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Trivium - Estudos Interdisciplinares

On-line version ISSN 2176-4891

Trivium vol.12 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 2020

http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.2020v1p.37 

ARTIGOS TEMÁTICOS

 

O que Schreber ensina sobre a Masculinidade na Psicose?

 

What Schreber teaches about Masculinity in Psychosis?

 

Qu'est-ce que Schreber apprend sur la masculinité dans la psychose?

 

 

Luciano Lima de OliveiraI; Laéria FonteneleII; Jean-Michel VivèsIII

IPsicanalista no Serviço de Saúde Mental do Hospital Universitário Walter Cantídio - UFC. Doutor em Psicologia pela Université Côte d'Azur - UCA e pela Universidade Federal do Ceará - UFC. E-mail: lucianoldeoliveira@yahoo.com.br
IIProfessora Titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará - UFC. E-mail: laeria@terra.com.br
IIIProfessor de Psicologia Clínica e Patológica da Université Côte d'Azur - UCA France. E-mail: jeanmichelvives@gmail.com

 

 


RESUMO

Problematizaremos o ser homem à luz do que podemos extrair daquilo que Daniel Paul Schreber registrou em seu livro "Memórias de um doente de nervos", valendo-nos, além dessa obra, das elaborações teóricas de Freud, Lacan e outros autores a seu respeito. Dessas discussões, extrairemos elementos para um exame acerca da masculinidade na psicanálise, considerando o que a psicose revela de estrutural quanto a isso. Em resumo, verificaremos o que o sujeito psicótico nos ensina sobre o tornar-se homem, levando em conta que, diferentemente da neurose, na psicose, o complexo de castração não é a matriz da escolha do sexo psíquico.

Palavras-chave: PSICANÁLISE; MASCULINIDADE NA PSICOSE; SCHREBER.


ABSTRACT

We will discuss the masculinity considering what Daniel Paul Schreber has stated in his book "Memoirs of my nervous illness". We will recourse to that book other than the discussion that Freud, Lacan and other authors produced on it. Next, we will extract the elements to our reflections about masculinity in psychoanalysis. In short, we will verify what the psychotic subject can teach us about becoming a man bearing in mind that in the psychosis, unlike what occurs in the neurosis, the castration complex is not the matrix of choice of the psychic sex.

Keywords: PSYCHOANALYSIS; MASCULINITY IN PSYCHOSIS; SCHREBER.


RÉSUMÉ

Nous discuterons la masculinité, en considérant ce que Daniel Paul Schreber a écrit dans son livre "Mémoires d'un névropathe", en utilisant, outre cet oeuvre, les élaborations de Freud, de Lacan et d'autres auteurs sur ce sujet. Ensuite, nous extrairerons des éléments pour notre discussion sur la masculinité dans la psychanalyse. Bref, nous vérifierons ce que le sujet psychotic nous apprend sur le devenir homme, en tenant compte du fait que, dans la psychose, différemment de ce qui se passe dans la névrose, le complexe de castration n'est pas la matrice du choix concernant le sexe psychic.

Mots-Clés: PSYCHANALYSE; MASCULINITÉ DANS LA PSYCHOSE, SCHREBER


 

 

Introdução

O estudo sobre o que podemos entrever acerca da questão da masculinidade na psicose, a partir do caso Schreber, é um recorte de uma pesquisa mais ampla que busca sistematizar o entendimento psicanalítico sobre o ser homem a partir de um interesse não meramente teórico. Para nós, a indagação e a problematização da masculinidade na psicanálise surgiram da experiência clínica do primeiro autor, como membro de uma equipe interdisciplinar de um hospital de câncer, em que prestava atendimento a pacientes vitimados por câncer de pênis antes e depois de suas submissões a cirurgias de amputação do referido órgão. Esta experiência motivou duas pesquisas: a primeira ocorreu sob a orientação da segunda autora; a segunda delas, envolveu um regime de pesquisa sob forma de cotutela entre duas universidades - uma brasileira e a outra francesa - que foi desenvolvida pelo primeiro autor sob orientação dos demais autores. A primeira pesquisa buscou, a partir dos casos atendidos, refletir, sob a perspectiva da psicanálise, acerca das consequências de tal infortúnio para a vivência da sexualidade desses homens após serem submetidos à cirurgia. Sua contribuição foi a de procurar demonstrar a importância de que a equipe multidisciplinar pudesse redimensionar o tipo de intervenção pós-cirúrgica que, então, se baseava numa visão reducionista da sexualidade, vista sobretudo a partir de uma dimensão biológica e funcionalista. Foi, ainda, a partir dos dados clínicos dessa pesquisa, que nos direcionavam para o lugar ocupado pela fantasia e pela dimensão do que, para esses sujeitos, se colocava como "ser homem" que a realização da segunda pesquisa foi motivada. Esta última buscou, de forma mais específica, delimitar o estatuto da masculinidade para a psicanálise mediante uma retomada de sua discussão devidamente lastreada tanto por dados clínicos provenientes dessa experiência quanto pelos aportes psicanalíticos, até então formulados em torno da questão do que é um homem. Em tal contexto, um dos aspectos examinados foi a necessidade da ampliação do entendimento da problemática da masculinidade, de forma que pudesse incluir os sujeitos de estrutura psicótica, na medida em que tal problemática, até determinado momento das teorizações de Freud e Lacan, esteve circunscrita à lógica edípica e à castração, no caso do primeiro, e à lógica fálica e à posição sexuada quanto ao falo, no caso do segundo.

 

A paranoia de Schreber e a defesa contra o desejo homossexual

Refletir sobre a masculinidade de Schreber requer a consideração sobre a explicação freudiana acerca do desencadeamento de sua psicose e sua consequente formação delirante, em que pesa a dissintonia apontada pelo próprio Freud (1911/1981) entre a sua homossexualidade inconsciente e a sua heterossexualidade consciente; esta última refletida na consonância existente entre a moral de seu tempo, no modo como foi veiculada em sua educação, e a sua moral pessoal edificada, a qual favorecia o recalque de suas tendências homossexuais. O repúdio dessas tendências teria sido tão forte em Schreber que o teria levado à psicose e à elaboração do delírio, tentativa de reestabelecimento de sua saúde. Assim, o paralelismo entre a feminilidade inconsciente e a masculinidade consciente traçado por Freud remete ao modelo do Complexo de Édipo nas neuroses e o lugar que nele ocupa o recalque da adoção de uma posição feminina perante o pai, bem como suas consequências para a produção de sintomas. Não é motivo de surpresa que o recurso à lógica edípica forneça a tendência à realização do paralelo possível entre as questões que remetem ao problema da feminilidade e da masculinidade no menino, tal como puderam ser, de certa forma, tratadas por Freud nos casos do Homem dos Lobos, do Homem dos Ratos, assim como também no caso do Pequeno Hans. Apesar de, no caso Schreber, aludir a essa lógica, Freud indica um diferencial que abre as portas para a visualização de um mecanismo que parece especificar a psicose paranoica - em relação às neuroses - e que seria uma sorte de defesa mais radical, que Freud aí nomeia de projeção (Verwerfung) e que consistiria não exatamente no fato de que o conteúdo interiormente recalcado seja projetado para o exterior, mas, antes, que o "interiormente abolido retorna desde o exterior" (Freud, 1911/1981, p. 1523). Retorno, pois, a partir do real, de algo que não foi admitido psiquicamente.

 

 

A projeção é o mecanismo que estaria presente, conforme Freud o admite, em todos os tipos conhecidos de paranoia. Relativamente à paranoia masculina, em que o nódulo conflitivo consiste da fantasia de amar outro homem, a defesa projetiva seria erguida para contradizer o desejo homossexual e se expressaria de três maneiras distintas, em função das transformações sofridas pela ideia "eu o amo": o delírio persecutório, a erotomania e o delírio de ciúme.

Na primeira, o amor homossexual é transformado em ódio, que em seguida é projetado sobre outro sujeito, que, por isso, passa a ocupar o lugar de perseguidor: do "eu o amo", passa-se a "eu não o amo; o odeio, porque ele me persegue". Na erotomania, o amor homossexual abolido dá lugar a um amor heterossexual, que se expressa através de um "eu não o amo; eu a amo", que novamente pela projeção, adquire o sentido de "eu a amo porque ela me ama". Enfim, no ciúme delirante, o homem projeta seus desejos homossexuais na mulher, ensejando, desse modo, toda sorte de acusações de infidelidade, com suas consequências não raro nefastas: "eu não o amo, é ela que o ama". Em relação a Schreber, o delírio persecutório e a erotomania são as manifestações mais presentes em suas paranoias.

Uma das primeiras releituras críticas realizadas sobre o estudo de Freud sobre a paranoia de Schreber foi o trabalho de autoria de Ida Malcapine e Richard A. Hunter (1978), no qual defendem que o caráter clássico do texto de Freud teria produzido uma tendência dos analistas à inibição de sua crítica detalhada e questionam a tese ali presente acerca do motivo do adoecimento: a intensificação da libido homossexual inconsciente, da qual seu objeto teria sido o seu médico - o Dr. Flechsig. Para os dois psicanalistas, o desencadeamento da psicose de Schreber admitiria outra razão de ser: a investigação acerca da procriação, a qual ambos qualificam de assexuada, tendo a mesma, por consequência, a homossexualidade como uma formação secundária. Ambos sustentam um ponto de vista discordante do de Freud, que considerou a frustração de Schreber de não ter tido filhos como motivadora da fantasia de desejo inconsciente homossexual. Para eles, o fato de Schreber vir a ter um filho seria o que, de fato, inspiraria a fantasia homossexual (Malcapine & Hunter, 1978; Azouri, 2017).

Lacan (1955-56/1992), em seu retorno ao referido caso, objeto de seu seminário sobre as psicoses, embora desenvolva uma crítica à totalidade das teses de Malcapine e Hunter sobre a psicose de Schreber, admite como plausível o fato de que a homossexualidade teria sido urdida no processo que levou ao desencadeamento de sua psicose e à construção de seu delírio. Dessa forma, e diferentemente deles, que tomam a fantasia de procriação como causa, Lacan irá se direcionar para a questão da função paterna e de sua relação com a ordenação da linhagem paterna, a qual culminará na sua formulação do mecanismo de base das psicoses (a foraclusão do significante do Nome-do-Pai); o que lhe permitirá, ainda, discutir, entre outros temas, o enigma colocado pela procriação tanto na psicose como na neurose (tomando a histeria como metáfora), tal como examina Fontenele (2018), segundo a qual, Lacan teria demonstrado que:

O problema da procriação faz apelo "à realização do significante pai ao nível simbólico" (p. 233). A questão da estruturação neurótica requer essa possibilidade (...) e a da estrutura psicótica a sua impossibilidade (...). Se tal é inexequível, a função simbólica do pai restará reduzida a uma imagem que servirá de modelo pela via da alienação especular e tal permitirá, no melhor dos casos, sua apreensão no plano imaginário. Desse modo, diferentemente da neurose - onde a alienação possibilita a captação da imagem do corpo próprio - a desmesura da "imagem captadora" gera uma dimensão de agressividade e de rivalidade mortífera, pois exclui a possibilidade do pacto, não favorece a exclusão recíproca necessária à diferenciação entre o eu e o outro. É essa imagem desproporcional que gera, no plano do conhecimento, um sentido que Lacan denomina de aniquilante, pois destrói o próprio significante (p. 45).

O entendimento do problema da feminilidade e da masculinidade em Schreber passa então a considerar como fundamentais as contribuições dadas por Lacan ao lugar ocupado na psicose pela tentativa de ordenação delirante da linhagem como suplência à não realização do significante pai no simbólico. Nesse contexto, Lacan cunha a expressão empuxo-à-mulher que designa um significante e cujo sentido não pode ser confundido com um empuxo-à-feminilidade e nem com a convocação de um vir a ser mulher. O empuxo-à-mulher decorreria da tese da foraclusão do significante do Nome-do-Pai que, impossibilitando a humanização ou falicização do órgão, faz com que a paternidade e a maternidade sejam definidas biologicamente nas psicoses. Com essa posição, Lacan explicita que não se pode tratar do empuxo-à-mulher em Schreber a partir da lógica do Édipo clássico, sendo esclarecido o modo como a mulher é aí considerada, a saber, como a mulher que falta aos homens. Isto, uma vez posteriormente aplicado às suas formulações acerca da diferença sexual, permite que se dê a compreensão de que, nas psicoses, o sujeito não se situa nem do lado homem e nem do lado mulher de suas fórmulas da sexuação. Tal indistinção evidencia haver, na psicose, a equivalência entre o lado homem e o lado mulher.

Mesmo que não examinem diretamente o problema da masculinidade, outros estudos contemporâneos que retornam ao caso Schreber, já incorporando ou dialogando com as contribuições de Lacan, trazem contribuições colaterais à questão.

Em sua leitura das formulações de Lacan sobre o efeito "empuxo-à-mulher", Santiago (2001) defende que ele seria o nome para o gozo infinito decorrente da foraclusão do Nome-do-Pai nas psicoses. Toma, dessa forma, o empuxo como um universal do gozo, um dado da estrutura psicótica e não apenas do caso de Schreber.

Quanto ao mesmo tema, é esclarecedora a interpretação dada por Maleval (2002) à noção de empuxo-à-mulher. Ele considera que fazer existir A Mulher na psicose é fazê-la confundir-se com o ao menos um não submetido à castração (com o Pai Gozador), o que resultaria na indistinção entre o lado feminino e o lado masculino da partilha dos sexos e na possibilidade da existência da relação sexual. Essa indistinção coloca o sujeito diante de um gozo sem limites e o empuxo-à-mulher seria ao mesmo tempo o efeito desse gozo e a tentativa de construir limites ao mesmo.

Outra importante contribuição sobre a questão é a de Marie-Hélène Brousse (2002), que procura localizar de forma mais abrangente o lugar do empuxo-à-mulher no contexto da clínica das psicoses e sustenta o argumento segundo o qual tal empuxo é um elemento logicamente necessário no contexto dessa clínica e que aparece de forma singular em cada caso e não pode ser reduzido a um fenômeno, sendo antes decorrência lógica da foraclusão do significante do Nome-do-Pai e das consequências disso para o modo como se dá a relação do psicótico com o Outro. Demonstra, a partir de extratos clínicos provenientes de sua própria experiência, que o empuxo-à-mulher pode assumir formas diferentes daquela apresentada por Lacan em referência ao Caso Schreber.

Quinet (2003), em seu estudo sobre a clínica das psicoses, retomando as contribuições de Lacan sobre o mesmo tema, também compreende o efeito empuxo como sendo correlativo à "falta de inscrição simbólica nos sexos" (p. 212). Devido a isso, considera que "o psicótico é levado a ir para o lado feminino devido a sua posição de ser o falo do Outro". O empuxo poderia, segundo ele, manifestar-se diferentemente do que ocorre no caso Schreber e teria a potencialidade de promover uma suplência imaginária da função fálica. Atento à leitura da tese de Lacan sobre o significante foracluído do simbólico, ele afirma: "se o significante foracluído do simbólico é o Nome-do-Pai, o trabalho delirante vai fazer com que o sujeito percorra um caminho construído para ser pai" (p. 61). Segundo esse mesmo autor, o trabalho delirante, ao tomar essa direção, visa uma transformação do gozo, o qual no caso de Schreber admite três momentos, segundo esse mesmo autor: o primeiro seria o do surgimento da sensação de que seria bom ser uma mulher durante o ato sexual e que é acompanhado de várias poluções noturnas, indicando "uma certa forma de gozo falicizado, pois se localiza no pênis, mas se trata de um gozo em vias de deserção, um gozo que tende ao infinito" (p. 62); o segundo deles, resultado da dissolução do imaginário, promoveria o aparecimento de gozo sem arrimo e corresponde ao período de morte do sujeito; por último, o momento em que Schreber aceita ser a Mulher de Deus, "há uma estabilização do remanejamento do significante, trata-se, então, do gozo da imagem, que Lacan chama também de gozo autoerótico ou gozo transexualista" (p. 62). Neste caso, a erotomania divina em sua relação com o empuxo seria uma tentativa de localização do gozo no Outro.

Soler (2007) adota posição semelhante à dos demais autores acima citados, quanto à impossibilidade de simbolização da diferença sexual. Ela mostra a importância de observarmos que esse impasse que suspende o posicionamento quanto ao sexo do lado feminino ou masculino leva ao que Lacan expressou como sendo o forçamento para o campo do Outro, o qual comparece como estranho ao sentido. Para ela, também, o empuxo não significa o posicionamento do lado feminino.

Gama e Bastos (2010) realizam uma reflexão de fundamental importância para a clínica das psicoses acerca do vínculo intrínseco que defendem existir entre o empuxo-à-mulher e a erotomania. Tais contribuições trazem também elementos úteis à nossa discussão sobre a masculinidade nas psicoses. Partindo também dos impasses envolvendo o processo sexuação nas psicoses, as autoras defendem que o empuxo-à-mulher é um destino que é dado pelo delírio à erotomania. A hipótese da qual partem é a de que "o empuxo-à-mulher, submetido a um trabalho psíquico como o delírio, pode ser considerado como uma forma de o sujeito responder por sua condição sexuada - em lugar de inscrever-se na partilha - e alcançar a estabilização" (p. 142). Disso se depreende que, para as autoras, com essa resposta o sujeito é convocado a "inventar não o lugar da exceção, enquanto termo lógico que funda a regra, mas uma posição de exceção, no sentido em que, por não estar amparado por um discurso estabelecido, é inédita e absolutamente original" (p. 147). O empuxo seria assim uma resposta singular à estrutura psicótica, enquanto a erotomania adviria na condição de solidária à "condição objetal do sujeito sem, no entanto, fazer-se necessariamente acompanhar de feminização no plano dos fenômenos" (p. 149). Assim é que na erotomania, o sujeito sempre aparece "apassivado no amor de que é objeto". A inciativa parte sempre do Outro. Levantam, assim, a reflexão acerca de se a erotomania no homem não seria experimentada a partir de uma posição feminina. De todo modo, o que as autoras explicitam é que: "Empuxo-à-mulher e erotomania se entrelaçam, na medida em que ambos dizem respeito ao retorno do gozo que invade o sujeito, sendo que o primeiro concerne à irrupção do gozo desmedido, enquanto a segunda já se presta a moderá-lo" (p. 152).

Assim como os autores citados, Azouri (2017) tem por referência as teses de Lacan acerca da psicose de Schreber, mas seu estudo apresenta um diferencial: pergunta-se justamente o porquê de determinados aspectos da verdade material do sujeito que servem à invenção delirante não terem merecido o destaque de Freud, sobretudo aqueles relacionados ao pai de Schreber. Ele defende que, em seu estudo sobre Schreber, Freud teria "negligenciado a questão da procriação (e da linhagem) em benefício da defesa da homossexualidade como fator determinante do desencadeamento do delírio de Schreber" (p. 22). O seu argumento é o de que em uma leitura minuciosa das memórias do presidente e mesmo do estudo que dela faz Freud não haveria como não articular de forma precisa a relação entre estes dois aspectos. Dessa forma, se pergunta a razão do peso que dá à questão da defesa contra a homossexualidade em detrimento da questão paterna. Esse autor considera estranho o fato de Freud não fazer menção dos livros do pai de Schreber, que eram tão célebres na época, e encontra nisso um vestígio para a hipótese de que Freud bem sabia a estreita relação entre a emasculação e a procriação no desencadeamento da psicose de Schreber, mas que tal teria sido deixado nas entrelinhas de seus estudos por questões éticas (envolvendo a família do presidente) e ou por motivos ligados à elaboração de sua teoria no contexto dos seus conflitos, em curso naquele momento, com Jung e Ferenczi. Em suma, Azouri defende que Freud sabia de tal vínculo, mas suas razões para amortizá-lo teriam sido mais fortes que levar às últimas consequências sua teoria da paranoia, o que não estaria dissociado de sua preocupação com a legitimação científica de sua teoria e nem de questões subjetivas que diriam respeito à elaboração de conflitos que remeteriam à sua própria homossexualidade recalcada.

Diante das contribuições acima repertoriadas, somos então levados à tentativa de discernimento das diferenças entre a masculinidade nas psicoses e nas neuroses, mas não sem antes nos perguntarmos sobre a própria questão da masculinidade na psicanálise.

 

A emasculação no delírio de Schreber e o problema da masculinidade na psicose

No quarto capítulo de suas "Memórias", Schreber (1903/1975) nos conta que após a cura de sua primeira doença dos nervos ele viveu muito bem com sua esposa durante oito anos, só tendo uma coisa a lamentar: sua união matrimonial nunca fora abençoada com um filho. Schreber nos indica, desse modo, a importância de que o tornar-se pai se revestia em sua vida. Foi em junho de 1893, quando do período de bonança de estabilização de sua psicose, que ele recebe a notícia de sua nomeação para o cargo de presidente do tribunal de Dresden. Esse foi o contexto no qual a feminização passa a ocupar pela primeira vez seus pensamentos.

Nessa época, ele relata sonhos que passa a ter e os descreve como sendo da vivência não propriamente da lembrança de cenas, mas de uma espécie de sensação, a qual lhe vem ao espírito numa manhã, quando se encontrava no leito com sua mulher e a que ele assim descreve: "(...) de todo modo, deve ser algo singularmente belo ser uma mulher no momento do coito" (Schreber, 1903/1975, p. 63-64). A sensação de que seria belo ser uma mulher ele a especifica com a ocupação de uma posição passiva - a de ser penetrada sexualmente. O chamado à feminização é associado à redução da mulher à posição de objeto sexual. Trata-se, para ele, da ocupação de uma posição feminina semelhante àquela da qual Sergei Pankejeff, o paciente de Freud, conhecido como "o homem dos lobos", se defendia: ser a mulher do pai no ato sexual.

Freud (1923/1981) afirma que no caminho até a masculinidade o menino deve atravessar uma etapa que consiste em se conduzir como uma menina em relação ao pai, tomando-o por objeto de amor, o que implica fazer-se amar por ele. Um amor, que conforme Pommier (1992) é traumático, violento, uma vez que o pai sedutor, a quem esse amor se endereça, se furta à sedução fantasiada pelo sujeito; mas que ao mesmo tempo é fundador, no sentido de que se fazer desejar pelo pai permitiria uma solução para a alienação mortificante ao Outro materno. Trata-se do pai que está na origem mesma da psicanálise, como Freud veio a descobrir de modo - senão traumático - pelo menos desconcertante. O amor por esse pai feminiza, pois tem como premissa a castração (Freud, 1924/1981). Isso leva Freud (1914/1981) a afirmar que, para o menino, o recalque da satisfação pulsional passiva, homossexual, buscada junto ao pai, deve ser posto em ação, a fim de que o pênis seja preservado. O recalque poderia, assim, ser considerado como uma "vitória da masculinidade".

No entanto, à medida que Freud nos ensina que a operação de recalque compreende, ao mesmo tempo, o retorno do recalcado, a atitude feminina recalcada no complexo de Édipo pelo temor à castração será passível de retorno, ameaçando a masculinidade. Tanto pela constituição bissexual do ser humano - da qual Freud nunca abriu mão -, quanto pelo fato da pulsão ser uma força constante, as moções pulsionais de natureza homossexual exigirão sempre satisfação, e, portanto, um trabalho psíquico renovado de encaminhamento das referidas exigências. A vitória da masculinidade nunca será definitivamente consolidada. Assim, em qualquer momento de sua vida, um homem pode se deparar com a temida feminização perante o pai. Dito de outro modo: se a vitória da masculinidade não pode ser absoluta ou definitiva, um homem pode estar sempre sujeito a se confrontar com situações que, para ele, funcionariam como verdadeiras atualizações do antes mencionado traumatismo fundador. Como cada um lidará com essas atualizações será função de sua singularidade e dos discursos ou modos de liame social próprios à cultura e, sobretudo, das particularidades de cada estrutura psíquica. Como poderíamos pensá-la no caso de Schreber, para quem o complexo de castração, fundamental ao advento da masculinidade, não operou?

A pergunta acima se justifica não apenas pelo fato de Schreber, até o desencadeamento da psicose, se ter posicionado como homem na dimensão do social, mas também pela angústia e o desprazer que a ideia de ser feminizado lhe causava. Com efeito, Schreber era casado, heterossexual, possuía uma atividade profissional reconhecidamente masculina e desejava ser pai. Todos esses elementos integravam o que a cultura de seu tempo reconhecia como universo masculino, fálico, do qual ele fazia parte. Além disso, como dissemos, a fantasia de feminização lhe provocava repulsa por estar em oposição ao que, por diversas vezes em seu livro, ele chama de sua "honra viril". Sobre isso, ele assim se expressa:

Essa ideia era tão estranha à toda minha natureza que se ela me tivesse surgido em plena consciência eu posso afirmar que a teria rejeitado com indignação; após o que eu vivi desde então, eu não posso descartar a possibilidade de que uma influência externa tenha sido decisiva para me impor essa representação (Schreber, 1903/1975, p. 64).

A feminização lhe é, pois, estrangeira, exterior ao eu. Nesse sentido, poderíamos até dizer que ela era ego-distônica.

A referência ao eu é útil dado que, no caso de Schreber, não poderíamos falar propriamente da assunção de uma posição sexuada, a qual Schreber não pôde realizar. Por essa razão, a masculinidade que este último construiu era antes o fruto de identificações com os significados fornecidos pelos discursos a respeito do que é ser homem e do que é ser mulher. Tais significados são, conforme sustenta Morel (2004), o modo pelo qual é interpretada a diferença anatômica que a natureza revela. Tal interpretação, mesmo que disso não se tenha consciência, se constrói com base em critérios fálicos, pois ao se designar um indivíduo como menino, por exemplo, isso não quer dizer, nas palavras da mencionada autora,

[...] somente portador de um pênis, mas capaz de virilidade, de ser um homem (...). A natureza sucumbe aí ao peso de um significante único que categoriza a diferença natural em termos de falo e de castração. O falo se torna um significante-mestre do sexo (Morel, 2004, p. 144).

Há, quanto a isso, uma diferença fundamental entre o neurótico e o psicótico: o primeiro, por ter passado pela castração, inscreve-se na função fálica e, para ele, o falo funciona como um significante-mestre na afirmação da masculinidade; para o segundo, porém, a não submissão à função fálica impossibilita-o de simbolizar o falo, que não ascende à posição de significante. Desse modo, sua relação como o falo é essencialmente imaginária, o que o leva a identificar-se imaginariamente com os significados fálicos produzidos pelos discursos que comumente prescrevem as normas relativas aos sexos. Isso significa, de acordo com Morel (2004), que o sujeito "pode estar imerso no mar do significado fálico (...) proposto pelas convenções sociais de seu tempo, sem assumi-las subjetivamente" (p. 145).

Morel (2004) adverte que, embora a masculinidade de Schreber fosse reconhecida por ele e pelos outros, tal não seria suficiente para caracterizá-lo como homem, do ponto de vista da sexuação. Esta não se reduz às identificações, logo diz menos da identidade sexual do sujeito que de sua posição de gozo. Assim, diz Morel (2004), "sobre o plano do eu e à condição de não estar em um momento muito delirante, ele [Schreber] é de gênero masculino" (p. 253-254). Contudo, a dimensão egoica não é a essencial, como o atestam, por exemplo, os componentes mais destacados do delírio de Schreber, a saber, a emasculação (Entmannung) e a feminização (Verweiblichung); a primeira sendo, para ele, uma condição necessária para que a segunda fosse atingida. Desse modo, pensar a masculinidade em Schreber sobre o mesmo plano do que acontece com o neurótico, não seria, conforme se pergunta a autora acima citada, negligenciar também

Sua relação ao gozo e à feminização, que lhe parece a si mesmo como tão real, a ponto dele fazer disso um livro e de convocar a Ciência a vir constatar sobre seu corpo a transformação em mulher, da qual ele foi objeto? (Morel, 2004, p. 254)

Pelo fato de a metáfora paterna não ter operado em Schreber, a significação fálica, significação do desejo da mãe, não podia ser buscada no simbólico, permanecendo na dimensão do imaginário. O significante Nome-do-pai, que, como explica Lacan (1957/1998), é o que metaforiza, substitui as primeiras significações dadas à ausência da mãe, foi foracluído do simbólico. Isso implica que o sujeito disporá basicamente do imaginário para se proteger do real, o que faz das identificações com as quais ele tenta sustentar sua identidade sexual, algo bastante vulnerável. Da foraclusão do Nome-do-pai e da função fálica, à qual ele dá sustentação, também resulta que para Schreber não houve a produção do pai da exceção, isto é, do pai que se furta à regra da castração, a qual funda o universo dos homens, a saber o pai morto. Por conta disso ele não se inscrevera nem do lado homem nem do lado mulher do quadro da sexuação, precisando inventar-se um significante para localizar o gozo. Tal significante é o que ele denomina de "a mulher de Deus", e ele responde ao que Lacan (1972/2003) chamou de "empuxo-à-mulher".

Lacan (1972/2003) nos diz que o que especifica o empuxo-à-mulher é a inexistência da exceção à função fálica, outra forma de falar da foraclusão do Nome-do-pai. A existência de uma exceção à castração, do pai como o "aomenosum" que não se submete a ela, é o que permite ao neurótico situar-se do lado homem ou do lado mulher da partilha dos sexos ainda que, neste último caso, como frisamos acima, o gozo do sujeito não se submeta inteiramente ao significante fálico. Daí porque Lacan (1972-1973/1985) dirá que a mulher é não-toda na função fálica, advertindo, todavia, que "não é porque ela é não-toda na função fálica que ela deixe de estar nela de todo. Ela não está lá não de todo. Ela está lá a toda. Mas há algo a mais" (p. 100). Desse modo, o termo "mulher", que compõe o sintagma empuxo-à-mulher, não deve ser entendido como se referindo à feminilidade ou mesmo à mulher como posição sexuada, mas ao significante Mulher. Este aponta para a Mulher que não existe, da ordem do impossível. Por isso, Lacan (1972/2003) associará o empuxo-à-mulher de Schreber a uma função hiperbólica, cujos braços só encontram as assíntotas no infinito. A construção significante de Schreber é assim impossível de ser concluída, o que, em outras palavras, significa que sua transformação em mulher não poderá ser alcançada. Isso fica claro quando Schreber (1903/1975), ao perguntar-se sobre o que ele se tornará, afirma, resignadamente, que é possível, "provável mesmo, que até o fim de minha existência as coisas não passem desses esboços intensos de feminilidade; e que seja como homem, que com a morte eu parta" (p. 327).

O empuxo-à-mulher, em Schreber, implica, como dito anteriormente, emasculação e transformação em mulher. A primeira antecede a segunda e era sentida por Schreber como ameaça a sua virilidade. Lacan (1955-1956/1992) observa que, embora Freud elabore sua análise do caso Schreber em função da ameaça de castração, este último não se refere nunca à sua feminização em termos de castração, mas através do termo alemão Entmannung, que significa emascular. No entanto, deve-se salientar que tal verbo não se reporta unicamente à castração dos genitais masculinos, mas também à perda da virilidade, ao fato de efeminar-se. É nessa última acepção que Schreber (1903/1975) relata sua emasculação, implicando antes uma retração do pênis e do escroto para dentro do abdômen que a extirpação dos genitais. Conforme sua própria descrição:

A transformação se praticava de forma que os órgãos genitais (externos) masculinos (escroto e membro viril) se retraíssem para o interior do abdômen, e por uma deformação concomitante os órgãos genitais internos fossem modificados em seus homólogos femininos - esse processo era levado a cabo talvez durante um sono secular, já que era preciso, com efeito, que todo uma modificação óssea (bacia, etc.) tivesse lugar. Produzir-se-ia, então, uma involução ou uma inversão do processo de desenvolvimento do feto humano durante o quarto ou quinto mês da gestação (...) (p. 81).

Sua transformação, para ser de fato completa, e poder assim lhe permitir atender integralmente às exigências divinas, não se deveria restringir aos genitais, mas contemplar todos os signos corporais da masculinidade:

Vinham em seguida a extração miraculosa dos pelos da barba e mais especialmente dos pelos do bigode, enfim uma transformação completa da estatura (redução do tamanho do corpo), consistindo de uma compressão das vértebras e provavelmente também da substância óssea das coxas (Schreber, 1903/1975, p. 180).

Não há, pois, nenhuma referência à uma extirpação do pênis ou ao temor de que ele pudesse ser extirpado; tratar-se mais de uma verdadeira metamorfose.

Tanto a atitude feminina em relação ao pai, quanto as exigências de emasculação que lhe vinham do Outro, eram para Schreber objeto de repulsa e resistência. O processo que o levará a aceitar finalmente ser a mulher de Deus é marcado por angústia, resistência, injunções que o impelem a pôr à prova sua virilidade; enfim, por certa tensão entre o que ele denomina seu orgulho viril e o imperativo divino de se transformar em mulher.

Ao explicar como seria o processo de transformação em mulher, ele acrescenta que os raios de Ormuzd, o Deus superior, teriam a faculdade de, caso fosse necessário, regenerar, devolver a ele a virilidade perdida. Sua honra viril desempenhava um papel importante na resistência inicial à feminização. Ao nos contar a virada capital que teve lugar em sua vida em novembro de 1895 e que consistiu na proliferação massiva dos signos da feminilidade por todo seu corpo, ele nos diz que todo o processo miraculoso de sua metamorfose só não fora completamente atingido naquela época, porque ele acreditara dever, "por meio de um esforço de meu sentimento de honra viril me opor a ele resolutamente" (Schreber, 1903/1975, p. 207). Schreber fala por vezes de sua feminização em termos de uma "ignomínia ameaçadora" e de "humilhação", reprimindo a excitação dos nervos femininos em nome de seu "sentimento de honra viril": "(...) pode-se imaginar o quanto minha honra, meu amor-próprio viril e minha moral, que compunham minha personalidade se insurgiram contra esse plano ignóbil (...)" (1903/1975, p. 85). A feminização lhe era a tal ponto discordante de sua moral e de sua masculinidade que ele chega a afirmar que a aceitação daquela teria sido facilitada porque ele estava convencido de que, exceto ele, "(...) o gênero humano, em suas espécies reais, havia desaparecido da superfície da Terra (...) minha transformação não corria o risco, pois, de se caracterizar como uma aviltante humilhação" (1903/1975, p. 208).

A tensão entre sua masculinidade e sua feminização pode ser bem observada ao longo de sua narrativa quando ele faz referência às interpelações que lhe chegavam das vozes dos nervos, que lançavam desafios e impropérios à sua imagem viril. Assim, ele diz:

Falando francamente, os raios que persistiam em me abandonar1 (...) não deixavam de fazer apelo - de maneira vil - ao meu senso de honra viril; assim, cada vez que a volúpia da alma afluía eles repetiam indefinidamente essas palavras: "na frente da senhora sua esposa... você não tem vergonha..." ou de modo ainda mais vulgar: "eis aí um ex-presidente que se deixa enrab..." (Schreber, 1903/1975, p. 208).

Em outras ocasiões, era antes sob a forma de desafio que de ofensa a sua honra viril que a tensão acima aludida se fazia presente:

As vozes procuravam continuamente me indispor com esse enfermeiro; exigiam que eu me dirigisse a ele chamando-o de "W.", omitindo de maneira injuriosa sua partícula nobiliárquica. De início eu não cedi a essas injunções, mas para me livrar das vozes uma vez eu lhes obedeci. [...] eu lhe dei um tapa; eu não me lembro mais do motivo, mas um dia, quando ele me fizera uma exigência absurda e indecente as almas começaram a zombar de minha presumida falta de virtude viril e me desafiaram até que eu passasse ao ato (Schreber, 1903/1975, p. 138).

Aceitar o desafio de demonstrar sua virilidade era para Schreber uma questão de honra, uma defesa de sua virtude viril, mas também resultado da sujeição a um Outro gozador, a cujas injunções ele deveria obedecer.

Schreber demonstra certa preocupação com o aspecto moral relativo à sua transformação em mulher. Em dado momento de suas Memórias, ele evoca os rígidos princípios morais da educação que recebera do pai, com o intuito de desencorajar o leitor a emitir qualquer julgamento moral sobre sua feminização:

Poucos homens foram educados dentro de princípios morais tão severos quanto eu fui, e poucos se impuseram tanto quanto eu, e sobretudo quanto à vida sexual, uma moderação tão pautada nos referidos princípios. Que se evite, pois, de tomar isso que me move por uma sensualidade vulgar; se ainda me fosse possível proporcionar satisfação a meu orgulho viril, isso me seria naturalmente e incomparavelmente preferível [grifo nosso]; também não permitirei a quem quer que seja a menor desconfiança de que possa existir, de minha parte, alguma lascívia, qualquer que seja ela (Schreber, 1903/1975, p. 319).

Dizer que preferiria satisfazer seu narcisismo masculino, mas confessar que tal escapa às suas possibilidades é admitir não apenas que seu orgulho viril não fora erradicado por causa da feminização, mas também que não lhe resta alternativa que a de resignar-se a esta última, porquanto ela constitui uma causa moralmente superior. A feminização de Schreber, parece-nos, deve ser pensada em articulação antes com o campo da moral, do dever, que com o do gozo sexual; embora, no início, a ideia de se transformar em mulher estivesse associada a ser uma puta, objeto de abuso sexual por parte do outro. Schreber não se pretende transformado em mulher para, como tal, gozar sexualmente de um homem. Sobre isso, ele é enfático:

Que não haja mal-entendido; quando eu digo que cultivar a voluptuosidade se tornou, por assim dizer, da ordem do meu dever, isso não implica absolutamente que eu deva, através de minha concupiscência, procurar outras pessoas (mulheres), nem que eu seja obrigado a manter relações sexuais de qualquer sorte; o que é exigido, é que eu me olhe como homem e mulher em uma só pessoa, consumando o coito comigo mesmo, e que eu busque sobre mim mesmo as práticas excitatórias preliminares. Ainda que estas últimas sejam consideradas obscenas, elas não têm aqui nada a ver com as representações habituais de onanismo ou de outras coisas similares (Schreber, 1903/1975, p.320).

Não nos parece que a feminização de Schreber possa ser colocada, por exemplo, no mesmo patamar daquela que tem lugar no transexualismo. Para Schreber, conforme assinala Freud (1911/1981), a feminização constitui um meio para o cumprimento de um dever: salvar a humanidade parindo uma nova raça humana, uma raça de filhos de Deus. Além disso, pelo que observamos da citação, sua transformação em mulher não é de natureza sexual, pois ele afirma consumar o coito consigo mesmo, como homem e mulher ao mesmo tempo. Sobre isso, é importante assinalar, com Morel (2004), que à diferença do transexual, que tende a denunciar o erro da natureza quanto à sua identidade de gênero, Schreber, como vimos, se conformou, até a aceitação de sua emasculação, aos semblantes da masculinidade, produzidos pelos discursos sobre o sexo.

Apesar de sua dramática resistência, Schreber enfim aceita a emasculação. Lacan (1955-1956/1998) nos diz que o verdadeiro móbil da inversão entre a indignação da ideia da emasculação e sua aceitação foi o fato de que "nesse intervalo o sujeito havia morrido [grifo nosso]" (p. 574). As identificações imaginárias pelas quais Schreber sustentava sua masculinidade, por não terem sido agenciadas pelo significante do Nome-do-pai, não foram capazes de seguir fazendo barreira ao gozo do Outro. Sucumbindo, assim, aos efeitos que tal gozo produzia em seu corpo, resta a Schreber buscar metaforizar esse gozo deletério de forma delirante. É então que o significante "Mulher de Deus" passa a funcionar como regulador do gozo, pois através dele, Schreber passa à posição de mediador da relação entre Deus e humanidade. Ele toma parte no gozo do Outro, já que é o próprio Schreber que poderá dar a Deus uma nova humanidade. Conforme afirma Quinet (1990):

O advento da metáfora delirante "Mulher de Deus" permite-lhe mover-se na ordem simbólica: ele escreve suas memórias e apela para a corte no sentido de obter autorização para sair do hospício e recuperar seus bens. Advogando sua causa sem renegar seu gozo divino, o presidente Schreber ganha o processo (p. 43).

Redigindo sua defesa, ele age em seu próprio nome e, escrevendo seu livro, teria encontrado um modo de dar continuidade à sua linhagem; dando a seu patronímico um lugar na história.

Com efeito, o nome Schreber está associado a uma linhagem de homens intelectuais, autores de diversos livros sobre diferentes domínios do conhecimento humano, como medicina, direito e pedagogia. Conforme nos indica Carone (1984), os ancestrais homens de Schreber tinham na publicação de suas obras um meio de perpetuar seu patronímico. De acordo com a referida autora, o lema dos livros do bisavô de Schreber era "Escrevemos para a posteridade" e seu pai estava convicto de que seu legado intelectual contribuiria para o aperfeiçoamento da obra de Deus e toda a sociedade humana.

A relação do patronímico com a masculinidade está posta de modo inequívoco na articulação que Lacan (1957-1958/1999) faz entre o ser homem e a linhagem paterna: "No final das contas, o homem nunca é viril senão por uma série infinita de procurações que lhe provêm de todos os seus ancestrais varões, passando pelo ancestral direto" (p. 363). Lacan (1964-1965) adverte, entretanto, que o patronímico não designa um indivíduo, mas algo que pode vir a faltar. Como tal ele poderia servir para recobrir outra falta. Por isso, ele dirá que o nome próprio tem uma função volante, isto é, "que ele é feito para ir preencher os buracos, para lhe dar sua obturação, para lhe dar seu fechamento, para lhe dar uma falsa aparência de sutura" (p. 74). No neurótico, as referências que acompanham o patronímico e o enriquecem (Lacan, 1964-1965) estão suportadas pelo simbólico. Tal não se dá no caso de Schreber. Devido à foraclusão do Nome-do-Pai, Schreber não pôde simbolizar seu patronímico, o que não significa que lhe seja impossível enriquecê-lo. Ele poderá fazê-lo pela via do imaginário, de uma alienação especular, pois o pai poderá servir-lhe de modelo para o estabelecimento de uma série de identificações que, por sua vez, lhe orientarão na busca pelo que se deve fazer para ser um homem (Lacan, 1955-1956/1992).

Dentre os ideais que compunham o imaginário da masculinidade para Schreber, faltava a assunção da paternidade. Esta se faz presente em seu delírio, paradoxalmente, pela via da metáfora delirante "Mulher de Deus". Sobre isso, Freud (1911/1981) faz o seguinte comentário:

O Dr. Schreber poderia ter acalentado a fantasia de que, se fosse mulher, seguramente teria filhos, e encontrou, assim, o caminho para retroceder até à atitude feminina infantil em relação ao pai. O delírio, continuamente deslocado para o futuro, de que por sua transformação em mulher, o mundo seria povoado por "uma nova raça de homens nascidos no espírito de Schreber", estava, pois, destinado a compensar sua falta de filhos (p. 1515).

Freud sugere, assim, que o delírio de Schreber permitia-lhe perseguir a transmissão do patronímico, realizando o ideal de sua linhagem paterna relativo à perpetuação do nome. O peso atribuído a este último, bem como sua valoração, pode ser inferido do modo como Schreber (1903/1975) lhe faz referência: "Os Flechsig e Os Schreber pertenciam, segundo a expressão consagrada, à mais alta nobreza celeste[...]" (p. 49).

Temos a hipótese de que algo da ordem da masculinidade se mantém no delírio de Schreber. Acreditamos que algumas observações feitas por Freud (1911/1981) nos permitem aventar tal hipótese. Uma delas diz respeito à fantasia do salvador. Em sua análise do caso, Freud chama atenção para a associação entre o que ele denomina "fantasia do salvador" e a metamorfose em mulher: "O delírio de salvação é uma fantasia que conhecemos bem: ele constitui, frequentemente, o cerne da paranoia religiosa. Porém o acréscimo de que a salvação tenha com premissa a transformação do sujeito em uma mulher é incomum e, em si mesmo, demasiado estranho (...)" (p. 1492).

O papel de salvador está ligado à fantasia que consiste para o homem em crer que, sem ele, sua amada perderia toda sua dignidade e que, portanto, para salvá-la da degradação moral, ele não pode jamais abandoná-la. Tal fantasia, que, para Freud, é tipicamente masculina seria engendrada pelo complexo parental, cujo sustentáculo se apoiaria na dívida que o menino reconhece em relação aos pais, relativamente ao dom da vida. Segundo as palavras de Freud (1910/1981):

Quando o menino escuta dizer que ele deve [grifo nosso] sua vida a seus pais, ou que sua mãe lhe dera a vida, surgem nele moções de ternura (...) que dão origem ao desejo de corresponder a seus pais com um dom análogo, pagando, assim a dívida com eles contraída. (...) Sob o domínio destes sentimentos, ele constrói então a fantasia de salvar seu pai de um perigo mortal [grifo nosso], ficando, assim, em paz com ele; fantasia que se costuma deslocar-se para o imperador, para o rei ou para outra elevada personalidade, tornando-se, assim, capacitada para vir à consciência e inclusive para ser utilizada na criação poética (p.1629).

Relativamente a Schreber, não poderíamos pensar que o perigo mortal - uma vez que seu pai já havia morrido - teria a ver com não poder dar sequência à linhagem paterna? Tornar-se pai de um filho varão não lhe foi possível, mas, em compensação, ele se torna pai de uma raça inteira de homens superiores, dignos de seu nome. Interessante notar, além disso, a referência que Freud faz à criação poética como derivado da fantasia do salvador. Inequivocamente, estamos aí no terreno da autoria, sendo por meio dela que Schreber, como afirmamos acima, manteve vivo o nome de seus ancestrais homens.

 

Considerações finais

As memórias de Schreber e as contribuições teóricas mencionadas ao longo de artigo fornecem elementos essenciais a uma discussão mais ampla acerca da masculinidade, a qual deve levar em conta as particularidades relativas à estrutura do sujeito e suas implicações para inscrição cultural do homem.

No caso do neurótico, porque houve a exceção do "aomenosum" que diz não à castração, o sujeito pôde inscrever seu gozo inteiramente na função fálica e, assim, assumir perante os discursos uma posição sexuada que o leva a ser reconhecido como homem na cultura. Uma vez que o significante Nome-do-pai operou na metáfora paterna, o falo pôde ser simbolizado e, passando ao estatuto de significante-mestre da identificação sexuada, é, não somente pela via do imaginário, mas fundamentalmente por aquela do simbólico, que a masculinidade poderá ser construída; através dos semblantes fálicos que organizam as identificações do sujeito.

Quanto à psicose, pelo fato mesmo de que a exceção não se produziu, o gozo não pôde ser submetido à função fálica, o que impede o sujeito de se posicionar seja como homem, seja como mulher, no quadro da sexuação. Antes do desencadeamento de sua crise, contudo, a masculinidade de Schreber não era colocada em dúvida. Ele havia construído sua masculinidade em torno de identificações com os valores viris de sua época, notadamente aqueles relativos à moral e à honra. Eram estes os elementos com que ele compôs sua imagem viril; e foi fazendo apelo a eles que Schreber buscou resistir à feminização. Em relação a esse tempo, anterior ao desencadeamento da crise psicótica, poderíamos pensar, então, numa forma de masculinidade relacionada a um gozo fálico por suplência imaginária? Devido à foraclusão do Nome-do-Pai, sua masculinidade não estava apoiada na identificação com o pai enquanto função simbólica, mas como um modelo do que seria ser homem, que só pôde ser fornecido pela via da alienação especular. Nossa hipótese é que, diferentemente do que ocorre na neurose, o gozo fálico do qual Schreber partilhava se reduzia à dimensão imaginária do falo, contida nos significados sobre o que é ser homem, que ele apreendia dos discursos sobre o sexo, incluindo-se aí o de seus pais. Assim, ao contrário do neurótico, a masculinidade de Schreber não estava sustentada pelo falo simbólico, isto é, pela função fálica, que poderia ter lhe permitido lidar com o desejo de ser uma mulher no coito e de ser pai por uma via metafórica e não delirante.

Não podemos esquecer que, segundo Freud, a masculinidade é construída como uma defesa contra a feminização em relação ao pai, conforme sua concepção do Édipo completo. As diferenças entre a neurose e a psicose que, entretanto, esboçamos acima, possibilitam que levantemos a hipótese de que, se em ambas estruturas está em jogo, no que tange à masculinidade, uma defesa contra a feminização, esta última estaria recalcada na primeira e foracluída na segunda; o mesmo se dando no tocante à homossexualidade.

Julgamos útil sublinhar que no fluxo associativo que Schreber produz para compor suas memórias, a revelação da ideia de ser feminizado na relação sexual surge no momento em que ele se lamenta que seu casamento não fora abençoado com um filho. Em outras palavras, que não fora agraciado por Deus com a dádiva de um filho. Desse modo, é possível inferir que não apenas o retorno no real da homossexualidade foracluída, mas a impossibilidade de simbolizar a falha em ser pai, desempenharam um papel importante na irrupção da psicose. Schreber falha em dar sequência à sua linhagem, em transmitir seu patronímico, o qual era objeto de respeito e reconhecimento social. O desmoronamento da masculinidade até então sustentada na honra e no orgulho do nome parece revelar a existência, em Schreber, de um possível laço entre ser homem e ser pai. O primeiro ainda podia ser sustentado pelas identificações especulares com os semblantes viris da cultura, inclusive aqueles relativos à anatomia e aos caracteres secundários próprios ao corpo masculino. Já em relação ao segundo, não há possibilidade alguma de ele adquirir sentido sem passar pela ordem do significante. O imaginário é, nesse caso, insuficiente para dizer o que é ser pai no sentido de procriar. Conforme Lacan (1955-1956/1992), a fim de que o coito adquira sentido para o homem, isto é, de que a criança que daí resulta seja tanto dele quanto da mãe, não se pode contar com o imaginário. É necessário, antes, que "a elaboração da noção de ser pai [grifo nosso] tenha sido (...) levada ao estado de significante primeiro, e que esse significante tenha sua consistência e seu estatuto" (p. 330).

 

 

Na impossibilidade de tal significante adquirir a consistência de que fala Lacan, devido à foraclusão do Nome-do-Pai, é ao delírio que, conforme retoma Quinet (2003), será entregue a tarefa de permitir ao sujeito um sentido possível à paternidade e à procriação. A saída que Schreber encontrou se deu pela via da aceitação de sua transformação em mulher, sacrificando sua masculinidade em favor do estatuto de "Mulher de Deus", em um gozo erotomaníaco a partir do qual ele aguardava a condição, sempre postergada, de tornar-se pai de uma raça superior de homens. Essa construção delirante, que serve para moderar o gozo invasivo, localizando-o no Outro, revela a tentativa de alojar a homossexualidade foracluída a partir de elementos provenientes da verdade do sujeito que puderam ser inscritos psiquicamente.

Esse é um ponto relevante para nossa discussão sobre a masculinidade, pois ele nos indica que na construção delirante do psicótico, a reconstituição do imaginário, quando é possível, é levada a efeito com os elementos da verdade histórica que transcendem a verdade material. Interessados apenas por esta última, os discursos sobre o sexo negligenciam o que só a primeira pode revelar do delírio de Schreber, no que concerne à masculinidade, a saber, que ele põe a céu aberto o desejo de se fazer mulher para o pai; o qual, no homem neurótico, é mantido recalcado, sendo contra ele que a masculinidade será construída. Nesse sentido, ser pai, perpetuar a linhagem paterna, o que, para Schreber, parecia ser um modo de honrar sua imagem viril, não deixa de constituir uma forma possível de lidar com o horror à feminização.

Por fim, Schreber nos mostra que um sujeito pode inscrever-se na cultura como homem, ainda que sua masculinidade não seja resultante de uma identificação simbólica com o significante paterno. Trata-se de uma espécie de masculinidade sustentada apenas pelos significados fálicos atribuídos ao ser homem, veiculados pelos discursos; pela relação especular com os outros, o pai sendo aí não o "aomenosum" que franqueia ao sujeito a possibilidade de uma escolha sexuada, mas apenas mais um a servir de modelo de virilidade. A importância do patronímico na sustentação da masculinidade é outro ponto que o caso de Schreber nos ensina. É em nome de uma honra viril, que retira sua força do peso por ele conferido a seu patronímico, que Schreber resiste, até quando lhe foi possível, ao feminino. Ante a irrupção do desejo de feminização, sempre ameaçador à masculinidade, Schreber finda por sacrificar sua honra viril, em favor de uma paternidade que só pode ser exercida a partir da identificação com a Mulher, "toda não-fálica", se assim nos podemos expressar. Por se tratar da Mulher como impossível, a paternidade antes mencionada está sempre em via de ser realizada, projetada para um futuro. Trata-se de um trabalho inacabado, como o é a própria masculinidade, no sentido de que as identificações com os semblantes viris, mesmo para o neurótico, não são absolutas.

 

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Recebido em: 15/01/2020
Aprovado em: 19/04/2020

 

 

1 Os tradutores franceses observam que para a expressão liegen gelassen Lacan sugere como tradução laisser gésir (deixar jazer), em vez de laisser en plan (abandonar).

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