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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.13 no.1 Belém jan./abr. 2021

 

RESEARCH REPORT

 

Emergências e desastres: atuação de psicólogos(as) de orientação clínica em Santarém/PA

 

Emergencies and disasters: performance of clinical psychologists in Santarém/PA

 

Emergencias y desastres: desempeño de psicólogos clínicos en Santarém/PA

 

 

Eloísa Amorim de Barros1; Mylena Socorro Corrêa de Sousa2; Taynara da Silva Campos3

Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES)

 

 


RESUMO

Este estudo objetivou identificar se profissionais de Psicologia atuantes na clínica tradicional se sentem aptos para trabalhar em situações de emergências e desastres. Foi realizada pesquisa de campo, com abordagem qualitativa, através de entrevista semi-estruturada realizada com 10 psicólogos clínicos de Santarém - Pará. Observou-se que a maioria dos profissionais, de acordo com as suas especializações e experiências em âmbitos semelhantes a de emergências, afirmam se sentirem aptos para atuar em situações de desastres e em outros momentos notou-se a contradição nas respostas, enfatizando a necessidade de maiores estudos na área, principalmente nas formações em psicologia existentes na região

Palavras-chave: Psicologia; Desastres; Atuação do Psicólogo.


ABSTRACT

This study aimed to identify whether psychology professionals working in the traditional clinic feel and are able to work in emergencies and disasters. Field research was carried out, with a qualitative approach, through a semi-structured interview conducted with 10 clinical psychologists from Santarém - Pará. It was observed that most professionals, according to their specializations and experiences in areas similar to emergencies, say they feel able to act in disaster situations and at other times the contradiction in the responses was noted, emphasizing the need for further studies in the area, especially in the psychology training existing in the region

Keywords: Psychology; Disasters; Psychologist Performance.


RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo identificar si los profesionales de la psicología que trabajan en la clínica tradicional sienten y pueden trabajar en emergencias y desastres. La investigación de campo se realizó, con un enfoque cualitativo, a través de una entrevista semiestructurada realizada con 10 psicólogos clínicos de Santarém - Pará. Se observó que la mayoría de los profesionales, de acuerdo con sus especializaciones y experiencias en áreas similares a emergencias, dicen que se sienten capaces de actuar en situaciones de desastre y en otras ocasiones se observó la contradicción en las respuestas, enfatizando la necesidad de más estudios en el área, principalmente en la capacitación en psicología existente en la región

Palabras clave: Psicología; Desastres; Rendimiento psicólogo.


 

 

INTRODUÇÃO

Desastres naturais ou decorrentes de ações humanas fazem parte da história da humanidade e seus efeitos têm sido estudados com maior frequência na contemporaneidade, devido os grandes prejuízos de ordem física, patrimonial e emocional que causam na sociedade. Os danos psicológicos enfrentados por quem que vivencia uma situação de desastre é uma temática que tem sido pautada cada vez mais na Psicologia, ressaltando na necessidade que o profissional psicólogo atue com essas pessoas de maneira individual e coletiva, oferecendo acolhimento e intervenção diretiva na recuperação da saúde mental, saindo dos moldes do atendimento clássico da clínica psicológica (CARVALHO; BORGES, 2009).

O Estado do Pará é uma região onde hidrelétricas e mineradoras já fazem parte do cenário e contribuem para que as enchentes e os deslizamentos de terra atinjam fauna e flora, além de famílias que se encontram nos territórios onde esses projetos são instalados e acabam experimentando um estado de vulnerabilidade que perpassa por vários aspectos que vão desde a saída obrigatória de suas casas, a escassez de alimentos até o adoecimento decorrente de intoxicação por substância utilizadas nos grandes projetos. Por esse motivo, esta pesquisa foi realizada com o intuito de entender se os profissionais da Psicologia se sentem aptos para atuar em um estado onde as emergências e os desastres estão presentes no cotidiano da população.

Entendendo que a atuação da psicologia em emergências e desastres requer fundamentação teórica e técnica, buscou-se entrevistar profissionais de diversas abordagens teóricas, a fim de entender se dentro de suas formações existe uma preocupação em relação ao cuidado psicológico a pessoas que vivenciaram alguma situação de vulnerabilidade decorrente de emergências e desastres.

Assim, este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo geral identificar se profissionais de Psicologia atuantes na clínica, na cidade de Santarém - Pará se sentem e estão aptos para trabalhar em situações de emergências decorrentes de desastres, enfatizando a importância da atuação de psicólogos em emergências e desastres, enfatizando as especificidades do estado do Pará.

 

MÉTODO

Este estudo teve por finalidade identificar particularidades a partir da fala da população estudada e a sua contribuição para atuação em situações emergenciais. Para tanto esta pesquisa se qualifica como exploratória, que segundo Severino (2016) delimita-se em um campo de trabalho e tem como objetivo esclarecer ao pesquisador a experiência do público acerca da pesquisa que está participando. E descritiva, que de acordo com Costa e Costa (2015), busca não interferir na realidade pesquisada, mas sim descrevê-la. Utilizou-se o levantamento bibliográfico e a pesquisa de campo, com abordagem qualitativa, a qual, Serapioni (2000) afirmar ser uma forma de analisar o comportamento humano utilizando a observação não controlada sendo, portanto, um estudo subjetivo, exploratório, indutivo, holístico e não generalizável.

Na pesquisa bibliográfica foram realizadas pesquisas nas bases de dados Scielo, Pepsic, BVSpsi e também em sites do Governo Federal para coletar informações de caráter regional. Na pesquisa de campo, a amostra da população foi selecionada a partir dos critérios de inclusão: psicólogos(as) que atuassem na clínica de forma autônoma; Atuação na cidade de Santarém – Pará. Os critérios de exclusão adotados foram: profissionais que não estejam confortáveis em participar da pesquisa; profissionais com menos de três anos de experiência em atuação com psicologia clínica.

Assim, inicialmente para esta pesquisa foi estimada a participação de 15 (quinze) profissionais atuantes em clínicas na cidade de Santarém, porém, foram somente 10 (dez) pessoas. O quantitativo menor que o estimado é justificado pela indisponibilidade dos profissionais em participar da pesquisa, além da demora das respostas em aceitar ou não contribuir com este estudo. As clínicas foram mapeadas via contato com o Conselho Regional de Psicologia – Pará e Amapá (CRP/10) e a partir de então os profissionais que fazem uso de salas para atendimento de Psicoterapia, de forma autônoma, foram convidados para participar da pesquisa. Ressalta-se que a amostragem é não probabilística intencional, que segundo Almeida (2017) são dados que tem relação com a quantidade pesquisada, porém não significa o todo da população, portanto, não podendo generalizar os resultados. Dessa maneira, o público-alvo foi selecionado de forma aleatória e os resultados não se generalizaram à quantidade total de psicólogos(as) atuantes em Santarém.

Foram utilizados como instrumentos a entrevista semiestruturada com perguntas abertas preestabelecidas, realizada entre 17 de setembro de 2019 e 21 de outubro de 2019, sendo os dados coletados gravados por um aparelho eletrônico (gravador), gravação essa devidamente consentida por cada participante. As entrevistas abordaram questões referentes ao tempo de atuação na área clínica, público específico de atendimento ou especialidade, conhecimentos acerca de conceitos de desastres e atuação da Psicologia nesse contexto, além de entendimento sobre redes de apoio nacionais, estaduais e municipais referentes a essa atuação.

Os dados coletados foram analisados através da análise de conteúdo proposta por Bardin (1979), que apresenta como um conjunto de técnicas utilizadas para analisar as comunicações, sendo um método empírico que depende do tipo de fala e do objetivo do trabalho que se pretende interpretar, consistindo na explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens e da expressão desse conteúdo, considerando o emissor e o seu contexto, ou, eventualmente, os efeitos dessas mensagens.

Este estudo se baseou nas Resoluções n° 510, de 7 de abril de 2016 e nº 466 de 12 de dezembro de 2012 para assegurar os aspectos éticos em que garantiu o uso dos dados coletados para os devidos fins conforme padrões éticos estabelecidos para a elaboração do conhecimento científico. Ademais, foi feita de acordo com a vontade dos(as) participantes assegurados pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, com total apoio das pesquisadoras em que sanaram dúvidas acerca do tema, bem como da livre autonomia para desistência da pesquisa a qualquer momento, durante ou após a aquisição dos dados. Esta pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética do Instituto Esperança de Ensino Superior – IESPES, sob CAAE: 14563219.7.0000.8070 e parecer de número 3.575.612.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Os 10 (dez) participantes da pesquisa apresentam um período de atuação que vai de 4 (quatro) a 18 (dezoito) anos de prática profissional. Desse quantitativo, dois atendem especificamente o público infantil e os demais variam entre atendimentos que perpassam por todas as faixas etárias, com mais frequência de adolescentes e adultos. Sobre as especialidades, quatro apresentam formação em Avaliação Psicológica; três em Neuropsicologia; dois em Psicopedagogia; um em Saúde Mental; e um em Urgência e Emergência do Trauma, sendo que alguns apresentam mais de uma especialização.

As respostas dos participantes foram divididas em duas categorias de análise. A primeira se refere ao entendimento sobre situações de desastres, enfatizando questões relacionadas ao conhecimento geral que esses profissionais têm sobre a temática e a segunda vem discorrer sobre a formação e atuação do profissional dentro de situações emergenciais.

Para assegurar o sigilo dos profissionais entrevistados optou-se por identificá-los pela letra P seguido do número referente à ordem sequencial das entrevistas realizadas. É válido ressaltar que as respostas estão transcritas na íntegra, portanto, as pesquisadoras não fizeram nenhum tipo de modificação ou correção ortográfica.

CATEGORIA 1: "A EMERGÊNCIA DO HUMANO: ENTENDIMENTO SOBRE SITUAÇÕES DE DESASTRES"

Esta categoria apresenta a compreensão que os profissionais de psicologia têm sobre a temática de desastres, o qual Calixto e Belmino (2015) definem como fenômenos complexos que são produzidos por situações naturais ou de intervenções humanas que causam alterações no meio ambiente, efeitos negativos na vida das pessoas, as quais não conseguem lidar com uma eventualidade de grande proporção excedendo assim a capacidade de resposta da comunidade.

Segundo publicação da Confederação Nacional dos Municípios (2016) sobre Defesa Civil e prevenção de desastres, o crescimento urbano e o desenvolvimento tecnológico de determinado lugar são pensados e realizados, em sua maioria, sem considerar a prevalência e prevenção de sinistros. Tais intervenções, no entanto, não dispõem de preparo e organização; o crescimento é desenfreado e não se planejam ações de precaução contra acidentes, principalmente por parte da gestão de municípios, onde os recursos são mais escassos. Com isso, o governo, então, prefere reconstruir determinado lugar depois da destruição em substituição à implantação de políticas de prevenção.

Em vista disso, o boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (BRASIL, 2018) expressa que o Estado do Pará, região em que grandes empresas desenvolvem construções de exploração mineral e hidrelétricas tem como consequências físicas, graves enchentes, alagamentos, inundações, erosões, deslizamentos, incêndios e dentre outros fenômenos que atingem o corpo populacional da área afetada e que indispõe de recursos e de assistência específica para a recuperação da saúde mental.

Segundo dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), disponibilizados pela Secretaria Nacional de Proteção da Defesa Civil, as informações sobre riscos e desastres são organizadas a partir de registros em estados e municípios, assim como os acompanhamentos das informações encaminhadas de territórios em emergências e áreas declaradas sob calamidade, além de relatórios gerais de danos informados pelo Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC)4.

No estado do Pará, entre janeiro de 2018 a janeiro de 2019, foram notificados desastres decorrentes de causas naturais ou de ações humanas, obtendo um quantitativo de 06 mortos, 1.299 feridos, 4.821 enfermos, 10.454 desabrigados, 26.969 desalojados, 430.693 outros afetados e com um total de 474.242 pessoas afetadas (BRASIL, 2019). Em vista disso, entende-se que o cenário caótico de desastres dessa natureza exige treinamento, assistência especializada e recursos mínimos para amenizar o sofrimento das vítimas (COSTA; et al., 2015).

Ao serem perguntados sobre o que consideram ser um desastre, a maioria (9 de 10 – 90%) dos participantes demonstraram uma caracterização do termo que está de acordo com as concepções dos autores, como exemplificado na fala a seguir:

É uma eventualidade de grandes proporções, uma calamidade pública, algo que seja um pouco da ordem do imprevisível e que tenha uma grande repercussão; inesperado; tenha um impacto tanto no âmbito público, na vida de uma cidade, de um determinado bairro (P1).

Apenas um participante apresentou uma conceituação referente ao luto vivenciado em decorrência de um processo de adoecimento, o que vai de encontro com o que os autores utilizados nesta pesquisa afirmam sobre a conceituação de emergências e desastres:

Bem, um desastre, vou citar por exemplo na clínica onde eu tô atuando agora que é a questão do luto. É um luto inesperado, então isso seria um desastre na vida da pessoa em qual ela tivesse no momento de tratamento, digamos assim, a pessoa que já esteja depressiva e passa pelo momento de luto (P2).

Sobre a atuação psicológica em situações de desastres, Alves; Lacerda e Legal (2012) ressaltam que esta poderá acontecer em três fases distintas: Pré-Desastre; Durante o Desastre; Pós-Desastre. Em cada fase, a postura de cuidado que deverá ser assumida pelo profissional de Psicologia deverá estar de acordo com os princípios éticos e técnicos da profissão, mas também, em alguns momentos irá ultrapassar os limites estabelecidos pelo setting terapêutico clássico da clínica psicológica.

Bauer (2017) detalha sobre uma atuação mais diretiva no momento do desastre, não cabendo somente a disponibilidade de escuta psicológica, mas de um retorno mais eficaz ao que a pessoa está vivenciando, proporcionando-lhe bem-estar físico e emocional, acolhendo e orientando pessoas em sofrimento, identificando suas demandas para prevenir situações psicopatológicas graves posteriormente, oferecendo informações que auxiliem de modo eficaz para amenizar preocupações imediatas e fornecendo ajuda de cunho físico e, sobretudo, emocional. Isto requer uma mobilização sobre a rede de apoio e sobre o espaço onde está sendo realizado o acolhimento das vítimas.

Ainda, segundo Molina (2006) como última fase de atuação, a intervenção no pós-desastre expressa o acompanhamento entre avaliações do impacto sofrido pelo desastre, o acompanhamento em psicoterapia prolongada das demandas identificadas e amparadas de imediato para que não obtivesse consequências desastrosas sobre a vida da pessoa e estratégias de acompanhamento, além de proporcionar a assistência psicológica para a equipe técnica que fez os serviços do resgate. Sobre isso destacam-se as falas dos participantes P1 e P3 :

A intervenção eu acho que ela tem um aspecto preventivo [...] os profissionais da psicologia que poderiam oferecer uma escuta diferenciada e, às vezes eu digo assim que só o fato de você suportar estar ao lado daquele que está passando por aquela situação, sustentando uma posição que não é aquela da pena, que não é aquela da solidariedade; porque não é um lugar de solidariedade, embora exista a solidariedade dentro dessas ações, mas é um espaço de você sustentar aquela dor, poder estar ali, poder orientar, poder direcionar algumas questões, algumas situações, poder entender o que se perdeu ali, o que foi que aconteceu, qual é que vai ter o impacto na vida daquela pessoa. [...] E os desastres eles têm da maneira como ocorrem, das primeiras horas, os dias que se passam, eles acabam por deixar na grande maioria muitas sequelas emocionais. [...] Então você consegue fazer intervenções que podem prevenir e se houver um acompanhamento a longo prazo, a gente evita quadros bem mais graves, como é o dos Transtornos de Estresse Pós-traumáticos, que são os mais comuns que a gente identifica em situações de desastre (P1).

Isso pode remontar nas pessoas envolvidas reações emocionais, comportamentais, cognitivas agudas, né, que nós chamamos. Por exemplo, o estresse agudo, que é uma situação em que a pessoa pode ter reações não só físicas de estresse, né, mas emocional, comportamental. Então a psicologia agiria justamente nesse sentido pra auxiliar as pessoas nesse momento de explosão (P3).

A fala de P1 pode ser fundamentada com Alves, Lacerda e Legal (2012) quando afirmam que a fase pré-desastre estaria ligada com a construção de comunidades mais seguras e capazes de criar redes de apoio para enfrentar os desastres naturais e também, na fase do desastre no que tange a práticas que promovam a prevenção a quadros de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

Os participantes P5 e P6 evidenciam em suas falas que não tiveram acesso aprofundado a essa temática em suas graduações e que o país não está preparado para lidar com desastres: "Foi uma coisa que a gente não viu muito assim, não foi adentrado, não foi um assunto, a gente viu algumas coisas a respeito disso acho que em psicologia da contemporaneidade [...]" (P5)

[...] E conhecendo muitas das vítimas eu digo que o Brasil realmente não tem como dar conta ainda desse tipo de acontecimento, está muito precária ainda apesar de nós estarmos envolvidos em situações que a gente percebe que a qualquer momento pode acontecer [...] (P6).

Assim ressalta-se a importância de que se tenha uma disciplina sobre a atuação em Emergências e Desastres e que seja integrada a formação de base da Psicologia, ou seja, incluir nos currículos dos cursos, não mais como um tema transversal, mas sim uma disciplina específica e aprofundada sobre como atuar diante dessa demanda. De acordo com COGO, et al. (2015) a temática tem recorte de pesquisa há mais de 10 anos, porém os estudos estão sendo publicados há pouco tempo.

O participante P4 menciona em sua fala sobre o autocuidado, defendido por Costa et al. (2015) como um dos aspectos essenciais para a atuação do psicólogo nessa área, uma vez que ele está inserido em uma situação de caos e está suscetível ao adoecimento se não dantes preparado e treinado. "... primeiramente eu tenho que tá bem, eu tenho que tá pronto pra chegar lá e poder dar esse apoio de maneira necessária pra acolhê-los." (P4)

Ao serem indagados sobre a citação e/ou lembrança de algum desastre que aconteceu a nível nacional e/ou regional obteve-se respostas referentes a nível nacional, o incêndio da Boate Kiss que ocorreu na cidade de Santa Maria (RS) em 2013 e ao rompimento da barragem da mineradora Vale ocorrido em Brumadinho (MG) em 2019. A nível regional os profissionais entrevistados se referiram a acidentes que ocorreram com embarcações (naufrágios). Fenômenos regionais foram exemplificados pelo Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, publicado em 2018, em que cita desastres como inundações, alagamentos, deslizamentos de terras causados pelos impactos de grandes empresas de hidrelétricas e mineradoras no Estado do Pará. Observou-se que na fala dos participantes não houve menção a desastres envolvendo os impactos dos grandes projetos existentes na região amazônica. A partir disso, notou-se e todos os entrevistados apresentam, em sua maioria um conhecimento básico acerca das situações de desastres e seus impactos na saúde mental das vítimas. Cabe ressaltar que o conhecimento do que se configura ser um desastre e, principalmente, das especificidades do território de atuação, são fundamentais para que a atuação seja eficaz.

CATEGORIA 2: "SOCORRO PSICOLÓGICO": O FAZER E A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES

De acordo com Cogo et al (2015) o ser humano, desde seu nascimento, é estruturado em um conceito de vida socialmente caracterizado por crescer, se desenvolver em caráter físico e psíquico, ter ofícios e construir vínculos afetivos que resultem em uma estrutura familiar. Portanto, nenhuma pessoa é ensinada a lidar funcionalmente com a quebra de perspectivas, haja vista que não se espera que em algum momento da vida isto aconteça. Assim, ao que tange esta interrupção abrupta da rotina da vida do ser humano, os autores definem como desastres: "São, portanto, um fenômeno universal, cujos efeitos podem ter impacto sobre indivíduos, comunidades, nações. Eles roubam das pessoas e das comunidades suas concepções anteriormente estabelecidas sobre si e seu mundo, causando medo, insegurança e desequilíbrio" (COGO et al, 2015, p. 18).

Logo, sobre a atuação de psicólogos(as) em emergências e desastres, o desempenho do profissional se dá em um tripé de sustentação, que segundo Costa, et al. (2015) é o treinamento, o apoio psicológico no pós-desastre imediato e a longo prazo, o qual seria a preparação para a possibilidade de um novo acidente. Desse modo, evidencia-se que durante a atuação o profissional necessita de autocuidado, uma vez que ao estar inserido no contexto, também é afetado pela trágica situação.

O profissional que se disponibiliza para atendimento emergencial precisa estar ciente de algumas responsabilidades e critérios, como por exemplo, estar disponível 24 horas diárias durante todo o ano; estar conectado com os grupos e coordenações de atuação para possíveis ausências mesmo que essas sejam por tempo mínimo; estar disponível para viagens nacionais e internacionais; ter domínio de outras línguas além do português; além de vacinação e documentação atualizada para as viagens (FARIA; PRADO, 2017). A partir disso, entende-se que uma gama de pessoas se faz necessitadas de atendimento psicológico desde as horas iniciais do desastre, portanto, o psicólogo não só precisa estar treinado, mas também preparado emocionalmente para o trabalho. Além de que o longo serviço começa em achar alternativas para a nova realidade, ou seja, adaptações do que é possível ser feito para amenizar o sofrimento das vítimas envolvidas.

Sendo assim, esta categoria de análise retrata questionamentos decorrentes da atuação e da capacitação dos profissionais da psicologia frente a situações de desastres. Battisti e Ascari (2016) enfatizam que o profissional deve estar capacitado e atualizado ao exercer sua prática, tendo em vista que cada situação é única e particular, no qual este estará totalmente interligado com a pessoa atingida e os fatores estressores. Além da fundamental importância de se trabalhar com uma equipe interdisciplinar para possíveis orientações e encaminhamentos.

A partir das perguntas feitas aos participantes sobre seus conhecimentos de qualificação, preparo e aptidão no que se refere a atuação do profissional da psicologia mediante situações de emergências decorrentes de desastres foi constatado que a maioria, oito dos dez participantes, sabe que existem cursos preparatórios para a atuação nessa área, mas não apresentam muitas informações específicas, como exemplificado na fala de P4 e P5: "Oh, eu lembro pouca coisa. Acredito que tem sim um curso de preparação pra estar atuando nessa área da Psicologia do Desastre, não somente psicólogo, mas juntamente com toda uma equipe ..." (P4) e "O pouco que eu sei a qualificação a respeito disso, eu não tenho ciência se existe uma especialização mas acredito que deve haver para o psicólogo atuar exclusivamente ou mais precisamente em situações de desastre ..." (P5)

Ainda em concordância com o que fora apresentado, Martins (2012) traz contribuições a respeito das qualificações, cursos profissionalizantes existentes e grupos que estão ligados à Defesa Civil. Além de outras organizações de assistência como o Corpo de Bombeiros, esfera de segurança local e as equipes multiprofissionais que proporcionam uma troca de conhecimentos e o melhor atendimento às vítimas. O profissional deve sempre buscar capacitação técnica disponível, além do acompanhamento de novas práticas para a atuação de forma eficaz. Percebe-se o entendimento específico sobre os locais de formação na área para o atendimento prático nas falas de P1 e P2:

Sei que aqui no Brasil a região que é mais forte nessa área é o sul, justamente porque eles conviveram com muitas situações, então eles têm muitas capacitações, eles têm cursos, tem grupos estruturados [...] Aí você vai, você acompanha as vítimas, você orienta, você vê quais são as situações, são montados grupos. Tem vários tipos de ações, tem aquela ação imediata, 'aconteceu, tá todo mundo ali desesperado' e depois tem aquelas ações que são mais a médio e longo prazo. [...] (P1).

Sim, existe um grupo, existe um site na internet no qual o psicólogo ele pode se cadastrar a nível nacional e no momento que acontece nós somos acionados e vamos pra esse lugar e lá nós temos que procurar o pessoal da Defesa Civil pra poder sim prestar o nosso atendimento que acontece como?! Ninguém faz a clínica na hora do desastre né, a gente faz um momento de acolhimento, de informação, de satisfação das necessidades básicas do indivíduo no primeiro momento. [...] (P2).

Nota-se nas falas dos participantes a relação que um deles faz sobre o quantitativo de situações de desastres estar mais presente na região Sul do país. Dados apresentados em relatórios do SINPDEC, apresentam a informação que 41 municípios do Pará nos períodos de janeiro de 2018 a janeiro de 2019, informaram e tiveram a situação de emergência reconhecida. Nesses desastres estão incluídas enxurradas, alagamentos, derramamento de produtos químicos em ambiente lacustre, fluvial e marinho e tempestades. No mesmo período no estado de Santa Catarina, por exemplo, 37 municípios informaram e tiveram a situação de emergência reconhecida por situações que envolvem desastres naturais como tempestades, enxurradas, etc. Nesse sentido nota-se um quantitativo parecido entre os dois estados, o que justificaria que a estrutura de suporte e atendimento psicológico a essas situações nos estados da região norte também fossem mais estruturadas. Evidentemente, não cabe aqui fazer um comparativo de regiões, pois a diversidade que encontramos no país precisa ser considerada quando se aborda aspectos referentes a maneiras de atuação e até mesmo tipos de desastres e suas consequências.

Para tanto, entende-se que o fazer tradicional da psicologia clínica não será eficaz para este tipo de atendimento, mas conceitua-se um fazer psicológico pautado em uma clínica ampliada que perpassa pelo atendimento individual e grupal sem perder os conceitos éticos e metodológicos que a embasam independente do espaço que está ocorrendo a assistência (Moreira; Romagnoli; Neves, 2007). No que tange a atuação, a abordagem desta pesquisa se baseou em profissionais de atuação no contexto clínico tradicional, pois objetivou-se conhecer o preparo desses profissionais para atuação em situações de emergência, visto que é a área onde grande parte dos profissionais se encontram inseridos na cidade de Santarém. Quando se pauta o atendimento Psicológico em emergências e desastres, está se falando principalmente da atuação sob a perspectiva da clínica ampliada, que segundo Moreira (2007) se trata de um novo modelo de atuação clínica não mais pensada a partir da individualidade, mas de uma perspectiva dialética entre sujeitos e coletividades. Nesse sentido, a hipótese considerada ao problematizar esta pesquisa se baseou em pensar se na ocorrência de um desastre, os profissionais atuantes na clínica tradicional, caso fossem chamados para atuar, estariam preparados para lidar com as especificidades do atendimento sob a perspectiva ampliada do fazer clínico.

Ao serem questionados sobre suas percepções sobre as entidades governamentais que fornecessem assistência à população atingida por um desastre levando em consideração o contexto regional, foi observado que nove entrevistados responderam que percebem que não há um preparo das esferas governamentais frente ao possível desastre, como exemplificado nas falas de P2 e P5.

Bem, Estado e Município né, então assim, é precário por causa das condições financeiras. Quando acontece um desastre precisa-se ter organização, precisa-se ter pessoas treinadas, precisa ter pessoas com a questão da humanização e que estejam preparadas, então eu acho que isso na nossa região ainda falta ser trabalhado ... (P2).

Eu não consigo ver preparo da gente assim, nenhum, pode ser que eu seja leiga no assunto, mas realmente não ouvi falar. Vejo algumas coisas, algumas ações a nível profilático de prevenção por exemplo nas cheias em coisas desse sentido assim, mas não consigo, ver assim, Santarém preparada, nem com profissionais também preparados, nem as entidades governamentais preparadas para um desastre (P5).

Nesse contexto o déficit nas políticas públicas direcionadas a populações afetadas por desastres é uma realidade no estado do Pará. De acordo com Silva (2018) não haviam políticas públicas previstas na agenda mínima de governo e tampouco em seu Plano Plurianual –PPA, voltadas de forma específica à redução de riscos e desastres, para o quadriênio 2016 a 2019.

Ao serem questionados sobre sua aptidão para atuar com pessoas em situação de emergência pós-desastre, sete participantes responderam de forma afirmativa com algumas justificativas de vivências ao entendimento deles semelhantes à de desastres. Três responderam que não estão totalmente capacitados para esse tipo de atuação tendo em vista as suas especificidades.

Entende-se aqui como pós-desastre o que Molina (2006) coloca para avaliar os impactos causados referentes ao estado psicológico e emocional, ou seja uma análise prévia de como a pessoa está se expressando para que se crie estratégias de manejo para que posteriormente, no pós-desastre prolongado, sejam elaborados os traumas que não se pôde amenizar no atendimento imediato. Assim, percebe-se na fala de P3 a concordância com o autor ao afirmar que:

Perceber o que a pessoa tá vivenciando naquele momento, de auxiliar ela na contenção digamos assim do que ela tá vivenciando, por meio de algumas técnicas específicas de respiração, de relaxamento, de trabalhar os pensamentos. [...] Mas, ou seja, foi o conhecimento que eu usei da Psicologia, não específico de desastres, mas que de alguma forma pôde se aplicar nesse contexto. Que é a questão da avaliação e das orientações necessárias pra uma situação de estresse agudo, como foi o caso (P3).

Tendo em vista a discussão sobre a aptidão para se atender em espaço emergencial, Farias, Scheffel e Júnior (2013), destacam que o psicólogo deve ter uma formação específica para atender demandas de perspectivas preventivas, curativas e pós-traumáticas, uma vez que a Psicologia dos Desastres é uma subárea inserida na área da Psicologia Ambiental, esta que se conceitua como uma inter-relação entre pessoa e ambiente e sua mútua influência.

Contudo, a prática psicológica no ambiente de desastre não se restringe somente na formação em Psicologia Ambiental, uma vez que no Brasil já existem cursos de curta duração para formar profissionais minimamente aptos a realizar esse atendimento, porém essas formações, em sua maioria, ocorrem nas regiões sul e sudeste do Brasil, onde poucos profissionais da região norte conseguem ter acesso. Cogo et al. (2015), sobre o fazer psicológico, ressaltam que deve-se buscar constantemente intervir de forma direta e focal, com caráter de redução de danos, a fim de que a pessoa atingida consiga de forma processual ressignificar os traumas ali vividos, com o acompanhamento necessário, colocando em pauta seus direitos e deveres para que se consiga uma recuperação da melhor forma possível.

Sobre a necessidade de formação específica, destaca-se a fala de P1 sobre a sua confirmação da aptidão para a atuação em emergências e desastres, enfatizando sua experiência em emergência hospitalar, porém reconhecendo que precisa de conhecimento específico para a maior eficácia da intervenção.

Sim, porque eu trabalhei muito tempo com emergência. Então pra promover grupos, pra fazer uma intervenção pontual, eu acho que o fato de ter trabalhado durante muito tempo dentro do ambiente hospitalar, que a gente lida com as emergências que podem ter um efeito catastrófico, desastroso na vida psíquica desse sujeito e com as repercussões que tem nas alterações da vida dele. Então não veria dificuldade, mas eu sei que mesmo assim existe uma metodologia bem mais estruturada com o conhecimento; então dá pra gente aprimorar (P1).

Sobre a limitação de conhecimento da área e em concordância com os autores citados anteriormente P6 e P8 expressam:

Eu acredito que não, precisa ter um estudo maior sobre isso, uma capacitação melhor pra isso. Não é simplesmente você chegar 'Ah tá, eu sou psicólogo, vem aqui que eu vou fazer o acolhimento e tal'. O acolhimento acredito que até poderia, mas só que não fica no acolhimento, isso fica um tempo bem longo após o desastre (P6).

[...] Eu acredito que no momento não, porque eu não tenho nenhuma qualificação, até porque não houve nenhuma necessidade, mas assim 100% não. Eu sei da minha prática clínica, já trabalhei com algumas pessoas dentro do consultório que passaram por situações de acidente, mas não em grandes proporções, e venho trabalhando nesse sentido, mas não com muitas pessoas (P8).

Para tanto, percebe-se que P1 se sentem apto para essa atuação a partir de suas vivências em áreas semelhantes, como a de um hospital por exemplo, porém como expressam Farias, Scheffel e Júnior (2013) a ação merece um olhar mais aprofundado e mais detalhado sobre como proceder. Em consonância com essa teoria os outros participantes concordam que não estão aptos tendo em vista a sua falta de habilidade para lidar com as adversidades do momento.

Costa, et al. (2015) ressaltam que a tarefa começa em saber qual a situação real do problema e absorver o maior número de informações, pois estas ajudarão na abordagem das vítimas. Quanto à identificação é essencial o uso de crachá ou roupas que sinalizem qual tipo de serviço se está disponibilizando, além de que mantém a identidade do grupo em questão.

Na composição do acidente, Paranhos e Werlang (2015) destacam quais são, então, as categorias de vítimas identificadas em escala de proximidade com a eventualidade: vítimas de primeiro grau seriam as que se afetaram diretamente com o fenômeno; vítimas de segundo grau seriam os familiares das vítimas envolvidas; de terceiro grau seriam os profissionais que trabalham no resgate; de quarto grau seria a comunidade ao redor do acidente; de quinto grau seriam as pessoas que lamentam pelo que está acontecendo; e sexto e último grau seriam as pessoas que estão de passagem em virtude de viagem e que se envolvem na situação.

Todavia, independente do grau de proximidade da vítima, Faria e Prado (2017) afirmam que a principal tarefa do psicólogo é a tentativa de organização do ser humano em sofrimento, tanto em seu aspecto exterior, como por exemplo a mudança da vestimenta suja, se está com fome, com sede ou com frio, quanto em seu aspecto interior na elaboração psíquica do que de fato está acontecendo e de como será a partir de então.

Ramiréz (2011) afirma que em caráter coletivo a atividade se desenvolve não somente no acolhimento, mas na instrução de prevenção contra novos acidentes. Dessa forma, a tarefa se dá em planejar com a comunidade atividades de evacuação, colhendo somente mantimentos necessários; identificando quais são os fatores de proteção à integridade da comunidade, além de garantir o atendimento físico e psicológico a todo momento. Ou seja, aqui se enfatiza o trabalho multiprofissional. Portanto, complementa-se que cada acidente tem um caráter único, circunstâncias únicas, pessoas únicas e intervenções próprias àquele momento, não basta colocar em prática a teoria simplesmente para seguir protocolos, é preciso dar significado a atuação para que o trabalho seja diretivo e focal.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve como objetivo identificar se profissionais de Psicologia atuantes na clínica, na cidade de Santarém - Pará se sentem aptos para trabalhar em situações de emergências decorrentes de desastres, bem como, enfatizar a importância dessa atuação, enfatizando as especificidades do estado do Pará. Assim, constatou-se que a temática ainda precisa ser mais debatida e aprofundada nas formações em Psicologia, levando em consideração a geografia do território Amazônico e as peculiaridades com que os desastres podem ocorrer. Para tanto, percebe-se a falta de capacitação específica na área, principalmente com referência ao estado do Pará.

Revelou-se um conhecimento básico da maioria dos profissionais acerca da temática, que se baseiam em suas especializações e experiências de outras áreas mais específicas, como a hospitalar, tendo em vista que emergência se difere do desastre em caráter de proporções, sendo igualmente caracterizada em situações inesperadas e que precisam de intervenção especializada.

No processo de análise das entrevistas, foram notadas algumas contradições nas falas dos participantes ao se dizerem aptos, uma vez que respostas anteriores fazem alusão à ausência de conhecimentos acerca da temática. Portanto, pode-se afirmar que, mesmo que não se objetive generalizar os resultados, pode-se inferir que existe um déficit de profissionais preparados especificamente para este tipo de atuação na cidade de Santarém. Além disso, confirmou-se que não há recursos necessários para assistência em saúde mental das pessoas atingidas por desastres naturais e de ações humanas, uma vez que as entidades governamentais ainda não efetivaram políticas públicas em nossa região para a capacitação de profissionais no que diz respeito ao socorro psicológico.

Portanto, pode-se afirmar que os profissionais que se sentem aptos para atuar em situações caóticas, ainda sim precisariam de capacitações próprias dessa subárea. Sua aptidão para atuação, levando em consideração seus relatos, seria mais característico do pós-desastre prolongado, com o uso de técnicas terapêuticas para se trabalhar medos e traumas que não foram sanados em intervenção imediata. Percebe-se ainda, considerando a temática do desastre ser uma área recente nos estudos em Psicologia, a pouca discussão na região estudada, que não está isenta de acidentes característicos de causas humanas ou naturais, uma vez que há grandes construções de empresas mineradoras e hidrelétricas que já causam algum tipo de dano no espaço físico e para as pessoas próximas a elas.

Sendo assim, a prevenção é uma das características da Psicologia atuante em Emergências e Desastres. A capacitação pode ser o primeiro passo para atuar em situações emergenciais, mas também o autoconhecimento e o autocuidado do profissional são primordiais para o reconhecimento se, de fato, conseguirá beneficiar vítimas com a sua atuação, não somente se dizer apto para ter credibilidade, mas a admissão de suas limitações enquanto indivíduo e profissional.

A partir disso, para que prossigam pesquisas sobre a temática sugerem-se estudos referentes aos espaços de grande iminência de acidente, mas também de locais que apresentam alterações naturais que podem interferir em grandes proporções na vida das populações amazônicas. Que pesquisas sejam feitas para induzir alternativas de prevenção de desastres e também de cuidado psicológico caso venham a acontecer, cabendo a conscientização de que nenhuma região está imune aos fenômenos catastróficos.

 

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Recebido em: 27/08/2020
Aprovado em: 10/02/2021

 

 

1 Eloísa Amorim de Barros - Possui graduação em Psicologia pela Universidade da Amzônia (2012). Atuou como psicóloga residente na Residência Multiprofissional na Atenção Integral em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade do Estado do Pará (2015). Mestra em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida (PPGSAQ) pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Docente do Curso de Psicologia do Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES). Atua na clínica Particular sob a linha teórica da Gestalt-Terapia.
2 Mylena Socorro Corrêa de Sousa - Possui graduação em Psicologia pelo Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES). Foi membro da Liga Acadêmica de Psicologia da Saúde a qual promovia a equivalência de teoria e prática no fazer psicológico para a comunidade e entidades interessadas no projeto. Foi membro voluntário da Operação Sorriso Brasil nos anos de 2017, 2018 e 2019 na cidade de Santarém. Foi voluntária pela organização internacional de intercâmbio AIESEC, em Lisboa, para trabalhar com idosos com a finalidade de reduzir as desigualdades sociais e estruturais entre as faixas etárias para o desenvolvimento sustentável da região. Foi membro do Programa Criança Feliz do Ministério da Cidadania, na cidade de Santarém, a qual trabalhou-se o desenvolvimento da primeira infância em crianças da etnia indígena Warao.
3 Taynara da Silva Campos - Possui graduação em Psicologia pelo instituto esperança de ensino superior (IESPES). Possui experiência clinica e em Psicologia social; foi membro da Liga Acadêmica de Psicologia da Saúde (LAPSA), Formação no Curso de Brinquedista pela (UFOPA); Executou o Projeto de "Habilidades Sociais" com crianças e adolescentes no Abrigo Reviver; participou do projeto pelo Governo Federal "Criança Feliz" com atuação com crianças e mães indígenas imigrantes e refugiadas em estado de vulnerabilidade social. Atualmente trabalha com a modalidade de clínica presencial e online.
4 Todos esses dados podem ser acessados através do link: https://s2id.mi.gov.br/

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