SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.11 número1Práticas promotoras de mudanças no cotidiano da escola pública: projeto ECOARConsultoria em psicologia escolar: relato de experiência índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista de Psicologia da IMED

versão On-line ISSN 2175-5027

Rev. Psicol. IMED vol.11 no.1 Passo Fundo jan./jun. 2019

http://dx.doi.org/10.18256/2175-5027.2019.v11i1.3014 

ARTIGO DE RELATO DE EXPERIÊNCIA

 

Psicologia escolar como ferramenta de democratização da educação: um relato de experiência

 

Psychology as a tool for the democratization of education: an experience report

 

Psicología escolar como herramienta de democratización de la educación: un relato de experiencia

 

 

Augusto CalixtoI; Aline Beckmann MenezesII; Paulo GoulartIII

IUniversidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Pará, Brasil. E-mail: calixtogutopsi@gmail.com | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0669-8820
IIUniversidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Pará, Brasil. E-mail: alinebcm@gmail.com | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3136-3707

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A Psicologia Escolar/Educacional pode contribuir de forma significativa com a aproximação entre as pesquisas desenvolvidas em âmbito universitário e os ambientes de educação básica. Uma perspectiva contextualizada e histórica de educação é relevante para a inserção e a realização de práticas eficientes nos ambientes escolares. Nesse sentido, o atual trabalho tem como objetivo geral relatar a experiência de desenvolvimento do projeto de extensão "Psicologia Escolar como Ferramenta de Democratização da Educação" em uma escola da rede estadual de ensino da região metropolitana de Belém. São descritos o processo de inserção do projeto na escola e os instrumentos utilizados para tal. Com o corpo docente promoveu-se palestras e discussões em grupo voltadas à formação continuada. Com o corpo discente realizou-se atividades de visita ao campus universitário, criação do grêmio estudantil e escutas individualizadas. Com a coordenação da escola realizou-se reuniões estratégicas voltadas à articulação da escola com suas redes de apoio. Foi possível observar demandas relacionadas à saúde emocional de docentes, relação professor-aluno e adoecimento entre alunos por conta da ausência de uma rede de apoio e a necessidade de acompanhamento mais sistemático para ações futuras. Espera-se contribuir com o desenvolvimento de práticas democráticas de inserção da Psicologia na escola.

Palavras-chave: Educação, Psicologia Educacional, democracia


ABSTRACT

School/Educational Psychology is able to contribute in a meaningful way with the approximation between the research developed in universitary context and applied educational environments. A contextualized and historical perspective about education is relevant for insertion and completion of eficient practices in school environments. Thus, the present work has the general objective of reporting the experience of development of the extension project entitled "School Psychology as Tool to Democratization of Education" in a public school belonging in the metropolitan region of Belém. The processes of insertion in the school are described, just as the instruments utilized. With the faculty were developed lectures and group discussions focused on teachers' continuing education. With the student body were developed activities such as visiting of university campus, individualized interviews and creation of the student's guild. Strategical meetings for articulation between the school and the health support network available were realized with the school administration. It was possible to observe demands related to teachers' mental health, teacher-student relationship and illness between the students related to the lack of a support network and a more sistematic approach for future actions. This report aims to contribute to the development of democratic practices of insertion of Psychology in the school.

Keywords: Education, Educational Psychology, Democracy


RESUMEN

La Psicología Escolar / Educativa puede contribuir de forma significativa con la aproximación entre las investigaciones desarrolladas en ámbito universitario y los ambientes de educación básica. Una perspectiva contextualizada e histórica de educación es relevante para la inserción y la realización de prácticas eficientes en los ambientes escolares. En este sentido, el actual trabajo tiene como objetivo general relatar la experiencia de desarrollo del proyecto de extensión "Psicología Escolar como Herramienta de Democratización de la Educación" en una escuela de la red estatal de enseñanza de la región metropolitana de Belém. Se describen el proceso de inserción del proyecto, proyecto en la escuela, los instrumentos utilizados. Se desarrollaron charlas y discusiones em grupo dirigidas a la formación docente continuada. Com los estudiantes se desarrollaron visitas de acercamiento de alumnos al contexto universitario, escuchas individualizadas y construcción del gremio estudiantil. Se desarrollaron también reuniones de articulación de la escuela con sus redes de apoyo. Es posible observar demandas relacionadas a la salud emocional de docentes, relación profesor-alumno y enfermo entre alumnos por la ausencia de una red de apoyo y la necesidad de acompañamiento más sistemático para acciones futuras. Espera contribuir con el desarrollo de prácticas democráticas de inserción de la Psicología en la escuela.

Palabras clave: Educación, Psicología Educacional, Democracia


 

 

A Psicologia Escolar e Educacional (PEE) tem passado por importantes mudanças nas últimas décadas e se configura enquanto um campo profissional em constante construção. Esse nicho de atuação e desenvolvimento de conhecimentos foi caracterizado, nos primórdios de suas produções, por práticas de individualização e culpabilização por problemas educacionais (Guzzo, Mezzalira, Moreira, Tizzei, & Netto, 2010; Patto, 1981). Tais práticas tinham o papel de justificar uma visão ideológica específica sobre as funções a serem desempenhadas pela instituição escolar, comumente alinhada a interesses de classe.

Diante desse cenário, várias reflexões de caráter histórico e interdisciplinar foram responsáveis por construir novas perspectivas sobre a função da instituição escolar e sobre o desenvolvimento humano nesse contexto. A escola e os demais espaços educativos passam a ser interpretados como instituições históricas influenciadas pelos seus ambientes socioculturais e pelas relações interpessoais desenvolvidas dentro desses (Guzzo, Mezzalira, Moreira, Tizzei, & Netto, 2010; Martinez, 2010; Viana 2016).

Tal mudança de perspectiva alinha-se ao desempenho de práticas que buscam promover o desenvolvimento humano e a aprendizagem de forma ampla, prezando pela saúde e pela potencialidade dos atores envolvidos no processo educacional. O reconhecimento do caráter histórico da institucionalização do ambiente escolar e da multideterminação das relações, assim como a adoção de uma abordagem preventiva diante dos problemas escolares, tornam-se características fundamentais na atuação em psicologia escolar (Andrada, 2003; De rose, Afonso, Bondioli, Gonçalves, & Prezenszky, 2016; Patto, 1981).

De acordo com Del Prette e Del Prette (1996) é necessário refletir sobre as habilidades envolvidas na atuação dos psicólogos escolares e educacionais, suas capacidades analíticas e técnicas adquiridas ao longo da formação. Ainda de acordo com esses autores, tais problematizações podem ser facilitadas a partir da socialização de experiências realizadas por psicólogos dentro dos contextos escolares e educacionais.

Nesse sentido, socializar experiências realizadas, demandas encontradas, expectativas atribuídas ao psicólogo pela comunidade escolar e estratégias utilizadas por esse profissional é relevante para a demarcação de uma identidade profissional clara e consistente. Andrada (2003), por exemplo, relata as questões encontradas pela psicóloga escolar em relação aos "alunos-problema". A profissional realizou encontros com os sistemas implicados na aprendizagem dos alunos, como a família e setores da escola, buscando atribuir outros sentidos à noção de problema de aprendizagem, prezando pela implicação dos sistemas na produção de determinada dificuldade escolar. A autora relata ainda que, a partir da mudança de perspectiva adotada pelos familiares e alguns docentes e, consequentemente, a mudança na relação com os alunos, houve alterações significativas no rendimento e na socialização dos alunos nos espaços da escola.

Braz-Aquino e Rodrigues (2016), por sua vez, relatam uma experiência de estágio ocorrida em uma escola da rede pública. Nesse relato são descritos procedimentos como os de apresentação do estágio à instituição escolar, métodos de levantamento de demandas e discussão de casos. Como resultados são apresentados a criação de documentos como cartilhas e formulários de mapeamento institucional, assim como as intervenções realizadas de assessoria ao trabalho docente e orientação profissional aos estudantes.

A partir da possibilidade de contribuição com a prática e formação em PEE por meio da socialização de experiências na área, o atual trabalho tem como objetivo geral relatar o desenvolvimento do projeto "Psicologia Escolar como Ferramenta de Democratização da Educação" em uma escola da rede estadual de ensino da região metropolitana de Belém - Pará. Para melhor compreensão, primeiramente o projeto e seus objetivos serão descritos, e, após isso, será relatada a experiência de atuação de forma específica.

 

O Projeto

O projeto é situado no âmbito da extensão e surgiu diante da necessidade de reduzir a distância entre o conhecimento científico produzido em PEE e os contextos de educação básica pública.

O projeto foi idealizado pelos membros do Laboratório de Soluções Educacionais, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e contou com a participação de dois coordenadores, um bolsista e onze voluntárias(os). A partir disso, o projeto foi apresentado às coordenações de escolas das redes públicas de ensino de bairros das imediações da UFPA no intuito de estabelecer parcerias de trabalho. Após a confirmação de tais parcerias, foram realizadas atividades de mapeamento institucional, no intuito de identificar demandas de variados âmbitos do espaço escolar. Foram então delineadas intervenções específicas voltadas à realidade de cada escola.

A experiência descrita nesse artigo se refere às atividades realizadas em uma das escolas nas quais o projeto esteve inserido, no período de Março de 2017 à Fevereiro de 2018. A premissa central deste projeto foi de que a partir da mudança das contingências em vigor, novos repertórios educativos e sociais podem ser instalados e mantidos, transformando assim as relações estabelecidas no contexto escolar. Outro aspecto que merece ser destacado para compreensão das diretrizes do projeto é a defesa de que a Psicologia Escolar não deve se inserir na escola de forma impositiva, apresentando soluções ou propondo estudos descontextualizados da realidade ali vivenciada. Deste modo, conforme descrito a seguir, a proposta deste projeto é a inserção na realidade da escola e proposição de percursos coerentes com o que é efetivamente ali vivenciado.

 

Método

O atual trabalho consiste em um relato de experiência, no qual serão descritos os objetivos gerais e específicos, o contexto de trabalho, as atividades desenvolvidas, os métodos e instrumentos utilizados, a participação do público-alvo e os resultados gerais obtidos.

O trabalho foi desenvolvido em uma escola de grande porte que oferece o terceiro ciclo do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e o ensino médio completo. Tal escola pertence à rede estadual de ensino do Pará e está situada em um bairro de periferia da região metropolitana de Belém. As atividades são oferecidas nos turnos matutino, vespertino e noturno.

Os procedimentos do projeto envolveram um total de 16 docentes, três coordenadoras pedagógicas e aproximadamente 130 alunos distribuídos em diferentes turmas e turnos. Os alunos que entraram em contato com as atividades do projeto possuíam entre 10 e 18 anos de idade. Os alunos pertencem majoritariamente a famílias de baixo nível econômico (classes D e E, segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Utilizou-se materiais e instrumentos variados, de acordo com cada etapa do trabalho desenvolvido, como o Formulário de Mapeamento Institucional. Tal documento, construído pelos membros do projeto em consonância com recomendações da literatura especializada da área, apresentou perguntas de caracterização sociodemográfica e estrutural da escola (público atendido, níveis de ensino oferecidos, estruturas disponíveis e seus modos de utilização), administração escolar (projeto político pedagógico, regimento, conselho escolar), gestão com pessoas e recursos (número e formação de professores, número de alunos e materiais de ensino), dinâmicas escolares (relação da escola-família, relação gestão-professores, relação gestão-alunos).

Apresentou-se à gestão escolar um folder informativo sobre os objetivos, métodos e resultados esperados no projeto. Além disso, utilizou-se formulários de visitas semanais na escola, contendo descrições das atividades desenvolvidas, o público envolvido e as principais demandas observadas. Foram utilizados Datashow, folhas de papel, caneta e lápis nas intervenções grupais.

A inserção do projeto na escola se deu primeiramente a partir de uma apresentação dos objetivos e métodos do projeto à coordenadora pedagógica e ao corpo docente. Foi possível também sanar dúvidas apresentadas pelos docentes referentes ao funcionamento do projeto na escola. A partir disso, por duas vezes na semana, foram realizadas visitas no intuito de conhecer as dinâmicas ocorridas do espaço escolar. Na primeira visita foi aplicado o instrumento de mapeamento institucional em modelo de entrevista com a coordenadora pedagógica.

Em um total de 23 visitas semanais, realizaram-se entrevistas informais com membros da comunidade escolar com fim de levantamento das principais demandas observadas por cada setor da comunidade escolar. Também promoveu-se rodas de conversa com alunos membros do projeto Jovens de Futuro (Programa do Instituto Unibanco em conjunto com as Secretarias Estaduais de Educação, descrito em http://jovemdefuturo.org.br/), nas quais expectativas estudantis foram obtidas.

Realizaram-se ainda reuniões com profissionais da Secretaria de Educação (Unidade Seduc na Escola - USE: Unidade da Secretaria Estadual de Educação do Pará que congrega um conjunto de escolas de uma determinada área e oferece apoio a essas a partir de equipe multiprofissional) responsáveis pela escola.

Desenvolveram-se diferentes intervenções com partes específicas da comunidade escolar. A primeira intervenção teve o caráter de formação docente e teve o título de "Saúde mental/emocional no espaço escolar". A demanda apresentada com maior frequência por membros do corpo docente referiu-se à necessidade de compreensão a respeito de questões relacionadas aos alunos, como comportamentos autolesivos, suicídio e desmotivação, além dos próprios impactos de tais ocorrências na prática e na vida pessoal de tais docentes. Diante disso, foram planejados encontros de discussão e reflexão voltados aos temas de prevenção e promoção de saúde mental/emocional no espaço escolar. Realizaram-se quatro encontros quinzenais abordando os temas: Saúde mental no espaço escolar, Autoconhecimento e Autocuidado, Desenvolvimento humano e adolescência e Metodologias ativas de ensino.

Os encontros tiveram o formato de palestra, solicitado pelos docentes. Na palestra sobre autoconhecimento e autocuidado foi utilizado um quadro de autoconhecimento no qual os docentes descreveram fatores de adoecimento e de promoção de saúde presentes em suas vidas. Na atividade sobre desenvolvimento e adolescência foi realizado um exercício no qual os docentes eram solicitados a comparar as diferentes fases do desenvolvimento com as características da adolescência, assim como questionamentos sobre aspectos desenvolvimentais presentes no cotidiano escolar. Os demais encontros pautaram-se em aulas expositivas e discussão em grupo sobre os temas. A atividade contou com uma média de 15 participantes, todos membros do corpo docente.

Além da formação docente realizaram-se também intervenções voltadas à construção de uma entidade representativa para as demandas dos estudantes. Em parceria com uma professora e com alunos membros do projeto Jovens de Futuro, realizaram-se três atividades de apoio à construção do grêmio estudantil na escola. A primeira atividade consistiu em uma reunião voltada ao levantamento de necessidades gerais com os alunos. Nessa atividade, a principal questão observada referiu-se à construção de um grêmio representativo das demandas estudantis. Essa atividade teve um formato de roda de conversa na qual os estudantes estiveram livres para expor suas visões e expectativas sobre o espaço escolar, tendo as falas mediadas pelos membros do projeto de extensão.

A segunda atividade foi voltada especificamente ao tema do grêmio estudantil, no intuito de conhecer qual perspectiva os alunos apresentavam sobre o mesmo. Essa atividade teve o mesmo formato da primeira, com um maior direcionamento ao tema do grêmio estudantil. Foram apresentadas perguntas aos alunos sobre as funções do grêmio no espaço escolar, assim como quais expectativas os alunos possuíam sobre essa entidade.

A terceira atividade foi uma oficina realizada no campus da UFPA, na qual os alunos foram divididos em comissões para a construção de aspectos formais do grêmio. Cada comissão foi composta por uma média de 5 alunos, os quais foram orientados pelos membros do projeto de extensão a elaborar a construção de materiais necessários ao grêmio (estatuto e comissões), assim como estabelecer atividades formais (passos para a eleição e posse formal do grêmio). As duas primeiras atividades contaram com uma média de 15 alunos, a terceira contou com cerca de 25, todos distribuídos entre as três séries do ensino médio.

Foram realizadas também atividades de visita ao campus em parceria com o projeto de extensão Visita ao Campus pertencente à faculdade de Turismo da UFPA (projeto que promove a visita gratuita de estudantes de escolas públicas e privadas para conhecer a universidade). Tais atividades tiveram como objetivo a familiarização dos alunos com as possibilidades de ingresso no ensino superior. Foram realizadas duas visitas, a primeira com alunos de todo o ensino médio do turno matutino e a segunda com alunos do segundo e terceiro ano do ensino médio do turno vespertino. As turmas visitaram espaços da universidade, sendo acolhidos por graduandos de cursos de diferentes áreas, conhecendo espaços de laboratório e de aprendizagem variados.

Além das ações já citadas, a gestão da escola encaminhou discentes aos membros do projeto para a realização de escutas psicológicas individualizadas. Foram atendidas três alunas, de doze aos quinze anos de idade. A partir dessas escutas, foi articulado um contato mais próximo da escola com a USE, no sentido de oferecer acompanhamento psicológico a essas alunas e suas famílias. É importante ressaltar que tais tipos de atividade não estavam previstos nos objetivos gerais do projeto, e foram realizadas em atendimento à demanda espontânea da gestão e excepcionalmente diante do caráter emergencial das demandas apresentadas.

 

Resultados e Discussão

Os resultados e suas respectivas discussões, assim como indicações para o desenvolvimento de futuros trabalhos serão apresentados de acordo com cada intervenção desenvolvida.

Formação Docente - "Saúde Mental/Emocional No Espaço Escolar"

Nos encontros realizados com o corpo docente, observaram-se falas relevantes relacionadas à ocorrência de dois suicídios entre alunos no ano anterior à realização do projeto. Tais acontecimentos impactaram os docentes pessoal e profissionalmente, produzindo relatos de profunda desmotivação e angústia diante de uma situação tida como incompreensível. Relataram que, a despeito de sua proximidade e das tentativas de oferecer ajuda e compreensão aos alunos, muitos dos discentes se distanciaram e demonstraram sinais de adoecimento, aumentando esta frustração.

Esta demanda suscita a reflexão da escola como um ambiente de relações interpessoais importantes para o desenvolvimento humano. O contato com modelos comportamentais, regras descritas por figuras relevantes como professores e outros colegas, assim como as consequências a episódios interpessoais ocorridos no espaço escolar podem contribuir para o surgimento de padrões comportamentais saudáveis ou, por outro lado, problemas internalizantes/externalizantes de comportamento (Alber & Heward, 1996; Andrada, 2003).

Diante dessas possibilidades de influência mútua entre indivíduos e espaço escolar é possível planejar estratégias no intuito de construir relações de apoio na escola. As atividades desenvolvidas visaram favorecer a construção de ações para a criação e o fortalecimento de redes de apoio dentro do espaço escolar. Assim, estruturar e oferecer espaços e métodos de informação, debate e, principalmente, elaboração sobre assuntos extremamente relevantes como o suicídio se configura enquanto uma das possibilidades de trabalho na PEE.

Foi possível observar também uma postura apresentada por alguns docentes no que diz respeito ao fomento de crenças positivas em relação aos discentes. Vários participantes das atividades de formação falaram sobre os problemas socioeconômicos e contextuais enfrentados pelos alunos, e que, diante disso, esses docentes sempre se preocupavam em como crenças e atribuições positivas relacionadas às capacidades dos alunos e mediadas pelo trabalho educacional poderiam ter uma função importante ao contribuir com a motivação e com a abertura de novas possibilidades aos estudantes.

Com isso, alguns docentes relataram ter a prática corrente de incentivar seus alunos diante das dificuldades, assim como desafiá-los, buscando que se engajassem com mais afinco na resolução de problemas. Duas docentes relataram que, no ano anterior, haviam realizado algumas atividades de expressão literária com os alunos no intuito de compreender as dificuldades desses e buscar uma aproximação, alcançando parcialmente esse objetivo.

Diante de tais falas é possível resgatar a importância da relação professor-aluno dentro do processo de aprendizagem e da educação de um modo geral. De acordo com Freire (2014), as atitudes, as crenças e a própria concepção de ensino/aprendizagem apresentada pelos docentes diante dos estudantes influenciam diretamente no modelo de ensino e na construção da autonomia e do conhecimento por parte dos discentes. Com isso, a disponibilidade docente à reflexão sobre sua prática e ao conhecimento da realidade dos alunos através do diálogo com esses, bem como o respeito e a luta constante contra qualquer modelo de discriminação entre e contra os alunos são repertórios comportamentais importantes a serem apresentados na função docente e na construção de um espaço de ensino marcado pela autonomia e pela motivação para aprender.

Skinner (1972) ao se referir a ambientes educacionais formais, discorre sobre a importância de considerar o processo de ensino-aprendizagem como uma relação de constante interdependência. Nesse sentido, os comportamentos docentes influenciam diretamente nas ações e desempenhos discentes, que por sua vez moldam os desempenhos docentes futuros, em um padrão constante de interação (Henklain & Carmo, 2013; Flores, 2016).

A PEE tem um posicionamento estratégico na estruturação de espaços para a reformulação do processo de ensino/aprendizagem. Com isso, o incentivo ao envolvimento ativo de docentes no processo de resolução de problemas de aprendizagem, o estudo exploratório de crenças existentes no espaço escolar sobre o processo de aprendizagem e o apoio à reformulação dessas (Andrada, 2003; Viana, 2016) são intervenções cruciais na busca por um processo de ensino/aprendizagem realmente inclusivo e eficaz.

Nessa perspectiva, buscou-se oferecer uma nova abordagem sobre o desenvolvimento humano e sobre os processos de aprendizagem ocorridos na escola, modelando novos comportamentos emitidos por parte do corpo docente e da coordenação pedagógica. O oferecimento da análise-funcional como ferramenta explicativa, a exposição de uma visão contextualista sobre o comportamento humano e sobre a importância do reforçamento positivo para a aprendizagem são fatores relevantes oferecidos pela Análise do Comportamento no contexto escolar (Henklain & Carmo, 2013; Flores, 2016).

Apesar das crenças positivas apresentadas por alguns docentes, foram observados relatos reiterados de professores e membros da coordenação pedagógica que focavam em aspectos do comportamento estudantil compreendidos como psicopatológicos, de desinteresse ou de agressividade e desrespeito. Quase todos esses relatos foram acompanhados por falas a respeito da estrutura familiar desses alunos, vistas como ambientes problemáticos de conflito e pouco oferecimento de apoio à rotina escolar e à organização pessoal dos alunos.

Diante desses relatos não é possível negar de antemão a possibilidade de tais realidades. No entanto, outras variáveis podem estar envolvidas no surgimento e na manutenção dos comportamentos descritos (como o próprio gerenciamento de sala de aula, o modelo de ensino oferecido pelo docente e a distância dos conteúdos apresentados em sala de aula em relação à realidade do estudante). Logo, a visão reducionista e culpabilizadora do discente ante o que é considerado como "desviante da norma" carece de uma base sólida, pautada em uma observação sistemática e abrangente (Guzzo, Mezzalira, Moreira, Tizzei, & Netto, 2010; Patto, 1981).

Uma possibilidade de intervenção diante de práticas discursivas desse caráter diz respeito à criação de espaços de aproximação entre as demandas discentes e de gestão escolar, assim como do próprio processo de planejamento e condução do ensino e da aprendizagem. Nesse sentido, buscou-se estimular a estruturação de espaços de reunião e debate sobre o papel docente e da coordenação pedagógica na interação com os alunos. Propõe-se, ainda, a realização de pesquisas e levantamentos sobre estilos e necessidades de aprendizagem e assessoria aos docentes no processo de reformulação do ensino, auxiliando os estudantes no processo de criação de sentidos pessoais aos conteúdos vistos nas aulas (Martinez, 2010; Viana, 2016; Silveira & Souza, 2017).

Tais práticas discursivas apresentadas pelos docentes dizem respeito também a concepções específicas referentes à função da Psicologia nos espaços educativos formais. Nesse sentido, o trabalho da psicologia no espaço escolar ainda é concebido como uma possibilidade de adaptação de indivíduos "desadaptados" a uma norma pré-estabelecida, seja ela formal ou não, a partir de métodos e instrumentos individualizados de motivação e modificação comportamental. O trabalho em PEE ainda é pouco observado em seus níveis de análise mais abrangentes, como os sistemas organizacionais da escola e das relações formais e interpessoais ocorridas nesse espaço (Pereira-Silva, Andrade, Crolman, & Mejía, 2017).

Em vários momentos, principalmente nos encontros sobre Saúde mental no Espaço Escolar e Metodologias Ativas de Ensino, vários docentes relataram problemas referentes à estrutura física precária da escola e ao número excessivo de turmas. Descreveram ainda que, por conta da falta de inspetores (decisão administrativa da secretaria de educação), o ambiente escolar tornou-se extremamente barulhento e desorganizado, fatores que diminuem drasticamente a qualidade das aulas e a construção de regras disciplinares em classe. Nota-se, assim, pouca autoimplicação no processo, atribuindo à figura de fiscalização e punição a responsabilidade pela adesão discente às atividades didático-pedagógicas. Quando abordados, no segundo encontro citado, sobre a possibilidade de inovação metodológica em sala de aula, alguns docentes citaram suas dificuldades referentes ao número excessivo de turmas e alunos, a falta de estrutura em sala de aula e a ausência de disciplina escolar como fatores desgastantes. Ao relatarem tais problemas, sempre os associavam à desmotivação, ao desgaste físico e/ou psicológico e à pouca disposição para mudanças em suas práticas.

Tais dificuldades apresentadas pelos docentes dizem respeito a uma configuração sociohistórica dos espaços educacionais que é multideterminada e que comumente resulta em sofrimento e adoecimento na prática docente. A interação entre características pessoais e ambientes de trabalho precários podem contribuir para o surgimento de padrões comportamentais de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional, em conjunto conhecidos como a Síndrome de Burnout (Carlotto & Pizzinato, 2013). Esses padrões, surgidos a partir do contato com dificuldades no contexto profissional retroagem diretamente na produtividade docente, na relação professor-aluno e na valorização pessoal do trabalho por parte do professor.

Grêmio Estudantil

A partir das atividades voltadas à construção do grêmio estudantil foi possível observar um engajamento autônomo por parte dos estudantes envolvidos. Os discentes criaram uma comissão eleitoral para o registro de chapas concorrentes aos cargos do grêmio. Realizaram também uma assembleia para construção, aprovação e divulgação do estatuto geral do grêmio estudantil. Tendo em vista os objetivos do projeto, essa ação visou favorecer a compreensão do papel político-representativo do grêmio estudantil e da importância do funcionamento autônomo do mesmo. Pode-se avaliar, assim, que o caminhar independente dos membros do grêmio na consolidação das comissões de formação e, enfim, da eleição formal do grêmio são indicativos que o repertório foi estabelecido e mantido por contingências naturais, resultantes do próprio engajamento estudantil.

Contudo, avalia-se que é necessário o planejamento de procedimentos mais eficazes de acompanhamento das atividades desenvolvidas, seja por reuniões presenciais ou pelo uso de instrumentos de registros sistemáticos voltados à checagem do progresso das atividades, sem prejudicar a autonomia dos estudantes. Outra dificuldade observada refere-se às contingências sociais para a efetiva atuação do grêmio, já que a fragilidade de mecanismos democráticos na escola (como conselho escolar) pode dificultar que outros comportamentos sejam reforçados no espaço escolar e, a longo prazo, podem acabar por extinguir respostas de ação política. Em ações futuras, pretende-se trabalhar em parceria com o grêmio existente no fortalecimento destes espaços democráticos.

Visita ao Campus

As atividades de visita ao campus foram tidas como positivas pela maioria dos discentes que compunham as turmas de ambos os turnos, além das próprias coordenadoras pedagógicas. Um aspecto avaliado positivamente pelos participantes foi o contato com profissionais egressos da rede pública de educação. O diálogo com modelos de sucesso com origem social similar a dos alunos participantes pode ter um importante impacto sobre a percepção do estudo como uma trajetória viável e com consequências positivas para comportamentos com alto custo de resposta - como estudar, prestar vestibular etc.

É possível que tal atividade de visita ao campus universitário tenha contribuído com a motivação dos discentes para ingresso no ensino superior, hipótese que poderia ser testada a partir de medidas pré e pós intervenção e durante atividades subsequentes, como rodas de conversa, dinâmicas de grupo e planejamentos individuais com alunos interessados. Torna-se necessário, assim, estudos posteriores que avaliem o real impacto deste tipo de iniciativa.

Escutas Individualizadas

As principais demandas observadas nas atividades de escuta individualizada com as alunas referiam-se a ideações suicidas, comportamentos autolesivos e problemas na dinâmica intrafamiliar. Duas das alunas foram encaminhadas para acompanhamento individualizado com o setor de Psicologia da USE. A terceira aluna não recebeu encaminhamento por já possuir acompanhamento psicológico externo. Após o consentimento de todas as alunas, os respectivos responsáveis legais foram convidados à escola para a realização de reuniões com a coordenação pedagógica.

Só foi possível obter medidas indiretas de eficácia do acompanhamento das alunas, por parte da coordenadora pedagógica e de alguns professores da escola, que se referiram a mudanças positivas observadas nos comportamentos das estudantes. Apesar do modelo clínico ser tido como pouco indicado ao trabalho em PEE, é necessário e possível pensar em estratégias de notificação e encaminhamento de casos de urgência que necessitem de acompanhamento individualizado. Nesse sentido o profissional de PEE pode ter a função de articular a escola pública à rede de atenção básica à saúde, diminuindo os custos de respostas de procura e inserção na rede de prevenção e promoção de saúde. Recomenda-se o desenvolvimento de estratégias eficazes de identificação de casos urgentes no espaço escolar.

Nesta ação, o projeto contribuiu também com o fortalecimento da aproximação entre a escola e a USE, favorecendo o acesso do corpo discente a profissionais de Psicologia e do Serviço Social que, por mais que sempre tenham estado disponíveis, eram até então alheios aos processos vivenciados naquela escola em particular.

 

Considerações Finais

A realidade do espaço escolar demanda o manejo de contingências complexas que contribuam para a melhoria não só da aprendizagem, mas do clima escolar mais amplo, composto pelas interações interpessoais, as demandas subjetivas e as crenças ou regras que controlam o comportamento dos diferentes atores da escola.

O presente trabalho possui como principal limitação a ausência de mecanismos mais sistemáticos de registros e de avaliação do impacto das intervenções realizadas. Apesar disso, acredita-se que esse relato de experiência pode contribuir ao demonstrar a importância da PEE estar inserida na rotina escolar, aberta a demandas emergentes e atuando em diferentes frentes de ação, mas voltada a ações que contribuam com transformações culturais, com alta probabilidade de persistência autônoma mesmo após o encerramento do projeto.

A PEE pode contribuir com essa demanda também a partir do oferecimento de conexões da escola com suas redes de apoio, buscando contatos com instituições de atenção básica à saúde, secretaria de educação ou mesmo instituições comunitárias que possam contribuir com serviços, atividades e recursos para a melhoria e valorização da prática docente. No presente projeto, percebeu-se que a rede de apoio existente e oferecida pela USE não era buscada pela escola, por problemas de clareza de papéis e de dificuldades de comunicação. Após a mediação, houve uma aproximação entre USE e escola, com um maior número de contatos espontâneos e com o desenvolvimento de parcerias na realização de ações específicas.

Por fim, é fundamental defender que por mais relevantes e pertinentes que projetos de extensão como o aqui apresentado sejam, não substituem o papel que deve ser desempenhado pelo profissional de PEE vinculado à escola. O modelo atualmente adotado no estado do Pará faz com que poucas escolas tenham acesso a este profissional e, quando há o profissional compondo a equipe da USE, o número de escolas acompanhadas por cada profissional inviabilize uma efetiva inserção e acompanhamento da realidade escolar. Políticas Públicas que garantam essa atuação são fundamentais para ações como as aqui descritas, e muitas outras mais, tornem-se consolidadas na realidade escolar.

 

Referências

Alber, S. R., & Heward, W. L. (1996). "GOTCHA!" Twenty-five behavior traps guaranteed to extend your students' academic and social skills. Intervention in School and Clinic, 31(5), 285-289. doi: https://doi.org/10.1177/105345129603100505        [ Links ]

Andrada, E. G. C. (2003). Família, escola e a dificuldade de aprendizagem: intervindo sistemicamente. Psicologia Escolar e Educacional, 7(2). Recuperado de: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572003000200007        [ Links ]

Braz-Aquino, F. S., & Rodrigues, L. F. (2016). Estágio supervisionada em Psicologia Escolar: intervenções com seguimentos da comunidade escolar. In M. N. Viana e R. Francischini (Orgs.), Psicologia Escolar: Que fazer é esse?(pp. 188-205). Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.         [ Links ]

Carlotto, M. S., & Pizzinato, A. (2013). Avaliação e interpretação do mal-estar docente: um estudo qualitativo sobre a síndrome de burnout. Revista mal-estar e Subjetividade, 8(1-2). Recuperado de: http://www.redalyc.org/html/271/27131673008/        [ Links ]

Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (1996). Habilidades envolvidas na atuação do psicólogo escolar/educacional. In S. Weschler (Org.), Psicologia: Pesquisa, Formação e Prática (pp 139-156). Campinas: Alínea.         [ Links ]

De Rose, T. M. S., Afonso, M. L., Bondioli, R. M., & Gonçalves, E. G. (2016). Práticas educativas inovadoras na formação do psicólogo escolar: uma experiência com aprendizagem cooperativa. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 304-316. doi: https://doi.org/10.1590/1982-3703000212014        [ Links ]

Freire, P. (2014). Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando. In P. Freire (Autor), Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa (58-60). Rio de Janeiro: Paz e Terra.         [ Links ]

Flores, E. (2017). Análise do Comportamento: Contribuições para a Psicologia Escolar. Revista brasileira de Terapia Cognitiva e Comportamental, 19(1), 115-127. Recuperado de: http://www.usp.br/rbtcc/index.php/RBTCC/article/view/955        [ Links ]

Guzzo, R., Mezzalira, A., Moreira, A., Tizzei, R., & Silva Neto, W. (2010). Psicologia e educação no brasil: uma visão da história e possibilidades nessa relação. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26, 131-141. Recuperado de: https://revistaptp.unb.br/index.php/ptp/article/view/475        [ Links ]

Henklain, M. H. O., & Carmo, J. S. (2013). Contribuições da Análise do Comportamento à educação: um convite ao diálogo. Cadernos de Pesquisa, 43(149), 704-723. Recuperado de: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/2672        [ Links ]

Martinez, A. M. (2010). O que pode fazer o psicólogo na escola? Em Aberto, 23(83), 39-56. Recuperado de: http://emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/view/2250/2217        [ Links ]

Patto, M. H. S. (1981). Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Pereira-Silva, N. L., Andrade, J. F. C. M., Crolman, S. R., & Mejía, C. F. (2017). O papel do psicólogo escolar: Concepções de professores e gestores. Psicologia Escolar e Educacional, 21(3), 407-415. doi: https://doi.org/10.1590/2175-3539/2017/021311165        [ Links ]

Skinner, B. F. (1972). Tecnologia de Ensino. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo.         [ Links ]

Silveira, C. C., & Souza, E. T. (2017). O fazer do psicólogo escolar: algumas contribuições para a qualidade do processo ensino-aprendizagem. In F. Negreiros e M. P. R. Proença. Práticas em Psicologia Escolar: do ensino técnico ao superior, (pp 99-113). Teresina: Edufpi.         [ Links ]

Viana, M. N. (2016). Interfaces entre a Psicologia e a Educação: Reflexões sobre a atuação em Psicologia Escolar. In M. N. Viana e R. Francischini (Orgs.), Psicologia Escolar: Que fazer é esse? (pp. 54-73). Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Aline Beckmann Menezes
Av Pedro Miranda, 465, apto 104b.
Pedreira. Belém-PA, Brasil CEP 66085-005

Recebido: Outubro 16, 2018
Aceito: Fevereiro 06, 2019

 

 

Editora: Naiana Dapieve Patias

Creative Commons License