser este um problema inato ou adquirido (Muñoz-Rivas & Graña, 2009; Stoff, Breiling & Maser, 1997).

O fenômeno das condutas desviantes entre os jovens, ao percorrer a mídia em geral, revelase uma variação dinâmica na sua representação comportamental; o fato é que tais condutas estiveram associadas às inúmeras elaborações conceituais e às controvérsias na análise do problema e administração em como as pessoas manifestam social e politica esse ato (Neto, 2004). Elas referem-se a um conjunto de transgressões, somente aceitas como tal, ao se considerar um determinado contexto sócio-cultural (Carvalho, 2010; Formiga & Souza, 2011).

Atualmente, essas condutas não têm identificado autor e rótulo específico, são condutas bastante variadas; elas dizem respeito aos comportamentos que não estão de acordo com os códigos estabelecidos pelas autoridades de determinado espaço geográfico e com os preceitos morais socialmente aceitos, infringindo simultaneamente regras e normas de conduta moral, ética e social (Formiga, 2003; Formiga & Gouveia, 2003).

Assim, as condutas desviantes, de acordo com Formiga (2003), Formiga e Gouveia (2003) e Formiga e Sintra (2011), mesmo com esse caleidoscópio conceitual, poderão ser concebidas como conduta antissocial (isto é, a não conscientização das normas que devem ser respeitadas - desde a norma de limpeza das ruas ao respeito com os colegas no que se refere a certas brincadeiras - e não praticadas por alguns jovens) e delitiva (relacionam-se às condutas como merecedoras de punição jurídica, capazes de causar danos graves, morais e/ou físicos).

 

''A compreensão sobre os motivos que levam os jovens a manifestarem uma conduta desviante sugere explicações que contemplam variáveis biológicas, sociais, e psicológicas, bem como, à volta de um insistente debate epistemológico quanto a ser este um problema inato ou adquirido''

 

Considerado a direção teórica-conceitual sobre a conduta desviante (antissocial e delitiva), destaca-se neste estudo, que não é possível tratar essas condutas apenas, como um distúrbio de personalidade, desorganização sócio-familiar e econômica; acompanha-se a inclusão de variáveis que não deflagram suspeitas no desvio social, por exemplo: a orientação cultural assumida pelas pessoas, os tipos e formas de diversão, a dinâmica afiliativa na internalidade da família, etc. (Formiga, 2011; Stoff, Breiling & Maser, 1997). Salienta-se aqui a não abordagem linear entre essas variveis, e sim, delinear um caminho teórico e metodológico sistêmico das variáveis preditoras das condutas desviantes.

A explicação dessas condutas, ao considerar uma lineariedade preditiva, limita a compreensão teórica, metodológica e estatística; considerando as perspectivas contemporâneas nas ciências humanas e sociais, não é possível apontar em direção de que as condutas humanas ocorrem em um vazio relacional, especificamente, aquelas condutas que tangenciam as normas socialmente desejáveis - por exemplo, as condutas antissociais e delitivas - acredita-se que elas ocorrem sob uma dinâmica situacional cotidiana vivida pelas pessoas e a influência dessa situação sobre a pessoa socializada, seja jovem ou adulta, se dê a partir de um evento psicossocial (Formiga, 2011). Tal evento, não afeta apenas as relações humanas, mas também, um produto social, educacional, econômico, etc. de um determinado ambiente sócio-cultural e histórico.

Esse questionamento procura contribuir para a reflexão sobre a existência de uma simultaneidade entre os aspectos psicológicos e sociológicos dos fenômenos sociais (nesse caso, o fenômeno da conduta desviante), necessitando incluí-lo ''na natureza dialética dos processos de influência social'' (Camino, 1996). Segundo Formiga (2011), essa condição se deve ao interesse de se compreender os construtos psicossociais nas relações entre as pessoas e os fenômenos sociais existentes, de forma que a ocorrência destes construtos sejam observados de forma interdependentes e auto-geradores dessas variáveis.

Mesmo que existam inúmeras variáveis que expliquem o desvio social entre os jovens, alguns deles podem ser destacados, os quais, por motivo de parcimônia, serão foco do presente estudo: os pares sócio-normativos, o tipo de orientação cultural e os hábitos de lazer.

Especificamente, os pares sócio-normativos (por exemplo, família, familiares e escola) referem-se às pessoas (pais e professores) que são base para formação e socialização da conduta socialmente desejável, na organização e estrutura social, dos jovens com o objetivo de promover a manutenção dos fatores de proteção. Enfatiza-se para isso, que o laço afetivo e a relação comunicativa entre pai e filho, jovem e professor seria capaz de manter uma relação familiar e escolar satisfatória às necessidades das pessoas que compõem esses grupos em diferentes fases de seu desenvolvimento, condição que contribuiria para a prevenção de futuros comportamentos permeadores da delinqüência (Formiga, 2005; Formiga, 2010).

 

''O fato é que a família tem grande contribuição na proteção dos seus jovens, primeiro porque ela é significativa na transmissão e difusão de padrões culturais em relação à geração posterior, contribuindo para exposição de protótipos sociais influenciadores do comportamento...''

 

Ainda, de acordo com os autores supracitados, uma maior adesão afiliativa dos jovens a familia (pais) e a escola (professores), não somente obteve uma relação negativa com a coduta antissocial e delitiva, mas também, uma pontuação média baixa nestas condutas quando suas médias eram maiores na intensidade afiliativa com os pares.

O fato é que a família tem grande contribuição na proteção dos seus jovens, primeiro porque ela é significativa na transmissão e difusão de padrões culturais em relação à geração posterior, contribuindo para exposição de protótipos sociais influenciadores do comportamento e das conversações casuais orientadas pelos pais, apoiado pela escola, os quais, inibidores da conduta desviante, bem como, fomentadores de orientações da conduta juvenil socialmente aceita, isto é, condutas que se embasam no tipo de orientação, apreendida na dinâmica cultural em que estão envolvidos, de forma a agirem de maneira individualista ou coletivista (Avellar, 2007; Bates, Bader & Menchken, 2003; Formiga, 2005).

Ao se enfatizar uma dinâmica explicativa sobre as condutas desviantes entre os jovens, a partir dos padrões convencionais do comportamento estabelecidos socialmente e baseados na orientação cultural adotada por cada pessoa, destaca-se o papel dos atributos dos valores culturais proposto por Triandis (1995; 1996), concebidos como individualismo (o qual expressa uma tendência ao sucesso, a valorização da própria intimidade e necessidade de adequabilidade ao contexto social apenas para obter recompensas) e o coletivismo (diz respeito a uma tendência à cooperação e ao cumprimento com relação aos outros) (Gouveia, Clemente & Vidal, 1998).

Definidos como síndromes culturais, consistem emcompartilhar atitudes, crenças, normas, papeis sociais e definições do eu, sendo os valores dos membros de cada cultura organizada de forma coerente sob um fenômeno (Triandis, 1995; Triandis, 1996). Ao se orientar por um ou outro tipo de orientação cultural, a pessoa se comporta na forma de se autoperceber ou nos seus relacionamentos interpessoais.

De acordo com Sinha e Tripathi (1994), as pessoas são um pouco de cada um, sendo o contexto ou a situação imediata, que vai definir o estilo mais apropriado de comportamento, isto é, o tipo de orientação. Assim, Triandis (1995) identifica dois atributos para diferenciar os principais tipos de individualismo e coletivismo: horizontal, sugere que as pessoas são similares na maioria dos aspectos, especialmente no status; e o conceito vertical, enfatiza a aceitação da desigualdade e privilegiar a hierarquia.

Estes atributos se combinam com o individualismo e coletivismo formando quatro tipos de orientação, cada um com uma característica principal que melhor descreve a pessoa que adota cada um destes tipos, a saber: individualismo horizontal (ser único), individualismo vertical (orientado ao êxito), coletivismo horizontal (ser cooperativo) e coletivismo vertical (ser servidor) (Triandis, 1995).

Recentes estudos no Brasil tem revelado a existência de uma relação positiva entre o tipo de orientação individualista (por exemplo, Um ser único, Diferente dos demais; Orientado ao êxito, ao triunfo) e a conduta antissocial e delitiva; por outro lado, uma associação negativa tem sido encontrada para os tipos de orientação coletivista (por exemplo, Cooperador, que colabora; Cumpridor dos deveres com os demais, servidor) com as condutas antissocial e delitiva (Formiga, 2011; Formiga & Diniz, 2011; Formiga & Mota, 2009). Frente a essas questões, qual seria então, a influência dos hábitos de lazer sobre a conduta desviante?

Um fenômeno que tem chamado à atenção em relação às condutas desviantes refere-se ao construto dos hábitos de lazer; pois, tais hábitos têm permitido questionamentos em variados setores da sociedade contemporânea - por exemplo, escola, família, clubes de recreação, etc. - quanto à função do lazer na vida dos jovens.

De acordo com Formiga (2010), este construto tem interessado a estudiosos e leigos em geral, pois contribuirá para a compreensão não somente porque existe uma variação a-social na forma e tipo de lazer juvenil, mas também, porque tais hábitos, que, supostamente, deveria atuar na dinâmica da harmonia entre o espaço social e psicológico entre os jovens, tem sido causação dos componentes da violência (por exemplo, conduta desviante, comportamento agressivo, uso potencial de drogas, etc.).

Estas atividades, funcionalmente, seriam capazes de produzir mais do que uma simples ação adaptativa ao sucesso e êxito, elas influenciariam as mudanças de crenças, atitudes e valores (Munné & Codina,1992) fomentando um efeito benéfico aos fatores psicológicos e sociais (Codina, 1989) juvenis e nas pessoas do entorno socializador dos jovens. O fato é que os tipos e tempo destinado aos momentos de diversão, os quais têm se mostrado como uma forma de ocupação por parte dos jovens, ao invés de fomentar apoio social e psíquico, vem caracterizando-se um problema.

Na maioria das vezes as atividades de lazer têm causado insatisfação à família (na figura dos pais) e à escola (na figura dos professores), contrariando a institucionalização do limite, formação de normas sociais e respeito humano; em relação aos jovens, esses não se sentem suficientemente satisfeitos com a diversão estabelecida por essas instituições e/ou pares que procuram institucionalizar a melhor forma de se divertir, isto é, os jovens não se sentem livres o bastante para buscar o prazer e sensação real do divertimento, tangenciando o que cultural é exigido para que eles experiência, tornando-se assim, a condição do desvio como algo divertido (Formiga, 2010).

 

''Na maioria das vezes as atividades de lazer têm causado insatisfação à família (na figura dos pais) e à escola (na figura dos professores), contrariando a institucionalização do limite, formação de normas sociais e respeito humano...''

 

As atividades de diversão ocupam o espaço social de todo jovem. Independente do tipo e tempo dedicado a essas atividades, todas elas, parecem assumir uma característica funcional comum: a de sociabilidade e bem-estar psicossocial. Nessa perspectiva interdependente, inclusa na dinâmica do lazer entre os jovens, pode-se reconhecer uma multidimensionalidade de hábitos de lazer que vai do esporte, jogos eletrônicos a participação em festas, relação interfamiliar, etc., os quais, por sua vez, concentram- se em um conglomerado de hábitos que visam desde a um individualismo e busca de prazer, unicamente, para o próprio sujeito no momento da diversão a um lazer que incentive a formação cultural, intelectual e de informação, bem como, lazer que venha desenvolver a criatividade, os conhecimentos e interação com os demais de forma que a diversão assuma uma característica de brincar.

Considera-se que uma atividade de lazer referese à ocupação que o jovem tem com algo ou alguma coisa, visando uma satisfação no fazer da diversão e que, hipoteticamente, não tangencie as normas socialmente aceitas destinadas a prática de lazer e a dinâmica social. Ademais, cada pessoa poderá apresentar uma forma de passar o seu tempo livre quando cumpriu seus afazeres e compromissos cotidianos, tornandose um hábito, o qual poderá ser não apenas uma meta a seguir, mas também, esse lazer deverá atender as necessidades básicas: repouso, diversão e enriquecimento sóciointelectual (Formiga, Ayroza & Dias, 2005; Werneck, 2000).

Segundo Formiga, Ayroza e Dias (2005), Formiga, Santos, Viana, Andrade e Neta (2009), Formiga, Bonato e Sarriera (2011), as atividades dos hábitos de lazer podem ser organizada em três fatores: Hábito de Lazer Hedonista (por exemplo, Ir a shows, teatro, etc; Ir ao cinema; Navegar na internet, etc.), Hábito Lúdico (por exemplo, Praticar esportes; Assistir programas de televisão; Jogar vídeo games, jogos de ação ou aventura etc.) e Hábito Instrutivo (por exemplo, Ler livros; Ler revistas; Visitar familiares etc.).

Para Formiga (2010) um tipo de lazer instrutivo, o qual tem foco na formação cultural e intelectual (especificamente, refere-se a experiência de aperfeiçoamento e crescimento desenvolvido pelos sujeitos, tornando-os capazes de escolhas de lazer diferenciadas e exclusivas para eles, assumindo uma atividade quanto a transmissão, habilitação e ensino de conhecimentos de forma que conduza a debates e discussões frente ao saber intelectual e de relação social e histórica familiar), bem como, na ludicidade (o qual diz respeito a utilização de jogos, passeios e divertimentos em geral, apresentando um caráter instrumental do hábito; trata-se apenas de um agir da diversão, podendo ser experimentado sozinho ou em grupo, capaz de gerar uma socialização de bem estar) é capaz de inibir as condutas tangenciadoras das normas sociais.

Por outro lado, hábitos com características egoístas e individualistas (isto é, aqueles representam o consumo e utilitarismo, enfatizando prazer individual e imediato como único bem possível do indivíduo para que alcance, unicamente, seu próprio prazer) foram categorizados como hábitos hedonistas, capaz de convergir em direção da conduta desviante.

Desta maneira, de acordo com o que se refletiu no inicio desse estudo, seria suficiente focalizar as explicações do problema da conduta desviante em jovens, simplesmente, de forma linear? É possível considerar como suficiente a relação linear das variáveis destacadas em cada seção acima. Sendo assim, ao considerar o vínculo que os jovens venham a ter com os pares sócio-normativos pretende-se contribuir não apenas na construção de uma orientação cultura dos jovens de forma que possa formá-los socialmente, mas, também, que seja capaz de influenciar as formas e o tipo de diversão que atualmente os jovens vêm assumindo, estas, por sua vez, configura um espaço que tem prejudicado a harmonia social e relação interpessoal saudável, bem como, tornando um fator de risco as condutas desviantes.

É partindo desses pressupostos que, ao realizar uma pesquisa nos sites de busca (Index Psi, Scielo) com palavras-chave (por exemplo, Família, Orientação cultual, lazer, conduta desviante, jovens e pares sociais, individualismo, coletivismo, diversão e delinquência) não se encontrou nenhum estudo que avaliasse as variáveis aqui abordadas. Sendo assim, pretende-se, a partir da análise e modelagem de equação estrutural, verificar empírica e teoricamente, a associação entre os pares sócio-normativos, tipo de orientação cultural, hábitos de lazer e conduta desviante em jovens.

Especificamente, a técnica da análise da Modelagem de Equação Estrutural (MEE) tem a clara vantagem de levar em conta a teoria para definir os itens pertencentes a cada fator, bem como, apresentar indicadores de bondade de ajuste que permitam decidir objetivamente sobre a validade de construto da medida analisada e sua direção associativa entre as inúmeras variáveis.

 

''... este estudo teve o objetivo de estimar a magnitude dos efeitos estabelecida entre variáveis, as quais estão condicionadas ao fato de o modelo especificado (isto é, o diagrama) estar correto, e testar se o modelo é consistente com os dados observados, a partir dos indicadores estatísticos, podendo dizer que resultado, modelo e dados são plausíveis...''

 

Desta forma, este estudo teve o objetivo de estimar a magnitude dos efeitos estabelecida entre variáveis, as quais estão condicionadas ao fato de o modelo especificado (isto é, o diagrama) estar correto, e testar se o modelo é consistente com os dados observados, a partir dos indicadores estatísticos, podendo dizer que resultado, modelo e dados são plausíveis (Pilati & Laros, 2007; Silva, 2006). Espera-se uma associação positiva entre os pares sócio-normativos, orientação cultural coletivista, hábitos de lazer instrutivos, as quais estariam associadas negativamente, com as condutas desviantes. E ainda, os pares sócio-normativos e orientação cultural coletivista, associando-se, negativamente, aos hábitos de lazer hedonistas e as condutas desviantes, bem como uma associação negativa dos pares sócio-normativos com orientação cultural individualista e com os hábitos de lazer hedonistas e as condutas desviantes; mas, uma associação positiva da orientação individualista com lazer hedonista e condutas desviantes.

 

1. Método

 

1.1. Amostra

Foi composta por 710 jovens de 15 e 20 anos, do sexo masculino e do sexo feminino, distribuídos igualmente no nível escolar fundamental e nível médio, da rede privada e pública de educação da cidade de João Pessoa - PB compuseram a amostra. Predominou a participação das mulheres (52,1%) e 94% dos jovens eram solteiros. Essa amostra foi não probabilística, pois o propósito era garantir a validade externa dos resultados da pesquisa. A decisão de escolher estes participantes se deveu ao fato de encontrar na literatura a existência da manifestação de condutas antissociais e delitivas, ainda que em magnitudes variadas, e considerá-las como um momento vivido por todo jovem.

 

1.2. Instrumentos

Os participantes responderam um instrumento que constava:

- Questionário da afiliação com pares grupos sócio-normativos (PSN). Nesse instrumento, o sujeito era orientado a responder as questões referidas a sua identificação com os grupos sócio-normativos, isto é, eles deveriam assinalar, marcando com um círculo ou X numa escala tipo Likert de cinco pontos que variava de 0 = Não me Identifico totalmente a 5 = Identifico-me totalmente, o quanto se assemelhavam a cada um dos grupos referidos no questionário, por exemplo, família (pai, mãe, etc.), familiares (tios e primos) e escola (professores, diretores, etc.). Para isso, tinham como foco a contribuição que cada um deles tem, de forma contínua, para sua formação social e normativa em sua vida cotidiana; esta escala apresentou no primeiro estudo uma fatorialização de um único fator, explicando 54,33% da variância total e valor próprio de 2,17, na análise paralela a decisão unifatorial foi mantida. Por fim, ela apresentou um alfa acima de 0,70, bem como, observou-se que todos os itens que representam os grupos estiveram inter-correlacionados.

A partir de uma análise fatorial confirmatória (AFC) e do modelo de equação estrutural (MEE), o presente instrumento apresentou indicadores de ajustes recomendados: ?2/gl = 3,44; GFI = 0,99 e AGFI = 0,98; RMR = 0,02, CFI = 0,99; RMSEA (90%IC) = 0,05 (0,01-0,13), CAIC = 71,53 e ECVI = 0,03. O instrumento proposto apresentou garantia da confiabilidade fatorial e evidências empíricas para sua aplicação e mensuração no contexto paraibano.

- Escala dos atributos da orientação cultural (AOC). Composto por seis itens que avaliam os atributos que mais caracterizam os sujeitos em relação ao individualismo e coletivismo (por exemplo, Um ser único, diferente dos demais; Orientado ao êxito, ao triunfo; Cooperador, que colabora. etc.). Formiga e Mota (2009)observaram Alfas de Cronbach aceitáveis pela literatura sobre o tema; realizando uma análise fatorial confirmatória (AFC) e a análise do modelo de equação estrutural (SEM), Formiga11 observou que este escala mostrou-se fidedigna quanto a estrutura fatorial já observada pelos autores supracitado, por exemplo: ?2/gl = 3,01; GFI = 0,99 e AGFI = 0,97; TLI = 0,93; RMSEA (90%IC) = 0,05 (0,03-0,08), CAIC = 131,58 e ECVI = 0,07.

O instrumento proposto apresentou garantia de maior confiabilidade fatorial e evidências empíricas para sua aplicação e mensuração no contexto paraibano. Para respondê-lo o jovem deveria ler cada item e indicar o quanto cada um dos atributos lhe caracteriza, para isso, era necessário apontar (com um X ou circulo) numa escala do tipo Likert, com os seguintes extremos: 0 = Nada Característico e 5 = Muito Característico, ao lado dos respectivos atributos.

- Escala das Atividades de Hábitos de Lazer (EAHL). Elaborado originalmente em português por Formiga, Ayroza e Dias (2005), o instrumento é composto por 24 itens que avaliam as atividades de lazer assumido por cada sujeito a respeito da sua ocupação quando não se está fazendo nada (por exemplo, Ler livros, Ler revistas, Ir a igreja, Navegar na internet, Comprar roupas, etc.). Para respondê-lo a pessoa deve ler cada item e indicar com que freqüência ocupa seu tempo quando está sem fazer nada, depois de todas suas obrigações cumpridas, utilizando para tanto uma escala de seis pontos, tipo Likert, com os seguintes extremos: 0 = Nunca e 5 = Sempre.

A escala revelou, a partir de uma análise exploratória, a existência de três fatores, explicando em seu conjunto 27,9% da variância total, sendo os seguintes: Instrutivo, Lúdico e Hedonismo. Os indicadores de consistência interna estiveram, respectivamente, entre 0,63 a 0,80. Uma folha separada foi anexada ao instrumento onde eram solicitadas informações de caráter sóciodemográfico (por exemplo, idade, sexo, estado civil e classe social). No estudo desenvolvido por Formiga, Bonato e Sarriera (2011), com amostras de três Estados brasileiros, a presente escala revelou indicadores para a modelagem estrutural aceitos pela literatura vigente, tornando-a não somente consistente, mas, acurada quanto a mensuração das atividades dos hábitos de lazer.

 

''A escala revelou, a partir de uma análise exploratória, a existência de três fatores, explicando em seu conjunto 27,9% da variância total, sendo os seguintes: Instrutivo, Lúdico e Hedonismo''

 

- Escala de Condutas Antissociais e Delitivas (CAD).Este instrumento, proposto por Seisdedos (1998) e validado por Formiga e Gouveia (2003) para o contexto brasileiro, compreende uma medida comportamental em relação às Condutas Antissociais e Delitivas. Tal medida é composta por quarenta elementos, distribuídos em dois fatores, como segue: o primeiro envolve as condutas antissociais, em queseus elementos não expressam delitos, mas comportamentos que desafiam a ordem social e infringem normas sociais (por exemplo, jogar lixo no chão mesmo quando há perto um cesto de lixo; tocar a campainha na casa de alguém e sair correndo).

O segundo fator relaciona-se às condutas delitivas. Estas incorporam comportamentos delitivos que estão fora da lei, caracterizando uma infração ou uma conduta faltosa e prejudicial a alguém ou mesmo à sociedade como um todo (por exemplo, roubar objetos dos carros; conseguir dinheiro ameaçando pessoas mais fracas). Para cada elemento, os participantes deveriam indicar o quanto apresentava o comportamento assinalado no seu dia-a-dia. Para isso, utilizavam uma escala de resposta com dez pontos, tendo os seguintes extremos: 0 = Nunca e 9 = Sempre.

Essa escala revelou indicadores psicométricos consistentes identificando os fatores destacados acima; para a Conduta Antissocial foi encontrado um Alpha de Cronbach de 0,86e a Conduta Delitiva ou Delinqüente, 0,92. Considerando a Análise Fatorial Confirmatória, realizada com o Lisrel 8.0, comprovou-se essas dimensões previamente encontradas (?²/gl = 1,35; AGFI = 0,89; PHI(f) = 0,79, p> 0,05) na análise dos principais componentes (Formiga & Gouveia, 2003). Essa escala mostrou-se fidedignidade em outras amostras, apresentando alfas entre 0,89 e 0,93 e correlações entre os fatores da conduta antissocial e delitiva acima de 0,50 (Formiga, 2003).

 

1.3. Procedimentos

Todos os procedimentos adotados nesta pesquisa seguiram as orientações previstas na Resolução 196/96 do CNS e na Resolução 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia.

Colaboradores com experiência prévia na administração da aplicação dos instrumentos foram responsabilizados pela coleta dos dados, e apresentaram-se nas salas de aula como interessados em conhecer as opiniões e os comportamentos dos alunos sobre as situações descritas nos instrumentos.

Solicitou-se a colaboração voluntária dos jovens no sentido de responderem um breve questionário. Após ficarem cientes das condições de participação na pesquisa, assinaram um termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi-lhes dito que não havia resposta certa ou errada. A todos foi assegurado o anonimato das suas respostas informando que estas seriam tratadas em seu conjunto. As escalas foram então respondidas individualmente.

Apesar de o instrumento ser autoaplicável, contando com as instruções necessárias para que possam ser respondidos, os colaboradores na aplicação estiveram presentes durante toda a aplicação para retirar eventuais dúvidas ou realizar esclarecimentos que se fizessem indispensáveis. Um tempo médio de 40 minutos foi suficiente para concluir essa atividade.

 

Análise dos dados

No que se refere à análise dos dados desta pesquisa, utilizou-se a versão 18.0 do pacote estatístico SPSS para Windows. Foram computadas estatísticas descritivas (tendência central e dispersão). Os seguintes indicadores estatísticos para o Modelo de Equações Estruturais (MEE) foram considerados segundo uma bondade de ajuste subjetiva. Esse programa estatístico tem a função de apresentar, de forma mais robusta, indicadores psicométricos que vise uma melhor construção da adaptação e acurácia da escala desenvolvida, bem como, permita desenhar um modelo teórico pretendido no estudo.

Indicadores estatísticos para o Modelo de Equações Estruturais (SEM), efetuados no AMOS GRAFICS na versão 16.0, foram considerados segundo uma bondade de ajuste subjetiva:

• O ?² (qui-quadrado) testa a probabilidade de o modelo teórico se ajustar aos dados; quanto maior este valor pior o ajustamento. Este tem sido pouco empregado na literatura, sendo mais comum considerar sua razão em relação aos graus de liberdade (?²/g.l.). Neste caso, valores até 5 indicam um ajustamento adequado;

• Root Mean Square Residual (RMR), que indica o ajustamento do modelo teórico aos dados, na medida em que a diferença entre os dois se aproxima de zero. Para o modelo ser considerado bem ajustado, o valor deve ser menor que 0,05;

• O Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI) são análogos ao R² em regressão múltipla. Portanto, indicam a proporção de variância- covariância nos dados explicada pelo modelo. Estes variam de 0 a 1, com valores na casa dos 0,80 e 0,90, ou superior, indicando um ajustamento satisfatório (Hair, Tatham Anderson & Black, 2005);

• A Root-Mean-Square Errorof Approximation (RMSEA), com seu intervalo de confiança de 90% (IC90%), é considerado um indicador de ''maldade'' de ajuste, isto é, valores altos indicam um modelo não ajustado. Assume-se como ideal que o RMSEA se situe entre 0,05 e 0,08, aceitando-se valores de até 0,10 (Kelloway, 1998; Garson, 2003);

• O Comparative Fit Index (CFI) - compara de forma geral o modelo estimado e o modelo nulo, considerando valores mais próximos de um como indicadores de ajustamento satisfatório (Hair, Tatham Anderson & Black, 2005);

Tucker-Lewis Index (TLI) - apresenta uma medida de parcimônia entre os índices do modelo proposto e do modelo nulo. Varia de zero a um, com índice aceitável acima de 0,90 (Hair, Tatham Anderson & Black, 2005).

 

2. Resultados e discussao

A título de lembrança para o leitor, este estudo pretende verificar um modelo teórico que explique as condutas desviantes a partir dos construtos grupos sócio-normativos, atributos da orientação cultura e os hábitos de lazer; para isso, considerou-se um modelo recursivo de equações estruturais gerando modelos separados com base nas hipóteses levantadas. Assim, na primeira hipótese, procurou-se verificar um modelo em que os pares sócio-normativos influenciem os atributos culturais do coletivismo e os hábitos de lazer instrutivos e, estes, as condutas desviantes.

No que se refere a este modelo, gerou-se no AMOS GRAFICS 16.0 o modelo que se pretendeu, o qual, após as devidas modificações de ajuste revelou a seguinte razão dos indicadores psicométricos: ?2/gl = 1,36, RMR = 0,02, GFI = 0,99, AGFI = 0,98, CFI = 1,00, TLI = 0,99 e RMSEA = 0,02 (0,00-0,05); estes indicadores, comprovaram uma associação positiva da afiliação dos pares sócio-normativos [APSN] com os atributos da orientação cultural do coletivismo [AOCC] (? = 0,45), estes dois, com os hábitos de lazer instrutivo [HLI] (respectivamente, ? = 0,29; ? = 0,24), por outro lado, tendo essas três variáveis, associado negativamente, com conduta desviante (respectivamente,[APSN] ? = -0,16, [ACC] ? = -0,23 e [HLI] ? = -0,25) (ver Figura 1).

 

Contemplando, ainda, a primeira hipótese, um segundo modelo foi verificado, gerando semelhante direção hipotética avaliada no modelo anterior; porém, buscouse, incluindo uma nova variável dos hábitos de lazer, verificou-se a influência dos pares sócio-normativos, atributos culturais do coletivismo nos hábitos de lazer hedonista e, destes, nas condutas desviantes. Com as modificações especifica nos ajustes dos erros observaram-se indicadores psicométricos [?2/gl = 1,24, RMR = 0,02, GFI = 0,99, AGFI = 0,98, CFI = 0,99, TLI = 0,99 e RMSEA = 0,02 (0,00-0,04)] que comprovaram uma associação positiva entre os pares sócio-normativos [APSN] e os atributos culturais do coletivismo [AOCC] (? = 0,39), mas, com estas duas variáveis, associando-se, negativamente, com os hábitos de lazer hedonistas [HLH] (respectivamente, ? = -0,11; ? = -0,28) e com a conduta desviante (respectivamente, [APSN] ? = -0,27, [ACC] ? = -0,19). Porém, os hábitos de lazer hedonistas [HLH], associou-se, positivamente, com as condutas desviantes (? = 0,15) (ver Figura 2).

 

Quanto à segunda hipótese, um terceiro modelo pretendeu verificar a influência entre os pares sócio-normativos, atributos culturais de individualismo e hábitos de lazer instrutivos, como explicação das condutas desviantes. Este modelo teórico apresentou indicadores psicométricos [?2/gl = 1,10, RMR = 0,03, GFI = 0,99, AGFI = 0,98, CFI = 1,00, TLI = 0,99 e RMSEA = 0,01 (0,00-0,04)] que comprovaram uma associação negativa dos pares sócio-normativos [APSN] com os atributos culturais do individualismo [AOCI] (? = -0,75) e com a conduta desviante (? = -0,19); mas, o APSN, associou-se, positivamente, com os hábitos de lazer instrutivos [HLI] (? = 0,25); tendo os atributos culturais do individualismo [AOCI] associado, negativamente, com os hábitos de lazer instrutivos [HLI] (? = -0,14), mas, com o AOCI explicando, positivamente, as condutas desviantes (? = 0,30). Por fim, os hábitos de lazer instrutivos [HLI] apresentou um lambda negativo com as condutas desviantes (? = -0,15) (ver Figura 3).

 

Ainda em relação a essa hipótese, um quarto modelo foi verificado e pretendeu verificar a influência entre os pares sócio-normativos, atributos culturais de individualismo e hábitos de lazer hedonista, esperando que eles se associem, diferentemente, com as condutas desviantes. Observaram-se indicadores psicométricos [?2/gl = 1,28 RMR = 0,03, GFI = 0,99, AGFI = 0,98, CFI = 0,99, TLI = 0,98 e RMSEA = 0,02 (0,00-0,04)] comprovando a associação negativa dos pares sócio-normativos [APSN] com os atributos culturais do individualismo [AOCI] (? = -0,72), com os hábitos de lazer hedonista [HLH] (? = -0,16) e com a conduta desviante (? = -0,23); mas, o AOCI associou-se, positivamente, com os hábitos de lazer hedonista [HLH] (? = 0,16) e com as condutas desviantes (? = 0,30). Por fim, os hábitos de lazer hedonista [HLH] associou-se, também, positivamente, com as condutas desviantes (? = 0,21) (ver Figura 4).

 

Considerando esses resultados, observa-se que não somente é possível comprovar as hipóteses levantadas, mas que, nos quatro modelos gerados, o papel dos pares sócio-normativos torna-se uma variável muito importante tanto para a orientação cultural que os jovens venham seguir - se individualistas ou coletivistas - quanto a adesão a determinados hábitos de lazer - instrutivos ou hedonistas - e a influência destes pares e as demais variáveis na conduta desviante em jovens. Com isso, esses pares são capazes de inibir condições específicas, a partir de uma perspectiva psicossocial, as quais poderão apontar em direção de fatores de proteção do desvio de conduta juvenil.

Neste caso, a importância dessa dinâmica inter-familiar, a qual tem suas bases na família (com a afiliação aos pais e familiares) e na escola (com à afiliação aos professores) poderá contribuir a partir do momento em que as normas socialmente desejáveis entre esses pares sejam convergentes, onde família e escola falem a mesma linguagem na proteção dos jovens em relação ao desvio social. Afinal, a afiliação destacada nesse construto refere-se tanto ao papel da socialização quanto ao reconhecimento, por parte desses jovens, de que os pares destacados neste estudo, influenciam, sistematicamente, na formação social e psicológica deles.

 

''Frente a uma sociedade, em que, seja através da mídia ou de relatos cotidianos de transeuntes ou familiares e conhecidos, é bem claro o estímulo ao individualismo, o qual provavelmente poderá influenciar na conduta juvenil e, de forma específica, na conduta desviante...''

 

Frente a uma sociedade, em que, seja através da mídia ou de relatos cotidianos de transeuntes ou familiares e conhecidos, é bem claro o estímulo ao individualismo, o qual provavelmente poderá influenciar na conduta juvenil e, de forma específica, na conduta desviante; porém, de acordo com Formiga (2010), existindo uma menor distancia social entre família e escola é bem possível que direta ou indiretamente - inibindo formas de lazer e orientações culturais de risco - poderá construir fatores de proteção psicossocial mais organizado visando estratégias de políticas publicas e sistêmicas onde o jovem e o seu entorno possa ser saudável psicossocialmente.

Ao se refletir na direção desses modelos teóricos, hipoteticamente, comprovados, de acordo com o refletido sobre a perspectiva teórica, que o problema da conduta desviante não poderá ser vista a luz de uma associação individual entre variáveis especificas, mas, que faz necessário focar-se em uma análise sistêmica, na qual, não somente haveria influência direta (de forma negativa) sobre a conduta desviante, mas que, também, poderia, por meio de outras variáveis (neste caso, a orientação cultura coletivista e os hábitos de lazer instrutivos) atuarem como fator de proteção dessa conduta nos jovens.

O fato principal desse estudo não se trata da inserção moralista dos jovens na dinâmica intra e interpessoais de sua inserção na sociedade e as experiências que eles venham a viver nesse espaço, os quais sugerem riscos e busca de novidades e sensação (Formiga, Omar & Aguiar, 2010; Formiga, Aguiar & Omar, 2008). Tais buscas de sensações, por sua vez, podem não ocorrer no vazio, mas, associar-se-iam às formas de diversão e apreensão de atitudes e valores culturais (Formiga & Gouveia, 2005) os quais, provavelmente, permitiriam aos jovens, aprender psicossocialmente, como algo que faz parte da sua contemporaneidade e que os outros - aqueles que não o seguem, poderá estar à margem das suas relações e realidade social.

A questão é que, mesmo com toda uma dinâmica social, exigente ao consumo a tudo e exibicionista, não se pode pensar em uma formação de lazer sem a inclusa da família e da escola, bem como, da assimilação de uma orientação social cooperativa e menos individualista, distanciando assim, de condutas permeadoras da delinqüência; todavia, é preciso considerar, também, que os mesmos grupos - esses pares sócio-normativos - que protegem poderão influenciar na inserção a tais condutas, principalmente, quando incentiva hábitos de lazer hedonistas, os quais são capazes de fomentar no jovem uma diversão individualista e egoísta (Formiga, 2011).

Desta maneira, chama-se à atenção para o vínculo com os grupos sócio-normativos, que, de acordo com Formiga (2011), quando mal estruturado e funcionalmente indefinido pode prejudicar na produção de um vínculo de desenvolvimento psicossocial para o jovem, principalmente, quanto ao afeto positivo e as normas socialmente desejáveis, as quais influenciariam com base nos achados do presente estudo, as diversões que inibiriam fatores culturais coletivistas e um processo socializador que proteja os jovens do risco social desviante.

Por fim, apesar de se encontrar muitos estudos quanto às melhores variáveis que expliquem um modelo teórico que seja capaz de inibir a conduta desviante, acredita-se que estes resultados sejam mais uma peça no quebra cabeça do estudo da delinqüência juvenil. Com isso, ao definir este estudo, a partir de uma ótica psicossociológica, espera-se que ele não seja o único, pois, tem como objetivo refletir em direção de políticas públicas, espaços educacionais e pedagógicos e etc, para o jovem e o seu entorno social. Assim, apreender a relação entre essas variáveis, como também, a inserção de outras (por exemplo, a personalidade, o desenvolvimento moral, etc.) favoreceriam a obtenção de respostas para a construção de uma sociedade envolvida e participativa com o direito do Outro.

 

 

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