SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.8 issue1Considerations on the profession of bus driver in Brazil: a literature reviewSupport breast by sexual abuse child: a literature review author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Estudos Interdisciplinares em Psicologia

On-line version ISSN 2236-6407

Est. Inter. Psicol. vol.8 no.1 Londrina jan.-june 2017

 

Artigos

 

Práticas parentais: reflexões sobre relatos de familiares de usuários de crack

 

Parenting practices: reflections on amily members of crack users reports

 

Práticas parentales: reflexiones sobre informes de familiares de usuarios de cracks

 

 

Maria das Graças Rojas SotoI i; Verônica Fabíola RoziscaI ii; Rivaldo Venâncio da CunhaII iii

I Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

I Fundação Oswaldo Cruz

 

 


Resumo

As características na dinâmica familiar podem influenciar no consumo de drogas. O estudo objetivou compreender práticas parentais em famílias de usuários de crack. Este é um estudo qualitativo, realizado por meio de entrevistas individuais com 20 familiares de usuários de crack cadastrados em um serviço público de saúde mental de um município do Mato Grosso do Sul. A coleta de dados ocorreu entre novembro-dezembro/2014 e os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo. Na maioria das famílias, as regras são estabelecidas pela mãe e seu descumprimento acarreta punição física. Os filhos são descritos como muito obedientes, porém as ordens ditadas são vagas ou ambíguas, o que resulta na ausência de limites claros a serem seguidos. Conclui-se que tal dinâmica dificulta o desenvolvimento da regulação emocional, tolerância à contrariedade, resistência à frustração e habilidades de negociação e solução de problemas, que podem influenciar no consumo do crack.

Palavras-chave: crack; relações familiares; estilo parental.


Abstract

Features of family dynamics may influence drug consumption. This study aimed to comprehend parenting practices in families of crack cocaine users. This is a qualitative research, carried out through individual interviews applied to 20 family members of crack cocaine addicts enrolled at a mental health public service in city of Mato Grosso do Sul/Brazil. Data were collected from November to December of 2014 and analyzed by the content analysis technique. In most families, rules are established by mother and their break leads to physical punishment. Children are described as obedient, but the dictated orders are vague or ambiguous, resulting in the absence of clear limits to be respected. We conclude that such dynamics hinder the development of emotion regulation, tolerance to opposition, resistance to frustration, and skills of negotiation and problem solving, what may influence the consumption of crack.

Key words: crack; family relations; parenting style.


Resumen

Características en la dinámica familiar pueden influir en el consumo de drogas. El estudio tuvo como objetivo comprender prácticas parentales en familias de usuarios de crack. Este es un estudio cualitativo, realizado mediante entrevistas individuales con 20 familiares de usuarios de crack registrados en un servicio público de salud mental de un municipio de Mato Grosso do Sul. Los datos fueron recolectados entre noviembre-diciembre/2014, y analizados según la técnica de análisis de contenido. En gran parte de las familias, la madre determina las reglas y no cumplirlas causa castigo físico. A los hijos se los describe como muy obedientes, pero las órdenes son vagas o ambiguas, lo que resulta en ausencia de límites claros a los cuales atenerse. Se concluye que tal dinámica dificulta el desarrollo de regulación emocional, tolerancia a contrariedad, resistencia a frustración y capacidad para negociar y solucionar problemas, y puede influir en el consumo de crack.

Palabras clave: crack; relaciones familiares; estilo parental.


 

Introdução

O consumo do crack no Brasil foi registrado por primeira vez na década de90 e, desde então, vem aumentando nas capitais e no interior. Em 2012, o paísfoi apontado como o maior mercado mundial de consumo de crack (Laranjeira,Madruga, Pinsky, Mitsushiro, & Caetano, 2012) e o último levantamento nacionalrevelou 370 mil usuários de crack nas capitais brasileiras, númerocorrespondente a 35% dos indivíduos que consomem drogas ilícitas no país(Fundação Oswaldo Cruz [FIOCRUZ] & Instituto de Comunicação e InformaçãoCientífica e Tecnológica em Saúde [ICICT], 2014).

Apesar de o crack figurar em 10º lugar entre as drogas mais consumidasno Brasil (com exceção do álcool e do tabaco), os prejuízos que este acarretaconvertem-no em um problema de saúde pública e de relevância acadêmica(Laranjeira et al., 2012). Dentre as consequências do consumo de crack, sãorelatados danos diretos, como problemas pulmonares, cardiovasculares, necrosemuscular, prejuízos neurocognitivos, comprometimento do sistema imunológico,e os indiretos, como infecção por HIV e outras doenças sexualmentetransmissíveis. Além destes, não são poucos os prejuízos sociais resultantes,como isolamento, problemas no convívio familiar, dificuldades ocupacionais,comprometimento do lazer e da gestão financeira (Sayago, Lucena-Santos,Ribeiro, Yates, & Oliveira, 2013) e nível de qualidade de vida inferior ao deindivíduos que não fazem uso de substâncias psicoativas (Moreira et al., 2013;Moura, Benzano, Pechansky, & Kessler, 2014).

Segundo FIOCRUZ e ICICT (2014), embora atinja todas as camadassociais, gênero e idade, o perfil dos consumidores de crack é de adultos jovens(média 30 anos), predominantemente do sexo masculino, maioria de cor negraou parda, de baixa escolaridade (ensino fundamental), maioria solteira, emsituação de rua e poliusuários (com sobreposição de álcool e tabaco). Dentre osmotivos que levaram ao consumo de crack ou similares, cerca de 1/3 dos usuários afirmam tê-lo iniciado devido a problemas familiares e afins,corroborando os dados de estudos norte-americanos com população de usuáriosde drogas em geral.

A questão da influência familiar no consumo de drogas tem sido abordadasob diversos paradigmas, tão complexa ela se mostra. Em uma concepçãosistêmica a família é compreendida como um sistema social em que os seuselementos se encontram ligados por uma teia relacional e emocional, com umcaráter dinâmico e em constante mudança, influenciando-se mutuamente emum processo de retroalimentação destes entre si e entre estes e o meio. Ofenômeno é visto como um todo, com uma causalidade circular, sem começo esem fim.  Desta forma, o papel das famílias no processo de recuperação dopaciente, assim como de adoecimento, é considerado muito importante, umavez que a mudança familiar favorece a individual e vice-versa (Costa, 2010). Écom base nesta concepção que, cada vez mais, são elas alvo de intervenção dasequipes de saúde da atenção primária, que as veem como aliadas fundamentaise indispensáveis no tratamento do paciente usuário de drogas, buscando ocuidado integral do grupo familiar, oportunizando mudanças no grupo e nopaciente (Medeiros, Maciel, Souza, Tenório-Souza, & Dias, 2013; Paula, Jorge,Vasconcelos, & Albuquerque, 2014; Paula, Jorge, Albuquerque, & Queiroz, 2014;Claro et al., 2014). Este estudo apresenta autores que utilizam terminologia deabordagens clássicas, como a epidemiologia (fator de risco/ fator de proteção),somados a outros com um enfoque mais globalizado, buscando, por meio dacomplementaridade, compreender o fenômeno de forma mais integrada.

Pesquisas sobre o consumo de álcool e outras drogas no Brasil e nomundo revelam que o início da experimentação e consumo abusivo das drogasse dá na passagem da infância para a adolescência (Marquez & Cruz, 2000;Silva et al., 2014) e que as primeiras relações que o indivíduo estabelece nafamília guardam relação com este abuso.

Segundo Schenker e Minayo (2005) os fatores de risco para o consumo dadroga englobam aspectos culturais, interpessoais, psicológicos e biológicos,como disponibilidade das substâncias, privações econômicas, consumo de drogaspela família, conflitos familiares graves, baixo aproveitamento escolar, inícioprecoce do uso, suscetibilidade herdada e vulnerabilidade ao efeito das drogas.

Estudos apontam a existência de vínculos saudáveis - com delimitação dasresponsabilidades, limites claros, comunicação adequada, apoio e afeto familiar– como um fator protetor quanto ao consumo de drogas. Por meio da construçãode tais vínculos, a família comunica normas sociais salutares para seus membros(Schenker & Minayo, 2003; Schenker & Minayo, 2005; Paz & Colossi, 2013).Famílias com distanciamento afetivo, dificuldade de comunicação e confusão depapéis de pais e filhos, adotam modelos de comportamentos que podemtransmitir normas desviantes aos filhos, favorecendo o consumo de drogas e a permanência da dependência (Schenker & Minayo, 2003; Schenker & Minayo2005; Paz & Colossi, 2013). Assim, considerando a influência da família comofator de proteção ou de risco ao consumo de drogas, esta pode variar conformea dinâmica estabelecida no grupo (Schenker & Minayo, 2005; Paz & Colossi,2013; Silva et al., 2014, Horta, Vieira et al., 2014, Longmann-Mills et al., 2015).

Por outro lado, em uma visão sistêmica, considerando a causalidadecircular ou reversa, pode se observar que, se o sofrimento causado pelosconflitos familiares favorece o consumo de crack, por sua vez, os problemas como crack abalam profundamente a família, aumentam a disfunção no grupo econtribuem para o adoecimento deste, ambos se influenciando, portanto, deforma recíproca (Medeiros et al., 2013; Horta, Vieira et al., 2014, Claro et al.,2014).

Como primeiro núcleo social da criança, a figura dos pais e as práticasparentais adotadas têm grande influência no processo de construção dashabilidades sociais do indivíduo. Estas envolvem comportamentos comoassertividade, solução de problemas e empatia - aptidões fundamentais para oconvívio entre as pessoas (Lohr, 2001). O desenvolvimento das tais habilidadesestá vinculado intensamente ao ambiente familiar, às vivências e às práticassociais (Lubi, 2003).

Considerando os estilos parentais e sua influência sobre o consumo dedrogas, foi realizado um estudo abordando a maneira como os pais lidam comquestões de disciplina, hierarquia e apoio emocional na relação com os filhos(Benchaya, Bisch, Moreira, Ferigolo, & Barros, 2011). A pesquisa revelou maiorassociação de abuso de drogas por parte dos filhos com pais de estilosautoritário e permissivo. Os autores apontam a influência positiva do estiloautoritativo, relacionando-o ao desenvolvimento de competência social,assertividade, autoestima e independência. O estilo parental se refere àsatitudes dos pais na interação com os filhos em situações diversas, que podemapresentar afetividade, responsividade e autoridade. Considerando as formas decontrole, este pode ser classificado em: autoritário (com rigidez e autocracia,altos níveis de controle e baixa responsividade), autoritativo (com autoridadeenglobando cordialidade e vigilância, em que as condutas são monitoradascorrigindo atitudes negativas e gratificando as positivas) e permissivo (compoucas demandas de controle e responsividade, pouca afetividade e exigência)(Schenker & Minayo, 2003).

É comum encontrar nas famílias com dependentes químicos limitesgeracionais frágeis e conflitos no exercício dos papéis familiares. Nestas famílias,não estão bem delimitados os papéis de pais e filhos, de adultos com capacidadede estabelecer regras e crianças com consciência da existência destas; por estarazão, a disciplina fica enfraquecida ou inexistente (Moreira, 2004). Schenker eMinayo (2003) apontam nas famílias de dependentes químicos a existência de
dificuldades no estabelecimento de limites e a ambiguidade das regrasestipuladas.

Seleghim e Oliveira (2013) descrevem características no ambientefamiliar, consideradas desfavoráveis, que atuam como elemento facilitador aoconsumo de crack e outras drogas: ausência da figura materna ou paterna,deficiência nos vínculos entre os membros familiares que resulta em ausência decomportamentos de afeto, respeito e diálogo, regras familiares extremamenterígidas ou muito permissivas, cultura familiar implícita do consumo de álcool eoutras drogas, agressão física, verbal e/ou psicológica, desinformação edesconhecimento sobre consumo de crack e outras drogas. Dentre estesaspectos, grande parte se refere a papéis geracionais, disciplina e estilosparentais, o que denota a relevância em conhecer como funcionam estes fatoresnas relações intrafamiliares.

O objetivo deste estudo foi compreender as práticas parentais em relaçãoa autoridade, regras e atitudes geradas pelo descumprimento destas em famíliasde usuários de crack, tendo estes aspectos descritos pelo próprio grupo familiar.

Método

O presente artigo é parte de um estudo mais amplo denominado “Papel dadinâmica familiar no consumo do crack: aspectos socioculturais, demográficos epsicossociais” que teve como objetivo compreender o papel da dinâmica familiarno consumo do crack. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisaenvolvendo Seres Humanos, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul(protocolo nº 867.334 - 10/11/2014). A participação dos indivíduos foivoluntária e se deu após a assinatura do Termo de Consentimento Livre eEsclarecido (TCLE). O estudo utilizou uma abordagem metodológica qualitativa,exploratória e foi realizado em uma cidade de fronteira do estado de MatoGrosso do Sul, na divisa com o Paraguai.

Participantes

Participaram da pesquisa 20 familiares de usuários de crack cadastradosem um serviço público de saúde mental, sendo um familiar por cada usuário. Aamostra foi formada por conveniência e sua delimitação seguiu o critério desaturação das informações obtidas, que preconiza que a coleta seja encerradaquando os dados são considerados suficientes para atingir os objetivos dapesquisa e as falas começaram a se tornar recorrentes e repetitivas, semacrescentar novas informações ao conteúdo já apreendido (Fontanella, Ricas, &Turato, 2008).

Os critérios de inclusão foram: ser membro da família do usuário de crackque se encontra ou tenha passado por atendimento no serviço público de saúdemental desse município e idade superior a 18 anos. Os critérios de exclusão foram: estar no momento da entrevista sob o efeito de álcool ou outras drogas eaquelas com comprometimento cognitivo que resultasse em dificuldade paraentender ou responder às perguntas.

Instrumentos

Para a coleta de dados foram utilizadas entrevistas individuaissemiestruturadas, cujo roteiro abordava aspectos demográficos, culturais epsicossociais. Estavam assim constituídas: a primeira parte era referente àidentificação sociodemográfica dos participantes; a segunda era composta porsete questões abertas que permitiam ao entrevistado discorrer livremente sobreo tema proposto, e contemplavam: aspectos positivos e negativos do grupofamiliar, afinidades, preferências e descasos no grupo, conflitos e modo deresolução, regras e seu descumprimento, alegrias e afetividade, percepção dosentimento de ser amado, segundo a percepção da família a respeito de simesma. O instrumento foi previamente testado para avaliar a sua adequação àproposta do estudo, verificando-se a validade semântica do mesmo. O tempo deduração de cada entrevista foi de 20 a 45 minutos, durante o período denovembro a dezembro de 2014.

Procedimentos

A equipe da instituição selecionou os prontuários dos pacientes usuáriosde crack, em número de 60. Os pesquisadores gradativamente estabeleceramcontato com as famílias destes pacientes, convidando um membro do grupo aparticipar do estudo. Foram considerados membros das famílias as pessoasvinculadas aos pacientes que reconheciam a si mesmas como integrantes dogrupo familiar, não sendo exigido um determinado grau de parentesco parainclusão no estudo.

Os dados foram coletados no serviço público de saúde mental domunicípio - instituição que concentra as famílias dos usuários de crack por incluí-las no plano terapêutico do paciente - e no domicílio dos entrevistados. Asentrevistas foram realizadas sem a presença dos pacientes. Após gravadas etranscritas na íntegra, estas foram submetidas a repetidas leituras, tabuladas,codificadas com a letra P (participante) seguida de um número, e categorizada.

Os dados foram organizados e submetidos à análise de conteúdo temáticaproposta por Bardin (1977/2011), que utiliza um conjunto de técnicas de análiseda comunicação dos sujeitos, aliados a procedimentos sistemáticos e objetivosde descrição do conteúdo desta, para, por meio da inferência e da interpretação,produzir sentidos e significados do discurso. O processo compreende três fases:pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados.

A análise de todo o material resultou na organização de nove categoriastemáticas, sendo aqui abordada somente a categoria temática Regras e Limites:quem estabelece e forma de lidar com o descumprimento, gerada pelas respostas às perguntas “Como vocês definem regras na família? Quandodescumprem, o que se faz?”.

Resultados

São características da amostra, constituída pelos familiares quecompareceram para a entrevista: baixa escolaridade (14 no ensino fundamental– 70%), classe econômica desfavorecida (17 com renda inferior a 01 saláriomínimo - 85%), residentes em zona urbana (20 - 100%), em periferia (18 -90%), provenientes de famílias recasadas (16 - 80%), com número de uniõesque variam de 02 a 05. Os entrevistados foram em sua maioria do sexo feminino(15 mulheres e 05 homens), idade entre 31-60 anos (12 - 60%), com a seguinterelação familiar: 06 mães, 02 pais, 04 irmãs, 07 cônjuges e 01 sobrinha.

Os pacientes usuários de crack, cujos familiares participaram do estudo,eram de ambos os sexos, sendo a maior parte homens (13 homens e 07mulheres). A questão de gênero destes em relação à dinâmica familiar não foiavaliada neste estudo.

Resultante do processo de análise de conteúdo foi gerada a categoriatemática descrita a seguir, que diz respeito aos limites e práticas parentais nogrupo familiar, possibilitando a compreensão deste aspecto na dinâmica familiar.

Regras e Limites: quem estabelece e forma de lidar com o descumprimento.

Os relatos revelam ser a mãe a pessoa que define as regras na maiorparte das vezes (75%) nas famílias em que existe figura de autoridade:

Quem coloca mais as regras é a minha mãe. Depois que meu pai foi embora, eu era pequena tinha uns oito anos... a mãe (a respondente é irmã do usuário, referindo-se, portanto, à mãe de ambos) (P11)

...ela mandava em todos e nos castigava se não obedecíamos. Agora ela não tem mais regras sobre os filhos, tamo tudo grande, mas os filhos respeita, ela que manda (P14)

Há famílias em que todos ou ninguém estabelece regras e, na ausência deum modelo a seguir, nada é considerado inadequado e passível de correção:

...lá é tudo uma república, cada um no seu canto, ninguém manda em ninguém. Quando não faz eu pergunto: 'por que você não fez, coração? O que aconteceu?' E eles respondem: ' não aconteceu nada, eu não fiz de preguiça". E aí não dá nada, ninguém castiga ninguém. Desde pequeno é assim. Meus filhos nunca me desobedeceram (P6)

Observa-se dificuldade em alguns entrevistados em compreender oconceito de limites e regras, sendo estes muitas vezes relacionados àmanutenção dos filhos, como o ato de suprir alimentos ou escolarização, como épossível observar no questionamento de uma entrevistada ao pesquisador:“Como assim? Quem manda na casa e fala o que pode ou não fazer? Mantimentos, você diz? Antes, quando era pequeno, era eu que matriculava, euia pra escola, tudo” (P18).

É frequente na fala dos entrevistados a ambivalência no discurso dosresponsáveis ao ditar uma norma, a permissividade inerente a esta dubiedade eo relato de que os filhos foram crianças muito obedientes:

Eu falo pra eles 'você tem que fazer isso'... se não faz, eu falo de novo. O menino pequeno de 11 anos que decide o que ele quer fazer e o que quer que eu faça. A M. (filha usuária, 16 anos) é bem obediente, esses dias atrás ela foi em casa, - daí eu cozinho pra ela qualquer hora porque tem que se alimentar bem - daí comeu, tomou banho e falou 'mãe, eu já vou pra rua de novo'. E eu falei pra ela: 'espera um pouco, filha, arruma e limpa a casa pra mãe, que eu tenho que sair, depois eu volto e te levo'. É duro pra uma mãe levar a filha pra droga, mas fazer o quê, melhor usar na rua que em casa. Daí eu voltei e ela tava me esperando, tinha limpado a casa, lavado a louça... Ela sempre obedece quando a gente pede (P7)

Eles (dois filhos) me obedeciam sempre, né. Mas tem uma pracinha na frente da minha casa, lá eles começaram a usar. Meus filhos nunca me desobedeceram, o problema é que eles saiam pra brincar aí. Mas eu não dou regras (P9).

Quando eles (dois filhos) eram pequenos eu ia muito na escola, brigava com o diretor... uma vez uma professora puxou a orelha do meu filho e eu processei ela; às vezes o A. (filho usuário) tava com o problema com o professor que colocou ele pra fora da sala porque tava com birra dele, e eu discuti com o professor e arrumei outra escola, e aí já... passavam de ano (P18).

As crianças é tudo obediente, são todos educados. Tem um assim que dá mais um pouco de trabalho (filho usuário), sai assim, depois volta e às vezes quebra tudo. Mas é bonzinho também ele, bem bonzinho. Nunca mesmo eles me desobedecem (P16).

Sobre o descumprimento de regras, em 75% dos discursos este leva auma punição física. As conversas explicativas/ admoestadoras, ameaças, gritos exingamentos aparecem em 65% dos discursos. Os castigos, nos quais não hácoação física, mas sim admoestação e privação de algum prazer ou privilégio,aparecem como atitude corretiva em 25% dos discursos. Deve ser considerado ofato de que juntamente à punição física muitas vezes são relatados gritos e ameaças.

Quando abusa muito, apanha (os filhos)... então apanha assim na perna, uma paulada, mas assim dos bons, pra não esquecer mesmo. Quando eu era pequeno, eu era terrível, apanhava muito. Naquele tempo podia surrar, né? E minha mãe não tinha dó, batia mesmo (P3).

Se não faz o que manda... meu marido uns empurrão ele já me deu, mas eu dou também nele uns empurrão. Meu pai era muito agressivo com minha mãe, batia muito nela também. Os filhos tem hora que a gente dá um empurrãozinho, uns tapinha vai se não obedece. Em nós, eu lembro quando era criança, quando não fazia coisa direito, tomava uma surra e pronto (P10)

Às vezes falava as coisas, às vezes discutia. Ele (marido) quer falar mais alto, se estressar um pouco, ele fala bem alto. Tem muita briga na casa, violência psicológica... ele é especialista em violência mental, as palavras dele dói mais que qualquer tapa na cara. Diz que foi assim com ele quando era e pequeno e agora... com as crianças é assim também (P8).

Discussão

As características socioeconômicas da amostra deste estudo sãosemelhantes ao perfil do usuário de crack no Brasil descrito no últimolevantamento nacional (FIOCRUZ & ICICT, 2014) e estão alinhadas com apesquisa de Bernardy e Oliveira (2012) com famílias de infratores usuários dedrogas, na qual descrevem os participantes como sendo a maioria do sexofeminino, com idade entre 31 e 65 anos, com vários “casamentos”, e baixaescolaridade. A presença maior de mulheres entre os familiares entrevistados foianteriormente observada em outros estudos (Orth & Moré, 2008; Bernardy &Oliveira, 2012).

O fato de a mãe ser citada como a principal figura de referência deautoridade pode estar relacionado à tipologia familiar predominante no estudo,caracterizada pelo(s) recasamento(s) de um dos genitores ou ambos, uma vezque os filhos costumam permanecer com a mãe, que se responsabiliza por eles eos leva consigo nas demais uniões que realiza. A grande presença maternaaliada a altos índices de ausência paterna no lar foi apontada, também, emoutro estudo que aborda a estrutura familiar de usuários de crack (Narvaez etal., 2015).

A composição familiar mostra-se um aspecto relevante na compreensãodo funcionamento das famílias. Esta pesquisa revela uma maioria de famíliasreconstituídas (80%), cujos genitores (ou ao menos um deles) realizaram deduas a cinco uniões. Genovese e Genovese (1997), estudando regras emfamílias reconstituídas, relatam uma disciplina pouco clara e indefinida, o querelacionam às variações de regras e concessões a que estas vão sendosubmetidas, conforme cada novo arranjo vai sendo realizado. Outros estudosassociam separação parental com baixa coesão familiar e empobrecimento decomportamentos de controle dos filhos e de apoio dos pais (Wills & Yaeger,2003; Walker, Ainette, Wills, & Mendonza, 2007).

Cumprir as regras estabelecidas por algum adulto envolve o conceito dereconhecimento de limites, respeito por aquele que as estabeleceu e obediência.Esta última é entendida como a resposta mais adequada da criança à instruçãoparental e só pode surgir quando há direcionamentos, ordens ou pedidosparentais que a antecedam (Wahler, 1997).  São citadas como variáveis que ainfluenciam: clareza dos pedidos, valorização da resposta esperada responsividade parental (Bueno, Santos, & Moura, 2010), contexto familiar eestressores familiares (Bolsoni-Silva, Marturano, & Manfrinato, 2005).

O distanciamento afetivo entre pais e filhos, a disciplina severa e/ou inconsistente, a agressividade e a falta de atenção aos filhos causam efeitos muito prejudiciais para o indivíduo. A desatenção aos comportamentos apresentados pela criança, a ausência de regras claras e consequências consistentes, a punição aleatória, a negligência, a disciplina enfraquecida e o abuso físico são consideradas práticas educativas parentais negativas (Salvo, Silvares, & Toni, 2005)

A permissividade dos pais, caracterizada como a falta de limites e deorientação do comportamento das crianças, priva-as de conhecer suas emoçõese as possibilidades de resolução de seus problemas, prejudicando a aquisição daindependência quando adultos e o desenvolvimento do sentimento deconsideração pelo outro (Gottman & Declaire, 1997).

Horta, Horta et al. (2014) revelam que o consumo de drogas estárelacionado, entre outros fatores, ao descaso dos pais, descrevendo-o comoinversamente associado aos cuidados e supervisão destes com os filhos.Segundo os autores, famílias com cuidados mais diretos com os filhos possuemuma capacidade protetora maior frente ao consumo de drogas. Silva et al.(2014) destacam o funcionamento familiar coeso e adaptado, e as regras elimites inerentes a este, como fatores de proteção ao consumo de drogas.

Famílias em que não há figura de autoridade, como aparecem nesteestudo, nas quais todos ou ninguém determinam regras, fazem com que estasse tornem confusas, elásticas ou contraditórias, o que impossibilita à criançasaber o que se espera dela e o discernimento entre o que deve ou não fazer.

Segundo Piaget (1932/1994), a criança nasce na anomia e, por meio dascorreções de seus pais, vai adquirindo a consciência de dever, reconhecendo nosmais velhos a fonte e o modelo das regras, chegando, assim, à heteronomia eobediência. Ao negligenciar seu papel disciplinador e mais tarde, para protegê-los, buscar remediar os problemas que os filhos causaram por desrespeito àsregras e convenções sociais, os pais negam a estes as oportunidades deevolução moral. A autonomia - entendida como a capacidade de governar a simesmo, fase na qual se adquirem as noções de livre-arbítrio, respeito mútuo,autorregulação, reciprocidade, cooperação, lei de causa e efeito - não se pode desenvolver numa atmosfera de autoridade, opressão moral e intelectual etampouco na ausência de regras (Piaget, 1932/1994).

Quando às crianças e aos jovens não são oferecidas oportunidades deviver relações de respeito mútuo, reciprocidade, tomada de consciência, troca depontos de vista e estabelecimento de relações de cooperação, há a tendência ase manterem heterônomos e assim permanecerem quando adultos (Piaget,1932/1994).  O desenvolvimento de uma razão autônoma torna o ser humanolivre, com capacidade de julgamento e espírito crítico, sentido de experiência ecoerência lógica, independente de toda autoridade exterior. Esta maturidadeestá relacionada a uma segurança emocional prévia, que possibilita à criança odesafio de provar que pode ser livre (Winnicott, 1958/2011).

Costa, Cenci e Spies (2014), em seu estudo sobre conjugalidade eparentalidade na dependência de crack, descrevem famílias com fragilidade devínculos conjugais e parentais, problemas no estabelecimento de limites e noacompanhamento do desenvolvimento dos filhos. As autoras associam taisresultados às situações de subsistência que tiveram que ser administradas.Descrevem, também, a falta de apoio da rede primária - amigos e vizinhos - esecundária - escola e comunidade - como algo que contribui para a exposiçãoaos riscos, fato que aumenta as chances de envolvimento com drogas. Asprivações e dificuldades enfrentadas por estas famílias constituem-se emestressores familiares que prejudicam as relações no grupo (Wahler, 1997;Mondin, 2005). Fatores como educação, desemprego e qualidade dosrelacionamentos familiares também são citados por Faller et al. (2014).

As primeiras relações do indivíduo com o estabelecimento de ordens,deveres, responsabilidades e o reconhecimento destes na família parece seestender mais tarde na vida adulta no convívio em sociedade. Bucher-Maluschke(2007) revela a representação social de justiça em adolescentes infratores, noqual a palavra lei foi associada a palavras como obrigação, obediência, dever eimportante, e definida por estes como uma ordem à qual se deve obedecerincondicionalmente com a finalidade de evitar o caos e manter as pessoasseguras. Enquanto Faller et al.  (2014) apontam em seu estudo um grandenúmero de usuários de crack que apresentam muitos problemas com a lei, Silvaet al. (2014) revelam grande parte de encaminhamento judicial paraatendimento no CAPS AD, observando que o envolvimento com a justiça muitasvezes precede o ingresso no Sistema de Saúde.

Sayago, Lucena-Santos, Horta e Oliveira (2014), estudando o perfil clínicoe cognitivo de usuários de crack, descrevem grande prevalência decomportamentos de transgressão, dividindo estes achados em comportamentosde quebras de regras (70,3%) e antissociais (59,6%). Também apontamproblemas no funcionamento adaptativo, relações interpessoais, com variação de 84,6% a 97,6%, o que é um reflexo das habilidades sociais reduzidas nesta população.

Neste estudo observam-se muitos relatos de filhos educados, obedientes eque nunca deram trabalho. Estas também correspondem à descrição das mãesparticipantes de outra pesquisa sobre usuários de crack (Orth & Moré, 2008). Este dado chama a atenção pelo não raro envolvimento do usuário de droga,quando adulto, com questões de justiça, infração de leis e dificuldade deconvívio social, como descrito acima. Quando criança terá sido ele um indivíduocom forte característica de cumprimento de regras familiares que não pôdetransportar isto à vida adulta?  Ou, diante do observado neste estudo, terá sidoreconhecido como obediente devido à inconsistência e inexatidão das regrasfamiliares a serem seguidas?

Estudos realizados com famílias de dependentes químicos apontam paiscom dificuldade em estabelecer limites a seus filhos, e sugerem que isto poderesultar na falta de assertividade e na ambiguidade com relação a leis e normasmanifestados pelos jovens (Wahler, 1997; Schenker & Minayo, 2003; Costa etal., 2014).

A delegação das responsabilidades com relação aos filhos a outraspessoas e a fragilização dos vínculos conjugais e parentais cultiva umcomportamento irresponsável, sem a construção de uma relação de confiança(Schenker & Minayo, 2003; Costa et al., 2014). Isto pode ser devido aestressores familiares - como dificuldade econômica, desemprego, conflitoconjugal, violência, divórcio e isolamento social - que criam condições para queos pais respondam apenas aos estímulos aversivos provenientes doscomportamentos de seus filhos, isto é, tornam-se mais sensíveis e atentos aoscomportamentos inadequados destes reagindo prontamente a eles, emdetrimento de eventuais comportamentos adequados que passamdespercebidos. Isto prejudica os padrões de interação dos pais com a criança,levando a condutas mal adaptadas de manejo familiar (Mondin, 2005; Bueno etal, 2010; Costa et al., 2014).  Tais estressores são observados neste estudo,podendo prejudicar o manejo parental.

As práticas educativas parentais podem ser coercitivas – punição verbalou física – e não coercitivas – por meio da negociação, explicação e comandoverbal (Bueno et al., 2010). De acordo com estes autores, pesquisas relacionamproblemas comportamentais, como agressão, desobediência e delinquência, apráticas educativas parentais coercitivas. As práticas não coercitivas favorecema aprendizagem de comportamentos de obediência, ao contrário da punição, quenão se mostra efetiva para a aprendizagem de comportamentos adequados.

No descumprimento de normas, observa-se neste estudo o uso de ameaçae desqualificação do outro, no qual está misturado, à intenção de educar, odescontrole emocional frente ao desagrado que a infração de regras trouxe. A punição física aparece como o principal modo de correção do comportamento.Em todos os relatos, aqueles que batem nos filhos ou parceiros contam queapanhavam de seus pais ou avós quando crianças. Ao que tudo indica, é esta aforma que aprenderam para lidar quando não se sentem obedecidos. Mais doque propriamente educar, expressam deste modo suas emoções diante doenfrentamento de sua autoridade. Programas visando o relacionamento familiarpositivo como promoção à saúde e prevenção a riscos têm sido aplicados emoutros países, mostrando-se efetivos (Orpinas et al., 2014).

A dinâmica familiar é um dos aspectos que merece ser considerado nacompreensão do consumo do crack em meio a outros determinantes sociais maiscomplexos como a pobreza, o desemprego e a falta de perspectivas - problemasestes que atuam diretamente nas relações e qualidade das interações afetivasestabelecidas no grupo (Hart, 2013; Faller et al, 2014). Intervenções envolvendoo manejo familiar, visando a saúde de modo geral e o aumento de qualidade devida podem trazer grandes contribuições na recuperação dos usuários de crack (Narvaez et al., 2015).

Embora não exista qualquer relação de causalidade entre cumprimento de normas e consumo de crack, a ausência da capacidade de reconhecer regras (por não tê-las vivenciado ou pela ausência de clareza destas), e a consequente carência da habilidade de regulação emocional, cumpre um papel importante no desenvolvimento do indivíduo que, quando somado a fatores socioeconômicos, demográficos e culturais debilitantes, podem influenciar em excessos de qualquer natureza.

Este estudo possui uma limitação inerente à composição da amostra, umavez que esta foi formada exclusivamente por famílias institucionalizadas, que,em maior ou menor grau, recebem cuidados e orientações da instituição queatende o membro usuário de crack, e, por esta razão, podem apresentardinâmica familiar diferente daquelas sem nenhum acesso ao serviço de saúde.Outra limitação talvez seja o fato deste estudo não se ater ao gênero do usuáriode crack, o que poderia revelar características diferentes na dinâmica de suafamília.

Futuros estudos poderão apontar a existência de diferenças baseadas emgênero nas relações intrafamiliares desta população, como também se aspercepções a respeito de sua unidade familiar são diferentes entre famílias deusuários que são institucionalizadas e aquelas que não o são. Estudos utilizandopopulações comparadas de famílias de usuários de crack e famílias que nãopossuam membros usuários também poderão ampliar a compreensão dainfluência das práticas parentais no desenvolvimento dos membros do grupo.Despertada a curiosidade sobre as razões que levam alguns membros da famíliaa se tornem usuários de drogas e outros não, estudos considerando o ciclofamiliar, as variações ambientais e socioculturais, assim como a resiliência individual, contribuiriam muito para a compreensão das motivações que levam oindivíduo ao consumo de crack e outras drogas.

Considerações Finais

Os limites estabelecidos no grupo familiar dos usuários de crack deste estudo revelam-se dúbios e indefinidos, o que pode causar nos membros incompreensão da resposta esperada a estes. Isto exerce influência no desenvolvimento da autonomia e na autorregulação das emoções destes.

A coerção como modo de educar os filhos ensina a estes uma filosofia de medo e dor, que muitas vezes os acompanha por toda a vida, levando-os a repetir este padrão de comportamento como forma de relacionamento aprendida e a perpetuar a violência de geração em geração.

O uso de punição e desqualificação observado quando se dá o descumprimento das normas pode estar relacionado a vínculos relacionais fragilizados, modelos aprendidos e estressores de causa externa à família que podem prejudicar o manejo parental.

A violência presente nas práticas educativas, assim como a contradição presente nas regras, cumpre uma função de comunicação, porém inadequada e pouco eficaz. Compreendida como modo de comunicação, esta seria passível de modificação e transformação. No entanto, faz-se necessária a intervenção de outros, alheios ao grupo, e que conhecem outras formas de expressão, uma vez que isto dificilmente se dará com naturalidade dentro do ambiente familiar que utiliza esse mesmo código há gerações, não percebendo que este não é efetivo.

Este estudo conduz à reflexão sobre a importância da inclusão do grupo familiar no tratamento da pessoa usuária de crack e destaca a relevância da utilização de estratégias terapêuticas focadas no fortalecimento de vínculos e recuperação de laços afetivos e sociais. A utilização de conceitos da Terapia Comunitária e da Terapia Familiar poderia auxiliar os profissionais na formação e acompanhamento de grupos de famílias abordando os conflitos vivenciados em função da droga e favorecendo a sensibilização quanto à expressão do carinho nas relações intrafamiliares, em busca de mudanças no modo de lidar com o problema

Sugere-se a intervenção com ações educativas buscando diminuir as hostilidades, melhorar a comunicação entre os membros do grupo familiar, reduzir ganhos secundários e minimizar atitudes desqualificadoras e agressivas que, longe de cumprir o efeito de afastar o indivíduo da droga, reforçam o comportamento de consumo. Estas ações podem se dar por meio de confronto, semelhança e/ou identificação com outras famílias, no papel de coterapeutas, ou pela equipe de saúde por meio de sugestões e exposição de outros possíveis modos de atuação, visando propiciar a aprendizagem de novas formas de comportamento para lidar com conflitos. É importante que sejam abordadas as práticas parentais em uso, facilitando ao grupo reflexões e vivências que o possibilite romper com os moldes aprendidos e repetidos por gerações, auxiliando, assim, na modificação da dinâmica familiar, na promoção à saúde de outros membros e na recuperação dos pacientes.

Referências

Bardin, L. (2011). Análise de Conteúdo (6ª ed.). (L. A. Reto & A. Pinheiro, Trads.). São Paulo, SP: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1977).         [ Links ]

Benchaya, M. C., Bisch, N. K., Moreira, T. C., Ferigolo, M., & Barros, H. M. T. (2011). Pais não autoritativos e o impacto no uso de drogas: a percepção dos filhos adolescentes. Jornal de Pediatria, 87(3), 238-244. doi: 10.1590/S0021-75572011000300010        [ Links ]

Bernardy, C. C. F., & Oliveira, M. L. F. (2012). Uso de drogas por jovens infratores: perspectiva da família. Ciência, Cuidado e Saúde, 11(supl.), 168-175. doi: 10.4025/cienccuidsaude.v10i5.17072        [ Links ]

Bolsoni-Silva, A. T., Marturano, E. M., & Manfrinato, J. W. S. (2005). Mães avaliam comportamentos socialmente "desejados" e "indesejados" de pré-escolares. Psicologia em Estudo, 10(2), 245-252. doi: 10.1590/S141373722005000200011        [ Links ]

Bucher-Maluschke, J. S. N. F. (2007). Revisitando questões sobre lei, transgressão e família em suas interações com a psicologia, a psicanálise, o direito e a interdisciplinaridade possível. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23 (esp.), 89-96. doi: 10.1590/S0102-37722007000500017        [ Links ]

Bueno, A. C. W, Santos, B. C., & Moura, C. B. (2010). Obediência infantil: conceituação, medidas comportamentais e resultados de pesquisas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(2), 203-216. doi: 10.1590/S0102-37722010000200002        [ Links ]

Claro, H. G., Oliveira, M. A. F., Ribeiro, A. P. R., Fernandes, C. C., Cruz, A. S., & Santos, E. G. M. (2014). Perfil e padrão do uso de crack em crianças e adolescentes em situação de rua: uma revisão integrativa. SMAD Revista Eletrônica Saúde Mental, Álcool e Drogas, 10(1), 35-41. doi: 10.11606/issn.1806-6976.v10i1p-35-41        [ Links ]

Costa, C. B., Cenci, C. M. B., & Spies, D. W. (2014). Conjugalidade e parentalidade diante da dependência de crack de um filho. Contextos Clínicos, 7(2), 182-191. doi:10.4013/ctc.2014.72.06        [ Links ]

Costa, L. F. (2010). A perspectiva sistêmica para a clínica da família. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(esp.), 95-104. doi: 10.1590/S0102-37722010000500008        [ Links ]

Faller, S., Peuker, A. C., Sordi, A., Stolf, A., Souza-Formigoni, M. L., Cruz, M. S., … Kessler, F. (2014). Who seek public treatment for substance abuse in Brazil? Results of a multicenter study involving four Brazilian state capitals. Trends Psychiatry Psychotherapy, 36(4), 193-202. Recuperado de: http://www.scielo.br/pdf/trends/v36n4/2237-6089-trends-36-04-00193.pdf

Fontanella, B. J. B., Ricas, J., & Turato, E. R. (2008). Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas e, saúde: contribuições teóricas. Cadernos de Saúde Pública, 24(1), 17-27. doi: 10.1590/S0102-311X2008000100003        [ Links ]

Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. (2014). Pesquisa nacional sobre uso de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras? Rio de Janeiro, RJ: ICICT/ FIOCRUZ.         [ Links ]

Genovese, Z. K., & Genovese, T. A. (1997). Developing spousal relationship within stepfamilies. Families in Society, 78(3), 255-263. doi: 10.1606/1044-3894.773        [ Links ]

Gottman, J. C., & Declaire, J. (1997). Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos (A. C. Silva, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Objetiva.         [ Links ]

Hart, C. (2013). High price: A neuroscientist’s journey oneself-discovery that challenges everything you know about drugs and society. New York, NY: HarperCollins.

Horta, R. L., Horta, B. L., Costa, A. W. N., Prado, R. R., Oliveira-Campos, M., & Malta, D. C. (2014). Uso na vida de substâncias ilícitas e fatores associados entre escolares brasileiros, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense 2012). Revista Brasileira de Epidemiologia, 17(1), 31-45. doi: 10.1590/1809-4503201400050004        [ Links ]

Horta, R. L., Vieira, L. S., Balbinot, A. D., Oliveira, G. O., Poletto, S., & Teixeira, V. A. (2014). Influencia da família no consumo de crack. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 63(2), 104-112. doi: 10.1590/0047-2085000000013        [ Links ]

Laranjeira, R., Madruga, C. S., Ribeiro, M., Pinsky, I., Caetano, R., & Mitsuhiro, S. S. (2012). II LENAD - Levantamento Nacional de Álcool e Drogas. São Paulo, SP: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas, Universidade Federal de São Paulo.         [ Links ]

Lohr, S. S. (2001). Desenvolvimento das habilidades sociais como forma de prevenção. In H. J. Guilhardi, M. B. B. P. Madi, P. P. Queiroz, & M. C. Scoz (Orgs.). Sobre comportamento e cognição: Expondo a variabilidade (Vol. 8, Cap. 23, pp. 190-194). São Paulo, SP: ESETEC.         [ Links ]

Longman-Mills, S., Williams, Y. M. G., Rodriguez, M. O. M., Baquero, M. R. G., Rojas, J. D. G., Amaya, C. J., … Tinoco, L. I. S. (2015). The association between adult drug abuse and childhood maltreatment in students attending seven universities in five countries in Latin America and one country in the Caribbean. Texto Contexto Enfermagem, 24(sp), 26-32. doi: 10.1590/0104-07072015001ESP026

Marques, A. C. P. R., & Cruz, M. S. (2000). O adolescente e o uso de drogas. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22(2), 32-36. doi: 10.1590/S1516-44462000000600009.         [ Links ]

Medeiros, K. T., Maciel, S. C., Souza, P. F., Tenório-Souza, F. M., & Dias, C. C. V. (2013). Representações sociais do uso e abuso de drogas entre familiares de usuários. Psicologia em Estudo, 18(2), 269-279. doi:10.1590/S1413-73722013000200008.         [ Links ]

Mondin, E. M. C. (2005). Interações afetivas na família e na pré-escola. Estudos de Psicologia, 10(1), 131-138. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/epsic/v10n1/28016.pdf.         [ Links ]

Moreira, M. S. S. (2004). A dependência familiar. Revista da SPAGESP, 5(5), 83-88. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702004000100015.         [ Links ]

Moreira, T. C., Figueiró, L. R., Fernandes, S., Justo, F. M., Dias, I. R., Barros, H. M. T., & Ferigolo, M. (2013). Qualidade de vida em usuários de substâncias psicoativas, familiares e não usuários por meio do WHOQOL-BREF. Ciência & Saúde Coletiva, 18(7), 1953-1962. doi:10.1590/S1413-81232013000700010.         [ Links ]

Moura, H. F., Benzano, D., Pechansky, F., & Kessler, F. H. P. (2014). Crack/cocaine users show more Family problems then other substance use. Clinics, 69(7), 497-499. doi: 10.6061/clinics/2014(07)10.         [ Links ]

Narvaez, J. C. M., Pechansky, F., Jansen, K., Pinheiro, R. T., Silva, R. A., Kapczinski, F., & Magalhães, P. V. (2015). Quality of life, social functioning, family structure, and treatment history associated with crack cocaine use in youth from the general population. Revista Brasileira de Psiquiatria, 37(3), 211-218. doi:10.1590/1516-4446-2014-1494.         [ Links ]

Orpinas, P., Ambrose, A., Maddaleno, M., Vulanovic, L., Mejia, M., Butrón, B., … Soriano, I. (2014). Lessons learned in evaluating the Familias Fuertes program in three countries in Latin America. Revista Panamericana de Salud Pública, 36(6), 383-390. Recuperado de http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1020-49892014001100005.

Orth, A. P. S., & Moré, C. L. O. O. (2008). Funcionamento de famílias com membros dependentes de substâncias psicoativas. Psicologia Argumento, 26(55), 293-303. Recuperado de http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/pa?dd1=2525&dd99=view&dd98=pb.         [ Links ]

Paula, M. L., Jorge, M. S. B., Albuquerque, R. A., & Queiroz, L. M. (2014). Usuário de crack em situações de tratamento: experiências, significados e sentidos. Saúde e Sociedade, 23(1), 118-130. doi: 10.1590/S0104-12902014000100009.         [ Links ]

Paula, M. L., Jorge, M. S. B., Vasconcelos, M. G. F., & Albuquerque, R. A. (2014). Assistência ao usuário de drogas na atenção primária à saúde. Psicologia em Estudo, 19(2), 223-233. doi: 10.1590/1413-737222025006.         [ Links ]

Paz, F. M., & Colossi, P. M. (2013). Aspectos da dinâmica da família com dependência química. Estudos de Psicologia, 18(4), 551-558. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/epsic/v18n4/a02v18n4.pdf.         [ Links ]

Piaget, J. (1994). O juízo moral na criança (4ª ed.). (E. Lenardon, Trad.). São Paulo, SP: Summus. (Trabalho original publicado em 1932).         [ Links ]

Salvo, C. G., Silvares, E. F. M., & Toni, P. M. (2005). Práticas educativas como forma de predição de problemas de comportamento e competência social. Estudos de Psicologia, 22(2), 187-195. doi: 10.1590/S0103-166X2005000200008.         [ Links ]

Sayago, C. B. W., Lucena-Santos, P., Horta, R. L., & Oliveira, M. L. (2014). Perfil Clínico e Cognitivo de usuários de crack internados. Psicologia: Reflexão e Crítica, 27(1), 21-28. doi: 10.1590/S0102-79722014000100003.         [ Links ]

Sayago, C. B., Lucena-Santos, P., Ribeiro, F., Yates, M. B., & Oliveira, M., S. (2013). Fatores protetivos e de risco para o uso de crack e danos decorrentes de sua utilização: revisão de literatura. Aletheia, 42(3), 164-174. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n42/n42a14.pdf.         [ Links ]

Schenker, M., & Minayo, M. C. S. (2003). A implicação da família no uso abusivo de drogas: uma revisão crítica. Ciência & Saúde Coletiva, 8(1), 299-306. doi: 10.1590/S1413-81232003000100022.         [ Links ]

Schenker, M., & Minayo, M. C. S. (2005). Fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência. Ciência & Saúde Coletiva, 10(3), 707-17. doi: 10.1590/S1413-81232005000300027.         [ Links ]

Seleghim, M. R., & Oliveira, M. L. F. (2013). Influência do ambiente familiar no consumo de crack em usuários. Acta Paulista de Enfermagem, 26(3), 263-68. doi: 10.1590/S0103-21002013000300010Links ] Arial, Helvetica, sans-serif" size="2">.

Silva, C. C., Costa, M. C. O., Carvalho, R. C., Amaral, M. T. R., Cruz, N. L. A., & Silva, M. R. (2014). Iniciação e consumo de substâncias psicoativas entre adolescentes e jovens de Centro de Atenção Psicossocial Antidrogas/CAPS-AD. Ciência & Saúde Coletiva, 19(3), 737-745. doi: 10.1590/1413-81232014193.15922013        [ Links ]

Wahler, R. G. (1997). On the origins of children compliance and opposition: family context, reinforcement, and rules. Journal of Child and Family Studies, 6(2), 191-208. doi: 10.1023/A:1025050724559        [ Links ]

Walker, C., Ainette, M. G., Wills, T. A., & Mendonza, D. (2007). Religiosity and substance use: test of an indirect-effect model in early and middle adolescence. Psychology of Addictive Behaviors, 21(1), 84-96. doi: 10.1037/0893-164X.21.1.84        [ Links ]

Wielewicki, A., Santos, B. C., & Costelini, C. P. (2011). Variáveis e procedimentos de controle do comportamento de obedecer em crianças: uma análise da literatura. Temas em Psicologia, 19(2), 541-562. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2011000200016        [ Links ]

Wills, T. A., & Yaeger, A. M. (2003). Family factors and adolescents substance use: models and mechanisms. Current Directions in Psychological Science, 12(6), 222-6. doi: 10.1046/j.0963-7214.2003.01266.x        [ Links ]

Winnicott, D. W. (2011). A família e o desenvolvimento individual (4ª ed.). (M. B. Cipolla, Trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1958).         [ Links ]

 

Endereço para correspondência
Maria das Graças Rojas Soto

e-mail: gracyrojas@hotmail.com

Endereço para correspondência
Verônica Fabíola Rozisca

e-mail: verozisca@gmail.com

Endereço para correspondência
Rivaldo Venâncio da Cunha

e-mail: rivaldovc@fiocruz.br

Recebido em: 19/05/2016
Revisado em: 06/09/2016

Aceito em: 30/09/2016

 

 

iPsicóloga pela Universidade de São Paulo e Mestranda pelo Programa Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

iiPsicóloga e mestre pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Trabalha como psicóloga clínica.

iiiGraduado em medicina pela Universidade de Caxias do Sul e mestre e doutor em Medicina Tropical pela Fundação Oswaldo Cruz.

Creative Commons License