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Revista Polis e Psique

versão On-line ISSN 2238-152X

Rev. Polis Psique vol.9 no.2 Porto Alegre maio/ago. 2019

 

EDITORIAL

 

Psicologia, políticas de pesquisa e contemporaneidade

 

Psychology, research policies and contemporaneity

 

Psicología, políticas de investigación y contemporaneidad

 

 

Henrique Caetano NardiI; Neuza Maria de Fátima GuareschiII; Giovana Barbieri GaleanoIII

IEditor Chefe
IIEditora Gerente
IIIEditora Assistente

 

 

Os artigos publicados neste número da Revista Polis e Psique dão visibilidade aos tencionamentos que constituem os modos de vida na contemporaneidade, além de problematizarem o campo da psicologia enquanto ciência e profissão.

Além da seção regular de artigos, contamos com os trabalhos apresentados no evento Temas em Debate organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS, apresentado nesta edição pela professora Rosane Neves da Silva.

No que concerne ao caráter contemporâneo das discussões realizadas nos trabalhos aqui publicados, cabe precisar que, segundo Agamben (2009), a contemporaneidade é "uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias" (p. 59). Isto é, assume-se uma análise que interroga as formas de produção de subjetividades, sejam tais elementos as instituições, os modos de governar as condutas e gerir as multiplicidades e a maneira como nos relacionamos com os mesmos (Foucault, 1984, 1988).

No que diz respeito às produções de subjetividade, cabe mencionar que esses processos não estão separados do modo indivíduo de constituição do sujeito, isto é, eles se dão pelo jogo que o sujeito estabelece com o mundo e a forma como, a partir disso, passa a se pensar como alguém que pertence ou não, liga-se ou não, concorda ou não, deixa-se capturar, questiona ou não esse mundo.

A subjetivação se produz no tensionamento entre saber e poder, tal como discutido por Fernanda Nicaretta e Inês Hennigen no artigo "Manda Nude": jogos de saber-poder e produção de subjetividade. No artigo, as autoras analisam como os pedidos de nudes são realizados, compostos e expressos, discutindo aquilo que é acionado no seu entorno, trazendo uma articulação entre campos discursivos que operam sobre o corpo/sujeito quando está em questão fazer produzir e circular nudes. Na análise são ressaltados aspectos relativos à heterossexualidade masculina, à moralidade, ao humor, ao entretenimento e ao status de amador das fotografias.

No tocante, também, à produção de subjetividades contemporâneas, temos em "Captura à vida de um alto executivo: dispositivos em cenas cotidianas" das autoras Junia Vogel Olbermann e Carmem Ligia Iochins Grisci, a reflexão sobre a vida de altos executivos na perspectiva dos dispositivos que a sustentam, visibilizando os ditames organizacionais, o dom, a bajulação e a glamourização. Elementos que dizem respeito, respectivamente, aos dispositivos de engajamento, sedução e captura que sustentam a vida de altos executivos.

Por sua vez, Mériti Souza e Marcelo de Oliveira Prado problematizam as violências vivenciadas por pessoas que se reconhecem ou já se reconheceram como mulheres travestis e mulheres transexuais no artigo intitulado "Violências, mulheres travestis, mulheres trans: problematizando binarismos, hierarquias e naturalizações". Argumentam que é preciso desconstruir binarismos como homem/mulher, natureza/cultura e vítima/agressor, contribuindo, assim com o deslizamento de sentidos dessas cristalizações binárias, destituindo o lugar de violência ocupado por corpos trans e travestis.

No texto "Gestão Autônoma da Medicação: saberes e visibilidades de usuários de saúde mental em universidades no interior do RS" os autores Leonardo Lima de Senna e Marcos Adegas de Azambuja abordam os efeitos da estratégia da Gestão Autônoma da Medicação em usuárias (os) da saúde mental que ocupam o lugar de palestrantes em ambientes acadêmicos no interior do RS. Analisam como se constituíram esses investimentos e visibilidades no saber das (os) usuárias (os) para frequentarem essas universidades, além de descrever as relações de saber e poder e os limites da prática de autonomia nas salas de aula, discutindo a produção de um corpo que encontra outras possibilidades além da relação com o medicamento e a loucura, assim como um processo de autonomia temporária no jogo de forças da ação de uns sobre os outros.

José Sterza Justo e Carolina Villanova Heguedush apresentam no artigo "Cidade e Racionalização da Subjetividade: Implicações das Ciências da Saúde e Educação" a análise dos processos de racionalização/objetivação deflagrados no centro urbano do menor município do Estado de São Paulo, em número de habitantes. Dentre as conclusões do estudo, apontam que a saúde e a educação são as principais vias de entrada dos processos de racionalização na vida urbana.

No artigo "Juventude okupa política: um estudo de caso em Belo Horizonte" de autoria de Bruno Vieira dos Santos, apresentam-se nuances e formas de atuação política juvenil por meio de ações mais ou menos institucionais, mais ou menos radicais, a depender do momento e do contexto histórico. O trabalho é parte de uma pesquisa sobre ativismo juvenil, políticas públicas e incidência política, executada no contexto da capital mineira com grupos juvenis.

Finalmente, apresentamos a resenha escrita por Érica Oliveira do livro da professora e ativista norte-americana Angela Davis intitulado "A liberdade é uma luta constante".

Apresentamos, assim, narrativas e políticas que não se constituem enquanto homogêneas, mas, ao contrário, pela heterogeneidade se tornam capazes de produzir aberturas possível na produção de conhecimento.

 

Referências

Agamben, G. (2009). O que é o dispositivo?. In: ____________. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. V. N. Honesko (Trad.). (1. ed.). Chapecó, SC: Argos.

Foucault, M. (1984). Microfísica do poder. R. Machado (Trad. e Org.). (4. Ed.). Rio de Janeiro: Edições Graal.         [ Links ]

Foucault, M. (1988). História da sexualidade I: a vontade de saber. M. T. C. Albuquerque (Trad.). (1. ed.). Rio de Janeiro: Edições Graal        [ Links ]

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