SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.1 número2Um diálogo sobre o conceito de self entre a abordagem centrada na pessoa e psicologia narrativaSexo e afeto no escuro: vivências de homens não-videntes índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.1 no.2 São Paulo nov. 2009

 

ARTIGOS

 

Critérios de escolha de parceria amorosa em mulheres climatéricas e menopausadas

 

Choice criteria of mate in climateric and menopausal women

 

 

Regina Célia Souza Brito1; Mauro Dias Silva Júnior2; Alda Loureiro Henriques3

Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento/Núcleo Teoria e Pesquisa do Comportamento/Universidade Federal do Pará

 

 


RESUMO

A Teoria das Estratégias Sexuais (T.E.S) prevê que as mulheres em suas escolhas amorosas buscariam por parceiros amorosos com elevado nível social, mais velhos que elas e com qualidades de provedor e de pai. Estudos mostram que após o fim do período reprodutivo mulheres tendem a escolher parcerias de longa duração. Selecionamos 91 mulheres nas fases do climatério e menopausa, com ensino médio completo e possuindo renda média elevada, para investigarmos como elas escolhem parceiros. Como resultado, obtivemos que boa parte das mulheres se comportaram segundo a T.E.S, escolhendo parceiros mais velhos, com elevado nível de renda e instrução. Grande parte deles apresentava as características idealizadas por elas. Foi clara uma preferência por parcerias fixas, em detrimento das eventuais. Parte dos resultados permitiu a confirmação das previsões da T.E.S entre mulheres que escolhem seus parceiros durante ou após o fim do período reprodutivo.

Palavras-chave: seleção de parceiros, teoria das estratégias sexuais, climatério e menopausa.


ABSTRACT

According to the Sexual Strategies Theory (SST) women choose partners that are older, have higher social status, higher income and qualities of good provider and father. Studies show that even after their reproductive period, in which there's no need for reproduction, women tend to choose long-term relationships. We selected 91 women in Climacteric and Menopausal phases with high school level and high income to investigate their mate choice. The results showed a half of women chose older partners with high educational level and income. Most of the men had the characteristics the women idealized for a partner. Preferably women have kept fixed relationships than eventual relationships. Parts of results allow us to do the predictions in the SST for both women in and out of their reproductive period.

Keywords: mating selection, sexual strategies theory, climateric and menopause.


 

 

INTRODUÇÃO

Temas relativos à sexualidade humana costumam causar grande interesse no público em geral. É grande o volume de material produzido sobre a sexualidade de pessoas jovens, porém, o mesmo não pode ser dito sobre a sexualidade na senescência (SADALA, 2005). O envelhecimento para a mulher não se limita apenas ao enfraquecimento dos músculos, perda da visão e elasticidade da pele, como é comum entre os homens.

O envelhecimento feminino traz consigo uma série de modificações de ordem comportamental, anatômica e fisiológica que culminam na perda da capacidade reprodutiva. Embora a sexualidade de mulheres nesse período seja importante dada às modificações no seu corpo, ela tem sido negligenciada pela comunidade científica.

A senescência feminina tem início com o climatério, descrito como as alterações endócrinas em função do declínio da atividade ovariana levando ao declínio da fertilidade. Esse período é acompanhado por mudanças clínicas importantes, como alterações do ciclo menstrual, surgimento de ondas de calor, suores noturnos, atrofia urogenital (incontinência urinária, dispareunia) e patologias como a osteoporose e doenças cardiovasculares (PEDRO, PINTO-NETO, COSTA-PAIVA, et al, 2003; ABDO, 2004; ZAHAR, ALDRIGH, PINTONETO, et al, 2005). A menopausa é definida como a última menstruação (ZAHAR, ALDRIGH, PINTO-NETO, et al, 2005, 2005) resultante da perda da atividade ovariana (PEDRO, PINTO-NETO, COSTA-PAIVA et al, 2003).

Em um levantamento nacional sobre a sexualidade do brasileiro, ABDO (2004) encontrou que a média de filhos por mulher foi de 2 a 3; 25% delas afirmaram ter um excelente desempenho sexual; 60% um bom desempenho e apenas 0,2% reclamaram de um desempenho ruim. Para 40,7% das mulheres entrevistadas, a "importância do sexo em sua vida" equivaleu à importância de se ter uma fonte de renda segura. Oitenta por cento das mulheres buscaram relacionamento com afeto, 40% com compromisso; 68,2% com atração física; 66,5% queriam tempo suficiente para a relação; 70,6% quiseram intimidade; 77,2% relacionamento com afeto/sentimento e 55,3% com interesse do parceiro (ABDO, 2004). Um estudo realizado por VASCONCELOS, NOVO, CASTRO et al (2004) com a participação de mulheres brasileiras e portuguesas, revelou, através de entrevistas, que apesar de não se sentirem satisfeitas sexualmente, a vida sexual continuava sendo muito importante em suas vidas. Assim, é importante identificar, além dos aspectos demográficos e fisiológicos, as idiossincrasias psicológicas da sexualidade da mulher, inclusive no período do climatério e menopausa.

Para entender a sexualidade feminina na senescência, pretende-se discutir brevemente, a evolução da sexualidade e afetividade humana. Após a seleção da locomoção bípede, ocorreu uma série de outras modificações na estrutura corporal de nossos antepassados, como a transformação dos ossos da pélvis, o que por sua vez estreitou o canal da passagem do feto pela vagina no momento do parto. Após dois milhões de anos da seleção bípede, com a evolução do gênero Homo e a expansão cerebral que o caracteriza, a redução do tamanho e mudança de formato da pélvis exerceram uma forte pressão seletiva sobre os bebês, favorecendo aqueles que nasciam prematuramente e, por isso, com o cérebro ainda pouco desenvolvido. Essa característica promoveu que, fora do útero, os bebês se desenvolvessem mergulhados no convívio social. Bebês tão dependentes exigiram das fêmeas humanas um período maior de investimento, pois demoravam mais tempo a alcançar a fase adulta/maturidade sexual. A conseqüência mais importante desses eventos para a sexualidade feminina foi a busca por machos que investissem em sua prole. A participação do macho como provedor é o efeito de um processo de seleção conhecido como seleção sexual (DIAMOND, 1999).

A Teoria da Seleção Sexual foi desenvolvida por Charles Darwin no seu trabalho intitulado "A descendência do Homem e a Seleção em Relação ao Sexo", publicado em 1871. Darwin defendeu a idéia de que indivíduos do mesmo sexo de uma espécie competem entre si pelo acesso aos indivíduos do outro sexo. Essa teoria explica como algumas características surgiram entre os indivíduos de uma espécie que poderiam representar um empecilho à sua sobrevivência, mas que, por outro lado, poderiam ter a função de despertar o interesse sexual de um membro do sexo oposto. Segundo a proposta de Darwin, existem dois tipos de seleção sexual: a intra-sexual, na qual os membros de um sexo competem entre si pelo acesso ao outro sexo, em geral os machos; e a seleção intersexual, na qual os membros de um sexo, em geral as fêmeas, selecionam os membros do outro sexo de acordo com suas preferências (BATTEN, 1995; BUSS e SCHMITT, 1993; GANGESTAD e SIMPSON, 2000). As fêmeas mamíferas, especialmente as primatas, investem parentalmente mais do que os machos, o que as torna mais seletivas na escolha de seus parceiros sexuais (TRIVERS, 1972). Nessas espécies, cujo investimento feminino é maior que o masculino, geralmente a única contribuição dos machos para a prole limita-se à provisão de (bons) genes, selecionados com base em características físicas de saúde, como força, beleza e simetria e status social (GANGESTAD e SIMPSON, 2000). Depois da cópula, os machos abandonam as fêmeas, possivelmente fertilizadas por seu esperma, situação conhecida como deserção masculina ou father absence. Invertendo esse padrão amplamente difundido entre primatas, os machos de algumas espécies não só contribuem com seus genes, como dedicam boa parte do seu tempo e energia no cuidado com o filhote (BATTEN, 1995).

No caso do Homo sapiens, essa mudança no padrão comportamental dos machos se deu pela adoção, por parte das fêmeas, de estratégias sexuais que possibilitaram seu sucesso reprodutivo e a sobrevivência da nossa espécie. Segundo BUSS e SCHMITT (1993), estratégias sexuais são soluções naturalmente selecionadas que resolveram problemas adaptativos, sem que o estrategista tivesse consciência ou conhecimento explícito.

A partir de um amplo levantamento de pesquisas empíricas, BUSS e SCHMITT propuseram, em 1993, a Sexual Strategies Theory (Teoria das Estratégias Sexuais, T. E. S), que consiste em um conjunto de nove hipóteses sobre os impasses ou "problemas adaptativos" enfrentados por machos e fêmeas hominídeos no decorrer de nossa evolução.

Segundo a T.E.S, as características masculinas preferidas pelas fêmeas eram: o investimento masculino dedicado à prole, sob a forma de proteção, alimentação e educação; o investimento na fêmea, permanecendo junto a ela durante a gestação, lactação e criação da prole e protegendo-a do assédio de outros machos e predadores. Outras características teriam também grande importância na escolha de um potencial parceiro, como a acessibilidade a recursos e status social igual ou mais elevado que o seu (BORRIONE e LORDELO, 2005).

Apesar das críticas que a teoria das estratégias sexuais tem recebido (ver BORRIONE e LORDELO, 2005; GANGESTAD e SIMPSON, 2000), alguns trabalhos têm apoiado suas principais premissas. Exemplo disso foi o trabalho de MATOS, FÉRESCARNEIRO e JABLONSKI (2005), no qual foram estudados dez adolescentes de baixa renda no Rio de Janeiro. Estes jovens preferiram, independente do sexo, relacionamentos de longo prazo, nos quais se destacaram características dos parceiros como fidelidade, preocupação com o trabalho/situação financeira, carreira profissional e uma relação de companheirismo entre os cônjuges. O envolvimento na relação foi descrito como necessário e a fidelidade sexual como essencial para a manutenção do relacionamento com confiança. Porém, houve tendências para relacionamentos descritos como de curto prazo ("ficar"), em especial entre os rapazes.

Resultados semelhantes também foram encontrados em estudo que buscou comparar os padrões de escolha amorosa entre indivíduos homossexuais e heterossexuais. Neste estudo, FÉRES-CARNEIRO (1997) não encontrou diferenças significativas no comportamento sexual entre casais heterossexuais e homossexuais. Suas escolhas, de forma geral, estavam baseadas nos critérios que garantiram sucesso reprodutivo e solução de problemas adaptativos para os nossos ancestrais hominídeos. FÉRES-CARNEIRO (1997) identificou como características preferidas pelas mulheres o companheirismo, a paixão, renda mensal, fidelidade e companheirismo do (a) parceiro (a). Entre os homens, prevaleceram características como a beleza física dos (as) parceiros (as), companheirismo e integridade.

Por outro lado, diferentemente dos estudos que enfocaram as escolhas amorosas ideais durante a juventude (BUSS e SCHMITT, 1993; MATOS, FÉRES-CARNEIRO e JABLONSKI, 2005), SADALA (2005) investigou como as escolhas reais aconteciam tanto durante o declínio da capacidade reprodutiva de mulheres (climatério), como após a interrupção das menstruações (menopausa). Sua amostra teve características especiais: era composta por mulheres saudáveis, com renda própria e com alto grau de instrução formal. Estas características poderiam desfavorecer a escolha por parceiros com perfil de provedor. O objetivo de trabalho de SADALA (2005) foi investigar se com capacidade intelectual para tomar decisões e fazer escolhas próprias e livres da pressão reprodutiva por um bom provedor, adotariam os mesmos critérios de sua juventude, onde estas pressões existiam por excelência. Será que elas mudariam seus critérios de seleção? Ela trabalhou com a hipótese de que mulheres livres destas pressões reprodutivas escolheriam parceiros com maior variabilidade que a descrita na literatura quando a seleção é efetuada por mulheres jovens e reprodutivas. Ela acreditava que em virtude de não necessitarem de um parceiro investidor, mas simplesmente de um parceiro afetivo e sexual, as mulheres dessa faixa etária selecionariam, por exemplo, parceiros mais jovens (e por isso, mais atraentes), com renda inferior e preferência por relacionamentos de curto prazo.

Estudando 100 mulheres de Belém (região norte do Brasil), funcionárias públicas, todas com, no mínimo, o ensino médio completo e com renda salarial superior a 1500 reais, SADALA (2005) pôde identificar as principais características masculinas escolhidas pelas mulheres para selecionar parceiros. Para relacionamentos de longo prazo, elas escolheram companheirismo, respeito, fidelidade e ser trabalhador. Para curto prazo, escolheram bom desempenho sexual, liberdade, raros encontros/encontros casuais e descompromisso. Porém, houve preferência por relacionamentos de longo prazo em detrimento dos de curto prazo. As mulheres pesquisadas relataram, através de questionário, que suas escolhas de parceiros estavam orientadas por esses critérios tanto para os parceiros recentes, escolhidos depois do fim do período reprodutivo, como nas escolhas de parceiros escolhidos durante a juventude. Os resultados mostraram que as escolhas das mulheres da amostra não diferiram das suas próprias escolhas quando mais jovens. Também não diferiram das escolhas de mulheres jovens de outros estudos. Isso sugeriu que mesmo nesse período as forças seletivas de nosso passado evolutivo podem ainda estar presentes. Uma hipótese alternativa enfatizaria os efeitos da experiência dessas mulheres. Assim, ao escolher parceiros com esse perfil durante sua juventude, elas teriam aprendido a manter o padrão nas escolhas futuras durante a maturidade.

O objetivo deste estudo foi continuar testando as previsões teóricas da T.E.S utilizando-se a mesma população de SADALA (2005), os critérios utilizados na seleção de parcerias amorosas e a avaliação das mulheres sobre os parceiros na transição climatériomenopausa.

 

MÉTODO

Participantes:

Foram selecionadas 118 mulheres entre 40 e 60 anos de idade, funcionárias do setor público federal. Entre os critérios de inclusão estavam: serem trabalhadoras cadastradas no banco de dados do Departamento de Recursos Humanos de uma universidade e terem cursado no mínimo o ensino médio completo.

Material utilizado/Instrumento

Utilizou-se: (1) um questionário auto-aplicável modificado do estudo de SADALA (2005), elaborado a partir de dois outros modelos propostos por WEBER e AMÉLIO (2003); citados por SADALA (2005) contendo 43 perguntas abertas e fechadas. Constavam perguntas sobre a renda individual e grau de instrução (estes dois atributos foram considerados neste trabalho como medidas do status social do parceiro, como tratado por BUSS e SCHMITT, 1993), idade e grau de atratividade dos parceiros; tipos de parceria que estão sendo mantidas pelas participantes, se fixas ou eventuais; diferenças nos critérios de eleição de parcerias fixas e eventuais; e as características descritas por elas como identificadoras de relacionamentos de longa e curta duração. Havia também questões sobre a satisfação das participantes com o seu próprio desempenho sexual e com o desempenho sexual de seus parceiros. Comumente na literatura, são feitas perguntas sobre qualidades ideais de um parceiro, como por exemplo, "quais características você considera importantes quando seleciona um parceiro?" ou ainda "o que você acha mais atraente num parceiro?". Neste estudo, ao contrário, foi realizada uma diferença entre a expectativa ou as qualidades ideais do parceiro (como encontrado na literatura) e as qualidades percebidas ou encontradas nos parceiros escolhidos, perguntando-se também, por exemplo, "quais dessas características o seu parceiro possui?". As modificações realizadas no questionário de SADALA (2005) visaram além de refinar o instrumento, categorizar as respostas que foram levantadas espontaneamente pelas respondentes daquele estudo. Foram também usados (2) uma folha de instruções sobre as perguntas contidas no questionário e (3) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Procedimento

Na lista fornecida pelo setor de Recursos Humanos contendo nomes e postos de trabalho, de acordo com os critérios de inclusão, havia um total de 1556 mulheres. Desse contingente, foram sorteadas aleatoriamente 118. Destas, 27 não responderam completamente o questionário, restando 91, as quais compuseram a amostra da pesquisa. As participantes eram procuradas em seus locais de trabalho, onde lhes foi explicado os objetivos do trabalho e entregues o questionário e termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário João de Barros Barreto, Belém-PA.

Análise de Dados

Na maior parte das análises foi contabilizada a freqüência percentual de respostas das participantes. Nos outros casos foi realizado o teste de correlação de Pearson para identificar correlação entre as rendas das respondentes e seus parceiros; e o teste não paramétrico Kruskal-Wallis para avaliar a diferença das médias de renda das respondentes.

 

RESULTADOS

De todas as mulheres que responderam ao questionário, 56,8% estavam no climatério e 43,2% estavam na menopausa. A maioria estava casada e constituía 53,7% do grupo do climatério (Clim) e 43,1% do grupo da menopausa (Men). A minoria estava namorando - 28,4% das Clim e 19,6% das Men - ou estava sozinha - 17,9% Climatério e 37,3% da Menopausa. Ressaltamos que as mulheres que se declararam sozinhas (viúvas, separadas, sem namorado) apenas responderam questões relativas aos critérios ideais dos parceiros.

Quando foram analisados os critérios de escolha amorosa das mulheres nos dois grupos, optou-se por estabelecer subgrupos contidos nos grupos Climatério e Menopausa para que pudessem ser avaliadas as diferenças das escolhas amorosas antes e depois do período reprodutivo. Os subgrupos Climatério <40 (Clim <40) e Menopausa <40 (Men <40) compreendiam as mulheres que realizaram suas escolhas de parceiros antes dos 40 anos, e, portanto, durante o período reprodutivo. Os subgrupos Climatério >40 (Clim >40) e Menopausa >40 (Men >40 ) referem-se, automaticamente, às mulheres que realizaram as escolhas de parceiros depois dos 40 anos, presumivelmente durante o declínio reprodutivo. Enquanto as mulheres apresentavam menstruações regulares elas eram agrupadas nos subgrupos Climatério <40 e Climatério >40, de acordo com a época em que escolheram seus parceiros. Já as mulheres que tiveram suas menstruações regulares interrompidas há mais de doze meses, eram agrupadas nos subgrupos Menopausa <40 e Menopausa >40, também conforme à época em que selecionaram seus parceiros.

Trinta e sete mulheres (40,7% do total) constituíram o grupo Clim <40, quinze mulheres, 16,5%, constituíram o grupo Clim >40, vinte e sete e doze mulheres, (29,7% e 13,2%), constituíram os grupos Men <40 e Men >40, respectivamente.

Grande parte das mulheres (mais de 40% em todos os subgrupos) ganhava entre 1000 e 2999 reais, sendo que uma parcela também significativa ganhava entre 3000 e 9000 reais. Não foi encontrada diferença significativa na renda dos quatro subgrupos (X² (3) = 4,606, p<0,203). Cerca de 30% em cada subgrupo possuía pós-graduação. Pode-se ver, portanto, que se trata de mulheres economicamente independentes e provavelmente capazes de tomar decisões próprias.

As escolhas das mulheres dos quatro subgrupos com base na idade do parceiro são mostradas na Figura 1.

 

 

A maioria das mulheres do subgrupo Clim <40 escolheu parceiros de mesma idade ou até 10 anos mais velhos. Os subgrupos Men <40 e Clim >40 preferiram homens até 11 anos mais novos. Já as mulheres do Men >40 não se comportaram de maneira homogênea, apresentando uma distribuição bimodal, isto é, quase metade escolheu parceiros de 12 a 24 anos mais novos e 36,4% escolheram parceiros até 10 anos mais velhos.

Nas análises sobre o nível de escolaridade destacaram-se escolhas por parceiros com maior instrução.

 

 

Grande parte das escolhas privilegiou parceiros que possuíam o ensino superior (50 % ou mais em todos os subgrupos. Figura 2), seguida da escolha por parceiros com ensino médio (mais de 30% em todos os grupos). Apenas 13% das escolhas do grupo Men <40 foram para homens sem instrução ou com ensino fundamental. Aqui, as mulheres Clim >40 apresentaram uma distribuição bimodal equitativa.

A média da renda mensal (Figura 3) entre os parceiros foi de R$ 3145,67, enquanto que a média de renda das respondentes foi de R$2958,83. Cerca da metade das mulheres em todos os subgrupos tinha parceiros com renda igual ou inferior a delas. No subgrupo Men >40 esse percentual foi de 75%. Houve correlação significativa, positiva e moderada (r = 0,671, p<0,01) entre a renda das mulheres e a renda de seus respectivos parceiros.

 

 

De acordo com a Tabela 1, verifica-se que grande parte das mulheres dos grupos Clim e Men declarou que o seu desempenho sexual era "Bom" ou "Muito Bom", a despeito das modificações fisiológicas e psicológicas decorrentes do período do climatério.

 

 

 

Os dados apresentados na Figura 4 mostram que as mulheres dos quatro grupos avaliaram o desempenho sexual de seu parceiro entre "Bom" e "Muito Bom". Nem uma mulher julgou o desempenho do parceiro como completamente insatisfatório.

 

 

 

O bom desempenho sexual dos parceiros pode ser tomado como evidência de que o sexo é um componente importante da escolha e manutenção do relacionamento. Apesar do grande número de respostas em branco, o desempenho sexual dos parceiros parece mostrar-se um aspecto relevante no relacionamento amoroso.

Com relação à atratividade dos parceiros, os dados apresentados na Tabela 2 mostram que grande parte das respostas das mulheres (Clim <40 = 27%, Men <40= 40,7%, Clim >40 = 33,3 e Men >40 = 41,7) se referiu ao parceiro como "Muito atraente".

 

 

Um número bem menor de mulheres afirmou que o seu parceiro é "Pouco Atraente" ou "Nem um pouco atraente". Para esta pergunta, houve também um número muito grande de respostas em branco. Interessante comparar esses resultados com o desempenho sexual (ver Tabela 2) e idade dos parceiros (ver Figura 1), pois o alto nível de satisfação sexual pode estar relacionado ao também alto nível de atratividade dos parceiros.

Foi pedido às participantes que dentre um conjunto de dez características, elas escolhessem aquelas que usualmente utilizaram para selecionar seus parceiros amorosos. Após a escolha das mesmas, foi pedido que identificassem a presença dessas mesmas características em seus parceiros.

A Tabela 3 mostra simultaneamente a preferência dessas características (ideais) e a presença (reais) das mesmas nos parceiros.

 

 

Podemos ver na Tabela 3 que as características mais freqüentemente consideradas importantes entre as mulheres do Clim <40 e presença destas características nos parceiros são: "Respeito", 70,3%; "Inteligência/Estudo", 62,2%; "Companheirismo", 54,1%; "Amor", 54,1%; "Bom Humor", 51,4% e "Trabalhador", 45,9%. Em contrapartida, as mulheres do Clim >40 escolheram "Bom Humor", 53,3%; "Companheirismo", 46,7%; "Trabalhador", 46,7% e "Fidelidade" com 43,2%. A escolha dessas características indica uma preferência por parceiros com interesse em manter um relacionamento estável. Apesar disso, "Bom Desempenho Sexual" apresentou um percentual alto (43,2%).

As características mais escolhidas pelas respondentes do Men <40 foram "Respeito", 63%; "Companheirismo", 59,3%; "Trabalhador", 51,9%; "Bom Humor" e "Amor" ambas com 48,1%. Já entre as mulheres do Men >40 foram mais freqüentes as escolhas de "Inteligência/Estudo", 75%; "Respeito", 66,7%; "Trabalhador", 58,3% e "Companheirismo", 50%. Podemos notar na Tabela 3 que o percentual das mulheres Men variou menos que o das mulheres Clim. Aqui também as mulheres tenderam à escolha de parceiros com o qual pudessem manter um relacionamento estável.

Quanto à situação amorosa, 100% das respondentes que se declararam casadas, afirmaram que seu parceiro é fixo. Já entre as que estão namorando, 55,2% afirmaram que seu parceiro é fixo e 34,5% afirmaram que ele é eventual (10,3 não responderam a pergunta).

 

DISCUSSÃO

Segundo a Teoria das Estratégias Sexuais (BUSS e SCHMITT, 1993), as mulheres em nosso passado evolutivo tendiam a escolher parceiros mais velhos, com status social mais elevado que o seu, com características de bom pai e de bom provedor para ela os filhos. Essas características teriam sido selecionadas pelas fêmeas por seu valor adaptativo, uma vez que garantiram a sobrevivência da prole em nosso ambiente de seleção evolucionário.

A hipótese principal deste trabalho foi de que as mulheres do período não reprodutivo (climatério e menopausa) não mudariam seus critérios de escolha de parceiros com relação aqueles utilizados pelas mulheres férteis, mais jovens. Mulheres em declínio da carreira reprodutiva não são estudadas freqüentemente na literatura sobre sexualidade e por essa razão procurou-se descobrir quais os critérios que elas utilizavam para escolher parceiros amorosos.

Apesar de todas as modificações fisiológicas e psicológicas decorrentes da perda da capacidade reprodutiva durante a transição climatério-menopausa, esperava-se que a busca por parceiros provedores e companheiros persistiria mesmo quando a pressão reprodutiva teria cessado, enquanto que parceiros com "bons genes" seriam menos escolhidos.

Contudo, os resultados mostraram que nem todas as mulheres seguiram essa tendência completamente:

IDADE DO PARCEIRO. De acordo com a Teoria das Estratégias Sexuais (T.E.S), esperava-se que as mulheres escolhessem parceiros mais velhos que elas, o que não ocorreu. Cerca de metade de todas as mulheres em todos os subgrupos escolheram parceiros mais novos. Talvez por esse motivo, os atributos ATRATIVIDADE (Tabela 2) e DESEMPENHO SEXUAL (Figura 4) do parceiro foram bastante bem avaliados pelas respondentes em todos os grupos.

RENDA DO PARCEIRO. Encontrou-se nos subgrupos Clim <40, Clim >40 e Men <40 parceiros que ganhavam menos que as respondentes - cerca de metade deles. A outra metade das escolhas ocorreu conforme as previsões da T.E.S. Apenas 25% do subgrupo Men >40 apresentou resultados semelhantes. Isto é, 75% dos casos não são previstos pela T.E.S. Muito provavelmente, os resultados inesperados podem ser devido ao fato delas serem economicamente independentes e não estarem sob pressão reprodutiva para buscar parceiros com perfil de provedor. Por isso, parceiros mais jovens e com renda inferior a delas não deixaram de ser atraentes.

INSTRUÇÃO DO PARCEIRO. Assim, como a idade e renda, o grau de instrução sinaliza para a mulher o potencial do parceiro em adquirir recursos por si próprio e assim manter a família. Este atributo foi bastante evidenciado aqui.

Das características sinalizadoras de relacionamento duradouro, como Inteligência, Trabalhador, Companheirismo, Bom Humor, Amor e Respeito; amplamente idealizadas pelas mulheres algumas foram identificadas simultaneamente nos parceiros (Tabela 3). Isto é, houve coincidência do critério ideal com a escolha real. Perfis masculinos com essas características foram preferidos por mulheres mais jovens em outros estudos (BUSS e SCHMITT, 1993; BATTEN, 1995; FÉRES-CARNEIRO, 1997 e MATOS, FÉRESCARNEIRO e JABLONSKI, 2005) e por uma amostra de mulheres no climatério e menopausa (SADALA, 2005). Esses achados podem significar que elas abrem mão de um ou outro dos atributos no parceiro. Diferentemente de "Respeito" que teve um grande percentual de escolhas, um atributo expressivo do que elas pareceram abrir mão foi "Fidelidade". Poderse- ia dizer que a ausência de "Fidelidade" do parceiro não é excludente das características masculinas de manutenção do relacionamento e no investimento conjunto na prole, como já foi descrito em outras espécies (BATTEN, 1995; DIAMOND, 1999).

O percentual dos parceiros com "bons genes" (Beleza/Atração Física) foi baixo em todos os subgrupos. Além disso, a característica "Bom Desempenho Sexual" apresentou freqüências moderadas em quase todos os grupos e não pareceu ser um critério importante para selecionar um parceiro. Estes dados contrastam com a alta avaliação do desempenho sexual do parceiro e da satisfação com o próprio desempenho sexual. Seriam necessárias investigações pormenorizadas para identificar o porquê dessa contradição.

A exigência em termos de satisfação sexual como foi visto neste estudo, é muito esperada em relacionamentos de curto prazo, segundo a TES, e, portanto, não seria de se esperar que as respondentes procurassem por isso nos relacionamentos de longo prazo. Isso pode ser devido aos pesquisadores, principalmente os autores da T.E.S, estudarem exclusivamente mulheres jovens, do período reprodutivo. Possivelmente, por estarem sob pressão reprodutiva de escolherem parceiros provedores, as mulheres jovens, mesmo gozando de boa saúde e não apresentando os problemas derivados da menopausa, colocariam a satisfação sexual em segundo plano, diante de características como status social (renda e nível de instrução), inteligência e ambição do parceiro. Contrariamente, as mulheres climatéricas e menopausadas por apresentarem disfunções sexuais em maior grau que as mulheres jovens, seriam mais exigentes com relação à satisfação sexual, provavelmente buscando nos parceiros atraentes e com bom desempenho sexual meios de contornar esses problemas.

A satisfação sexual das respondentes climatéricas e menopausadas pareceu, portanto, ser um componente importante da sua sexualidade, sugerindo que nessa fase da vida, o sexo tem destaque em seus relacionamentos, como foi descrito por VASCONCELOS et al, (2004), em amostra de mulheres menopausadas brasileiras e portuguesas.

As previsões da T.E.S foram confirmadas parcialmente para alguns atributos dos parceiros escolhidos pelas mulheres no climatério e na menopausa. Os indicadores de status social do parceiro e de perfil de provedor foram menos ao encontro da previsão formulada com base em mulheres do período reprodutivo.

Possivelmente, para essas mulheres, as recentes condições de vida (maior longevidade, independência financeira) proporcionem maior variedade de estratégias sexuais. Porém, mesmo diferente das condições passadas, todas as mulheres ainda procuraram por parceiros amorosos que fossem companheiros, bem humorados, respeitadores e amorosos - características para relacionamentos de longo prazo.

Neste estudo, buscou-se também investigar uma possível distinção entre os critérios ideais e reais, levando em consideração que nem sempre os critérios preferidos (ideais) são os encontrados (reais) de fato. Grande parte da literatura sobre escolha de parceiros utiliza os critérios ideais de seleção, em detrimento da avaliação da escolha realizada. Por estas razões, preferiu-se trabalhar com ênfase nas características encontradas nos parceiros. Os resultados foram claros ao evidenciar que são muitas as mulheres cujos critérios ideais são encontrados no parceiro. Dessa forma, o real nem sempre é desvinculado do ideal. Tais achados levam à suposição, em primeiro lugar, de que os critérios ideais podem guiar a escolha real, e, em segundo lugar, que a não coincidência entre o ideal e real não reside na impossibilidade de evolução do ideal, mas de se encontrar na ontogênese um parceiro ideal. Daí elas abrirem mão de um ou outro atributo, mas não de todos os ideais.

Pesquisas mais aprofundadas poderiam investigar a concordância entre os atributos ideais e reais, em amostras mais amplas da população de mulheres, bem como procurar identificar o valor psicológico de ambos como percebidos por mulheres de todas as idades.

 

REFERÊNCIAS

ABDO, C. Descobrimento sexual do Brasil: para curiosos e estudiosos. São Paulo: Summus, 2004.         [ Links ]

BATTEN, M. Estratégias sexuais: Como as fêmeas escolhem seus parceiros. Tradução Raquel Mendes.Rio de Janeiro: Rosa dos ventos, 1995.         [ Links ]

BORRIONE, R. T. M., LORDELO, E. R. Escolha de parceiros e investimento parental: Uma perspectiva desenvolvimental. Interação em Psicologia, (Curitiba) Paraná, v. 9, n. 1, p. 35- 43, 2005         [ Links ]

BUSS, D, M., SCHMITT, D. P. Sexual Strategies Theory: An Evolutionary Perspective on Human Mating. Psychological Review, v. 100, p. 204-232, 1993.         [ Links ]

DIAMOND, J. Por que sexo é divertido?: A evolução da sexualidade humana. Tradução Talita Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.         [ Links ]

FÉRES-CARNEIRO, T. A escolha amorosa e interação conjugal na heterossexualidade e na homossexualidade. Psicologia Reflexão e Crítica, v. 10, n. 2, p.351-368, 1997.         [ Links ]

GANGESTAD, S., SIMPSON, J. A. The Evolution of human mateship: Choices and a strategic pluralism. Behavior and Brain Sciences, v. 23, p. 573-644, 2000.         [ Links ]

MATOS, M., FÉRES-CARNEIRO, T., JABLONSKI, B. Adolescência e relações amorosas: Um estudo sobre jovens das camadas populares cariocas. Interação em Psicologia, v. 9, n. 1, p. 21-31, 2005.         [ Links ]

SADALA, K. Y. Estudo dos critérios de eleição de parceria amorosa em mulheres de 40 a 60 anos de idade. Dissertação (Mestrado em Teoria e Pesquisa do Comportamento)- - Programa de Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará, Belém, Pa, 2005.         [ Links ]

VASCONCELOS, D. A sexualidade no processo de envelhecimento: Novas perspectivas – comparação transcultural. Estudos de Psicologia, v. 9, n. 3, p. 413-419, 2004.

ZAHAR, S. et al. Qualidade de vida em usuárias e não usuárias de terapia de reposição hormonal. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 51, n. 3, p. 133-138, 2005.         [ Links ]

 

Artigo recebido em 22 de outubro de 2009
Aceito para publicação em 01 dezembro de 2009

 

 

1 Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento/Núcleo Teoria e Pesquisa do Comportamento/Universidade Federal do Pará. e-mail: rcsb@uol.com.br
2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento/Núcleo Teoria e Pesquisa do Comportamento/Universidade Federal do Pará. E-mail: juniormsilva@yahoo.com
3 Professora Doutora do Núcleo Teoria e Pesquisa do Comportamento/Universidade Federal do Pará. e-mail: alda-lh@uol.com.br

Creative Commons License