SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.3 issue1Street Clinic: Contributions of and Challenges for a Practice Under ConstructionPhysical activity for work versus physical activity for leisure: the lack of information and encouragement in Médio Solimões region author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Saúde & Transformação Social

On-line version ISSN 2178-7085

Saúde Transform. Soc. vol.3 no.1 Florianopolis Jan. 2012

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Diferenças de gênero e fatores motivacionais para início do tabagismo em adolescentes

 

Gender differences and motivational factors for smoking initiation in adolescents

 

 

Cassiana Morais de OliveiraI*; Ricardo GorayebII**

IFaculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto (SP) - Brasil

IIUniversidade de São Paulo, Ribeirão Preto (SP) - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Um aspecto importante relacionado ao tabagismo é o fato que seu início ocorre predominantemente na adolescência. O objetivo desta pesquisa foi estudar os fatores motivacionais associados ao início do tabagismo, na percepção de adolescentes fumantes e não fumantes, e comparar esses fatores em relação ao gênero. Utilizou-se uma abordagem metodológica qualitativa por meio da Análise de Conteúdo Temática para avaliação das entrevistas. Participaram 80 adolescentes, alunos do ensino médio de uma escola estadual de Ribeirão Preto/SP, de ambos os gêneros, sendo 40 fumantes e 40 não fumantes, numericamente equiparados quanto ao gênero. A maioria das meninas, tanto as fumantes como as não fumantes, opinou que o que faz as pessoas começarem a fumar é o alívio de emoções negativas, já os meninos não fumantes apontaram a influência do modelo de um fumante, e os fumantes os aspectos relacionados à adolescência, como auto afirmação e inserir-se na turma. Sobre o que acham de pais fumantes, houve predomínio de verbalizações dos meninos não fumantes, e das meninas fumantes e não fumantes, na categoria má influência, e nas meninas não fumantes, na categoria não gosta. Em relação à opinião sobre amigos fumantes, verificou-se predomínio de verbalizações das meninas não fumantes, nas categorias não gosta e acha normal, e dos meninos não fumantes nas categorias prejudicando a sua saúde e das pessoas ao seu redor e não gosta. No grupo dos fumantes, em ambos os gêneros, o predomínio de verbalizações foi na categoria normal. Este estudo identificou elementos relevantes para subsidiar programas e pesquisas futuras de controle e prevenção do tabagismo em adolescentes.

Palavras-Chave: Motivação; Tabagismo; Gênero e Saúde; Adolescente.


ABSTRACT

An important aspect related to smoking is the fact that its onset is predominantly in adolescence. The objective of this research was to study the motivational factors associated with the onset of smoking, as perceived by smoker and nonsmoker adolescents and to compare these factors in relation to gender. It was used a qualitative methodology based in the Content Analysis to evaluate the interviews. Eighty adolescents participated. They were high school students at a public school of Ribeirão Preto/SP, of both genders, being 40 smokers and 40 nonsmokers. Most girls, both smokers and nonsmokers, stated that what makes people start smoking is the relief of negative emotions, while the nonsmoker boys pointed out the influence of a smoker model. The smoker boys referred mostly to adolescence-related aspects. Concerning what they think of smoker parents, there were predominantly nonsmoker boys’ and girls’ verbalizations, independent of the smoker condition, in the category of bad influence. Nonsmoker girls also answered in the category do not like. Concerning what they think about friends who smoke, the most frequent nonsmoker girls’ verbalizations were in the categories not like and think it is normal, while in the male sample, the predominance was in harming your own heath and of the people around you and do not like. In the smoker sample, of both genders, the predominant verbalization was in the category normal. This study identified important elements to prepare future programs and researches of smoking prevention and control.

Keywords: Motivation; Smoking; Gender and Health; Adolescent.


 

 

1. INTRODUÇÃO

O uso do tabaco teve início há centenas de anos, sob diversas formas e com diferentes propósitos culturais e sociais. Os primeiros a usarem o tabaco foram os índios, antes da colonização européia, em seus rituais religiosos e medicinais. Ao descobrirem o continente americano, os europeus encantaram-se com as supostas propriedades terapêuticas do tabaco, levando suas sementes para Europa, onde logo seu consumo se expandiu1,2.

Dados atuais da Organização Mundial da Saúde (OMS), disponibilizados pelo Ministério da Saúde3, indicam que um terço da população mundial adulta, isto é, um bilhão e 200 milhões de pessoas são fumantes. Isto significa que 47% de toda população masculina e 12% da população mundial feminina são fumantes. Nos países em desenvolvimento, os fumantes constituem 48% da população masculina e 7% da feminina, enquanto que nos desenvolvidos, o uso do tabaco pelas mulheres triplica, sendo que 24% das mulheres e 42% dos homens são tabagistas. Assim, um aspecto a ser destacado é a necessidade de considerar as diferenças de gênero associadas ao tabagismo. Um estudo que avaliou as diferenças de gênero nas condutas de saúde entre universitários da área da saúde mostrou que nos estudantes do gênero masculino o tabagismo teve maior prevalência. No entanto, a tentativa de parar de fumar foi maior nas mulheres, mostrando que homens e mulheres apresentam condutas de saúde diferentes4.

Outro ponto a ser considerado em relação ao tabagismo é o fato de seu início ocorrer, geralmente, na adolescência. Um estudo realizado na Hungria destacou a necessidade de controle do tabagismo na adolescência para que se consiga controlar efetivamente as doenças e morte por câncer e outras doenças associadas ao tabagismo5. No Brasil, dados do inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e mortalidade referida de doenças e agravos não transmissíveis, realizado em 2002 e 2003 em 15 capitais brasileiras e no Distrito Federal, mostraram que a prevalência de tabagismo variou de 12,9% a 25,2% de fumantes a partir de 15 anos ou mais6.

A adolescência é uma fase evolutiva peculiar ao ser humano, onde ocorre o processo maturativo biopsicossocial do indivíduo. É marcada pela aquisição da imagem corporal definitiva e também pela estruturação final da identidade dos jovens7. Diante desse processo de maturação, o adolescente busca modelos de identificação nos pais, irmãos, mídia e amigos8. Muitos comportamentos adotados pelos adolescentes estão relacionados ao fato dos mesmos quererem corresponder à s expectativas dos grupos sociais nos quais estão inseridos. Outro aspecto que caracteriza os adolescentes, fazendo com que estejam mais vulneráveis a se envolver em situações de risco à sua saúde, é o fato deles não acreditarem que os prejuízos do cigarro poderão atingi-los, não conseguindo avaliar consequências do seu próprio comportamento9. Essas características apontadas, somadas ao fato de que grande parte dos agravos na saúde do fumante só ocorrem no futuro, expõem ainda mais os jovens à dependência. Assim, o adolescente se sente livre das complicações e dos prejuízos ocasionados pelo tabaco, ou seja, não avalia as consequências que o comportamento de fumar pode lhe trazer a longo prazo. Assim, a problemática do tabagismo na adolescência envolve diferentes fatores e contextos a serem considerados e analisados.

O ambiente escolar é um importante contexto para se entender a influência do tabagismo nas relações entre grupos de pares, mostrando ser um importante espaço para implementações de ações eficazes no combate ao tabagismo10,11. O ambiente familiar também deve ser alvo das campanhas para cessação do tabagismo, pois o uso de tabaco pelos pais/mães no domicílio é um importante fator de risco relacionado ao tabagismo nos filhos12. Um estudo realizado com 459 alunos de escolas públicas no Rio Grande do Sul mostrou que os estudantes começam a fumar por influência dos amigos fumantes e destacou a importância de ações preventivas nesse grupo de risco13.

Considera-se que o desafio reside em pensar estratégias que contemplem as crenças, valores e motivação dos jovens frente ao tabaco, visando alcançar a decisão de não iniciar a dependência de nicotina e a compreensão da importância de seu abandono14.

Tendo em vista estas considerações, a presente pesquisa buscou compreender os fatores motivacionais associados ao início do uso do tabaco na percepção de adolescentes fumantes e não fumantes e comparar esses fatores em relação ao gênero.

2. PERCURSO METODOLÓGICO

A presente pesquisa constitui-se de um estudo exploratório de abordagem qualitativa, com uma amostra de conveniência.

Os participantes do estudo foram 80 alunos do Ensino Médio de uma escola pública estadual da cidade de Ribeirão Preto, do interior de São Paulo, sendo 40 fumantes e 40 não fumantes, numericamente equiparados quanto ao gênero.

Foi considerado fumante o adolescente que verbalizasse fumar pelo menos um cigarro por dia e não fumante o adolescente que verbalizasse não fumar nenhum cigarro. O número de sujeitos foi definido com base na saturação dos dados, considerando a metodologia da análise qualitativa15, bem como a composição dos subgrupos por gênero e em fumantes e não fumantes. Esta divisão permitiu contemplar a variabilidade necessária para a análise dos conteúdos verbais.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo de acordo com o processo nº 340/2007. Os estudantes participaram da pesquisa mediante manifestação de interesse e após autorização e assinatura sua e do responsável no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para coleta dos dados foi utilizado um roteiro de entrevista, composto por três questões abertas, elaborado especificamente para o presente estudo, a partir de dados presentes na literatura16,17. A primeira questão foi: “Na sua opinião o que faz as pessoas começarem a fumar?”. A segunda: “O que você acha dos pais que são fumantes?”. E a última: “O que você acha de um amigo que fuma?”.

As entrevistas foram realizadas numa sala privada na própria escola, em um único encontro com o adolescente, fora do horário de aula, individualmente e gravadas mediante autorização. Para análise dos dados foi utilizada a abordagem qualitativa com Análise de Conteúdo Temática15. O desenvolvimento teórico desta técnica preconiza a importância de ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância crítica, buscando atingir um nível mais aprofundado na análise qualitativa15. Neste estudo, inicialmente foi feita a seleção do material a ser analisado, retornando aos objetivos e hipóteses iniciais do estudo. Na sequência elegeram-se as unidades temáticas que norteariam a regra de contagem, que foi a frequência de aparições do tema no texto, e sistematizou-se os dados em categorias. Por fim, foram realizadas a análise e interpretação dos dados obtidos.

3 RESULTADOS

As respostas à questão sobre os motivos que levam uma pessoa a começar a fumar foram classificadas nas categorias e suas subcategorias apresentadas na Tabela 1.

Tabela1 – Frequência das categorias e subcategorias temáticas das verbalizações de meninas e meninos não fumantes e fumantes, estudantes de uma escola estadual de Ribeirão Preto/SP sobre o que faz as pessoas começarem a fumar (n=80)

 

A categoria alívio das emoções negativas mostrou reunir a maioria das verbalizações das meninas, tanto entre não fumantes como entre fumantes (Tabela 1). Nesta categoria, encontram-se verbalizações referentes à opinião dos participantes de que o início do tabagismo está relacionado ao alívio proporcionado diante de situações de nervosismo, estresse, ansiedade, tristeza e mesmo para esquecer os problemas. Apresenta-se abaixo relatos exemplificando esta categoria:

Acho que... pode ter mau relacionamento com os pais, não se dá bem com a família, sem amigos a coisa começa a ficar bem feia. Aí começa a sair, fica pensando, preciso fazer alguma coisa, acho que começa daí, começa a fumar, para esquecer as coisas ruim, por que não tem bom relacionamento com as pessoas, você tenta afogar aquilo que você não tem no cigarro. (Menina não fumante, 16 anos, pais não fumantes)

Na minha experiência foi muita angústia, muito sofrimento que eu passei, muito sofrimento, sem saber para onde ir, para que lado correr. E quando conheci o cigarro vi que ele me acalmou, é o desespero, a angústia, o nervosismo, o estresse, acho que é isso. (Menina fumante, 16 anos, pais fumantes)

Já nas verbalizações dos meninos, entre os não fumantes, o predomínio foi na categoria influência de modelos, que tem como exemplo “(...) tem muita gente que fuma por que meu amigo fuma, vou fumar também. Então eu acho que é uma coisa de moda hoje em dia.” (Menino não fumante, 16 anos, mãe não fumante).

Para os meninos fumantes, o predomínio de verbalizações sobre o que faz as pessoas começarem a fumar foi na categoria aspectos da adolescência, tais como auto-afirmação e inserir-se na turma. Esta categoria engloba as verbalizações referentes à s consequências da fase da adolescência que tornam os adolescentes mais vulneráveis a fumar, como mostra o relato abaixo:

Olha, é por que acha bonito, acha que é ser mais velho e coisa e tal, acho que isso influencia bastante a pegar o primeiro cigarro, nem sabe fumar, nem tragá, mais acha bonito e fica tentando. (Menino fumante, 18 anos, pai fumante, mãe ex-fumante)

Com relação à opinião dos adolescentes sobre os pais que são fumantes, a categoria má influência apresentou maior frequência de respostas entre meninos não fumantes e meninos e meninas fumantes. Entretanto para as meninas não fumantes a categoria não gosta foi mais frequente, como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 – Frequência das categorias temáticas das verbalizações de meninas e meninos não fumantes e fumantes, estudantes de uma escola estadual de Ribeirão Preto/SP sobre o que acham dos pais que são fumantes (n=80)

 

 

A categoria má influência agrupou verbalizações referentes à opinião dos participantes de como os pais que são fumantes influenciam seus filhos a fumarem também, como mostram os relatos abaixo:

(...) um mau exemplo por que, de certa forma influencia muito, eles podem até falar que faz mal à saúde, mas eles tão fumando ali, o espelho é o pai e a mãe, aquilo que eles vão passar tá muito ligado com a forma que eles agem. (Menino não fumante, 15 anos, pai não fumante e mãe ex-fumante)

Eu acho um problema quando os filhos é pequeno, já aconteceu de uma tia minha fumar perto dos meus primos, eu já vi um deles pegando a bituca de cigarro do chão e tentar fumar, quando é pequeno é má influência, sim. (Menina fumante, 18 anos, mãe fumante e pai falecido)

(...) eu acho que influencia para os filhos fumar também, por que ele não dá exemplo para o filho, ele não tem como falar para os filhos pararem de fumar, por que eles não dão exemplo. (Menino fumante, 18 anos, mãe não fumante e pai falecido)

A categoria não gosta incluiu relatos dos participantes demonstrando sua insatisfação com o cigarro, devido aos malefícios que ele provoca, como mostra o relato que se:

Eu acho horrível, não suporto cigarro. Minha mãe vendo tudo que meu avô passou, e continua fumando, eles não fumam nem na minha frente nem na do meu irmão. Toda vez que eles estão na nossa frente e que a gente pega eles com o cigarro, a gente chega e tira da boca deles e joga fora. (Menina não fumante, 16 anos, pais fumantes)

Como demonstra a Tabela 3, em relação à opinião dos adolescentes não fumantes sobre os amigos fumantes, houve um predomínio de verbalizações das meninas na categoria não gosta, por exemplo “(...) acho muito desagradável o cheiro.” (Menina não fumante, 15 anos, pai não fumante e mãe fumante), e na categoria normal, como mostra o relato, “Amigo que fuma, é..., se for só cigarro, acho normal, acho anti-higiênico, fede demais, mas não tenho nada contra não” (Menina não fumante, 17 anos, mãe fumante e pai falecido).

 

 

A categoria não gosta englobou relatos dos participantes demonstrando sua insatisfação com os amigos fumantes pelo fato de fumarem. Já a categoria normal, reuniu falas dos participantes que consideram normal o fato dos amigos fumarem.

As categorias prejudicando a sua saúde e das pessoas ao seu redor e normal foram mais frequentes nos relatos dos meninos não fumantes. A primeira agregou opiniões dos adolescentes referentes aos prejuízos causados pelo cigarro para a saúde dos amigos fumantes e para as pessoas ao seu redor, como mostram os exemplos a seguir.

Dependendo de onde ele está fumando, acho uma falta de respeito, por que a fumaça vem e todos se prejudica e não faz mal só para ele. (Menino não fumante, 17 anos, pais não fumantes).

Eu sempre prefiro ficar mais longe, uma por que eu não gosto do cheiro, nunca gostei e outra, sei lá, medo de ser influenciado também, apesar que eu odeio cigarro. (Menino não fumante, 15 anos, pai fumante e mãe não fumante).

Já entre os adolescentes fumantes, em ambos os gêneros, o predomínio de verbalizações foi na categoria normal. “Nada contra, eu fumo também...” (Menina fumante, 17 anos, pai fumante e mãe não fumante).

“Normal, ele com vício dele e eu com o meu.” (Menino fumante, 17 anos, pais fumantes). Esta categoria contemplou falas dos participantes que consideram normal o fato dos amigos fumarem.

 

4. DISCUSSÃO

Neste estudo constatou-se que a motivação para o início do tabagismo repercute de forma diferente com relação ao gênero nos adolescentes. Nas estudantes do gênero feminino, fumantes e não fumantes, detectou-se uma representação funcional para com o cigarro, sendo este associado à fonte de prazer, alívio de sentimentos negativos, de situações de estresse, compensações da solidão, apoio em situações difíceis, assim como no estudo de Borges e Barbosa18, em que a maioria das entrevistadas relatou utilizar o cigarro como forma de obter alívio quando em contato com determinados sentimentos de ansiedade, raiva, rejeição, impotência e solidão.

Dessa forma, é importante que as campanhas de combate ao tabagismo adotem, além das estratégias vinculadas à maternidade, ações que orientem as mulheres sobre estratégias adequadas de alívio de tensão e estresse.

Os meninos não fumantes indicaram o modelo (de amigos, familiares e televisão) e os adolescentes fumantes apontaram os aspectos relacionados à adolescência (como o mecanismo da auto-afirmação e a necessidade de inserir-se na turma) como sendo as maiores influências para iniciar o tabagismo. Tal fato sugere que o fenômeno grupal está presente no cotidiano dos adolescentes do gênero masculino, mostrando a necessidade do sentimento de pertença e de identidade. Alguns optaram por negarem a existência de alguma influência, declarando ser um desejo, ou mesmo uma escolha, demonstrando a eventual presença de sentimento de onipotência presente na adolescência. No estudo de Almeida e Mussi14 a vontade própria também foi elencada como uma das razões para se começar a fumar.

Estudos apontaram que ter pais fumantes é um fator de risco para o início do tabagismo nos filhos. Além disso, os pais tabagistas foram referidos nestes estudos como má influência para seus filhos13,18-21. Na presente pesquisa, quanto à opinião dos adolescentes sobre os pais que são fumantes, verificou-se um predomínio de verbalizações dos meninos na categoria má influência, tanto para os adolescentes não fumantes como para os adolescentes fumantes. Nas verbalizações das meninas, a maior frequência ocorreu na categoria não gosta para as adolescentes não fumantes, e para as fumantes na categoria má influência. Pais tabagistas são alvo de preocupação, tanto pela influência negativa que representam para seus filhos, os quais muitas vezes os consideram modelos comportamentais e referências a serem seguidos, como pelos prejuízos à saúde dos familiares que recebem a fumaça passivamente. Pereira et al.22, apontaram associação entre o fumo pelos pais e a presença de problemas respiratórios nos filhos com menos de cinco anos de idade. Faz-se necessário conscientizar os pais fumantes da sua função de educadores e formadores de opinião, bem como serem sensibilizados a não fumarem em casa para reduzir a exposição dos conviventes ao cigarro.

No convívio externo aos domicílios, os amigos fumantes foram considerados uma grande influência23. No presente estudo, com relação à opinião dos adolescentes sobre os amigos fumantes, verificou-se um predomínio de verbalizações das meninas não fumantes nas categorias não gosta e normal, e de verbalizações dos meninos não fumantes nas categorias prejudicando a sua saúde e das pessoas ao seu redor e não gosta. Já no grupo dos adolescentes fumantes, em ambos os gêneros, o predomínio foi na categoria normal. Constatou-se que na opinião dos adolescentes fumantes houve uma tendência à normalizar o tabagismo alheio, sendo condizentes com a fase da adolescência onde eles tendem a possuir comportamentos e atitudes similares entre si, não avaliando as consequências de suas ações.

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo mostrou que os adolescentes do gênero masculino e feminino apresentam diferenças de opinião quanto à motivação para o início do tabagismo. O predomínio de verbalizações das meninas de que as pessoas fumam para alívio de situações difíceis sugere a importância da elaboração de intervenções abordando comportamentos alternativos para as adolescentes lidarem com o estresse, a ansiedade e a depressão.

Para o desenvolvimento de programas eficazes de prevenção do tabagismo e melhor treinamento dos profissionais é necessário conhecer a motivação desses jovens frente ao tabaco, suas crenças, as influências que se associam à dependência nicotínica e a análise do gênero. Tendo em vista que a influência social é muito presente na adolescência, concluiu-se a necessidade de envolver os jovens nas campanhas de combate ao tabagismo, as quais ofereçam espaços em que os adolescentes possam ser modelos adequados uns para os outros e que estimulem a avaliação dos riscos do cigarro, colocando-os no papel de multiplicadores.

 

Referências Bibliográficas

1. Rosemberg J. Pandemia do tabagismo: enfoques históricos e atuais. São Paulo: Secretária da Saúde do Estado de São Paulo/CIP/CVE; 2002.         [ Links ]

2. Borio G. Tobacco timeline: the twentieth century 1900-1949. http://www.tobacco.org/resources/history/tobacco_history Acesso em: 02.02.2011.         [ Links ]

3. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Tabagismo no Brasil e no mundo. http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp Acesso em: 01.04.2011.         [ Links ]

4. Colares V, Franca C, Gonzalez E. Conduta de saúde entre universitários: diferenças entre gêneros. Cad Saúde Públ 2009; 25(3): 521-528.         [ Links ]

5. Page RM, Piko BF, Balazs MA, Struk T. Social normative beliefs regarding cigarette smoking in Hungarian adolescents. Pediatrics International 2011; 53(5): 662-668.         [ Links ]

6. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis: Brasil, 15 capitais e Distrito Federal 2002-2003. Rio de Janeiro: INCA; 2004a. http://www.inca.gov.br/inquerito Acesso em: 24.03.2007.         [ Links ]

7. Osorio LC. Adolescente hoje. Porto Alegre: Artmed; 1992.         [ Links ]

8. Aberastury A, knobel M. Adolescência normal. Porto Alegre: Artmed; 1992.         [ Links ]

9. Gorayeb R, Netto JRC, Bugliani MAP. Habilidades de vida: estratégias para enfrentamento de condições adversas. In: Souza MCBM, Costa MCS (Orgs). Saúde mental numa sociedade em mudanças. Ribeirão Preto: FIERP; 2004. p. 95-104.         [ Links ]

10. Silva MP, Silva RMVG, Botelho C. Fatores associados à experimentação do cigarro em adolescentes. J Bras Pneumol 2008; 34(11): 927-935.         [ Links ]

11. Serradilha AFZ, Ruiz-Moreno L, Seiffert OMLB. Uso de tabaco entre estudantes do ensino técnico de enfermagem. Texto Contexto de Enferm 2010; 19(3): 479-487.         [ Links ]

12. Precioso J, Macedo M, Rebelo L. Relação entre o tabagismo dos pais e o consumo de tabaco dos filhos: implicações para a prevenção. Rev Port de Clín Geral 2007; 23: 259-266.         [ Links ]

13. Zanini R, Moraes A, Trindade A, Riboldi JML. Prevalência e fatores associado ao consumo de cigarros entre estudantes de escolas estaduais do ensino médio de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Cad Saúde Públ 2006; 22(8): 1619-1627.         [ Links ]

14. Almeida AF, Mussi FC. Tabagismo: conhecimento, atitude, hábito e grau de dependência de jovens fumantes em Salvador. Rev Esc de Enferm 2006; 40(4): 456-463.         [ Links ]

15. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec/Abrasco; 1994.         [ Links ]

16. Malcon MC, Menezes AMB, Chatkin M. Prevalência e fatores de risco para o tabagismo em adolescentes. Rev Saúde Públ 2003; 37(1): 1-7.         [ Links ]

17. Tavares BF, Béria JU, Lima MS. Fatores associados ao uso de drogas entre adolescentes escolares. Rev Saúde Públ 2004; 38(6): 787-796.         [ Links ]

18. Borges MTT, Barbosa RHS. Cigarro “companheiro”: o tabagismo feminino em uma abordagem crítica de gênero. Cad Saúde Públ 2008; 24(12): 2834-2842.         [ Links ]

19. Fraga S, Ramos E, Barros H. Uso de Tabaco por estudantes adolescentes portugueses e fatores associados. Rev Saúde Públ 2006; 40(4): 620-626.         [ Links ]

20. Nascimento D, Soares EA, Feitosa S, Colares, V. O hábito do tabagismo entre adolescentes na cidade de Recife e os fatores associados. Rev Odonto Ciência 2005; 20(50): 348-353.         [ Links ]

21. Abreu MNS, Souza CF, Caiaffa, Tabagismo entre adolescentes e adultos jovens de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil: influência do entorno familiar e grupo social. Cad Saúde Públ 2011; 27(5):935-943.         [ Links ]

22. Pereira EDB, Torres L, Macedo J, Medeiros MMC. Efeito do fumo ambiental no trato respiratório inferior de crianças com até 5 anos de idade. Rev Saúde Públ 2000; 34(1): 39-43.         [ Links ]

23. Hallal, ALC, Gotlieb, SLD, Almeida, LM, Casado. Prevalência e fatores associados ao tabagismo em escolares da região sul do Brasil. Rev Saúde Públ 2009; 43(5): 779-88.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Ricardo Gorayeb
Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Campus Universitário,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, CEP: 14048-900
e-mail: rgorayeb@fmrp.usp.br

Artigo encaminhado 21/11/2011
Aceito para publicação em 30/01/2012

 

 

Notas

*Psicóloga do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
**Livre docente