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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.3 no.2 São Paulo dez. 2011

 

 

Violência urbana e cultura escolar: estudos das percepções dos atores sociais em uma escola pública em Ananideua - PA

 

Urban violence and school culture: study of the perceptions of social actors in a public school in Ananindeua - PA

 

Elisa Claudete Serrão de Souza1,

Faculdade de Castanhal Universidade Federal do Pará

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Atualmente, torna-se difícil diferenciar o que é violência escolar da não-escolar. O objeto aqui estudado foi a violência urbana e sua (inter) relação com a escola. Os sujeitos do estudo foram os professores, de uma escola pública de Ananindeua (Pará), cidade essa que apresenta elevada taxa de violência urbana envolvendo o público juvenil. O aporte teóricometodológico foi qualitativo, do tipo Estudo de Caso, onde se buscou analisar as percepções dos atores escolares acerca da violência urbana e sua mútua relação com a escola. Os resultados foram percepções que concebem a escola de modo isolado à realidade social do entorno. Logo, revelou-se uma visão fragmentada sobre a escola e sociedade.

Palavras-chave: Entorno; Violência urbana; Escola.


ABSTRACT

Currently, it is difficult to identify what is school violence from non-school. The object here was to study urban violence and their (inter) relationship with the school. The target of this study were teachers, technicians and employees of a public school in Ananindeua (Pará), this city that has a high rate of urban violence involving young audience. The theoretical and methodological approach was qualitative, adopting a case study, which sought to examine the perceptions of school actors about urban violence and their (mutual) relationship with the school. The results were perceptions that view the school in isolation from the surrounding social reality. Soon, it was revealed a fragmented view of the school and society.

Keywords: Environment; Urban Violence; School.


RESUMEN

En la actualidad, es difícil identificar lo que la violencia escolar no es la escuela. El objetivo aquí fue el estudio de la violencia urbana y la (inter) relación con la escuela. El público objetivo de este estudio fueron los profesores, técnicos y empleados de una escuela pública en Ananindeua (Pará), esta ciudad que tiene una alta tasa de violencia urbana que implica público joven. La calidad teórica y metodológica fue, como estudio de caso, que investiga las percepciones de los actores de la escuela sobre la violencia urbana y su (mutuo) relación con la escuela. Los resultados fueron la percepción de que la escuela de diseño de manera aislada a la realidad social del entorno. Pronto se puso de manifiesto una visión fragmentada de la escuela y la sociedad.

Palabras-clave: Alrededores; Violencia urbana; Escuela.


 

 

INTRODUÇÃO

O convívio social nas cidades está, cada vez mais, sendo marcado por um aspecto fortemente influenciador nas relações sociais: a violência urbana que invade espaços ou instituições sociais, outrora considerados, "imunes" a essa violência, como é o caso, por exemplo, da instituição escola. Cabe lembrar que, ao longo de sua história, nessa instituição, foram praticadas muitas formas de violência, inclusive aceitas como formas válidas de ensino, tais como castigos físicos e torturas psicológicas.

Especialmente a escola pública sofre com muitas demandas sociais reprimidas, advindas de seu entorno social, e, acredita-se que exista uma carência de estudos mais direcionados ao tema violência urbana na escola. O que mais se notam são pesquisas feitas sobre as violências "da escola", ou seja, aquelas referentes ao seu próprio convívio (conflitos) social. Logo, de modo geral, as percepções de atores escolares (professores/gestores, alunos, pais e técnicos/funcionários) sobre a violência urbana, enquanto interface entre cidade e escola, ainda são pouco exploradas no cenário científico.

Na realidade argumentar sobre a(s) violência(s) na escola não se traduz em fácil tarefa. É justamente diante dessa situação que despontam as percepções acerca da(s) violência(s) na escola, objeto de pesquisa, relatada neste artigo.

Assim, o objetivo geral proposto foi analisar as percepções dos atores escolares no que se refere à violência urbana refletida na escola. Não existiu, portanto, a preocupação em conceituar exatamente o termo violência urbana.

Acreditou-se que para os atores escolares, envolvidos na pesquisa, a oportunidade de participarem, refletindo e expondo suas percepções sobre a violência urbana, que assola as escolas, vem sensibilizá-los quanto ao exercício de cidadania, mostrando-lhes a importância que cada um desses tem na escola e na cidade onde vivem.

Partiu-se da hipótese que alguns atores sociais da comunidade escolar (Gestores/professores, alunos, funcionários e pais/responsáveis), especialmente os de escolas públicas, situadas em áreas cujos serviços públicos e infraestrutura urbana são precários, percebem as manifestações da violência urbana na escola de forma unilateral, sem conseguir, satisfatoriamente, relacionar os aspectos intrínsecos da escola (seus dilemas de relacionamentos sociais, de estrutura física, etc.) aos de seu entorno. A possível explicação para isso seria a forte tendência à culpabilização do entorno pelas manifestações de violência urbana, especialmente da criminalidade, na escola. Assim, nota-se uma desconexão entre o mundo econômico, político e social do mundo pedagógico, por grande parte desses atores.

A escolha pelo tema foi resultado de algumas inquietações que tínhamos como pedagoga e membro de um grupo de pesquisa, Observatório de Violências nas Escolas (Núcleo Pará) da Universidade da Amazônia (UNAMA). Nesse sentido essa pesquisa se configura como mais uma produção científica ligada às linhas de pesquisa observatório.

Através de vivências acadêmicas nesse grupo foi possível estudar as múltiplas violências nas escolas, relacionando-as como aspectos familiares, políticos, econômicos, dentre outros. No ano de 2008, esse mesmo observatório, através de um processo licitatório, realizou uma grande pesquisa investigativa, a qual visou traçar um perfil da violência em Ananindeua. Esse trabalho serviu, principalmente, para subsidiar a elaboração do Plano Municipal de Segurança Pública do Município de Ananindeua.

Especificamente, visou-se comparar as percepções desses atores escolares sobre as manifestações de violência urbana na escola e a respectiva interface desse fenômeno com aspectos sociais, específicos de seu entorno; analisar, dentre os aspectos identificados nas percepções dos diferentes atores do processo, os que mais se relacionavam à violência urbana existente nesse entorno, além de analisar seus respectivos reflexos na ambientação escolar.

Mediante os objetivos desse estudo, do ponto de vista da abordagem qualitativa, optou-se em realizar um Estudo de Caso.

Para Miles e Hubeman (1994) a utilização da abordagem qualitativa, além de oferecer descrições ricas sobre uma realidade específica, ajuda o pesquisador a superar concepções iniciais e a gerar ou revisar as estruturas teóricas adotadas anteriormente, oferecendo base para descrições e explicações muito ricas de contextos específicos.

Logo, compreende-se que o objeto da presente pesquisa pode ser bem explorado em razão de estar focalizando uma realidade específica, ou seja, em um ambiente escolar.

O Estudo de Caso tem se tornado a estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões "como" e "por que", certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real. [...] A divergência e os conflitos, tão característicos da situação social, devem estar presentes no estudo (GODOY, 1995, p. 25-26).

Após a identificação do objeto de estudo, algumas tomadas de decisões foram necessárias. Uma delas foi a escolha do local da pesquisa, que se deu em Ananindeua, cidade vizinha à Belém (Pará), com uma população estimada em 505.512 habitantes (IBGE, 2007).

Fundada na década de 80, veio acompanhando e sofrendo as influências do crescimento populacional e dos dilemas sociais, oriundos da expansão urbana (desordenada) ocorrida na região metropolitana de Belém, da qual é integrante.

A pesquisa ocorreu numa escola pública estadual, de Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), cujo entorno é considerado de "fronteira", ou seja, entre zonas bem urbanizadas e outras de assentamentos precários, ambas com episódios constantes de violência urbana. Nessa escola as aulas acontecem em todos os turnos, exceto a EJA que ocorre apenas no turno da noite.

As informações resultantes das entrevistas com os grupos focais e do registro de observações in loco passaram por análise depois do estágio de coleta de dados. A técnica empregada para essa codificação e análise dos dados foi a Análise de Conteúdo. A Análise de Conteúdo designa, segundo Bardin (2009, p. 57) "um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos, objetivos de descrição do conteúdo, das mensagens, indicadores (quantitativos ou não)".

O arcabouço teórico-conceitual foi utilizado para a compreensão dos elementos que produzem a interface entre a realidade de escola estudada e a cidade de Ananindeua, relacionando-os com as possíveis consequências no contexto escolar.

CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO

Muitos dos dilemas urbanos em Ananindeua, decorrentes de seu respectivo processo de expansão urbana desordenada, necessitam ser mais bem analisados e relacionados entre si, pois esses irão influenciar direta ou indiretamente na situação existente de violência urbana.

O processo de expansão e transformação do espaço urbano de Ananindeua teve seu período marcante em conformidade ao da região metropolitana, da qual faz parte.

Entre a década de 60 e o final da década de 70 a cidade de Belém viveu uma produção do espaço urbano muito intensa, que influenciou o crescimento, não só da cidade, como também, consequentemente sua região metropolitana, com destaque para o município de Ananindeua, que faz fronteira a leste de Belém. Ananindeua recebeu um grande contingente populacional, em sua maioria, de baixa renda, que foi direcionado pelas políticas públicas do final da década de 70 (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2002, p.1).

Ananindeua, então, acompanhou e recebeu os estímulos da capital (Belém) e, até os dias atuais vem crescendo de modo acelerado. À medida que o deslocamento dos fluxos migratórios se volta da capital às outras localidades da região metropolitana, especialmente Ananindeua, os resultados são problemas de ordem social e urbanística, destacando-se aí, a violência urbana.

O município de Ananindeua está enquadrado sob o ponto de vista populacional como um município médio (até 500 mil hab.). Segundo dados do IBGE, os municípios considerados médios vêm apresentando um crescimento, ou seja, enquanto as metrópoles e cidades grandes (acima de 500 mil hab) tiveram um decréscimo no PIB nacional, entre 2002 e 2007, as pequenas (até 100 mil hab.) ampliaram sutilmente, e as cidades médias tiveram o melhor desempenho. Portanto, apesar de haver este resultado nacional no índice de emprego e renda, constatou-se através desta pesquisa, que Ananindeua não vem apresentando estas evidencias, já que há um baixo índice de escolaridade e de empregos com carteira assinada no município e a maioria da população está inserida na faixa de renda inferior, considerada pobre (PONTES, 2009, p. 20).

Um dado interessante sobre a dinâmica populacional de Ananindeua é que no início da década de 1990 a população rural representava a maioria dos habitantes, 175.597 dos 244.442 habitantes da cidade. Já no final da década – em 2000 – essa realidade mudou: a população urbana saltou de 68.846, em 1991, para 392.627 habitantes. Em 2008, essa cidade possuía segundo dados do IBGE (2007), uma população estimada em 484.278 habitantes, o que indica um crescimento vertiginoso, em quase 20 anos.

Ressalte-se que de acordo com a mesma fonte, a cidade não possui bairros oficiais, portanto, foram criadas áreas, de acordo com os setores censitários. Existe uma elevada demanda social reprimida por serviços de infraestrutura básica, geração de emprego e renda, serviços públicos, moradia, dentre outros, o que, certamente, acaba contribuindo para o aumento da violência urbana.

Trazer essa discussão para o ambiente da escola, especialmente a escola pública, não se traduz em tarefa fácil. A instalação dessa importante instituição social, em algumas áreas de Ananindeua, foi, muitas vezes, motivo de reivindicações e embates populares junto ao Poder Público. Isso se deve, principalmente, conforme já foi mencionado, ao processo de expansão urbana e crescimento populacional, que foram rápidos e sem planejamento.

Assim, diante dos problemas urbanos que se espalham pelas grandes cidades, os quais contribuem para o aumento da violência urbana, extrapolando "muros" e invadindo instituições sociais, como é o caso da escola, nasceu o desejo de investigar essa realidade, concentrando o olhar da pesquisa na cidade de Ananindeua.

Pesquisas realizadas recentemente trazem resultados alarmantes sobre a cidade de Ananindeua. Nos últimos cinco anos, especificamente, foi constatado que as taxas de violência(s), principalmente em termos de criminalidades, cresceram muito, especialmente entre (contra) os jovens (no faixa dos15 aos 24 anos). Esse fato não é somente em Ananindeua, mas em muitas cidades brasileiras, de médio a grande porte (WAISELFISZ, 2010).

Quase metade das mortes entre jovens é causada pela violência. Homicídios são causa de 45% dos óbitos de pessoas com idade entre 12 e 18 anos. Os dados aparecem no relatório da Unicef que baseia o cálculo do IHA, o Índice de Homicídios na Adolescência – um ranking da violência contra jovens nas cidades brasileiras organizado pelo Laboratório de Análise da Violência ligado à Universidade do Rio de Janeiro (UERJ) e atualizado pela última vez em 2009. Nele Ananindeua aparece como o segundo município paraense com maior IHA, atrás apenas de Marabá, que figura entre as 20 mais violentas (PIMENTEL, 2010, p. 9).

Um estudo realizado pelo Observatório de Violências nas Escolas – Núcleo do Estado do Pará (UNAMA), em 2008, intitulado "Perfil preliminar sobre a violência no município de Ananindeua", revelou que a violência urbana vem aumentando consideravelmente nessa cidade e que, segundo a opinião dos entrevistados (moradores, comerciantes, dentre outros atores sociais de Ananindeua), a maioria dos atos de violência urbana é praticada por jovens (entre 15 a 24 anos).

Um dado preocupante indica que, segundo a opinião dos entrevistados, a maioria dos assaltantes é adolescente (83,4%). Ressalve-se que esta visão não coincide necessariamente com a realidade, já que existe uma forte propaganda midiática quanto à impunidade dos adolescentes, que pode ter influenciado esta opinião. Mas sem dúvida que este dado denota o quanto é preciso investir em políticas públicas junto ao segmento jovem (PONTES, 2009, p. 31).

Logo, pode-se fazer um paralelo de que a escola está diretamente envolvida nesse quadro preocupante, pois esta também se configura como um espaço de manifestações de violências, inclusive aquelas que antes eram consideradas apenas "externas à escola", a exemplo do tráfico de drogas, roubos e, até mesmo, homicídios.

O Pará ocupava, em 1997, a 20º posição entre as taxas de homicídios (em 100.000 habitantes) e, em 2007, obteve um enorme crescimento, subindo para a 7º posição, entre os Estados brasileiros. Já a capital Belém ocupava em 1997 a 19º posição, no ordenamento das capitais por taxas de homicídio (em 100.000 habitantes) mas, em 2007, decresceu para a 16º colocação, seguindo, então, a lógica da "migração da violência" para áreas periféricas. Em contrapartida, Ananindeua apresentou um crescimento de 48,1%, segundo o número e taxas médias de homicídio (em 100.000) na população total dos municípios brasileiros, entre 2003 e 2007, ocupando assim a posição 163º entre os municípios da federação (WAISELFISZ, 2008).

As taxas de desigualdade social também se incluem como fatores tensionadores das relações sociais, criando vulnerabilidades através das quais se dá a ação da criminalidade junto às instituições e grupos sociais, como, por exemplo, as famílias, escolas e em particular à juventude.

De acordo com Pontes, Cruz e Melo (2009, p. 37), "no Brasil há uma elevação no número de óbitos de jovens vitimados por arma de fogo. Ananindeua espelha o crescimento dos grandes centros urbanos, pouca estrutura da cidade precarizando o desenvolvimento de seus habitantes".

Dados, como os acima citados, são preocupantes, pois Ananindeua, apesar de ter menos de 100 anos de emancipação, apresenta uma situação delicada, semelhante a de muitos centros urbanos, em termos de violência urbana, especialmente, à criminalidade.

O fato é que, geralmente, nas escolas onde há violência urbana, coincide o fato de estarem localizadas onde os equipamentos e serviços públicos são precários. Outra questão de grande relevância é presença de jovens envolvidos em práticas de violência, e sendo por elas vitimados, o que contribui para que a escola seja tida também como um espaço de "risco" e de combate a essa situação.

Conforme já indicado [...] há predominância de adolescentes (83,4%). Mesmo que no formulário não estivesse posto o sexo dos assaltantes, no contexto da entrevista foi evidenciado que a maioria é do sexo masculino. Trata-se de um cenário que nos leva a pensar na urgência de medidas preventivas que envolvam a família, a escola e o bairro através de políticas públicas integradas. (PONTES; CRUZ; MELO, 2007, p.41)

A citação acima foi mais um trecho referente à pesquisa do Observatório de Violências nas Escolas, a qual reafirma a urgência de ações integradas, incluindo-se aí, a escola. Ainda sobre dados apresentados por esse Observatório, têm-se as seguintes informações:

Uma das violências que não se pode deixar de considerar é a violência nas escolas. [...] a agressão física é a categoria mais indicada pelos entrevistados com 18,3% das indicações, seguido do furto (17%) e violência no entorno (13,6%). Essas categorias se destacam quanto aos tipos de violência mais frequentes nas escolas do município de Ananindeua (Idem, p. 46).

Essa violência do entorno foi associada, principalmente, ao tráfico de drogas existente no entorno das escolas, dilema que exige muito esforço do Poder Público em combatê-lo.

Não se configura como preocupação, no presente trabalho, abordar assuntos como policiamento e políticas de segurança pública. Todavia vale destacar que, em 2009, foi lançado o plano municipal de segurança de Ananindeua, o qual prevê inúmeras estratégias de enfrentamento às violências, inclusive à violência urbana na escola.

Essa preocupação do Poder Público não é sem fundamento. Na Região Metropolitana de Belém (RMB), só nos três primeiros meses de 2010, registrou-se 35 latrocínios (roubos seguidos de mortes), contra 29, em 2009, no mesmo período (PIMENTEL, 2010).

A impunidade é outro fator marcante nessa discussão acerca da violência urbana (não somente a ela) na RMB. De acordo com Pinheiro (2009, p. 12), "só nos últimos dois anos, cerca de 190 mil crimes, muitos deles considerados violentos, ficaram impunes [...] Os números foram obtidos junto á Polícia Civil e ao Tribunal de Justiça do Estado (TJE)".

O medo de represálias de bandidos e o descrédito na justiça (inclusive nas polícias) faz com que muitos cidadãos de Ananindeua, não denunciem as violências que sofrem. Nas escolas essa realidade não é diferente, especialmente àquelas localizadas emáreas onde o tráfico de drogas é marcante.

Dentro desse contexto, tudo indica que a situação tende a piorar. Segundo a Polícia Civil do Pará "entre 2005 e 2006, os crimes violentos cresceram 6,26%. De 2006 para 2007, 18,56%. E de 2007 para 2008, simplesmente explodiram: o incremento ficou em impressionantes 38,16%" (PINHEIRO, 2009, p. 12).

Não se está aqui declarando culpa a nenhuma instituição pública (polícia, por exemplo), mas apenas apresentando fatos que, ainda se fazem presentes e são extremamente influenciadores do convívio social, especialmente nas escolas.

 

METODOLOGIA

Neste estudo, a escolha da escola foi pautada em cinco critérios, sendo os dois primeiros direcionados pelos objetivos da pesquisa: (1) possuir localização de "fronteira" (entre áreas urbanas que apresentam perfis de urbanização peculiares); (2) possuir entorno (social) com elevados índices de violência (s) urbana (s); e (3) atender apenas ao público jovem (entre 15 a 24 anos) e (4) ofertar Ensino Médio e EJA. O quinto critério referia-se à concordância da escola em participar da pesquisa.

O universo da pesquisa foi constituído, inicialmente, pelos grupos de atores escolares (Gestores/professores, alunos -de Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos-, funcionários e pais/responsáveis).

Apesar da pesquisa ser qualitativa, estimou-se que a amostra deveria ser de no máximo 40 (quarenta) informantes, dentro de um universo em torno de 500 (alunos, professores, pais, funcionários e direção). Entretanto houve um período de greve na Secretaria de Educação, da qual a escola em questão está vinculada (aproximadamente dois meses), o que acabou por atrapalhar o desenvolvimento das entrevistas com grande parte desses atores. Antes dessa greve já haviam sido realizadas entrevistas com os alguns professores e gestores, todavia não sendo possível fazê-las com os demais (alunos, pais/responsáveis e equipe pedagógica). Logo, optou-se por concentrar as análises nos conteúdos informados apenas pelos dois grupos entrevistados até então.

A amostra foi feita seguindo os princípios de amostragem não probabilística, do tipo intencional. Nesse tipo de seleção de amostra, os princípios estatísticos são dispensáveis, e sendo essa de caráter intencional "o pesquisador está interessado na opinião (ação, intenção, etc.) de determinados elementos da população, mas não representativos dela" (LAKATOS, 1999, p.54). As variáveis, relativas à amostra, seriam o turno, sexo e cargo ou função na escola. Todavia levou-se em consideração apenas o turno e o cargo/função na escola.

Ressaltando o fato de a pesquisa em questão ter se configurado em um estudo de caso, os procedimentos de coletas de informações foram implementados através da técnica do grupo focal e observação in loco. A primeira consistia em adquirir informações rápidas dos participantes e com ampla variedade de opiniões (SEVERINO, 2000).

A observação in loco serviu para obter informações sobre as características peculiares da escola e de seu entorno, tanto no que se referem às relações sociais presentes quanto aos aspectos de infraestrutura. "O conteúdo das observações geralmente envolve uma parte descritiva do que ocorre no campo e uma parte reflexiva, que inclui os comentários pessoais do próprio pesquisador durante a coleta de dados" (GODOY, 1995 p. 26).

Para tanto, também foi elaborado um roteiro prévio de observação. Houveram registros visuais obtidos por máquina fotográfica digital, respeitando-se o anonimato dos participantes da pesquisa.

Na escola realizou-se uma reunião com todas as professoras e com a presença das gestoras (diretora e vice). Nessa reunião, foram expostos os objetivos, os procedimentos e a relevância do trabalho. Ao final, solicitou-se a anuência de todos os participantes no referido trabalho.

A entrevista inicial contou com participação total de todos os atores escolares envolvidos, em número de 15 (quinze), para a coleta de dados pessoais e profissionais e para uma maior aproximação entre pesquisador e entrevistados.

Participaram 13 professores, juntamente com a diretora e vice. A faixa etária dos sujeitos foi em média de 35 anos e nível socioeconômico de "classe média" (considerando-se o bairro de residência e a classificação feita pelas próprios professores). Todos possuíam cursos de licenciaturas em variadas áreas de conhecimento, exercendo a docência há 10 anos em média.

A Coleta de dados realizada na reunião, utilizou a técnica do Grupo Focal, na qual seguiu-se um roteiro, previamente elaborado, com 05 questões abertas que abordavam vários aspectos da violência urbana, escola e seu entorno. Estas entrevistas foram gravadas em MP3, realizadas nas dependências da escola, em data e horário marcados pela direção.

As observações foram realizadas anteriormente à reunião com o Grupo Focal. O período de observação in loco foi na primeira quinzena do mês de maio (2010) e o Grupo Focal foi realizado na segunda quinzena.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS

No entorno da escola, ou seja, em seus arredores foram observados os seguintes aspectos: a) quanto ao espaço físico: o estado de conservação e o grau de limpeza; presença ou não de pichações nas paredes e nos muros; se existem grades em janelas, prtas, dentre outros; se há espaço adequado para a prática de educação física ou lazer e como são os banheiros e demais instalações físicas; e b) sobre o contexto escolar: o controle de entrada e saída na escola; se existe policiamento na escola; se são perceptíveis as agressões físicas ou verbais entre os atores escolares; o tipo e o grau de relacionamento entre professores e estudantes.

Em termos de resultados da pesquisa, pode-se dizer que ao se questionar, no Grupo Focal, acerca da situação de violência(s) na escola, todos foram unânimes ao relatarem que a escola é "muito violenta" e que a violência "de fora" está, cada vez mais, invadindo o interior da escola. Alguns atores disseram ainda que, muitas vezes, se sentem "desmotivados em trabalhar na referida escola", por sentirem "medo" de conviver nesse "clima de violência". Alguns depoimentos foram enfáticos, como o a seguir:

A gente percebe que aqui na escola tem muitos crimes acontecendo...roubos, assaltos, insultos a professores dentro de sala...mas o pior é o tráfico de drogas. Esse tráfico faz a ligação entre a violência da rua com a escola! Aqui a polícia não vem. Também, o que se pode fazer se o problema vem de casa, da rua...eles trazem a violência pra escola (Grupo focal – Professor A, informação verbal).

Nesse depoimento fica nítida a redução da violência urbana apenas à criminalidade, especialmente a do tráfico de drogas. Assim, quando o assunto é crime, muitos pensam logo em resolução através da repressão policial e da punição judicial.

Vejamos outros depoimentos:

As vezes a gente desconfia que o aluno tá armado em sala de aula, aliás tentando esconder arma né. Os pais deles não acreditam quando a escola tenta conversar e contar o que acontece. Muitos desses pais são ausentes e a escola paga o alto preço com tantos atos violentos, por culpa desses problemas de fora. (Grupo focal – professor B, informação verbal).

Falas como essas se repetiram constantemente durante a reunião. A maioria informou que considera a escola violenta e que tem medo de estar nela. Ao se perguntar de que forma o entorno contribui ou influencia para as manifestações de violência na escola houve uma divisão nas opiniões relatadas: alguns disseram que o entorno da escola é o grande "causador" da situação de violência urbana na escola, ou seja, que a presença de bares, lans houses, especialmente do tráfico de drogas "facilitam" a "entrada" da violência urbana na escola.

Outra parcela dos entrevistados disse que o entorno não é o "culpado" pela violência urbana na escola, mas sim apenas um "espelho" das violências "surgidas na escola". Isso significa que as situações mal-resolvidas de conflitos da "própria escola", acabam por se refletir no "meio externo", através de violências, inclusive a dita violência urbana (entenda-se aqui por entorno).

Eu não acho que os problemas da rua, ou seja, de fora, causem a entrada da criminalidade na escola. Isso se dá porque é uma questão da cultura de cada um. Eu, por exemplo, posso morar num bairro violento, mas nem por isso, eu serei violento. (Grupo focal – Professor C, informação verbal).

Nesse caso, pouco importa então se existem situações ou fatores no entorno que possam vir a favorecer ou estimular a violência urbana. Acredita-se aqui que dependerá "da escola" ou, até mesmo "da família dos alunos", educar e "resolver" os conflitos existentes.

A outra indagação feita foi sobre as manifestações de violência urbana, presentes no entorno, que mais ocorrem dentro da escola. Novamente houve divergência de opiniões. A maioria respondeu que o tráfico de drogas continua sendo o "grande vilão" do entorno para dentro da escola.

Com certeza as drogas interferem na situação de violência na escola, porque os traficantes do bairro já vêem a escola como um mercado certo. Eles devem ver a escola como um grande palco para o comércio deles. (Grupo focal – Professor D, informação verbal).

Esse aspecto de violência urbana, segundo disseram, "afeta" as relações sociais da escola, de tal modo que os professores têm "medo" de intimidar alguns alunos pelo fato destes serem "envolvidos com drogas". Esse grupo de entrevistados também citou a grande quantidade de furtos a objetos da própria escola (computador e data-show), ocorridos ainda naquele ano, além de presença de grupos rivais de alunos que provocam episódios de brigas no interior da escola, esporadicamente. Esse grupo sempre relacionou violência urbana como sinônima apenas de criminalidade.

Outros informantes (em menor número) disseram que pouco percebem violência urbana na escola e sim, mais conflitos da própria relação professor-aluno, ou seja, é a "violência da escola". Entretanto esses mesmos profissionais reconhecem que por passarem pouco tempo na escola, além de estarem trabalhando recentemente nela, ainda não se familiarizaram com a sua respectiva rotina.

A última questão e também mais polêmica refere-se a de que forma o "clima" escolar (relações sociais) é afetado diante das manifestações de violência urbana (do entorno) na escola. Vale ressaltar que fora explicado, aos atores envolvidos na pesquisa, o que significa a expressão "clima escolar", conforme o referencial teórico aqui adotado. Posteriormente, a maioria respondeu que o "clima" escolar é muito prejudicado devido ao "medo" da violência urbana existente na escola, advinda "de fora".

Pra mim o clima na escola é tenso porque tenho medo de sair daqui e ser assaltada, mas aqui dentro mesmo eu posso ser. Vocês estão vendo na TV os atos violentos nas escolas do Brasil né?. Isso pode ocorrer aqui. O crime entra na escola com muita facilidade hoje em dia (Grupo focal – professor, informação verbal).

Esse medo atrapalha as relações de convívio entre os atores, especialmente entre "professores e alunos". Segundo os relatos, tanto "a direção, quanto os professores não podem fazer quase nada diante da violência que os alunos trazem". Esse relato chamou a atenção por apontar a ideia de que a maioria dos entrevistados entendem os alunos como os "culpados" pela violência urbana se manifestar na escola. Alegou-se que os alunos, por já "trazerem" hábitos "criminosos" para escola, acabam por gerar toda uma instabilidade na "convivência escolar".

Vale ressaltar que a escola em questão, visando a melhoria, não somente do processo de ensino-aprendizagem, mas também de seu "clima" escolar, vem desenvolvendo atividades voltadas a maior integração de seus atores, inclusive junto à comunidade externa.

Ações como a do projeto "Amigos da Biblioteca", são exemplos de que a escola "abre suas portas" e oferece serviços à comunidade em geral. Esse projeto teve início no mês de junho (2010), com ampla participação, tanto da comunidade escolar quanto do entorno.

Partindo-se, então, para a descrição das observações in loco, valorizou-se os (1) aspectos de ordem infraestrutural do entorno da escola (predominância e tipos de casas ou edifícios, ruas asfaltadas ou não, iluminação pública, terrenos baldios, presença de bares, casa de jogos, etc.); e (2) aspectos relativos à escola, em relação ao seu espaço físico (estado de conservação e o grau de limpeza, presença de pichações nas paredes e nos muros; mural ou quadro de avisos; de grades em portas de salas de aula, de secretarias, diretoria, nas janelas; situação do espaço para a prática de educação física ou lazer, etc.). Além disso, aspectos de relações sociais também foram observados.

Inicialmente, em relação ao entorno da escola, podemos destacar que existe uma preocupação notória dos moradores em se protegerem da violência urbana.

Durante essa fase da observação ficou nítido que o medo da violência urbana, é utilizado como argumento para a tomada de atitudes da população, mesmo que essas venham a gerar certos impasses com a ordem pública, como o ato de "fechar a rua", impedindo, assim, a livre circulação de pessoas, por exemplo.

Apesar de o entorno da escola estudada ser, em geral, bem urbanizado (presença de ruas asfaltadas, iluminação pública, esgotamento sanitário presente, etc.), além do grande dilema do medo da violência, representando pelo "isolamento" de vias públicas, nota-se também esse aspecto se refletindo nas residências e estabelecimentos comerciais.

Existe ainda um posto policial há dois quarteirões da escola. Todavia, os moradores não deixam de realizar ações particulares de proteção e possível enfrentamento da violência urbana.

Em relação ao processo de observação na escola, referente a seu espaço físico, notou-se a presença de pichações (violência ao patrimônio) em grande parte das instalações. A escola vem passando por reformas em suas instalações físicas, porém ainda restam muitas a serem feitas, o que permite ainda perceber o quanto ainda existe de violência contra o patrimônio, como é o caso, por exemplo, dessas pichações, arrombamentos de portas e janelas, destruição de carteiras, dentre outras.

Além dessa situação de violência ao patrimônio da escola existe também a falta de manutenção de espaços importantes nessa instituição. A exemplo temos a área de lazer, a qual possui como finalidade, a prática de atividades físicas dos alunos.

Observou-se que os alunos desenvolvem suas atividades de lazer (educação física), na parte destinada à alimentação (em frente á cantina da escola), a qual também passa por reformas.

Outro fator preocupante é que o muro que circunda a escola é muito baixo e com precária vigilância. A parte (interna) de trás da escola está cheia de plantas agrestes sem cuidado, o que pode vir a facilitar a entrada de ladrões, por exemplo.

Mesmo existindo iluminação pública no entorno escolar, pelo fato de existir muito tráfico de drogas, assalto à mão armada, dentre outros, a infraestrutura da escola a torna vulnerável diante dessas violências existentes no entorno.

Vale também dizer que a observação na escola foi um processo extremamente delicado, pois a própria equipe de profissionais da escola recomendou extrema discrição para não "chamar a atenção" de alunos envolvidos com furtos, tráfico de drogas, brigas e etc.

A sensação que se teve foi a de existir mais segurança na "rua" do que dentro da escola.

Pouco se conseguiu registrar dentro da escola, pois, como já mencionado anteriormente, alguns alunos, envolvidos com episódios de violência urbana, já estavam percebendo a presença da equipe de pesquisadores e isso já causava receio na direção. A referida equipe de pesquisadores recebeu até mesmo um bilhete anônimo com a seguinte ameaça: "odeio x-9".

Através das observações, também, foi possível perceber que o clima escolar, ou seja, as relações sociais na escola estavam perpassadas pelo medo da violência, especialmente do consumo de drogas que ocorre dentro e no entorno da escola.

Alguns alunos, independentemente do turno, relacionam-se de modo agressivo, através do uso de "palavrões", além de constantes brigas no interior da escola. Essas brigas são motivadas por várias causas, principalmente por disputa entre grupos rivais por consumo de drogas.

Até o final das observações não foi registrado a presença de policiais na escola e nem no entorno, apesar de existir um posto policial às suas proximidades.

 

CONCLUSÕES

Os dilemas sociais vivenciados nas grandes cidades, como é o caso do aumento da criminalidade (uma das facetas da violência urbana), são, muitas vezes, reflexos da insuficiência de políticas públicas, estas que deveriam visar a maior igualdade social. Desse modo, a sociedade, por meio de suas instituições, tal como a escola pública, pode e deve fazer parte de um processo de educação e enfrentamento dos problemas coletivos.

Entretanto, embora a violência entre jovens e nas escolas tenha crescido como campo de interesse analítico, há observância da não priorização por parte do Estado Brasileiro em garantir os direitos sociais e civis consagrados na Constituição Federal de 1988: não ocorreram processos capazes de fortalecer um campo institucional de negociação de interesses e nem que levassem à consolidação de grupos e categorias sociais vulneráveis – como os jovens – como protagonistas políticos (CARA; GAUTO, 2007 apud ABRAMOVAY; CUNHA; CALAF, 2009, p. 18).

Assim como em muitas cidades brasileiras, Ananindeua também vem apresentando uma crescente participação de seus jovens em episódios de violência urbana, especialmente nos últimos dez anos.

Com a finalização da pesquisa, a percepção é que se conseguiu responder aos problemas da mesma, cumprir os objetivos e confirmar a hipótese, com os resultados dando uma mostra de como a escola estudada tem seu clima (suas relações sociais) afetadas pela violência urbana, advinda, principalmente, do entorno.

O que se observou a partir das análises realizadas é que ainda há uma tendência de se atribuir culpa pela situação de violência (s) na escola, a variados segmentos sociais, mas, na maioria dos casos, os alunos são considerados responsáveis pela "conduta violenta" na escola.

Essa confirmação acerca da culpabilização dos alunos, bem como dos dilemas sociais do entorno (precários serviços públicos, por exemplo) são considerados causadores da violência na escola pelos entrevistados (importante destacar que somente os professores foram ouvidos).

Isso vem ao encontro dos dados gerais no Brasil, que apontam, cada vez mais, a participação dos jovens, em aspectos de violência urbana. Esse fenômeno é conhecido por "juvenilização da violência" (SPOSATO, 2001). Entretanto, deve-se ter cuidado ao abordar a temática dos jovens e a violência, pois existe uma forte tendência ideológica de se atribuir aos jovens a total culpa pela situação de violência existente. Na realidade, os jovens estão, cada vez mais, sendo vítimas do que algozes nesse processo.

Como já foi apresentado neste trabalho, Ananindeua (Pará), nas últimas décadas, teve seu rápido e desordenado processo de expansão urbana, o que trouxe à população residente, episódios cada vez mais constantes de violência urbana, envolvendo, cada vez mais, o público jovem.

A enorme demanda por serviços públicos, grande massa de desempregados, precária urbanização, dentre outros fatores, interferiram no cotidiano de algumas instituições sociais, destacando-se a escola.

Muitas escolas (públicas) em Ananindeua atendem a um público juvenil, muitas vezes envolvido com episódios de violência urbana, principalmente o roubo.

Infelizmente, com o advento desse estudo, verificou-se que outra modalidade de violência urbana está, cada vez mais, presente no cotidiano das escolas dessa cidade, inclusive da que foi pesquisada: o tráfico de drogas. Os atores escolares podem até discordar de alguns aspectos sobre as causas ou da situação do "clima" (convivência) escolar, porém em um, praticamente todos concordaram: a de que a o tráfico e consumo de drogas (ora antes visto como "problema externo" à escola) passa a ser figura constante e criadora de elo entre a escola e seu entorno.

 

É extremamente complicado a escola assumir sozinha a responsabilidade de combater a violência urbana que ultrapassa "muros" e invade seu ambiente interno (suas relações sociais escolares), pois a responsabilidade da escola é, fundamentalmente, a de promover a educação. Todavia exigir que ela dê conta de aspectos maiores, tais como promoção do bem-estar social, policiamento no bairro, combate à criminalidade, dentre outros, não é sua missão.

A escola deve ser vista como parceira do Poder Público e sociedade civil. Acrescenta-se ainda, que a escola (pública ou particular) poderia também articular os serviços públicos, mesmo que, para tanto, necessite estabelecer parcerias diversas, em prol da comunidade onde se insere.

É nesse sentido que o presente trabalho apresenta como o principal resultado alcançado, algumas percepções de professores, acerca da violência urbana que tanto atrapalha na real missão da escola, mas que também não pode e nem deve ser considerada culpada e tão exigida diante de questões sociais, de caráter macro.

Não se trata, então, de encontrar culpados, mas de reconhecer responsabilidades institucionais, e também reconhecer a importância da coletividade, ou seja, da necessidade de instâncias públicas e privadas dialogarem e se co-responsabilizarem pela questão, abandonando, definitivamente a postura da delegação de atitudes diante no enfrentamento de problemas sociais.

 

REFERÊNCIAS

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1 Pedagoga, mestre em Sociologia Urbana. Docente na Faculdade de Castanhal e tutora à distância da Universidade Federal do Pará

 

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