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Revista Polis e Psique

On-line version ISSN 2238-152X

Rev. Polis Psique vol.7 no.1 Porto Alegre Jan./Apr. 2017

 

ARTIGOS

 

A menina e a mulher: literatura e narrativas de vida

 

The girl and the woman: literature and life narratives

La niña y la mujer: literatura y narrativas de vida

   

 

Flavia LibermanI, Virginia JunqueiraII e Glenda MilekIII

I Universidade Federal de São Paulo (USP), Baixada Santista, SP, Brasil.

II Universidade Federal de São Paulo (USP), Baixada Santista, SP, Brasil.

III Universidade Federal de São Paulo (USP), Baixada Santista, SP, Brasil.

 

 


RESUMO

Esse relato foi feito na tentativa de ilustrar uma história de vida de uma mulher que vive em uma casa nas margens de rios e palafitas da cidade de Santos. Esta mesma mulher vive complexidades e possibilidades que foram enunciadas a partir dos encontros que ocorreram. As tramas vividas pela mulher ganharam (ainda mais) vida a partir dos momentos em que se deu voz aos acontecimentos, quando entrou em contato com suas próprias memórias e perguntas, com sua vida presente, com suas próprias palavras que ganharam tons, (múltiplas) vozes, espaços, escutas. Na tentativa de compor com seus dias, foram levados fragmentos literários para o despertar de encontros: com ela mesma, com novos afetos, com outros mundos. Os momentos vividos durante o processo foram subsidiados pelo método da Cartografia. Assim, este trabalho não se desdobra em constatações, afirmações e certezas, mas em sensações e perguntas lançadas nas entrepalavras que permeiam os (nossos) cotidianos.

Palavras-chave: Narrativas; Literatura; Encontro; Terapia Ocupacional; Práticas em Saúde.


ABSTRACT

This work was written in an attempt to illustrate a life story of a woman who lives in a house along the riverbanks and palafittes in the city of Santos. This very woman faces complexities and possibilities which have been raised up in the meetings that have happened. The storylines this woman has experienced have gained (even more) life due to the moments when she gave voice to occurrences, when she got in contact with her own memories and questionings, with her current life, with her own words that emerged and gained tones, (multiple) voices, spaces, listening. In order to compose her daily life, literary passages were used to awake meetings: with herself, with new feelings of affection, with other worlds. The moments experienced during the process were subsidized by the Cartography method. Therefore, this work does not unfold in findings, statements and certainties, but instead in sensations, doubts and questions released in wordings that pervade (our) everyday lives.

Keywords: UrNarratives; Literature; Meeting; Occupational Therapy; Health Practices.


RESUMEN

Este relato se hizo en un intento de ilustrar una historia de vida de una mujer que vive en una casa en las orillas de los ríos de la ciudad de Santos. Esta misma mujer vive complejidades y posibilidades que fueron listadas a partir de los encuentros que se lograran. Las tramas vividas por la mujer ganaron (aún más) vida a partir de los momentos que se dío la voz a los acontecimientos, cuando esta entra en contacto sus propios recuerdos y preguntas con su vida actual, en sus propias palabras que ganaron tonos (múltiples), voces, espacios, escuchas. Con la intención de componerlas con sus días, fragmentos literarios fueron llevados para el despertar de los encuentros: consigo misma, con nuevos afectos, con otros mundos. Los momentos vividos durante el proceso fueron subsidiados por el método Cartografía. Por lo tanto, este trabajo no se desarrolla en comprobaciones, afirmaciones o certezas, sino con sensaciones y preguntas lanzadas en las entrelíneas que atraviesan (nuestro) día a día.

Palabras-clave: SNarraciones; Literatura; Encuentro; Terapia Ocupacional; Prácticas en Salud.


 

 

O objetivo não é a verdade, a sabedoria e a virtude. Nunca se tratou de ―verdade‖, mas de saúde, futuro, crescimento, potência e vida. (Nietzsche, 1882/1983, p.190).

As ações que beiram a escrita desse artigo1 surgiram das experiências vividas durante a formação em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista. Formação que consideramos repleta de múltiplas vivências partilhadas com pessoas que nos fizeram olhar com olhos mais livres para as questões do cotidiano e das práticas de cuidado em saúde. Esse trabalho surgiu da vontade de continuar a caminhar pelos trilhos a favor de uma política da narratividade: a valorização das histórias de vida, uma aposta da vida ser contada e tecida pelas mãos dos próprios homens (Lispector, 1968/2004, p. 28).

Trata-se, portanto, de um dos fios que compõem a trama de ações da universidade junto a diversas populações; de um recorte dos trabalhos feitos pelo projeto de extensão universitária - Cartografias   femininas: ações territoriais junto às mulheres da zona noroeste de Santos2 e dos diferentes módulos que compõem o - Eixo Trabalho em Saúde3.

Essas experiências suscitaram perguntas que nos acompanharam nesses anos e ao longo da composição deste trabalho, tais como: o que acontece no momento em que as pessoas se encontram? Como compor práticas de cuidado na contramão dos enrijecimentos cotidianos? O que pode ser feito para proporcionar que corpos sujeitados se relacionem de forma a se transformarem em corpos livres? Como potencializar as ações, paixões e possibilidades desses corpos?

Encontramos assim, entre textos, artigos, conceitos e práticas com narrativas, formas de expressões de existência através desse dispositivo. Cada estudo por si só é um universo com múltiplos desdobramentos, mas em diversos textos pudemos notar a experiência narrativa como uma forma significativa e de transformação das vidas – como um modo de liberar os sujeitos de linhas de controle, submissão, das linhas aprisionantes do viver.

Alguns estudos apontam que a experiência de contar histórias pode ser um recurso interessante enquanto forma de cuidado. As narrativas têm ganhado espaços significativos dentro da área da saúde, mostrando-se como um dispositivo potente para a compreensão dos processos de saúde e doença, principalmente quando se trata de uma Clínica Ampliada4, em que essa experiência dá margem para a escuta sensível, a observação atenta e o raciocínio clínico frente às diversas situações cotidianas (Carvalho & Costa, 2011).

As perguntas aqui escritas também encontram algumas discussões acerca de concepções em saúde consideradas como apostas ético- políticas que afirmam práticas de autonomia e liberdade. O sujeito é livre quando extravasa sua própria potência de existir, quando seu desejo e conhecimento explica o caminho da potência, dos bons encontros, da combinação de desejos e apetites em um mundo compartilhado e em constante renovação. O homem mais livre é aquele que se deixa levar por sua coragem: a capacidade de doar o pensamento e o corpo a tudo o que pode, ultrapassando coações, ameaças exteriores, culpas e egoísmos interiores. Faz enredar-se e vibrar com outros e outras coisas. A liberdade, mais que condição para a vida política, é condição do próprio homem - todos juntos - de sua alegria, seu amor, sua força (Chauí, 2005).

O relato a seguir trata, portanto, de algumas cenas que tiveram como norte a composição de uma narrativa: uma proposta feita a uma mulher que vive na Zona Noroeste da cidade de Santos (São Paulo, Brasil). Entre - esquecer e ser esquecida‖ e - lembrar e ser lembrada‖, apresentamos nestas linhas que seguem um processo de edição dessa narrativa, com seus recortes e relevos (Costa & Carvalho). Uma história dentre tantas histórias, que foi vivida e tecida ao longo dos encontros.

Composições metodológicas: trilhas cartográficas

(...) Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos, Dor não é amargura. (...)
(Prado, 1995, p. 11)

O método cartográfico não possui um protocolo definido. Como afirmam Passos e Benevides (2009), sua diretriz se faz através de pistas que consideram os efeitos do processo ao adentrar em uma pesquisa-intervenção. Não há pontos de garantia ou de referência exterior a esse plano, sendo que o ponto de apoio é a própria experiência entendida como um saber-fazer. É nesse plano, o da experiência, que estão encarnadas as ferramentas conceituais e de análise com que se trabalha (Passos & Benevides, 2009), sem a intenção de confirmar o que se sabe, nem atingir um objetivo preestabelecido (Fonseca & Siegmann, 2007).

Figura 1: Registro das autoras5

 

 

Conhecer a realidade é acompanhar seu processo de constituição, que não está dissociado do plano da experiência. Tomar conhecimento do caminho equivale a traçar passos nele próprio, constituir esse caminho - constituir-se nesse caminho. Esse plano possui uma direção clínico-política e toda prática clínica é geradora de conhecimento. A direção se dá    do    uno    ao    coletivo, - não ao agrupamento, ao conjunto de indivíduos nem à unidade do diverso, mas ao coletivo como dinâmica de contágio em um plano hiperconectivo ou de máxima comunicação‖ (Passos & Benevides, 2009, p. 26).

Cartografar é... coreografar cenas, fazer emergir forças, dar movimentos aos gestos do encontro. Na tentativa de convidar o leitor a  participar do processo, fizemos a escolha de cenas vividas. Para tanto, os registros das sensações vivenciadas dentro e fora do campo têm o objetivo de trazer à tona a captação dos efeitos dos encontros. São diversas as imagens, os momentos, as histórias, as expressões das nossas conexões com os envolvidos nesse processo, com o intuito de constituir    uma    ―matéria    viva    para ressoar no coletivo‖ (Liberman, 2008, p. 26).

Os textos literários tornaram-se também dispositivos para o descortinar das cenas vivenciadas: com e através deles tentamos dar contornos às ―teias‖ (Fonseca & Siegmann, 2007, p. 56) constituídas no decorrer dos percursos. Contornos que sugerem fissuras das cenas aqui relatadas, com o objetivo de tentar construir uma multiplicidade e abertura para que quem leia também possa fazer sua própria composição e criação com as narrativas apresentadas. Como ferramenta, utilizamos alguns registros realizados: a cada encontro, anotávamos alguns momentos e falas que surgiam. A princípio, fizemos a proposta de escrever diários de campo mais detalhados, mas no decorrer do processo, confessamos que, de certa forma, não optamos por reescrevê-los nos instantes seguintes sobre o que havia sido vivido. Como sugere Drummond, em A Procura da Poesia (2003), escolhemos conviver com os poemas ali criados, aprendendo a lidar com a nossa própria impaciência diante do obscuro, com a calma diante das provocações, com a espera para que as cenas ganhassem formas, com suas palavras e silêncios. Tivemos a vontade de chegar mais perto e contemplar as palavras e imagens criadas pelas memórias.

Para tanto, também utilizamos imagens, fotografias tiradas durante os encontros para a produção de - palavras - retrato (Fonseca & Siegmann, 2007, p.58), no sentido de produzir expansões, conexões com os registros capturados pelas nossas próprias memórias. Memórias como um inconsciente plano de intensidades; expansões como passagens que o próprio corpo pede,  não de um retorno à interioridade, mas no sentido de colocar o -dentro exposto ao fora. Relançar as experiências ao campo intensivo das memórias para que possam ser rasgadas a novos sentidos e, assim, sujeitarem-se às forças de criação‖ (Fonseca & Siegmann, 2007, p.59).


Quando as palavras ganham vida, a construção das nossas histórias: Andanças

(...) Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem. (Lispector, 1960/2009, p. 27-28).

Figura 2: Registros das autoras.

 

 

A menina reconheceu a paisagem. Ao voltar ao cenário árido das entrecasas e entreruas, resgatou algumas das sensações vividas durante esses últimos anos. As mais variadas impressões surgiram quando  pisou nesse território novamente. Lembrou-se dos registros compartilhados ao adentrar em um território desconhecido: a peculiaridade e o cuidado com que se tratava do assunto... um território que despertava impressões variadas: o modo como as pessoas se organizavam nele, os cheiros, a temperatura, a população, entre tantos outros assuntos e desdobramentos. Por vezes, causava desespero por ver pessoas vivendo em situações-limite no que se refere a questões básicas de sobrevivência como alimentação, moradia, saúde. Ou talvez seria  dela  o  -olhar-limite sobre  esses contextos, porque chegava a doer a extrema humanidade com que vidas são produzidas a partir de contextos que não se imaginavam.

Ao chegar à casa da mulher, percebia que entrava em um momento de uma vida. Ela, a mulher, delicadamente, separou três bancos em torno da mesa. Ela, a menina, notava que estava em um novo território. O menino que a acompanhava surpreendeu-se. Que bonita ficou sua casa! A mulher ajudava a ver. Viu só? Meu filho que ajudou a erguer. As tábuas tinham cheiro de novo. A menina não sabia como era a configuração meses antes daquela mesma casa. Mas, de algum jeito, sabia que novas tábuas haviam sido colocadas, e um novo teto havia sido preparado: o modo como a mulher olhava para esse novo lar -entregava um novo habitar, aquele que o filho ajudou a erguer.

Sentaram em torno da mesa, no centro da casa. As novas cores e os novos cheiros inspiraram as primeiras conversas sobre as mudanças. Amanhecia na cidade e o cenário estava sendo composto: a mesa e as cadeiras postas, os dedos entrelaçados, olhos abertos, brilhantes, vibrantes. O gato de estimação entrou para compor o encontro de três pessoas que sabiam que -a   única   salvação   que   existe   é   pelo risco‖ (Lispector, 1968/2004, p. 122) e por esses motivos arriscavam encontros com suas contaminações e intensidades. Foi a partir dos olhares para a casa, para fora e para o reencontro, que a menina propôs a composição de uma narrativa à mulher. Outra narrativa? 

A mulher indagava, referindo-se a uma narrativa que havia feito alguns anos atrás. Outra narrativa? A menina pensava. O que se desdobra na composição de outra narrativa? Qual o sentido em fazer algo de novo? Há sentido em experimentar o que se  viveu? Em que implica olhar de novo?


Olhar de novo, o encontro entre vidas

(...) Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. (Lispector, 1960/2009, p. 28).

A menina andou alguns quarteirões. Percorreu todo o beco que daria na casa da mulher. A forma com que as casas estavam próximas entre si aproximava vidas e modos de viver comunitários. Olhares atravessavam a janela e ali estavam vidas descansando, vidas brincando, vidas conversando.

Encontrou um olhar familiar. Ao entrar na casa, a menina percebeu uma nova configuração: a geladeira, o fogão, a mesa, as cadeiras, estavam dispostos de uma forma diferente. A mulher a convidou para entrar no quarto. A sentar em um sofá de frente para a cama. Uma vida aberta.

Com o quarto escuro e o vento que entrava por algumas frestas de luz, começaram a conversar. A mulher de frente para a menina começou a contar sua história. Quase que com uma leve naturalidade, como aquela em que se conhece muito bem o que se vive e lembra-se dos fatos vivos como se estivessem próximos, a menina deparou-se com uma mulher olhando sua própria história, relatando fatos que trouxeram marcas em seu corpo que pulsavam em sua fala. A menina viu olhares tristes para a própria história.

Ao perguntar à mulher por onde começaria sua história, esta começou dizendo que não teve infância. E  que sua adolescência foi uma fase difícil, trouxe marcas profundas. Nessa época morava com a mãe, o padrasto e os irmãos. Acreditava, até essa fase, que seu padrasto era seu pai e os filhos dele, seus irmãos. Nesse período, por volta dos treze anos, seu suposto pai começou a violentá-la. Na tentativa de  contar para a mãe, para que a defendesse, ela não foi ouvida. E continuou sofrendo essas diversas violências durante muito tempo.

Ela conta que, apesar de se sentir sozinha, resolveu se desdobrar, dar todo amor, carinho e cuidado aos três filhos. Apesar de passar fome e frio, fazia tudo o que podia para garantir que nada faltasse a eles. Deu-lhes boa educação, reforçou a importância do estudo e do trabalho para que tivessem futuro, construíssem um lar, uma família. A mulher queria fazer diferente, queria dar aos filhos tudo o que não teve.

A menina viu a mulher dando alguns sentidos às próprias experiências. Fazendo composições escolhendo cenas vivas da memória. Estruturando sua própria experiência a partir de uma perspectiva própria do tempo. Considerando suas desordens como partes da vida. No encontro entre menina-mulher criou-se um tempo para que se possa falar, para que se permita ouvir. A menina, sentada no sofá, acompanhava o relato da mulher. Tornava-se difícil ouvir situações trazidas  por  ela.  -Esvaziar-se‖  e  ouvir. O relato encarnado, o corpo marcado por violências. Um discurso que sangrava, os olhos molhados. Tornava- se difícil olhar para a dureza dos fatos dissolvidos em tons de voz que falhava pelas emoções que emergiam.

Olhar de novo e, a cada minuto, produzir novos olhares a partir do que falava.

A menina viu um corpo que cuidava. Um corpo que queria produzir outras sensações que não as que tinha vivido. Alguns cuidados desdobravam- se: pensar e cuidar de filhos e netos. A mulher desdobrava-se, multiplicavam- se afetos-ações. A menina olhava para a casa, aquela que o filho da mulher ajudou a erguer. Pensava no que  acabara de ouvir e nas multiplicidades das ações. À procura de um abrigo, a mulher, por suas próprias dispersões no mundo, pôde criar um próprio lar, que abrigou outros futuros lares construídos ao redor de sua casa, ali próximos, no mesmo beco. A menina notava essas frestas, essas aberturas e percebia seus questionamentos como pertencimentos -a  parte  forte  do  mundo‖  (Lispector, 1960/2009, p.35).

Histórias partilhadas, nossos múltiplos outros

Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida (Lispector 1960/2009, p. 28).

O dia estava frio, o ar gelado. A menina chegou bem cedo à rua que amanhecia. Na casa escura, a mulher a esperava no quarto. “Entra...” Outro cenário era composto pelos ares. Os móveis, novamente em locais diferentes, caminhavam à procura de um lugar. A menina abriu a cortina que separava um cômodo do outro.

Figura 3: Registro das autoras.

 

 

 
Figura 4: Registro das autoras.

 

 


Figura 5: Registro das autoras.

 

 


De regata, encolhida no sofá, escondendo-se do frio, a mulher disse à menina que não conseguiu dormir, que sentia dores em todo o corpo, pois tremia de frio.

Dividiram uma mesma poltrona para olharem para as fotos, colocadas uma a uma pela mulher. Retratos de algumas cenas. Olhando para as fotos, momentos foram revividos. A casa, os irmãos, a mãe, faziam-se presentes na narrativa. Apesar de tudo, sinto muitas saudades dela. Sei que no final reconheceu o quanto eu amava ela. A mulher ligava-se a partes dela mesma construídas a partir das vivências com a mãe. Traçava momentos comuns junto a ela. Ficamos pouco tempo juntas, mas esse tempo foi muito significativo para mim. Redimensionava o seu próprio tempo através do que sentia.

A mulher traçava diferenças entre elas. Eu era muito diferente de minha mãe. Dizia que a mãe era vaidosa. Suas roupas eram impecáveis. O batom vermelho, sua marca. Brigava comigo sempre por eu ser desse jeito, assim, diferente dela. A mulher sorria enquanto contava. Olhava a menina no fundo dos olhos como alguém que confia e partilha seus próprios mundos secretos.

A mulher alimentava a saudade lembrando-se dos traços, dos jeitos e dos olhares. Reconhecia em sua mãe a modificação de seu próprio corpo durante a vida. Reconhecia-se na mãe a própria modificação. Lembrou-se dos próprios momentos vividos, próximos e longe dela. Por fim, lembrou-se da despedida. Fazia ela mesma, quando contava à menina, outra despedida.

Os momentos trazidos pelas fotos tornavam-se presentes na composição dessa narrativa. O passado misturava-se ao presente. A mulher fazia esse movimento: mergulhava nas lembranças, deixava-se viver pelos atuais afetos. Ligava-se ao presente ao olhar para o que filhos conquistaram, o que hoje considera mais importante. Passaram por muitas necessidades, mas hoje têm uma vida melhor. Um traço, um jeito que permanece. Minha filha do meio continua desse mesmo jeito. O processo de costurar a história com imagens tornara-se uma abertura. E a cada foto que escolhia, um espaço de tempo era criado, lembranças eram vividas.

A última foto tocada por suas mãos e trazida para perto do olhar mulher-menina sobressaía-se.  Uma casa, um lar, um barraco. Ao olhar face por face, reconheciam os filhos pequenos, uma pequena bagunça. As crianças rindo, apoiavam-se em alguém que estava no centro da roda, no centro da casa. Um alicerce, uma torre. A menina reconheceu o olhar familiar, porém o corpo possuía outros  contornos. A mulher segurava uma família. Aquela que ajudou a erguer. Os filhos apoiavam-se nela, rindo e brincando, ela permanecia séria.

Olharam juntas a fotografia que parecia especial. A mulher lembrou-se do antigo lar, do antigo corpo, do antigo cabelo, das roupas antigas. A fotografia permitia uma aproximação do momento que não é mais: um momento  capturado, uma lembrança se fixava, dissolvia-se entre os dedos e ganhava uma outra forma. A mulher apropriava- se da própria lembrança, de si mesma, dos vínculos construídos em  dissonância com tudo aquilo que gostaria de fixar.

Enquanto redimensionava o tempo a partir da densidade das lembranças, a menina repensava o próprio tempo e seus atravessamentos. Olhava para a mulher como sendo sua própria história narrada, mas também seus objetos, a decoração que está em torno de sua casa, seus filhos, netos, sua própria família, seu próprio meio e o tempo que faz.

Com o rádio ligado, uma música -puxou‖    outra.    Remeteu    a    outra lembrança. Lembrou-se novamente da mãe. Me dói muito sentir a falta dela. Às vezes me pego ligando para seu telefone para ouvir a caixa postal onde sua voz está gravada. Porque é assim... você lembra do rosto, lembra da expressão... até do cheiro. Mas o tom de voz você vai esquecendo...

Ao contar sua história, a mulher enuncia personagens que são importantes para ela. Diz também o que há em comum entre essas vidas relatadas. Conta histórias partilhadas, construídas e narradas juntas. A mulher se vê, se dissolve nos filhos, estes necessitam dela. Sua casa é construída por um deles. E eles se abrigam em seu lar.

A mulher ajudou os filhos a construírem os próprios lares e os filhos a ajudaram a reconstruir seu lar. A alternância de papéis, ações e a luta pela liberdade não se tratavam mais de um desejo individual, mas de um alcance coletivo que começava e continuava (não só, mas também) no ambiente familiar. Trouxe ao lar movimentos que se instauravam fora das paredes, da realidade que viviam, da luta pelos próprios direitos de construir seus próprios espaços para viver: uma concepção de democracia cindida ao plano singular (Sawaia, 2008, p. 41).

Nesses primeiros encontros, a menina se perguntava: em quais vidas está adentrando? Em que lugares dessas vidas está transitando? A menina, ao se permitir olhar para as paredes da casa erguidas pelo filho, com pipas e brinquedos espalhados pelos netos, com rostos de filhos, imagens comuns construídas por ela, percebia, aos poucos, que estava de frente para muitas vidas que se encontravam.

A mulher perguntava à menina e a convidava a pensar sua vida. A vida de mulher. A vida de menina. A mulher ofereceu à menina o convite para entrar no mundo dos afetos e sensações. O frio entrava pelos furos das blusas da menina, o ar tornava-se mais gelado. As separações dolorosas. Não ser escutada. Diversas violências. A menina caminhava nas margens da vida da (de) mulher.

Figura 6: Registros das autoras.

 

 


A menina percebeu ali, no encontro com a mulher, ao sentir fome e frio, o caráter excludente das instituições e práticas capitalistas hegemônicas, sabe-se lá de onde se tiram fé, aridez, força, solidariedade e esperança, significados alternativos em circulação. -A singularidade no diverso, a identidade' na alteridade' (Fontana, 2000, p.232).
 

 

“O tempo presente, os homens presentes, a vida presente”6

Ao mesmo tempo que imaginário - era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. (...) Como a repulsa que precedesse uma entrega - era fascinante (...). (Lispector, 1960/2009, p. 28).

A mulher preocupava-se com o almoço, com o horário de levar os meninos à escola, com o dinheiro que faltava, o gás que acabara e o almoço que faltaria à mesa. A mulher multiplicava com o que tinha, multiplicava-se. A menina resolveu acompanhá-la a levar os netos à escola. Pôde andar ao lado dela (mesma), traçar passos ao seu lado, junto a ela.  Andaram pelas tábuas do beco, encontraram algumas pessoas que ajudaram a compor o trajeto. Olhares conhecidos, olhares desconhecidos, olhares curiosos.

A paisagem tornara-se ainda mais viva para a menina. A temperatura elevava-se, as cores exigiam para si outros tons. A vida, antes tomada com certa aridez pela menina, tornara-se fruto dos encontros e cumprimentos que aconteciam na rua, através do olhar da mulher. Crianças criavam um campo de futebol no meio da rua. Jovens e adultos circulavam por um espaço que eles mesmos construíam, em caminhos entrecruzados e indefinidos.

Os corpos caminhando pelo bairro deslocavam outro sentido à intensa urbanização, à predominância das edificações. Esses mesmos corpos não estavam apenas diante da cidade, mas dentro dela. A arquitetura dos gestos passava a livre composição das formas desenhadas pelos encontros. A construção dos espaços, as formas geométricas com que aquele bairro era constituído significavam também construir uma forma de escrita (Rolnik, 1988). Eram personagens daquele espaço. Muito longe de irreais, mas muito próximos de vidas que se produzem, vidas singulares, vidas construídas. A mulher mostrava à menina um novo território, muito mais próximo de si, um território em constante transformação, resultado e condição para que as relações se concretizassem, permeado por forças sociais.  -Lugar  de  encontro,  lugar  de produzir, de conversar, de adoecer e de curar, lugar de amar e lutar‖ (Donato & Mendes, 2003, p.41).

A arquitetura do bairro apresentava à menina histórias presentes: tornava-se continente e registro da vida social (Rolnik, 1988). As palafitas tornavam-se pequenos palacetes, quando olhados pelo cuidado e agenciamento coletivo de modos de viver e possibilidades de ser/conviver em um mesmo território.

Caminhar lado a lado, menina-e- mulher e menino, gerava identificações concretas e passos simbólicos em direção a um lugar que não sabia ao certo onde iria dar. A vida produzia-se ali, a partir da matéria do tempo presente e de histórias presentes. Andar sobre tábuas significava também conferir novos significados a diferentes formas de alojar-se e abrigar-se: novos textos eram escritos pelos passos na cidade que pulsava ao redor.

 

Inventando a si mesma, criando possíveis

(...) Protegia-se trêmula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado (...). (Lispector, 1960/ 2009, p. 28).

A menina sugeriu a leitura de um texto à mulher. Ela olhava de modo desconfiado a capa do livro, para o título Aprendendo a viver. Gostaria que você lesse. E a menina começou. Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria?(...)7.

A mulher em um meio sorriso ouvia atenta achando um pouco de graça. Se eu fosse eu? A menina continuou a ler. [...] Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? [...] já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida. A mulher, por instante, parecia desligar-se dos netos, da televisão alta, dos movimentos lá fora. [...] ’Se eu  fosse eu’ parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. A mulher espantara-se um pouco.

Ao terminar a leitura, olharam- se por um instante. Olhares foram desviados por algo que ressoava. A mulher dizia algumas frases do texto: perigo de viver, a dor do mundo.

A mulher dizia dos objetos perdidos, da dificuldade de encontrá- los. Dizia que sempre perdia as coisas em meio à bagunça da casa. Ela transitava pelas palavras, ideias que o texto suscitava. Moldava-o à sua maneira. Em um plano-limite, as palavras já não obedeciam, já não tinham que obedecer a nenhuma coordenação gramatical, soltam-se de toda a norma sintática (Dias, 2007).

Se eu fosse eu, faria tanta coisa. Que coisas?
Silêncios. A mulher passeava entre as coisas que poderia fazer.
Nem posso contar (risos).
Faria uma lista de coisas que eu iria fazer, se eu fosse eu. Partiria para bem longe.

-Partir,   evadir-se,   traçar   uma linha‖ de fuga, no contato com as palavras e sentidos, a mulher instigava a vida que fugia (Deleuze, 1977 citado por Dias, 2007, p. 179). A mulher não dizia, a mulher pensava. Criava os próprios grãos de mistério, a própria lista do que poderia fazer em segredo.

Não se tratava de imaginar o que faria,  mas  produzir  -imagens‖  da  vida não como forma de expressão da matéria vivida, mas como produção da própria vida, inventando linhas de vida possíveis, de abertura a novas possibilidades. Como abertura ao infinito da vida possível, libertando-se da finitude da vida pessoal, transpondo uma  -fronteira  para  lá  da  qual  acaba  o meu eu‖ (Kundera, 1983 citado por Dias, 2007, p.279), explorando a vida humana, dimensões da existência.

A menina sentia o texto- encontro como um disparador de sensações, afetos, de pensamentos, de possibilidades. Possibilidades de reconstruir-se, de traduzir-se, de refazer-se.
Possível disparador na mulher, na menina, no encontrar desses dois corpos nas entrepalavras e sentidos possíveis.

Às vezes tenho vontade de sair dessa casa. De procurar algum lugar. De encontrar um companheiro e viver com ele. De me libertar de algumas coisas que aprisionam.

A menina olhava para a mulher e parecia sentir as próprias rupturas. A mulher fazia surgir na menina a possibilidade de quebra, também, das cristalizações. A passagem da epifania trazia em ambas outros modos de desvendar a vida selvagem que existe sob a mansa aparência das coisas (Sá, 1979).

Mulher-e-menina, mergulhadas nas contradições de seus tempos e espaços, leem pistas e saídas que os próprios passos lhe oferecem, na maior parte das vezes cobertas por inúmeras cascas, formas estagnantes de viver. No fundo sabem, através de pequenos suspiros de liberdade que, é no cotidiano do fazer-se, nos acasos da vida, que estão alguns signos involuntários, que desafiam a decifrá-los, que roubam a paz e que nos saltam para procurar outros territórios e seus possíveis sentidos (Fontana, 2000).

Mulher-e-menina não tinham ao certo dimensões do que acontecera nos últimos meses, mas sabiam que as coisas estavam diferentes. Talvez um novo cruzar dos passos, o surgimento de algumas novas ideias, novas formas de andar, de trilhar e olhar os dias.

Longe de atingir um limite ou um fim, pois não havia proposta concluinte, visava, porém, continuar os passos que foram traçados. Muito longe de terem acabado os próprios devires e deslocamentos, sabiam que não era um final. Mas um começo, a construção e reunião de novos vínculos,  novas formas de encontrarem a si mesmas, lembrarem-se das cenas que viveram, atualizarem modos sensíveis e passantes, de pensar e sentir o mundo.

Mulher-e-menina, mergulhadas nas contradições de seus tempos e espaços, leem pistas e saídas que os próprios passos lhe oferecem, na maior parte das vezes cobertas por inúmeras cascas, formas estagnantes de viver. No fundo sabem, através de pequenos suspiros de liberdade que, é no cotidiano do fazer-se, nos acasos da vida, que estão alguns signos involuntários, que desafiam a decifrá- los, que roubam a paz e que nos saltam para procurar outros territórios e seus possíveis sentidos (Fontana, 2000).

Mulher-e-menina não tinham ao certo dimensões do que acontecera nos últimos meses, mas sabiam que  as coisas estavam diferentes. Talvez um novo cruzar dos passos, o surgimento de algumas novas ideias, novas formas de andar, de trilhar e olhar os dias.

Longe de atingir um limite ou um fim, pois não havia proposta concluinte, visava, porém, continuar os passos que foram traçados. Muito longe  

Figura 7: Esse fim era começo (registros das autoras).

 

 

Concluindo... Ressonâncias: “de tudo fica um pouco”8

(...) E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu. (Lispector, 1960/2009, p. 37).

Em meio ao andar pelos caminhos, alguns desafios devem ser considerados, a maioria deles está relacionado ao tempo. Tempo para que as ideias ganhem corpo. Tempo para reflexão. Para respirar. Para que o projeto surja. Talvez um tempo concreto, um tempo com menos atravessamentos? A principal questão seria o tempo, enfim?

Dar vida ao tempo, romper com automatismos, com corpos sujeitados. Criar espaços em meio ao enrijecimento das horas, dos dias. Redimensionar o tempo através dos afetos. Em meio a muitas forças e poderes estabelecidos, a comunicação de afetos tristes (Deleuze & Parnet, 1998), o escorrer das horas impossibilitariam essa valorização do tempo e experiência aqui transcritos. Ao escutar, ao deixar-se afetar e afetar o outro que encontramos, afirma-se a redimensão do tempo, dos sentidos.

A possibilidade de que surjam picos de alegria (Orlandi, 2012).

Figura 8: Registros das autoras.

 

 



Ao mesmo tempo, assim como os encontros, em meio ao pulsar corriqueiro do tempo, o processo de escrita foi uma entrega às possibilidades de entrevaguear (Orlandi, 2012).

Magnífico verbo que se aproxima do flutuar nas vagas ou sabor delas, do andar passeando sem rumo certo, ao acaso, sem pressa, sem projetos precisos, sem se ocupar, devaneando de olhos abertos e sem alvos fixos (Orlandi, 2012).

Neste -final, acredito ser importante reviver algumas tonalidades desse processo narrativo e literário. -Falar  de  si,  falar  dos  seus,  lembrar, produzir, esquecer, transformar‖ (Costa & Carvalho, 2011, p.70-71).

Ao narrar sua própria história, a mulher pôde falar sobre si, criar sentidos, reviver acontecimentos, produzir novas memórias, lembrar e esquecer. Pôde experimentar, refletir e pensar novas possibilidades, criar novos desejos, transformar. Narrar trata-se, assim, de um processo que confere inúmeras possibilidades ao narrador: as narrativas trazem à tona as lembranças, as visões de mundo acerca de suas próprias experiências, possibilidades, desejos e afetos (Costa & Carvalho, 2011).

O processo de contar histórias pode ser palco para inúmeros encontros: com o ouvinte, consigo mesmo, o encontro com seus desejos, necessidades, anseios, com as lembranças, com novos afetos, novos despertares. Pode encontrar, também, memórias que deseja esquecer, para tanto, ao narrar sua história, o sujeito permite-se esquecer. Entendemos como encontro o espaço e o momento em que as pessoas produzem algo diferente daquilo que fariam sozinhas e de onde surgem transformações resultantes  desse encontro (Costa & Carvalho, 2011).

Narrar pode significar a criação de novos papéis, reafirmando-os dentro do coletivo, pois -fazer a história é estar presente nela e não simplesmente estar nela representado‖ (Freire, 1988/1993, p.40). É imprimir ao encontro um forte caráter interventivo em suas múltiplas possibilidades (Costa & Carvalho, 2011).

Ao narrar, a mulher deu voz às próprias perguntas e, aos poucos, criou (e continua criando) sussurros de liberdade. Libertar-se não seria esse movimento de questionar e conhecer o mundo, dissolver-se e criar-se?

Em meio a ecos de perguntas, o que fica, afinal?

-De  tudo  fica  um  pouco‖.  Às vezes muito.



Referências

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Data de submissão: 16/09/2016
Data de aceite: 06/11/2016


1 Este texto apresenta parte da pesquisa intitulada   -Contação   de   Histórias   e Narrativas de Vida: Aproximações entre Literatura e Práticas de Cuidado‖ aprovada pelo Comitê de Ética nº 0672/11. A convidada da pesquisa assinou um termo de concesão de  direito do uso da imagem, autorizando a utilização das fotografias aqui apresentadas.

2 O  projeto  de  extensão - Cartografias Femininas: Ações Territoriais junto às Mulheres da Zona Noroeste de Santos‖ visa potencializar a participação cotidiana das mulheres na gestão local e no controle das condições que podem interferir na sua saúde e da coletividade onde vivem e trabalham. Os equipamentos de serviços da região constituem-se como lócus privilegiado para a implantação de estratégias de rastreamento e intervenção com inclusão social (Liberman & Maximino, 2010). 

3 O Eixo Trabalho em Saúde tem  como objetivos possibilitar ao estudante: compreender as múltiplas dimensões envolvidas no processo saúde-doença e de produção de cuidado; compreender a realidade da saúde e do sistema de  saúde vigente em nosso país; conhecer as diversas profissões e práticas de saúde; compreender o processo de trabalho em saúde; e construir uma visão crítica sobre a produção do conhecimento em geral, do conhecimento científico e do conhecimento na área da saúde (Unifesp, 2006).

4 A proposta de Clínica Ampliada busca se constituir como uma ferramenta de articulação e inclusão dos diferentes enfoques e disciplinas, reconhecendo que, em um dado momento e situação singular, pode haver  uma predominância de um enfoque ou de um tema sem que isso signifique  negação de outras possibilidades de ação. Significa integrar várias abordagens para possibilitar um manejo eficaz da complexidade do trabalho em saúde, que é necessariamente transdisciplinar e, portanto, multiprofissional (Brasil, 2009). 

5 Faz-se necessário informar que todas as fotografias utilizadas neste artigo possuem anuência via assinatura de Termo de autorização de uso de imagem, e que a pesquisa documental (com a utilização de imagens) foi aprovada por comitê de ética.

6 Verso do poema de Carlos Drummond de Andrade, - Mãos Dadas‖. Em Sentimento do Mundo. Rio de Janeiro: Editora Record, 1940. 

7 - Se   eu   fosse   eu‖   é   um   conto   da escritora Clarice Lispector, do livro Aprendendo a Viver, Editora Rocco, 2004, Rio de Janeiro.

8  Verso do poema -Resíduo‖ de Carlos Drummond  de  Andrade  (2001).  Em A Rosa do Povo. Rio de Janeiro, RJ: Editora Record (Original publicado em 1945). 


I Flavia Liberman: Docente do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista (Unifesp- BS). Departamento Saúde, Clínica e Instituições. Docente nos Programas de Pós- graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde e do Programa de Mestrado Profissional em Ensino em Saúde (Unifesp-BS). Membro do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Formação e Trabalho em Saúde (LEPETS) e do Laboratório Corpo e Arte da Unifesp-BS. Realiza atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão na área da Saúde com interface nas artes com temáticas relacionadas ao corpo, as práticas corporais e artísticas, atividades e recursos terapêuticos, grupos e ações no território. E-mail: toflavia.liberman@gmail.com

II Virginia Junqueira: Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1973), com residência  em Pediatria, especialização em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP, mestrado em Medicina Preventiva (1991) e doutorado em Ciências pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2004). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista, atuando principalmente nos seguintes temas: políticas públicas de saúde, planejamento, financiamento e gestão do Sistema Único de Saúde- SUS, com ênfase na gestão da força de trabalho na atenção básica e na formação interdisciplinar para o trabalho em saúde. Email: virginiajunqueira@gmail.com

III Glenda Milek: Terapeuta Ocupacional formada pela Universidade Federal de São Paulo (campus Baixada Santista), com pós-graduação na interface das Artes, Saúde e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP) e Residência em Saúde Mental e Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na Saúde Mental no município de São Bernardo do Campo (SP) e na Atenção Básica, compondo a equipe do Consultório na Rua (Santos, SP), com enfoque nas práticas que envolvem o campo das artes, das atividades expressivas, das potências do corpo. E-mail: glendamilek@hotmail.com

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