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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.3 no.1 São Paulo  2011

 

 

EDITORIAL

 

 

Este é um número especial dedicado integralmente a comunicar alguns dos contributos produzidos para o IX Fórum Brasileiro da Abordagem Centrada na Pessoa. A parceria entre o evento e a Revista do NUFEN celebra a transformação do procedimento de publicação do periódico que passou a integrar o portal PEPSIC e esta indexado na Rede LATINDEX e em breve será avaliado pela CAPES visando a qualificação e a pontuação no âmbito SOS periódicos de Psicologia. Para comungar conosco a edição especial convidamos o professor Emanuel Meireles para compor o editorial.

Passados quase 25 anos da morte de Rogers, o que pode a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) nos dias atuais? Que especificidades a ACP adquire no contexto brasileiro? Tentando responder a estas perguntas, a comissão organizadora do IX Fórum Brasileiro da ACP, realizado em Salvaterra, Ilha do Marajó – Pará, de 04 a 10 de setembro de 2010, decidiu introduzir uma novidade em relação às outras edições do evento: a publicação de trabalhos completos numa revista eletrônica. Optou-se, então, pela publicação na Revista do Núcleo de Pesquisas Fenomenológicas, vinculado à Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Pará e veiculado no portal PEPSIC, o que garante acesso universal às produções.

Acreditamos que a ACP passa por um momento ímpar no Brasil. É crescente o número de Mestres e Doutores vinculados à abordagem no país, a partir de vertentes diversas. Além disto, os periódicos nacionais, como a Revista do NUFEN, têm aberto espaço para a produção acadêmica das psicologias humanistas – aspecto tão criticado nas últimas décadas.

Será possível, nos trabalhos que se seguem, observar que as reflexões pautadas pela ACP publicadas neste volume nos mostram toda a vitalidade de um pensamento que se atualiza. Se Rogers não mais está vivo, suas ideias continuam inspirando iniciativas teóricas e práticas nos mais diversos campos de atuação. Assim, os textos aqui publicados passeiam por pesquisa, intervenção e reflexão teórica.

Em Uma análise crítica sobre técnicas de pesquisa fenomenológica utilizadas em Psicologia Clínica, Shirley Macedo e Marcus Caldas fundam-se numa fenomenologia husserliana para analisar pesquisa em psicologia clínica que adotem a Fenomenologia como referencial para suas pesquisas. O trabalho faz interessante levantamento sobre diferentes técnicas e sugere a intervenção do pesquisador como agente de transformação de realidades sociais.

Já em A aprendizagem em células cooperativas e a efetivação da aprendizagem significativa em sala de aula, Carmen Silvia Miranda, Marilia Barbosa e Talita de Moisés articulam a aprendizagem significativa, conceito caro à ACP, à experiência de aprendizagem em células cooperativa do Projeto de Educação em Células Cooperativas (PRECE). Desta forma, atualizam a importância do aprender de modo significativo a partir de uma experiência desenvolvida num projeto contextualizado no Nordeste brasileiro, abrindo novas possibilidades para se pensar a relação ensino-aprendizagem pela ACP.

Continuando os trabalhos publicados neste volume, Márcia Tassinari e Wagner Durange trazem reflexões sobre a atualidade da modalidade de atendimento plantão psicológico no texto Plantão Psicológico e sua inserção na contemporaneidade. Os autores ratificam este tipo de atendimento como ferramenta útil na lida contemporânea com o ser o humano e a sociedade de que faz parte.

Lucas Albertoni nos brinda com a ousadia de pensar uma questão discutida via de rega apenas na esfera da Psicanálise, qual seja, as atitudes transferenciais, a partir do texto As atitudes transferenciais e a ACP. No que pese o reconhecimento das diferenças entre ambas as teorias, o autor afirma a transferência como um processo intrínseco à relação terapêutica, bem como reconhece a importância de abrir o diálogo entre perspectivas diferentes como a psicanalíticas e a centrada na pessoa.

No âmbito da educação, Fernand Insfrán apresenta o artigo Grupos de reflexão na escola: contribuições da Abordagem Centrada na Pessoa para a Psicologia Escolar, resultado da tese de doutorado da autora e que propõe os grupos de reflexão como metodologia útil ao campo da psicologia escolar. O efeito deste grupo, ainda segundo a autora, seria uma mudança nas formas de relação na realidade institucional escolar e suas implicações na vida social como um todo.

Acerca do Plantão Psicológico, Cristina Rocha faz importante diferenciação deste em relação à triagem, no texto Plantão Psicológico e triagem: convergências e divergências. Para tanto, diferencia a triagem entre tradicional e interventiva, reconhecendo que a primeira proposta, por seu simples caráter de levantamento de demanda, se afastaria do plantão, enquanto que a segunda apresenta possibilidades de convergência.

Jaime Doxsey introduz relevante questão para o campo da pesquisa dentro da ACP. No artigo Ensaio sobre a conduta ética na Abordagem Centrada na Pessoa, o autor levanta bibliografia sobre a relação entre ética e ACP e contextualiza esta discussão quanto às referências nacionais de ética em pesquisa, refletindo sobre a importância dos eventos da Abordagem lidarem com esta questão.

Em Um olhar humanista da perversão, Bruno Cury e Vivaldi Salomon pensam uma categoria geralmente discutida na psicanálise, a partir da ACP. Para tanto, tomam por base a psicanálise, a psiquiatria clássica e reportagens atuais. Os autores ratificam a utilidade e importância de um olhar humanista sobre o tema da perversão, a partir da afirmação do cliente como um ser de possibilidades.

Amália Dias e Isadora Gomes trazem à baila o tema da criminalização do uso de drogas no artigo A criminalização do uso de drogas e a criminalização pelo uso de drogas – uma proposta de trabalho com dependentes químicos no contexto de um centro socioeducativo em Fortaleza, Ceará, a partir da experiência das autoras como psicólogas numa casa de privação de liberdade para adolescentes em conflito com a lei. As autoras apresentam sua intervenção pautada na valorização da vida, na redução de danos e na afirmação da dignidade humana.

Ainda no bojo das experiências práticas refletidas teoricamente, Márcia Tassinari, Anita Bacellar, Joana Rocha, Maira Flor e Lessandra Michel apresentam A inserção da Abordagem Centrada na Pessoa no contexto da saúde. As autoras discutem conceitos contemporâneos acerca da saúde e pensam, a partir destes conceitos, a inserção da ACP no serviço de psicologia ofertada por uma operadora de plano de saúde de Florianópolis – SC.

No esteio das reflexões sobre as possibilidades entre ACP e saúde, Bianca Nascimento e Airle Miranda apresentam o texto Plantão Psicológico no HUBFS – um experiência de assistência à comunidade. A partir de sua experiência, as autoras afirmam a importância do plantão num equipamento público como possibilidade diálogo da Universidade com a Sociedade. Além disto, apontam a experiência com plantão psicológico como relevante para o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento da Região Amazônica.

Sabemos, a partir da ACP, que a experiência é o crivo para a verificação de qualquer verdade. Por isto mesmo, convidamos a todos que leiam e discutam os trabalhos e que estes, mais do que fornecer verdades prontas, possam nos estimular a manter aquilo que a ACP tem de mais importante e original: a abertura à experiência em seu aspecto questionador de verdades prontas.

Aproveitem a leitura.

 

Adelma Pimentel – Editora geral
Lucivaldo Araújo – Editor Assistente
Emanuel Meireles – Editor convidado

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