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Psicologia Ensino & Formação

versão impressa ISSN 2177-2061versão On-line ISSN 2179-5800

Psicol. Ensino & Form. vol.8 no.2 São Paulo jul./dez. 2017

http://dx.doi.org/10.21826/2179-58002017812234 

Artigo

As Contribuições do Núcleo de Práticas Psicológicas para Formação dos Acadêmicos em Psicologia da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Teófilo Otoni

The contributions of the Center for Psychological Practices for training Psychology Students at the College Presidente Antônio Carlos de Teófilo Otoni

Las Contribuciones del Núcleo de Prácticas Psicológicas para la Formación de los Estudiantes en Psicología en la Facultad Presidente Antonio Carlos de Teófilo Otoni

 

 

Isabel Corrêa PachecoI, Stefania Rodrigues de Oliveira VianaII

I Docente e Coordenadora do Curso de Psicologia da Faculdade Presidente Antônio Carlos Teófilo Otoni, Minas Gerais, Brasil.

II Psicóloga Clínica. Graduada em Psicologia pela Faculdade Presidente Antônio Carlos Teófilo Otoni, Minas Gerais, Brasil.

E-mail

 


Resumo

O Núcleo de Práticas Psicológicas da FUPAC-TO é um serviço-escola vinculado ao curso de Psicologia que presta atendimento à comunidade. O presente estudo foi realizado com o intuito de identificar suas contribuições para a formação em Psicologia. Tratou-se de uma pesquisa de cunho descritivo e método quantitativo. Foi aplicado um questionário estruturado em 50 egressos. De acordo com os dados obtidos, constatou-se que prevalecem: egressos do gênero feminino (86%); de faixa etária entre 22 a 40 anos (84%); sendo 68% deles concluintes entre os anos de 2013 e 2014; 74% estão atuando como psicólogos; 46,3% predominantemente na área Social; 51,3% na mesorregião do Vale do Jequitinhonha; 36,1% possuem remuneração de R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 e 64,8% cumprem carga horárias de 30 e 40 horas semanais. A pesquisa possibilitou descrever o perfil do egresso e as contribuições do NPP para a formação em Psicologia.

Palavras-chave: psicologia, estágio, egresso de psicologia, serviço-escola.


Abstract

The Center for Psychological Practices of FUPAC-TO is a school service linked to the major of Psychology that provides care to the community. This study was carried out with the purpose of identifying their contributions to training in Psychology. It was a descriptive research with a quantitative method. A structured questionnaire was applied to 50 graduates. According to the data obtained it was verified that prevailed: female graduates (86%); aged between 22 and 40 years (84%); 68% of them got their degree between the years of 2013 and 2014; 74% are working as psychologists; 46.3% predominantly in the Social area; 51.3% in the region of Vale do Jequitinhonha; 36.1% earn from R$ 1,500.00 to R$ 2,000.00 and 64.8% have a load of 30 and 40 hours a week. The research allowed to describe the profile of the graduates and the contributions of NPP to the training in Psychology.

Keywords: psychology; internship; graduate of psychology; schoolservice.


Resumen

El Núcleo de Prácticas Psicológicas de FUPAC-TO es un servicio escuela vinculado al curso de Psicología que ofrece atención a la comunidad. Este estudio fue realizado con el objetivo de identificar sus contribuciones para la formación en Psicología. Consistió en una investigación descriptiva usando un método cuantitativo. Fue aplicado un cuestionario estructurado en 50 egresados del curso. Según los datos obtenidos, fue posible constatar que prevalecen: egresados del género femenino (86%); de edades entre 22 a 40 años (84%); 68% de ellos terminaron el curso entre los años de 2013 y 2014; 74% están actuando como psicólogos; 46,3% predominantemente en el área Social; 51,3% en la región del Vale do Jequitinhonha; 36,1% reciben entre R$ 1.500,00 y R$ 2.000,00 y 64,8% cumplen un horario entre 30 y 40 horas semanales. La investigación permitió describir el perfil del egresado y las contribuciones del NPP para la formación en Psicología.

Palabras-clave: psicología, pasantía, egresado de psicología, servicio-escuela.


Os cursos de Psicologia no Brasil precisam ofertar um serviço de atendimento psicológico à população, realizado por universitários em processo de graduação e sob a supervisão de professores para auxiliar no desenvolvimento do estágio. Para isso, os projetos dos cursos devem dispor de um serviço de Psicologia que responda às exigências da graduação, a fim de que sejam coerentes com as capacidades que o curso pretende desenvolver no âmbito acadêmico e com o serviço Psicológico ofertado à comunidade (Brasil, 2008). 

O Núcleo de Práticas Psicológicas (NPP), da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Teófilo Otoni (FUPAC-TO), consiste em um serviço de extensão do curso de Psicologia, no qual são ofertados atendimentos psicológicos à população carente. Os atendimentos clínicos são em sua maioria realizados por estagiários do 9º e 10º períodos do curso de Psicologia e supervisionados por professores em suas respectivas abordagens.

Além dos atendimentos clínicos realizados no último ano de graduação, o NPP da FUPAC-TO também dispõe de outras atividades, como o estágio de Triagem que é realizado por acadêmicos do terceiro ano de graduação, e projetos de extensão para realização de Psicodiagnósticos, sendo todas essas atividades prestadas à comunidade gratuitamente. Tanto o estágio Clínico quanto o estágio de Triagem e Psicodiagnóstico são desempenhados no NPP da FUPAC-TO.

Para atender a clientela que dispõe dos serviços do NPP da FUPAC-TO, é necessária uma estrutura física que acate as necessidades dos diversos públicos, fornecendo acessibilidade, conforto e preservando o sigilo. Deve conter uma recepção para atender aos familiares ou acompanhantes dos pacientes, além de ter instrumentos que auxiliem na Avaliação Psicológica dos mesmos, como testes, jogos, brinquedos e escalas de investigação de algum transtorno psicológico, etc. Além disso, o NPP possui um espaço específico para o estagiário estudar e evoluir prontuários.

O estágio é uma oportunidade para exercitar a prática profissional no âmbito acadêmico, sendo um procedimento educacional supervisionado com o intuito de preparar o estudante para uma atuação dentro dos princípios éticos da profissão (Conselho Regional de Psicologia, 2013). No decorrer do estágio, é de extrema importância o papel da supervisão, auxiliando no processo de melhor assimilação da teoria por meio da prática. O supervisor tem como função orientar o supervisando não só no que se refere ao desenvolvimento dos atendimentos, mas também na busca de questões teóricas e conceituais que embasem a sua prática. Além disso, auxilia no preenchimento e elaboração de toda a documentação referente ao estágio, como fichas de frequência do campo e da supervisão, encaminhamentos, evolução de prontuários, preenchimento de anamneses, laudos, entre outros documentos. Todas essas ações devem estar pautadas no exercício da ética profissional.

Sendo a atuação em Psicologia uma prática que auxilia o sujeito em uma melhor qualidade de vida, autonomia e uma ação promovedora de saúde, assim é notória a relevância das práticas de estágio durante a graduação de Psicologia.
O estágio se configura num momento de grande importância para o acadêmico de Psicologia, pois se trata de um período de construção de identidade profissional, apoiando-se nos supervisores e tendo como objetivo capacitar o estagiário para exercer dignamente o que é essencial nos princípios éticos da profissão.

Mediante o exposto, a presente pesquisa buscou responder à seguinte questão problema: Quais as contribuições do Núcleo de Práticas Psicológicas de Teófilo Otoni para a formação dos acadêmicos de Psicologia da Faculdade Presidente Antônio Carlos? Pode-se esperar deste estudo que o NPP da FUPAC-TO possui subsídios para auxiliar na formação dos acadêmicos em Psicologia quanto à articulação da teoria e prática; que o supervisor possui papel relevante no processo de formação do aluno; que a utilização dos instrumentos lúdicos para o desenvolvimento da psicoterapia se faz de extrema valia dentro do NPP, especificamente no atendimento infantil; que o NPP promove o desenvolvimento do acadêmico em relação a uma prática pautada na responsabilidade ética e no exercício da cidadania e que no NPP da FUPAC-TO, desde a sua constituição até o momento, pode-se observar uma evolução significativa tanto na estrutura física quanto nos serviços de estágios ofertados.

Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar as contribuições do Núcleo de Práticas Psicológicas para a formação do acadêmico de Psicologia da FUPAC-TO. Seus objetivos específicos são caracterizar o contexto histórico do estágio e da formação em Psicologia; descrever o NPP da FUPAC-TO; caracterizar o percurso do NPP de 2012 a 2015; descrever o perfil socioprofissional do egresso de Psicologia da FUPAC-TO.

Contexto histórico do estágio e da formação em Psicologia

No decorrer de mais de 50 anos de regulamentação da Psicologia, houve conquistas relevantes enquanto formação e atuação profissional, mas a Psicologia iniciou sua história no Brasil enquanto disciplina autônoma na metade do século XIX. Até então, este campo do conhecimento era considerado válido para a formação de outras profissões, mas, nesse período, não tinha um caráter profissionalizante para dispor de um curso superior independente.

Em 1890, com a Reforma Benjamin Constant, houve a sua inclusão nas grades curriculares das escolas normais das disciplinas de Psicologia (Barbosa & Lisboa, 2009). Já em 1893, a Psicologia torna-se uma disciplina obrigatória na Escola Normal de São Paulo. Mais adiante, em 1932, a Escola Normal do Rio de Janeiro é modificada em um Instituto de Educação, onde eram realizados cursos de especialização e aprimoramento para professores e diretores de ensino, nos quais se lecionavam disciplinas de Psicologia.

A Psicologia, nesse primeiro período, não obteve um perfil profissionalizante. Funcionava como uma disciplina que acrescentava nos cursos de Filosofia, Pedagogia e Ciências Sociais e na grade curricular dos cursos de Licenciatura.

 Em 1946, com a portaria nº 272, correspondente ao Decreto-Lei nº 9.092, formalizou a graduação do psicólogo brasileiro, na qual os profissionais formados verdadeiramente precisariam frequentar os três primeiros anos de Filosofia, Biologia, Fisiologia, Antropologia ou Estatística e fazer, então, os cursos especializados de Psicologia, assim com uma especialização em Psicologia, que iniciou oficialmente a prática como profissão. Mesmo com o decreto-lei, não foi alterado o caráter superficial da formação dos psicólogos. Então surgia a adoção de estratégias que fornecessem formação adequada e o domínio da prática psicológica em prol da população e da opinião da profissão (Barbosa & Lisboa, 2009).

O processo da regulamentação da Psicologia foi caracterizado por um extenso e intenso percurso histórico com discussões, inúmeras idas e vindas de projetos, pré-projetos, substitutivos, emendas e muita negociação até que houvesse a aprovação oficial, sendo relevante ressaltar que a aprovação não foi o ponto final do processo de profissionalização da Psicologia, havendo outras lutas até a configuração atual da profissão (Barbosa & Lisboa, 2009). Assim, a trajetória percorrida pela Psicologia até a regulamentação mobilizou psicólogos e áreas afins para discussões, eventos, com o intuito da implantação oficial da formação independente em Psicologia e possibilitando assim uma maior valorização da profissão como ciência e profissão.

Em 1962, com a famosa Lei n° 4119, finalmente a profissão e o curso de formação são oficialmente regulamentados. No mesmo ano, o Conselho Federal de Educação (CFE) emite o parecer nº 403/62, fixando currículo mínimo e a duração dos cursos de Psicologia (Barbosa & Lisboa, 2009, p.722).

O Parecer nº 403/62 destaca o estágio em Psicologia como uma prática relevante para a formação profissionalizante do graduando, além de ressaltar atividades específicas do psicólogo. Enfatiza, no Artigo 16º, a concepção de serviços de Psicologia que são vinculados a Universidades e Faculdades e direcionados ao público carente. A formação em Psicologia implica nas disciplinas teóricas em articulação com as práticas exercidas nos estágios supervisionados.

  No decorrer dos tempos, os conceitos e as demandas sociais se modificam e o fazer do psicólogo vai criando novos repertórios de atuação; além da área Clínica e de Psicodiagnóstico, há décadas foram surgindo novos cenários de atuação de Psicologia. Assim, faz-se imprescindível que a graduação de Psicologia contenha práticas voltadas para as diversas áreas de atuação do Psicólogo.

A Lei n.º 11.788 indaga o requerimento do estágio supervisionado, enfatizando as práticas Psicológicas no âmbito acadêmico, realizados por graduandos de Psicologia. Assim intitulado no:

Art. 1º. Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos (Brasil, 2008, p. 01).

Sendo assim, o estágio contribui para a formação do graduando de Psicologia, sendo parte essencial e privilegiada da aprendizagem. Desse modo, os NPPs constituem um espaço primordial da interdisciplinaridade, no qual articulam os conhecimentos mais abrangentes da Psicologia e de áreas afins. Os NPPs vinculados às faculdades foram criados com o intuito de fornecer experiência clínica aos graduandos de Psicologia e possibilitar que as camadas mais vulneráveis da sociedade tivessem acesso ao serviço psicológico.

O NPP da FUPAC-TO

O NPP da FUPAC-TO foi inaugurado em março de 2011, mas iniciou suas atividades de estágio clínico em 2012, cumprindo a solicitação da legislação 4.119/1962 (Lei que dispõe sobre a profissão do Psicólogo), a Lei 11.788/2008 (Lei do estágio), nas quais é instituído que, a partir da concepção de um curso de Psicologia em uma Faculdade, deve-se criar um espaço físico vinculado ao âmbito acadêmico que forneça subsídios teóricos, técnicos e práticos para formação do acadêmico de Psicologia e cujos serviços psicológicos sejam direcionados à população carente (Manual de Estágio do Curso de Psicologia da FUPAC-TO, 2015).

Dentre o quadro de agentes do NPP, estão envolvidos no funcionamento do estabelecimento diversos profissionais: uma psicóloga responsável pelo campo de estágio orienta monitores e estagiários para o desempenho das funções existentes no NPP; professores/supervisores que orientam e auxiliam os estagiários quanto ao funcionamento dos atendimentos psicológicos; monitores que tem como função executar, monitorar e auxiliar as exigências estabelecidas para o funcionamento do NPP; acadêmicos de Psicologia que executam as práticas de estágio de Clínica, Triagem e Psicodiagnóstico nos seus respectivos períodos de graduação.

O NPP da FUPAC-TO funciona de segunda a sexta-feira, nos turnos matutino e vespertino. Os estagiários realizam atendimentos individuais que são agendados pelos monitores mediante um encaminhamento prescrito por instituição/profissionais ou por demanda espontânea (Manual de Estágio do Curso de Psicologia – FUPAC-TO, 2015).

O NPP contém uma estrutura física com conforto, acessibilidade e destinada a atender a comunidade acadêmica e a população da região de Teófilo Otoni. Dispõe de uma recepção para atender aos usuários do NPP; duas salas de atendimento psicoterápico para as diversas faixas etárias; um recinto para o preenchimento de prontuários e estudo, e um auditório para eventos acadêmicos.

Para acatar as novas configurações de demandas existentes na atualidade, o NPP da FUPAC-TO dispõe de diversas modalidades de estágio referentes ao Projeto Pedagógico do curso de Psicologia da FUPAC-TO. A partir do segundo ano de graduação são ofertadas pelos cursos de Psicologia atividades curriculares obrigatórias, as quais totalizam 600 horas que são distribuídas de acordo com a exigência de cada modalidade: Estágio Básico I - Observação e Projeto de Intervenção; Estágio Básico II – Coordenação de Grupo; Estágio Básico III - Triagem e Psicodiagnóstico; Estágio Específico I – Psicologia da Saúde; Estágio Específico II – Clínica; Estágio Específico III – Ênfase 1 ou 2, sendo que as práticas de estágio que são desenvolvidas dentro das dependências do NPP da FUPAC-TO são os estágios Clínicos, Triagem e Psicodiagnóstico (Manual de Estágio do Curso de Psicologia - FUPAC-TO, 2015).

As modalidades de estágio que são realizadas dentro e fora das acomodações do NPP da FUPAC-TO contribuem para uma melhor assimilação do conteúdo teórico adquirido na graduação e proporciona atividades de Psicologia ao público frequente nos diversos campos de estágio como escolas/creches; Instituição de Longa Permanência (ILPs), APAE, Empresas, dentre outras instituições conveniadas. Busca promover uma relação interdisciplinar que influencia no enriquecimento do graduando de Psicologia.

Uma questão presente no NPP da FUPAC-TO é a fila de espera de pacientes para o atendimento psicológico. Muitas vezes, a demora do surgimento da vaga pode acarretar a desistência dos mesmos. Uma das alternativas desenvolvidas para a diminuição desse agravador foi o estágio de Triagem. É uma modalidade de estágio supervisionada desenvolvida por acadêmicos do terceiro ano de graduação e tem como objetivo realizar um acolhimento da demanda inicial e uma avaliação por meio do discurso do paciente, levantando as possíveis queixas, psicológicas ou não. Havendo a necessidade de uma Avaliação Psicológica, o paciente é encaminhado para outra fila de espera para ser atendido pelo estagiário de Clínica.

Já o estágio Clínico é realizado por acadêmicos do quinto ano de graduação, sendo um atendimento psicoterápico que contém subsídios teóricos e técnicos para um Psicodiagnóstico, possíveis intervenções e encaminhamentos. É um período no qual a supervisão está mais direcionada para uma abordagem teórica, que fundamentará o processo psicoterápico. O curso de Psicologia oferece a orientação de supervisores em suas respectivas abordagens a fim de que o estagiário desenvolva suas habilidades clínicas e que adquira conhecimentos teóricos de acordo com o referencial que melhor se identifique na área da Psicologia Clínica.

A supervisão de estágio e como esse momento se configura influenciam o desencadeamento do mesmo, levando-se em conta à interação do grupo de supervisionados e a relação destes com a figura do supervisor.

A qualidade da interação com esse psicólogo/professor vai facilitar os processos de assimilação de atributos profissionais cognitivos, afetivos, técnicos e éticos – aqueles necessários para a conquista da diferenciação de papéis de estudante e de estagiário/futuro profissional. O supervisor professor próximo e disponível no apoio para a transição do mundo da universidade (Oliveira & Nunes, 2008, pp. 293-294).

A comunicação entre supervisor e supervisionados é fundamental para que haja a introjeção dos conceitos exercidos na prática. O supervisor tem função de coordenador do grupo de supervisionados, buscando auxiliá-los no que se refere à atuação de um profissional da Psicologia, mas também mediando conflitos e angústias que emergem, consequentes do envolvimento com o estágio.

A transição de acadêmico para estagiário implicará no exercício de uma prática profissional, exigindo uma postura diferenciada e, muitas vezes, sendo conflituoso e angustiante para o estagiário. Colocar-se no papel de psicólogo clínico, a partir de um setting estabelecido, respeitando os princípios éticos profissionais significa desenvolver uma atitude clínica. Sendo assim, a supervisão, um ambiente adequado estruturalmente e que forneça subsídios para a formação profissional do acadêmico de Psicologia é de grande importância para a composição do curso universitário (ABEP, 2011).

O Percurso do NPP da FUPAC-TO de 2012 a 2015

O NPP da FUPAC-TO foi inaugurado em março de 2011, mas iniciou suas atividades de estágio clínico em 2012. Assim a turma que iniciou as atividades de estágio no NPP da FUPAC-TO foram os egressos de 2012. Nesse período, a NPP funcionava em um espaço físico que era dividido com núcleos de outros cursos da FUPAC-TO e possuía uma supervisora de campo que auxiliava na condução das práticas de estágio.

O curso de Psicologia da FUPAC-TO, além de fornecer as práticas de estágio obrigatórias e não obrigatórias, promove a atividade de monitoria no NPP aos acadêmicos de Psicologia que estão cursando o segundo ano de graduação. Promove uma vivência quanto aos campos de atuação disponível no NPP que possui ligação direta com a Psicologia e com a realidade da profissão.

No ano de 2013, o NPP estava passando por uma transição de ordem física, mudando do Bairro Marajoara para as dependências da FUPAC-TO, no Bairro Olga Corrêa. Durante esse percurso, o NPP já tinha sofrido alterações quanto à estrutura física e quanto ao seu funcionamento.

Existiam algumas dificuldades devido à estrutura física, mas com reajustes e adaptações foi possível executar as atividades de estágio. Havia duas salas de atendimento infanto-juvenil e para pessoas maiores de 18 anos. O espaço para estudo e evolução de prontuários era executado no Laboratório de Psicologia Experimental da FUPAC-TO em horários distintos. Nesse período, o NPP estava sob a responsabilidade da coordenação do curso de Psicologia da FUPAC-TO que, além de auxiliar no funcionamento do NPP, possui outras atribuições no curso.

O NPP da FUPAC-TO (2016) já atendia aproximadamente 600 pessoas semestralmente e 1200 anualmente de Teófilo Otoni e região, com serviço de Psicologia ofertado à população que não tinha condição de arcar com as despesas de um atendimento psicoterápico, possibilitando assim um apoio à rede de saúde e de assistência social (CRAS, CAPS, CRAS, NASF, etc) que estavam sobrecarregadas com as demandas emergentes. Nesse período, houve a inserção da prática de estágio de Triagem pelos acadêmicos que cursavam o terceiro ano de graduação, turma concluinte em 2015. De acordo com o contexto histórico dos NPPs no Brasil:

O número crescente de clínicas-escolas, associadas à ausência de políticas públicas de saúde mental que efetivamente atendessem às necessidades, fez que elas fossem se transformando em um dos poucos meios de acesso da população ao atendimento psicológico. Despreparados para essa demanda, uma vez que pouco conheciam sobre as características da população que as procurava, e utilizando-se de modelos de atendimentos importados de consultórios particulares, esses serviços passaram a acumular mais problemas do que soluções: longas filas de espera, índices alarmantes de desistência, encaminhamentos dificilmente bem-sucedidos (Martins-Gioia, 2012, p. 151).

Sendo assim, a inserção do processo de Triagem no NPP da FUPAC-TO possibilitou uma vivência na área da Psicologia e promoveu a minimização dos conflitos gerados pela grande demanda existente.

No ano de 2014, o NPP continuou nas dependências da FUPAC-TO, iniciando, assim, uma nova turma que iria atuar nas práticas clínicas, fase marcada por insegurança e angústia, características do princípio de uma prática de estágio. Entretanto, com o auxílio dos recursos humanos do NPP da FUPAC-TO (supervisores, monitores e professores), pode-se minimizar esses conflitos e proporcionar o melhor andamento dos estágios. Em setembro de 2014, houve a contratação de uma psicóloga egressa da FUPAC-TO para trabalhar exclusivamente com o NPP, realizando carga horária diária, contribuindo para o desenvolvimento e melhoria das práticas de estágio.

No primeiro semestre de 2015, o NPP continuou nas dependências da FUPAC-TO, havendo possibilidade de mudança no segundo semestre de 2015. No entanto, houve grandes avanços quanto à organização do funcionamento do NPP.

Assim, no segundo semestre de 2015, houve a mudança do espaço físico do NPP, deslocando-se do antigo endereço para funcionar em um prédio novo ao lado da FUPAC-TO. Esse novo ambiente funciona em conjunto com o Núcleo de Práticas Jurídicas da FUPAC-TO (NPJ da FUPAC-TO), possibilitado um trabalho multidisciplinar com o saber do curso de Direito. Essa transição foi de extrema relevância para a melhoria do desenvolvimento dos estágios. Além de dispor de uma infraestrutura física que correspondia com as expectativas de todos os que atuavam no NPP da FUPAC-TO, possibilitou avanços quanto ao aumento de projetos de extensão, estudos relacionados aos procedimentos de testes psicológicos e teorias afins.

Método

Participantes

Foram aplicados questionários individuais fechados com 50 profissionais (egressos) de Psicologia que se formaram na FUPAC-TO no período de 2012 a 2015. A caracterização desta amostra é exposta mais adiante, na apresentação dos resultados e discussão da presente pesquisa.

Instrumentos

A presente pesquisa descritiva busca evidenciar por meio do estudo de campo as contribuições do NPP da FUPAC-TO. Trata-se de um levantamento quantitativo, utilizando questionários fechados para a realização da coleta de dados. Dentre os aspectos estabelecidos no questionário aplicado para pesquisa nos egressos de Psicologia da FUPAC-TO, houve um tópico de Identificação no qual foram solicitados os dados como: Nome; Data de nascimento; Idade; Gênero; Estado civil; Endereço; Ano da formação; Registro Profissional (CRP); Área de atuação; Município de atuação; Média salarial; Horas semanais de trabalho, com o intuito de identificar o perfil socioprofissional do egresso de Psicologia da FUPAC-TO.

Procedimento de coleta de dados

A princípio, seguindo as normas para pesquisa com seres humanos, foi enviado para a plataforma Brasil o projeto de pesquisa. Somente após a aprovação do mesmo pelo Comitê de Ética de Psicologia de Juiz de Fora com o parecer nº 1.683.497 e autorização da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Teófilo Otoni é que foram aplicados os questionários.

A Secretaria da FUPAC/TO disponibilizou o cadastro com os contatos (telefônico/e-mail) dos egressos para que fosse feito o convite de participação da pesquisa. O contato foi efetuado com os 140 egressos. Seguindo as normas do requerimento da resolução196/96, que regulamenta a pesquisa com seres humanos, todos os participantes tiveram acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) no qual foram informados sobre a pesquisa e que sua participação seria de forma voluntária.

Mediante o contato, foi estabelecido um prazo para confirmação de participação dos mesmos. Os egressos que deram retorno da aceitação e assinaram o TCLE (dentro do prazo estabelecido) participaram da pesquisa. Para viabilidade da pesquisa, no mínimo 30% mais 01 egressos participaram da mesma.

Dessa forma, foram aplicados questionários individuais fechados com 50 profissionais (egressos) de Psicologia que se formaram na FUPAC-TO no período de 2012 a 2015. O questionário foi aplicado de duas formas: 1- Modo Presencial: em sala privativa do NPP da FUPAC-TO para os participantes que puderam se deslocar; 2- Modo Virtual: envio do questionário por e-mail para os participantes que não puderam se deslocar. Ressalta-se que todos os participantes foram convidados a comparecerem ao NPP; o envio por e-mail ocorreu apenas para os que tiveram dificuldade de deslocamento. A aplicação do questionário ocorreu no período de agosto a setembro 2016, no NPP da FUPAC-TO.

Procedimentos de análise dos dados

O processo de tabulação e análise dos dados ocorreu inicialmente pela separação dos 50 questionários aplicados em egressos que atuam em Psicologia (37) e os que não estão atuando no momento (13). Para tabular os 50 questionário aplicados, utilizou-se a Regra de Três.

A seguir, houve a análise dos dados, buscando correlacionar os dados obtidos na pesquisa com pesquisas de outras regiões, com o intuito de discutir as semelhanças e as discrepâncias de diferentes Universidades e localidades. Buscou-se também, a partir dos dados obtidos, discutir fatos relevantes e atuais da profissão, como o movimento das 30 horas e a média salarial dos profissionais de Psicologia. Essa análise está exposta nos resultados e discussão.

Seguindo as exigências do Comitê de Ética que regulamenta a pesquisa com seres humanos, a tabulação, a análise e a discussão levaram em consideração apenas os seguintes aspectos: Idade, Gênero; Ano da formação; Área de atuação; Município de atuação; Média salarial; Horas semanais de trabalho, resguardando assim a identidade dos Egressos que participaram voluntariamente da pesquisa. Enfatiza-se que esta pesquisa não pretende analisar os dados separadamente por ano, exceto no que se refere ao ano de formação.

Resultados e Discussão

O perfil socioprofissional do egresso de Psicologia da FUPAC-TO - Período de conclusão dos egressos de Psicologia pela FUPAC-TO

Quanto ao ano de formação de cada um dos 50 egressos do curso de Psicologia da FUPAC-TO, percebe-se que três (6%) egressos concluíram em 2012, período pelo qual o NPP estava iniciando suas atividades de estágio; 17 (34%) egressos concluíram a graduação em 2013 e em 2014. Sendo assim, cerca de 34 (68%) egressos que participaram da pesquisa concluíram a graduação nos anos de 2013 e 2014, momentos em que o curso e o NPP da FUPAC-TO já estavam consolidados na região de Teófilo Otoni-MG. Quanto a 2015, foram 13 (26%) egressos concluintes.

Faixa etária dos egressos concluintes em Psicologia pela FUPAC-TO

Por meio da pesquisa realizada, concluiu-se que 42 (84%) egressos de Psicologia da FUPAC-TO tinham entre 20 e 40 anos de idade. Assim, podemos associar esses dados à pesquisa realizada com os profissionais de Psicologia do Brasil desenvolvida pelo Conselho Federal de Psicologia (2012), a qual mostra que quase metade (47%) dos profissionais possui entre 20 e 39 anos, sendo a Psicologia considerada uma profissão de um perfil jovem.

Já segundo Papalia, Olds e Feldman (2013), no desenvolvimento humano na fase adulto jovem, o ingresso à universidade pode ser caracterizado como um período de descoberta intelectual e crescimento pessoal. Nesse período, é frequente o processo de combinação da graduação com trabalho, casamento e filhos, pois percebem que, por meio da conclusão do Ensino Superior, uma maior probabilidade de constituir melhores oportunidades para estabilidade de vida.

A pesquisa apresenta também que cerca de sete (14%) egressos responderam que tinham idade entre 40 a 65 anos, período do desenvolvimento humano que se configura como a fase da vida adulta intermediária. Nessa fase do ciclo vital, os adultos costumam participar de atividades educacionais com o intuito de aprimorar e atualizar seus conhecimentos e aptidões, que podem contribuir com seu trabalho ou para o início de um negócio próprio (Papalia et al., 2013).

Um (2%) dos egressos que participaram da pesquisa estava na faixa etária a partir de 65 anos, fase considerada vida adulta tardia no desenvolvimento humano. Dessa forma, o dado apresentado pela pesquisa condiz com o que salientam Papalia et al. (2013), que, devido às melhores condições biopsicossociais, um aumento na expectativa de vida, fazendo com que as pessoas possam envelhecer com maior qualidade e consequentemente ativas ao ponto de se inserirem na vida acadêmica.

Gênero dos egressos concluintes em Psicologia pela FUPAC-TO

Dentre o total de 50 egressos que participaram da pesquisa, pôde-se concluir que 43 (86%) egressos eram do gênero feminino e sete (14%) dos egressos eram do gênero masculino. Esse dado corresponde ao que indagam Papalia et al. (2013), ressaltando que, quanto ao ingresso ao Ensino Superior, o público feminino possui uma predominância sobre o público masculino, principalmente em áreas como o Magistério, Enfermagem, Literatura e Psicologia.

Já segundo a pesquisa realizada com 1.500 profissionais de Psicologia de todo o país, destaca-se que, mesmo com a tripla jornada feminina de conciliar o trabalho com os cuidados do lar, dos filhos e de si própria, a Psicologia é considerada uma profissão essencialmente feminina, com 89% de representatividade feminina (CFP, 2012). De acordo com os dados do Conselho Regional de Psicologia – MG (2015), em Minas Gerais, cerca de 85,4% dos profissionais de Psicologia são do gênero feminino, sendo 13,3% do gênero masculino e 1,24% dos profissionais preferiram não informar.

Outro dado relevante é do perfil dos Psicólogos Inscritos na Subsede Leste de Minas Gerais (CRP-04, 2014), em que a maioria dos psicólogos inscritos no CRP-04 e atuantes em Governador Valadares e região são do gênero feminino, com 88,2%, e cerca de 11,8% são do gênero masculino. Dessa forma, é possível identificar que a predominância do gênero feminino sob o masculino na Psicologia não é exclusividade dos egressos concluintes da FUPAC-TO, mas também é uma característica que se estende para todo o Brasil.

Classificação da atuação do egresso de Psicologia da FUPAC-TO

A priori, é interessante salientar que, de acordo com o Cadastro Nacional de Psicólogos do Sistema Conselhos de Psicologia, o Brasil contém o maior índice de psicólogos atuantes no mundo (CFP, 2012). Assim, dentre os egressos que concluíram o curso de Psicologia na FUPAC-TO nos períodos de 2012 a 2015, cerca de 37 (74%) egressos estavam atuando como psicólogos, diferentemente dos profissionais de Psicologia do Paraná, cujo percentual de desempregados é predominante (Conselho Regional de Psicologia-PA, 2010).

Outro dado relevante que justifica a comparação citada anteriormente entre os estados de Minas Gerais e Paraná é a informação apresentada pelo Conselho Federal de Psicologia de que, com 31 mil profissionais, o estado de Minas Gerais é o terceiro estado com o maior número de psicólogos, sendo que 257 mil profissionais de Psicologia estão centralizados no sudeste do Brasil. Esses dados correspondem aos dados obtidos pela pesquisa realizada na FUPAC-TO (Conselho Regional de Psicologia - MG, 2015).

Já referente aos egressos da FUPAC-TO não atuantes na Psicologia, o resultado obtido pela pesquisa foi de 13 (26%) egressos.

Área de Atuação dos Egressos de Psicologia da FUPAC-TO

Dentre as áreas de atuação dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO destacou-se a Social com 23 (46%) egressos atuantes na área. Esse resultado difere dos dados obtidos na pesquisa realizada pelo CRP no estado do Paraná, em que a área de maior concentração das atividades dos formandos em Psicologia é em Clínica (Conselho Regional de Psicologia - PA, 2010).

Dessa forma, o dado obtido na pesquisa enquadra-se no que é salientado pelo Conselho Regional de Psicologia – MG (2015), que, devido à entrada da Psicologia nas políticas sociais e de saúde, surgiram novas áreas de atuação para a categoria. Considera-se também o desenvolvimento de novas formas de se pensar a clínica e aplicá-la além das paredes do consultório, proporcionando, assim, um crescimento considerável de 5,6 vezes no número de egressos de Psicologia no período de 1998 a 2015 em Minas Gerais.

Já o Conselho Federal de Psicologia (2012) indaga que a Psicologia passou por transformações quanto às áreas de atuação. Atualmente o psicólogo está envolvido na construção das políticas públicas, sendo mais de 50 mil profissionais atuando no Sistema Único de Saúde (SUS), na Segurança Pública, na Justiça e nas Forças Armadas.

 Outro fato relevante e que se equivale à predominância do Social como a área de atuação dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO é a demanda de profissionais de Psicologia de diferentes municípios, principalmente Teófilo Otoni e região, para participar das reuniões da Comissão de Psicologia e Política de Assistência Social. Isso possibilita a criação de Grupos de Trabalhos (GTs), projeto fundamental para troca e aprimoramento de conhecimentos na área de Assistência Social (CRP-MG, 2013).

A seguir, a segunda área de maior atuação dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO é a Clínica, com 14 (28%) egressos atuantes. Esse dado equivale ao que é ressaltado pelo Conselho Regional de Psicologia - MG (2013), de que, dentre as opções para obtenção de Título de Especialista, a área Clínica encontra-se em segundo lugar, com 65 concessões aprovadas pela Comissão de Títulos de Especialista na gestão do XIII Plenário. Assim, é um dado que se equivale à pesquisa realizada na FUPAC-TO, uma área de interesse tanto para atuação como para especialização.

Já a área da Saúde ocupa o terceiro lugar com 12 (24%) egressos atuantes e a Jurídica com um (2%), sendo esta última classificada na presente pesquisa como a menor área de atuação em Psicologia. No que diz respeito ao campo da Psicologia da Saúde, mesmo com um menor número de egressos atuando nessa área, Spink (2007) ressalta o caminho da construção de uma interação entre a Psicologia e as políticas públicas, no qual o SUS tem ganhado relevância. Um espaço em que a Psicologia mantém um papel importante, apesar da sua dificuldade de se assumir como profissão que atua na área da Saúde.

De acordo com Spink (2007), a proporção entre número de psicólogas(os) que possuem vínculos com o SUS e o número de psicólogas(os) registradas(os) no Sistema Conselhos de Psicologia varia de 7,97% das(os) psicólogas(os) da região Centro-Oeste a 14,76% das(os) psicólogas(os) da região Nordeste. A média no país é de 10,08% do número total de psicólogas(os) que possuem algum tipo de vínculo com o SUS. As regiões não são homogêneas: existem estados com melhor proporção entre as(os) psicólogas(os) registradas(os) nos Conselhos e as(os) que atuam na rede pública. O Nordeste, por exemplo, tem uma variação de 8% a 29% nessa relação.

Ainda de acordo com Spink (2007), das(os) 142.958 psicólogas(os) registradas(os) no Sistema Conselhos, 14.407 profissionais trabalhavam na rede de serviços de saúde. Portanto, percebe-se ainda uma grande expectativa de inserção da Psicologia no campo da Saúde Pública no Brasil e também na região dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha.

Regiões de atuação dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO

Ressaltando que dentre os participantes da pesquisa, puderam-se extrair os municípios que mais predominam como lugar de atuação dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO. Foram identificados 25 (51,3%) egressos ativos nos municípios da mesorregião do Vale do Jequitinhonha, que possui uma população de 731.314 mil habitantes (IBGE, 2016); cerca de 23 (46%) egressos de Psicologia estão atuando na mesorregião do Vale do Mucuri, região que suporta 370.203 mil habitantes (IBGE, 2016); já dois (3%) egressos atuam na mesorregião do Vale do Rio Doce, que contém cerca de 1.588.122 mil habitantes (IBGE, 2016).

Segundo Spink (2007), com base nos dados de 2006 do Sistema Conselhos, outro aspecto importante diz respeito à relação entre o número de habitantes por regiões e o número de psicólogas(os) registradas(os) no sistema Conselhos de Psicologia. O Sudeste possui a melhor proporção, com 780 habitantes por psicólogas(os). A pior relação ocorre na região Norte do país, com 3.194,8 habitantes para cada profissional.

Sendo assim, Ana Bock ressalta em um diálogo realizado pelo Conselho Federal de Psicologia a reflexão de quão relevante é o contato dos acadêmicos de Psicologia com a realidade da camada com maior vulnerabilidade social. Segundo a psicóloga e pesquisadora, é por meio desse contato que os mesmos poderão vivenciar a realidade da região onde há maior probabilidade de atuação da Psicologia (Conselho Federal de Psicologia, 2012).

Média salarial dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO

Com os dados obtidos por meio da pesquisa realizada pôde-se identificar a média salarial dos egressos atuantes em Psicologia. A média que se destaca é a remuneração de R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 que 18 egressos recebem (36%). Já na pesquisa realizada pelo CRP no Paraná, a maioria dos psicólogos apresenta rendimentos nas faixas de R$ 1.001,00 a R$2.000,00, seguidos de uma significativa proporção de psicólogos com remuneração entre R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 (Conselho Regional de Psicologia - PA, p.33, 2010). Nota-se que as remunerações do estado do Paraná se aproximam às dos egressos da FUPAC-TO, sendo dados que demonstram que, mesmo devido à extrema importância da profissão, ela está sendo, de certa forma, mal remunerada em ambos os estados.

De acordo com Conselho Federal de Psicologia (2016), em 31 de Março de 2015, o deputado Dr. Jorge Silva (PROS/ES) apresentou a Lei 1015/2015 que propõe um piso salarial de, no mínimo, R$ 3.600,00 a serem pagos aos Profissionais da Psicologia. Ressalta-se que, com mais de 50 anos de regulamentação, a Psicologia ainda não possui um piso salarial, mesmo sendo uma profissão que exige anos de graduação, especialização e atualização para a melhor qualidade do serviço prestado aos pacientes. Além disso, é uma profissão de extrema responsabilidade e periculosidade, sendo pouco valorizada.

A seguir, os demais dados sobre a remuneração dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO foram: sete (14%) egressos recebem até R$ 1.000,00; 12 (24%) egressos recebem entre R$ 1.000,00 a R$ 1.500,00; quatro (8%) egressos tem média salarial entre R$ 2.000,00 a R$ 2.500,00 e nove (18%) egressos recebem salário maior que R$ 2.500,00.

Horas semanais dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO

De acordo com os egressos de Psicologia da FUPAC-TO que participaram da pesquisa, 32 (64,8%) cumprem carga horária de trabalho de 30 e 40 horas por semana. Os demais egressos (n = 14; 28%) atuam 20 horas por semana e quatro (8%) atuam mais que 40 horas semanais. São dados alarmantes que comprovam a necessidade de decretar definitivamente a carga horária para 30 horas.

Ao final de 2014, a PL 3338/2008 das 30 horas foi vedada para o estado de Minas Gerais, mas o sindicato examina alternativas para aliviar a jornada cansativa de trabalho até 2016. As 30 horas são indicadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como a carga horária máxima para todos os profissionais da área da saúde (Conselho Regional de Psicologia - MG, 2015).

É nítido que profissionais de Psicologia, em suas diversas áreas de atuação, estão propícios a desenvolver doenças severas, devido ao exercício diário da profissão e ao contato com um cenário por vezes de sofrimento encontrado no ambiente de trabalho, sendo de extrema importância a aprovação das 30 horas semanais de trabalho, como destaca o Parecer do CFP favorável ao PL 3.338/2008. Essa medida possibilitaria melhores condições de trabalho para os profissionais da Psicologia e, consequentemente, melhor qualidade nos serviços prestados aos pacientes (Conselho Regional de Psicologia - MG, 2015).

Considerações Finais

O NPP da FUPAC-TO está em funcionamento há cerca de quatro anos e, nesse período, houve mudanças e avanços alcançados de ordem física e de funcionamento. Isso contribui para uma melhor qualidade dos serviços prestados aos acadêmicos de Psicologia e à população da região de Teófilo Otoni-MG com relação ao aumento do número de monitores e a contratação de uma psicóloga para auxiliar no desenvolvimento dos estágios, além das mudanças quanto à estrutura física, que possibilitou o desenvolvimento de projetos de extensão e atividades interdisciplinares.

Assim, respondendo à pergunta problema da pesquisa, o NPP da FUPAC-TO promove uma melhor assimilação da teoria com a prática quando possibilita aos acadêmicos de Psicologia um contato com a realidade que possui maior vulnerabilidade social, sendo este o público com que a grande maioria irá se deparar depois de formado. O fornecimento de atividades de estágio voltadas para a atuação em Psicologia e o conhecimento quanto ao exercício dos princípios éticos da profissão, mesmo sendo uma profissão que não possui um piso salarial e possui uma carga horária desproporcional para suas condições de trabalho, a maioria dos egressos de Psicologia da FUPAC-TO está atuando como psicólogos, legitimando o papel do NPP da FUPAC-TO para a formação do estudante de Psicologia.

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Submissão: 27/11/2017

Aceite: 10/01/2018


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