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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.12 no.2 Belém maio/ago. 2020

http://dx.doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol12.nº02editoria 

Editorial

DOI: 10.26823/RevistadoNUFEN.vol12.nº02editorial

 

 

A potência do coletivo, do cuidado e da construção do conhecimento na vivência da pandemia do Coronavirus

 

Kamilly Vale

 

Quando um ano começa ele traz para a humanidade promessas de recomeço e de atualização das trajetórias existenciais. Assim se abriu 2020; entretanto no mês de março a biografia mundial teve seu curso mudado com o surgimento do Corona Vírus em colisão com o cotidiano das relações humanas, devido a disseminação voraz da doença COVID 19, e as medidas tomadas pelos governos federal, estadual e municipal para conte-la.

Deste modo 2020 ficará marcado na história da humanidade como um ano de grandes impactos no desenho de nossos hábitos, atitudes e formas de lidar com nossa saúde, e com o meio ambiente. Também com as repercussões negativas da propagação e disseminação do vírus e de Fake News; e das positivas presentes nos atos de solidariedade, das redes de compaixão, e de agentes promotores do conhecimento cientifico, dentre outras possibilidades.

Com a pandemia, a Revista do NUFEN foi afetada na produção do volume 12, número 2, no que se refere aos encontros presenciais; entretanto com o esforço da equipe editorial, ele foi todo construído, em termos editoriais, no “novo formato” em que o mundo se encontra: por meio de reuniões online, em home office e somando forças para que o trabalho fosse conduzido com os mesmos princípios norteadores da composição de todos os volumes anteriores: competência, seriedade e cuidado. Assim, o coletivo que compõe a revista do NUFEN reitera as forças para que possamos levar adiante o fundamento que a organiza, e que confiamos ser o fermento e o sal que gera transformações reais, em vários sentidos dentro da sociedade: divulgar a pesquisa cientifica produzida internacionalmente.

Os temas que integram este número são: a perspectiva escolar, a da saúde, do trabalho, da filosofia, da religiosidade, da psicologia, das narrativas de mulheres, da clínica ampliada e das redes sociais. Os textos são, em sua maioria produções realizadas anteriormente a Pandemia do Covid-19, no entanto, percebe-se que os debates suscitados revelam importantes caminhos para fomentar reflexões diante deste cenário e abrir espaços para posteriores pesquisas.

No artigo A percepção da pessoa internada sobre sua vivência no hospital, os autores apresentam a compreensão dos sentidos dados acerca da internação hospitalar, identificando os fatores mais recorrentes nos relatos através da perspectiva fenomenológica. A pesquisa foi realizada na enfermaria do Hospital de Emergência Oswaldo Cruz na cidade de Macapá-AP.

Compreender os sentidos dados durante um tratamento de saúde é o objetivo das autoras do artigo Para além do câncer de mama: estudo centrado nas mulheres em tratamento quimioterápico. Trata-se de reflexões acerca das significações afetivas e emocionais vivenciadas por mulheres acometidas pelo câncer de mama, a partir de suas experiências durante o início do tratamento quimioterápico. Os fundamentos teóricos e vivenciais são a Abordagem Centrada na Pessoa. As participantes apontam para a importância das redes de apoio diante das mudanças físicas e ambientais ocorridas durante o tratamento.

Os autores do texto Segurança e saúde no trabalho e o sofrimento ético realizam uma análise, a partir da fala dos trabalhadores, de como a gestão da segurança e saúde de uma empresa da cadeia produtiva de alumínio instalada na região norte do Brasil é vivenciada subjetivamente pelos mesmos. A fundamentação teórico-metodológica utilizada é pautada na teoria da Psicodinâmica do Trabalho e de autores que dialogam com a Sociologia do Trabalho. Os relatos obtidos revelam sofrimento ético por vivenciar ações em que a segurança e a saúde são submetidas à lógica da produção resultante de uma cultura organizacional que privilegia as regras de segurança no trabalho e contraditoriamente obriga ao descumprimento de tais regras.

Utilizando o método fenomenológico, as autoras do artigo Vivências relacionais nas redes sociais em diferentes fases da vida investigaram como as relações são facilitadas pelas tecnologias e como jovens, adultos e idosos se percebem e atribuem sentidos nas redes sociais. Dentre os achados, relatam: Relações angustiantes; Passatempo e vício; Exibicionismo e Dificuldade em se desligar, constatando a influência das redes sociais nos relacionamentos, além de convergências nos sentidos atribuídos pelos participantes a esse processo.

Ainda na direção de dar voz e sentido para vivências o artigo Escritação com mulheres: experimentando com Rolland Barthes e Walter Benjamin propõe uma escrita de vida singular: real, ficcional, fragmentada, produtora de sentidos. As autoras recorreram as ideias de Barthes, que fala da escrita como algo maior do que uma atividade normativa, e de Walter Benjamin, que dá destaque a experiência do narrador ao processo e que afirma que esta não submete os fatos às explicações, não tem pressa e nem um fim rigoroso. Influenciadas pelas noções de escritura e narrativa destes autores e tendo como fonte de inspiração contatos com mulheres em diversos contextos, escreveram histórias, às quais batizaram de escritações. Através da devolutiva das participantes afirmam que foi possível sensibilizar, provocar reflexões e afetos.

O relato de experiência Ser mulher trabalhadora e mãe no contexto da pandemia COVID-19: tecendo sentidos partiu da experiência da própria autora no contexto do distanciamento social provocado pela pandemia da COVID-19, nesse ano de 2020. A obra apresenta uma análise fenomenológica, realizada com trechos de sua narrativa pessoal, dialogando com a literatura sobre COVID-19 e incluindo temas trabalho, gênero, mulher, maternidade e docência.

Dentro do contexto da Pandemia do novo Corona Vírus os autores do texto Orientações da psicologia brasileira em relação a prevenção da COVID 19, apresentam medidas realizadas pelo Sistema Conselhos de Psicologia para orientação da categoria nos procedimentos de atendimento a população, diante da pandemia. A pesquisa baseou-se em procedimentos qualitativos, com método descritivo explicativo e compreensivo, por meio da análise de textos e materiais com o objetivo de auxiliar psicólogas(os) durante o período da pandemia, com informações sobre o exercício profissional e atuação em diversos contextos.

O texto Clínica ampliada e articulação em rede: relato de experiência no SUAS aborda o desenvolvimento de modalidades interventivas enfocando o psicossocial, o território e a ação articulada da rede de assistência abrangendo a complexidade da situação de crianças e adolescentes em vulnerabilidade. O método utilizado foi a cartografia clínica, sendo a experiência relatada em diários de bordo, relatórios e supervisões gravadas. Os dados obtidos indicam uma carência de rede de apoio comunitário, rede de saúde e de garantia de direitos, sendo fundamental contar com a politica pública da clínica ampliada.

Fazendo uso dos fundamentos da Gestalt-terapia e dos aportes teóricos da neurofisiologia o artigo Os neurônios-espelho e a relação terapêutica em Gestalt-terapia fazem um diálogo acerca da relação terapêutica, integrando a linguagem corporal e emocional, a relação terapêutica em Gestalt-terapia.

Apresentando uma epistemologia teórica os autores do ensaio A refundação crítica da ciência e a ontopsicologia debatem o problema do conhecimento pelo viés da refundação crítica da ciência por meio da Ontopsicologia de Antonio Meneghetti. Buscam, a partir de método exploratório de revisão sistemática bibliográfica situar esta problemática nas epistemológicas contemporâneas, sobretudo a partir da perspectiva exposta na obra Krisis de Edmund Husserl.

No texto Vitalismo cristão e psicologia: contribuições de Michel Henry e Wilhelm Reich o autor apresenta o vitalismo, de origem cristã, e sua influência na Psicologia contemporânea. O termo vitalismo é conceituado conforme o entendimento da filosofia da libertação de Enrique Dussel que o relaciona ao humanismo semita. Em seguida demonstra-se como o vitalismo cristão é apreciado no pensamento de Michel Henry, filósofo francês que embasa uma forma de psicologia fenomenológica e Wilhelm Reich, principal autor da Psicologia Corporal.

Para finalizar o volume apresentamos duas resenhas: 1- Perspectivas críticas em psicologia escolar sobre o livro Psicologia escolar: práticas críticas, organizado por Marisa Eugênia Melillo Meira (UNESP) e Mitsuko Aparecida Makino Antunes (PUC-SP), uma obra desenvolvida tendo como foco dois objetivos: que objetiva oferecer uma denúncia do compromisso ideológico da psicologia escolar e contribuir com a construção de uma práxis crítica e reflexiva por psicólogos escolares nos espaços de atuação. E 2: Reconstruções da Abordagem Centrada Pessoa: Novos Encontros dirigida aos interessados na epistemologia do enfoque. Após a leitura atenta o livro que resenhamos, fica difícil não vislumbrar os “fundamentos” por trás das ideias que Rogers articula e desenvolve em seus livros. Ou melhor, permite-nos compreender a ACP como uma grande teoria de psicoterapia, psicologia e ecologia, quando indivíduo, as relações humanas e a vida, respectivamente, são rigorosamente refletidas sem perder a humanismo que todos nós temos e somos.

O Coletivo responsável pela Revista do NUFEN une sua voz a de todos os cientistas e profissionais da saúde, dedicados vinte e quatro horas ao tratamento das pessoas infectadas com a COVID 19, solicitando aos leitores do periódico: se puder fique em casa para evitar a disseminação da doença. Cuidemos uns dos outros para debelar a pandemia. Aproveitem a leitura.

Saudações.

 

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