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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.7 no.2 Belém dez. 2015

 

Artigo

 

Uso de drogas por universitários de cursos exclusivamente noturnos

 

Use of drugs for university students of courses exclusively night

 

El consumo de drogas por universitarios cursos exclusivamente nocturnos

Letícia Maria Rosa Lima; Sinésio Júnior Gomide; Marciana Gonçalves Farinha

Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

 

 


RESUMO

A entrada na universidade propicia maior autonomia e novas vivências ao jovem. O problema está quando esse ingresso torna-se um período de vulnerabilidade para iniciação e manutenção do consumo de substâncias psicoativas. Objetivando mensurar o uso de drogas por 286 graduandos de 18 a 39 anos de cursos exclusivamente noturnos de uma universidade federal mineira, foi realizado um estudo quantitativo e descritivo aplicando-se o Questionário para Triagem do uso de Álcool, Tabaco e Outras Substâncias (ASSIST). Os dados obtidos foram analisados pelo software Statistical Package for the Social Science (SPSS) 16.0. Esta análise indicou que as maiores taxas de uso de drogas na vida corresponderam a 76,9% para o álcool, 32,5% para derivados do tabaco e 16,2% para maconha. Esses resultados indicam a necessidade da problematização dessa realidade social e da fomentação por parte da universidade de programas de intervenção que atendam esses jovens.

Palavras-chave: Universitários; Drogas; Abuso de substâncias.


ABSTRACT

Admittance to university provides greater autonomy and new experiences to the youth; however, the problem arises when admittance becomes a vulnerable period for initiation and maintenance of substance use. Aiming to measure the use of drugs by 286 undergraduate students 18-39 from exclusively night courses of a Federal University in the state of Minas Gerais, a quantitative and descriptive study was done applying the Questionnaire for Screening for the Use of Alcohol, Tobacco and Other Substances (ASSIST), and the data were analyzed by software Statistical Package for Social Science (SPSS) 16.0. This analysis indicated that the biggest drugs use rates in life corresponded to 76.9% for alcohol, 32.5% for tobacco and 16.2% for marijuana. These results indicate the need for the University to problematize this social reality and to foster intervention programs that meet these young people.

Keywords: University; Drugs; Substance abuse.


RESUMEN

El acceso a la universidad proporciona una mayor autonomía y nuevas experiencias a los jóvenes. El problema es cuando esta entrada se convierte en un período vulnerable para la iniciación y el mantenimiento del consumo de sustancias psicoactivas. Con el objetivo de dimensionar el consumo de drogas por 286 estudiantes universitarios de 18-39 años de cursos exclusivamente nocturnos de una Universidad Federal en el estado de Minas Gerais, se ha llevado a cabo un estudio cuantitativo y descriptivo aplicando la prueba de detección de consumo de alcohol, tabaco y sustancias (ASSIST) . Los datos fueron analizados mediante el software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 16.0. Este análisis indicó que las tasas más altas de consumo de drogas en la vida correspondieron a 76,9% para el alcohol, 32,5% para el tabaco y 16,2% para la marihuana. Estos resultados indican la necesidad de problematizar esta realidad social y fome

Palabras-clave: Universitarios; Drogas; Abuso de sustancias.


 

 

INTRODUÇÃO

O uso de drogas tem assumido mundialmente status de problema de saúde pública, em virtude de ocasionar prejuízos significativos para indivíduos e sociedade (Carvalho, Cunningham, Strike, Brands & Wright, 2009). Esse cenário não é diferente com a população universitária. A entrada na universidade é por vezes encarada como um período de maior autonomia propiciando novas experiências, bem como, expondo o jovem a vulnerabilidades, como o uso de drogas e suas consequências. Um agravante em relação a esse fenômeno é quando esse consumo passa a ser concebido como um facilitador para a aproximação de parceiros sexuais, para a obtenção de um papel no grupo, para apoio e cumplicidade dos pares, de modo que o estudante passa a associar a droga à maturidade, descontração e a concebe como precursora de vivências de outros estados de consciência (Eckschmidt, Andrade & Oliveira, 2013).

O consumo de substâncias pela população universitária pode estar relacionado ao fácil acesso às drogas por meio de traficantes que as vendem nos arredores das universidades e pela cultura que promove esse uso através de festas e ritos de iniciação (Carvalho et al., 2009). Nesse sentido, Picolotto, Liberdoni, Migott e Geib (2010) concebem que esse momento de desenvolvimento e crescimento do jovem é fragilizado por pressões impostas pela adaptação a um novo modo de vida, o qual requer mudanças comportamentais, com novos papéis o que pode ocasionar estresse, frustações em seus projetos de vida, de forma que, em muitos casos, essa população recorre à prática da automedicação e ao uso de outras Substâncias Psicoativas (SPAs) lícitas e ilícitas.

São consideradas SPAs aquelas de caráter químico que alteram funções do sistema nervoso central, produzindo efeitos comportamentais e psíquicos. De modo geral, as mesmas trazem uma sensação de excitação ou prazer ao seu usuário (Dalgalarrondo, 2008). Grupos sociais têm convivido com SPAs, de origem natural ou produzidas em laboratório, através das quais buscam a alteração do humor, as percepções e as sensações, com objetivos religiosos ou médicos. Na atualidade, convive-se com um crescimento significativo do consumo de substâncias psicoativas, que vem acompanhado do uso em idades cada vez mais precoces, do desenvolvimento de substâncias novas e vias de administração alternativa de produtos já conhecidos, com incremento nos efeitos e no potencial de desenvolvimento de dependência (Paduani et al, 2008). A situação torna-se ainda mais complexa quando esse quadro evolui para intoxicação por múltiplas drogas (Brasil, 2010).

Diante desde quadro, é compreensível que a saúde mental dessa população seja amplamente estudada, recebendo especial atenção em pesquisas que pretendam abordar aspectos desse tema em diversos ambientes, incluindo os acadêmicos, ainda mais se for levado em consideração particularidades em relação à universidade, caracterizada por um ingresso cada vez mais competitivo, bem como pelas demandas acadêmicas inerentes aos cursos de graduação (Brasil, 2010).

Desse modo, conhecer as condições e variáveis que interferem no uso de drogas é primordial para desenvolver estratégias mais eficazes direcionadas para prevenir o desenvolvimento de patologias a ele relacionadas. Além disso, o conhecimento do padrão do uso de drogas por universitários pode contribuir para a implementação de estratégias de prevenção a esse consumo, possibilitando o desenvolvimento de políticas públicas para esse fim. Nesse sentido, os achados do presente estudo poderão fomentar iniciativas de promoção de saúde por parte das universidades.

Tendo isso em vista, objetiva-se com essa pesquisa verificar a frequência de consumo de drogas por universitários de cursos exclusivamente noturnos de uma universidade federal mineira, identificando a substância mais consumida por esse público-alvo.

 

MÉTODOS

O local do estudo compreendeu um dos campus de uma universidade federal mineira, sendo a população de interesse estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação presenciais exclusivamente noturnos. Desse modo, foram excluídos os cursos que têm turmas tanto em período diurno quanto em noturno ou apenas diurno. Nessa universidade são oferecidos cinco cursos com essa característica: Estatística; Física; Química; Sistemas de Informação e Tradução.

A opção por cursos exclusivamente noturnos deu-se mediante a informação da existência de outra pesquisa de mesmo tema e de metodologias semelhantes com graduandos da universidade pesquisada, especialmente com acadêmicos de cursos diurnos (Castro & Farinha, 2016; Vieira & Farinha, 2016), dessa forma, a escolha pelos cursos contemplados pelo presente estudo pretendeu abarcar cursos que não foram alvo da investigação anteriormente mencionada.

A pesquisa é quantitativa de caráter descritivo sobre a frequência do uso de álcool e outras drogas na população supracitada. O tipo de amostragem utilizada foi de caráter não probabilístico e por conveniência. A amostra foi calculada utilizando o software Excel, com intervalo de confiança de 95%, erro de 5% e prevalência esperada de ocorrência do fenômeno de 50% e de não ocorrência de 50%, já que não se tem conhecimento prévio do fenômeno em estudo. Sendo a população constituída por 1109 graduandos, resultou-se numa amostra de 286 universitários.

Os participantes do estudo deveriam aceitar participar voluntariamente da pesquisa. Além disso, era importante que estivessem regularmente matriculados nos cursos de graduação exclusivamente noturnos e pertencesse a faixa etária entre 18 e 39 anos. A faixa etária escolhida justifica-se pelo aspecto do desenvolvimento humano. Conforme Papalia et al. (2006) é na idade adulta jovem que se assenta a base para o funcionamento físico de todo o restante da vida. Alimentação, atividade física e possíveis vícios contribuem muito para a saúde e para o bem-estar no presente e no futuro (Papalia et al., 2006). Além disso, as autoras citadas salientam que adultos jovens geralmente estão no auge da força, da energia e da resistência, bem como apresentam o ápice do funcionamento sensório e motor. Os questionários que não se enquadravam nos critérios citados foram excluídos para a análise de dados.

Para garantir que todos os alunos da população-alvo tivessem a mesma probabilidade de seleção, foi realizada uma escolha aleatória das salas de aula que estavam sendo utilizadas em cada curso pesquisado. Para tal, não se tinha nenhum conhecimento prévio sobre o período acadêmico, número de alunos, gênero predominante ou qualquer outra informação além do número da sala e do curso de graduação. O recrutamento dos participantes foi feito nas salas de aula dos cursos de graduação pesquisados. A coleta de dados ocorreu nos meses de maio, junho e setembro de 2015 por aplicadores voluntários, treinados para aplicação dos instrumentos, esclarecimentos de eventuais dúvidas dos participantes e soluções quanto a possíveis intercorrências. A coleta de dados ocorreu após a aprovação do Comitê de Ética da instituição de ensino onde foram coletados os dados (protocolo 1.042.771).

Para a coleta de dados foi utilizado o Questionário para Triagem do uso de Álcool, Tabaco e Outras Substâncias (ASSIST). Este instrumento foi desenvolvido por pesquisadores de vários países sob a coordenação da Organização Mundial de Saúde (OMS) com o objetivo de detectar o uso de álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas, sendo traduzido para várias línguas, inclusive para o português falado no Brasil, já tendo sido testado quanto à sua confiabilidade e factibilidade (World Healh Organization [WHO], 2002). O estudo da confiabilidade teste-reteste do ASSIST foi realizado com 236 indivíduos, em diferentes locais do mundo, sendo observada boa confiabilidade (coeficientes Kappa entre 0,58 a 0,90 para as principais questões) sendo sua utilização considerada adequada para os fins a que se propõe. (WHO, 2002).

O ASSIST é um instrumento com oito questões sobre o uso de nove classes de substâncias psicoativas (tabaco, álcool, maconha, cocaína, estimulantes, sedativos, inalantes, alucinógenos e opiáceos). As questões abordam a frequência de uso na vida e nos últimos três meses, problemas relacionados ao uso, preocupação por parte de pessoas próximas a respeito do uso de drogas do respondente, prejuízo na execução de tarefas esperadas, tentativas mal sucedidas de cessar ou reduzir o uso, sentimento de compulsão e uso de drogas por via injetável. É importante lembrar que o instrumento é autoaplicável e que foi garantido o anonimato dos respondentes/voluntários. Os dados obtidos foram analisados utilizando o programa estatístico Statistical Package for the Social Science 16.0 (SPSS).

A discussão dos resultados foi realizada comparativamente a resultados relatados em artigos científicos que tratavam do uso de drogas, principalmente, entre a população universitária, mesmo que obtidos a partir da utilização de outros instrumentos de coleta de dados. Algumas das pesquisas que nortearam nossas discussões, os estudos de Medeiros, Rediess, Hauck, Martins e Mazoni (2012), Brasil (2010), Natividade, Aguirre, Bizarro e Hutz (2012) e Tockus e Gonçalves (2008) aplicaram o questionário ASSIST para a coleta de dados. Nas pesquisas de Teixeira, Souza, Buaiz e Siqueira (2010), Portugal, Sousa e Siqueira (2008), Pereira, Souza, Buaiz e Siqueira (2008) o instrumento empregado foi o "Questionário sobre o Uso de Droga", uma adaptação do instrumento proposto pela OMS e desenvolvido pela WHO – Research and Reporting Project on the Epidemiology of Drug Dependence (Smart et al., 1980). No Brasil, este instrumento foi adaptado por Carlini-Cotrim (1989). A discussão foi incrementada, ainda, com outros trabalhos que abordavam assuntos pertinentes e complementares ao tema.

 

RESULTADOS

A maioria dos 286 estudantes pesquisados (58,7%) é do sexo masculino. Do total da amostra, 30,9% dos alunos cursavam Sistemas de Informação; 28,8% eram acadêmicos do curso de Estatística; os graduandos do curso de Química responderam por 13,7% e finalmente os estudantes de Tradução e Física representaram ambos, 13,3% do total da amostra. As estimativas do questionário ASSIST apontaram que os relatos para o uso não médico na vida de SPAs corresponderam a 32,5% para derivados do tabaco, 76,9% para bebidas alcoólicas, 16,2% para maconha, 5,3% para anfetaminas ou ecstasy, 4,6% para inalantes, 4,2% para hipnóticos/sedativos, esta mesma porcentagem correspondeu ao consumo de alucinógenos, 3,8% indicou o uso de cocaína, crack e 0,4% referiram uso de opióides e de outras drogas, em ambos os casos.

A frequência do uso de derivados de tabaco nos últimos três meses obteve prevalência de 80,8% para os respondentes que não fizeram uso dessas substâncias, 9,2% acusaram o mesmo em uma ou duas vezes, 2,9% relataram consumo mensal, mesma porcentagem para o uso semanal e 4,2% informaram uso diário. A mensuração do consumo de bebidas alcoólicas, no último trimestre, correspondeu a 38,0% para aqueles que afirmaram não terem feito ingestão dessas substâncias, 26,8% indicaram uso em uma ou duas vezes, 16,4% referiram onsumo em cada mês do trimestre, 16,8% assumiram que consumiam semanalmente essas SPAs e 2,0% fizeram ingestão de álcool todos os dias. No período, 91,8% negaram uso de maconha, 3,0% informaram consumo dessa SPA em uma ou duas vezes, 1,7% acusaram essa prática mensalmente, 0,9% indicaram consumo semanal e 2,6% referiram o comportamento como uma rotina diária. A respeito da prevalência do consumo de cocaína, crack, 99,1% negaram a assertiva, 0,4% referiu esse hábito em uma ou duas vezes, mesma porcentagem para o consumo diário das substâncias citadas.

O uso de anfetaminas ou ecstasy correspondeu a 98,3% para aqueles que informaram não o ter feito, 0,9% dos pesquisados referiram esse consumo em uma ou duas vezes e 0,4% o relataram de modo semanal e diariamente, em ambos os casos. Do total da amostra, 98,7% dos pesquisados declararam que não fizeram uso de inalantes, 0,9% citaram o mesmo em uma ou duas vezes e 0,4% o afirmaram uso diário dessas drogas.

A prevalência do uso de hipnóticos/ sedativos para o referido período correspondeu a 97,0% para os pesquisados que o negaram, 1,7% alegaram consumo em uma a duas vezes e 1,3% referiram esse comportamento todos os dias no último trimestre. Em relação ao consumo de alucinógenos, 97,8% dos estudantes afirmaram não terem feito uso dessas substâncias, 1,7% o referiu em uma ou duas vezes e 0,4% informaram uso diário. Nos três últimos meses as prevalências para o consumo de opióides e de outras drogas atingiram, em ambos os casos, 99,6% para os graduandos que negaram o consumo dessas drogas e 0,4% para os que o referiram diariamente.

Os resultados encontrados para o forte desejo ou urgência de consumo de SPAs, para problemas de saúde, social, legal ou financeiro em decorrência do uso de drogas e para o abandono de atividades habituais em consequência do consumo de substâncias nos últimos três meses estão explanados, respectivamente, nas tabelas 1, 2 e 3.

 

 

 

 

 

 

As tabelas 4 e 5 apresentam, respectivamente, a prevalência da preocupação de pessoas próximas do pesquisado com seu uso de SPAs e a tentativa frustrada de controle, diminuição e interrupção do consumo dessas substâncias.

Tabela 4: Frequência, em que amigos, parentes ou outra pessoa demonstraram preocupação pelo consumo de SPAs, entre estudantes dos cursos exclusivamente noturnos de uma universidade pública mineira, 2015.

 

 

 

 

 

A mensuração da frequência de alguma vez em que o pesquisado usou drogas injetáveis para uso não médico, correspondeu a 98,7% dos que alegaram nunca terem feito uso dessas substâncias, 0,9% referiram o fato nos últimos três meses e 0,4% informaram o mesmo, mas não no período mencionado.

 

DISCUSSÃO

O consumo de álcool durante a vida foi afirmado por 213 graduandos (76,9%), sendo esta a maior constância de uso se comparada às outras SPAs, mensuração semelhante à demonstrada por Medeiros e outros (2012) em uma pesquisa com estudantes do sul do país. Esses autores indicaram a frequência de 75,1% para essa questão. Mesmo que a ingestão de bebidas alcoólicas evidenciada seja significativa, ela é menor quando comparada a resultados encontrados por outras pesquisas com universitários, como Natividade et al. (2012), (90,1% vs. 76,9%); Brasil (2010), (86,2% vs. 76,9%); Teixeira et al (2010), (87,9% vs. 76,9%); Pedrosa et al (2011), (90,4% vs. 76,9%) e Picolotto et al. (2010), (94,0% vs. 76,9%).

Botti et al. (2010) apontam, em seu estudo com 393 estudantes de Enfermagem do período noturno de uma universidade confessional em Minas Gerais, que o álcool foi a substância mais consumida na vida por esses estudantes (89,57%). Este resultado é semelhante aos encontrados no presente estudo, porém, com uma prevalência menor de uso de bebidas alcoólicas. Os autores relatam, ainda, que o uso de álcool é maior entre o sexo feminino na amostra pesquisada (90,06%) quando comparado ao consumo do sexo masculino ) quando comparado ao consumo do sexo masculino (85,36%). Informam, ainda, que a idade encontrada para iniciação desse uso é mais precoce entre as graduandas (15, 40 anos) em detrimento dos graduandos (16, 41 anos).

Segundo Peuker et al. (2006), o consumo excessivo de álcool é um padrão recorrente entre universitários. A população universitária apresenta padrões típicos de uso de álcool relacionado ao "beber problemático", parecendo indicar que influências socioambientais favorecem o consumo excessivo de álcool entre universitários em maior ou menor grau. Os pesquisadores afirmam que situações nas quais o álcool é amplamente disponível e oferecido ativamente, constituem-se como ambientes favoráveis para uso da substância quando comparados com ambientes nos quais a oferta não é abundante. Salientam ainda que, em seu tempo livre, geralmente os estudantes costumam sair com amigos. Nestas ocasiões, é comum idas a bares ou festas onde o uso de álcool é frequente (Kerr-Corrêa, Andrade, Bassit & Boccuto, 1999).

O uso de álcool entre universitários também pode ser favorecido de forma indireta. Estudantes influenciam-se mutuamente. A escolha de colegas, a seleção do tipo de substância, o padrão de consumo e a percepção do uso de drogas de seus pares provavelmente interagem neste processo. É importante salientar que universitários tendem a superestimar a aceitabilidade e o comportamento de beber propriamente dito de seus pares. Este viés na percepção de comportamento dos colegas pode também influenciar os estudantes a se implicarem em padrões de consumo de álcool de risco, já que o estudante pode perceber e interpretar o padrão de beber dos outros como um reforçador passando a se comportar de acordo com esta percepção (Ham & Hope, 2003).

Por outro lado, há evidencias de associação de consumo de álcool e outras substâncias em estudantes de períodos noturnos. Um levantamento nacional demonstrou que 45,1% dos estudantes de cursos noturnos relataram o uso múltiplo e simultâneo de bebidas alcoólicas e outras drogas. Os energéticos, derivados de tabaco e de maconha, cocaína e ecstasy são as cinco drogas mais frequentes associadas ao uso de álcool. Além disso, foi evidenciado que os alunos do período noturno apresentaram maior prevalência de consumo das associações de bebidas alcoólicas a tranquilizantes e antidepressivos. O mesmo estudo salienta que esse padrão de uso associado coloca os jovens sob potencial risco para o desenvolvimento de problemas de cunho físico, moral, social, psicológico, cognitivo e psiquiátrico, necessitando ser mais bem investigado para o desenvolvimento de ações a respeito (Brasil, 2010).

De acordo com Laranjeira (2003), o uso de drogas lícitas ou ilícitas pode ser caracterizado como um problema de saúde pública em virtude de afetar milhares de pessoas de todas as faixas etárias, em todas as sociedades, com consequências biopsicossociais que precisam ser discutidas nacional e internacionalmente. Em relação à questão, especialmente para a ingestão de álcool, o Ministério da Saúde (2003) salienta que esse consumo impõe às sociedades de todos os países uma carga global de agravos indesejáveis e extremamente dispendiosos que acometem os indivíduos em todos os domínios de sua vida. Enfatiza ainda que a reafirmação histórica do papel nocivo que o álcool oferece deu origem a uma gama extensa de respostas políticas para o enfrentamento dos problemas decorrentes de seu consumo, corroborando assim o fato concreto de que a magnitude da questão é enorme, no contexto de saúde pública mundial (Brasil, 2003).

A respeito do tema, o presente estudo constatou que, nos últimos três meses, a somatória de respostas positivas ao consumo de álcool no período citado [(n) uma ou duas vezes + (n) mensal + (n) semanal + (n) diário] atingiu a prevalência de 62,0% (n=155). Esse percentual é inferior a outros encontrados na literatura que trata do mesmo tema. Natividade e outros (2012), Tockus e Gonçalves (2008) e Medeiros et al. (2012), obtiveram em seus estudos, respectivamente, a prevalência de 81,5%, 70,5% e 71,4%.

É importante mencionar que o maior percentual evidenciado na presente pesquisa para o consumo de álcool no último trimestre foi para o intervalo de uma ou duas vezes no período (26,8%). Na pesquisa de Natividade et al. (2012) com 169 estudantes do sul do país, a maior prevalência encontrada foi para o uso semanal (33,3%). Apesar disso, não pode ser afirmado que os graduandos pesquisados fazem um consumo brando de álcool em detrimento dos dados obtidos por Natividade et al. (2012), visto que, a quantidade de doses de bebidas alcoólicas feita pelos estudantes nessas ocasiões não foi foco de atenção do presente estudo.

A investigação do forte desejo ou urgência de consumo de bebidas alcoólicas apontou que 29,6% dos estudantes afirmaram essa situação; desse total, 42 graduandos (18,0%) informaram o ocorrido em uma ou duas vezes no último trimestre. Tockus e Gonçalves (2008) relataram uma constância menor para a questão quando mostraram que 23,87% dos 209 estudantes de medicina de uma universidade privada de Curitiba confirmaram o desejo ou urgência para consumir alguma substância.

Neste estudo, para 90,9% dos participantes o consumo de álcool não resultou em problema de saúde, social, legal ou financeiro no último trimestre. Este percentual é maior que aquele encontrado por Tockus e Gonçalves (2008). Naquela pesquisa, 5,68% dos pesquisados afirmaram que a ingestão de bebidas alcóolicas lhes trouxe algum tipo de problema nesse período.

Ainda sobre o tema, um manual da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) apontou que os acidentes de trânsito matam aproximadamente 1,24 milhão de pessoas a cada ano. Mais de um quinto dessas mortes envolvem pedestres. Esse documento aponta que um dos principais fatores de risco para lesões de pedestres causadas pelo trânsito é a ingestão de álcool por eles ou pelos motoristas (OPAS, 2013). Esses resultados apontam a dimensão dos impactos do consumo de álcool na saúde pública, já que, essas demandas chegam aos serviços de saúde, na maioria dos casos como urgência e emergência. Além disso, em algumas situações, esses acidentes ocasionam lesões permanentes aos envolvidos, acarretando dificuldades econômicas enfrentadas pelas famílias dessas pessoas.

Nesse sentido, um estudo realizado em 2004 em um hospital geral universitário em uma cidade do interior de Minas Gerais mostrou que 90 (29,9%) dos 301 pacientes hospitalizados nas enfermarias em decorrência de lesões por causas externas relataram ingestão de bebidas alcoólicas antes do trauma, e a quantidade mínima ingerida na ocasião foi de duas garrafas de 600 ml de cerveja ou duas doses de destilados. Desse modo, segundo a pesquisa, cerca de um terço dos pesquisados ingeriu álcool antes do trauma, sendo a maioria dessas pessoas consideradas como etilistas crônicos. A causa externa de atendimento mais frequente foi o acidente de trânsito, sendo que sua ocorrência estava relacionada ao uso prévio de bebidas alcoólicas. Além disso, essa ocorrência foi mais constante nos finais de semana e no período noturno. Outro dado importante encontrado pelo estudo é o fato de que a ingestão precedente dessa SPA foi constatada de modo significativo entre vítimas de violência (Freitas, Mendes e Oliveira, 2008).

Na presente investigação, o abandono de atividades habituais por conta da ingestão de álcool no último trimestre obteve 91,1% de negativas para a assertiva em torno do tema; portanto, para 8,9% dos estudantes esse evento ocorreu no período. Resultado menor do que encontrado por Tockus e Gonçalves (2008) em um estudo com acadêmicos curitibanos e por Peuker et al. (2006) em uma pesquisa com estudantes do Rio Grande do Sul cujas prevalências corresponderam, respectivamente a 17,0% e 25,4%. O segundo estudo ainda salienta que no contexto universitário, isso envolve deixar de aderir a assuntos referentes a aulas, provas, trabalhos acadêmicos, estágios e tempo de estudo.

Também foi investigada, no presente trabalho, a frequência da preocupação de pessoas próximas ao graduando com seu uso de álcool (6,1% (n=14) dos pesquisados a informaram nos últimos três meses). Esse resultado se revela menor que o encontrado por Tockus e Gonçalves (2008), cujos resultados relataram que as respostas positivas ao assunto obtiveram frequência de 15,9%.

Em outra vertente, Paduani et al. (2008) verificaram que as situações que ocasionavam o consumo de bebidas alcóolicas por estudantes de Medicina de uma universidade federal do interior de Minas Gerais, respectivamente, as festas de faculdades (72,45%) e o pós-prova (11,74%). A assertiva que correspondia ao “final de um dia estressante de faculdade" surgiu em 3,57% das respostas e 21,24% optaram por todas as situações citadas.

Paduani et al. (2008) apontam, ainda, que um provável motivo do elevado consumo de álcool pode estar relacionado à aceitação social, de modo que o ato de fumar maconha parece gerar maior coerção familiar de universitários que o consumo de álcool. Além disso, a publicidade em torno da comercialização tem, segundo os mesmos autores, grande peso nessa questão, uma vez que atingem, potencialmente, o público jovem. Nesse aspecto, o álcool merece especial atenção pelo fato de ser uma droga lícita e socialmente aceita mesmo causando tantos danos quantos aqueles associados às drogas ilícitas.

Nesse sentido, o uso de substâncias psicoativas (principalmente álcool) está presente nos mais variados meios de comunicação de massa (anúncios comerciais, letras de música, filmes), comumente associado a fatores como prazer, beleza, sucesso financeiro e sexual, poder e outros, de maneira explícita ou implícita.

Em relação ao uso da publicidade como propiciadora do uso de substâncias psicoativas, Musse (2008) salienta que o ambiente social das universidades é festivo, sendo notável, nos campi, a proliferação de cartazes de propaganda das festas universitárias. Os conteúdos desses cartazes anunciam a festa, além de conter apologias a respeito do consumo de álcool, favorecendo sua aceitação, propiciando também a publicidade indireta (Musse, 2008).

De acordo com Musse (2008), uma característica da publicidade é o manejo de técnicas de persuasão, que tangenciam aspectos psicológicos moldáveis do público-alvo, facilitando a adesão do produto veiculado. A mídia em forma de cartazes tem alcance populacional restrito e justamente por esse caráter restritivo ela atinge públicos específicos como jovens universitários. Tendo esses pontos em vista, Musse (2008) procurou verificar a existência de estímulo ao uso de álcool em trinta cartazes de festas universitárias em uma universidade federal do interior de Minas Gerais no período de abril/maio de 2005 e abril/junho 2007.

Os resultados do estudo apontaram que em 2005, dos quinze cartazes analisados, 46,6% apresentavam temas/nomes de festa referente ao uso de álcool, ilustrados com figuras de canecas de cerveja e aguardente; 6,6% desse total continha a figura de um indivíduo em estado de alteração da consciência; 73,3% dos cartazes a disponibilização das bebidas era do tipo open bar e 40% continham o logo da marca da cerveja, e 6,7% não continham conteúdos alusivos a bebidas. Já em 2007, 26,6% nomes/temas de festa estavam relacionados ao uso e abuso de álcool, 46,6% apresentavam figuras de copos de cerveja, canecas de chope e garrafas de aguardente e desse universo 6,6% dos cartazes apresentavam a figura de indivíduo prostrado no chão, 6,6% também continham figuras duplicadas, indicando alteração no sentido da visão, 60% dos cartazes informava que a festa era open bar, o logotipo da marca de cerveja estava presente em 73,3% dos cartazes de propaganda de festas universitárias, do total dos cartazes analisados 20% não mostraram nenhuma associação com uso e abuso de álcool (Musse, 2008).

Quanto a fatores de proteção para o uso de álcool entre a população acadêmica, podese dizer que algumas literaturas evidenciam o convívio familiar como proteção ao uso abusivo dessa SPA, inferindo que graduandos que moram sozinhos fazem maior consumo de bebidas alcóolicas e podem ter maior probabilidade de necessitar de intervenção para o problema (Paduani et al., 2008; Carvalho et al., 2009; Medeiros et al., 2012). Santos, Pereira e Siqueira (2013) salientam que a melhor forma de lidar e inserir a família nessa discussão e cuidado é a partir de formulações de intervenções psicossociais com valor coletivo.

Ainda sobre o tema, o Ministério da Saúde (2003) preconiza que os pares não usuários e que não aprovam o uso/abuso de drogas e aquelas pessoas que praticam atividades de diversas ordens (escolar, recreativa, religiosa ou outras) se constituem em fatores potencializadores de uma vida mais saudável e sem o uso de substâncias psicoativas.

Nunes et al. (2012), atentos ao tema, afirmam que as instituições de ensino não estão conseguindo promover transformações de suas práticas, não exercendo seu papel de proteção aos estudantes Nesse sentido, Pedrosa et al. (2011) preconizam que devem ser feitas mudanças na abordagem curricular do tema em voga em disciplinas, seminários e pesquisas, além de campanhas especificas nos ambientes universitários, como também fora dele. Esses autores ainda salientam que a sociedade científica deve se atentar para as mensagens publicitárias contra o consumo de álcool e o impacto atingido nessa população, com revisão sistemática sobre o seus conteúdos.

Na presente pesquisa, para 6,2% dos estudantes a tentativa de controle, diminuição e cessação da ingestão de álcool foi frustrada nos três últimos meses, resultado inferior ao encontrado por Tockus e Gonçalves (2008) que indicaram que 9,1% dos acadêmicos pesquisados citaram essa experiência de insucesso. Peuker et al. (2006) evidenciaram, a partir das análises do questionário AUDIT, que 21,7% dos estudantes de uma universidade do sul do país experimentaram a sensação de perda de controle para parar de beber.

Um aspecto que chama a atenção nestes resultados é o fato de que têm, como pano de fundo, o controle e a diminuição do uso de álcool como em uma estratégia de redução de danos. Esta estratégia tem como base a prevenção, a redução de riscos e consequências negativas sem, necessariamente, interferir no uso de drogas. É uma estratégia em saúde pública que busca minimizar as consequências adversas do consumo de drogas do ponto de vista da saúde e dos seus aspectos sociais e econômicos. Vale ressaltar que a redução de danos é uma ferramenta criada para pessoas que não desejam ou não conseguem diminuir/cessar o uso de drogas, bem como para os demais usuários com dificuldade para acessar serviços de saúde ou aderir ao cuidado integral à saúde (Brasil, 2012).

A frequência para o consumo de derivados de tabaco na vida pelos estudantes pesquisados (32,5%) foi idêntica à apresentada pelo I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários (Brasil, 2010) e semelhante à encontrada pelo estudo de Pereira et al. (2008), que apontou 33,03% de utilização.

Uma pesquisa com estudantes de período noturno (Botti et al., 2010) mostrou que o consumo de tabaco na vida correspondeu a 31,30%, dado semelhante ao evidenciado pelo presente estudo (32,5%). Um aspecto interessante encontrado por esses pesquisadores é o fato de os estudantes do sexo feminino terem apresentado prática mais precoce de consumo dessa substância (15,94 anos) quando comparado com o sexo masculino (16,78 anos). Por outro lado, o sexo masculino apresentou maiores prevalência de uso de tabaco na vida em relação às graduandas 40,48% vs. 30,20%.

Apesar do tabaco e maconha terem sido apontadas no presente trabalho e no I Levantamento Nacional sobre o uso de drogas com universitários como as SPAs mais consumidas na vida pelos pesquisados, houve diferenças na ordem de consumo da terceira e quarta droga mais usada, de modo que no I Levantamento, as mesmas são, respectivamente, os inalantes/ solventes e anfetaminas (Brasil, 2010). Outro ponto de diferença são as baixas prevalências de consumo encontradas em comparação ao estudo citado para as drogas referidas, para as primeiras (4,6% vs. 20,4%) e para as segundas (5,3% vs. 13,8%).

Quanto a levantamentos sobre o tema com a população universitária noturna, um estudo realizado sobre o uso de drogas ilícitas com estudantes do curso de Enfermagem em período noturno de uma universidade do estado de São Paulo com a participação de 346 (57%) estudantes do sexo feminino e 266 (43%) do sexo masculino, evidenciou-se que 179 (52%) das alunas responderam que já haviam feito uso na vida de alguma substância psicotrópica (lícita ou ilícita), ao passo que 166 (62%) dos alunos responderam positivamente à questão (Dias et al., 2014).

Os resultados do estudo apontaram que 18,0% dos entrevistados relataram ter feito uso de maconha na vida e 14,0% das mulheres já consumiram esta substância na vida. A segunda substância mais consumida foi a cocaína (9,0% dos homens e 5,0% das mulheres relataram que usaram esta SPA na vida), seguida dos inalantes e solventes com 8,0% das respostas dos estudantes e 3,0% das estudantes; tranquilizantes com 2,0% dos alunos e 8,0% das alunas; alucinógenos com 1,0% dos entrevistados e 2,0% das entrevistadas; crack com 4,0% dos respondentes e 1,0% das respondentes; ecstasy com 2,0% das graduandas e 1,0% dos graduandos; esteróides com 2,0% dos homens (sem relato feminino) e anfetaminas e opiáceos com 1,0% para cada sexo em ambas as drogas.

A substância menos consumida pela amostra do estudo foi o chá de ayahuasca com 1,0% dos homens entrevistados e nenhum relato feminino relativo ao uso desta droga. Em outro estudo com estudantes do período noturno de Enfermagem foi constatado que as substâncias psicoativas ilícitas mais usadas na vida foram os ansiolíticos (19,08%), seguida dos inalantes (15,52%), anorexígenos (13,99%) e maconha (12,72%), enquanto a cocaína correspondeu a 2,29% (Botti et al., 2010).

Podem ser notados alguns pontos em comum com o presente estudo e a pesquisa de Dias et al (2014) como o fato de a maconha ter sido a droga ilícita mais consumida em ambos as investigações e os inalantes como a terceira substância mais usada nas duas amostras. Acrescido a isso, há um baixo nível de consumo de opióides nos dois estudos.

Em relação à pesquisa de Botti et al., (2010), nota-se diferenças em termos das substâncias ilícitas mais consumidas. A maconha nesse caso aparece como a quarta mais consumida entre as SPAs ilícitas, enquanto que no presente estudo ela figura como a droga mais consumida.

As drogas menos consumidas foram os opióides e outras drogas - apenas uma pessoa (0,4%) alegou esse uso, em ambos os casos. Medeiros et al. (2012) também encontraram quePorém, a frequência encontrada por esses pesquisadores de uso das mesmas é de 2,2%, maior que a prevalência encontrada no presente estudo.

Para a frequência do uso de derivados de tabaco, nos últimos três meses, 80,8% (n= 193) dos graduandos pesquisados responderam que não fizeram uso destas substâncias, portanto, 19,2% acusaram terem feito consumo das mesmas. Estes resultados são inferiores aos indicados por outras investigações para o mesmo período. Tockus e Gonçalves (2008) encontraram que 27,7% dos graduandos de Curitiba informaram esse consumo, Medeiros et al. (2012) encontraram a prevalência de 22,8% para o fenômeno. É valido salientar que para os universitários da presente pesquisa, a maior prevalência obtida foi para o uso de derivados de tabaco em uma ou duas vezes no período, o que indica um consumo leve da SPA em questão. Talvez esses baixos consumos se devam a efetividade de políticas públicas e a difusão midiática em torno do tema.

Na presente investigação, 214 graduandos (91,8%) negaram uso de maconha no último trimestre, ou seja, 8,2% mencionaram consumo dessa substância, números estes, semelhantes às pesquisas de Tockus e Gonçalves (2008) e de Medeiros et al (2012) que encontraram as prevalências de, respectivamente, 10,23% e 9,0%.

Para as outras drogas, as frequências obtidas no presente trabalho foram ainda menores. No caso do uso de anfetaminas ou ecstasy, os resultados indicaram que 1,7% dos pesquisados relataram uso dessas substâncias e 0,9% informaram uso de cocaína ou crack. O consumo de inalantes correspondeu 1,3% e o de hipnóticos/sedativos obteve prevalência de 3,0%.

A frequência de uso de alucinógenos, nos últimos três meses, correspondeu a 2,2%; a constância do consumo de opióides foi mencionada por 0,4% - mesma porcentagem para o consumo de outras drogas. Mesmo para aqueles que responderam afirmativamente ao uso de alucinógenos, as maiores prevalências de uso corresponderam ao intervalo de uma ou duas vezes no período, o que pode indicar um consumo leve destas SPAs. No caso do uso de opióides e de outras drogas, 0,4% referiram consumo diário, em ambos os casos.

Comparado à pesquisa de Tockus e Gonçalves (2008), o consumo de algumas drogas, nesta pesquisa, foi inferior ao encontrado por esses autores, para anfetamina ou ecstasy (1,7% vs. 4,5%); inalantes (1,3% vs. 3,4%) e cocaína, crack (1,7% vs. 2,3%). Para o uso de alucinógenos, o presente estudo encontrou uma frequência maior (2,2% vs. 1,1%).

O estudo de Medeiros et al. (2012) encontrou prevalências maiores para o uso de algumas drogas se comparadas as obtidas pela presente investigação. No caso de uso de anfetamina ou ecstasy (4,6% vs. 1,7%); cocaína, crack (2,8% vs. 1,7%) e outras drogas (2,0% vs. 0,4%). Algumas constâncias encontradas pelos referidos autores se assemelharam com o presente estudo em relação ao uso de inalantes, alucinógenos e opiáceos, respectivamente, (1,4% vs. 1,8%); (2,2% vs. 1,8%) e (0,3% vs. 0,4%).

Ainda que o percentual de uso na vida de alucinógeno encontrado nesta pesquisa seja pequeno, não pode ser ignorada a relação entre essa SPA e a ocorrência de psicoses tóxicas. De acordo com Dalgalarrondo (2008), denominam-se psicoses tóxicas aqueles quadros psicóticos oriundos da ação direta da substância sobre o cérebro. Caracterizam-se por ser de curta duração (horas ou, no máximo, dias), ocorrendo à remissão dos sintomas à medida que a droga desaparece do sistema nervoso. Esses quadros geralmente incluem rebaixamento do nível de consciência, confusão mental, ilusões e alucinações visuais (com menos frequência auditivas), medo e perplexidade. O mesmo autor cita os alucinógenos (lysergic acid diethylamide (LSD), psilobicina, etc.) como substâncias que frequentemente produzem esses quadros tóxicos.

Em relação a frequência do uso de hipnóticos/sedativos, pode-se dizer que os resultados encontrados no presente estudo (3,0%) se assemelha as pesquisas de Tockus e Gonçalves (2008) e Medeiros et al. (2012). Esses autores encontraram respectivamente, 2,27% e 3,1%.

É importante salientar que, de modo geral, pode-se dizer que as frequências encontradas pela presente pesquisa para o consumo das SPAs citadas nos últimos três meses foram baixas, principalmente, se não se levar consideração o consumo de tabaco, que também obteve prevalência pequena. Todas as drogas citadas acima foram menos consumidas que o álcool no período mencionado. Estes resultados estão consonantes aos encontrados em estudo de Déa, Santos, Itakura e Olic (2004) quando relatam que a maioria dos estudos nacionais realizados com universitários a respeito do uso de drogas trazem as bebidas alcoólicas como as substâncias mais consumidas por esse público-alvo em detrimento das outras drogas. Diante desse cenário, os autores afirmam que o álcool, como droga legal, tem seu consumo socialmente aceito e incentivado por propagandas. Além disso, esses autores colocam que a entrada na universidade transpõe o jovem da adolescência à vida adulta. Esse momento é delicado, uma vez que o contexto sociocultural pode, em muitos casos, servir de reforçador para o uso de álcool. Assim, o jovem passa a ver o comportamento de beber como um passaporte para a vida adulta. Aliado a isso, há a presença de grande número de bares ao redor dos campi universitários. As cervejadas patrocinadas por fabricantes de bebidas parecem sugerir que os altos índices de consumo de álcool podem estar relacionados à aceitação social e à facilidade de acesso a essa substância (Déa et al., 2004).

Sobre o assunto, Mesquita, Nunes e Cohen (2008) enfatizam que em muitas situações a percepção de abuso e a forma como os estudantes interagem com o problema são pormenorizadas por essa população por se considerarem menos vulneráveis aos efeitos negativos do álcool. Nesse sentido, Mena (2004) reforça a importância da grande aceitação do consumo de álcool, ressaltando que é comum a família se atentar mais àquele jovem que fuma um cigarro de maconha por mês do que com aquele que bebe todos os dias.

Para o desejo ou urgência de consumir as SPAs pesquisadas no trimestre anterior, 10,6% dos respondentes a relataram para derivados do tabaco, 6,8% para maconha, 1,4% para cocaína/crack, anfetamina ou ecstasy, inalantes, 2,7% para hipnóticos/ sedativos, 2,3% para alucinógenos, 0,5% para opióides, mesma porcentagem para outras drogas. No que diz respeito ao uso de tabaco e cannabis sativa, Tockus e Gonçalves (2008) encontraram dados superiores para a questão - 12,5% para o primeiro e 7,95% para o segundo.

Foram encontradas baixas prevalências quanto ao consumo de drogas como precursor de problemas de saúde, social, legal ou financeiro para o pesquisado nos três meses que antecederam esta pesquisa, (quatro pessoas (1,8%) afirmaram os mesmos no caso do consumo dos derivados de tabaco, a mesma quantidade de participantes os retificaram para o uso de maconha). Para 0,5% (n=1), a assertiva foi positiva em relação ao consumo de cocaína, crack, anfetamina ou ecstasy, inalantes, hipnóticos/ sedativos, opióides e outras drogas.

O questionário utilizado também incluía a investigação sobre a prevalência, no último trimestre, em que o pesquisado deixou de fazer coisas que eram normalmente esperadas dele por conta do uso das substâncias pesquisadas. Assim, 1,0% afirmaram a situação para o uso de tabaco e alucinógenos; 1,5% para o consumo de maconha; 0,5% para o uso de cocaína, crack, anfetaminas ou ecstasy, inalantes, hipnóticos/ sedativos, opióides e outras drogas.

Sobre a interferência do uso de drogas em alguns aspectos da vida dos acadêmicos, Carvalho et al. (2009) relataram que, para 5,5% de graduandos do interior de São Paulo, o uso de tabaco atrapalhava em suas rotinas de estudos, 11,9% alegaram o problema para situações em que usavam maconha e 10,4% para ocasiões de consumo de cocaína. Esses mesmos autores verificaram que esses graduandos se sentiam inseguros com o consumo destas substâncias: 2,8% a informaram para a primeira droga mencionada, 16,6% para uso de cannabis sativa e 19,3% citaram esse sentimento em ocasiões em que utilizaram cocaína.

Na mesma pesquisa, 34,9% referiram que situações de consumo de tabaco atrapalhavam na limpeza e organização do espaço em que habitavam; 15,0% relataram o fato para o consumo de maconha e 10,7% para o uso de cocaína. Os autores também investigaram como o uso de algumas drogas impedia a participação dos estudantes em eventos sociais, culturais e esportivos. Encontraram que 8,3% a informaram para o uso de tabaco, 15,3% para o consumo de cannabis sativa e 14,4% para uso de cocaína (Carvalho et al., 2009).

Baixas prevalências foram encontradas, na presente investigação, para a frequência com que pessoas próximas ao pesquisado preocuparam-se com o consumo de drogas (exceto álcool) nos últimos três meses: cinco pessoas (2,3%) atribuíram o fato para o uso de derivados de tabaco e 1,9% (n=4) relacionou essa situação ao uso de maconha; 0,9% esse para o uso de cocaína/crack e hipnóticos/sedativos (porcentagem idêntica para as duas classes de drogas) e para 0,5% o uso de anfetaminas ou ecstasy, inalantes, alucinógenos, opióides, e outras drogas ocasionou essa preocupação.

Sobre essa questão, mais especificamente, para o uso de derivados de tabaco, Tockus e Gonçalves (2008) encontraram prevalência de 10,23% para familiares, amigos ou outras Sobre a interferência do uso de drogas em alguns aspectos da vida dos acadêmicos, Carvalho et al. (2009) relataram que, para 5,5% de graduandos do interior de São Paulo, o uso de tabaco atrapalhava em suas rotinas de estudos, 11,9% alegaram o problema para situações em que usavam maconha e 10,4% para ocasiões de consumo de cocaína. Esses mesmos autores verificaram que esses graduandos se sentiam inseguros com o consumo destas substâncias: 2,8% a informaram para a primeira droga mencionada, 16,6% para uso de cannabis sativa e 19,3% citaram esse sentimento em ocasiões em que utilizaram cocaína.

Na mesma pesquisa, 34,9% referiram que situações de consumo de tabaco atrapalhavam na limpeza e organização do espaço em que habitavam; 15,0% relataram o fato para o consumo de maconha e 10,7% para o uso de cocaína. Os autores também investigaram como o uso de algumas drogas impedia a participação dos estudantes em eventos sociais, culturais e esportivos. Encontraram que 8,3% a informaram para o uso de tabaco, 15,3% para o consumo de cannabis sativa e 14,4% para uso de cocaína (Carvalho et al., 2009).

Baixas prevalências foram encontradas, na presente investigação, para a frequência com que pessoas próximas ao pesquisado preocuparam-se com o consumo de drogas (exceto álcool) nos últimos três meses: cinco pessoas (2,3%) atribuíram o fato para o uso de derivados de tabaco e 1,9% (n=4) relacionou essa situação ao uso de maconha; 0,9% esse para o uso de cocaína/crack e hipnóticos/sedativos (porcentagem idêntica para as duas classes de drogas) e para 0,5% o uso de anfetaminas ou ecstasy, inalantes, alucinógenos, opióides, e outras drogas ocasionou essa preocupação.

Sobre essa questão, mais especificamente, para o uso de derivados de tabaco, Tockus e Gonçalves (2008) encontraram prevalência de 10,23% para familiares, amigos ou outras Sobre a interferência do uso de drogas em alguns aspectos da vida dos acadêmicos, Carvalho et al. (2009) relataram que, para 5,5% de graduandos do interior de São Paulo, o uso de tabaco atrapalhava em suas rotinas de estudos, 11,9% alegaram o problema para situações em que usavam maconha e 10,4% para ocasiões de consumo de cocaína. Esses mesmos autores verificaram que esses graduandos se sentiam inseguros com o consumo destas substâncias: 2,8% a informaram para a primeira droga mencionada, 16,6% para uso de cannabis sativa e 19,3% citaram esse sentimento em ocasiões em que utilizaram cocaína. Na mesma pesquisa, 34,9% referiram que situações de consumo de tabaco atrapalhavam na limpeza e organização do espaço em que habitavam; 15,0% relataram o fato para o consumo de maconha e 10,7% para o uso de cocaína. Os autores também investigaram como o uso de algumas drogas impedia a participação dos estudantes em eventos sociais, culturais e esportivos. Encontraram que 8,3% a informaram para o uso de tabaco, 15,3% para o consumo de cannabis sativa e 14,4% para uso de cocaína (Carvalho et al., 2009). Baixas prevalências foram encontradas, na presente investigação, para a frequência com que pessoas próximas ao pesquisado preocuparam-se com o consumo de drogas (exceto álcool) nos últimos três meses: cinco pessoas (2,3%) atribuíram o fato para o uso de derivados de tabaco e 1,9% (n=4) relacionou essa situação ao uso de maconha; 0,9% esse para o uso de cocaína/crack e hipnóticos/sedativos (porcentagem idêntica para as duas classes de drogas) e para 0,5% o uso de anfetaminas ou ecstasy, inalantes, alucinógenos, opióides, e outras drogas ocasionou essa preocupação. Sobre essa questão, mais especificamente, para o uso de derivados de tabaco, Tockus e Gonçalves (2008) encontraram prevalência de 10,23% para familiares, amigos ou outras pessoas que relataram preocupação com o uso de cigarros feito por acadêmicos curitibanos, frequência maior que a indicada por este estudo (2,0%).

O presente estudo verificou que, no último trimestre, a medida da constância em que o pesquisado tentou controlar, diminuir ou parar o uso de SPAs (exceto álcool) e não conseguiu correspondeu a 5,1% (n=11) para os estudantes que consumiam derivados de tabaco, dois acadêmicos informaram essa tentativa para uso de maconha, 0,5% (n=1) para consumo de cocaína, crack, hipnóticos/ sedativos anfetamina ou ecstasy, inalantes, alucinógenos, opióides, e outras drogas.

Para o uso de derivados de tabaco, Tockus e Gonçalves (2008) relataram que 7,96% dos acadêmicos de Curitiba relataram terem tentado, sem sucesso, o controle, a diminuição e cessação do consumo dessas substâncias, número superior ao encontrado pelo presente estudo (5,0%). Ainda sobre o tema, Paduani et al. (2008) encontraram que 3,3% dos estudantes de medicina de uma universidade pública do interior de Minas Gerais faziam uso de tabaco e que metade desse percentual tentou interromper o hábito de fumar, sem conseguir atingir seu objetivo.

Há outros fatores envolvidos a respeito da tentativa do controle do uso de drogas. Segundo o Levantamento Nacional sobre o uso de drogas por universitários, 13,2% dos pesquisados faziam consumo múltiplo de substâncias para controlar a ingestão ou os efeitos do álcool, no sentido de ficarem menos alcoolizados, bem como alguns estudantes (10,7%) relataram utilizar bebidas alcoólicas para controlar ou minimizar os efeitos desagradáveis de outra SPA, permitindo a retomada de atividades diárias, quando necessário (Brasil, 2010).

Esta pesquisa também investigou a frequência do uso de drogas injetáveis para uso não médico. Os resultados informam que dois estudantes (0,9%) referiram o consumo nos últimos três meses e 0,4% informou o mesmo, mas não nos últimos três meses. Prevalência semelhante ao uso na vida dessa substância foi encontrada por Portugal et al. (2008) que relataram que 1,4% dos estudantes de farmácia de uma universidade pública da região sudeste do país alegaram terem feito neste mesmo período.

Os resultados encontrados apontam para as baixas frequências para forte desejo ou urgência de consumir álcool e outras drogas, bem como para às consequências negativas e abandono de atividades habituais. Baixas frequências também foram encontradas relativas à preocupação de pessoas próximas com o uso de drogas pelos acadêmicos e a tentativa de controle, diminuição e cessação por parte do pesquisado a este consumo e o uso de drogas injetáveis. As implicações destes achados serão comentadas na seção a seguir.

 

CONCLUSÃO

Os resultados encontrados mostraram baixo consumo de bebidas alcoólicas, embora tenha sido a substância mais consumida durante a vida e nos últimos três meses pelos estudantes pesquisados. Os dados obtidos não surpreenderam em virtude da vinculação midiática, da aceitação social dessa substância e de sua disponibilização no território do campus investigado. Por outro lado, em razão da crescente preocupação da instituição pesquisada com o tema, esperavam-se frequências mais altas de consumo de todas as drogas abarcadas pelo estudo. Além disso, há registros de alertas emitidos pelos professores da instituição quanto ao uso visível de „substâncias proibidas" no entorno dos prédios que abrigam as salas de aula, situação que os levavam a se posicionarem a favor de que o assunto fosse francamente debatido, alegando que a universidade pesquisada por muito tempo negligenciou essa discussão.

Faz-se necessário ressaltar algumas questões diante dos dados que indicam o álcool como a substância mais consumida pelos pesquisados. Como ilustrado no decorrer do texto, a ingestão de bebidas alcoólicas está relacionada à ampla gama de problemas biopsicossociais. Os impactos desse consumo acarretam prejuízos em todas as esferas sociais, como problemas de saúde física e mental, maior risco de se envolverem em situações de direção perigosa e em episódios de violência tanto como vítima quanto como autor, além de maior incidência de problemas com a lei. Portanto, esse consumo demanda múltiplas intervenções em diferentes âmbitos, já que a população pesquisada pode estar mais propensa a se envolver nesses episódios, diante da constatação que essa SPA foi relatada como a mais consumida pelos acadêmicos da pesquisa.

É válido ressaltar que o ambiente universitário pode propiciar o uso de drogas, especialmente de bebidas alcoólicas, em virtude da disponibilização dessa substância ao redor dos campis das universidades, das festas que promovem o uso de álcool (open bar), de variáveis sociais e culturais. Nesse sentido, parece haver uma romantização em relação a entrada na universidade e o uso de drogas, da experimentação de novas vivências e de novos estados de consciência.

Não menos importantes são as consequências que a ingestão de bebidas alcoólicas pode exercer na vida acadêmica dos jovens pesquisados como o não comparecimento em atividades de cunho acadêmico ou, em situação mais grave, priorizar o uso em detrimento da presença nessas atividades. Esse ponto é especialmente delicado para os alunos que saem de suas cidades para se graduarem em outros locais que, além de estarem distantes de seu território e das relações nele estabelecidas, pode haver o incremento dos gastos financeiros oriundo do maior tempo gasto na graduação ou mesmo no próprio consumo de álcool.

A respeito do debate do tema dentro do contexto da instituição participante, pode-se dizer que os resultados obtidos pela aplicação do questionário fornecem pistas importantes para essa discussão. Contudo, o instrumento acaba por deixar de abarcar alguns aspectos essenciais nessa discussão, como a quantidade de consumo das SPAs nas situações de uso. Além disso, o instrumento não investiga as formas com que o aluno lida com os problemas resultantes de seu consumo de drogas, bem como os fatores de sua proteção. Essas informações auxiliariam na criação de programas de prevenção.

As questões levantadas merecem melhores investigações, principalmente, se levado em consideração que a presente pesquisa foi realizada apenas com estudantes de período exclusivamente noturno. Assim, os resultados aqui obtidos podem ser representativos apenas para essa população, não se aplicando de modo geral a outros universitários da instituição pesquisada.

É importante salientar a dificuldade de se encontrar na literatura trabalhos com a população universitária em período noturno. Alguns estudos abordam o uso de drogas por universitários tanto em período diurno quanto em período noturno, porém, não apresentam resultados e discussão de forma específica do uso de drogas entre os estudantes desses cursos, do padrão e características do mesmo, de modo, que há uma generalização sobre o fenômeno entre essas duas populações.

Esta agenda de pesquisa sugerida visa, além de incrementar o manancial de conhecimento sobre o tema, superar as limitações metodológicas do presente estudo. Embora seu objetivo geral tenha sido alcançado (descrição do perfil de consumo de uma população específica), algumas limitações metodológicas devem ser ressaltadas. A primeira delas se refere ao instrumento empregado na coleta dos dados que, como já enfatizado, não permite uma investigação que conjugue variáveis psicológicas outras (bem-estar, por exemplo) em uma relação de antecedência ou consequência com o perfil identificado. O instrumento apenas indica a frequência dos diversos consumos e não identifica a variabilidade desse consumo em cada um de seus tópicos. As respostas dos participantes geram, apenas, variáveis nominais, o que inviabiliza tratamentos estatísticos mais sofisticados. A segunda limitação metodológica do estudo repousa no delineamento de pesquisa. A amostra, voluntária ou de conveniência, como foi o caso, não se mostrou adequada para uma investigação das relações entre variáveis que poderiam se mostrar de interesse em uma pesquisa que, como já mencionado, tivesse interesse em investigar os perfis de consumo, ou do próprio consumidor, com condições pessoais ou sociais. Neste caso, os autores sugerem que o delineamento fosse do tipo „grupo controle" – composto por indivíduos que não consumam qualquer tipo de droga – e "grupo experimental" – composto por indivíduos que consumam. As dificuldades deste tipo de delineamento são óbvias, mas, com certeza, trariam resultados mais instigantes. A terceira limitação parece estar nas condições de aplicação do instrumento. Os questionários foram respondidos em sala de aula onde, em muitos casos, os professores permaneciam em sala durante sua aplicação. Além disso, esse ambiente pode ter colaborado para a sensação de obrigação em responder a pesquisa. Foi comum falas dos professores em relação da grande importância da participação de todos os alunos. Isso pode ter acarretado respostas displicentes, respostas socialmente aceitas ou ainda o receio por parte do aluno em que sua negativa seja encarada pelos colegas, pesquisadores e professores como indício de uso pesado das substâncias pesquisadas.

É válido salientar que, mesmo com as baixas frequências encontradas, é necessária a fomentação de políticas e programas por parte da universidade que tratem de forma aberta sobre o tema, pautada pelo debate. E para que ocorra o desenvolvimento dessas ações de prevenção e atuação direta no problema, é necessário a atuação dos diferentes atores implicados no processo, como a gestão da universidade, estudantes, docentes, funcionários e comunidade. A participação desses atores dá legitimidade e efetividade ao processo.

 

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Nota sobre as autoras

Letícia Maria Rosa Lima. Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail:leticiamrlima@hotmail.com

Sinésio Júnior Gomide. Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail: sinesiogomide@uol.com.br

Marciana Gonçalves Farinha. Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail: mgfarinha@hotmail.com

 

Recebido em: 24/05/2016
Aprovado em: 05/08/2016

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