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Saúde & Transformação Social

versão On-line ISSN 2178-7085

Saúde Transform. Soc. vol.4 no.4 Florianopolis out. 2013

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Victória Secaf: Contribuições para a Educação em Enfermagem

 

Victória Secaf: Contributions to Nursing Education

 

 

Anna Maria Meyer Maciel RodríguezI*; Monise Martins da SilvaI*; Ludmila Barbosa Bandeira RodriguesI**; Marilia Ferranti Marques ScorzoniI***; Sonia Maria Villela BuenoI****

I Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Introdução: Pensadores do século passado e atual influenciaram, ao seu modo e ao seu tempo, a pedagogia, a didática e a educação na saúde. Nesse sentido, as obras da enfermeira Victória Secaf, têm contribuído para o aprimoramento destes processos, pois têm se dedicado à formação docente desse profissional. Objetivo: Levantar dados da literatura sobre Victória Secaf enquanto considerável pensadora com significativa importância na educação para a saúde e especialmente para a enfermagem. Metodologia:Trata-se de uma pesquisa qualitativa desenvolvida através de um estudo descritivo, analítico e documental sobre Victória Secaf, o que nos permite extrair as identificações desta pensadora em foco, tendo em vista o seu acervo biográfico e suas contribuições no processo de educação e consequentemente na saúde e enfermagem. Discussão: A autora valoriza a formação do enfermeiro como docente, a publicação cientifica, a História da Enfermagem, além de estudar a imagem do enfermeiro e sua posição perante a sociedade, a ética e a legislação. Semelhanças de Secaf com alguns pensadores se fazem presentes à medida que valorizam o incentivo à curiosidade do aluno que transforma a sua postura, contribuindo para uma aprendizagem ativa e compartilhada. Reconhece-se a relevância da capacitação para o ensino e a pesquisa, visando à produção de conhecimento, destacando entre outros aspectos, o papel social do docente. Conclusão: Secaf trouxe importantes contribuições para se pensar e refletir a pedagogia, a didática e a educação, especialmente no que se refere ao profissional enfermeiro. Com relação a sua formação docente fica evidenciada a necessidade de se investir na qualificação, tendo em vista que, enquanto educador, é capaz de transformar a realidade. Cabe ressaltar que para o fortalecimento da profissão e da sua imagem social, a valorização da Historia da Enfermagem, o incentivo à produção e socialização do conhecimento científico, ressaltadas por suas obras, se fazem imprescindíveis.

Palavras-chave: Educação; Educação em Enfermagem; Prática do Docente de Enfermagem


ABSTRACT

Introduction: Thinkers of the past century and current, influence, in their own way and in his time, pedagogy, didactics and education on health. In this sense, the works of Victoria Secaf nurse, has contributed to the improvement of these processes as they have been dedicated to this professional teacher training. Objective: To obtain data from the literature on Victoria Secaf while considerable thinker with significant importance in health education and especially for nursing. Methodology:This is a qualitative research conducted through a descriptive, analytical and documentary about Victoria Secaf, which allowed us to extract the identifications of this thinker in focus in view its collection biographical and their contributions in the education process and consequently in health and nursing. Discussion: The author appreciates nursing education as a teacher, a scientific publication, the History of Nursing, besides studying the image of nurses and their position in society, ethics and law. Secaf similarities with some thinkers are present will appreciate as encouraging student curiosity that transforms your posture, contributing to active learning and shared. We recognize the importance of training for teaching and research, aiming at the production of knowledge, highlighting among other things, the social role of the teacher. Conclusion: Secaf brought important contributions to think and reflect pedagogy, didactics and education, especially with regard to professional nurse. With respect to your teacher training is evident the need to invest in qualifying, given that, as an educator, is able to transform reality. Note that for strengthening the profession and its social image, the appreciation of the history of nursing, encouraging the production and socialization of scientific knowledge, highlighted by their works, if they must.

Keywords: Education; Nursing Education; Nursing Faculty Practice.


 

 

1. INTRODUÇÃO

Para aprofundar nossos conhecimentos teóricos, sobre a educação, fizemos diversas leituras e produtivas discussões sobre alguns pensadores que influenciaram, ao seu modo e ao seu tempo, a pedagogia, a didática e a educação na saúde. Tivemos a oportunidade de conhecer a contribuição de diversos pensadores da educação do século passado e do atual. Nesse sentido, a enfermeira e pensadora Victoria Secaf têm contribuído, com toda sua obra, para o aprimoramento dos processos supramencionados. Escolhemos estudar a referida pensadora, por ser enfermeira e ter se dedicado à formação docente desse profissional, o que nos despertou bastante curiosidade.

 

2. OBJETIVO

Neste estudo, propomos levantar dados da literatura sobre Victoria Secaf enquanto considerável pensadora com significativa importância na educação para a saúde e especialmente para a enfermagem.

 

3. PERCURSO METODOLÓGICO

O presente estudo é uma pesquisa qualitativa baseada em um estudo descritivo, analítico e documental sobre Victoria Secaf, o que nos permite extrair as identificações desta pensadora em foco, tendo em vista o seu acervo biográfico e suas contribuições no processo de educação e consequentemente na saúde/Enfermagem.

 

4. RESULTADOS

Victoria Secaf é enfermeira graduada pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP). Fez Mestrado e Doutorado pela Escola de Enfermagem da USP (EE-USP), de onde é atualmente, professora aposentada. Cursou ainda, licenciatura em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Jornalismo Científico (Núcleo José Reis Escola de Comunicação e Artes - ECA - USP). É membro do Conselho Editorial e parecerista de várias revistas e de boletins de sociedades de especialistas e membro do Grupo de Pesquisa Histórica da Profissão de Enfermagem, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Autora de inúmeros trabalhos publicados em periódicos, desde o início de sua carreira, Secaf vem orientando e aperfeiçoando trabalhos científicos de alunos e profissionais de diferentes especialidades. Embora tenha formação em Enfermagem, sua obra alcança diversas áreas do conhecimento, propondo se a orientar e incentivar os profissionais na redação e produção científica1.

Em seu livro Enfermeiras do Brasil: história das pioneiras, escrito em parceria com Hebe Canuto da Boa-Viagem de Andrade Costa, publicado em 2007, pela editora Martinari, São Paulo, é retratada a história de vida de 15 enfermeiras pioneiras brasileiras, dentre elas: Edith Magalhães Fraenkel, Glete de Alcântara e Wanda Horta. Um dos objetivos dessa publicação foi divulgar o trabalho precursor de enfermeiras brasileiras que contribuíram, em diversos períodos de atuação para: a melhoria das condições de saúde daqueles que ficaram sob seus cuidados e para o aperfeiçoamento, modernização e fortalecimento da profissão, principalmente, por meio da realização de pesquisas científicas. Nota-se o interesse e a preocupação de Victoria Secaf, com a História da Enfermagem, com a postura do enfermeiro perante a sociedade, a legislação e a ética, observando a evolução da profissão, além de enfatizar a inserção da educação na docência em enfermagem2,3.

Em Artigo Científico: do desafio à conquista, a autora oferece aos leitores, instrumentos e ferramentas para vencer a dificuldade da escrita e elaborar projetos de pesquisa, artigos, teses, entre outros. Em sua quarta edição, acrescentaaelaboração dos currículos Vitae e Lattes, informações sobre base Qualis e a bibliografia atualizada, utilizando referências que abrangem diversas áreas do conhecimento, incluindo a Constituição Federal de 1988. Trata da relevância do planejamento das ações a serem realizadas, de aspectos cruciais como a coesão, a coerência e a clareza textuais, orientando, por exemplo, quanto às diferenças entre resumo, sinopse, sumário, resenha e recensão, abordando o adequado emprego dos tempos verbais nas diversas etapas de construção da redação científica1. Foi uma obra produzida a partir da vivência de ensino e pesquisa da autora em questão, trazendo uma linguagem de fácil compreensão, tendo em vista a contribuição social para o avanço da ciência e divulgação de novas experiências para aprimorar e renovar o processo de trabalho em saúde4.

Em seu artigo Levantamento de recursos e necessidades de enfermagem no Brasil - um documento da década de 50 do século XX, escrito em parceria com Maria Cristina Sanna, publicado em 2003, pela revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, descreve o documento que leva o nome do artigo. O documento foi organizado em cinco partes (enfermeiros em atividade e inativos, enfermagem hospitalar, enfermagem em Saúde Publica, escolas/cursos de auxiliar de enfermagem e escolas de enfermagem) e colaborou para a caracterização da força de trabalho, das condições de funcionamento das escolas de formação profissional, além de fazer considerações sobre a relevância do estudo da história da Enfermagem Brasileira5.

Em Artigo científico: o ato de escrever e publicar, de 2000, publicado pela revista Brasileira de Hipertensão, Ribeirão Preto, salienta a relevância de difundir o conhecimento científico, seja por meio da imprensa escrita e eletrônica especializadas ou eventos que permitam a atualização dos profissionais nas diferentes áreas de interesse. Relacionou aspectos da construção de um artigo que contribuem para o parecer favorável do conselho editorial dos periódicos, de maneira similar à abordagem utilizada em seu livro: Artigo científico: do desafio à conquista6.

Em Ética no jornalismo e na divulgação científica, publicado no mesmo ano, pela revista Psiquiatria na prática médica, São Paulo, refere que o direito à informação é universal, garantido desde a Declaração dos Direitos do Homem, sancionado na Constituição Brasileira Federal e corroborado no Código de Defesa dos Direitos do Consumidor. Além disso, apontou o papel da ordem ou conselho de classes frente à falta de ética tanto na mídia científica quanto na prática profissional7.

Em seu artigo Doutores e doutorandos em enfermagem: motivos do mestrado em outras áreas, escrito em parceria com Paulina Kurcgant, publicado em 2001, pela revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, aponta os motivos pelos quais um grupo minoritário de enfermeiros, das Escolas de Enfermagem que possuíam cursos de Doutorado em Enfermagem no Brasil, em 1995, cursou Mestrado em outras áreas que não a de enfermagem. A análise dos depoimentos deste universo populacional permitiu uma nova leitura da prática de enfermagem, fundamentada na enriquecedora experiência interdisciplinar que contribui para a construção da história e desenvolvimento da Enfermagem Brasileira8.

Em seu artigo Enfermeiros que deixaram de exercer a enfermagem: por quê?, escrito em parceria com Antonia Regina Furegato Rodrigues, publicado em 1998, pela revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, descreve os motivos da evasão profissional de enfermeiros, formados entre 1972 e 1988, em 9 escolas de enfermagem, por meio de um questionário. Chegou à conclusão de que a baixa remuneração, melhores oportunidades fora da área, aspectos de sua formação, pessoais e políticos, assim como a estrutura do sistema de saúde da época contribuíram para a evasão profissional9.

Em A imagem da enfermeira e da profissão na imprensa escrita, repete a parceria com Maria Cristina Sanna, publicado em 1996, pela revista de Enfermagem da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, revela a percepção dos jornalistas sobre a imagem e identidade profissional da enfermeira perante a sociedade brasileira, publicada na forma de textos, em 1994, na imprensa paulista. Analisou o conteúdo escrito de reportagens, notícias policiais, seções ciência e saúde, crônicas, artigos, colunas e outros nas quais a enfermeira foi citada, concentrando-se em seis categorias (a formação e o exercício da profissão, o que a enfermeira faz, a enfermeira transgressora, a enfermeira vítima, a enfermeira cidadã-pessoa e a profissão como adjetivo). Concluiu que a imagem da enfermeira está associada ao ato de cuidar, mas é muitas vezes, confundida com a de outros profissionais da categoria, reforçada por aspectos negativos, estereotipados e errôneos que a generalizam. Nesse sentido, cabe a todos os profissionais da classe de enfermagem construir sua imagem na sociedade, revelando sua essencialidade10.

Em sua tese A Licenciatura em enfermagem e a prática de ensino: uma revisão crítica de sua evolução na Universidade de São Paulo aponta a importância do preparo do enfermeiro para o ensino, tanto nas atividades educativas quanto na formação de recursos humanos para a enfermagem. Um dos objetivos fundamentais foi descrever e comentar a evolução histórico-legal do curso de licenciatura em enfermagem e suas consequências, com ênfase na sua criação, na universidade de São Paulo, em 1974, por meio de pesquisa bibliográfica que permitiu a sistematização cronológica dos dispositivos legais básicos e específicos (leis, pareceres, resoluções, portaria e indicações) e dos registros de encontros, ofícios, atas de reuniões e outros eventos que contribuíram para a regulamentação do curso11.

Em Vamos escrever para publicar, de 1981, publicado pela revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, a autora questiona os motivos pelos quais os enfermeiros produzem pouco material científico, apesar das ricas experiências e criativas investigações em suas práticas profissionais. Sugeriu como estratégias de incentivo à publicação científica, a inclusão de disciplinas tais como: Metodologia de Pesquisa e Prática de Ensino de Enfermagem nas escolas de enfermagem, assim como a aproximação docente-discente visando à divulgação das experiências profissionais por meio de um artigo científico12.

Em Uma experiência no ensino de história da enfermagem, publicado em 1977, pela revista Brasileira de Enfermagem, Distrito Federal, ressalta a necessidade de inovar na prática do ensino em enfermagem, por meio de procedimentos e recursos didáticos e pedagógicos, visando instigar no aluno a curiosidade que contribui para o processo de aprendizagem. Enquanto docente da disciplina de História da Enfermagem e Obstetrícia na graduação de uma escola de enfermagem, aplicou atividades em grupo que permitiram uma aprendizagem ativa, socializada e compartilhada, baseada na motivação intelectual e florescimento da crítica discente13.

Em sua dissertação Atividade educativa da enfermeira: preparo e desempenho, Secaf refere que o desenvolvimento das ações educativas é inerente à rotina de muitos profissionais, em especial, da enfermeira, e dependem, em grande parte, do preparo recebido durante a graduação. Para tal, é necessária a inclusão de princípios de pedagogia e didática no currículo básico das escolas de enfermagem, que permitam a capacitação adequada para a prática educativa. Assim, um dos seus objetivos foi verificar se as ex-alunas das duas Escolas de Enfermagem da Universidade de São Paulo consideravam adequado o ensino da disciplina de didática oferecido na graduação, analisando a carga horária, conteúdo, aplicabilidade e a forma como era ministrada nos anos de 1971 a 1974, por meio de questionários14.

Diante do título apresentado, isto nos levou a buscar dados da literatura sobre Vitória Secaf, desenvolvendo a metodologia que se segue.

 

5. DISCUSSÃO

Ao relatar sobre a formação docente em sua prática, segundo Victoria Secaf, faz-se necessário uma análise dos processos de ensino como: o conhecimento que os professores têm, os seus conteúdos pedagógicos e como estes se transformam em ensino. Logo, sob o ponto de vista didático-pedagógico, o conteúdo de ensino ou pedagógico que apresenta maior relevância é aquele que representa uma combinação entre o conhecimento da matéria e o conhecimento do modo de ensinar, assim como a forma de construção deste conhecimento. Em outras palavras, significa estabelecer uma unidade entre a teoria e a prática15,16. Assim, ao realizarmos o levantamento deste acervo bibliográfico percebemos que Victoria Secaf valoriza a formação do enfermeiro como docente. Ela dá relevância à História da Enfermagem desde os primórdios e sua evolução, estuda a imagem do enfermeiro e sua posição perante a sociedade, a ética, a legislação e a publicação científica.

Ao relacionarmos Victoria Secaf com alguns pensadores, tais como: Antônio Nóvoa17 e Paulo Freire18 encontramos semelhanças quando esses fazem uma comparação entre a pedagogia tradicional que era baseada na transmissão dos conhecimentos e com a ruptura provocada pela pedagogia pós-moderna que coloca os alunos no centro do sis­tema. Ao compará-los, esses três educadores buscam inovações e pregam que a pedagogia moderna precisa ser reinventada na sociedade contemporânea e que a aprendizagem contribui para o desenvolvimento e o bem-estar na formação dos alunos, especialmente os de enfermagem.

Uma das características marcantes que observamos na autora, foi a consciência crítica que ela apresenta, semelhante à de Freire19. Ambos mencionam o anseio de profundidade na análise dos problemas, não se satisfazendo apenas com as aparências. Reconhecem que a realidade é mutável. Substituem situações ou explicações mágicas por princípios autênticos da causalidade, estão sempre dispostos às revisões, ao se depararem com um fato, fazendo o possível para livrar-se de preconceitos, são indagadores, faces aos novos, não se repelem o velho por ser velho, nem aceitam o novo por ser novo, mas aceitam-nos na medida em que são válidos. Também veem a instrumentação da educação como algo mais que a simples preparação de quadros técnicos para responder às necessidades de desenvolvimento de uma área, dependendo da harmonia que se consiga entre a vocação ontológica deste ser situado e temporalizado e as condições especiais desta situacionalidade.

Ainda nesse sentido, Secaf defende, assim como Freire20, além da consciência crítica supracitada, o incentivo à curiosidade do aluno, capaz de despertar uma inquietação indagadora que transforma sua postura, de receptivo para dinâmico, contribuindo para uma aprendizagem ativa e compartilhada, baseada na autonomia e participação responsável do educando no processo de ensino-aprendizagem.

Tardif e Raymond21 juntamente com Secaf, se interessam pelo processo de relação entre carreira e socialização profissional. Referem que é impossível compreender a questão da identidade dos professores e profissionais sem inseri-los na história dos próprios atores, de suas ações, projetos e desenvolvimento profissional. Relatam que a socialização e a carreira dos professores não somente o desenrolar de uma série de acontecimentos objetivos, mas sim uma trajetória social e profissional que ocasiona custos existenciais como: formação profissional, inserção na profissão, choque com a realidade, aprendizagem na prática, descoberta de seus limites, negociações com os outros e demais. Essa historicidade se expressa e imprime nos saberes profissionais dos professores e nas experiências adquiridas no início da profissão, que são uma reativação e uma transformação dos saberes apreendidos nos processos de socialização. A dimensão temporal do trabalho é vista por estes autores como uma experiência da prática da profissão em uma carreira e é crucial na aquisição do sentimento de competência e na implantação das rotinas do trabalho, ou seja, na estruturação da prática.

Cabe ainda destacar que a autora, assim como Andre22 e Ludke23, reconhece a relevância da capacitação para o ensino e a pesquisa, por meio de disciplinas específicas, além de considerar a investigação, elemento essencial na formação e prática docentes que visa à produção de conhecimento, valorizando a autonomia e o papel social do docente.

É necessário que o docente tenha formação científica, pedagógica, prática, técnica e política, desenvolvendo assim, competências de um educador e saberes necessários à prática docente, a partir de uma práxis educativa comprometida com o saber-fazer docente, que sejam indispensáveis à vida do educador, para que esse possa desempenhar um trabalho de qualidade24. Para Victoria Secaf, o profissional enfermeiro está, a todo tempo, exercendo atividade educativa, seja na orientação ao paciente hospitalizado ou na comunidade. Daí, a importância de saber como esse profissional está sendo formado e como esta formação é por ele avaliada.

Segundo Garcia15, refletir a prática docente nos remete, em princípio, à análise dos processos de ensino, ou seja, é o conhecimento que os professores têm dos conteúdos pedagógicos e do modo como esses se transformam em ensino. Esta foi uma das questões que Secaf demonstrou preocupação em avaliar, onde o profissional enfermeiro é tido como um "agente de mudança" na perspectiva educativa freireana devendo, portanto, estar preparado para seu campo de atuação.

 

6. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

No levantamento biográfico de Victória Secaf, as publicações científicas selecionadas para a realização deste trabalho, frente ao objetivo proposto, se referiram à formação do enfermeiro como docente, ao incentivo à publicação científica, a História da Enfermagem, a imagem do enfermeiro e sua posição perante a sociedade, a ética e a legislação. Entretanto, somente aquelas com disponibilização online e física no acervo de uma universidade pública foram referidas neste trabalho. Apesar de a autora possuir mais de 30 publicações científicas, algumas abordam questões específicas da enfermagem, tais como: avaliação da qualidade dos serviços, segurança do paciente, regulamentação da profissão e não se relacionaram, segundo critérios adotados pelas autoras deste trabalho, com a temática da educação.

 

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise feita do acervo bibliográfico de Victoria Secaf constatamos que a presente educadora enfermeira trouxe grandes contribuições e inovações para refletir a pedagogia, a didática e a educação, sobretudo em enfermagem, especialmente no que se refere ao profissional enfermeiro, além de incentivar a produção do conhecimento científico e a publicação.

Com relação à formação docente do enfermeiro, segundo Secaf, fica evidenciada a necessidade de se investir na sua qualificação, tendo em vista o seu papel de agente educador capaz de transformar a realidade, conhecendo e valorizando a Historia da enfermagem.

Cabe ressaltar que para o fortalecimento da profissão e da sua imagem perante a sociedade, o incentivo à produção e socialização do conhecimento científico, ressaltadas por suas obras, se fazem imprescindíveis.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência
Anna Maria Meyer Maciel Rodríguez
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo
Email: nimeyer5@hotmail.com

 

Artigo encaminhado 20/08/2013
Aceito para publicação em 05/11/2013

 

 

Notas

* Mestranda do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública
** Doutoranda do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública
*** Mestranda do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica
**** Professora Associada III