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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.2 no.2 São Paulo  2010

 

RESENHA

 

Ingrid Bergma da Silva Oliveira1

Universidade Estadual do Pará

 

PIMENTEL, A.; OLIVEIRA, I. B. S.; ARAÚJO, L. S. (Orgs.). Pesquisas qualitativas em Terapia Ocupacional. Belém: Amazônia Editora, 2009

 

Este livro foi produzido, organizado e integrado por pesquisadores e profissionais brasileiros e da América Latina para compartilhar suas experiências visando ao aprimoramento educativo em relação aos delineamentos e procedimentos em pesquisa qualitativa.

Segundo dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), em 2009, existem 68 instituições de ensino superior habilitadas a dispor o curso de graduação em Terapia Ocupacional. No entanto, no Diretório dos Grupos de Pesquisas no Brasil (CNPQ), até a data de lançamento da obra, foram encontrados apenas 25 grupos de pesquisa credenciados e coordenados por terapeutas ocupacionais.

A Terapia Ocupacional, há muito deixou de ser técnica e caminha a passos cada vez mais largos rumo a um projeto científico próprio, observando um considerável amadurecimento quanto à qualidade das proposições teórico-metodológicas

Atualmente, a crescente diversidade das produções permite aos pesquisadores gerar conhecimentos interdisciplinares que articulam campos do saber como arte, filosofia, antropologia, psicologia, ciências sociais, etc., Tal prática aponta para uma mudança expressiva nos paradigmas que demarcam a produção de conhecimento, teórico e prático, em Terapia Ocupacional.

Nesse sentido, os autores demonstram que o ensino e a pesquisa rompem com a austeridade dos modelos positivista e médico que caracterizaram as primeiras produções em TO. Na contemporaneidade, o pós-modernismo contribui para a produção do conhecimento na medida em que permite que a desconstrução das metanarrativas se efetive. O pós-moderno privilegia a heterogeneidade e a diferença como pressupostas da pesquisa e da redefinição do discurso cultural (HARVEY, 2004, p. 19). Para os autores, tal panorama os encorajou a organizar a obra.

O livro é apresentado em duas partes. A primeira é chamada de fundamentos teóricos e metodológicos e a segunda de pesquisa e intervenção. No conjunto, a obra destaca a produção do conhecimento, posicionando-se em oposição à concepção de que a mesma seja o resultado de um encadeamento de “dados verificados”, mas do processo de construção que acompanha todos os seus momentos, por isso é um processo aberto, orientado a todo instante para formas mais complexas de compreender o fenômeno estudado. É uma forma de seguir, através da produção teórica, uma realidade em desenvolvimento em um momento conclusivo sobre uma realidade estática e a-histórica (GONZÁLEZ-REY, 1997).

Outro argumento utilizado pelos organizadores que justifica a estruturação da obra no campo da Terapia Ocupacional está relacionado ao objeto de estudo da profissão – a ocupação humana, pois, segundo os mesmos, as prerrogativas do objeto requerem métodos de investigações que se afinem com as suas qualidades. Ao ocupar-se, e ocupar-se com ou de alguma coisa, o ser humano preenche algo maior que o tempo. Preenche uma necessidade que, plenamente satisfeita, permite que este homem possa engajar-se em seus papeis ocupacionais de professor, médico, doméstica, aluno, pai, etc. Quando algo interfere nesse pleno engajamento, uma necessidade básica do ser humano deixa de ser contemplada, interferindo em seu bem-estar e por fim, em sua saúde física, psíquica e ocupacional.

O objetivo geral do livro é difundir a pesquisa qualitativa e social em Terapia Ocupacional, apresentando à sociedade acadêmica uma possibilidade metodológica em que o pesquisador assume sua condição de sujeito do conhecimento e o singular assume papel principal, baseado em um desenho metodológico que compreende a relação permanente entre investigador e sujeito estudado, em que as técnicas e instrumentos de investigação não representam uma via única e privilegiada para a construção do conhecimento, mas constituem mais uma, dentre a diversidade de fontes legítimas que contribuem nesse processo.

A obra contém textos de autores Terapeutas Ocupacionais e Psicólogos com profunda vinculação com a Terapia Ocupacional. Os relatos profissionais são diversos e abrangem experiências no campo da pesquisa latu e stricto sensu, vinculadas às Universidades Federal e Estadual do Pará (UFPA e UEPA), Universidade de São Paulo (USP), Universidade autônoma de Barcelona, na Espanha e à Escola de Terapia Ocupacional de Santiago, Chile. Os dois primeiros capítulos abordam reflexões e notas teóricas que transversalizam o delineamento metodológico, destacando os enfoques fenomenológico e o etnográfico. Os cinco capítulos seguintes são relatos de pesquisas de campo, desenvolvidas por terapeutas ocupacionais.

O livro é uma obra interdisciplinar. Os temas são diferentes e cada autor tem uma forma específica de abordá-lo. Ele propõe o diálogo. Esperamos que o leitor, ao lê-lo, não somente aprenda sobre os assuntos específicos tratados em cada capítulo, mas, seja capaz de ver como cada autor faz uso da interdisciplinaridade. O livro permite, ainda, que o próprio leitor entre em diálogo com cada autor e estabeleça um diálogo coletivo entre todos, contribuindo com suas reflexões e conhecimentos, o que resultará, certamente, em uma experiência de transformação.

 

 

1 Terapeuta Ocupacional. Mestre em Psicologia Clínica e Social. Docente do curso de Terapia Ocupacional da UEPA.

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