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Revista do NUFEN

On-line version ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.9 no.1 Belém Jan. 2017

 

Artigo

 

Ô de casa, posso entrar para cuidar?: um teatro-cura ao alcance do tato

 

Household, can I come in to take care?: A theater-healing at the reach of touch

 

¿Puedo entrar para cuidar?: Un teatro-cura al alcance del toque

 

 

Andréa Bentes FloresI; Wladilene de Sousa LimaII

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)I

Universidade Federal do Pará (UFPA)II

 


RESUMO

Este artigo configura-se como relato que procura mapear rastros das experiências pulsantes do Teatro Dadivoso, praticado pelas Coletivas Xoxós nas residências de Belém, enquanto experimento cênico quiasmático voltado ao espaço do domicílio, situadas na fronteira entre o Teatro, a espiritualidade e o cuidado. O corpo do texto relaciona imagens do trabalhoe escritas poéticas em tom memorial, desvelando os procedimentos poéticos experimentados pelas atrizes-narradoras de casa em casa, ao alcance do tato, enquanto deixa evidente o cuidado com o outro como premissa do trabalho. O Teatro Dadivoso tem se revelado potência poética que adentra o espaço de intimidade das pessoas para instaurar vibrações, intensidades, escolhas e cura.

Palavras-chave: Teatro Dadivoso; Cuidado; Quiasma; Espaço de intimidade.


ABSTRACT

This article is a report that seeks to map traces of the pulsating experiences of the Generous Theater, practiced by the Coletivas Xoxós in the residences of Belém, as a quiasmatic scenic experiment aimed at the domicile space, located on the border between theater, spirituality and care. The body of the text relates images of the work and poetic writing in a memorial tone, revealing the poetic procedures experienced house-to-house by the narrative actresses, at the reach of touch, while making evident the care of the other as the premise of the work. The Generous Theater has proved to be a poetic power that penetrates the space of intimacy of people to establish vibrations, intensities, choices and healing.

Keywords: Generous Theater; Care; Chiasmus; Space of intimacy.


RESUMEN

Este artículo se configura como lapresentación de relato, que busca mapear trazas de lãs experiencias pulsantes del Teatro Dadivoso, practicado por las Coletivas Xoxós, em las casas de Belém, encuanto experimento escénico en quiasma devuelto al espacio de la casa, ubicado em la frontera entre el teatro, la espiritualidad y el cuidado. El cuerpo del texto relaciona imágenes del trabajo y escrita poética en tono memorial, que revlan los procedimientos poéticos experimentados por lãs actrices-narradoras de casa en casa, al alcance del toque, mientras que deja evidente el cuidado del otro como premisa de la obra. El Teatro Dadivoso ha se revelado potencia poética que entra en el espacio de intimidad de las personas para establecer vibraciónes, intensidades, elección y cura.

Palabras-clave: Teatro Dadivoso; Cuidado; Quiasma; Espacio de intimidad.


 

 

Nesta casa, rio caudaloso

Afogar, nadar

Nesta casa, terra sob nossos pés

Movediça, firme Nesta casa, vento forte

Derrubar, refrescar Nesta casa, fogo ardente

Queimar, purificar

Nesta casa, é tempo

É o tempo desta casa.

(Trecho do Cardápio de Gratidão)

 

Tempo de ir para casa. Tempo de estar em casa. A casa dos outros. Esse era o espaço que pulsava em nosso corpo, quando nos reunimos para pensar em um novo projeto artístico teatral. Qual a nossa urgência? Era a pergunta que tentávamos responder, vasculhando nossos desejos e o momento de vida de cada uma das Coletivas Xoxós. Essa grupalidade recente procurava por seus afetos. Formada inicialmente por seis mulheres de teatro e amigas, revelou-se coletivo em aberto, in process, que sobrevive em movimento espiralado que agrega e deixa ir seus membros. O que nos une são afetos e urgências, que transformamos em teatro. Foi assim que terminamos por inventar que precisávamos de algo mais que teatro. Algo que esbarrasse no desejo do encontro com o outro e com espacialidades não convencionais de atuação. Sair do lugar conhecido, resistir em uma cidade onde o espaço oficial de fomento e circulação artística é tão reduzido quanto meritocrata, oferecer potências de cuidado com o outro na contramão individualista neoliberal. Teatro Dadivoso, de casa em casa. Estava traçado nosso trajeto de criação e cura: "Ô de casa, posso entrar para cuidar?: Uma encenação-quiasma de casa em casa"1.

As intensidades partilhadas ao longo do primeiro ano de trabalho nos impulsionam a esta escrita, que procura mapear rastros das experiências pulsantes do Teatro Dadivoso, praticado pelas Coletivas Xoxós nas residências de Belém, enquanto experimento cênico quiasmático voltado ao espaço do domicílio, situadas na fronteira entre o Teatro, a espiritualidade e o cuidado. O artigo é tramado no jogo criativo entre imagens e escritas poéticas em tom memorial, que, para além de descrever fatos, ensaiam, na visualidade dos momentos vividos e no tecer de escrituras que os acompanham, o transver a experiência para o olhar do outro.

 

CÍRCULO DE MULHERES

Mandala. Em círculo, mulheres, pés descalços, olhares, desassossegos. Diferentes gerações, nove mulheres. Dez mulheres. Há um olhar a espreita. O que ela vê? Dia de preparação corporal. Os encontros seguem na Casa Cuíra2. Muitas histórias contadas. Elas resolveram estar juntas para ir até o outro, mas, antes, precisavam ir até si mesmas. Ir a si, consigo, com as parceiras. Caminhar juntas, contar histórias juntas, pés de diferentes tamanhos, desafios de impensadas dimensões pela frente. E foram muitos, dentro daquela roda. A mulher a espreita assistiu tudo.

 

 

Houve quem perdesse pai e mãe. Poucos dias de intervalo para tentar respirar. Não eram suficientes. Os dois se foram quase juntos, sem explicação, além do amor e da promessa de nunca deixarem um ao outro. A mais bela história de amor dentro daquela roda. E a dor mais profunda que ela sentiu, de saudade, de ausência, de orfandade. Companheiras juntas, trocaram abraços, compartilharam lágrimas, seguraram a mão. A dor virou narrativa, a atriz transforma-se narrando e cantando em cena.

Houve quem enfrentasse a doença de uma criança. Uma pneumonia que corroeu o pulmão de seu menino, de seu sobrinho. Ela perdeu a alegria de viver, com medo de perdêlo. O círculo de mulheres sentia doer junto com ela e se fez presente nos espaços onde ela tinha que estar, enquanto ficou ausente dos ensaios para acompanhar a criança. Sentiu profundo alívio quando viu o coletivo chegar à recepção do hospital para estar com ela. E a alegria entrou na roda quando veio a cura. Um milagre dadivoso. A roda de mulheres é mais que preparação corporal.

A roda foi o espaço de início das relações entre nós, de descoberta da intimidade de cada uma. O que o olhar a espreita vê na roda são as atrizes-narradoras, somadas a outras mulheres que compõem a equipe técnica. As Coletivas Xoxós nasceram no ano de 2015 e, pela primeira vez, estariam em cena todas juntas. Além disso, experimentavam a abertura do Coletivo a outros membros, que somariam, ao final, quinze pessoas, entre atrizes e equipe técnica. Era preciso partilhar, sentar junto, viver as dores e alegrias, para instaurar um processo criativo que exigia de nós mais do que habilidades cênicas. Era preciso estarmos prontas para cuidar.

 

O QUIASMA E A CASA DOS OUTROS

 

 

Quiasma. Cruzamento, relação, instauração do estado de ser um só corpo (Merleau-Ponty, 2007). O quiasma demarca encontro. Desde o início, a encenação desejada para este experimento se queria uma encenação-quiasma, com projeção corpo a corpo de textualidades e soluções cênicas consubstanciadas na densidade performativa; fala que instaura acontecimentos, lançando o sujeito que narra e o que lhe ouve, amalgamados enquanto potência quiasmática, em estado de escolha, encruzilhada. Tomar decisões, darse conta, passar a ver, são ações que consideramos serem geradas nesse processo.

A experimentação com uma encenação-quiasma envolvia a preparação de roteiros a partir de histórias ficcionais e factuais (histórias de vida), especificamente voltadas à pesquisa do espaço - histórias que se misturassem às outras tantas contadas em silêncio ou em voz alta em cada casa. Visitar o outro, contar-lhe histórias, partilhar intimidades, partilhar o cuidado. Tornar-se o outro, quiasma. As histórias pesquisadas tinham como norteador o cuidado, a troca, a entrega. Teatro enquanto potência de cuidado, arte transformadora do sujeito e do mundo. Em cada casa, famílias, indivíduos, bairros, outras casas, outras cidades.

Em cada espaço íntimo, inúmeros outros territórios a serem encontrados, entre histórias de vida, realidades socioculturais, contradições, sobrevivências, segredos. Casas são também emaranhados de vivências, cada rede composta a sua maneira, como tecituras que juntas comportam a cidade. A cada casa diferente, o desejo de que o teatro a acontecer lá também fosse alterado, pela configuração da casa, pela geografia do bairro, pela estetização do encontro.

O contato com cada atriz-narradora, com suas histórias, dores e potências, era ensaio do contato com as casas porvir. Já estávamos em uma casa, que nos acolheu para vivermos esse processo, Casa Cuíra. Cada corpo de narradora, também uma casa. Domicílio, lugar de intimidade. Tocar a pele, as paredes, acessar quartos, banheiro, dentro dos órgãos e memórias escondidas em seus cantinhos. Ver a parceira. Notar aquela gaveta aberta, expondo tantas quinquilharias, aquela comida estragada na geladeira. Os perfumes, as texturas daquela casa-corpo. Deixar-se visitar e entrar no espaço da outra, para deixar fluir a energia quiasmática do encontro.

 

CORPOS ELEMENTAIS

 

 

Imagem 3 - Em sentido horário, iniciando no canto superior esquerdo, Ivone Xavier, Olinda Charone, Patrícia Pinheiro, Sônia Alão, Andréa Flores, Nani Tavares, Renata Maués e Marluce Oliveira em experimentação com elementais. Maio/2016. Fonte: arquivo pessoal.

O corpo de uma atriz que age em cena me parece inteiro, isto é, preciso e decidido, quando não percebo bloqueios- especialmente nos joelhos, peito e pescoço-, que obstruem o fluxo dinâmico e a passagem de energia entre uma parte e outra do organismo. [...] A precisão é a condição para se ser decidida. Para ser decidida, devo estar convicta. [...] É importante, para mim, poder me lançar com decisão naquilo que faço, como uma pessoa que aprende a nadar se atirando na água, sem fazer pequenas tentativas com os pés ou se preparando com um salva-vidas (Varley, 2010, p.69-70).

Ao invés de nos atirarmos, experimentamos nosso corpo em devir água, terra, fogo e ar. Procurávamos corpos inteiros e decididos, que permitissem passagem de energia, convictos de sua presença cênica e do cuidado que dela deveria emanar. Descobrir pela ação física estratégias de desobstrução, de desbloqueio. O que nos veio foram os elementais. Um elemento vital para cada atriz, nos dois elencos que já estavam divididos, com quatro mulheres cada um. Qual energia emana de você no trabalho? Era a pergunta que cada uma devia se fazer e procurar, em experimentações.

O corpo adota a vibração vital (Merleau-Ponty, 2006) que a percepção contínua do elemento lhe provoca. A sensação inventada como indutora de experiências de nascimento e morte: morre o corpo cotidiano, a ação acostumada; nascem os primeiros estranhamentos de nosso corpo, corpos pesados, leves, fluidos, ardentes. "Não estou diante de meu corpo, estou em meu corpo, ou antes sou meu corpo." (p.208). Experimentar um novo corpo é descobrir outro ser, outro eu. Ser com precisão e atitude de cuidado necessária ao trabalho.

Em busca de ações que nos dessem densidade e decisão na ação cênica, as mulheres espalhavam-se pela sala, enquanto descobriam como mover-se e ativar sua força curadora. Passaríamos a nos liquefazer, esvoaçar, queimar e aterrar energias pessoais e das casas por onde estaríamos. Portas, janelas, corredores, móveis, jardins, descobríamos espaços possíveis por onde cada elemento poderia circular e levar consigo o peso, a doença, a dor, a imobilidade, e o que mais os recônditos da casa nos ativasse para fazer. Enquanto isso, os elementais também passariam a circular por nossas vidas, pelas ações dos cardápios, e pelas histórias narradas. O corpo de uma atriz que age em cena me parece inteiro, isto é, preciso e decidido, quando não percebo bloqueios- especialmente nos joelhos, peito e pescoço-, que obstruem o fluxo dinâmico e a passagem de energia entre uma parte e outra do organismo. [...] A precisão é a condição para se ser decidida. Para ser decidida, devo estar convicta.

[...] É importante, para mim, poder me lançar com decisão naquilo que faço, como uma pessoa que aprende a nadar se atirando na água, sem fazer pequenas tentativas com os pés ou se preparando com um salva-vidas (Varley, 2010, p.69-70).

Ao invés de nos atirarmos, experimentamos nosso corpo em devir água, terra, fogo e ar. Procurávamos corpos inteiros e decididos, que permitissem passagem de energia, convictos de sua presença cênica e do cuidado que dela deveria emanar. Descobrir pela ação física estratégias de desobstrução, de desbloqueio. O que nos veio foram os elementais. Um elemento vital para cada atriz, nos dois elencos que já estavam divididos, com quatro mulheres cada um. Qual energia emana de você no trabalho? Era a pergunta que cada uma devia se fazer e procurar, em experimentações. O corpo adota a vibração vital (Merleau-Ponty, 2006) que a percepção contínua do elemento lhe provoca. A sensação inventada como indutora de experiências de nascimento e morte: morre o corpo cotidiano, a ação acostumada; nascem os primeiros estranhamentos de nosso corpo, corpos pesados, leves, fluidos, ardentes. "Não estou diante de meu corpo, estou em meu corpo, ou antes sou meu corpo." (p.208). Experimentar um novo corpo é descobrir outro ser, outro eu. Ser com precisão e atitude de cuidado necessária ao trabalho. Em busca de ações que nos dessem densidade e decisão na ação cênica, as mulheres espalhavam-se pela sala, enquanto descobriam como mover-se e ativar sua força curadora. Passaríamos a nos liquefazer, esvoaçar, queimar e aterrar energias pessoais e das casas por onde estaríamos. Portas, janelas, corredores, móveis, jardins, descobríamos espaços possíveis por onde cada elemento poderia circular e levar consigo o peso, a doença, a dor, a imobilidade, e o que mais os recônditos da casa nos ativasse para fazer. Enquanto isso, os elementais também passariam a circular por nossas vidas, pelas ações dos cardápios, e pelas histórias narradas.

Ela veio fugida de um corpo de Terra que queria lhe tirar o ar. Tinha sido um fogo de amor de tudo queimar. Quando nasceu um corpo das águas dessa mistura de Terra e Ar, foi que ela entendeu que não ia mais poder suportar o peso daquele corpo de Terra que vivia a lhe sufocar. O corpo das águas era também de Terra pesada, mas precisava dela pra se sustentar e era uma água de amor impossível de não querer carregar. Quando o corpo de Terra quis lhe tomar aquele pequeno corpo das águas, que era também uma parte de sua pesada terra, foi que ela entendeu que era necessário fugir pra não morrer e precisou tudo abandonar. A casa enraizada naquela árvore que tinha virado o seu corpo já tinha sido mesmo destruída por aquela água grande um ano antes e nada mais parecia ter motivo pra se manter ali. Então ela saiu correndo dali e sem olhar pra trás largando tudo que um dia foi seu pra ir encontrar as águas de outro lugar. A fuga, tão veloz quanto um tornado, revolveu todo seu corpo de ar que nem vento de chuva lhe jogando diretamente pra beira de um olho d'água onde ela conheceu paz e sossego que nem lembrança mais existia na sua vida. E foi tanta dor e tanta sujeira carregada daquele outro tempo, que ela precisava muito se lavar naquelas águas pra tirar toda a terra imunda de seu leve corpo de ar. Ah e teve fogo também naquele novo lugar. E foram muitas fogueiras também pra queimar o rancor, o desamor e a tristeza daqueles dias de agonia. Meu novo corpo se reintegrou e o pequeno corpo de terra e água ficou mais leve e fácil de carregar. E foi tanto banho de sol e de lua, que de nova matéria se fez meu novo corpo, o passado se desfez e a vida cresceu nos novos corpos de fogo, de terra e de ar (Trecho de história narrada por Renata Maués, no Cardápio de Transformação).

 

ENSAIOS ABERTOS

 

 

Duas dramaturgias, dois "cardápios": uma voltada ao ato de agradecer - celebração de algo; outra para o ato de transformar - a cura, a mudança. As temáticas que orientam as obras dramatúrgicas reúnem histórias que se afinem a cada uma delas, entremeadas a cânticos, orações, poesias, presságios. Gratidão e Transformação são fios condutores das experimentações. As duas dramaturgias tornam-se, assim, dois "cardápios" a serem oferecidos às pessoas, para que escolham qual desejam receber em suas casas. Novamente, o espírito do quiasma colocando a frente do espectador-morador, uma encruzilhada. Tempo de decidir de que necessita a casa.

Já era tempo de sair da sala de ensaio, da sala fechada. Tempo de habitar outras casas. Dramaturgias montadas, agora precisavam do contato quiasmático para saber se cumpriam o desejo do grupo. Postas em ensaios abertos, seriam entranhadas pelos espaços de intimidade. Encenar, comer junto, conversar e trocar ideias com a casa. Saber o que pensam, o que sentem. Começar pela casa dos parentes, dos amigos, os entes que estão presentes conosco em nossas narrativas. É sobre eles que falamos, a maior parte do tempo. É a eles que agradecemos e junto a eles que nos transformamos, em cena.

Cena? Algo passou a nos soar estranho. Já não sabíamos mais a fronteira que delimita o teatro; o entre teatro e não-teatro. Entre processos artísticos e processos terapêuticos. Entre encenar e cuidar. A encenação-quiasma nos aproximava de uma não dualização, da não rivalização entre nós e o outro, mediação pela ruína (Merleau-Ponty, 2007), enquanto requeria seu cofuncionamento com o que já não era mais importante chamar de teatro, com o que ruía desse território. O que era, então? "Cada vez que alguém rema de uma margem a outra, troca algo. Não cruza o rio para impor suas normas, mas para dar algo e receber algo em troca" (Barba, 1991, p.104). Eram pontes, relações, atravessamentos. Narrativas, histórias cenicamente experimentadas que doam algo a quem assiste e recebe o teatro em casa. Partilhamos atos poéticos, ações que atravessam nossa vida em direção à vida do outro, colocando-nos em vibração, em estado de arte, em gratidão e transformação. Nossa ação é mais do que estar em cena para uma plateia. Dispor-se a esta ação é entregar-se, expor-se, dedicar tempo, energia. Remar até a outra margem, cruzar o rio, o fogo, o vento, a terra, para dar e receber algo em troca. Trabalho dadivoso.

 

DIA DE CUIDAR

Os ensaios abertos revelaram-se estreias, sem que pudéssemos controlar. De casa em casa, o Teatro Dadivoso já acontecia e segue acontecendo. Estar na casa de quem nos recebe, entregar nossa casa-corpo para esse espaço, é dedicar-se ao trabalho e não há outra alternativa, se não entregar-se com toda a profundidade que o ato requer. "O pouco conhecimento é coisa perigosa, beba profundamente ou nem prove da fonte dadivosa", diz Patrícia Pinheiro, no Cardápio de Gratidão, citando palavras do poeta-xamã Jim Morrison.

Foi dessa forma, bebendo profundamente na fonte dadivosa, que a rotina das nove mulheres que compõem os dois elencos passou a ser acrescida de dias de dedicação para o outro. Nos dias de trabalho, "dia de cuidar", como gostamos de dizer, os dois elencos, cada um nos dias em que acordam com as casas, as atrizes-narradoras deslocam-se até a residência de uma de nós para nos reunirmos horas antes. Momentos de troca, conversas sobre a vida de cada uma, cuidado mútuo, preparação vocal e corporal. Partilhar a vida, cuidar-se, vestir figurino, arrumar objetos cênicos e aquecer corpo-voz são rituais que concorrem para o preparo de si, rumo ao cuidado do outro. Após o ritual, entramos em um carro próprio, juntas, e rumamos pelos bairros da cidade de Belém.

 

 

No carro vamos deixando a ansiedade, a rotina de nossas próprias casas, a preocupação com os compromissos pessoais. A violência da cidade, os problemas do país, as desigualdades nas vivências de cada mulher, dos vários femininos que nos circundam. Entram risos, brincadeiras, ajustes de última hora, confiança mútua. Fazemos as últimas confissões: "tenho medo"; "hoje não estou bem"; "se eu esquecer você me ajuda?". E as últimas palavras dirigidas a nós mesmas, antes da dedicação para a casa: "estamos juntas"; "fique tranqüila"; "amo vocês". Tudo o que vem em seguida é o desejo de que aquele seja um grande dia para a casa onde entraremos.

 

AGUARDAR LÁ FORA E ENTRAR NA CASA

Ao chegar às proximidades da casa, a pessoa responsável avisa o momento certo de entrar. Aguardamos sempre do lado de fora, pés calçados, em concentração. Já estamos em trabalho. Os pés ainda protegem-se do solo, ainda evitam a poeira da rua. Em breve, porém, ao entrar na casa, deixamos o conforto das sandálias na porta de entrada. É preciso retirar as defesas para que o outro perceba que estamos disponíveis. Como um costume antigo, deixamos a sujeira da sola das sandálias do lado de fora e levamos para dentro somente a dádiva.

 

 

Sons de instrumentos, sons guturais, cânticos de chamamento e orações. A casa já pode ouvir que há algo acontecendo lá fora, prestes a adentrar o espaço para onde fomos chamadas a estar naquela noite. Não há visitas prévias. É somente na entrada que descobrimos o espaço e as pessoas que a casa nos dedicou. O contato telefônico prévio avisou: precisamos apenas que sejam convidados amigos e vizinhos para a casa, que haja um espaço a escolha do responsável para fazermos o trabalho e que seja servido um lanche a todos no final. Somente ao entrarmos na casa, já em trabalho cênico, é que nos deparamos com o que há e nos adequamos ao que existe, sem propor mudanças.

O espaço dedicado a nós pelos donos da casa, seja ele qual for, precisa ser respeitado, pela natureza dadivosa deste trabalho. Além disso, assim acreditamos ampliar o caráter de experimentação de espacialidades não convencionais para o teatro, lançando o corpo das artistas no desafio do acaso que a residência pode oferecer. Sem tentativas prévias de controle, apostamos na densidade performativa que respeita o local eleito e organizado conforme a pessoa responsável pela casa desejar, abrindo canais de nossa percepção para o mundo daquela residência.

Falamos de uma qualidade perceptiva que abre o mundo ao ente que a conquista, como o cirurgião abre um corpo. Aqui relembramos o pensamento de Merleau-Ponty (2006, 2007). Ocorre que o corpo em estado de abertura, aqui, não precisa dos instrumentos da medicina. Uma vez aberta essa janela, é possível visualizar órgãos em funcionamento, em atividade, possível por toda a preparação a que nos submetemos nos últimos meses, que nunca cessa. Percepção dos elementos, os mesmos que deixamos entrever em nosso corpo, raios das coisas que são dimensões do mundo-habitação daquele espaço. O sensível, desperto na surpresa da entrada na casa, nos inicia nesse mundo. O sensível, desperto em sala de ensaio e a cada encontro. É preciso jogar com tudo isso, estar atentas aos acontecimentos e fazê-los emergir na potência do contato não planejado, não controlado.

 

DEVIR-ANIMAL

 

 

Já estávamos dentro das casas, quando passamos a deixar alguns bichos entranharem-se em nossos corpos. O devir-animal das atrizes foi uma estratégia destinada a ampliar o estranhamento dos corpos e acionar energias curadoras que emanam da natureza, para além dos elementares. O trabalho quer atrair todas as energias de cura que puder, que acreditar, enquanto potencializa o corpo das narradoras, oferecendo-lhe materiais para a cena.

O material da atriz, para mim, consiste em uma sequência de ações, cenas, caminhadas, passos de dança, maneiras de sentar, de olhar e de usar os braços [...]. O material ou partitura é o ponto de partida para enfrentar um texto, um tema, uma situação, uma cena ou personagem (Varley, 2010, p.93).

Andréa Flores, devir-jaguar, aciona a mão em garra para falar ao público, lançar-lhe seus presságios, e dedicar bênçãos para a casa. Rosna para energizar o ambiente, para amedrontar energias negativas e para ativar o corpo da atriz sempre que se sente esmorecer. Michele Campos é devir-cavalo, carrega consigo o barulho das cavalgadas do animal, seu bufar e o olhar. Ela tem agilidade, calma e força em cena, energias que empresta do bicho para seu ato dadivoso. Cada uma das partituras criadas e descobertas com esse trabalho acrescenta possibilidades cênicas e de cuidado ao corpo das narradoras. Borboleta, tartaruga, golfinho, jaguatirica, ariranha, fênix e outros tantos seres híbridos, que mais parecem dragões, no processo de cada mulher estar a caminho de ser o animal, adentram a casa. Corpos estranhos, animalescos, tornando-se bichos, sem que o processo chegue a se completar.

Os devires-animais não são sonhos nem fantasmas. Eles são perfeitamente reais. Mas de que realidade se trata? Pois se o devir animal não consiste em se fazer de animal ou imitá-lo, é evidente também que o homem não se torna "realmente" animal, como tampouco o animal se torna "realmente" outra coisa. O devir não produz outra coisa senão ele próprio. É uma falsa alternativa que nos faz dizer: ou imitamos, ou somos. O que é real é o próprio devir, o bloco de devir, e não os termos supostamente fixos pelos quais passaria aquele que se torna. O devir pode e deve ser qualificado como devir-animal sem ter um termo que seria o animal que se tornou. [...] O devir nada produz por filiação; toda filiação seria imaginária. O devir é sempre de uma ordem outra que a da filiação. Ele é da ordem da aliança (Deleuze & GuattariI, 1997, p.14-15).

Nossa aliança é com as potências do animal, não filiação, nem imitação. Mais do que parecer o bicho, o que buscamos é o próprio devir. O processo é suficiente para fazer vibrar as intensidades que atraímos para dentro das casas, para dentro de nossos corpos. Oncificar, cavalizar, tartarugar, são verbos que inventamos em ação performativa, como sinônimos de cuidar e curar. Não trabalhamos com o imaginar ser o bicho: no momento do trabalho nas casas, estamos no meio do caminho para sê-lo de fato e, assim, convocamos o outro a desfazer filiações, a laçar-se em novas alianças, a voar, cavalgar, morder, nadar. A inventar outros verbos para si, a permitir-se estar em processo de ser outra coisa, sem o compromisso de determinar de onde partiu e que outro estado é esse em que agora deseja chegar.

O bicho pode, ainda, extravasar para a narrativa. A mulher que inicia o Cardápio de Transformação contando sobre a convivência com a irmã, relata que a parceira de quarto parecia feita de porcelana, passível de quebrar a qualquer momento. Depois de enfrentar a jornada de cura do filho, a irmã compartilha o devir-animal da narradora, em troca de olhares selvagens:

Eu olho para minha irmã, desta vez em um quarto de hospital. Mas os olhos que eu vejo não são mais quebradiços. São olhos de onça. Duas onças que se encaram, aprendendo a cuidar da cria. Às vezes se arranham e se mordem, porque eu preciso dizer não, se não ela volta a acreditar que é feita de vidro. Noutras, ela é quem precisa lembrar-me de dedicar meu tempo para entregar o fogo de cuidado e amor que arde dentro de mim. Esse fogo extravasa meu peito e invade a tua casa. Eu recebo a tua acolhida e te entrego o meu amor que cura e liberta (trecho da narrativa de Andréa Flores, no Cardápio de Transformação).

 

OUVIR, CHEIRAR, SENTIR, DEGUSTAR E VER

 

 

Dentro das casas, estratégias de cuidado são acionadas, entre histórias narradas, poesia, música, orações e presságios. As atrizes-narradoras estão em situações reais de cuidado de si diante do outro, já que o trabalho performativo consiste em não desvincular o processo artístico das camadas de vida de cada uma de nós. O que o público vê são mulheres que, de fato, estão trabalhando a si mesmas e sendo revolvidas internamente, intensidades que reverberam para o outro. Esse processo é acompanhado de atos poéticos que atuam como dispositivos de cuidado de si e do outro, costurando cenas e criando as atmosferas de gratidão e transformação que desejamos.

Há sonoridades que preenchem o espaço da casa. Instrumentos musicais nos acompanham desde a entrada, como sons que emanam de nosso próprio corpo. Pau de chuva, sino, maracás e acordeom, além de apitos e outros instrumentos regionais, mais do que fazer sonoplastia, oferecem limpeza da energia da casa, revolvem as emoções, atraem a atenção e operam cuidado pela audição. O Teatro Dadivoso envolve todos os sentidos.

Existe toque, carinho, entre as atrizes e cada um dos convidados-testemunhas da casa, na casa. Existe alimento para degustar: Ivone Xavier oferece bolinhos de chuva a todos, lembrança da receita que aprendeu com a mãe. Há cheiros que invadem a casa, perfume do banho de ervas, preparado por Renata Maués e disponibilizado aos presentes, para banharem-se. Há elementos visuais, preparados especialmente para despertar o olhar atento de quem recebe: Nani Tavares oferece cartas de baralho para serem manuseadas pelo público, que determinam a ordem das histórias a serem narradas e doam uma imagem para, se desejar, guardar consigo na memória ou deixá-la vibrar dentro de si.

No Teatro Dadivoso, aqueles que seriam chamados de público e formariam a plateia, assumem o lugar de sujeitos da percepção (Merleau-Ponty, 2006). Os estímulos, ou, melhor dizendo, as provocações aos sentidos não têm finalidades lógicas, mas são possibilidades de re-criação ou re-constituição do mundo. Verdadeiros assaltos e investimentos à subjetividade, ajudam no processo de potencializar o sujeito a saber de si, conhecer-se, inventar-se. Cada sonoridade, sabor, toque, cheiro, imagem, é posta à percepção do grupo, atravessa nosso corpo e, ao revelar sua capacidade de nos alterar e ativar em direção a algo, lançamos como desafio para quem nos receber. A própria casa e a realidade vivida não como objetos totais, fixos, dados, mas como liberdade, cada instante não como mundo fechado, mas como acontecimento que envolve os outros por vir. Experimentar outras sensações, perceber coisas novas como quem evita a alternativa entre existência em si e para si. Afinal, quem saberia dizer com precisão que gosto tem bolinho de chuva?

 

UM TEATRO MENOR AO ALCANCE DO TATO3

Félix Guattari, intercessor de Gilles Deleuze, propôs uma analítica das formações do desejo, que ele chamou de micropolíticas:

A questão micropolítica – ou seja, a questão de uma analítica das formações do desejo no campo social – diz respeito ao modo como se cruza o nível das diferenças sociais mais amplas (que chamei de molar), com aquele de chamei de molecular. Entre esses dois níveis não há uma oposição distintiva, que dependa de um princípio lógico de contradição (Guattari & Rolnik, 1999, p.127).

Segundo este pensador, estas formações podem ser identificadas como molares e moleculares. Estes dois conceitos estão inseridos no movimento de formação da consciência minoritária; consciência do desejo.

A formação molar diz respeito ao reconhecimento de um padrão, de uma maioria ―em relação à qual outras quantidades, quaisquer que sejam, serão ditas menores, a um modelo de poder no qual ―de um pensamento se faz uma doutrina, de uma maneira de viver se faz uma cultura, de um acontecimento se faz a História (Deleuze, 1990, p. 97).

Esta analítica poderia ser aplicada sobre o teatro? Ou melhor, o teatro pode ser visto como micropolítica?

Vemos o teatro, tanto para o ator quanto para o espectador\testemunha, como uma das formações do desejo. Estes conceitos – molar e molecular – podem ser aplicados no âmbito desta prática teatral? Tornar-se-ia o teatro dadivoso um padrão, com regras e modos? Como artistas que criam neste fazer, independente de ser corpo-cena ou olhoencenador que espreita, queremos que este esteja excluído de tornar-se um padrão majoritário. É evidente que há sempre riscos de uma minoria recair na maioria, ao refazer o padrão de poder, ao querer ser reconhecida como uma categoria específica; ao normalizarse. O teatro dadivoso se quer minoritário, molecular, não deseja instituir-se. Prefere ser reconhecido como um teatro menor. Ou melhor, nem quer ser reconhecido como teatro.

Quer se ver ato, trabalho, acontecimento de intimidade, ao alcance do tato. Uma cura ao alcance do tato.

Segundo Deleuze, ser um teatro menor é agir pelo procedimento de subtração como foi o caso do teatro de Carmelo Bene, ator e diretor italiano. Este criador – que trabalhou muito a partir da literatura dramática - retirava de cada peça um elemento, um personagem, como no caso de Romeu e Julieta de Shakespeare, ―amputação de Romeu e desenvolvimento gigantesco de Mercuccio. O que este diretor procurava subtrair? Subtrair os elementos que são marcadores de poder do sistema da representação, neste caso, o poder que é representado e o poder do próprio teatro. A peça afetada pela subtração movimenta-se, e uma nova peça surge em decorrência desse procedimento.

Para Deleuze, o teatro de Bene é crítico porque é um teatro constituinte. Bene como diretor era um operador. E como operador, realizava o movimento de subtração, que se fazia acompanhar da criação de um novo elemento. Essa subtração é o que desencadeava uma nova peça, na qual se observava o desenvolvimento de uma nova matéria e de uma nova forma teatral. O procedimento de subtração, que desencadeia um processo de variação contínua, é responsável por essa potência de transbordar o limiar representativo do padrão majoritário.

Desse tratamento imposto a um texto (obra poética ou histórias de vida ficcionalizadas em cena) advirão segundo Deleuze, a subordinação da forma ao movimento e a subordinação do sujeito à intensidade dos afetos; tal tratamento também evitará a representação de conflitos — que aprisionaria o devir na contradição — sobre a cena. Assim se define uma função anti-representativa cujo sentido seria a criação de uma consciência minoritária.

E nós, autoras desse artigo, encenadora (Wlad Lima) e diretora (Andréa Flores) dos atos e procedimentos aqui relatados, o que procuramos subtrair em Ô de casa...?

Nós subtraímos a representação teatral, não representamos, presentificamos todos os dias, nossas vivências, nossas memórias, nossas afetações; subtraímos as dramaturgias rigorosas, narramos em hibridações com os pensadores poéticos e a poesia pensante, com os mantras e as canções, com as orações, com os presságio, com os ditados corriqueiros, com as nossas sensibilidades religiosas; subtraímos os personagens, nos colocamos em devir, sempre em devir-mulher, devir-criança, devir-animal; subtraímos os ensaios, nos colocamos em cuidado, em jogo, em risco; subtraímos o edifício teatral, vamos a casa dos outros; subtraímos os espectadores, convocamos testemunhas para os nossos atos; subtraímos a obra-produto, provocamos dádivas; subtraímos a temporada-mercado, ofertamos o teatro-cura, o cuidado de si e do outro.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em busca da consciência minoritária desse fazer dadivoso, arguimos em síntese, alguns desejos para termos como princípios. Nossos princípios não são regras, são desejos: que a prática do cuidado de si e do outro retorne aos atos artísticos; que o ato artístico nos reconecte com o divino, assim como foi em suas múltiplas origens, ocidentais e nãoocidentais; que a prática artística seja em materialização, um dom coletivo, partilhado, processual, relacional; que a arte não seja mercadoria, mesmo em detrimento de sua precariedade; que o teatro dadivoso seja uma aposta, mais na potência da vida e menos no capital, que com ele haja possibilidade do teatro sem capital; que os atuantes não sucumbam às vendas e mídias de suas imagens-força. Como dádiva, a todos que construíram esses atos de cuidado, o artigo se conclui com a citação nominal dos criadores, colaboradores, apoiadores e patrocínio (via prêmio em edital público) do Ô de casa, posso entrar pra cuidar?.

No elenco:

Andréa Flores

Ivone Xavier

Marluce Oliveira

Michele Campos Nani Tavares

Olinda Charone

Patrícia Pinheiro

Renata Maués

Sônia Alão

Equipe Técnica: Preparação Corporal – Carol Castelo

Preparação Musical – Leandra Vital

Produção Visual e Mídias – Breno Filo

Produção Executiva – Renata Maués

Figurino e Adereçagem – Anibal Pacha

Costura – Telma Lima

Adereço Cenográfico – Wlad Lima

Coordenação de Pesquisa – Andréa Flores

Direção Cênica – Andréa Flores e Nani Tavares

Concepção e Encenação – Wlad Lima

Colaboradores:

Roberta Flores

Aline Folha

Apoiadores:

Grupo Cuíra do Pará

Família Maués Família Oliveira

Família Charone

Patrocínio Público:

Prêmio Experimentação, Pesquisa e Difusão Artística 2016, Programa de Incentivo à Arte e à Cultura- SEIVA, Fundação Cultural do Pará, Governo do Estado.

 

Referências

Barba, E. (1991). Além das ilhas flutuantes (L. O. Burnier, Trad.). Campinas: Hucitec: Unicamp.         [ Links ]

Deleuze, G. & Guattari, F. (1997). Devir-intenso, devir-animal, devir-imperceptível. In Deleuze, G. & Guattari, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 4 (S. Rolnik, Trad.). (p.8-99). São Paulo: Ed. 54. (Original publicado em 1980).         [ Links ]

Deleuze, G. (1990). Un manifeste de moins. In: Bene, C. & Deleuze, G. Superpositions. (p.85-131). Paris: Les Éditions de Minuit. (Original publicado em 1979).         [ Links ]

Guattari, F. & Rolnik, S. (1999) Micropolítica: Cartografias do Desejo (S. Rolnik, Trad.). Petrópolis: Editora Vozes.         [ Links ]

Merleau-Ponty, M. (2006). Fenomenologia da percepção (C. A. R. de Moura, Trad.). (3ª ed). São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1994).         [ Links ]

Merleau-Ponty, M. (2007). O visível e o invisível. (A. M. Gianotti, A. M. D'oliveira, Trad.). (4ª ed). São Paulo: Perspectiva. (Original publicado em 1964)        [ Links ]

Varley, J. (2010). Pedras d'água: bloco de notas de uma atriz do OdinTeatret. (J. Zancanaro, L. Martuchelli, Trad.). Brasília: Teatro Caleidoscópio        [ Links ]

 

 

Notas sobre os autores:

Andréa Bentes Flores: Atriz, palhaça, diretora de teatro e terapeuta ocupacional na cidade de Belém, Pará. Professora da Escola de Teatro e Dança (ETDUFPA). Mestre em Artes pelo PPGArtes/ICA/UFPA. Doutoranda em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGArtes/EBA/UFMG). E-mail: flores_terapeuta@yahoo.com.br.

Wladilene de Sousa Lima: Atriz, diretora e cenógrafa de teatro na cidade de Belém do Pará. Professora-pesquisadora da Escola de Teatro e Dança (ETDUFPA) e do Programa de Pós- Graduação em Artes (PPGARTES), subunidades do ICA – Instituto de Ciências da Arte da UFPA. Doutora e mestre em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (PPGAC/UFBA). Estágio de pós-doutorado em Estudos Culturais junto a Universidade de Aveiro, Portugal. E-mail: gordawlad@icloud.com.

 

Recebido em: 10/11/2016
Aprovado em: 10/11/2016

 

 

1 Projeto contemplado pelo Prêmio Experimentação, Pesquisa e Difusão Artística 2016, Programa de Incentivo à Arte e à Cultura- SEIVA, Fundação Cultural do Pará, Governo do Estado.
2 Casa Cuíra – Sede do Grupo Cuíra do Pará, coletivo teatral atuante a 30 anos na cidade de Belém. Seus espetáculos – em espaços públicos, espaços convencionais, espaços não-convecionais – marcaram as décadas de 80 e 90 com produções políticas e experimentais, tanto na linguagem quanto na dramaturgia, ora com temas polêmicos e anarquistas, ora com temas sociais e históricos de interesse da cidade. Nas duas décadas do século XXI, o Cuíra vem investindo na manutenção de sua sede como um atelier-residência-resistência na inóspita política cultural do Estado do Pará.
3 Teimamos trazer novamente a público, neste subitem, as considerações teóricas que fundamentaram a prática do teatro de porão, publicadas na tese intitulada O teatro ao alcance do tato, de Wlad Lima, encenadora do Teatro Dadivoso, porque, após as vivências com os atos realizados nas casas, houve a compreensão de que esta forma de ato também pode ser considerado um teatro ao alcance do tato, um teatro menor, um não-teatro.

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