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Psicologia Ensino & Formação

versão impressa ISSN 2177-2061

Psicol. Ensino & Form. vol.5 no.2 Brasília  2014

 

ARTIGOS

 

Quais as razões para a baixa atratividade da docência por alunos do Ensino Médio?

 

For what reasons is teaching an unattractive career to high school students?

 

 

Patrícia Albieri de AlmeidaI; Gisela Lobo B. P. TartuceII; Marina Muniz Rossa NunesIII

IFundação Carlos Chagas. Pós-Doutora em Psicologia da Educação (PUC-SP). patricia.aa@uol.com.br
II
Fundação Carlos Chagas. Doutora em Sociologia (USP). gtartuce@fcc.org.br
III
Fundação Carlos Chagas. Doutorado em Educação (USP). mnunues@fcc.org.br

 

 


RESUMO

A presente pesquisa teve por objetivo investigar a atratividade da carreira docente no Brasil sob a ótica de alunos concluintes do Ensino Médio. O estudo foi realizado em oito cidades e envolveu dezoito escolas. Os dados utilizados para as análises têm origem em dois tipos de fonte: questionário e grupos de discussão. Foram aplicados 1501 questionários para alunos do 3º ano do Ensino Médio e realizados, em cada escola, grupos de discussão com dez alunos cada, totalizando 193. Em geral, a rejeição à carreira docente é recorrente entre os jovens pesquisados. Eles próprios identificam que, numa sociedade em que as oportunidades no mercado de trabalho foram ampliadas, vem diminuindo a atratividade da docência como possibilidade de estabilidade financeira e reconhecimento social. As justificativas dos estudantes para a falta de atratividade da carreira se relacionam à ausência de identificação pessoal, às condições sociais e financeiras, à própria experiência escolar e à influência familiar.

Palavras-chave: atratividade; carreira docente; docência.


ABSTRACT

This survey aimed to investigate the attractiveness of the teaching profession in Brazil from the perspective of graduating high school students. The study was conducted in eight cities, and involved 18 schools. The data analyzed came from two sources: questionnaires and discussion groups. 1501 questionnaires were given to high school senior students, and discussion groups of 10 participants were organized at each school. In general, a career in teaching was repeatedly rejected by the subjects surveyed. They identified that increasing opportunities in the job market resulted in teaching becoming a less attractive career, with fragile financial stability and decreasing social recognition. The students' justifications include the absence of personal identification, social and financial considerations, personal experiences with education, and family influence.

Keywords: Attractiveness, Teaching career, Teaching.


 

 

INTRODUÇÃO

O presente trabalho traz os resultados de uma pesquisa que teve por objetivo investigar a atratividade da carreira docente no Brasil sob a ótica de alunos concluintes do Ensino Médio.

Tanto no âmbito das pesquisas acadêmicas como no do senso comum e da mídia, tem sido divulgado que a docência deixou de ser uma opção profissional interessante para o jovem ingressar no mercado de trabalho e que a diminuição da procura dos adolescentes pela profissão docente tem sido objeto de preocupação.

Em outubro de 2008 a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em pronunciamento conjunto por ocasião do Dia Internacional do Professor, revelaram preocupação com a pouca valorização do magistério e com a falta de interesse dos jovens por essa profissão. Tem sido divulgada não só a queda na demanda pelas licenciaturas e no número de formandos, mas também a mudança de perfil do público que busca a docência (GATTI et al., 2008; GATTI E BARRETTO, 2009).

Em 2005, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou um relatório intitulado "Attracting, Developing and Retaining Effective Teachers", segundo o qual vários países enfrentam dificuldades em atrair professores qualificados para substituir os que vão se aposentar na próxima década. Mesmo os países que não registram problemas de escassez de docentes manifestam preocupação em atrair professores. Diante desse cenário, em que a docência vem deixando de ser uma opção profissional

procurada pelos jovens, é necessário considerar o problema e discutir que fatores interferem nesse posicionamento, ou seja, por que tem decrescido a demanda pelas carreiras docentes, especialmente na Educação Básica. A questão é importante porque o desenvolvimento social e econômico depende da qualidade da escolarização básica, mais ainda na emergência da chamada sociedade do conhecimento.

Diante desse cenário pergunta-se: que fatores interferem nesse posicionamento dos estudantes? Quais são os fatores relacionados à atratividade das carreiras profissionais, e especificamente da carreira docente?

 

FATORES LIGADOS À ATRATIVIDADE DA CARREIRA DOCENTE

Abordar os fatores ligados à atratividade da carreira docente exige considerar que o processo de escolha profissional e a inserção no mundo do trabalho são cada vez mais complexos, o que significa que as possibilidades de escolha profissional não estão relacionadas somente às características pessoais, mas principalmente ao contexto histórico e ao ambiente sociocultural em que o jovem vive.

Os aspectos salariais, embora sejam fortes indicativos, não abarcam todas as questões que envolvem a atratividade de uma profissão. Outros elementos, de ordem tanto individual como contextual, também compõem a motivação, interesses e expectativas, interferindo nas escolhas dos estudantes concluintes do Ensino Médio.

Assim, o projeto profissional resulta de fatores extrínsecos e intrínsecos; ou seja, o jovem, tendo em vista suas circunstâncias de vida, leva em conta aspectos como renda, perspectiva de empregabilidade, taxa de retorno, status associado à carreira ou vocação, bem como identificação, autoconceito, interesses, habilidades, maturidade, valores, traços de personalidade e expectativas com relação ao futuro.

No que diz respeito aos fatores que influenciam a motivação ou não para a carreira docente, é preciso considerar a complexidade dos aspectos que envolvem a docência enquanto opção de carreira.

A literatura disponível na área da formação de professores tem analisado questões que, direta ou indiretamente, mantêm relação com a discussão sobre a atratividade da carreira docente, como, por exemplo, a massificação do ensino, a feminização no magistério, as transformações sociais, as condições de trabalho, o baixo salário, a formação docente inicial, as políticas de formação, a precarização e a flexibilização do trabalho docente.

Neste texto não se tem a pretensão de desenvolver cada um desses pontos, mas algumas considerações são necessárias. Um aspecto que merece destaque diz respeito ao aumento das exigências em relação à atividade docente na atualidade. O trabalho do professor está cada vez mais complexo e tem exigido uma responsabilidade cada vez maior. As demandas contemporâneas estabelecem uma dinâmica no cotidiano das instituições de ensino que se reflete diretamente no trabalho dos professores e em sua profissão. Conforme discutem autores como Fanfani (2007) e Tedesco (2006), as mudanças em diversos setores da sociedade têm contribuído significativamente para a crise da identidade dos trabalhadores da educação e a consequente atratividade da profissão.

Lang (2006), num estudo sobre a construção social das identidades profissionais dos docentes na França, analisa o "mal-estar" docente que lá tem afetado mais de 60% dos professores. Segundo o autor, esse "mal-estar" tem duas características: a atividade docente tem se tornado cada vez mais complexa, porém o prestígio social da profissão docente tende a diminuir; e, por outro lado, a defasagem entre a definição ideal da docência e a realidade em que se desenvolve o ofício tende a aumentar, gerando uma sensação de impotência, frustração e desânimo. Para esse autor, o mal-estar docente tende a fazer parte do sentido comum para a maioria dos docentes. Segundo ele, outras pesquisas desenvolvidas na Europa permitem generalizar estas constatações.

Além disso, como a experiência que os jovens vivem na escola está muito distante da sua realidade cotidiana (a escola muitas vezes é "chata", desestimulante), pode-se levantar aqui a hipótese de que essa vivência não produz o desejo de construir uma carreira dentro desse espaço, além de que hoje há uma série de profissões ou atividades mais motivadoras no momento da escolha profissional. Em outras palavras, a docência pode não ser atraente não apenas em função de fatores próprios a essa carreira, mas pela possibilidade aberta por inúmeras outras ocupações.

Jesus (2004) chama a atenção para o fato de a profissão docente ter se tornado pouco seletiva. Muitas pessoas exercem a docência sem formação específica e preparo profissional. Essa situação contribui para a constituição do estereótipo de que "qualquer um" pode ser professor. Acrescenta, ainda, que muitos ingressam na docência de forma transitória. Dito de outra forma, a escolha não se deu como forma de realizar um projeto previamente estabelecido, e sim, como uma alternativa profissional.

O chamado "Levantamento do Todos Pela Educação" mostra, com dados do Censo Escolar de 2013 que, no Brasil, metade dos professores do Ensino Médio (51,7%) não tem licenciatura na disciplina em que ministra aulas e 22,1% não têm formação docente. Essa situação é mais grave na Região Nordeste, em que apenas 34% dos professores são licenciados nas áreas específicas das disciplinas em que atuam. No Centro-Oeste, o índice é de 39,5%, e na região Norte, de 45%. As regiões Sul (58,1%) e Sudeste (58%) são as com as menores carências de professor. Entre as disciplinas com menor número de professores licenciados destacam-se Artes (14,9%), Física (19,2%) e Química (33,7%). Língua Portuguesa é a disciplina com o maior número de professores em sala de aula que se formaram na área (73,2%).

Em estudo sobre o abandono da carreira docente, Lapo e Bueno (2003, p.76) mostram que, no grupo de professores estudados, nenhum queria realmente ser professor: "Ser professor era a escolha possível no começo da vida profissional. Tornar-se professor aparece como a alternativa possível e exequível do sonhar-se médico(a), advogado(a), veterinário(a) etc.". Aparentemente, o que se observa é que a atividade docente apresenta alguma possibilidade de oferta de trabalho a partir de um curso de formação considerado acessível, o que faz com que alguns alunos ingressem em cursos superiores de Pedagogia ou de licenciatura sem um real interesse em atuar como professor.

Assim, é importante que as discussões sobre a atratividade da carreira docente considerem as fortes contradições evidenciadas pelas pesquisas relativas ao "estar professor", que oscilam entre satisfações e frustrações, entre opção e necessidade. Os sentimentos de desconforto profissional construídos pelos professores em exercício são consubstanciados em representações que extravasam de comentários e atitudes e impactam os jovens no convívio cotidiano com seus professores e extrapolam para outros conjuntos sociais.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa foi realizada com estudantes concluintes do Ensino Médio e, para garantir maior abrangência ao estudo, optou-se por realizá-la em escolas públicas e particulares de cidades de grande ou médio porte das diferentes regiões do Brasil.

A escolha dos locais foi orientada pelos seguintes critérios: abrangência regional no país, tamanho do município, densidade de alunos no Ensino Médio e oportunidades de emprego. Em função deles, o estudo foi realizado em oito cidades e envolveu dezoito escolas.1

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram questionários e grupos de discussão2. Em cada escola, realizaram-se primeiramente os grupos de discussão, com dez alunos cada, e depois se procedeu à aplicação dos questionários a todos os estudantes do 3º ano do Ensino Médio. Isso foi feito para garantir que os alunos não fossem influenciados pelas perguntas do questionário nem fossem para o grupo de discussão com ideias pré-concebidas. Em ambos os casos, foi dito a eles que o eu se fazia era uma investigação sobre escolha profissional, mas não se especificou que o foco era a carreira docente.

As equipes de pesquisadores tinham a orientação de definir, juntamente com a coordenação da escola, a melhor forma de compor o grupo, que deveria ter aproximadamente dez alunos e ser diverso em termos de gênero e de rendimento escolar. Os alunos convidados deveriam concordar em participar da pesquisa.

O roteiro utilizado nos grupos de discussão foi previamente testado e adaptado para apreender as percepções dos jovens sobre o trabalho docente, o que é "ser professor" e as possibilidades – ou não – de ingressar nessa carreira. O roteiro constituiu-se em um guia com questões a serem seguidas, mas cabia aos pesquisadores a sensibilidade de conduzir a discussão, formulando, quando necessário, novas perguntas para explorar aspectos interessantes e/ou para descontrair o grupo.

O registro das falas foi feito por meio de gravação em áudio, para garantir a completa cobertura dos dados, os quais foram posteriormente transcritos e analisados. Em um primeiro momento a análise centrou-se em cada escola, buscando ater-se aos significados contidos nos relatos dos jovens que participaram dos grupos de discussão. Em seguida, procedeu-se a uma análise horizontal, de modo a identificar semelhanças e diferenças entre os grupos, bem como relações entre eles e o problema de pesquisa.

O questionário foi elaborado com o intuito de obter informações que permitissem uma caracterização dos estudantes - incluindo dados sobre idade, sexo, escolaridade dos pais, período em que estudam, se trabalham - bem como indicadores do nível socioeconômico. Também se buscou obter dados a respeito da escolha profissional e da carreira docente.

Os dados dos questionários foram processados por meio de leitura ótica no caso das questões fechadas, e no caso das abertas, trabalhou-se com a criação de categorias a posteriori. A partir daí, elaborou-se uma base de dados e procedeu-se ao tratamento estatístico das informações.

 

CARACTERIZAÇÃO DAS ESCOLAS

O grupo de escolas investigadas foi formado por instituições indicadas por pesquisadores locais, e, em alguns casos, com apoio das secretarias estaduais de Educação. As escolas públicas tem como as principais serem escolas de bairros de classe média baixa e atenderem também a população de comunidades vizinhas, geralmente mais carentes. As escolas particulares que compõem o estudo são instituições que estão estabelecidas há muitos anos nas suas cidades e atendem geralmente a uma clientela de classe média e média alta. Deve-se ressaltar que o conjunto de escolas selecionadas não pode ser considerado representativo da heterogeneidade de suas regiões nem mesmo do país, mas permite levantar hipóteses sobre a temática investigada.

 

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DOS ALUNOS

Em geral, a receptividade à pesquisa foi muito boa em todas as escolas, e os jovens responderam ao questionário com seriedade, perfazendo um total de 1.501 respondentes. Dos grupos de discussão, participaram 193 alunos, aí incluídos representantes do sexo masculino e do feminino e alunos com diferentes rendimentos escolares. A participação foi voluntária e os debates foram bem vistos pelos estudantes, que se mostraram muito empenhados, interessados e bem falantes.

Respondentes do sexo feminino e do masculino representam, respectivamente, 56% e 44%, proporção que é praticamente a mesma nas escolas públicas e privadas. Quanto à idade, a grande maioria (73%) dos jovens concentra-se na faixa entre 17 e 18 anos, com uma diferença de 10% entre os dois tipos de escola: 68% na pública e 78% na particular. Chama a atenção que quase 15% dos alunos respondentes das escolas públicas têm mais de 19 anos, ao passo que esse percentual não chega a 2% nas privadas. No que se refere à cor (autodeclarada), a maioria é branca (53%) ou parda/mulata (35%), e também há aí diferenças significativas quando se compara a escola pública com a particular: enquanto 64% dos jovens da escola privada declararam-se brancos, na pública esse percentual é de 44%; por outro lado, aí, praticamente a mesma quantidade de pessoas afirma ser parda/mulata, quando na escola particular somente 27% o fazem. Ressalte-se que nesse último tipo de escola, menos de 4% declaram-se pretos.

A escolaridade do pai e da mãe é o aspecto que mais diferencia os dois tipos de escola na amostra investigada: a imensa maioria dos pais (72%) e mães (81%) dos estudantes da escola pública tem até o Ensino Médio completo; já os pais dos alunos pesquisados nas escolas particulares têm, em sua maioria, o superior completo: 68% dos pais e 74% das mães.

Os dados sobre o período em que estudam e sobre trabalhar e estudar também revelam que há, de fato, um perfil diferenciado da amostra de alunos nas escolas públicas e particulares pesquisadas: a totalidade dos alunos das instituições privadas estuda durante o dia, e 93% não trabalham, ao passo que, na pública, há 34% de jovens que frequentam a escola no período noturno e 39% que trabalham.

 

PRINCIPAIS ACHADOS

Faz-se necessário reiterar que a análise dos dados obtidos nos grupos de discussão e nos questionários teve por objetivo apreender a percepção dos jovens sobre "ser professor" e os aspectos que destacam para justificar a atração ou não da carreira docente.

Como ainda se sabe pouco sobre a atratividade da carreira docente e a amostra da presente pesquisa não é representativa da heterogeneidade do Brasil - portanto não permite generalizações -, é fundamental realçar que neste estudo não há constatações, mas sim, uma série de pistas e hipóteses exploratórias que podem se constituir em temas ou focos de análise potenciais para novas investigações e comunicar aos tomadores de decisão o que dizem os jovens.

A análise que aqui se apresenta contempla as informações procedentes dos grupos de discussão e dos questionários.

 

DOCÊNCIA COMO POSSIBILIDADE DE ESCOLHA (PENSOU EM SER PROFESSOR?)

Os estudantes que participaram da pesquisa têm um projeto de futuro que inclui o ingresso, em algum momento, na universidade, e a maioria demonstra vontade de trabalhar e estudar. Eles expuseram os fatores que interferem no seu projeto profissional e falaram da relação entre desejo e realidade levando em conta não só os seus interesses e características pessoais, mas também suas circunstâncias de vida. Enquanto os alunos das escolas particulares estão certos de que cursarão o Ensino Superior, para os alunos da escola pública essa é uma possibilidade que vem acompanhada de limitações. Assim, quando o jovem analisa suas prioridades, a escolha profissional é limitada por uma realidade que se impõe e que envolve desde fatores econômicos até expectativas familiares - nem sempre compatíveis com seus desejos. Esses aspectos de ordem individual e contextual são essenciais para compreender a atratividade da carreira docente na percepção do jovem, ou seja, a opção ou não pelo magistério deve ser analisada considerando-se fatores intrínsecos e extrínsecos.

O estudo revela claramente que os estudantes escutados, na sua maioria, não têm intenção de ser professor. Ao se formular a questão "Algum de vocês pensa ou pensou recentemente em ser professor?", o "não" foi a resposta automática de muitos, com expressões de rejeição seguidas de desconforto (silêncio, risadas). Passados alguns segundos, vieram as respostas sistematizadas, mais "politicamente corretas", ainda assim, sempre acompanhadas de uma negativa. A rejeição à profissão é ainda mais gritante quando se referem ao pedagogo.

Por meio do questionário, investigou-se qual o curso escolhido por cada estudante como primeira opção para prestar vestibular no ano corrente, e os resultados também explicitam o distanciamento da carreira docente: apenas 2% (31 de 1501 dos alunos) indicaram como primeira opção de ingresso na faculdade o curso de Pedagogia ou alguma outra licenciatura (quando os alunos escreveram explicitamente "licenciatura" em alguma área). O gráfico 1 apresenta esse dado, bem como as indicações de cursos ligados às disciplinas do Ensino Básico, sem indicar licenciatura, como História, Física, Química, Matemática, Letras, Música, Filosofia, Sociologia, Biologia, Geografia, Artes Plásticas e Educação Física (a mais frequente), as quais, somadas, envolvem 9% dos jovens. É possível inferir – e os relatos do grupo de discussão ratificam essa ideia – que parte desses alunos eventualmente siga a carreira docente, mas como decorrência da motivação e afinidade por uma área de conhecimento específica, mas o dado mais contundente é que 83% optaram, claramente, por carreiras desvinculadas da atividade docente.

 

 

Cabe perguntar: quem são esses jovens que querem ser professor? Entre os 31 alunos que manifestaram essa intenção como sua primeira opção na escolha de profissão predominam mulheres, com 77%, e pardos ou mulatos, com 48%. Observa-se entre eles a tendência de que quanto maior o nível de instrução dos pais, menor a intenção de ser professor. Outro dado que os diferencia diz respeito ao tipo de escola em que estudam: 27 (ou 87%) desses alunos são provenientes da escola pública. Esses dados vão ao encontro dos resultados do ENEM, do Censo Escolar e da literatura de modo geral, que revelam tendência de mudança de perfil dos estudantes que optam pelo magistério, como destacado anteriormente.

Foi significativamente maior o número de alunos que declararam já ter pensado em ser professor, mas desistiram dessa ideia: 32% (tabela 1) - tendência também observada nos grupos de discussão. Vale observar que, dentre estes, 59% são do sexo feminino e 41% do sexo masculino. É interessante notar que a diferença entre o número de homens e mulheres que pensaram em seguir a carreira docente é menor do que entre aqueles que, efetivamente, optaram por ela, ou seja, mais homens desistem. Sabe-se que a carreira do magistério está muito associada às mulheres e ao cuidado, visto como não produtor de riqueza. A literatura aponta que características deste tipo são tidas como qualidades naturais, inatas, aprendidas no espaço do privado e da reprodução e, linearmente, associadas ao sexo feminino, o que dificulta ainda mais a escolha masculina pela carreira.

Considerando-se apenas o grupo que pensou em ser professor, continuam mais numerosos os alunos provenientes das escolas públicas (54%) do que os das particulares (36%), embora se observe uma diminuição na diferença entre eles se comparados ao grupo dos que querem ser professor.

 

 

O que leva esses jovens a desistirem de ser professor? Será que ao longo da vida escolar perdem a motivação para espelhar-se em seus professores? Será que assusta a ideia de ser um modelo, uma referência para seus alunos? É essa uma representação que ocasiona certo desconforto em assumir a profissão?

Para se tentar entender o porquê da rejeição ou da desistência à carreira docente, os estudantes foram questionados sobre as razões para escolher ou não ser professor. As respostas obtidas confirmam que a opção pelo magistério envolve fatores de natureza extrínseca e intrínseca que mantêm relações entre si. Como já mencionado, a escolha profissional envolve as representações que os jovens têm de si mesmos, das suas características pessoais e das profissões. O ambiente sociocultural em que eles vivem interfere em função de determinadas condições históricas, sociais e materiais.

Apesar de toda a nobreza e de todo o valor atribuído pelos estudantes à carreira docente (ressalte-se: pelos estudantes, pois eles dizem que a sociedade não reconhece a importância do professor para si própria), esta não representa uma possibilidade profissional para a maioria desses alunos.

Nos grupos de discussão alguns estudantes mencionaram já ter pensado em ser professor algum dia, mas a maioria desistiu rápido. "Já pensei em ser professor de Inglês, mas foi só por um momento", afirma Carlos (escola pública Fortaleza). Poucos transformaram esse pensamento em intenção de fato e quando o fazem, pensam na docência de alguma disciplina específica, para dar aula no Ensino Médio ou Superior:

Eu digo que já pensei em ser professor, já, porque já me falaram que eu tinha facilidade em passar algumas coisas na área de exatas; só que acabei desistindo, porque é uma profissão, como já falaram aqui, mal remunerada. Não vale a pena, além de um pouco desgastante. (Paulo, escola pública, Feira de Santana)

Pouquíssimos alunos manifestaram a intenção de escolher a docência como carreira profissional. Em Manaus, por exemplo, apenas uma aluna da escola pública que trabalha numa ONG pensa em cursar Pedagogia, e acrescenta: "(...) depois vou me especializar em Psicopedagogia e futuramente eu pretendo trabalhar no Estado ou pelo Município". A única aluna dos grupos de Fortaleza que pensa em cursar Pedagogia não tem a intenção de lecionar:

Eu vou fazer, mas não vou ensinar de 1ª a 5ª. Eu pretendo me formar em Pedagogia Hospitalar, que é, no caso da brinquedoteca, brincar com as crianças, porque eu gosto de crianças [...] Mas não transmitir conhecimento, assim de matéria, educativo [...] Não vou ficar nessa área de lousa... (Rebeca, escola pública, Fortaleza)

Rebeca ainda pensa em cursar Pedagogia, apesar do comentário desestimulante vindo de um docente: "Quando eu falei que queria Pedagogia, um professor meu [...] ele falou assim: 'Olhe vou te dar um conselho: quando uma profissão entra muito em greve, é porque não vale a pena você investir''". A fala de outra estudante também deixa antever que a falta de valorização dos próprios docentes em relação à sua profissão pode ser um desestímulo a segui-la.

O que a teria levado a desistir de ser professora? Será que se espelhar em seus professores formados em Pedagogia, como ela mesma afirma, não lhe trouxe motivação suficiente para continuar com sua vontade inicial? Ou ainda, quando fala da imagem que um professor precisa passar aos seus alunos, como um modelo/referencial para seus estudantes, será que pesa para os jovens o medo de não conseguir desempenhar função tão nobre, que chega a ser inatingível? Tal representação ocasiona desconforto em assumir a profissão? De fato, uns falam que não se sentem capazes de dar conta dessa tarefa, atribuindo a si próprios a impossibilidade de assumir a carreira docente: são tímidos e/ou não têm paciência:

Então, eu já pensei em ser professor, só que eu já desisti rápido dessa ideia. Eu não tenho condições de ministrar, eu não consigo, tem que saber ministrar o conteúdo, não tenho essa vocação, essa habilidade. (Ivan, escola particular, Campo Grande)

Eu nunca pensei em ser professora, até porque sou tímida, não conseguiria falar na frente. (Lara, escola particular, Campo Grande)

Os alunos dos grupos de discussão da escola pública de São Paulo desenvolveram uma hipótese para explicar o porquê de poucos jovens optarem pela docência como profissão. Explicam que, quando pequenos, todos desejam ser professor, desde a Educação Infantil até o término dos anos iniciais, pois a relação "ainda" é afetuosa, paciente, cuidadosa, maternal. A partir das séries finais do ensino fundamental esse desejo vai se apagando, a relação com o professor se altera, o professor "vai virando um monstro", nas palavras de Armando, e mais tarde o salário acaba por enterrar o antigo sonho infantil. Apesar disso, como explica Matheus, "(...) todos gostam de ensinar alguma coisa'", mas isso não é assumir "profissão de professor".

Os estudantes também associam a possibilidade de ser professor a qualidades pessoais e inatas - como "amor", "dom" e "vocação" - anteriormente descritas. Essa ideia de que a docência é uma atividade quase filantrópica (ter que ter o dom e amar a profissão), pelo que se percebe, faz com que a maioria admita a docência não como uma escolha profissional, mas como atividade complementar, secundária, que pode acontecer concomitante a outra atividade profissional (como um hobby, ou trabalho voluntário, ou um "bico") ou em uma idade mais avançada, quando já tiver estabilidade financeira.

Eu penso da seguinte forma: quando eu alcançar a minha realização profissional, quando eu tiver certeza que eu sou bom naquilo que eu faço. E que... Lá para os 40, os 45, sabe? Eu pretendo ensinar. Eu acho legal você passar o seu conhecimento para outras pessoas, e eu acho uma profissão muito nobre. (Daniel, escola particular, Fortaleza)

Aqui entra a dimensão de realização do sonho. Larissa levanta a questão de que pessoas em fim de carreira, já com uma situação estável, podem assumir a profissão. Assim, diz ela: o sujeito primeiro "[...] vai fazer o que ganha dinheiro, aí termina, aposenta, ou então, tá trabalhando, mas tem uma época que a pessoa já tá ficando assim, né? Aí, pega e trabalha pouco, aí pega aquele tempo livre e vai ser professor". Para essa aluna, a escolha da docência está relacionada à realização de um sonho, e não a uma escolha profissional, ao ganho suficiente para sustentar a vida diária. Como ela mesma ressalta na sequência da discussão, "[...] tem muita gente que tem o sonho de ser professor, mas que pensa na remuneração e não é professor, é outra coisa [...] Mas depois, quando pode, vai ser professor porque vai concluir o sonho" (Larissa, escola particular, Fortaleza).

Assim, parte da rejeição à profissão docente está, por um lado, diretamente relacionada à visão romantizada e idealizada anteriormente descrita: a escolha de ser professor é motivada pelo amor e pelo dom, e não deve ou não pode estar associada ao aspecto financeiro, do qual os jovens não querem ou não podem abdicar. Os alunos dos grupos de discussão das escolas particulares, com maior frequência, atribuem às outras profissões uma situação financeira e de qualidade de vida profissional melhor que a do professor. Nelas, como dito, os jovens são influenciados por seus pais, que, em geral, não veem com bons olhos a escolha da docência como projeto de vida, embora a grande maioria pareça respeitar a decisão de seus filhos na opinião destes.

Eu já pensei em ser professora sim, até já dei aula particular por pouco tempo, tenho vontade até hoje bastante vontade. Só que eu não sigo mesmo por causa da questão financeira, eu acho que é difícil se manter com salário de professor mesmo. Eu acho que deve ser uma profissão bastante gratificante. (Tânia, escola particular, Curitiba)

Por outro lado, os estudantes atribuem às condições financeiras e sociais da profissão docente a recusa a ser professor. Entre as principais ideias discutidas, é patente a concepção de que esse profissional é, em geral, mal remunerado e desprestigiado, daí advém boa parte dos problemas enfrentados na contemporaneidade pela profissão, como a insatisfação dos que já estão inseridos no campo da docência e a rejeição daqueles que ainda estão na iminência de se inserir no mercado de trabalho. Os relatos revelam que a docência não é uma profissão fácil: tal é nível de exigência de formação e envolvimento pessoal que não se admite a desvalorização a que está sujeita no momento. Resumidamente, as justificativas para essa rejeição podem estar associadas às seguintes ideias: 1- o professor é mal remunerado; 2- as condições de trabalho do professor são ruins; 3- o enfrentamento com os alunos está cada vez mais difícil; 4- a profissão de professor não tem reconhecimento social.

Além da imagem de desvalorização social e baixa remuneração, alguns alunos afirmam explicitamente que se sentem desmotivados pela docência em virtude do que veem seus próprios professores passarem no dia a dia (colocam-se no lugar deles e não desejam passar pelo mesmo processo), da sua interação com eles ou da sua própria experiência dentro da escola ou da sala de aula:

Eu, como líder de sala, tendo que falar com a sala por cinco minutos já é muito difícil, imagina o professor que dá seis aulas por período, cada aula de cinquenta minutos! Fala com alunos que não querem prestar atenção no que você está falando. (Jorge, escola particular, Campo Grande)

Eu acho que nós não queremos mais ser professores, porque, como nós ficamos muito tempo em um colégio, dentro da sala de aula, às vezes o dia inteiro, nós não aguentamos mais a sala de aula. (Marta, escola particular, Joinville)

Essas frases são ilustrativas de que no espaço da sala de aula, nas situações de interação, alunos e professores experimentam sentimentos diversos, agradáveis e desagradáveis, de prazer e frustração, de confronto e de conflito. Cabe destacar que a tarefa de mediação entre o conteúdo (objeto de ensino) e o aprendente tem exigido do professor um maior investimento tanto objetivo quanto subjetivo, criando tensões diversas que são percebidas pelos alunos.

Nos grupos de discussão, também há exemplos de imagens negativas e positivas da profissão que os próprios professores passam aos seus alunos. No primeiro caso há falas de alunos que revelam que os professores usam a sala de aula para reclamar de suas condições de trabalho, o que acaba por criar uma aversão à possibilidade de ser professor.

[...] porque se você se forma professor, vai ser professor sua vida inteira com um salário que não oferece melhores condições e as reclamações de que não recebe pra isso, de que o salário é baixo vão diretamente para a cabeça dos jovens, o que cria assim um mito que se for professor vai sofrer, vai ter uma vida ruim, perspectiva de vida nada, vai ser só aquilo. (João, escola pública, Manaus)

Os estudantes do grupo de discussão da escola particular de São Paulo, por outro lado, ao refletirem sobre a docência, empolgaram-se e falaram com entusiasmo de seus professores do Ensino Médio. O tom das falas transmitia a sensação de que era muito bom falar de "seus" professores, generalizando para o que seria um bom professor. A paixão e o brilho no olhar do professor que ama seu ofício apareceram em algumas falas:

[...] o professor do colegial, pelo menos nesse colegial, ele tenta fazer você criar os seus próprios conceitos, tenta meio que desconstruir essas coisas já formadas na sua cabeça. Acho que isso é uma coisa muito legal de ser professor. (Camila, escola particular, São Paulo)

Os estudantes destacam, inclusive, que seria interessante ser professor da escola que eles conhecem tão bem; no entanto, a maioria que diz pensar em "ser professor" tem receio de comprometer-se exclusivamente com essa atividade profissional; muitos falam da dificuldade de atuar e do medo de não serem devidamente reconhecidos social e financeiramente, pelo exigente trabalho docente.

Há também aqueles que citam exemplos de alguém da família para justificar a recusa pela profissão. A recusa pode se dar pelo que ele vê da experiência familiar:

Bom, como eu tenho pais que são professores, eu sei que é uma profissão muito cansativa. Às vezes eles mexem com alunos que não respeitam, tem pais que culpam o professor se o filho não tira nota boa... E também tem que ser mais remunerada essa profissão. Então, eu não penso em ser professor. (Silvana, escola particular, Campo Grande).

De modo geral, os comentários provenientes dos grupos de discussão são elucidativos de que a percepção da profissão docente como um trabalho pouco atraente, social e financeiramente desvalorizado, é reforçada pelos grupos sociais mais próximos, como a família e os amigos.

Eu acho que algumas pessoas da família iam apoiar, mas meu pai acho que ia falar assim para mim: "para, pensa um pouco, e a vontade passa". (Roberto, escola particular, Curitiba)

Eu acho que meus amigos iam pensar que eu tava fumando. Eu acho que minha família também ia pensar que eu tava fumando. Eu acho que eles não iam aceitar, porque que depois de tantos anos investidos em mim, eu resolver ser professor, é uma profissão que não dá tanto futuro, quanto eles esperam em mim. (André, escola particular, Campo Grande)

Daniel, aluno de escola particular em Fortaleza, levanta outra discussão pertinente: a de que as escolhas profissionais são fruto de uma construção social da imagem que se tem da profissão. A rejeição à profissão docente estaria relacionada, em sua opinião, à falta de um referencial positivo do professor. Não só a sociedade atribui menos status e valor a essa carreira, mas também, e por isso mesmo, os próprios professores vão construindo, a respeito de si mesmos, uma imagem que não incentiva seus alunos a que um dia venham a seguir essa profissão. Socialmente, a profissão de professor concorre com outras carreiras, estas sim, valorizadas:

Ninguém sonha desde pequeno em ser professor de Ensino Médio (...) e "vou ser que nem ele". Ninguém nasce pensando: "Ah eu quero ser analista de sistema, sei lá, ah eu quero trabalhar com telemarketing". Ninguém nasce assim. O seu sonho você constrói. Você não nasce com o seu sonho, você constrói. Você constrói com... com seus exemplos, com seu referencial. O seu referencial hoje é o que? É ser médico, é ser advogado, é ser um cientista, é ser um engenheiro (Daniel, escola particular, Fortaleza).

Mais frequentemente, nessa "construção social", a recusa a tortnar-se professor está associada mais especificamente à desvalorização do docente das séries iniciais do Ensino Fundamental, considerada, pela maioria, muito mais grave que a desvalorização dos professores em geral.

Os alunos também expõem as diferenças de status e valorização social nos diferentes níveis de ensino, destacando, inclusive, a inconsistência dessa lógica. A imagem da profissão docente também é associada à instituição onde o professor trabalha. Observa-se uma clivagem quanto às expectativas de se trabalhar em escola pública ou particular:

E é assim: você vai fazer faculdade e dependendo do seu empenho, você ou vai dar aulas em uma escola particular, ou em uma escola pública. Eu, por exemplo, eu quero dar aulas em uma escola particular. Mas não é fácil, porque tem outras pessoas disputando a mesma vaga. (Cleber, escola pública, Joinville)

Esse relato passa a ideia de que quem vai para as escolas públicas já entra desmotivado, porque o seu desejo primeiro era trabalhar em uma instituição particular.

Outro enfoque que apareceu nas falas diz respeito às vivências que alguns estudantes estão tendo com cursos pré-vestibulares e com professores de perfil diferente dos encontrados em cursos regulares. A partir daí, mudam a sua visão sobre ser professor, dando a entender que, caso escolhessem essa profissão, dar aula em cursinho seria uma melhor opção, pois os alunos são mais interessados.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos resultados, as falas dos estudantes em relação a "ser professor" foram permeadas de contradições e contrastes. Os sentidos que atribuem à imagem da profissão retratam sempre duas perspectivas de análise. Ao mesmo tempo em que conferem à docência um lugar de relevância na formação do aluno, afirmando que o professor é reconhecido pela sua função social, retratam que se trata de uma profissão desvalorizada (social e financeiramente) e que o professor é desrespeitado pelos alunos, pela sociedade e pelo governo.

O mesmo contraste é identificado quando fazem referência ao trabalho docente. Para os alunos, é um trabalho nobre, gratificante, permeado de sentimentos de prazer e satisfação; entretanto, são recorrentes nas falas os comentários sobre as dificuldades dessa atividade. Veem o exercício do magistério como um trabalho pesado, que requer paciência, que muitas vezes é frustrante e vai além da escola. Observam também que consome boa dose de energia afetiva, em decorrência da natureza interpessoal das relações professor/alunos.

Esse sentido que os jovens atribuem ao "ser professor" está incorporado no contexto social, político e cultural mais amplo em que vivem e, também, no próprio processo de sua socialização escolar.

Em ambos os tipos de escola, a grande maioria dos alunos ouvidos nesta pesquisa está ciente de que o fato de a profissão docente ter-se mostrado menos motivadora do que outras opções profissionais no futuro acarretará falta de professores. Diante da escassez de candidatos, alguns alunos acreditam que a profissão docente está fadada ao desaparecimento:

Hoje em dia, quase ninguém quer ser professor. Nossos pais não querem que nós sejamos professores, mas eles querem que existam bons professores. Mas como é que vai existir bons professores se meu pai não quer, o dela não quer, não quer...? Como é que vai ter professor.

De um modo ou de outro, em vários dos grupos de discussão apareceu a importância de se construir um referencial positivo do professor, sob pena de faltar mão de obra docente no país, o que, em geral, segundo os estudantes, deve ser responsabilidade do governo. O próprio jovem identifica que, numa sociedade em que as oportunidades no mercado de trabalho foram ampliadas, a atratividade da docência como possibilidade de estabilidade financeira e reconhecimento social vem diminuindo.

 

REFERÊNCIAS

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1 Região Sul: Joinville (duas escolas) e Curitiba (duas públicas e uma particular); Região Sudeste: São Paulo (duas públicas e uma particular) e Taubaté (duas escolas); Região Centro-Oeste: Campo Grande (duas escolas); Região Nordeste: Fortaleza (duas escolas), Feira de Santana (duas escolas); Região Norte: Manaus (duas escolas).
2 O grupo de discussão é uma técnica de pesquisa que permite a obtenção de dados de natureza qualitativa a partir de sessões em grupo, nas quais de 8 a 12 pessoas, que compartilham alguns traços e experiência comuns discutem aspectos de um tema sugerido. No caso da presente pesquisa, é a vivência numa mesma escola que permite "[...] conhecer não apenas as experiências e opiniões dos entrevistados, mas as vivências coletivas de um determinado grupo" (WELLER, 2006, p. 245).

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