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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.4 no.1 São Paulo jun. 2012

 

EDITORIAL

 

Este número da Revista do NUFEN, janeiro/junho, oferece textos sobre a condição masculina a partir de diálogos interdisciplinares entre a Psicologia, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Enfermagem. Apresenta meditações sobre o campo da psicoterapia, do cuidado, da saúde, sobretudo do HIV-aids em diálogo com as políticas públicas. Reverbera o tema da sexualidade e da família indagando o preconceito acerca das práticas homoeróticas. É um número complexo e plural. Participam pesquisadores de vários programas de pós-graduação do País. É o primeiro volume do ano de 2012, após a inserção no Qualis CAPES, em que nosso periódico teve atribuida à qualificação B4 no âmbito dos periódicos de Psicologia e Serviço Social. Estamos nos preparando para a Internacionalização já que o LATINDEX é uma das bases de indexação. Nossa equipe foi ampliada e conta hoje, com os editores assistentes: professor Lucivaldo Araújo da Universidade do Estado do Pará, professor Emanuel Meireles, professora Kamilly Valle e professor Warlington Lobo, todos da Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Psicologia.

O que significa a categoria masculinidade? E o debate acerca da psicoterapia em uma compreensão fenomenológica em tempos de clínica ampliada e de inserção social do/a Psicólogo/a no campo das políticas públicas? Algumas respostas o/a leitor/a encontrará na leitura dos artigos. Neste tomo, respectivamente, as réplicas expressas nos artigos 1 a 7 demonstram que a masculinidade é um signo plural. O termo aparece pela 1ª vez em 1734, citado no terceiro volume do Dicionário de Autoridades da Real Academia Espanhola, e, entendemos que não se refere unicamente a um vocábulo, mas a ideologias veiculadas por meio de instituições e políticas. Sistema de ideias transmitidas cotidianamente no percurso da constituição das masculinidades visando reforçar a conservação da masculinidade hegemônica. No Brasil, alguns marcos legais que norteiam a elaboração de políticas públicas para as ações voltadas as masculinidades relacionais (com outros homens, mulheres, filhos, etc), são, por exemplo, a promulgação da lei 11340/2006 , conhecida como lei Maria da Penha; a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem vinculada com a Política Nacional de Atenção básica, proposta em 2008 pelo Ministério da Saúde visando estimular o autocuidado masculino, a promulgação da lei 11489/2007 que institui 06/12 o dia da mobilização nacional dos homens pelo fim da violência contra as Mulheres.

Ricardo Pimentel Méllo e Juliana Vieira Sampaio analisam em documentos médicos a concepção de corpo normal, pautada no saber médico biologicista e os corpos nomeados como intersex. Ponderam que segundo a Sociedade Intersex Norte Americana intersex é um termo utilizado para nomear corpos cuja anatomia não se adequa aos padrões masculino ou feminino.

Edyr Batista de Oliveira Júnior e Cristina Donza Cancela fazem uma apreciação do corpo do metrossexual como algo "fabricado" e que mescla práticas e valores masculinos e femininos. Realizam dezesseis entrevistas semi-estruturadas e consideram que para muitos o metrossexual não é pensado enquanto experiência para si, mas enquanto lente para analisar o Outro no exercício da sua masculinidade, uma vez que há o diálogo com os valores e experiências idealmente criadas para esse neologismo, mas não necessariamente a vivência tal como alardeada nos meios de consumo midiáticos.

Wladirson Cardoso e Ernani Pinheiro chaves refletem acerca das práticas e do modo de vida gay de homens em envelhecimento. Seu texto se inscreve, no horizonte que entrecruza as diversas sexualidades ou sexualidades divergentes e as masculinidades num sentido hipermoderno e plural.

Robson Cardoso de Oliveira e Cristina Donza Cancela consideram as representações de masculinidades na propaganda de cervejas, investigando o homem como consumidor em potencial. Discutem como os papeis das masculinidades vem sendo construídos, significados e ressignificados na propaganda brasileira de cervejas. A análise baseia-se em observações realizadas em anúncios vinculados na TV aberta, além de peças publicitárias colhidas no ciberespaço; de cervejas nacionais e internacionais. Como resultado, percebe-se que os anúncios de cervejas, atualmente, associam os consumidores de cerveja ao gênero masculino e para isso realizam anúncios valorizando o homem heterossexual.

Mílton Ribeiro da Silva Filho e Carmem Izabel Rodrigues apreciam a construção de identidade LGBT, o uso e apropriação do bajubá, da "política do armário" e da fechação como forma de construção do ethos homossexual. Utilizam a etnografia com o objetivo de construir uma análise centrada na dinâmica dos indivíduos com um aspecto da linguagem. Realizam entrevistas não estruturadas e observação participante com o objetivo de estabelecer uma conexão entre as referências simbólicas e a realidade prática do indivíduo homossexual, analisando o "armário" a partir da experiência vivenciada em Belém. Concluem afirmando que a utilização do bajubá compõe parte do coming out que serve de elemento agregador nos momentos de sociabilidade

Alan Michel Santiago Nina e Carlos Augusto Silva Souza argumentam acerca do reconhecimento como ente familiar de casais formados por pessoas do mesmo sexo (as chamadas relações homoafetivas), partindo dos julgados do Supremo Tribunal Familiar. O reconhecimento de direitos e a construção de sujeitos politicamente definidos podem revelar o perigo de normatizar a sexualidade e, nesse sentido, pulverizar parte das possibilidades de vivências e arranjos sociais, quando se reafirma uma homossexualidade assentada nos padrões heteronormativos: familiar, monogâmica, afetiva. Neste sentido, ao lado dos argumentos conservadores, que não estendem aos casais homossexuais o direito de constituir famílias, soma-se uma crítica a percepção de que normas jurídicas podem limitar a possibilidade de sexualidades libertárias. A hipótese do artigo é mostrar que estas duas visões podem ser superadas sob a perspectiva tanto da filosofia kantiana quanto da Teoria do Discurso desenvolvida no final do século XX por Ernesto Laclau e Chantal Mouffe.

Ramon Pereira dos Reis desenvolve um pensamento analítico sobre performances e convenções corporais de gênero de homens homossexuais frequentadores de dois espaços de sociabilidade homossexual – Lux e Malícia – em Belém, Pará. Alargando as análises para além dos espaços referidos, entrevistaram 9 sujeitos para compreender falas de constrangimento ou medo de se efeminarem. Consideram que, respectivamente, Lux e Malícia retratam, através dos seus frequentadores e dos equipamentos disponíveis, a produção de performances corporais e de gênero distintas: uma repulsa e recusa à uma feminilidade espalhafatosa, e uma masculinidade respeitável "produzida".

Warlington Lobo e Adelma Pimentel realizam metodologicamente um levantamento bibliográfico referente à produção científica de artigos e capítulos de livros a respeito do HIV/aids: fazem uma revisão do conceito de adesão masculina ao tratamento ao HIV/aids, entrelaçando o assunto aos desdobramentos das vulnerabilidade; intervenção da psicologia clínica de orientação gestáltica e da clinica ampliada, como uma politica de saúde que procura humanizar os serviços de diagnóstico e assistência. Após análises e leitura minuciosa do material selecionado as principais conceituações e conclusões visando esboçar nossa compreensão. A discussão dos dados foi realizada na interface com a ciência psicológica nas áreas da clínica e da saúde

Rosa Angela Cortez de Brito & Vilma Maria Barreto Paiva se debruçam sobre a psicoterapia centrada na pessoa e realizam uma pesquisa bibliográfica das obras de Rogers, de Axline e de comentadores. Como resultado, verificam que a ludoterapia de Axline encontra-se entre dois momentos do desenvolvimento teórico da obra de Rogers: a fase não-diretiva e a fase reflexiva. Portanto, consideram que a teoria de Axline é uma transição para a terapia centrada no cliente.

Amanda Morais de Faria & Andréia Moreira Rocha analisam o livro O Escafandro e a Borboleta, obra do escritor Jean-Dominique Bauby, usando o referencial teórico da Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers. O objetivo do artigo foi meditar em que aspectos a referida Abordagem pode contribuir para o cuidado de pessoas que apresentem uma limitada capacidade de se comunicar assim como o personagem central Bauby.

Anita Bacellar, Joana Simielli Xavier Rocha & Maira de Souza Flôr refletem acerca das alterações que ocorreram no modelo de atendimento público de atenção à saúde no sistema brasileiro nas últimas décadas. O artigo, ainda, relaciona as ponderações aos pressupostos teóricos da Abordagem Centrada na Pessoa hipotetizando que se trata de uma proposta psicológica que se aproxima teoricamente das diretrizes recomendadas pelas Políticas Públicas nos serviços de saúde do Brasil.

Finalizando este volume, Danielle Leal Sampaio apresenta uma resenha sobre o livro Entre Educação e Filosofia: Conhecimento, Linguagem Pensamento organizado por Abreu & Cols (2011). O livro contém 13 artigos cujo tema geral é a Educação em articulação com a filosofia. As principais temáticas destacam um raciocínio crítico e reflexões acerca do processo de produzir conhecimento nos campos da linguagem e do pensamento.

 

Adelma Pimentel
Editora Geral