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Trivium - Estudos Interdisciplinares

versão On-line ISSN 2176-4891

Trivium vol.13 no.1 Rio de Janeiro jan./jun. 2021

http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.2021v1p.1 

EDITORIAL

 

Interlocuções: Cinema, Literatura, Psicanálise

 

 

Betty Bernardo Fuks

Editora responsável

 

 

Em 1895, Sigmund Freud publica, junto com Joseph Breuer, Estudos sobre histeria, texto clínico inspirador da teoria psicanalítica, e os irmãos Lumière, em Paris, lançam a primeira projeção pública do cinematógrafo, A chegada do trem na estação. Além desse marco histórico, psicanálise e cinema guardam entre si algumas afinidades eletivas e encontram na literatura um recurso à transmissão da linguagem específica de cada um. Na presente edição, uma série de artigos explora essa temática instigante.

Em "Filme marcado para morrer: cinema, experiência e transmissão", os autores abordam um dos maiores documentários brasileiros, Cabra marcado para morrer de Eduardo Coutinho, buscando, com as referências de Freud e Lacan, extrair elementos que concernem à transmissão e experiência, perspectivando uma interlocução com Walter Benjamin. "Perfume: A História de um Assassino: uma análise fundamentada na teoria de Winnicott" perscruta as imagens do filme que encena a estranha trajetória de vida de Jean-Baptiste Grenouille, um homem que nasce com o dom/maldição de ter um olfato aguçado. Em "As horas: o beijo e a morte" o leitor tem acesso a uma reflexão minuciosa sobre os efeitos subjetivantes da sétima arte, por meio da análise de cenas do filme As horas, dirigido por Stephen Daldry e com roteiro baseado no livro homônimo de Michael Cunningham. Os autores do artigo "O vento, a voz, a velha: imagens que dialogam com a constituição do sujeito em psicanálise" procuram pensam o encontro do sujeito com o significante e a forma com que ele adentra o campo do desejo a partir da voz, como objeto a, através de obras de arte e, assim, articulam em uma sequência cinco imagens: a voz, o vento, o fantasma, a figura. "Retratos de família: as diversas faces da maternidade na literatura e no cinema", investiga diferentes posições da mãe em relação à criança e os impasses próprios a cada uma nesta relação por meio de dois livros e um filme que dão a ver três faces da maternidade. "Violência-corpo: incorporações em pintura", apresenta uma pesquisa em arte e sobre arte, com o propósito de construção da figura humana em pintura na produção artística de Medellin Silva. Em "(As)piraçoes femininas em Stefan Zweig e a incidência do gozo no amor" os autores, a partir da novela Carta de uma desconhecida, refletem sobre o gozo feminino e sua articulação com o amor.

"O "fantasme" em Jacques Lacan, o Intraduzível em questão", abre a seção Artigos, oferecendo ao leitor uma reflexão sobre a tradução do conceito de fantasme - fantasma e fantasia - e, em seguida, apresenta a hipótese de que tal conceito na obra e ensino de Lacan, representa, para a língua portuguesa, um termo intraduzível, tal como definido pela filóloga e filósofa Barbara Cassin. Em seguida, o texto "Tempête et élan (Sturm und Drang) dans une expérience d'aliénation familiale internationale (Brésil/Suisse)", procura afirmar a importância da lei de alienação parental, necessariamente expandida para uma lei da alienação familiar, e desconstruir o racionalismo jurídico dominante através da busca de um direito justo, permeável ao pathos dos envolvidos, presente na escuta psicanalítica e nas fontes ocidentais trágicas do direito e da psicanálise.

A resenha de Sigmund Freud, Além do princípio de prazer [Jenseits des Lustprinzips], edição bilíngue comemorativa do centenário dessa obra (1920-2020), destaca a consistência dos textos de psicanalistas brasileiros que compõem o livro lançado pela

Editora Autêntica. Por fim, na seção Artes, o comentário crítico do segundo ato da peça O anjo negro de Nelson Rodrigues, dirigida pelo psicanalista Antonio Quinet, traz-nos de volta aos bastidores da inestimável interlocução psicanálise, arte e literatura.

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