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Psicologia Ensino & Formação

versão impressa ISSN 2177-2061versão On-line ISSN 2179-5800

Psicol. Ensino & Form. vol.6 no.1 Brasília  2015

 

ARTIGO

 

Olhar o Ensino Médio pelas lentes da teoria social cognitiva

 

A glance at high school through the lenses of social cognitive theory

 

 

Marli Amélia Lucas PereiraI; Elvira Aparecida Simões AraujoII

IFaculdades Atibaia. Doutora em psicologia da educação (PUC-SP). marlilucas1@gmail.com
II
Universidade de Taubaté. Doutora em Educação (UNICAMP). elvirasaraujo@gmail.com

 

 


RESUMO

O foco de análise deste dossiê incide sobre os variados aspectos das interações entre os alunos do Ensino Médio e as tarefas inerentes à escola, e busca na Teoria Social Cognitiva o suporte conceitual para a interpretação dos fenômenos aqui investigados. Ao explorar, por meio de investigações criteriosas, o conceito de crença de autoeficácia em variados domínios, cada trabalho demonstra as importantes contribuições da teoria para a compreensão da educação, ao mesmo tempo em que sinaliza possibilidades de intervenções. Os trabalhos abordam diferentes facetas das crenças de autoeficácia, oferecendo um amplo panorama de aplicabilidade da teoria e indicando espaços para consolidar intervenções efetivas e preventivas na escola.

Palavras-chave: Ensino Médio; Teoria social cognitiva; Autoeficácia.


ABSTRACT

The article focuses on the various aspects of interactions between high school students and the tasks inherent to school, and aims to find in Social Cognitive Theory the conceptual support for the interpretation of the phenomena investigated. By exploring the concept of self-efficacy beliefs in various domains through careful investigations, each work demonstrates the important contributions of the theory to the understanding of education, while also indicating possible interventions. The papers address different facets of self-efficacy beliefs, offering a broad overview of the applicability of the theory and indicating areas to consolidate effective and preventive interventions at school.

Keywords: High School, Social Cognitive Theory, Self-efficacy.


 

 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O Ensino Médio vem passando por diversas transformações na sua forma de organização, assim como em sua estrutura, nos seus objetivos e currículos. O Ensino Médio, ao deixar de ser um nível intermediário de educação para integrar a última etapa da Educação Básica obrigatória, parece ser um dos grandes desafios atuais na formulação de políticas públicas educacionais (MOEHLECKE, 2012).

Nas últimas décadas o acesso à Educação Básica no Brasil avançou rapidamente, sobretudo entre a população de menor renda. Ao mesmo tempo, de acordo com Torres, Camelo e França (2013), a proporção de jovens de 15 a 17 anos cursando o Ensino Médio manteve-se estagnada nos últimos anos. Para os autores,

[...] tal taxa era de 51,8% em 2011 e esse indicador variou muito pouco depois de 2006. Além disso, cerca dos 10 milhões de adolescentes desse grupo etário, 1,7 milhão estava fora da escola e parte deles abandonou-a durante o Ensino Médio (TORRES; CAMELO; FRANÇA, 2013, p. 205).

O cenário indicado pelos autores aponta a necessidade de repensar o atual modelo de escola e também o papel que esta instituição de ensino pode representar para a vida do jovem do século XXI. No documento "Ensino Médio de Tempo Integral" tem-se uma discussão a respeito de garantir a qualidade da educação de jovens e adolescentes com a ampliação da jornada escolar. Esse programa tem como aspectos:

1) jornada integral de alunos, com currículo integralizado, matriz flexível e diversificada; 2) escola alinhada com a realidade do jovem, preparando os alunos para realizar seu Projeto de Vida e ser protagonista de sua formação; 3) infraestrutura com salas temáticas, sala de leitura, laboratórios de ciências e de informática e; 4) professores e demais educadores em Regime de Dedicação Plena e Integral à unidade escolar (DIRETRIZES DO PROGRAMA DE ENSINO INTEGRAL, 2012, p. 13)

Na operacionalização desse modelo de escola é preciso levar em consideração o currículo integralizado e diversificado, e isso implica em ter uma matriz curricular flexível, com aulas e atividades em que os estudantes tenham participação. O grande diferencial desse modelo é que ele oferece condições para a elaboração de um projeto de vida e tem o jovem como protagonista - autônomo, solidário e capaz de compreender as exigências da sociedade contemporânea.

Outro diferencial é considerar o Ensino Médio como espaço privilegiado para o desenvolvimento e aprendizagem de jovens. No artigo 3º da Resolução n.º 2, de 30 de janeiro de 2012, está expresso que "O Ensino Médio é um direito social de cada pessoa, e dever do Estado na sua oferta pública e gratuita a todos". O currículo do Ensino Médio deve garantir ações que promovam o conhecimento das formas contemporâneas da linguagem, da ciência e das artes. O artigo 14, item XI, tem a seguinte explicitação a respeito da organização curricular:

XI - a organização curricular do Ensino Médio deve oferecer tempos e espaços próprios para estudos e atividades que permitam itinerários formativos opcionais diversificados, a fim de melhor responder à heterogeneidade e pluralidade de condições, múltiplos interesses e aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias, sociais e culturais, bem como sua fase de desenvolvimento (RESOLUÇÃO n.2 30/01/2012).

Pode-se considerar que os compromissos indicados no item XI do artigo 14 da Resolução indicam que, além de promover o acesso do jovem ao sistema educativo, é preciso promover também a aprendizagem bem-sucedida dos alunos.

Levando-se em conta os desafios do Ensino Médio e, principalmente, o Ensino Médio de Tempo Integral, compreende-se que a Teoria Social Cognitiva pode fornecer subsídios para discussões a respeito do papel do professor e do jovem nessa etapa da vida. Ao tratar-se das contribuições da Teoria Social Cognitiva para o Ensino Médio levam-se em consideração conceitos importantes tratados por essa teoria.

Nos estudos apresentados a seguir tem-se a Teoria Social Cognitiva como desencadeadora das intervenções realizadas com estudantes do Ensino Médio, tendo-se como foco de análise alguns dos principais conceitos delineados por Bandura, a autoeficácia, as estratégias de estudo e aprendizagem e o comportamento social, com foco na agressão.

 

A AUTOEFICÁCIA NO ENSINO MÉDIO: O QUE DIZEM OS ESTUDOS

O artigo "Autoeficácia acadêmica de estudantes de Ensino Médio: especificidades das séries e turnos", de Daniela Couto Guerreiro-Casanova, Luiza Cristina Mauad Ferreira e Roberta Gurgel Azzi apresenta uma análise das percepções de autoeficácia acadêmica de alunos do Ensino Médio em que a autoeficácia tem sido considerada como uma das importantes variáveis associadas à motivação para aprender. As autoras desse estudo apontam que nessa variável há muitas lacunas a explorar, mais especificamente no Ensino Médio; e ao se debruçarem nesta tarefa, que teve por objetivo analisar as crenças de autoeficácia acadêmica de estudantes de Ensino Médio, descrevendo-as de acordo com as especificidades das séries e dos turnos dos estudantes pesquisados, nos oferecem um panorama da área e nos provocam a repensar o que conhecemos sobre os alunos do Ensino Médio. O estudo contou com a participação de 534 estudantes do Ensino Médio advindos de nove escolas públicas estaduais de São Paulo.

As autoras encontraram que os estudantes do Ensino Médio participantes desta pesquisa demonstraram que a crença de autoeficácia para aprender é mais forte do que a crença de autoeficácia para atuar na vida escolar. Este resultado encontrado pelas autoras parece demonstrar que os estudantes pesquisados percebem-se mais capazes de realizar tarefas relacionadas diretamente com a ação necessária para aprender (por exemplo, preparar-se para as provas) do que ações relacionadas com a vivência escolar, como, por exemplo, contribuir com ideias para a melhoria de sua própria escola.

As tarefas incluídas nessas percepções estão relacionadas com a noção de protagonismo juvenil mencionada nas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio, e os resultados parecem evidenciar que é necessário repensar o modo como se possibilita a atuação dos estudantes no contexto escolar do Ensino Médio. Esses estudantes parecem sentir-se menos seguros para atuar na vida escolar, indo na direção contrária do ideal esboçado nas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio, que traz a noção de protagonismo juvenil como uma maneira de proporcionar uma formação que vá além dos conteúdos ministrados em sala de aula e prepare os estudantes para atuar na vida social.

A semelhança nas crenças de autoeficácia acadêmica entre os estudantes dos três turnos pesquisados (matutino, vespertino e noturno) pode ser vista como um resultado alentador, pois para aferir semelhanças das percepções de autoeficácia acadêmica entre os alunos dos variados turnos faz-se necessário buscar novas respostas que possam explicar as diferenças de envolvimento com o processo de aprender e expandir o conhecimento sobre as características pertinentes a cada turno de ensino, considerando tanto os aspectos ambientais quanto os pessoais relativos aos estudantes, como as crenças aqui investigadas.

Cumpre relembrar que a crença de autoeficácia deve ser entendida como uma crença de domínio específico, visto que os estudantes participantes do estudo foram orientados a fornecerem suas percepções considerando as atividades realizadas nas aulas de Língua Portuguesa, como informado no método. Tal aspecto direciona as discussões aqui apresentadas diretamente às percepções de autoeficácia acadêmica específica para as tarefas realizadas nessa disciplina.

As autoras destacam que as crenças de autoeficácia se apresentam como um constructo motivacional importante para se compreender a motivação para aprender, um construto que necessita ser mais bem compreendido na realidade dos estudantes brasileiros.

O artigo "Aspectos Pessoais e Escolares Associados à Autoeficácia (ou crença) Acadêmica no Ensino Médio", de Daniela Couto Guerreiro-Casanova, Marilda A. Dantas e Roberta Gurgel Azzi, trata das relações entre as variáveis pessoais e escolares e os níveis de autoeficácia acadêmica percebidos pelos estudantes do Ensino Médio.

As percepções de autoeficácia analisadas pelas autoras foram obtidas ao longo do período entre 2010 e 2013. As escolas da amostra foram selecionadas pelo critério de facilidade de acesso e conveniência aos pesquisadores, que após contatos telefônicos, realizaram reuniões com os diretores das escolas com a finalidade de programar as datas e os horários em que as coletas seriam realizadas. Estas foram realizadas coletivamente em sala de aula, com duração média de 40 minutos. Aos estudantes foram assegurados os direitos de participação voluntária, esclarecendo-se que não estes não teriam benefícios nem prejuízos. Para os menores de 18 anos de idade foi solicitada autorização assinada por um responsável.

Participaram desse estudo 886 estudantes de onze escolas de Ensino Médio da rede pública do Estado de São Paulo, localizadas em sete cidades da Região Metropolitana de Campinas e do ABC Paulista.

As autoras compreendem que o conhecimento produzido por essa pesquisa pode contribuir para destacar o importante papel do contexto escolar como promotor das crenças de autoeficácia acadêmica de estudantes de Ensino Médio, uma vez que, aparentemente, até as variáveis aqui classificadas como pessoais (gênero e idade) podem ser influenciadas por questões contextuais.

Para as autoras, conceber o ensino com base na percepção de que as habilidades estudantis podem ser construídas e que para isso é necessário utilizar estratégias instrucionais que possibilitem a aprendizagem autorregulada, coloca-se como um objetivo a ser buscado por gestores escolares e docentes e por idealizadores de políticas educacionais, com a finalidade de proporcionar o desenvolvimento multidimensional dos estudantes e as condições para o sucesso escolar no Ensino Médio e evitar o abandono escolar.

O artigo "Relações entre autoeficácia acadêmica e estratégias de estudo e aprendizagem: mudanças ao longo do primeiro semestre do Ensino Médio", de Marilda Aparecida Dantas, Daniela Couto Guerreiro-Casanova, Roberta Gurgel Azzi e Marcos de Toledo Benassi, relata os resultados observados antes e após uma intervenção destinada a discutir as estratégias de estudo e aprendizagem e autoeficácia acadêmica com estudantes da 1ª série do Ensino Médio. Tal intervenção foi orientada pela hipótese de que haveria mudança nas percepções de autoeficácia acadêmica e de estratégias de estudo e de aprendizagem após a intervenção, de que as crenças de autoeficácia acadêmica estão correlacionadas positivamente com o uso de estratégias de estudo e aprendizagem e de que o coeficiente de intensidade das correlações entre crenças de autoeficácia acadêmica e uso de estratégias de estudo e aprendizagem tende a aumentar ao longo do tempo.

Para realizar a investigação as autoras contaram com a participação de 160 estudantes da primeira série do Ensino Médio de duas escolas públicas localizadas no Estado de São Paulo. Utilizaram como instrumentos de coleta de dados um questionário de caracterização socioeconômica, uma Escala de Autoeficácia Acadêmica e parte do Inventário de Estratégias de Estudos e Aprendizagem. Para a realização da intervenção foi utilizado como material didático o livro "Conversas do Elpídio Sobre o Estudar", que é fruto dos esforços do grupo de pesquisa em desenvolver materiais de apoio aos professores e alunos e cujo conteúdo foi desenvolvido a partir dos fundamentos da Teoria Social Cognitiva.

É preciso destacar que o livro "Conversas do Elpídio Sobre o Estudar" tem por característica ser autoinstrutivo e pode ser usado de modo individual, como um recurso de aprendizagem autorregulada, ou coletivo, servindo de base comum para que ações instrucionais planejadas sejam realizadas com estudantes da primeira série do Ensino Médio.

O artigo "Autoeficácia ocupacional e interesses percebidos por estudantes do Ensino Médio público", de Marilda Aparecida Dantas e Roberta Gurgel Azzi, teve por objetivo identificar convergências entre as crenças de autoeficácia ocupacional de formação e os interesses nas respostas dos participantes. Foram participantes desta investigação 198 estudantes de cinco turmas de segunda séries do Ensino Médio de duas escolas públicas do Estado de São Paulo, sendo uma localizada no Interior do Estado, e a outra, na Região Metropolitana de São Paulo. O presente estudo exploratório foi parte de um estudo maior, em que se investigou o desenvolvimento de carreira de estudantes do Ensino Médio público.

No entender das autoras, esse estudo permitiu uma aproximação entre as percepções dos estudantes do Ensino Médio público sobre aspectos relacionados às ocupações. Para as autoras, os dados apresentados nesse estudo poderão contribuir para o planejamento de intervenções, em especial para compreender os motivos pelos quais os estudantes não se percebem eficazes para concluir a formação necessária em determinadas ocupações e seu consequente impacto nos seus interesses/preferências. Espera-se que o recorte da Teoria Social Cognitiva, de Carreira, quanto aos processos cognitivos importantes no que tange à aproximação e evitação comportamentais no contexto em questão, possam contribuir para melhor compreender o desenvolvimento de interesses, a persistência no curso de formação, o desempenho e engajamento em atividades acadêmicas, a amplitude de opções de carreira e a percepção de apoios e/ou barreiras.

 

ESTUDO DAS RELAÇÕES AGRESSIVAS NO ENSINO MÉDIO

O artigo denominado "Relações agressivas entre alunos do Ensino Médio consideradas a partir do modelo de agressão social", de Roberta Gurgel Azzi, Elias Lima, Emanuelly Araújo, e Warley Guilger Corrêa, teve por finalidade conhecer as investigações científicas sobre a agressão entre pares de alunos no contexto escolar, especificamente no Ensino Médio.

Para tanto foi realizado um levantamento sobre artigos publicados em revistas científicas brasileiras nas bases de dados eletrônicas nacionais com o objetivo de identificar e selecionar aqueles que se referiam diretamente ao tema da violência escolar entre pares.

Os achados na literatura acerca da agressão social permitiram compreender os seus aspectos mais relevantes, que são a humilhação e a ameaça, indicadas em conjunto como as formas de agressão mais percebidas pelos alunos, além da discriminação, do preconceito e da intimidação relacionadas com agressão física. Em um dos artigos analisados não são citados esses termos, pois seu objeto foi relacionar o testemunho de brigas e agressões físicas dos alunos, porte de armas de fogo ou outras armas (facas, canivetes, etc.) com o conceito de eficácia coletiva e clima escolar.

Esse exercício exploratório sinalizou aos autores a necessidade de pesquisas subsequentes que abordem esse modelo, para melhor compreensão da violência na escola. Considera que estudos qualitativos exploratórios sobre a agressividade social entre pares no contexto escolar são importantes para aprofundar o conhecimento sobre determinados aspectos deste fenômeno, como, por exemplo, as formas por meio das quais este tipo de agressão pode se apresentar. Os efeitos da agressão social, que constituem parte essencial da definição deste tipo de agressão e se resumem em lesar a vítima em suas relações sociais, status social ou autoconceito social, por muito tempo não foram tidos como consequências de violência e agressão.

 

AS ESTRATÉGIAS DE ESTUDO NO ENSINO MÉDIO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

O artigo "Estratégias de estudo e aprendizagem utilizadas pelos alunos do Ensino Médio", de Ana Cecília de Medeiros Maciel, Liliane Ferreira Neves Inglez de Souza e Marilda Aparecida Dantas, teve como proposta discutir as estratégias de estudo e aprendizagem utilizadas por estudantes do Ensino Médio. As estratégias se referem a uma sequência planejada de atividades realizadas para aprender algo.

As autoras utilizaram em sua pesquisa um instrumento baseado na Teoria do Processamento da Informação, a qual tem como pressuposto que a aprendizagem envolve a aquisição, armazenamento e utilização da informação.

Para as autoras, este estudo possibilita uma reflexão a todos os envolvidos no processo educacional do Ensino Médio. Consideram relevante a discussão acerca da importância de o aluno não só aprender a utilizar estratégias, mas também de utilizá-las de forma deliberada e intencional, adequando-as às especificidades do que precisa ou deseja aprender. Assim, uma questão que emergiu nesse estudo foi como as pessoas aprendem a autorregular-se.

De acordo com os resultados encontrados, pode-se considerar que à educação escolar não cabe apenas transmitir saberes, mas também ajudar o estudante a desenvolver capacidades que lhe permitam aprender de forma autônoma, mesmo após concluir a escolaridade. Pode-se inferir, de acordo com as autoras, que, aparentemente, esta realidade está sendo refletida nos resultados da presente pesquisa, pois os estudantes relataram usar estratégias de estudo e aprendizagem diversificadas. Embora os estudantes relatem utilizar com frequência as estratégias de estudo e aprendizagem, ainda cabe conscientizá-los quanto à diversidade de estratégias e ao modo como elas se relacionam com o cotidiano escolar estudantil. Além disso, ressalta-se que os dados desta pesquisa não são generalizáveis, porém sua descrição pode servir para nortear possíveis intervenções junto a esta população.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao elegerem o Ensino Médio como cenário das análises e intervenções pautadas pelo pensamento de Bandura, os autores dos trabalhos presentes neste dossiê trazem à tona não só a reflexão acerca da teoria, mas também a teoria em ação. Esse esforço é de grande valia para a disseminação da Teoria Social Cognitiva em nosso país, e mais ainda, para atender a alguns dos grandes desafios que vive a educação brasileira, como buscar o fortalecimento do Ensino Médio e superar os obstáculos enfrentados e as perdas sofridas pelos alunos deste nível de ensino.

A literatura reporta a estagnação das matrículas, a não alteração dos indicadores de desempenho escolar nesse nível e as desistências e reprovações, e desenha novos planos educacionais para enfrentamento desta realidade, ainda sem dados que demonstrem a efetivação das propostas. Enquanto isso, as consequências da baixa escolarização de jovens impacta diretamente a qualificação para o trabalho e a inserção futura no mercado, crescendo o número de jovens que nem estudam nem trabalham, principalmente nos grupos populacionais de renda mais baixa (CASTRO; TORRES; FRANÇA, 2013).

Os autores dos estudos organizados neste dossiê conduzem iniciados e iniciantes a uma aproximação teórica com os constructos desenvolvidos por Bandura, os quais já estão em pleno desenvolvimento em muitos países, como se pode verificar nas referências de cada artigo, e ainda oferecem acesso a possibilidades de aplicação de tais constructos para responder a alguns dos desafios enfrentados pela educação brasileira.

Investigar o jovem que estuda no Ensino Médio e a realidade que se impõe às escolas deste nível educacional se faz urgente, e tem sido tema de variados debates tanto de pesquisadores como de planejadores de políticas públicas. Mais do que prescrições de soluções burocráticas, veem-se nos estudos aqui apresentados indicações objetivas de explicações e proposituras.

Estes estudos investigam as avaliações de percepção de autoeficácia em diferentes domínios e em relação com diferentes aspectos, como a análise das estratégias de aprendizagem utilizadas pelos estudantes, o desenvolvimento de materiais de caráter didático para intervenções compatíveis com a realidade brasileira e o aprofundamento na compreensão de uma parte das interações sociais (aquelas relativas às agressões com o fim de afetar a vítima), dando conta de um conjunto de temas relativos aos aspectos cognitivos, afetivos e interpessoais que perpassam a experiência do aluno do Ensino Médio. Também oferecem um modelo de pesquisa empírica que combina um forte suporte teórico com o rigor metodológico, além de uma análise estatística apurada.

Elevar a qualidade da educação brasileira não é um desafio de uma nota só, serão necessários inúmeros agrupamentos de pensadores e agentes, de planos e estratégias sistematizadas, cuja evidência empírica evite o risco de arroubos românticos que produzem desconfiança, descompromisso e insucessos. Os trabalhos aqui apresentados, ao descreverem aspectos das interações dos alunos de Ensino Médio com a escola, com o estudar e com o aprender, e ao indicarem a introdução de estudos desta natureza na formação do professor, oferecem fortes sinalizações para o desenvolvimento de programas de apoio e incremento de estratégias de atenção que promovam a necessária superação dos obstáculos impostos ao Ensino Médio brasileiro.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação (CNE). Câmara de Educação Básica. Resolução nº 2, de 30 de janeiro 2012. Diretrizes Curriculares Nacionais Para o Ensino Médio. Brasília, 2012.         [ Links ]

CASTRO, M. H. G.; TORRES, H. G.; FRANÇA, D. S. N.. Os Jovens e o Gargalo do Ensino Médio Brasileiro. Primeira Análise Seade. v. 5, p. 4, 2013.         [ Links ]

MOEHLECKE, S. O Ensino Médio e as novas diretrizes curriculares nacionais: entre recorrências e novas inquietações. Revista Brasileira de Educação. v. 17, n. 49, jan./abr. 2012.         [ Links ]

SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Diretrizes do Programa de Ensino Integral. São Paulo, 2012.         [ Links ]

TORRES, H. G.; CAMELO, R.; FRANÇA, D. S. N. Abandono escolar no Ensino Médio entre jovens de baixa renda. Estudos e Pesquisas Educacionais. v. 4, p. 205-233, 2013.         [ Links ]

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