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Revista EPOS

versão On-line ISSN 2178-700X

Rev. Epos vol.7 no.2 Rio de Janeiro jul./dez. 2016

 

ARTIGOS

 

"Eu acho que, pra você estar nesse meio, você tem que ser resistente quanto ao mundo comum": juventude(s), subculturas e resistência cultural no Rio de Janeiro*

 

"To being in this scene, you should be resistant to the common world": youth, subcultures and cultural resistance in Rio de Janeiro

 

 

Alexandre Bárbara SoaresI

IDoutor em Psicologia (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Professor Adjunto do Departamento de Psicologia (Instituto de Ciências Humanas e Sociais de Volta Redonda) da Universidade Federal Fluminense. E-mail: alexandrebarbara73@gmail.com

 

 


RESUMO

As relações entre juventude e cultura têm tomado grande relevância e sido muito presentes no campo das Ciências Humanas. O campo da cultura tem se conformado, nas últimas décadas, como mais um sólido território em que jovens forjam formas de ser e estar no espaço público, dando visibilidade a diferentes maneiras de perceber a sociedade e suas questões. Dentro deste vasto território cultural, alguns movimentos e correntes vêm, nas ultimas décadas, agregando jovens em torno de práticas e discursos que buscam não apenas se contrapor a um conjunto de valores sociais, mas também agredi-los, recusá-los e enfrentá-los. As subculturas, em especial aquelas oriundas da cultura punk, em fins dos anos 1970, apareceram como um modo de expressão de jovens trabalhadores e subalternizados de todo o mundo, naquele período histórico, mas rapidamente foram cooptadas e diluídas pela indústria do consumo cultural. Este artigo analisou as diferentes dimensões da experiência de jovens do Rio de Janeiro no interior da subcultura punk e suas sub-ramificações. Buscamos analisar esta experiência através de dez entrevistas semiestruturadas. Entre as conclusões, identificamos que a cena subcultural se organiza e unifica a partir da identificação de uma série de relações de recusa a um conjunto de situações e atores sociais e o que os jovens buscam nas subculturas é justamente a tentativa de tensionar alguns sentidos hegemônicos, produzidos por certos dispositivos institucionais, sobre sua própria condição juvenil.

Palavras-chave: juventude; movimentos culturais juvenis; subculturas; resistência cultural.


ABSTRACT

The relationship between youth and culture has taken great relevance and been very present in the field of human sciences in recent decades. The crisis of political representation at the global level, seems to have increasingly turned the field of culture in an area where young people forge ways of being in the public space, giving visibility to different ways of perceiving society and its problems. Within this vast cultural territory, some movements and currents have started, in recent decades, adding young people on practices and discourses that seek not only to counter a set of social values, but also to attack, refuse them and confront said values. Subcultures, especially those originated from the punk culture in the late seventies, appeared as a form of expression of global working class and exploited youths, but were quickly co-opted and diluted by the industry of cultural consumption. However, these subcultures remain alive and active in different ways and with different arrangements, in most Brazilian cities. This article stems from a question: in the modern world of multiple information and communication tools, music and cultural movements that are organized around it can be devices of values, behavior and collective action production and intervention in society, of politic debate? The purpose of this research is to think about the different dimensions of youth experience in Rio de Janeiro within the punk subculture and its sub-branches. By evaluating ten semi-structured interviews, we intend to analyze this experience through different scenarios by which young people pass within subcultures: it's written production in the form of fanzines, it's music, it's events and rituals and their perceptions on this journey.

Keywords: youth; youth cultural movements; subcultures; cultural resistance.


 

 

Introdução

As relações entre juventude e cultura têm tomado grande relevância e sido muito presentes no campo das Ciências Humanas nas últimas décadas. O campo da cultura tem se conformado como mais um sólido território em que jovens forjam formas de ser e estar no espaço público, dando visibilidade a diferentes maneiras de perceber a sociedade e suas questões.

Segundo Marcial (2009), as diferentes práticas culturais de jovens – música, estética, dança, teatralidade etc. – estariam buscando constituir modos de expressão por fora dos canais institucionais e legitimados da sociedade. Assim, diante da sensação de impossibilidade de interferir no direcionamento de certas condições sociais, os jovens se utilizariam do recurso das expressões culturais para tentar se fazer ver e ouvir na sociedade. A cultura tanto pode corroborar a continuidade de certos ritos e valores socialmente atribuídos aos jovens como necessários à reprodução social, quanto colocar em questão alguns destes, conflitando com a institucionalidade imposta no espaço familiar ou acadêmico, por exemplo.

Dentro deste vasto território cultural, alguns movimentos e correntes vêm agregando jovens em torno de práticas e discursos que buscam não apenas se contrapor a um conjunto de valores sociais, mas também agredi-los, recusá-los e enfrentá-los. As subculturas, em especial aquelas oriundas da cultura punk, em fins dos anos 1970, apareceram como uma forma de expressão de jovens trabalhadores e subalternizados de todo o mundo. Em torno da cultura punk se produziram novos discursos sobre o "ser jovem" nos meios urbanos, sobre as condições das camadas jovens proletarizadas e sobre o viver na cidade. Permeados de amargura, revolta e iconoclastia, o punk e suas subculturas subjacentes eram a representação, na cultura, de uma geração que crescia sem perspectivas diante das promessas esmigalhadas do mundo liberal. Desde os anos 1970, seus modos e discursos se ressignificaram e atualizaram, permanecendo presentes nos meios urbanos sob diferentes formas.

Os espaços subculturais juvenis parecem produzir diferentes entendimentos em relações a tais pressões por adaptação que os jovens sofrem. Este artigo se propôs a analisar aspectos da experiência de jovens do Rio de Janeiro dentro das subculturas, em especial o punk e suas vertentes. E emerge da curiosidade em colocar no centro de análise diferentes tentativas, muitas vezes intuitivas, da juventude contemporânea de expressar recusas a modelos de comportamento que nem sempre lhes parecem justos ou equitativos. A partir dessa perspectiva, a proposta deste artigo é problematizar a experiência de jovens nas subculturas juvenis na cidade do Rio de Janeiro. Por isso, propomo-nos a abordar as tensões e contradições presentes entre a vida cotidiana e o trânsito pelas subculturas, entre jovens de 19 e 25 anos. Para tal, faz-se necessário percorrer um breve trajeto que nos permita produzir análises sobre as experiências dos e das jovens, começando pela categoria social juventude, pelo conceito de subculturas até chegarmos ao modo como os e as jovens atribuem sentidos a sua experiência.

 

A juventude como categoria sócio-histórica e as dimensões de participação social dos jovens

A compreensão da noção de juventude tem sido tensionada nos últimos anos entre diferentes sentidos. Desde uma concepção meramente etária, definida por uma linha limítrofe entre a percepção de dependência da infância e da autonomia dos adultos, passando por outra perspectiva que a compreende como categoria sócio-historicamente constituída, distinta da figura do jovem como uma condição naturalizada pela idade biológica (URTEAGA, 2011). Esta construção tem sido embasada ao longo dos anos pela formulação de valores, espaços, tarefas e imagens próprias, específicas, que procuraram definir em termos materiais e simbólicos o que seriam as diferentes maneiras de "ser" jovem (URTEAGA, op. cit.).

As visões e preconcepções em relação aos jovens terminam por influenciar de maneira determinante os tipos de intervenção sobre essa parcela da população, seja buscando integrá-los à sociedade formalizada (ao mercado de trabalho, as esferas de decisões políticas etc.), seja construindo ferramentas de controle sobre as possíveis impulsividades e tendências "desviantes" destes – a visibilidade desta população como "de risco" ainda atravessa fortemente parte do discurso social.

Portanto, problematizamos inicialmente as diferentes concepções de um "ser" jovem. Tais concepções podem transitar, por um lado, de um olhar pautado na lógica do desenvolvimento individual, tendo a juventude como uma das fases de um percurso linear e cumulativo, que vai da infância, estágio inicial, à vida adulta, estágio final e terminal. Por outro, por uma perspectiva que entenda a juventude como um processo contínuo de construção de relações e forças, em imanência, não seriado pela idade biológica nem linear, mas contextualizado.

O modelo mais visível nas leituras sobre juventude, na mídia e na sociedade em geral, tem sido pautado por uma perspectiva de subjetivação seriada pela idade, ou seja, pela ótica desenvolvimentista. E tal olhar é atravessado por noções como as de vulnerabilidade, incompletude e imaturidade, subordinadas ao estatuto da autoridade e da experiência. Falamos da existência de um discurso socialmente instituído que defende que, quanto mais idade o indivíduo tiver, maior será sua experiência de vida e, consequentemente, maior seu conhecimento, sendo, portanto, mais respeitado. Programas e políticas públicas voltados aos jovens, programas de TV e seriados, matérias na grande mídia sobre jovens em geral se pautam por esta perspectiva. Esse discurso tem sido um pilar fundamental de controle sobre os e as jovens.

Mais que uma questão de definição etária, a idade (infância, adolescência, juventude, vida adulta, quando o indivíduo estaria plenamente instrumentalizado e legitimado para a vida social) seria um princípio de organização social. A perspectiva desta construção busca orientar a direção da continuidade social, tanto em termos de atributos desejáveis, como de competências necessárias para a vida em sociedade no momento presente e no futuro. Tais atributos ou competências são disseminados no cotidiano dos jovens tanto pelas instituições de formação, como escola e família, quanto pelos meios de comunicação, que oferecem modelos de conduta que associam noções como êxito ou fracasso às escolhas que estes jovens devem fazer (FEIXA, 1999).

Urteaga (2011) afirma que as práticas culturais dos jovens articulam fronteiras entre suas perspectivas, valores e desejos com as do mundo adulto e, também, entre outros jovens, tensionando uma essencialização da condição juvenil. Esferas que tratam, portanto, de atributos e rituais desenvolvidos especificamente por um conjunto de indivíduos, expressos tanto em objetos materiais (como roupas, cabelos, bens) quanto imateriais (músicas, linguagens próprias etc.). Que operam, assim, como identificadores entre os iguais etários e diferenciadores frente aos outros, adultos.

Entretanto, a experiência da juventude não pode ser analisada desconectada dos processos ampliados nos quais estes jovens se encontram imersos, produzindo formas de ser e estar coletivas e formulando discursos e imagens que representam o social, concebendo as relações destes com os outros, adultos. Trata-se, portanto, de diferentes modulações da experiência juvenil em relação tanto com as instituições, quanto com as expectativas que se engendram sobre eles para a reprodução das normas sociais. Ou, como afirma Margulis (1994), a condição histórico-cultural de juventude não se oferece de igual forma para todos os indivíduos.

Na base destas ideias ainda se encontra a construção social da juventude como um período de incompletude, necessitando de uma supervisão adulta para sua completa adequação e construção de ferramentas para participar da sociedade plenamente. Dessa forma, na busca por transpor esta perspectiva, alguns jovens estariam buscando construir espaços próprios, nem sempre de forma consciente ou a partir de um projeto definido e organizado, em que seria possível o exercício de uma participação mais afirmativa, no âmbito das relações grupais (jovens-jovens) e individuais (jovem-sociedade ampliada-família-comunidade). Tais espaços não necessariamente se comunicam ou conflituam com os espaços institucionais sempre, mas produzem e buscam difundir discursos e formas de operação que visibilizem as condições materiais e sociais em que vivem e onde são produzidos. Ainda assim, tais modos de entrada na vida social não se dão por meio de formas legitimadas e autorizadas pelo conjunto da sociedade, mas reivindicam outras maneiras de se fazer reconhecer e estar diante do outro.

Em contraponto à ação política institucionalizada, os jovens urbanos contemporâneos investem em práticas políticas mais pulverizadas, atomizadas e transitórias, caracterizadas pela performance, pela instantaneidade e pela efemeridade que marcam suas ações coletivo-culturais (BORELI; OLIVEIRA, 2010). Estabelecem-se processos de vinculação e trocas entre os sujeitos e os grupos que estimulam a partilha de modos de ser, visões de mundo, estilos de vida e referenciais estéticos, comportamentais e políticos. A demarcação de um território simbólico em que possa emergir um conjunto de questões relativas a suas experiências cotidianas, dentro de uma forma mais intuitiva, como a dança, a música e a poesia, passou a caracterizar a emergência de modelos de comportamento coletivo desta parcela da população.

Assim, os e as jovens procuram na música, na dança e na performance uma forma de posicionar-se diante da sociedade, buscando desenvolver estratégias de mediação de suas relações com o mundo e com os outros, nas quais se acionem maneiras de ser e se fazer ver que os desloquem de suas posições de constante subordinação.

Partindo deste ponto, buscamos compreender os discursos e práticas que se produzem e se articulam nos e a partir dos grupos culturais juvenis que emergiram desde o final dos anos 1970 no país com uma proposta de aliar discurso de oposição social e dissidência a manifestações culturais (musicais, estéticas, performáticas).

 

As subculturas juvenis e a formulação de discursos de dissidência

Hall & Jefferson (1976) defendem a ideia que as subculturas juvenis seriam uma reação coletiva dos jovens às mudanças estruturais – econômicas e políticas – que aconteciam na sociedade inglesa do pós-guerra. Essas subculturas, basicamente oriundas de movimentos dos jovens da classe trabalhadora, eram vistas como parte integrante da luta dessa classe contra a realidade socioeconômica em que viviam. Neste movimento de contraposição estariam relacionados os gostos musicais e de estilo, sugerindo que determinados tipos de musica, roupas e acessórios seriam utilizados apenas por estes jovens e apenas com esse propósito: uma afirmação de resistência através do consumo, resultante de vertentes musicais e estilísticas diferenciadas.

Em paralelo, defendem a ideia de cultura como uma relação de dominação e subordinação: para Hall & Jefferson (op. cit.), as culturas se colocam sempre em oposição umas as outras. Assim, a cultura que reflete a posição das classes mais "poderosas" costuma se firmar como "a" cultura dominante, buscando definir e incluir em si todas as outras culturas. Ele estabelece assim uma distinção entre culturas "dominantes" – que se tornam hegemônicas – e "subordinadas" – que se estabelecem sempre a partir e em relação, mesmo que em contraposição, àquela hegemônica. Entretanto, as culturas "subordinadas" nem sempre entram em conflito com as dominantes, coexistindo e negociando espaços por longos períodos.

Assim, para eles, subculturas seriam subestruturas, menores, mais localizadas e com formas diferenciadas neste universo de culturas mais amplo. Eles sugerem que para analisá-las devemos fazê-lo a partir de sua relação com a cultura mais geral da qual faz parte. Tais subculturas teriam preocupações focadas, mas dividiriam coisas em comum com a cultura hegemônica. Segundo eles, devemos analisá-las a partir de suas atividades, valores, usos de certos materiais e territórios. Por isso, ressaltam, também, a necessidade de atentar para a forma como as subculturas se relacionam com as questões de classe, divisão do trabalho e com as relações produtivas da sociedade. E observar a relação entre "vida cotidiana" e vida dentro das subculturas.

Enquanto o grupo de Birmingham centrava foco nas estratégias estéticas e rituais de consumo dos jovens da classe trabalhadora, o grupo que Freire Filho (2005) denomina pós-subculturalistas aspira, em linhas gerais, reavaliar a relação entre jovens, música, estilo e identidade, em um campo instável política e ideologicamente como este do novo milênio, em que fluxos globais e subcorrentes locais se rearticulam e reestruturam de maneira complexa, produzindo "novas e híbridas constelações culturais" (FREIRE FILHO, 2005). Para este autor, as chamadas "novas formações de protesto subcultural" se valem de modos de articulação e geração de identidades subculturais, como as perspectivas de classe e território, engajando-se, contudo, em ações macropoliticas. Operando, ao mesmo tempo, ideologicamente e hedonisticamente; compatibilizando abordagens e demandas particulares com uma dimensão crítica e de antagonismo universal (p. 15).

Weller (2005) afirma que podemos compreender as subculturas como algo relativo a uma cultura alternativa, mas também como uma ampliação do próprio conceito de cultura, que não estaria associado somente a um conjunto de valores, normas e tradições predominantes em uma dada sociedade, mas que envolveria todos os aspectos da vida cotidiana de um determinado grupo. Esta autora defende que o termo subcultura sugere a existência de uma cultura superior, que, atualmente, deixa de fazer sentido diante da pluralidade de modos ou estilos, que não são mais específicos de uma dada cultura – uma vez que se manifestam em distintas localidades e em distintos continentes, enfraquecendo a lógica de proximidade e comunidade anteriormente atribuídas a estes grupos. Ao mesmo tempo, o termo provoca associações depreciativas e leva a crer que estamos tratando de segmentos específicos da sociedade que devem ser demarcados ou diferenciados com o objetivo de melhor controlá-los. Nesse sentido, os estilos culturais são interpretados como reação às mudanças que estão ocorrendo de uma forma global nas sociedades complexas.

Para Ronsini (2007), as culturas juvenis são expressões, formas de rebeldia à cultura oficial, à normatização das instituições como escola, família e religião, mas também vontade expressa de ser incluído, "uma vez que os estilos são formas expressivas de adesão ao mercado de bens materiais, de crítica à exclusão social das populações pobres, de obtenção de posições no mercado cultural" (p. 52). Para os jovens proletarizados do punk, por exemplo, a inclusão no capitalismo, ainda que através de sua crítica, dar-se-ia pela cultura, por meio da qual conseguiriam romper as barreiras que invisibilizam questões de classe e de cor. Para esta autora, as subculturas, ainda que permeadas pelas contradições de adesão ao mercado, colocam os jovens que aderem a tais formas em estado de tensão perante a mídia e as forças políticas e econômicas, consistindo, portanto, segundo ela, em uma alternativa de resistência e desejo de outras formas de pertencimento social, ainda que restrita à esfera do lazer. As subculturas seriam então opções culturais de reação às contradições colocadas pelas posições de classe de jovens subalternizados, encontrando maior oposição nos espaços públicos, na escola e no trabalho.

Autores como Feitosa (2003) adotarão o termo "culturas underground" para abordar grupos juvenis urbanos que se identificam com uma noção de comunidade construída a partir de rituais de pertença e vivência de sentimentos comuns. O termo underground, segundo Feitosa (2003), nasce da demanda por uma separação concreta entre a produção "mainstream" – ou da grande indústria cultural – e aquela desenvolvida à margem das grandes corporações e segregada (ou "outsider") aos padrões vinculados pelas distintas mídias oficiais – TVs, imprensa escrita e rádio. São situados em oposição à produção e ao consumo em massa. São construções que se definem mais claramente pelo que eles não são – isto é, "mainstream". Tais diferenciações se dão tanto na forma – como se expressam – como no conteúdo – do que falam ou o que abordam. A lógica de uso comercial – mais ou menos vendável, "acessível" – delimita de maneira mais clara a fronteira que a cultura underground tenta estabelecer. Abarca uma série de estratégias e atividades que buscam a afirmação e legitimação das práticas culturais dos participantes, ainda que fora dos padrões normativos da cultura social hegemônica, colocando-se em conflito com estas percepções e sentidos. Mais do que uma relação fixada de oposição estática e permanente, entendemos essas manifestações socioculturais urbanas como espaços de negociação dos jovens entre si e com outros grupos ampliados da sociedade, através da circunscrição de problemas comuns de um grupo e colocando um objeto em disputa – a fala, o discurso.

Dentro desses estudos, o punk emerge como um dos mais característicos recortes subculturais juvenis das ultimas décadas. A cultura punk surgiu nos subúrbios ingleses no fim da década de 1970 e foi rapidamente apropriada por jovens dos subúrbios das grandes cidades em outros países, filhos de operários, atingidos pelo desemprego ou pela precarização das condições de vida. Segundo Gallo (2010), o punk apareceu de forma muito diferente das manifestações anteriores de outros grupos juvenis. Os principais adeptos eram os jovens das camadas operárias das periferias inglesas e de algumas cidades da América do Norte, que sob os governos de Margareth Thatcher e Ronald Reagan sofriam os impactos de medidas econômicas e políticas repressoras. Suas principais características eram o resgate de uma musica simples dos anos 1950, entretanto, com características mais percussivas e rápidas, com temáticas relacionadas a questões do cotidiano – desemprego, guerras, ameaça nuclear, brigas, gangues etc. –, às roupas chamativas e ao visual agressivo associado aos eventos feitos pelos próprios artistas, sem a presença de intermediários. Exemplificando, Ortellado (2006) coloca que:

O punk era uma maneira nova de se fazer as coisas, e os jovens envolvidos nisso conseguiram inclusive encurtar as distâncias entre o mundo da cultura e o mundo da política. O punk podia falar com uma verdade inédita sobre o amor adolescente, sobre o desemprego, sobre os problemas sociais e sobre a estupidez das regras estabelecidas sem repetir clichês dos discursos políticos – ou seja, sem ter como parâmetro positivo o amor livre, a sociedade alternativa, a revolução ou o socialismo (p. 5).

Assim, em consonância com tal premissa, o punk, segundo Barcellos (2008), em vez de se apresentar como uma continuidade de movimentos juvenis anteriores, estabelece-se essencialmente como ruptura por apostar na agressividade e no conflito aberto e direto contra a autoridade como estratégia – sem rodeios, sem licenças poéticas em sua expressão –, mesmo reconhecendo tributo a certas matrizes consolidadas na geração anterior, em música, em literatura e comportamento (como, por exemplo, os Beats dos anos 1950 e a contracultura dos anos 1970). Segundo Gallo, "descrentes dos valores do amor e da amizade e da esperança, dos quais se tornaram incrédulos pela própria força avassaladora do capitalismo na sua versão moderna neoconservadora, assumiam, em revanche, uma atitude violenta e irreverente" (p. 8).

Compreender a experiência dos e das jovens em suas passagens por grupos subculturais nos convoca a pensar em alguns aspectos que devem ser destacados. Se, como vimos anteriormente, as subculturas e, em especial, aquelas oriundas do punk, emergem com uma proposta de falar de aspectos do cotidiano dos jovens invisibilizados pelas condições concretas de vida de cada um, precisamos definir como abordar tais experiências.

A cultura e a política são alguns dos elementos estruturantes da vida em sociedade e, portanto, apresentam correlações em suas funções sociais. Não são conceitos dados, naturais ou universais e cada apropriação do termo vai falar de um ponto de análise, de certa concepção de mundo, de uma dada implicação. Por isso, buscamos elementos que nos instrumentalizem a pensar nestes conceitos nas e através das diferentes práticas de coletivização culturais juvenis. Os discursos e expressões de recusa no campo cultural (na música, em particular) constituem uma expressão política de resistência? Resistir a quê e como? E que tensões emergem do pertencimento e trânsito pelas subculturas e a vida fora destes espaços (família, trabalho, instituições)? Para estabelecer alguns nortes de compreensão, procuramos dar visibilidade ao discurso de alguns jovens que fazem parte de grupos subculturais na cidade do Rio de Janeiro hoje.

 

A vida nas subculturas e as subculturas na vida: O que falam os jovens sobre suas experiências

Realizamos entrevistas semiestruturadas com dez jovens que participam das cenas subculturais no Rio de Janeiro, em especial dentro do punk e hardcore. Buscamos contemplar uma diversidade etária, de gênero e de estilos. Entrevistamos quatro meninas e seis meninos, sendo um deles, um jovem homem transexual. As idades das entrevistadas e entrevistados variam entre 19 e 25 anos, tendo um entrevistado 32 anos. Também procuramos contemplar diferentes áreas de moradia e de circulação, entrevistando jovens das zonas Oeste, Norte, Baixada Fluminense e Niterói. E, finalmente, buscamos jovens que tivessem distintas formas de participação dentro das subculturas: membros de bandas, produtores de eventos e fanzineiros. Procuramos elencar aspectos de sua vida cotidiana impactados – ou não – por seu pertencimento a grupos e coletivos oriundos desta cultura. A efeméride da participação em um show ou evento ou a ludicidade do encontro com pessoas com quem compartilham afetos e gostos sobre estilos reverberam de alguma forma nas relações que se constituem nos ambientes familiares, de estudo ou de trabalho dos jovens? No decorrer dos textos seus nomes serão representados apenas pelas letras iniciais.

Adentrar um campo de experiências novas, que marcam uma ruptura com o que é conhecido ou habitual, não se dá necessariamente por uma lógica cartesiana de adesão. Os e as jovens que entrevistamos não seguiram um roteiro padrão que se estrutura na tríade "tomada de consciência – busca por grupo – adesão" em suas primeiras incursões nas subculturas. São trajetórias complexas, em certos momentos contraditórias, descontínuas, permeadas de formulações de sentidos e de significados fragmentários e parciais. A estética subcultural, ainda que mais popularizada entre parte da juventude, suscita diferentes reações de repulsa por parte das pessoas. Dessa forma, encontrar os pares, pessoas com quem compartilhar gostos e valores, parece ser um primeiro sinal de aproximação dos jovens com os universos subculturais. Esta entrada se dá, inclusive, pela possibilidade de organizar formas de legitimação de recusas e possíveis resistências a uma padronização de hábitos e comportamentos a partir de uma experiência que deixe de ser individual, sentida no âmbito privado, e que se expresse coletivamente. A experiência aponta uma potência de agenciamento colocada pela articulação de elementos que tornam mais concreta uma leitura crítica da realidade e de sua condição, deslocando os sujeitos de seu assujeitamento (COSTA, 2000).

Há, entre grande parte dos entrevistados, um entendimento de que participar de uma subcultura underground "custa" algo em suas vidas, tem um preço concreto e afetivo a ser pago, seja pela clara oposição a um conjunto de valores socialmente aceitos, seja pela ausência de referências na sociedade que permita que suas atitudes e ações sejam, sempre, compreensíveis por parte daqueles com quem convivem e que não fazem parte deste universo.

Teve (conflito com a família) e tem. Eu vou fazer cinquenta anos e a minha mãe vai me julgar achando que eu tô errado. Mas eu entendo o lado dela, o aprendizado dela na vida foi diferente. Até porque o meio que eu to, do punk hardcore, ele diz isso, você não pode deixar de ser você. Mas você tem que entender que tem pessoas diferentes e não pode julgar. Minha mãe reclama que eu to nisso, só perco dinheiro, fico no meio de pessoas que usam drogas... e eu falo pra ela que as pessoas são livres pra fazer o que elas quiserem, enquanto as pessoas não interferem na sua liberdade, elas podem fazer o que elas quiserem. Eu to ali pra me divertir, se as pessoas vão fazer o que quiserem, eu sou mais um ali, tentando somar pra alguma coisa. E eu tento passar isso pra minha mãe. As vezes ela tá de bom humor e ela entende. Ela sabe que eu não vou me envolver com coisas que ela julga erradas, mas tem que relevar que a família é antiga (V., 25 anos).

A contestação também pode se dar através de certos processos de distanciamento em relação às estruturas tradicionais morais. A relação entre arte e lucro estabelece uma fronteira que tensiona as noções de produção capitalística e propõe outra forma de percepção do que se denomina trabalho, atividade humana. O fato de não ganhar a vida com a música ("Minha mãe reclama que eu to nisso, só perco dinheiro") sempre se coloca como um questionamento, ora para os jovens que a fazem, ora para aqueles que os rodeiam e não entendem o por que de permanecerem fazendo arte sem ganhar por isso – ao menos o suficiente para sobreviver. Também habitam o imaginário social as ideias produzidas a partir das subculturas dos anos 1980 de bandos que provocavam desordem e baderna, usando abusivamente de álcool e drogas, figuras disseminadas em peso pela mídia daquela época. Dialogar dentro de casa sobre algo que é estranho ou desconhecido é um custo que se coloca para quase todos os entrevistados.

A ausência de um território de diálogo ampliado entre as subculturas underground e a sociedade em geral produz situações que são efeito direto do desconhecimento de certos pressupostos da vida nestas culturas. A jovem D. explicita, por exemplo, alguns obstáculos que sua escolha de vida vegana (livre do uso de produtos de alimentação origem animal), a partir da subcultura SxEx, produz em seu cotidiano:

Em casa eu já dialoguei muito sobre essas coisas, principalmente sobre vegetarianismo. Minha irmã chegava e falava "corta esse pedaço de frango que eu vou chegar cansada e preciso do seu auxilio nisso" e eu falava "não, não tem como" e explicava para ela o porque. Ela ficava muito magoada, mas depois ela foi se acostumando, foi entendendo esse posicionamento. Virar SxEx me custou as amizades, há muito preconceito contra isso. Esse final de semana uma garota me chamou de esquisita. As pessoas não conseguem entender isso, elas querem que você consuma os mesmos hábitos que ela (D., 23 anos).

Para grande parte dos SxEx (straight-edges), a abstenção do consumo de qualquer produto de origem animal seria, principalmente, uma expressão de boicote às grandes indústrias capitalistas que lucram através da destruição do meio ambiente. Durante as entrevistas, tanto D. quanto A. e M. V. se declararam veganos por terem tomado conhecimento dos processos de tortura e maltrato a animais. Esta atitude faz parte do arsenal de convicções e referências coletadas ao longo do percurso deles na cultura underground e os coloca diante de impasses cotidianos para se manterem fiéis a tais princípios. Para D., a comunicação e a tensão dentro de casa por sua opção refletem a constante sensação de "estranheza" provocada por suas escolhas na rua e entre os pares da sociedade ampliada. Também estabelece um ponto de inflexão sobre a dificuldade de grande parte da sociedade em lidar, acatar e se relacionar com quaisquer hábitos que fujam minimamente de padrões estabelecidos ao longo dos tempos, como normas não ditas de comportamento social.

O meu pai demorou uns dois anos pra aceitar que eu era vegetariana, ele achava que aquilo era uma dieta pra emagrecer, coisa assim. Meus amigos tão de boa, ficam até curiosos. Mas tem muita gente que fica falando umas coisas bem idiotas. As pessoas, tudo que elas veem de diferente, aquilo que tira da rotina, assusta. Ou você quer se transformar naquilo ou expulsa aquilo, ou tenta fazer voltar a ser o que era. Mas já era, aquilo já mudou. E tudo está em constante mudança, sempre (A., 20 anos).

A pressão social por certas opções de vida individuais aparece na fala de A. Quando se tomam posições que não são conhecidas majoritariamente ou que subvertem uma forma de agir do individuo que já estava dada e naturalizada, sofre-se uma cobrança para que se retome o caminho conhecido. Entretanto, o reconhecimento de que os processos sociais estão em mudança permite uma ressignificação de conceitos básicos como identidade e norma, que se tornam menos rígidos a partir desta leitura das coisas "em processo".

Duncombe (2002) utiliza a noção de resistência cultural para abordar a experiência dos jovens nas subculturas. Para ele, tal resistência opera, no interior das subculturas, como um trampolim, uma ferramenta, provendo a linguagem, práticas e os parceiros ou a comunidade, para facilitar o caminho até a atividade política, permitindo, inclusive, pensar nela mesma como uma atividade política, uma ação da juventude sem intermediários ou a necessidade de aprendizagem de códigos de acesso à participação, um campo de construção cotidiana de relações entre os indivíduos e suas possibilidades de expressão, diálogo e negociação com a sociedade ampliada. Alguns elementos que Duncombe (op. cit.) expõe para discutir a noção de resistência cultural se apresentam como a ampliação do arsenal linguístico e intelectual, fora dos canais tradicionais de transmissão cultural, como a família e a escola. E também um canal de interpretação da realidade. A experiência se configura como uma tentativa – precária, parcial, efêmera – de formulação de uma direção, de um caminho alternativo de circulação de conhecimento e de percepções. Ser "estranho", "esquisito" ou diferente são consequências constantemente reiteradas pelos jovens em relação a suas opções subculturais em contraponto a suas vidas cotidianas.

Foi difícil, porque eu tenho tatuagens, alargador, piercing... no começo eu queria raspar a cabeça, fazer um moicano... eu fiz! (risos)! E eu acho que isso me moveu a querer sair de casa cedo também, para trabalhar, estudar e ter minha vida. Mas não foram problemas, minha família me aceita do jeito que eu sou. Eles achavam ruim, mas deixavam né. Minha mãe sempre confiou muito em mim. Ela achava esquisitos os amigos que eu levava pra casa, ainda mais que eu sempre andei muito mais com rapazes que com meninas, porque no meio underground tem muito homem, e minha mãe achava esquisito eu sair com aquele bando de homem, tudo de preto, esquisito, mas ela sabia que a galera voltava, me deixava em casa, tranquilo (L., 26 anos).

O movimento de estar fora do padrão causa ruídos entre o jovem e a família, amplificados pela visão socialmente disseminada de que a juventude é um período de mudanças e que ao jovem cabe adaptar-se a dada ordem para garantir a reprodução social. Tais ruídos se acentuam em casos como o de M. V., jovem menino transexual, que, além do pertencimento às subculturas, onde afirma ter encontrado o acolhimento e estímulo para viver sua condição sem a quantidade de questionamentos colocados por sua família, ainda vivencia o extremo controle produzido sobre seu corpo pelo exercício da lógica binária masculino-feminino, que ainda determina os lugares e funções sociais:

Quando meu pai morreu eu fui morar com meus tios, eles eram muito conservadores e eu não pude mais ter banda porque eles não queriam. Aí ano passado eu saí da casa deles e voltei a tocar com banda. Eu fui embora porque eles eram muito conservadores. Eu não podia ser do jeito que eu sou, eu tinha que andar como menina, eu não podia ouvir meus LP's, não podia tocar meu violão, não podia fazer nada, eles falavam que violão era para o meu primo, eu tinha que estudar. Acho que fica essa ideia de que o rock'n'roll é para homem e essa ideia ainda fica no ar. Aí eu fui pra casa que meu pai deixou pra mim e tô me virando sozinho lá (M. V., 21 anos).

Ao mesmo tempo que o pertencimento às subculturas e tudo que envolve tal movimento, como ter bandas, fazer música, transitar por espaços alternativos, causam um ruído, também expressam uma tomada de posição, articulando elementos de uma leitura crítica da sociedade e de suas formas, como a família e o lugar de jovem como tutelado, possibilitando, em alguns casos, deslocamentos destes lugares determinados. Se para M. V., estar em uma subcultura representa um suporte para o exercício de suas opções e ações ante seu corpo e sexualidade, também acentua e intensifica o olhar de estranhamento de familiares, conhecidos e colegas com quem se relaciona fora deste universo underground.

A opção por uma vida dentro das subculturas se esboça no amiúde de pequenos detalhes da vida cotidiana, promovendo debates e tensões na família e na vida privada tanto pelo discurso e atitudes, quanto pela estética que notadamente se pretende diferenciada.

Você começa a comprar umas camisas do Iron Maiden, umas camisas de banda pretas, daqui a pouco as camisas azuis, amarelas e roxas vão sumindo do seu armário. Elas vão manchando, ficando velhas, mas aquela camisa de banda você quer guardar, usar até ficar podre. Então meu armário hoje é só preto e camisa de banda. Minha tia e minha avó estranharam isso, por ter um monstro, uma caveira de cabeça pra baixo, um satanás gigante (risos). Um dia minha tia parou e perguntou se eu tava em alguma religião estranha, se tava virando satanista, se tava usando droga. E eu nunca fui disso, (mas elas) sempre viam como uma parada negativa. Mas isso rola até hoje. Eu reagi agressivamente. Claro, você é velho demais pra ser criança e pouco adulto pra ser respeitado, adolescente é isso. Daí você chega em casa usando umas correntes penduradas, com uma calça esquisita, não aceitando mais a roupa que a sua tia te dá de natal, tu começa a ficar meio puto. E a agressividade é um modo meio recorrente da juventude reagir a essa má visão dos pais e da família (R., 32 anos).

A opção por um padrão estético diferenciado é um dos primeiros elementos a causar tensões em casa e no trabalho. Se o adolescente possui pequena margem para tomada de decisões autônomas e emancipadas, na escola ou na família, o limite de uma liberdade possível começa pelo corpo. Usar roupas e cabelos estranhos, acessórios diferentes é uma maneira de começar a exercer algum controle sobre sua própria vida, que seja pelo que está ou não em seu corpo. E a visão negativa ou pejorativa que vem de quem não faz parte da experiência subcultural potencializa a motivação a se diferenciar do jovem, como que representando claramente que o movimento em estabelecer uma fronteira com o que a grande maioria veste ou usa e de subverter algum padrão de subordinação estaria explícito. E, portanto, pode ser ainda mais agressivo e mais evidente. Em muitos casos, pode-se obscurecer o fato de que mesmo esta busca por diferenciação estética responde a outros padrões, determina outros estilos normativos e estabelece novas normas.

Ainda assim, a entrada em um universo cultural de certa forma pouco conhecido, com um apelo visual e estético muito forte, provocava reações externas e promovia reconfigurações na própria percepção de mundo e de si. Fanon (2005), falando de sua condição de submissão pela raça, afirmava que "Uma vez que o outro hesitava em me reconhecer, só havia uma solução: fazer-me conhecer" (2005, p. 13). Este caminho de fazer-se conhecer pressupõe provocar uma ação, uma resposta no mundo em forma de ação no mundo que, nem sempre, será positiva. E alguns jovens apostam nesta confrontação como elemento a ser intensificado.

Eu não espero nada da visão desse povo de fora. A visão deles é ruim e eu espero isso mesmo, que eles olhem pra gente com essa cara mesmo porque a gente tá falando mal desse mundo externo. Então se alguém falar mal de você, você vai olhar com bons olhos para essa pessoa? Não vai. Então eles têm que olhar pra gente com cara feia mesmo, porque a gente tá falando mal deles (L., 26 anos).

Se a aposta é na recusa a alguns padrões estéticos e comportamentais convencionais e no dissenso com uma parte do sistema normativo, como linguagem, autoridade, hierarquia, os conflitos imanentes a tal escolha devem fazer parte do repertório de atitudes esperadas pelos jovens que partilham dos universos subculturais underground. Tal recusa se modula, para eles, em uma dimensão da experiência que pode ser de difícil verbalização ou de explicação para quem não passa por isso:

Mas eu acho também é que ‘neguinho' não tem que reconhecer nada, também tem isso. Porque é algo muito nosso, certas coisas não tem como passar para outra pessoa, só vivendo, não tem como explicar (D., 23 anos).

A vida dentro das subculturas, em um primeiro momento, promove uma mudança no indivíduo que por ali passa, sem necessariamente se configurar imediatamente como um projeto de mudança da estrutura social. O que se fortalece é um olhar crítico, uma maneira de ver as relações que se desloca do que está institucionalizado, rígido, naturalizado. Colocar-se de um lado ou do outro da fronteira é o que se estabelece como primeira relação com o mundo, um "sair temporariamente" (mundo padronizado e normatizado) para confrontá-lo. Ainda que, para grande parte deles, isto esteja colocado como parte de suas vidas, jamais como uma nova relação cotidiana, visto que grande parte das pessoas entrevistadas estuda, trabalha em empresas corporativas ou permanece dentro da esfera familiar, com todos os conflitos decorrentes disso. Tal "saída" do mundo parece se dar muito mais no campo da forma de se colocar diante deste mundo do que da criação de alternativas que possibilitem uma oposição direta a tal mundo. Um outro olhar que pode, sim, ser catapultador de movimentos de transformação estrutural. Mas que não foi colocado hora nenhuma, pelos entrevistados, como algo que esteja em curso.

Para alguns, a vida nas subculturas funciona como um momento de escape, de fuga de um cotidiano em que os dois universos parecem pouco dialogar. A percepção da subcultura underground como um elemento de suporte da vida social, um modo de sustentar as pressões e dificuldades colocadas pela contemporaneidade, aparece em algumas falas como uma maneira de resistir a tais pressões, não sucumbir e estabelecer este confronto a certas formas de sujeição pela subjetivação.

Eu acho que pra você estar nesse meio você meio que tem que ser resistente quanto ao mundo comum, deixar de fazer alguma coisa que pra todo mundo é importante e você tornar isso mais importante. Tu deixa de ir com a tua mina pro shopping pra ensaiar, tu deixa de ir ao Maracanã... se tiver que deixar de beber, de parar isso ou aquilo eu vou fazer porque (estar na cena) é importante pra mim. De uma maneira ou de outra você acaba tendo isso como resistência à vida cotidiana (R., 32 anos).

R. expõe claramente a ideia de que, por mais que olhares e percepções de mundo possam ser forjadas no interior do pertencimento às subculturas, são as ações dos indivíduos fora delas, no dia a dia, que vão delimitar as linhas em relação ao quê e como se deve resistir. A "resistência à vida cotidiana" da qual ele fala pode adquirir diferentes tons e formas de acordo com a condição e posição que o indivíduo assume na sociedade. As pressões por adequação social, presentes em múltiplos dispositivos cotidianos, como a escola formal, a mídia e o mercado de trabalho, parecem poder ser flexibilizadas de acordo com a posição social do jovem e seu contexto de vida ampliado. Mas transformar tais dispositivos e produzir outras maneiras de estar em sociedade ainda é um projeto que passa ao largo dos discursos das pessoas entrevistadas.

Para alguns dos jovens, tais pressões podem ser ainda mais normativas, como no caso de Lc., cristão evangélico, de família igualmente cristã, mas que encontrou dentro do espaço da subcultura underground um território de exercício de outras maneiras de estar coletivamente, questionando inclusive pressupostos religiosos com os quais conviveu toda a vida.

A minha família era muito ortodoxa, todo mundo é cristão. Então eu sempre frequentei a igreja, mas quando eu comecei a andar com o pessoal do hardcore, a tocar em banda, abriu as minhas perspectivas. Agora eu faço parte da comunidade cristã S8, em Botafogo. Eu finalmente encontrei um lugar, uma igreja, uma comunidade que não tivesse dono. Onde as pessoas tem a mente aberta pra aceitar qualquer tipo de pessoa, independente da ideia. Eu procurei outros lugares, até mais próximo da minha casa, mas era complicado porque eu via muito interesse por trás das coisas. O interesse financeiro, principalmente. Então eu procurei um lugar em que as pessoas estivessem interessadas em ajudar umas as outras em levar a arte e a cultura a qualquer tipo de pessoa, uma galera que entende que se você abre a porta de sua igreja pra fazer um evento que não é ligado a religião, o que mais importa ali é as pessoas se divertirem, você não tem que fazer disso uma capa pra você empurrar a sua crença goela abaixo das pessoas (Lc., 24 anos).

Lc. apresenta uma trajetória em que foi necessário desconstruir certos aspectos de sua formação familiar, encontrando novos pares e aliados em um processo coletivo, sem se desvincular completamente do processo sócio-histórico que o constituiu. Ainda, fazer parte de um espaço de crenças religiosas não entra em confronto, para ele, com sua condição subcultural, pois esta é uma esfera de sua vida que se permitiu operar de outra maneira, libertando-o de paradigmas de comportamento mais duros e enrijecidos, ainda que estabeleça outros, em contraponto.

Em geral, o preço de pertencer às subculturas está ligado a se expor a uma percepção coletiva de estranhamento e discriminação em relação a qualquer forma ou ação que se distancie do convencional. Para alguns, este é o objetivo, sendo em si mesmo um elemento de resistência: chocar, diferenciar-se do que a maioria faz, fala ou usa. Para outros, transparece a tentativa de agregar mais pessoas e buscar entendimentos coletivos com seus pares a partir destas recusas. De uma maneira ou de outra, ainda que suas ações não sejam diretamente aliadas a projetos de transformação social, suas ações e sua presença interferem em circuitos sociais para além das subculturas underground, tensionando os outros que com eles convivem a redimensionar seus olhares, ou, ao menos, a contemplar outras possibilidades de ver.

 

Algumas considerações sobre as dimensões do "ser jovem" em meio à experiência subcultural

Quando abordamos os processos de subjetivação contemporâneos dos jovens por meio da análise das culturas e das subculturas, em especial, entendemos que a participação dos jovens nestes espaços pode estabelecer formas de falar no espaço público, de se fazer ver e perceber no debate político contemporâneo, para estes indivíduos.

Se, para Scott (1990), o que está em jogo na vida política, na maior parte dos casos, é a conquista de outro mundo, de outras formas de ser neste mundo que reconfigurem as relações hegemônicas existentes, o ato de não conformidade com os padrões, mesmo que pontual, pode ser o apontamento de uma direção, da possibilidade concreta de outras formas de viver em sociedade. Em uma entrevista da fase preliminar de campo, feita com um membro de uma banda de hardcore straight edge, morador da Baixada Fluminense, ouvimos que:

A gente vive completamente fora da realidade convencional, a gente não vive uma vida igual a dos outros. A gente vive um outro mundo, diferente da maioria das pessoas. E tenta fazer com que eles entendam e aceitem né, que como nós tem muitos (Felipinho. Banda Confronto).

A identificação de aliados ("Como nós tem muitos") reforça a posição de rejeição aos padrões dominantes. Ainda que permeado pelas contradições de um processo fragmentário de construção de uma direção de resistência, equilibrando-se entre um processo ativo e um possível fechamento em torno de círculos próprios "ensimesmados", há no percurso e nos relatos apontados uma tentativa de afirmar uma potência de si perante as condições que procuram dessubjetivá-los (CASTRO, 2012, p. 84), mantendo-se vivos de uma maneira que provoca, causa estranheza e não segue scripts todo o tempo. E mais, estabelecem um trajeto de constituição de si que provoca a eles mesmos e aos outros com quem compartilham deste caminho a pensar na possibilidade de formulação de outras trajetórias sociais possíveis. Para alguns entrevistados, falar, através das subculturas, de uma condição de subordinação ou opressão é uma expressão política a partir do momento em que torna público e coletiviza um sentimento individual, tornando tal experiência algo que pode ser compartilhado com outros iguais ou que vivem sob as mesmas condições. Em uma sociedade construída em torno do princípio de que devemos consumir o que os outros produziram para nós, fazer um show subcultural em um ambiente quase "ilegal" pode assumir uma ressonância rebelde. Ou, como afirma Duncombe (2002), talvez para estes e estas jovens o primeiro ato da política seja simplesmente agir. Se, para grande parte deles, a política não é necessariamente, sempre, um projeto comum, para o qual estão traçadas e calculadas estratégias e etapas, a passagem pelas subculturas possibilita a visualização de outros horizontes possíveis, ainda em aberto, através de uma experiência sensível coletiva (MAHEIRIE et al., 2012, p. 152). O aspecto de sociabilidade e suporte social das redes subculturais deve ser levado em consideração para além dos estilos e da frugalidade dos encontros ritualísticos, mas como um território simbólico e afetivo por onde se encontram condições de habitar e viver por certo período, suportando pressões familiares ou institucionais. Como afirmou o jovem M. V.: "Antes, eu achava que eu não prestava pra nada. Isso mudou no underground. Um incentivo que anima a pessoa."

Por outro lado, caminhando na linha tênue da ambivalência de suas experiências, esta possibilidade de formação de nichos de autonomia, mesmo que restritos e limitados, permite um deslocamento da compreensão de político que se forja a partir destas práticas. Um "falar das coisas do mundo" desde o seu lugar específico, sem necessariamente ter que assumir outro lugar ou discurso legitimado, como o acadêmico ou o institucional. Quem legitima o que estes jovens dizem ou fazem são eles mesmos entre pares, seus iguais e não uma autoridade socialmente instituída. O jovem V. afirmava que "Comecei a ver bandas de punk rock tocar e me interessar pelo discurso político dessas bandas". O interesse que se instaurou nele por um princípio básico da democracia, que é o interesse coletivo, deu-se a partir de uma forma discursiva não convencional, de seus pares e de um ambiente, assim descrito por ele: "...eu me senti livre (...) você vê tantas pessoas e repara no olhar delas e vê que elas têm o mesmo sentimento que você tem e você não sabia expressar." O encontro com "iguais" neste processo parece ser um meio de vivenciar tal processo para além de uma recusa individual. Ainda que neste espaço de exercício de uma maior liberdade de fala e encontro, o conjunto de emoções e discursos seja cheio de recusa e queixa, mesmo assim parece produzir um território que interpela sua condição "jovem", sem as iguais ferramentas de troca do universo adulto, mas com princípios autônomos e singulares, como a expressão corporal e a ludicidade dos rituais. Falar de suas questões cotidianas, na música ou em um fanzine, faz parte de um conjunto de ações de ressignificação de quem têm sido e do que desejam não ser, uma resistência à naturalização das identidades sociais estáticas e da passividade frente aos processos que parecem imutáveis ou eternos. Se o exercício político pressupõe a capacidade de fala e escuta de diferentes, nas rupturas entre os lugares que tais indivíduos ocupam na conformação dos discursos e práticas, podemos intuir que existe um movimento, incipiente, fragmentário e parcial, mas presente, nas práticas e discursos dos jovens nas subculturas de tensionamento destes lugares de soberania, incluindo as instituições cotidianas com as quais se relacionam, como o trabalho e a família.

Ao mesmo tempo, produz-se um sentido próprio para a condição juvenil, a qual todos estão relacionados. Reconhecer-se à margem, excluído de algumas condições e espaços de fala e participação ou mesmo perseguido pelas roupas que usa ou pela música que escuta, podem ser condições que apontam para outras formas possíveis de viver em sociedade que escapam aos padrões normativos majoritários. Se resistir pode ser também não se dessubjetivar ou recusar a subjetivação dominante, pode-se afirmar que há movimentos e ações de resistência entre estes jovens. Se para Foucault, o poder se expressaria de diferentes formas, não apenas por indivíduos, mas pela naturalização de discursos e práticas, de saberes e códigos disciplinares, podemos intuir que o que os jovens das subculturas têm feito é desnaturalizar algumas destas práticas e discursos. Adorno (2007) afirmava que:

Divertir-se significa estar de acordo. A diversão é possível apenas enquanto se isola e se afasta da totalidade do processo social, enquanto se renuncia absurdamente desde o início à pretensão inelutável de toda obra, mesmo da mais insignificante: a de, em sua limitação, refletir o todo. Divertir-se significa que não devemos pensar, que devemos esquecer a dor, mesmo onde ela se mostra (ADORNO, 2007, p. 41).

Pois ao usar seus espaços de ludicidade e lazer para falar de suas condições de vida e de suas experiências de opressão, estes jovens podem estar colocando a dor e o processo que os conduziu a isso no centro visível do terreno social, possibilitando que as condições e diferentes experiências sejam vistas e debatidas.

Também, se compreendemos que o engajamento político pode advir destas experiências de participação em grupos e coletivos culturais, através da formação nestes de uma consciência crítica de sua condição coletiva, via o compartilhamento de situações e percepções comuns, podemos afirmar que o lugar de aprendizado de novas formas de operar coletivamente também se dá no interior das subculturas. Entretanto, tal aprendizado não está livre das contradições e tensões colocadas pelo cotidiano no qual os jovens estão imersos e do qual se deslocam, ocasionalmente, para encontrar seus pares subculturais.

Assim, coadunando com o que defendemos inicialmente, o que estabelece sua unidade (de enfrentamento) não é, portanto, algo positivo que elas partilham, mas negativo: sua oposição a um inimigo comum, seja o Estado, os adultos, o mundo do trabalho, o capitalismo ou as regras gerais do convívio social. Se a condição geracional – "jovem" – fosse apenas um ponto de convergência em que se universalizariam diversos outros discursos por equidade de gênero, por direitos individuais, por liberdade de expressão, as músicas e textos produzidos pelos jovens representariam a tentativa de constituição de um conjunto de universais possíveis a conformar alguns "comuns", de unidade e enfrentamento (LACLAU, 2011). Se consideramos a cultura como modo de produção de significados e valores da sociedade, entendemos que uma das funções que os jovens afirmam ter vivenciado nas subculturas é justamente tensionar alguns destes sentidos, produzidos por outros dispositivos institucionais. E tal tensão se apresenta fora da vida nas subculturas, no trânsito cotidiano pelos espaços de vida institucionalizados. Mesmo que transitar por territórios e habitá-los seja exercício complexo e cada vez mais intensificado no mundo do capitalismo globalizado.

 

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Recebido em: 28/5/2017
Aprovado para publicação em: 3/9/2017

 

 

* Este artigo é resultado de Tese de Doutorado apoiada na forma de bolsa de estudos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e submetida às normas do comitê de ética em pesquisa com seres humanos da UFRJ.

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