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Estudos Interdisciplinares em Psicologia

versión On-line ISSN 2236-6407

Est. Inter. Psicol. vol.11 no.1 Londrina ene./abr. 2020

http://dx.doi.org/10.5433/2236-6407.2020v11n1p49 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

O estatuto da autoconservação na primeira teoria pulsional freudiana

 

The status of self-conservation on freud's first instinct theory

 

El estatuto de la autoconservación em la primera teoria pulsional freudiana

 

 

Érico Bruno Viana CamposI; Martinucho GodegueziII; João Gabriel Bertucci LimaII

IUniversidade Estadual Paulista - Campus Bauru Vinicius
IIFaculdade de Ciências de Bauru - Universidade Estadual Paulista

 

 


RESUMO

Este ensaio teórico discorre sobre o estatuto da pulsão de autoconservação no âmbito da teoria de Freud, com o objetivo de analisar os referenciais organicistas e funcionalistas como fundamento epistemológico da psicanálise. A teoria das pulsões sofre transformações substanciais ao longo da obra freudiana, sendo sujeita a diversas interpretações que, em geral, relegam a um segundo plano ou mesmo excluem as pulsões de autoconservação do campo da psicanálise. Apresentam-se os fundamentos dessa teorização nos textos freudianos sobre a primeira teoria pulsional e a complexidade de sua caracterização, em especial as questões de sua fonte e sua filiação a funções biológicas, a labilidade de seu objeto, o seu papel na dinâmica defensiva e no desenvolvimento psicossexual. Discutem-se as interpretações desse legado a partir de sua dupla filiação: humanista e naturalista. Conclui-se que essa problemática é um ponto de tensão importante na caracterização da heterogeneidade epistemológica da psicanálise como campo de saber.

Palavras-chave: psicanálise; pulsão; autoconservação; Freud, Sigmund (1856-1939).


ABSTRACT

This theoretical essay discusses the instinct of self-preservation status under Freud's theory, aiming to analyze the organismic and functionalist references as an epistemological foundation of psychoanalysis. The instincts theory undergoes substantial changes during Freud's work, and it was subject to various interpretations that usually relegate to the background or even exclude the instincts of self-preservation of the psychoanalysis field. It presents the foundations of this theorization in the classic Freudian texts on the first drive theory and the complexity of its characterization, especially the questions of its source and its affiliation to biological functions, the lability of its object, its role in the defensive dynamics and in psychosexual development. It discusses the interpretations of this legacy from its double affiliation: humanist and naturalistic. It is concluded that this problem is an important point of tension in the characterization of the epistemological heterogeneity of psychoanalysis as a field of knowledge.

Keywords: psychoanalysis; instinct;self-preservation; Freud, Sigmund (1856-1939).


RESUMEN

Este ensayo teórico analiza el estatus del instinto de conservación dentro de la teoría de Freud, con el fin de analizar las referencias organicistas y funcionalistas como una base epistemológica del psicoanálisis. La teoría de los instintos sufre cambios sustanciales a lo largo de la obra de Freud, se somete a diversas interpretaciones que, en general, relegan a un segundo nivel o incluso excluyen las unidades de auto-preservación de campo psicoanalítico. Presenta los fundamentos de esta teoría en los textos freudianos clásicos en la primera teoría de los impulsos y la complejidad de la caracterización, especialmente los temas de su fuente y su afiliación con las funciones biológicas, la labilidad de su objeto, su papel en la dinámica defensiva y en el desarrollo psicosexual. Se argumenta interpretaciones de este legado de su doble filiación: humanista y naturalista. Se concluyó que este problema es un punto importante de la tensión en la caracterización de la heterogeneidad epistemológico del psicoanálisis como un campo de conocimiento.

Palabras clave: psicoanálisis; instinto; auto-preservación; Freud, Sigmund (1856-1939).


 

 

INTRODUÇÃO

A pulsão (Trieb) representa, sem dúvidas, um dos mais importantes e originais conceitos da obra freudiana, além de constituir um dos pilares centrais de sua metapsicologia. A teoria das pulsões é modificada ao longo do desenvolvimento da obra de Freud, de sua primeira configuração na chamada primeira teoria pulsional, onde, amparado fortemente pelos saberes da biologia e da observação clínica, o autor concebe uma divisão entre pulsões de autoconservação ou do ego e pulsões sexuais, para uma segunda teoria pulsional, onde a divisão passa a ser entre pulsões de vida e pulsões de morte.

Existe certa tendência de se dar maior atenção à segunda teoria nos estudos e trabalhos desenvolvidos a respeito do assunto, por ser ela posterior e mais complexa, mas, principalmente, porque tende a incluir a primeira em sua caracterização. Nesse sentido, a incorporação da dualidade da primeira teoria pulsional - pulsões de autoconservação e pulsões sexuais - pelas pulsões de vida da segunda teoria, fez com que as pulsões sexuais tivessem um peso muito maior na caracterização de Eros por parte do próprio Freud e dos estudiosos posteriores, fazendo com que as pulsões de autoconservação ficassem marginalizadas. Se por um lado, essa maior atenção dada às pulsões sexuais é perfeitamente compreensível, uma vez que, estas têm, tanto para a teoria quanto para a clínica psicanalítica um papel central, por outro, a rejeição das pulsões de autoconservação, ou pelo menos, a localização desse conceito em um lugar muito periférico da teoria pulsional, também aparece como um sintoma de alguns esforços de inscrição da psicanálise em algumas posições epistemológicas, como é o caso, por exemplo, de posições mais próximas das ciências humanas e de linguagem que buscam afastar a psicanálise das ciências naturais e biológicas. Essa tendência é particularmente clara em autores vinculados à tradição da psicanálise francesa, comprometidos a partir da tônica dada pelo movimento lacaniano com sua crítica aos fundamentos epistemológicos naturalistas da psicanálise (Campos, 2013). É o caso da proposta de Laplanche (1985) da divisão entre funções de autoconservação e pulsões sexuais como forma de corrigir o desvio biologizante do último Freud, que encontra bastante respaldo na psicanálise nacional (Garcia-Roza, 1990, 1995). Contudo, a oposição ao naturalismo em psicanálise não é ponto pacífico e muitos autores defendem a vinculação da psicanálise freudiana com um projeto naturalista de ciência (Mezan, 2007; Simanke, 2009).

No contexto desse debate, acreditamos ser de grande importância fazer um retorno à primeira teoria pulsional, que compreende o período de 1905 a 1920 da obra de Freud, abordando os principais textos que trazem a caracterização metapsicológica dessa teoria: Três Ensaios para a Teoria da Sexualidade (1905/2004), A Concepção Psicanalítica da Perturbação Psicogênica da Visão (1910/1996), Introdução ao Narcisismo (1914/2004) e Pulsões e Destinos das Pulsões (1915/2004). Tendo em mente esses impasses epistemológicos entre ciências naturais e humanas que se apresentam com relação à psicanálise, procuramos propor uma discussão a respeito das pulsões de autoconservação, pois estas não só têm seu lugar no constructo da metapsicologia freudiana como também são um ponto central no debate do caráter biológico da teorização de Freud, uma vez que constituem o elemento metapsicológico que atende justamente às necessidades de conservação da vida fisiológica. Por isso, procuraremos abordar neste trabalho, sem nenhuma pretensão de esgotar esse debate e em caráter exploratório sobre o tema, o estatuto da pulsão de autoconservação na teoria pulsional de Freud, tendo em vista trazer subsídios para a discussão de sua incidência para um posicionamento sobre a filiação epistemológica da psicanálise.

A compreensão que defendemos sobre uma epistemologia da psicanálise se dá em dois níveis. Em primeiro lugar, de defender a especificidade epistemológica do campo psicanalítico, no sentido de compreender a constituição de um objeto e de um método próprios por meio de rupturas epistemológicas com os demais saberes do espaço de teorias e práticas psicológicas e psiquiátricas (Birman, 1991). Nesse sentido, a psicanálise tem uma epistemologia própria, que não é necessariamente e exclusivamente aquela explicitada e defendida por Freud, como advogam alguns autores mais puristas (Assoun, 1983). Em segundo lugar, e justamente pela complexidade e ambiguidade do campo inaugurado pelas balizas freudianas, cabe imprimir uma análise epistemológica do legado freudiano. Essa análise consiste em tomar dentro de uma perspectiva histórica da ciência psicanalítica a análise da estrutura teórico-explicativa da trama conceitual, buscando seus eixos e tensões fundamentais (Monzani, 1989; Mezan, 2002). Nossa proposta neste trabalho é tomar um ponto que nos parece bastante paradigmático e ilustrativo do campo de interrogações sobre a psicanálise ainda hoje: o dilema natureza e cultura que emerge de um dos seus conceitos fundamentais: a pulsão. Para tanto, empreenderemos um estudo teórico na forma de ensaio, abordando os textos clássicos freudianos sobre o tema, apoiados em comentadores da literatura nacional.

 

PULSÃO OU INSTINTO?

O termo alemão Trieb é traduzido para o português, ora como pulsão, ora como instinto. Tanto a Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, da editora Imago, quanto a mais recente tradução das Obras Completas que vem sendo realizada pela Companhia das Letras, utiliza a segunda alternativa, embora na tradição da psicanálise brasileira tenha se imposto o uso do primeiro termo, seguindo a opção da psicanálise francesa a partir da obra de referência de Laplanche e Pontalis (1960/1992). Essa opção, por sua vez, foi endossada por Hanns (1996) e utilizada no projeto inacabado de nova tradução das Obras Psicológicas de Sigmund Freud, pela editora Imago. Essa diferença de tradução suscita discussões, que muito longe de se referirem a uma mera questão de estilo, incidem na questão de se referenciar à psicanálise ao campo das ciências humanas ou das ciências naturais, o que tem implicações importantes para a questão das pulsões de autoconservação.

É preciso esclarecer que a palavra Trieb, além de um conceito psicanalítico, também é uma palavra corrente na língua alemã, se buscarmos sua definição no dicionário Michaelis de alemão, encontramos: "Trieb Sm: 1 impulso, instinto, pulsação, compulsão. 2 broto, rebento" (Michaelis, 2009). Como apontado por diversos tradutores e comentadores (Hanns, 1996; Souza, 1999; Laplanche & Pontalis, 1960/1992; Kaufmann, 1996), a definição demonstra a dificuldade da tradução, uma vez que, devido à amplitude de significados apresentados na língua alemã, fica realmente difícil traduzir Trieb por uma palavra como instinto ou pulsão, considerando que o termo original abarcaria estas duas palavras com seus respectivos sentidos. Mas o fato de maior importância para a questão aqui tratada é que, quando se emprega a palavra instinto, essa deixa implícita um caráter biológico para a definição do termo, inclusive pelo fato dessa palavra ser comum no campo da biologia, etologia e da teoria evolucionista, colocando, portanto, Trieb mais próximo das ciências naturais. No entanto, quando utilizamos a palavra pulsão, estamos mais próximos de sua definição como impulso, pulsação, e que, portanto, talvez esteja mais de acordo com a montagem desse conceito feito por Freud, sem, no entanto, se referir imediatamente a algo de origem biológica. Todavia, podemos entender que apesar de não atrelar esse conceito à biologia e às ciências naturais, a palavra pulsão não necessariamente nega essa dimensão por si só, mas deixa em aberto possibilidades para que se busquem outros pontos de referência, como as ciências humanas, por exemplo, algo que se torna mais difícil se considerar-se Trieb como instinto.

De todo modo, no presente artigo adotaremos a palavra pulsão, por esta opção terminológica ser mais corrente no meio psicanalítico nacional, apoiada na posição estabelecida por Laplanche e Pontalis (1960/1992) em seu vocabulário e endossada em algumas traduções mais recentes da obra freudiana, como é o caso da de Luiz Hanns, que será utilizada preferencialmente por nós neste trabalho.

 

O CONCEITO DE PULSÃO E O PRIMEIRO DUALISMO PULSIONAL

Freud considerava a sua teoria das pulsões dentro do pensamento psicanalítico como sendo nossa mitologia: "As pulsões são entidades míticas, magníficas em sua imprecisão" (1933/1996, p. 98). Isso demonstra, de maneira interessante, uma especificidade do pensamento e da obra freudiana, que apesar de um esforço para estar enquadrada nas ciências naturais, é perpassada sempre por uma tensão entre uma espécie de "narrativa mítica", onde o autor por meio de conjecturas hipotéticas tenta ilustrar e teorizar sobre fenômenos observados em sua clínica e a ciência empírica constituída.

No texto Três Ensaios para a Teoria da Sexualidade (Freud, 1905/2004), o autor apresenta pela primeira vez o conceito de pulsão sexual, fazendo a partir deste conceito, uma espécie de revolução na compreensão da sexualidade. A pulsão sexual, assim como é apresentada, com sua grande variabilidade de objetos e fontes, tira da função da reprodução o monopólio da sexualidade no caso dos seres humanos. Algo notável nesse texto é que Freud (1905/2004) fundamenta sua ideia de pulsão sexual justamente na referência às funções de autoconservação como a fome, o que resultará posteriormente na concepção do primeiro dualismo pulsional dividido em pulsões sexuais e pulsões de autoconservação.

O fato da existência de necessidades sexuais no homem e no animal expressa-se na biologia pelo pressuposto de uma "pulsão sexual". Segue-se nisso a analogia com a pulsão de nutrição: a fome. Falta à linguagem vulgar [no caso da pulsão sexual] uma designação equivalente à palavra "fome"; a ciência vale-se, para isso, de "libido" (Freud, 1905/2004, p. 84).

A pulsão passa a ser o eixo de análise que Freud utiliza para constituir a sua teoria da sexualidade e, enquanto conceito, a pulsão está amparada nos resultados da investigação psicanalítica e na biologia. Estes dois campos de saber apresentam, portanto, a especificidade epistemológica da dupla filiação da pulsão, tendo de um lado sua caracterização como conjectura teórica próxima da "narrativa mítica" e do outro, seu amparo no saber científico biológico.

Essa tensão entre o mito e a ciência está claramente manifesta no texto sobre as pulsões de 1915, onde, na tentativa de desenvolver e sistematizar seu conceito de pulsão, o autor se vale amplamente da biologia, mas também se permite a partir desses conhecimentos, propor hipóteses não empiricamente observáveis, ou observáveis até certo ponto. Nesse texto, Freud (1915/2004) começa com uma espécie de discussão epistemológica em torno do "fazer ciência", que aparece como algo ilustrativo do método freudiano de teorização. Logo em seu início, além de contextualizar teoricamente o que será apresentado no decorrer do texto, o autor parece justificar de antemão questões e até mesmo incompletudes na sua teorização, assim como, reivindicar para si uma margem de indefinição em sua tentativa de construção do conceito de pulsão e também assegurar seu direito de "mudar de ideia" ao longo do desenvolvimento da psicanálise. Já nesse início, o autor prepara o terreno para a construção de sua argumentação a respeito da pulsão e durante todo texto, se apresenta, no desenvolvimento de suas ideias, um conhecimento amparado pelo saber da biologia sobre o qual ele não se furta de "aplicar algumas ideias abstratas obtidas não só a partir das novas experiências, mas também oriundas de outras fontes" (Freud, 1915/2004, p. 137).

O autor descreve o mecanismo de arco-reflexo para explicar como o aparelho fisiológico se livra de estímulos externos, e já apresenta a diferença entre estímulos externos e estímulos pulsionais. Os estímulos pulsionais, ao contrário dos primeiros, não são oriundos do mundo externo, mas do interior do corpo e, portanto, não podem ser dominados pelo aparelho reflexo. A impossibilidade de esses estímulos pulsionais serem dominados pelo aparelho reflexo indica que precisam de um objeto externo que possibilite a sua satisfação. A pulsão é então representada como algo que parte do corpo, que exerce uma pressão constante no aparelho psíquico como uma medida de exigência de que esse aparelho busque no mundo externo, um objeto que possibilite essa satisfação. Nesse sentido, enquanto algo que parte do corpo e que se expressa no psiquismo através de um representante pulsional, a pulsão é classificada pelo autor como um "conceito limite entre o somático e o psíquico" (Freud, 1915/2004, p.142).

Freud então apresenta a construção da pulsão a partir de quatro termos essenciais: fonte, pressão, meta e objeto. Fonte seria justamente o lugar de origem da pulsão, ou seja, um processo somático, uma parte do corpo de localização orgânica. Pressão representa o elemento motor da pulsão, é a quantidade de força constante e ativa exercida pela pulsão no psiquismo. A meta (ou alvo) de uma pulsão é sempre a sua satisfação, é a possibilidade de descarga de um excesso de estimulação na fonte da pulsão. E por fim, o objeto é aquilo através do qual a pulsão pode atingir a meta, ou seja, aliviar o excesso de estimulação na fonte. É o elemento que mais varia na pulsão, tendo como única característica mais importante a possibilidade de realizar a meta.

No desenvolvimento do texto, após a montagem do conceito de pulsão através desses quatro termos, Freud defende a divisão entre dois tipos de pulsões -pulsões de autoconservação e pulsões sexuais. Esta divisão já vinha sendo apresentada em textos anteriores e como vimos estava já na gênese deste conceito que articula o biológico e o psicológico. É em A Concepção Psicanalítica da Perturbação Psicogênica da Visão (Freud, 1910/1996) onde o autor fará, pela primeira vez, uma divisão mais clara entre pulsões sexuais e pulsões de autoconservação no contexto do sintoma neurótico que se dá no entrave entre as tendências pulsionais destes dois tipos de pulsão.

Entretanto, um fato interessante em Pulsão e Destinos das Pulsões (1915/2004), é que neste texto, apesar de o autor tomar o cuidado de não afirmar serem as únicas, diz que seriam as primordiais, não decomponíveis e, portanto, de maior importância. Segundo ele:

Que pulsões devemos supor existam e quantas? É evidente que esta questão dá margem a respostas bastante arbitrárias. Embora não se possa objetar se alguém empregar, por exemplo, o conceito de uma pulsão lúdica, ou de uma pulsão de destruição, ou ainda de uma pulsão gregária, isso só pode ser feito quando o contexto o exigir e as limitações da análise psicológica o permitirem. No entanto, cabe nos perguntarmos se esses conteúdos temáticos pulsionais tão especializados não deveriam ser retroativamente decompostos na direção das fontes pulsionais, a fim de se chegar às pulsões originais, àquelas não mais divisíveis, e atribuir apenas a estas uma efetiva importância. Propus uma classificação para essas pulsões originais diferenciando-as em dois grupos: o das pulsões do Eu, ou de autoconservação, e o das pulsões sexuais. Mas, essa classificação não é uma premissa necessária, como, por exemplo, a hipótese a respeito da tendência biológica do aparelho psíquico. Ela é uma simples construção auxiliar que apenas será mantida enquanto se mostrar útil; sua substituição por outra fará pouca diferença nos resultados de nosso trabalho de descrição e categorização. (Freud, 1915/2004, p. 144)

É importante observar, acompanhando Campos (2014), que Freud sustenta a posição de que pulsões de autoconservação e pulsões sexuais seriam as primordiais e de maior importância, mas logo em seguida, diz que, entretanto, essa não seria uma premissa necessária, como seria o pressuposto biológico do aparelho psíquico. O que o autor parece fazer aqui, e que será reiterado ao longo de todo texto, é admitir, de modo velado, certa desconfiança a respeito da divisão entre pulsões de autoconservação e pulsões sexuais. No entanto, também é notável a defesa que ele faz dessa divisão ao longo de todo o texto, insistindo, no caráter biológico da pulsão e se utilizando de explicações da biologia como, por exemplo, de uma especificidade da sexualidade com relação às outras funções humanas para corroborar a ideia dessa divisão.

O autor diz que a biologia confirma a divisão entre pulsões sexuais e pulsões de autoconservação, uma vez que, a sexualidade seria uma função muito específica do humano, que estaria subordinada a uma meta maior, ou seja, dar continuidade à espécie em troca de uma porção de prazer, tendo como força de ação a libido. As funções autoconservativas, por sua vez, visariam à conservação do próprio individuo através da satisfação de necessidades vitais e que se expressariam no aparelho psíquico não como força de uma libido, mas sim de um interesse. Deste modo, pulsões sexuais e pulsões de autoconservação seriam regidas por "princípios" diferentes, estando as primeiras sob a influência do princípio do prazer e as segundas sob o princípio de realidade (Freud, 1915/2004).

Nessa afirmação da sexualidade como sendo específica em relação às outras funções humanas, fica claro que a intenção do autor é apresentar um indício de que a divisão entre pulsões de autoconservação e pulsões sexuais é efetiva. No entanto, a maneira como ele constrói esse argumento dá margem para algumas questões. Uma delas seria: por que ao visar à conservação da espécie, a pulsão sexual não teria também uma função autoconservativa?

O texto não nos oferece uma resposta para essa questão. Poderíamos entender, apoiados em outros momentos da obra do autor, que a pulsão de autoconservação agiria no sentido de conservar a vida do sujeito de maneira completamente individual e, portanto, biológica no sentido de conservação do organismo, enquanto as pulsões sexuais teriam a realização de sua meta ligada à conservação da espécie e, nesse sentido, transcenderiam um interesse meramente individual e implicariam um vínculo com outros indivíduos.

Talvez essa seja uma possibilidade de tentar pensar essa questão, mas certamente também não o faz de maneira satisfatória. A própria noção de uma sexualidade perversa polimorfa, desenvolvida no texto sobre a teoria da sexualidade (Freud, 1905/2004), já colocaria em xeque essa explicação. Dizer que o objeto da pulsão sexual se refere necessariamente a uma pessoa, ou seja, a um ser humano, já contradiz tanto a noção de uma sexualidade com elementos perversos polimorfos, quanto à de um objeto variável da pulsão sexual. Portanto, a ideia de que as pulsões sexuais estariam diretamente relacionadas à reprodução, pode ser entendida como uma tentativa de Freud se manter fiel a uma visão biológica, e faz sentido dentro dessa perspectiva, mas certamente, também traz algumas contradições com outros pressupostos da psicanálise.

Neste ponto é preciso ressaltar uma dessas contradições, presente em toda obra freudiana, mas que tem uma expressão bastante significativa nos ensaios sobre a sexualidade (Freud, 1905/2004). Por mais que Freud, por um lado, proponha que a sexualidade não tem como objetivo único e predeterminado a reprodução, ele ainda atribui às pulsões sexuais a função de conservação da espécie. É preciso compreender que na teoria da sexualidade apresentada nesse texto, as pulsões sexuais no desenvolvimento "normal" dos indivíduos, apresentam-se inicialmente desvinculadas, têm fontes distintas e encontram satisfação no próprio corpo, ou seja, são autoeróticas. A partir de uma determinada fase do desenvolvimento (fase de latência), essas pulsões são unificadas sob um "primado genital", inaugurando assim a sexualidade adulta que terá como alvo o coito genital. Portanto, por mais que a sexualidade humana seja perversa polimorfa em sua gênese e em sua natureza, o desenvolvimento sexual caminharia para um ponto onde a sexualidade genital é privilegiada coincidindo com o coito reprodutivo.

Em Introdução ao Narcisismo (Freud, 1914/2013), encontramos um trecho bastante interessante a esse respeito, onde o autor admite que os indivíduos têm "uma vida dupla" em que ao mesmo tempo em que busca o prazer na sexualidade, também está incumbido, indiretamente, de dar continuidade à espécie. Freud atribui à divisão entre pulsões do eu (autoconservação) e sexuais, o fundamento desta "vida dupla" e admite que esta concepção da teoria pulsional está majoritariamente amparada pelo conhecimento biológico.

Há vários pontos em favor da hipótese de uma diferenciação original entre instintos sexuais e instintos do Eu. [...]. Mas essa distinção conceitual corresponde, primeiro, à separação popular entre fome e amor. Em segundo lugar, considerações biológicas se fazem valer em seu favor. O indivíduo tem de fato uma dupla existência, como fim em si mesmo e como elo de uma corrente, à qual serve contra - ou, de todo modo, sem - a sua vontade. Ele vê a sexualidade mesmo como um de seus propósitos, enquanto uma outra reflexão mostra que ele é tão somente um apêndice de seu plasma germinal, à disposição do que ele coloca suas forças, em troca de um bônus de prazer - o depositário mortal de uma (talvez) imortal substâncias [...]. A distinção entre instintos sexuais e do Eu apenas refletiria essa dupla função do indivíduo. Em terceiro lugar é preciso não esquecer que todas as nossas concepções provisórias em psicologia devem ser, um dia, baseados em alicerces orgânicos. [...]. Em geral me esforço para manter longe da psicologia tudo que dela é diferente, inclusive o pensamento biológico, quero neste ponto admitir expressamente que a hipótese de instintos sexuais e do Eu separados, ou seja a teoria da libido, repousa minimamente sobre base psicológica, escorando-se essencialmente na biologia. (Freud, 1914/2013, p. 20-21)

Ainda nesse texto, a partir da noção de apoio e em diálogo com as concepções de narcisismo, o autor desenvolve uma importante teoria sobre a escolha de objeto, que pode se dar conforme o tipo narcísico ou conforme o tipo de apoio. Não cabe ao escopo deste trabalho discutir profundamente esta questão, mas é importante ressaltar que a partir da ideia de uma escolha de objeto que se dá a partir de um tipo de apoio das pulsões sexuais sobre as de autoconservação, mais uma vez a divisão e inter-relação entre os dois tipos de pulsões se evidenciam, pois as primeiras satisfações sexuais autoeróticas são: "experimentadas em conexão com funções vitais de autoconservação. Os instintos sexuais apoiam-se de início na satisfação dos instintos do Eu, apenas mais tarde tornam-se independente deles" [...] (Freud 1914/2013, p. 31-32). Mais uma vez a dualidade pulsional aparece, neste caso, como fundamental para as primeiras escolhas objetais, onde as pulsões de autoconservação, têm um papel fundamental no sentido de "guiar" as pulsões sexuais, até seus objetos a serem investidos.

A respeito dessa relação do indivíduo com o mundo e com os objetos que investe libidinalmente, no texto sobre as pulsões (Freud, 1915/2004), quando passa a falar sobre os destinos das pulsões, Freud traz interessantes desenvolvimentos destas questões relacionando-as com os dois tipos de pulsões. O autor apresenta quatro destinos possíveis para a pulsão sexual: a reversão no contrário, o voltar-se contra a própria pessoa, a repressão e a sublimação. Apesar disso, no texto o autor se propõe a discutir apenas os dois primeiros.

Ao falar do destino denominado reversão no contrário, Freud diz que a vida psíquica é dominada por três polaridades antitéticas: Sujeito x Objeto, Prazer x Desprazer e Ativo x Passivo. No início da vida, a partir da possibilidade de satisfação autoerótica característica do narcisismo primário, as pulsões sexuais podem se satisfazer no próprio corpo e, por isso, não existe a necessidade de buscarem objetos no mundo externo. Pode-se dizer então que, neste período, o sujeito (Ego) coincide com o prazer, constituindo o que Freud chama de Ego-puro prazer. No entanto, com relação aos estímulos externos, o sujeito permanece passivo, a satisfação das necessidades autoconservativas continua dependendo do mundo externo e, portanto, esse mundo externo ao Ego-puro prazer só lhe chega a partir das pulsões de autoconservação. Daí Freud (1915/2014) concebe que um polo de opostos importante que define o destino pulsional reversão no contrário, ou seja, amor x ódio, origina-se, tendo cada uma das polaridades sustentadas por um tipo de pulsão, sendo o amor pertencente às sexuais e o ódio às de autoconservação.

É possível enxergar um complemento neste texto, daquilo que é apresentado no texto anterior (Freud, 1914/2013). Aparentemente, Freud propõe que com relação às escolhas de objeto, em uma fase bastante inicial da vida, pulsões de autoconservação e sexuais tem comportamento diferente, uma vez que, nesse período, as pulsões sexuais tem satisfação autoerótica enquanto as de autoconservação tem de buscar objetos no mundo externo. Em seguida, quando da possibilidade de se fazer as escolhas libidinais objetais, são as pulsões de autoconservação que orientarão as sexuais, daí a escolha recorrente de cuidadores e, principalmente, da mãe como objeto sexual. Nota-se que a noção de apoio, é fundamental para a metapsicologia da primeira teoria pulsional. No entanto, na visão de alguns comentadores este é um ponto polêmico quanto ao estatuto da pulsão de autoconservação na teoria freudiana. Mas, não é o único, veremos que a questão da pulsão de autoconservação transcende meras variações de compreensão do texto freudiano e tocam questões epistemológicas importantes.

 

A LEGITIMIDADE DA AUTOCONSERVAÇÃO COMO PULSÃO

A montagem feita por Freud de seu conceito de pulsão traz algumas especificidades que estão diretamente ligadas à dimensão orgânica e, portanto, biológica da vida humana. Considerando que a pulsão tem sua fonte como sendo um processo somático, ou seja, um órgão ou uma parte do corpo, isso, por si só, demonstra o caráter supostamente fisiológico da pulsão. No entanto, ao classificar a pulsão como um conceito que se apresenta justamente no limite entre o somático e o psíquico, o autor dá possibilidades para que a pulsão seja inscrita, além do campo orgânico e biológico, também em um nível do psíquico, ou seja, de algo que transcende a materialidade orgânica. A complexidade da pulsão faz com que sua compreensão se situe entre a materialidade do impulso orgânico corporal e a abstração de sua categoria de conceito. Sendo assim, a pretensão de situá-la em um dos polos, acaba se tornando bastante complicada, devido a essa característica de fundamentação híbrida que Freud se utiliza para conceber a pulsão como um fundamento básico da psicanálise.

Ao longo do desenvolvimento da psicanálise pós-freudiana, muitos esforços têm sido feitos, pelos mais variados autores e teóricos para dar conta dessa questão da pulsão, e por isso, de acordo com as afiliações teóricas e epistemológicas de cada autor, as pulsões serão entendidas de um modo e isso é algo que reflete diretamente na questão de se considerar ou não as pulsões de autoconservação como sendo pulsões.

Garcia-Roza (1990, 1995) é um desses autores que questiona a possibilidade de se chamar as pulsões de autoconservação de pulsão. Seu questionamento parte do pressuposto de que se um dos importantes pontos explicitados por Freud para conceituar a pulsão é que o objeto é absolutamente variável, que não existe, portanto, caminho pré-estabelecido entre a fonte da pulsão e o objeto que satisfaça sua meta. Deste modo, como poderiam se considerar como sendo pulsões as necessidades vitais que são satisfeitas apenas por um objeto filogeneticamente determinado e, portanto, buscado "instintivamente"?

Além disso, Garcia-Roza (1995) chama atenção para o fato de que ao tratar do tema do apoio, no texto sobre a sexualidade Freud (1905/2004), diz que as pulsões sexuais surgiriam apoiadas em funções corporais importantes para a vida, enquanto no texto sobre as pulsões, Freud (1915/2014) fala propriamente em apoio das pulsões sexuais nas pulsões de autoconservação. Para esse comentador, a identificação entre funções corporais e pulsões de autoconservação resultaria necessariamente na desqualificação dessas como sendo pulsões. Isso porque, a pulsão de que Freud fala tem como finalidade a satisfação da excitação do órgão, nada tendo a ver com a conservação de funções corporais.

Se levarmos em consideração o verbete para pulsões de autoconservação apresentado no Vocabulário de Psicanálise (Laplanche & Pontalis, 1960/1992), parece que realmente costuma-se fazer a correspondência apontada por Garcia-Roza entre pulsões de autoconservação e funções corporais: "Expressão pela qual Freud designa o conjunto das necessidades ligadas a funções corporais essenciais à conservação da vida do indivíduo; a fome constitui seu protótipo" (Laplanche & Pontalis, 1960/1992, p. 404).

No entanto, a proposta de Garcia-Roza (1995) de que as funções biológicas de autoconservação não poderiam ser chamadas de pulsão por não atenderem os requisitos constitutivos que assim as definiriam dentro da teoria pulsional freudiana, encontra oposição em outros comentadores de Freud e estudiosos da psicanálise.

Segundo Campos (2014), não se pode afirmar que o objeto da pulsão de autoconservação não seja variável em alguma medida, como afirma categoricamente Garcia-Roza. O argumento deste autor, retoma a apresentação feita por Freud do comportamento inicial das pulsões, que estariam todas, a priori, submetidas ao princípio do prazer. Só posteriormente, com uma modulação do princípio do prazer frente às exigências da realidade é que a busca de satisfação de cada um dos tipos de pulsões seria definida, fazendo com que as sexuais estivessem sob o comando do princípio do prazer e as de autoconservação do princípio de realidade.

A pulsão de autoconservação não é instintiva, se tomarmos momentaneamente a definição mais corriqueira de que se trata de um impulso com objeto definido e predeterminado filogeneticamente (...) no início da vida pulsional as pulsões de autoconservação também se encontram sob o princípio do prazer, não se distinguindo das pulsões sexuais autoeróticas. Portanto, o objeto das pulsões de autoconservação também é contingente, apesar de se cristalizar mais docilmente ao longo do desenvolvimento. Isso não quer dizer que a pulsão de autoconservação tenha o objeto determinado com a maturidade do indivíduo. (Campos, 2014, p. 81)

Mas talvez, o ponto mais interessante apresentado por esse comentador é o resgate que ele faz da labilidade da dimensão energética da pulsão de autoconservação e a afirmação de seu papel, a partir de uma desvinculação das pulsões sexuais após a fase do apoio, como substrato econômico do processo do recalque se opondo como um contrainvestimento energético às pulsões sexuais. Assim, "é plausível tomarmos a definição de Freud de pulsão de forma a compreender os dois tipos de pulsão e que a relação entre o biológico e o sexual se dá de forma mais complexa que a mera cisão" (Campos, 2014, p. 81-82).

Se buscarmos o texto A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão (Freud, 1910/1996) mencionado pelo comentador, encontramos a passagem bastante elucidativa em que Freud defende esta posição, dizendo que a operação defensiva exercida sobre as pulsões sexuais se deve às pulsões de autoconservação, estando, deste modo, o psiquismo submetido a "dois senhores" (Freud, 1910/1996, p. 131-132).

Portanto, além de bastante condizente com a apresentação do próprio Freud, o argumento de Campos (2014) parece interessante, por alguns motivos. O primeiro é que, ao contrário de Garcia-Roza (1995) que parece se preocupar excessivamente com a separação entre a dimensão sexual e a dimensão biológica, Campos (2014) demonstra que essa separação não era, aparentemente, uma preocupação de Freud. Além disso, se Garcia-Roza (1995) nos diz que as pulsões de autoconservação não preencherem alguns requisitos que só poderiam ser preenchidos pelas pulsões sexuais, como por exemplo, a de um objeto contingente que satisfaça sua meta, Campos (2014) por sua vez, demonstra que esse requisito é preenchido e que o objeto da pulsão de autoconservação também é em princípio contingente. O segundo motivo pela qual tendemos a concordar com o segundo comentador é que ao frisar o fato de que na metapsicologia freudiana, as pulsões de autoconservação não só teriam essa função de conservar o indivíduo atendendo suas necessidades biológicas, mas que também, posteriormente a partir de um desvio do objeto externo, tornam-se o suporte pulsional do recalque. Isso demonstra que as pulsões de autoconservação, apesar de seu caráter talvez coadjuvante na primeira teoria das pulsões em relação às pulsões sexuais, não dizem respeito apenas à conservação biológica, mas também a um importante elemento da dinâmica psíquica no contexto da primeira tópica, estando diretamente relacionada a outro importante processo - o recalque - sendo seu suporte pulsional.

Como dito anteriormente, essas diferenças de leitura a respeito da questão das pulsões de autoconservação, se devem a especificidades das abordagens psicanalíticas posteriores a Freud, que a partir de fundamentos epistemológicos diferentes, vão ou referenciar a psicanálise às ciências humanas caracterizando, portanto, a pulsão como sendo da ordem da linguagem, ou então, em defesa da pertinência de um referencial funcionalista, vão defender os conceitos próximos da biologia presentes na psicanálise, colocando-a desse modo mais próximo das ciências naturais.

 

A PSICANÁLISE ENTRE AS CIÊNCIAS NATURAIS E HUMANAS

Para Freud, a afiliação epistemológica da psicanálise nunca foi algo que se tenha colocado em questão. Como afirma Assoun (1983), a psicanálise sempre foi parte das ciências naturais. No entanto, com o desenvolvimento da psicanálise depois de Freud, novas possibilidades e propostas epistemológicas foram abertas com o intuito de poder resolver alguns problemas causados principalmente por essa afiliação da psicanálise freudiana às ciências naturais e suas consequentes restrições (Mezan, 2001).

Lacan, em sua obra, inscreve a psicanálise em um novo campo epistemológico (Alberti & Elia, 2008; Campos, 2013). Pode-se dizer que isto agravou um debate já existente na época de Freud - a inclusão da psicanálise no campo das ciências. Muito dessa controvérsia se deve ao fato apontado por Foucault (1963/1980), da instituição, no século XIX, da anátomo-fisiologia como parâmetro básico à vinculação científica do saber médico. É sabido que Freud, mesmo nunca demonstrando dúvida quanto ao caráter científico da psicanálise, tinha sua concepção e modo de fazer ciência baseados em um método de caráter especulativo, como recurso heurístico de teorização, o que o aproxima ao método hipotético-dedutivo (Fulgêncio, 2008). Oriundo de uma tradição que se desenvolve a partir de Descartes e encontra no kantismo um ponto de destaque, este método é caracterizado, de um modo geral, pela possibilidade da hipótese como ponto de partida da investigação científica, não se prendendo, portanto, à mera descrição fenomenológica da realidade (Alberti & Elia, 2008).

A proximidade da teorização freudiana com este método fica clara no início do texto Pulsão e Destinos das Pulsões (1915/2004), onde Freud diz que é indispensável que ao material inicial de uma análise se apliquem "algumas ideias abstratas, tomadas daqui e dali, certamente não só da nova experiência (1915/2004, p. 52). Essa dimensão especulativa e interpretativa do método psicanalítico foi um ponto de discussão na crítica epistemológica ao campo psicanalítico nascente. Se na vertente anglo-saxônica de recepção da psicanálise a tendência foi a de respaldar melhor a psicanálise em uma vertente empírica objetiva, respondendo, principalmente nos EUA à demanda da psicologia funcionalista e behaviorista e da psiquiatria organicista (Assoun, 1983; Mezan, 2014), na Europa continental a tendência foi no sentido contrário. Quer seja na cultura germânica, em que a crítica se deu por meio de um resgate da aproximação filosófica e histórico-compreensiva do freudismo, em uma vertente que Assoun (1983) denomina de axiológica, quer seja na França, em que a crítica se deu fortemente atrelada à dupla vertente do marxismo e da fenomenologia, o fato é que o movimento da crítica epistemológica da psicanálise em solo europeu se deu desde o início em direção a uma aproximação das ciências humanas e da filosofia (Mezan, 2014).

É nesse contexto de demanda de reorientação que se pode entender a contribuição e o sentido da proposta de Lacan de um retorno a Freud. Amparado em grande medida no movimento do estruturalismo linguístico e antropológico, Lacan constitui um movimento em psicanálise em consonância com o campo das ciências humanas, centrado na noção de um sujeito do inconsciente. Essa vertente constitui um paradigma original e próprio no movimento psicanalítico, que Mezan (2014) denomina de subjetal. Lacan refundará a concepção do campo psicanalítico freudiano a partir de um sujeito destituído de seus aspectos psicológicos de caráter mentalista e essencialista, sendo antes constituído pela articulação inevitável entre linguagem e transferência, concebida em três registros - Imaginário, Simbólico e Real (Kaufmann, 1996). Com esse intuito fará, principalmente em seu Seminário XI (1963-64/1979), uma releitura do conceito de pulsão que a afasta claramente da dimensão orgânica e funcional. Nesse trabalho, chamado por ele próprio de "Desmontagem da Pulsão", o autor questiona de maneira direta: "Ora, de que se trata, no que concerne à pulsão, será do registro do orgânico?". Ao que, algumas linhas adiante, responde: "Não só eu não penso assim, mas penso que um exame sério da elaboração que Freud dá da noção de pulsão vai contra isso" (Lacan, 1963-64/1979, p. 154).

Para sustentar este argumento, Lacan procede a uma pormenorizada análise dos quatro elementos que constituem a pulsão. Ainda que não caiba neste trabalho acompanhar exaustivamente esse percurso do texto lacaniano, é preciso dizer que o autor desconstrói a ideia de uma pulsão com dimensões biológicas no caso de cada elemento da pulsão. Fazendo uma apresentação muito sucinta, podemos dizer que, no caso do impulso (pressão), o autor conclui que a constância característica do impulso pulsional não pode ser equiparada com o caráter rítmico das necessidades de autoconservação como a fome ou a sede. Com relação ao objeto, primeiramente lembra que para Freud o objeto da pulsão quanto à sua especificidade "não tem nenhuma importância" (Lacan, 196364/1979, p. 153), além disso, introduz seu conceito de objeto a, dizendo que a pulsão, com relação ao seu objeto apenas o contorna. A respeito da fonte, seguindo o raciocínio desenvolvido com a introdução do conceito de objeto a, Lacan diz que estas zonas têm um caráter de borda percorrida pela pulsão sexual contornando o objeto causa do desejo (objeto a). Portanto, não se trata necessariamente de um apoio das fontes sexuais em órgãos corporais, pois a dimensão da satisfação orgânica e a satisfação pulsional seriam de naturezas absolutamente distintas e inconciliáveis em todos os níveis.

Por fim, a teorização do autor a respeito da meta de satisfação (alvo) da pulsão é o que o permitirá fazer considerações e desdobramentos importantes a respeito do seu ensino. Partindo da ideia de sublimação enquanto a possibilidade de satisfação pulsional sem incidência do recalque, autor sugere que no percurso neurótico, a pulsão sempre diz respeito à satisfação, que mesmo nos sintomas que causam sofrimento, a pulsão satisfaz a algo. Esta ideia fará uma articulação com a dimensão do Real enquanto algo que não se reduz ao significante. A satisfação pulsional é "paradoxal", pois é preciso considerar a dimensão do impossível, tomado aqui não como o contrário de possível, mas como o Real. Este real que está presente no princípio do prazer, faz com que mesmo na busca pela satisfação pela tomada de um objeto, algo não pode ser satisfeito, pois, por mais que objetos possam satisfazer as necessidades "nenhum objeto é capaz de satisfazer completamente a pulsão" (Lacan, 1963-64/1979, p. 158-159). Ainda que não possamos nos aprofundar mais na teorização lacaniana a respeito da pulsão, acreditamos que, pelo acima exposto, seja clara a intenção lacaniana de separar o campo pulsional do orgânico, sendo que o pulsional, só seria aceito com relação à dimensão da sexualidade que se funda na articulação entre o significante e o corpo.

Autores como Laplanche (1985) e Garcia-Roza (1990, 1995) são herdeiros dessa tradição, embora não necessariamente vinculados ao movimento lacaniano. Talvez isto possa esclarecer a sua posição em considerar que as pulsões de autoconservação não podem ser classificadas como pulsões, pois se a pulsão é algo da ordem da linguagem e do sentido, a satisfação de necessidades vitais diretamente ligadas a uma dimensão supostamente fisiológica do humano não podem ser abarcadas dentro desse conceito. Laplanche (1985), ao analisar comparativamente a questão da pulsão nos textos freudianos de 1905 e 1915, diz que existe uma diferença fundamental entre esses dois momentos, pois se no primeiro o autor procura tratar da pulsão "por excelência" e estas seriam as pulsões sexuais, no segundo procura falar da pulsão de modo geral e, a partir disso, defende que as pulsões verdadeiras são as sexuais enquanto as de autoconservação são instintos.

(...) aí está também a armadilha para o leitor não prevenido: esse ensaio pretende tratar da pulsão em geral, não somente a pulsão sexual, mas todos os "grupos de pulsões", englobando, pois, igualmente as "pulsões do ego" ou "pulsões de autoconservação"; aliás, deveremos examinar, em breve, se a denominação de pulsões lhe é legitimamente aplicada (...). Tratar da pulsão em geral é "biologizá-la", é apresentar uma análise que seria válida também para os comportamentos ditos instintuais. (Laplanche, 1985, p. 21)

Além de marcar sua posição quanto à pulsão de autoconservação, o autor também demonstra essa tendência característica da tradição em análise de atestar uma incompatibilidade entre pulsão e uma perspectiva biológica, reiterando a necessidade de chamar as pulsões de autoconservação por outro nome, no seu caso, propondo ao termo "funções de autoconservação" em oposição às pulsões sexuais (Laplanche, 1985).

O grande ponto que tange a questão de se considerar a pulsão de autoconservação como sendo pulsão ou não, se depreende principalmente de uma tendência de algumas linhas teóricas da psicanálise, principalmente essa mais ligada às ciências humanas e da linguagem, que tendem a separar o biológico do sexual de uma maneira bastante radical, entendendo que a autoconservação só pode representar a dimensão biológica em oposição às pulsões sexuais, e que só o que é sexual pode então ser pulsional.

O comprometimento dessas abordagens com os pressupostos que as fundamentam talvez faça com que, de algum modo, suas análises, ainda que coerentes e perfeitamente defensáveis, estejam enviesadas desde o seu princípio, fazendo com que não se possa de fato se aproximar das proposições freudianas a respeito da pulsão, por partirem de fundamentos epistemológicos diferentes daqueles utilizados por Freud.

Mais recentemente, alguns autores nacionais (Mezan, 2007; Simanke, 2013) têm resgatado a outra perspectiva sobre a questão, ou seja, considerar a manutenção da polaridade de um referencial funcionalista no campo psicanalítico, levando em consideração senão a dimensão propriamente biológica ou positivista pelo menos o peso de uma concepção naturalista na complexidade e ambiguidade de suas teorizações. Essa posição, talvez mais apegada às próprias formulações freudianas e aos fundamentos que as ampararam, procura também tomar uma posição crítica com relação a essa disputa de afiliação epistemológica da psicanálise e desse problema da conceituação da pulsão. Nesse sentido, as proposições de Simanke parecem bastante ilustrativas desses aspectos:

(...) a melhor abordagem inicial do problema da significação e dos compromissos epistemológicos da teoria das pulsões - nas origens freudianas e nas apropriações posteriores - talvez não seja discutir se essa teoria pertence ao campo das ciências humanas, ao campo das ciências naturais, ou encontrar para ela algum ponto intermediário qualquer entre esses dois extremos. Ao contrário, a própria dificuldade em encontrar para a mesma um lugar epistêmico confortável entre as opções disponíveis talvez sugira que o melhor procedimento seja justamente colocar em questão essas opções e realizar uma leitura crítica das categorias epistemológicas disponíveis. (2013, p. 47)

A impossibilidade de se inscrever a psicanálise em um campo epistemológico definitivo é algo também defendido por Campos, por entender que há uma característica trágica de indefinição irredutível no campo da epistemologia:

Além disso, muitos dos movimentos que se faz na tentativa de esclarecer esses "fundamentos epistemológicos da psicanálise" são parciais, não só porque estão comprometidos com a própria vertente que querem defender, mas, o que é pior, por não entenderem a complexidade da problemática epistemológica contemporânea, no fundo, ainda estarem referidos à dicotomia clássica naturalismo versus humanismo. (2013, p. 27, grifos do autor)

Podemos dizer, então, que essa tensão entre naturalismo e humanismo dentro da psicanálise é algo que está diretamente relacionado à questão do estatuto da pulsão de autoconservação no contexto da primeira teoria pulsional. A pulsão, tal como Freud a concebe, parece não caber em uma definição precisa e, portanto, parece escapar a qualquer posição epistemológica que queira abarcá-la. No entanto, uma questão à qual devemos estar atentos, é se podemos desconsiderar toda a dimensão biológica da teorização freudiana, simplesmente por entendermos que a ciência natural era o único modelo disponível para Freud e que, portanto, as apropriações posteriores representam avanços em sua possibilidade de se desprender de uma vez por todas da biologia. Talvez seja mais proveitoso que as cisões entre o biológico e o sexual no que diz respeito à teoria das pulsões, sejam ainda tomados como questões a serem investigadas do que como assuntos resolvidos, tendo como parâmetro para essa resolução um dogmatismo epistemológico com uma teoria ou outra.

O que nos parece interessante apontar é que essa discussão, para além de uma referência à filiação epistemológica dos saberes psicanalíticos, implica também uma dimensão clínica e prática, uma vez que a incidência do corpo nas chamadas psicopatologias contemporâneas parece convocar esse tênue e polêmico limite entre o corpo biológico e o corpo erótico, em sua mútua constituição e influência. Encaminhamentos futuros de pesquisas na articulação teórico-clínica dessa temática precisariam retomar a articulação entre os constructos da pulsão sexual e da pulsão de autoconservação no âmbito da grande categoria das pulsões de vida, bem como a incidência da pulsão de morte na própria articulação originária da unidade egóica enquanto enigmática "projeção da superfície corporal" (Freud, 1923/1996). Portanto, no que diz respeito a uma arqueologia dos conceitos freudianos, seria preciso avançar na caracterização da trama conceitual do período de revisionismo e ousar tensionar a confluência que o autor cuidadosamente opera na teoria pulsional. Mas os elementos para pensar essa dimensão teórica dependem de pensar a incidência do narcisismo na constituição da imagem corporal e na identidade psicossomática do ego, por meio do recurso a uma clínica dos sintomas corporais contemporâneos, em especial a categoria das chamadas "doenças psicossomáticas" tomadas em uma perspectiva psicanalítica. De qualquer forma, é preciso apontar que um retorno à questão da autoconservação em psicanálise é uma indicação pertinente para a psicanálise contemporânea, sendo preciso reabrir o debate que a hegemonia da perspectiva lacaniana mais tradicional sobre mérito acabou por suprimir.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fato de a discussão a respeito de a diferenciação das pulsões ser inconclusiva e obscura era algo que o próprio Freud já reconhecia. A originalidade do conceito de pulsão, e sua importância para a metapsicologia freudiana não parece ser afetado por essa inconclusão. Desde o início do texto sobre as pulsões, Freud (1915/2004) já nos dá a entender que fará a construção desse conceito na medida do possível e em nenhum momento se nota sua intenção de afirmar uma verdade universal sobre esse conceito que constitui por fim "a mitologia" e que age como "uma feiticeira". No entanto, apesar de seu caráter mítico e seu grande grau de abstração, revelado inclusive na sua conceituação como: "conceito limite entre o somático e o psíquico", um conceito tão importante para a metapsicologia e para a psicanálise de um modo geral, e que se mostre de algum modo operativo de um ponto de vista teórico ou clínico, precisa ser definido em alguma medida.

No que diz respeito à dualidade pulsional e principalmente ao estatuto da pulsão de autoconservação, gostaríamos de sustentar que esse é um conceito legítimo e que encontra sustentação na metapsicologia freudiana. É absolutamente compreensível que devido a importância da dimensão da sexualidade para a psicanálise, alguns estudiosos queiram reivindicar o monopólio da pulsão na primeira tópica para essa dimensão. No entanto, apesar das limitações, indefinições e posteriores transformações da teoria freudiana, é notável que para o próprio Freud a pulsão de autoconservação, articulada à noção de apoio e a dimensão biológica do aparelho psíquico e da sexualidade, também são importantes.

Não se pode negar que a psicanálise desde a época de Freud sofreu transformações e avanços. Nesse sentido, é notável que a vinculação epistemológica da psicanálise freudiana à um pretenso naturalismo e à dimensão funcionalista e organicista da biologia apareça como uma constatação dessa vinculação, causando incômodo em algumas correntes teóricas da psicanálise pós-freudiana. É preciso reconhecer que essa busca do próprio Freud por fazer ciência, criou problemas e limitações para a própria psicanálise. No entanto, não se pode rejeitar essa origem da psicanálise como se não tivesse efeitos. O conceito de pulsão de autoconservação parece causar mais incômodo do que poderia se supor. A psicanálise em seu desenvolvimento buscou recalcá-la e em certos momentos até renomeá-la, numa aparente tentativa de dizer que se o que importa para a psicanálise é o sexual, a pulsão só pode ser sexual. Com isso buscou, por meio de certo preciosismo estranho em relação a essa palavra "pulsão", negar lugar a algo fundamental da teoria.

Por conta de tudo que foi acima exposto e dentro dos limites do presente estudo, que tem um caráter de abordagem inicial ao tema, restrito ao comentário dos textos clássicos freudianos sobre o conceito no âmbito da primeira teoria das pulsões, defendemos a manutenção do estatuto de pulsão para a autoconservação dentro da metapsicologia freudiana, por acreditar que essa é uma posição que se aproxima mais da maneira como o próprio Freud, em seu tempo e do seu modo, constituiu o campo de problematização da experiência do inconsciente. Isso, contudo, não implica em nenhuma intenção de sacralizar ou cristalizar elementos da sua obra, simplesmente porque foram ditos por ele, mas antes porque nos parece fazer mais sentido dentro de uma leitura do legado freudiano e porque constituem um ponto de tensão importante na consideração do conceito. No entanto, sabemos que a questão da diferenciação das pulsões continua indefinida dentro da psicanálise e talvez ainda assim continuará por muito tempo, até porque não é tarefa fácil trabalhar com um conceito que oscila entre a mitologia e a ciência, sem ter a menor pretensão de inscrevê-lo definitivamente em nenhum dos dois lados.

 

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Recebido em: 30/10/2017
1ª revisão em: 14/05/2018
Aceito em: 07/10/2018

 

 

CONFLITOS DE INTERESSES
Não há conflitos de interesses.
SOBRE OS AUTORES
Érico Bruno Viana Campos é psicólogo, mestre e doutor em psicologia pelo IP-USP. Professor Assistente Doutor do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) -Campus Bauru.
E-mail: ebcampos@fc.unesp.br
Vinicius Martinucho Godeguezi é aluno do curso de graduação em Psicologia da Faculdade de Ciências de Bauru - Universidade Estadual Paulista (UNESP).
E-mail: viniciusgodeguezi@gmail.com
João Gabriel Bertucci Lima é graduado em Psicologia da Faculdade de Ciências de Bauru -Universidade Estadual Paulista (UNESP).
E-mail: jaogabrielsp@uol.com.br

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